sábado, 29 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 48 - Os meses seguintes...


Itália – Gravação do DVD.

Hora após hora, momento após momento, suspiro após suspiro, meses após meses.

Bill arrastou-se pelos dias que se seguiram como um morto-vivo. Todos os que o conheciam sabiam que a qualquer instante, se ele não reagisse, ele sucumbiria física e emocionalmente ao desespero de ter deixado Kate ir embora sem dizer o que realmente sentia por ela.

Amor e muito orgulho.

Com todo esse sentimento reprimido dentro do seu coração, uma hora ele ia desabar, por muito tempo ficava sozinho e olhava sempre para o nada, com aquela última lembrança do aeroporto. Os flashes apareciam todos os dias em sua mente.

–Como fui idiota... Inferno... Como fui um tremendo idiota.

As lembranças do aeroporto surgiam e o deixava mais agoniado e sufocado.




O sorriso largo dela e seus olhos brilhantes, quando ele apareceu na sala de embarque, como ela mordeu os lábios quando ele se aproximou e o olhar confuso quando olhei direto para Ryan para cumprimentá-lo e perguntar como estavam as arrecadações para os poços na África, completamente a ignorando.



–Kate não disse da nossa viagem? – Ryan sorriu olhando para Kate.

–Não. – tive a capacidade de mentir - ela não trabalha mais para David Jost. Não temos mais contato, infelizmente. – eu disse sorrindo forçado olhando para ela.

–Vamos para uma expedição em ajuda para ao Continente Africano. – Ryan disse entusiasmado. – estamos partindo nesse exato momento.

–Que legal! - aquele sorriso doía em meu rosto de tão forçado que estava - Desejo a vocês boas conquistas. – Por fim, eu sorri e passei meu olhar rapidamente por ela, como se não fosse intima ou como fossemos apenas bons colegas ou como simplesmente não fossemos nada.

–Obrigado e você esta indo para onde? – Ryan perguntou.

–Para Los Angeles. – respondi.

–Vi o lançamento do seu Cd, ouvi Automatic, confesso que achei o som bem diferente.

–Pois é novos desafios sempre são bem vindos. – Esforcei-me para não olhá-la.

– Está indo fazer algum show na América? – Ryan voltou a perguntar.

–Não, vou a negócios. – Olhei para o meu relógio no pulso - E já estou atrasado, mais uma vez boa expedição aos dois. Só parei para lhe cumprimentar, Ryan. - olhei para Kate e apenas disse: - Sucesso!


Só, mais nada e parti. Feito um idiota.


No dia achei–me superior, mas hoje depois de meses, me sinto um imbecil da maior categoria por ter agido daquele jeito com Kate. Ainda guardo em minha mente seus olhos arregalados quando me viu, pensando que havia mudado de idéia, a espera em seu olhar em me ouvir dizer que eu a esperaria.

Que grande idiota eu fui.


Três meses... Três meses e ele se sentia mal por não tido tudo o que realmente ele sentia por aquela garota que mudou sua vida, que lhe ensinou tanto, que lhe deu tanto amor, que esteve sempre ao seu lado sempre que precisava.

A garota que correu perigo por amá-lo, sem nunca exigir absolutamente nada em troca.

Sentiu uma necessidade imensa de tê-la por perto, naquele dia tão especial em sua vida e na sua carreira, queria seus dedos entrelaçados em seus cabelos, que agora eram mais curtos levantados em um imenso topete. Queria suas palavras suaves e calmas. Queria o seu olhar de cumplicidade.
Ele a queria, ali... Ao seu lado.

O almoço de Bill no camarim naquele dia se resumiu a um iogurte e uma fruta, sem levantar-se do sofá, passou a tarde envolvido numa série de reuniões internas com a banda. Na verdade, não prestou atenção em nada e agradeceu quando a hora do show se aproximou.

Já passavam das seis horas quando fechou o lap-top, aliviado por estar sozinho. Aquela noite ele realizaria mais um sonho. Queria gravar o DVD. Queria subir no palco e esquecer, nem que fosse por duas horas, que tinha sido um idiota completo.

Natalie bateu na porta, e entrou no camarim. Tinha uma hora para se arrumar e começar o processo dos autógrafos, que a banda fazia sempre antes do show, o famoso meet&greet, o tão esperado encontro de fãs com o seu ídolo.

–Tudo bem?
–Sim. – ele respondeu em uníssono para a maquiadora e amiga pessoal. – estou nervoso com essa gravação.
–Não devia, tudo está muito bem montado, ensaiado e será um grande espetáculo.
–Mas você sabe como eu sempre fico nervoso.
–Você não parece nervoso, parece triste.
–Pare Natalie! - ele disse seco - Cada dia alguém me passa um sermão, estou farto. Por que todos não cuidam da própria vida?

Eles se olharam pelo o espelho. Natalie não disse mais nada, sabia se falasse machucaria e colocaria mais um peso dentro do coração do vocalista. E ele já levava carga demais.

– Graças a Deus, você ainda está aí! - murmurou uma voz angustiada e muito familiar.
– O que você quer? – Bill disse mal humorado.
–Nossa só hoje você poderia guardar esse seu mau humor, por que se não guardar, vou socar com muita força no seu rabo magro.

–Só estou nervoso por causa da gravação.

–Corta essa, Bill! - Tom sentou do lado do irmão, que ainda era maquiado por Natalie - se fosse para você ficar assim por que não disse a ela que você a esperaria ou largou sua carreira e não foi com ela para expedição.

A foto dos dois no casamento da mãe em agosto de 2009 estava em cima da prateleira do camarim, Tom a pegou, a olhou e depois a guardou na enorme bolsa do irmão, que estava ao seu lado.

Um silêncio dolorido caiu no camarim.

–Dá pra devolver e colocar onde estava? – Bill disse ao irmão sem olhá-lo.

–Pra que?

–Por que estou mandando.

–Pra que? –Tom era tão irritante quando queria.

–Por que a quero ali.

–Pra que? – Tom olhou para Natalie, vendo a expressão da maquiadora, sabia que aquilo terminaria em uma briga.

–Por que não deixa a foto no seu lugar e depois vai se foder? – Bill gritou sem paciência com o irmão – Deixe-me em paz!

– Tudo bem. – ele pegou a foto novamente dentro da bolsa e a colocou na prateleira. – Pronto agora você pode ficar vendo o quanto você foi um imbecil.

–Deixa-o em paz, Tom. – a maquiadora pediu – Não é hora.

O camarim ficou em silêncio.

– Ela ao menos podia ligar, uma vez a cada dois meses – Bill quebrou o silêncio depois de minutos, olhava fixamente para o espelho, sem coragem de olhar para o irmão.

–Depois do fora que você deu nela no aeroporto, por que ela faria isso?

–Eu tentei ligar duas vezes e o celular dela está sempre desligado.

–Ligou pra que? – Tom foi ríspido com o irmão - Sabe que onde ela esta é difícil a comunicação.

–Esta a defendendo?

–Sim, eu estou! - O irmão mais velho respondeu seco - você andou pesquisando e lendo sobre o lugar que ela esta e sabe a dificuldade que esse povo enfrenta a pobreza. Leu que não tem casa, nem luz, nem água, nem comida quanto mais sinal de celular.

Bill baixou os olhos, Natalie espirrou spray em seu topete negro e olhando para Tom como se concordasse com ele e culpasse Bill pela rejeição e o modo ríspido que havia tratado Kate no aeroporto, se retirou do camarim deixando os dois sozinhos.

–A vida tem que seguir. – Bill sorriu falso.

–Sua boca está sorrindo, mas seus olhos estão tristes!

– Sinto falta dela. – ele finalmente admitiu. - Tenho muito orgulho dela. – Bill olhava fixamente para sua imagem pronta no espelho. - Ela é melhor pessoa que conheci em toda minha vida. A mais doce, a mais pura, a mais correta, a mais humana... A garota que eu vou amar por toda minha vida.

–Tomara que um dia você possa falar isso cara a cara. – O gêmeo mais velho levantou-se e se posicionou atrás do mais novo. - Você não deveria ter sido tão duro com ela!

–Tom, agora não adianta mais. O que foi dito... Foi dito!

– Mas Bill…

– Esses “mas” que fode com a nossa vida. – ele se levantou - Tom eu assumo que naquela manhã no aeroporto fui um estúpido com Kate, decidi da forma mais egoísta, a minha vida e a dela. Eu devia ter dito muitas coisas que não disse. – Bill levantou pegando os óculos escuros - Agora já foi, esqueça!

– Bill e Tom esta na hora! - Era David batendo na porta do camarim – Georg e Gustav já estão posicionados.

Seu estômago se contraiu pela tensão nervosa, tanto pela gravação do DVD, quanto pelas noites de insônia, acordava sempre pensando em Kate, o cigarro também estava ajudando-o a levá-lo para o fundo. Ele estava pálido e Natalie tinha disfarçado perfeitamente as olheiras que fixaram abaixo de seus olhos cor de mel.

– Se não estivesse preparado poderíamos ter adiado a gravação. – Tom captou os olhos do irmão, ele era o único que sabia realmente o que Bill estava sentindo.

Tom era o único que via Bill sangrar lentamente.

–Quem disse que não estou preparado. – ele tentou parecer confiante.

O olhar se prendeu ao do irmão, duro e inserto.

–Se está certo, então erga esses ombros, afaste essa tristeza, tire ela da cabeça e vamos gravar esse DVD.

E foi o que Bill fez:

Colocou os óculos escuros, arrumou os ombros, deixou a tristeza pairando pelo camarim e seguiu para a gravação... Mas manteve Kate na cabeça, se a tirasse, talvez, não conseguisse seguir em frente.

A apresentação foi fantástica. Bill tinha cantado maravilhosamente bem. A gravação do DVD Humanoid City Live tinha sido um enorme sucesso. A banda tinha dado o seu máximo e arrancado emoção, gritos e lágrimas dos fãs italianos.

No fim da gravação, ele se curvou para agradecer, os olhos cor de mel, brilhantes e felizes, o rosto suado e satisfeito. Quando terminou, seguiu para o camarim, não olhava nem para a direita nem para a esquerda, seu pensamento era apenas em uma pessoa.

Escutava os parabéns e sorria automaticamente, continuando a andar. Ali atrás do palco, pessoas tinham trabalhado tão duro quanto à banda, ele agradeceu a cada membro de seu staff e quando entrou em seu camarim, fechou a porta, se jogou na cadeira, colocou as mãos no rosto e desabou.


Chorou.


Desejou por um segundo sentir as mãos de Kate limpando suas lágrimas de seu rosto borrado.


E chorou.


Por que sabia que estava sozinho, que não havia ninguém para enxugá-las.



Soluçou e chorou, até não ter mais força, até não ter mais lágrimas, até cair um sono profundo.


***


–Alô?

–David? Aqui é a Kate. – a voz agoniada disse do outro lado da linha - finalmente consegui falar, Bill esta por ai?

–Não! - manager apenas disse seco.

–Você poderia chamar? – ela perguntou – de pressa antes que o sinal caia.

–Você vai voltar para ele?

–Voltar? – ela perguntou sem entender - Não, David eu preciso falar com Bill!

–Não! - ele repetiu - Por favor não estrague a noite dele e não o deixe mais arrasado do que você já deixou?

–David...

–Kate, desculpe, sem querer ser mal educado, mas se não vai ajudar, não atrapalhe. - o manager suspirou, trocando o aparelho de ouvido e tentando falar baixo para que ninguém ouvisse - Se você falar com ele, pode piorar e interferir negativamente na carreira dele, quer que ele pare tudo agora que conseguiu se levantar da rasteira que passou no pobre coitado?

E a ligação foi interrompida bruscamente antes dela responder.

***


Era uma segunda feira ensolarada, o dia era vinte e dois de Novembro, era a primeira apresentação da banda no Brasil. E Bill experimentava o entusiasmo e a excitação que sempre se apoderava dele nessas ocasiões. Países que ele nunca havia visitado. Já tinha ouvido falar muito daquele país distante, na América do Sul, mas nunca imaginou que havia fãs tão amorosos e calorosos, que acampavam na porta da casa de show, dias antes somente para vê-los.

A banda toda estava maravilhada com aquela recepção em solo brasileiro.

Não paravam de sorrir diante do sucesso das vendas dos ingressos, na chegada do hotel foi tranquila e cada um seguiu para a sua suíte, passariam o som apenas no dia seguinte e tinham todo tempo para descansar da longa viagem.

O sol tinha ido embora e a chuva caia, o céu já não era mais azul e sim, um cinza tristonho e sem graça.

Como sua alma.

Bill estava na janela da suíte em um silêncio meditativo enquanto observava as ruas agitadas de São Paulo. Então, olhou para a foto em suas mãos. Ele nunca se desfazia daquela foto, ela sempre estava em suas mãos, como um talismã.


Muitas vezes teve desejo de rasgá-la e jogar no lixo, mas nunca fez. Olhou mais uma vez para ela e abraçou perto do tórax, fechando os olhos, como se naquele gesto pudesse diminuir sua saudade e a sua dor.



Ainda que a culpa, causada por seu egoísmo beirasse as raias do intolerável, ele estava determinado a não permitir que isso deteriorasse seu trabalho ou a relação que mantinha com os outros integrantes do grupo. Por isso, quando estava com o grupo, fingia estar sempre bem e com um belo sorriso no rosto.


ONZE MESES sem Kate! A saudade não diminuía, não cessava.


Kate havia deixado para trás um buraco aberto e profundo em sua alma. Em seu coração. Em sua mente. Às vezes, deixava sua vida no piloto automático, incapaz de guiá-la. O único lugar que se sentia bem e completo era no palco, fora dele, existia um oco. Afinal, Kate tinha levado a parte mais essencial de si mesmo com ela.

O seu coração.

Bill suspirou ainda com os olhos fixos nos carros da cidade, permaneceria ali parado por muito tempo, mas uma batida na porta o trouxe a realidade.


– Bill? - Gustav o chamou do outro lado da porta.

Ele limpou as lágrimas com as costas das mãos e abriu a porta, deixando o baterista entrar.

–Vamos comer algo com a produção e Tom dis... Tudo bem?

–Sim. – ele sorriu tentando disfarçar – Acho que toda essa claridade deixou meus olhos lacrimejantes.

–Hum... Hum... Sei! – O baterista fingiu acreditar naquela desculpa idiota. – Não precisa mentir para mim, são muitos anos de amizades e pode parecer que sou lerdo, mas te conheço demais.

–Gustav, você me faria um favor?

–É claro que sim! Do que se trata?

– Não fale mais sobre Kate, está bem?


– Se é isso que quer. Farei o que você preferir. Mas não se deixe magoar mais, sim? Continue sua vida e deixe que esses sete meses terminem. Já se foram onze meses e você continua vivo!

Aquele era um ótimo conselho... Pena que Bill não estivesse em condições de segui-lo.


– Parece um pesadelo que não vai terminar nunca.

– Descanse Bill, temos essa tarde livre... tire-a para descansar. Pelo que nos falaram as fãs do Brasil são exigentes e muito animados. Temos que ter energia de sobra para o show de amanhã. – ele deu um leve tapa nos ombro do vocalista - tente esquecer Kate por alguns instantes.


– Não tenho muita escolha. - Bill fez uma careta enquanto empurrava a cadeira para trás. – Nada mais importa.

– Sempre há uma escolha. - o baterista disse apertando seus dedos no ombro frágil - O que você faz com essa escolha é que realmente importa.

– Que merda, odeio quando você fica todo filosófico. – Bill sorriu brincando com o baterista.

–Estou aqui sempre que precisar, Bill!

Gustav se aproximou e o abraçou, ele fechou os olhos deixando-se ser abraçado por alguns minutos, realmente precisava daquilo, estava se sentindo tão fraco, tão desamparado, e quando sentiu que aquele abraço era a única coisa sólida a que podia se agarrar. Se agarrou nele. Sentiu sua energia voltar aos poucos e se sentiu bem melhor.

–Te amo, Gustav!
– Que merda, odeio quando você fica todo romântico. – Foi a vez do baterista brincar dando mais um daqueles abraços de urso e saindo da suíte em seguida.


***


Quando chegaram à casa de show, via Funchal, na terça- feira, na parte da tarde, não acreditaram quando uma onda de fãs quase engoliu os carros. Bill sorriu para Tom animado com a recepção.



– Hoje será um dos melhores shows da banda! – ele ainda podia ouvir os gritos que vinham da Rua Helena.


E realmente foi.


Tanto para a banda quanto para os fãs brasileiros, que não decepcionaram nem por um segundo. O show foi contagiante, as vozes conseguiram ser mais alto que a de Bill. Foi uma troca maravilhosa, ídolo e fã, numa única batida. UM SÓ CORAÇÂO.


O Via Funchal nunca mais foi o mesmo depois do dia 23 de novembro, não se ouviu tantos gritos, tantos corações batendo tão rapidamente e enlouquecidamente, como nesse dia.


Bill, Tom, Gustav e Georg com certeza levou dentro da memória, lembranças inesquecíveis de fãs amorosos, fieis, dedicados e ansiosos por mais um sonho, mais um show de Tokio Hotel no Brasil.


Quando o show acabou a banda estava exausta. Seguiram para o hotel, Tom, Gustav, Georg sorriam feito bobos, lembrando-se de cada fato do show, Tom principalmente, suas lembranças perversas fixavam-se na moça que subiu a camiseta e mostrou os seios para ele.


Chegando ao hotel, já passava da uma da manhã, Bill e Georg estavam no hall, aguardando o elevador chegar, Tom e Gustav quiseram passar no restaurante para um último lanche, o guitarrista ainda falava com empolgação dos seios da fã, isso ainda iria render muito na mente perversa do gêmeo.


Quando finalmente o elevador parou no térreo e a porta se abriu, o vocalista deu o primeiro passo para entrar, mas foi impedido, algo pequeno saiu primeiro instalando-se em seus pés e o impediu de entrar.


Bill olhou para baixo e depois para dentro do elevador, a terra parou de rodar e o seu coração parou de bater...

Postado por: Grasiele

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