terça-feira, 20 de novembro de 2012

Angels Don't Cry - Capítulo 20 - Um anjo é capaz de voar


– Tudo bem, você vai voltar para vê-la – eu disse quando voltamos para o hotel depois dele ter voltado de uma entrevista.

– Eu estou cansado, Hedvig, acho que o melhor é eu ficar por aqui. Amanhã volto a vê-la – ele disse se sentando na cama, pronto para deitar.

– Não! Amanhã é tarde demais, Bill! Você precisa vê-la e é agora – eu disse pegando o braço dele e o puxando para se levantar – Mas antes podemos sair um pouco. Você não quer sair?

– Ah, Hedvig! – ele disse rindo e de repente ficando de pé, eu vacilei e quase caí para trás, mas ele me segurou. Algo não muito necessário, afinal eu podia flutuar, mas era melhor assim, da última vez eu caí feio – Tudo bem, vamos sair.

– Está brincando? – eu perguntei piscando atônita novamente – Você está mesmo a fim de sair? Não vai ficar reclamando meia hora de como as fãs podem ficar te perseguindo?

– Não e vamos logo antes que eu mude de ideia – ele disse me empurrando para ele conseguir passagem até a sua mala, onde ele pegou roupas menos chamativas para se trocar – Espero que você saiba para onde vamos hoje. Quero conhecer os lugares mais lindos da França.

Eu já sabia o que queria visitar dessa vez, era outra das minhas miniaturas, uma das que eu mais gostava e era cenário de uma das histórias que eu mais gostava quando pequena. A Catedral de Notre Dame ficava a beira do Rio Sena, imponente com seu estilo gótico, enfeitada por gárgulas, que são usados para afastar maus espíritos.

– O que viemos fazer aqui? – Bill perguntou olhando pasmado para a Catedral, ele sabia que era incrível, mas talvez estivesse esperando algo mais divertido do que uma igreja.

– Bem, eu nunca fui muito a igrejas quando eu estava viva. Essa é um dos lugares religiosos que eu mais gostaria de conhecer. Não estou dizendo que agora vou rezar, implorando por Deus que me salve, mas depois que você morre, você descobre como as coisas são realmente. Não sei se ir a igreja é um modo de ir ao Céu ou só é uma enganação, só sei que há algo sempre acima de nós.

– Você quer rezar? – ele perguntou, piscando, ainda atônito.

– Só quero conhecê-la – eu disse pensando bem – Mas só de você chegar perto, você sente algo diferente. Por mais que já ocorreu derrama de sangue por perto, o solo é decididamente sagrado. Ela começou a ser construída em uma época que todos chamam de Trevas, em 1163 na Idade Média. Duraram 170 anos até ficar pronta e só foi finalmente concluída por volta de 1330. Diversos reis e rainhas já passaram por aqui, foram coroados em cerimônias lindas, mas também, houve sangue, como eu disse.

– Como sabe tudo isso? – Bill perguntou com seus olhos brilhando para mim.

– Eu comprava revistas que vinham com miniatura de lugares famosos, lá falava um pouco sobre cada lugar. Li diversas vezes por isso acabei decorando – eu disse ficando vermelha – Vamos entrar?

Quando atravessamos o portal, eu não consegui andar mais adiante, eu fiquei parada, olhando para aquela maravilha! Não tenho palavras para descrever o local, só sei que era como se sentir mesmo no Céu. Havia diversas colunas com capitéis coríntios e arcos de ogiva que formavam as abóbadas no teto da Catedral, havia diversos lustres acesos para iluminar todo o local. Eram cinco e meia, por que o órgão estava tocando e tinha várias pessoas sentadas nos bancos.

– Pensar que a história do Corcunda de Notre Dame se passa aqui – eu disse sussurrando para não atrapalhar as pessoas que rezavam – E olhe os vitrais! São lindos, todos inspirado em cenas religiosas.

– Acho que quem mais merecia essa viagem é você, simplesmente por que sabe apreciar cada detalhe desse lugar. Um guia turístico talvez não se expressasse tanto quanto você, pelo visto não é tão automática quanto eu imaginava.

– Eu gosto de artes – eu disse de repente – Eu pintava quadros, mas parei uns dois anos atrás por que apareceram outras coisas na minha vida. Sinto falta de certa forma, talvez por estar aqui agora e por ter me esquecido do meu sonho antigo de se formar em artes plásticas. Eu sonhava em usar aquelas boinas francesas, em pintar quadros nas ruas de Paris e sempre ir aos cafés. Não era algo luxuoso, era só algo que me agradava.

– Por que desistiu? – Bill perguntou preocupado.

– Por que as coisas não são tão fáceis assim, as chances de eu conseguir ser uma grande artista plástica eram mínimas. Comecei a sonhar alto demais com dinheiro e percebi que essa não era a forma mais fácil de conseguir, por isso segui Diplomacia. Na verdade, era por que no fundo, eu queria vir aqui, mesmo que fosse por curto tempo e a trabalho. Acho que acabei virando uma pessoa diferente do que eu era – eu disse amargamente.

– Eu queria poder lhe dizer que deveria seguir seu sonho, mas já não é possível – ele disse pegando a minha mão e a acariciando com o polegar.

– Sim, mas isso não importa – eu disse, afinal não queria começar a chorar novamente – Espero que você tenha fôlego, Bill, por que vamos subir 422 degraus até chegar ao topo da igreja. Vamos voltar a ver um pouco de Paris.

Tudo bem, eu nunca me cansei tanto na minha vida. Tivemos que parar umas duas vezes para recuperar o fôlego até alcançarmos o topo. Mas foi divertido correr com Bill pelos degraus, olhando para as pessoas que desciam ou subiam tão cansados quanto nós. A primeira parada foi perto das gárgulas que protegiam a igreja, elas olhavam melancolicamente para o céu.

– Pobres criaturas – eu disse olhando para elas – Acreditavam que eram guardiãs, destinada de dia a serem de pedras e de noite a ganharem vida. Gárgulas vêm de garganta, por que elas escoam água quando chove muito.

Levei Bill até a torre sul, onde ficava o sino Emmanuel, que pesava 13 toneladas e só batia em datas especiais. Depois disso, tivemos que subir mais lance de escadas até chegar, finalmente, ao topo da catedral. Um frio enorme nos atingiu, com ventos gélidos que pareciam facas prestes a cortar nossa pele. Mas a paisagem era incrível como a da Torre Eiffel, claro que lá era bem mais alto, só que ficar naquela Catedral parecia ser algo especial.

– É como estar em outro mundo, não é mesmo? – eu disse quando Bill ficou ao meu lado – Como se tudo parecesse estar bem novamente.

– Sabe, Hevig – Bill disse se apoiando no muro – Quando você for embora, promete não se esquecer de mim? Quero dizer, falam tantas coisas sobre o outro lado, tenho medo que perder a memória seja uma das formas de recomeçar, mas eu realmente não gostaria que você me esquecesse.

– Não vou te esquecer – eu disse rapidamente – Não me perdoaria se eu fizesse isso. Vou guardar tudo que aconteceu esses dias para sempre na minha memória. E quem sabe quando você for para o outro lado, nós poderemos voltar a ser bons amigos. Mas espero que demore, você tem uma longa vida pela frente.

– É verdade, tem ainda muita coisa a vir, mas talvez eu não tenha tanto medo de morrer quanto tinha antes – ele disse pensativo.

– Nem eu! – eu disse começando a subir no muro da Catedral, me apoiando em uma das gárgulas que havia ali.

– O que você vai fazer? – ele perguntou surpreso, várias pessoas que estavam ali, olharam para mim com medo de que eu fosse me suicidar.

Fiquei de pé no muro, com os braços abertos, sem apoiar em nada. Eu não precisava ter medo, afinal eu já estava morta, nenhuma queda iria me parar agora. A sensação era estranha, sentir o vento congelante na pele, estando acima de metros e mais metros do chão. Acho que o meu maior medo antigamente era viver, por que viver era se arriscar demais, era não aproveitar o máximo com medo de perder tudo o que conquistou. E aqui estava eu, vivendo após ter morrido.

– Me dê a mão – eu disse estendendo ela para Bill – Segure firme e suba, não vou deixá-lo morrer.

– Hedvig, todos estão olhando e você está fazendo uma loucura – Bill sussurrou baixinho, olhando para minha mão, sem saber o que fazer.

– Desde quando você se preocupa com os que os outros vão pensar, Bill? Venha comigo – eu disse tentando convencê-lo que tudo estava bem. Então ele pegou a minha mão e apoiando em uma gárgula, ele subiu no muro ao meu lado. Eu era capaz de sentir o pavor nele, enquanto ele se equilibrava e segurava minha mão fortemente – Bill, você está nesse momento em cima da Catedral de Notre Dame, como se sente?

– Como se fosse cair – ele disse totalmente apavorado.

– Eu te amo, Bill – eu disse baixinho.

– O que? – ele perguntou se segurando na gárgula, pronto para descer o mais rápido possível.

– Ah, nada. Nada demais.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 19 - Apóie seu protegido


– E aonde vamos agora? – Bill perguntou olhando para o relógio no seu pulso que marcavam quase sete e meia.

Estávamos já nos pés da Torre Eiffel, olhando para todas as luzes nela que tentavam afastar um pouco do negrume noturno. Se Paris é linda de dia, imagine de noite, acho que fica mais bela! Ainda mais com todas aquelas luzes de Natal, eu havia me esquecido como aquela data comemorativa estava chegando perto. Todas as árvores estavam enfeitadas com luzes que se refletiam no chão cheio de névoa e molhado por causa do frio.

– Vamos para algum café – eu disse patinando pela calçada escorregadia – Aqui está bastante frio, acho que seria bom tomarmos algo quente.

Tivemos que pegar uma das pontes para atravessar o Rio Sena e irmos para a Champs Elysées, a avenida mais famosa de Paris onde nós poderíamos achar diversos cafés. Eu já me imaginei caminhando por aqui, mas nunca aqui! Era muito mais impressionante do que eu imaginava! Havia diversas lojas e diversas pessoas com sacolas na mão, comprando os presentes de Natal.

– E pensar que tudo isso estava tão perto de mim – Bill disse também maravilhado – Acho que vou passear mais pelos países que eu fizer show. Isso deixaria tudo menos estressante.

– Você devia aproveitar, se eu pudesse ter a grana que você tem, viajaria pelo mundo inteiro para ver essas maravilhas – eu disse finalmente avistando uma Starbucks na Champs Elysées – Vamos ali! Lá é ótimo!

A Starbucks do Champs Elysées era enorme! Era uma construção de dois andares branca, com colunas enfeitando a fachada. Tinha janelas enormes e pretas, com cortinas douradas por dentro. O lugar também estava lotado de pessoas querendo se aquecer ou apenas descansar depois de um dia cansativo de compras.

Bill e eu conseguimos uma mesa no canto, era melhor do que sentar na janela, afinal ainda tínhamos medo de que alguma fã o identificasse. Mas o lugar estava tão cheio que duvido que alguém se preocupe com quem está sentado ao seu lado, então estávamos seguros de certa forma.

– O que vão querer? – disse uma garçonete com cabelo castanho avermelhado indo até a nossa mesa.

– Eu vou querer um Caffè Mocha – eu disse em francês para ela e depois me virando para o Bill, falando em alemão – E você? Vai querer o que?

– Um Cafè Latte – Bill disse tentando falar o mais francês possível para a garçonete entender.

– Vocês são da onde? – ela perguntou, pelo visto, interessada.

– Eu sou da Suécia, além do sueco, minha língua nativa, sei falar alemão e francês. Já o Bill é alemão e ele só sabe falar inglês – eu disse percebendo como ela olhava maravilhada para nós.

– Que incrível! – ela disse anotando nossos pedidos – O nome dele é Bill, e o seu?

– Hedvig – eu disse soletrando meu nome logo em seguida. Era impressão ou o modo que ela disse Bill foi... com certas intenções?

– Vou trazer os seus pedidos – ela disse falando em inglês. Demorei a entender o que ela havia dito, ou melhor, o que ela havia dito para Bill, por que com certeza isso não foi para mim.

Tudo bem, o que aquela francesa metida a garçonete simpática está pensando? Como ela vai dando em cima assim de caras que estão acompanhados de moças? Sei que não sou namorada dele, mas isso é errado! Se eu fosse, nesse momento, estaria socando a cara dela na mesa. Calma, suspire! Ela gostou do Bill, ela gostou de verdade dele sem saber que ele é famoso! Talvez essa seja a saída!

– Ela gostou de você – eu disse tentando fazer com que ele não lesse minha verdadeira expressão que era: “QUEM AQUELA VADIA PENSA QUE É?” – Você devia falar com ela.

– O que? – ele exclamou surpreso – A garçonete?

– É! Ela é bonita, tem um cabelo legal e os olhos dela são de um verde escuro bonito. Sabe falar inglês, além do francês e não sabe nada sobre você além do seu nome. Uma boa oportunidade para mostrar a ela quem você é por dentro de verdade, além do mais, você não está vestindo Dior – eu disse surpreendendo até a mim mesma por estar empenhada em ajudá-lo.

– Não – ele disse rapidamente – Não quero conversar com ela...

– Bill, você nem deu uma chance para você conhecê-la! Talvez não tenha sentido aquele amor a primeira-vista, mas você tem que conhecer pessoas, não pode ficar se afastando delas para sempre.

– Hedvig... – ele só conseguiu dizer meu nome. Eu parei de falar, mas sabia que ele queria tentar e não era pela garota, era por mim. Nós havíamos se beijado fazia pouco tempo, eu ainda o queria da mesma forma que antes, mas nós não podíamos ficar juntos.

– Aqui estão os seus pedidos – a garçonete disse em inglês novamente, tive que quebrar a cabeça para lembrar o que as palavras significavam.

– Charlotte? – eu disse, lendo o nome dela no crachá. Peguei meu Caffè Mocha e fui me levantando – Por que você não conversa um pouco com meu amigo? Acho que vocês se dariam bem.

– O que? – ela exclamou pasmada, ao me ouvir dizer aquilo – Não posso, tenho que trabalhar... E está cheio o lugar.

– Eu converso com seu chefe – eu disse a empurrando para se sentar no meu lugar, enquanto Bill me olhava surpreso – Só conversem um pouco, só isso. Bill é uma pessoa muito legal.

Saí dali o mais rápido possível, bebendo meu café quente. O lugar estava tão cheio que duvido que o chefe dela fosse perceber que umas das garçonetes não estavam trabalhando. Sentei-me em uma das mesas que um casal havia abandonado e fiquei ali sozinha, apenas olhando de longe. Sim, eles estavam conversando, apesar de Bill parecer um pouco tenso.

Tudo bem, eu não estava feliz. Realmente não queria Bill com aquela garota, mas eu realmente precisava que ele achasse alguém legal. Eu só tinha dois dias para organizar tudo aqui na Terra e ver se sou aceita no Céu, por que no terceiro dia eu já terei que ir embora. Era incrível como só tinha se passado cinco dias, parecia que já era um mês que eu estava ao lado de Bill e isso foi realmente incrível. Eu podia me sentir triste, mas já tinha me acostumado com a ideia de ir embora para sempre.

Segundo o relógio na parede, eles ficaram conversando uns vinte minutos até que vi Bill dando tchau para ela e indo ao meu encontro. Meu coração pulou até minha garganta, um lado meu gritava para que ele não gostasse dela, o outro lado torcia para que tudo desse certo.

– Vamos? – ele perguntou para mim – Acho que é bom voltar para o hotel, os outros podem estar preocupados.

– E como foi? – eu disse me levantando e o acompanhando até a saída – Ela é legal? O que achou?

– Bem... ela tem dezoito anos, está trabalhando para conseguir pagar a faculdade de administração. Mora perto da Avenida Félix Faure, mora com sua mãe e mais dois irmãos e nos fins de semanas gosta de praticar tênis. Aprendeu a falar em inglês por correspondência e sempre quis conhecer os Estados Unidos. Acho que foi mais ou menos isso que conversamos.

– E sobre você? – eu disse notando como a temperatura caiu quando finalmente estávamos do lado de fora – O que você falou?

– Bem pouco, ela gosta mesmo de falar e achei que foi melhor assim. Só falei que gosto de música e é a carreira que quero seguir, que estou a passeio em Paris. Também disse que sou vegetariano e que gosto de moda, que crio alguma das minhas próprias roupas e que amo animais.

– Isso já é um começo, acho que vocês podem se dar bem, o que acha? Será que pode dar certo?

– Eu não sei – ele disse suspirando – Mas acho que vale a pena tentar. Talvez eu tenha que dar chance para as pessoas, para eu as conhecê-las.

Eu sorri feliz por ouvi-lo dizer aquilo. Queria que tudo desse certo e que eu não causasse mais confusão. Quem sabe tudo não se ajeite agora? Faltam só dois dias. Só dois dias. Por que me sinto tão tensa?

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 18 - Mostre o mundo ao seu protegido


Bill e eu nos sentamos em um dos bancos, perto da janela onde poderíamos ver toda Paris. Eu ainda não conseguia conter as lágrimas que caíam, meus olhos brilhavam cada vez que via algo no lugar que me lembrava minha casa, onde tinha minhas miniaturas. Eu sentia falta de minha mãe, de meu pai e do pequeno Joe. Sentia falta de Luleå, o lugar onde eu nasci, nunca gostei muito, por isso acabei fugindo para Estocolmo. Mas agora, eu realmente sentia vontade de voltar.

– Fique com o lenço – Bill disse estendendo para mim – Acho que você ainda vai chorar muito. Isso é bom, demonstra que tem emoções.

– Eu queria estar viva – eu disse sem conseguir segurar as palavras – Queria poder voltar para minha casa e ver minha família, queria contar tudo que está acontecendo para a Mischa. Queria acordar na minha cama em Estocolmo e descobrir que tudo isso é um sonho.

– Um sonho bom ou ruim?

– Os dois. É uma mistura dos meus sonhos mais queridos com uma realidade que machuca – eu disse amargamente – Mas tenho que agradecer por ser um anjo, não é mesmo? E não um espírito vivendo essa dor de não poder mais viver.

– Mas é o que você sente, não é mesmo?

– Sim, mas não tem mais volta – eu disse suspirando – Mas está tudo bem. Acho que tudo pode melhorar. Talvez eu não esteja fazendo tudo errado como eu pensava, pelo menos, eu espero.

– Você está – Bill disse pegando minhas mãos e segurando entre as suas – Eu que estou complicando as coisas, fazendo você ficar confusa. Hedvig, você estava certa quando disse que não daríamos certo e sei que falou isso mesmo quando pensava ao contrário. Vou encontrar a pessoa certa para mim e em troca salvarei sua alma, é tudo que eu mais quero.

Mais lágrimas desceram pelo meu rosto, eu sabia que o amava tanto, mas não podia levar isso para frente. Bill foi a pessoa que de repente mudou todo meu ponto de vista. Ele virou meu melhor amigo, um namorado, um amante e a pessoa mais importante que apareceu nesse pouco tempo. Quando eu olhava para ele, por um momento, eu podia jurar que tudo realmente iria ficar bem.

– Obrigada – eu disse, fazendo minha voz sair embargada – Eu... eu... não sei o que dizer! Só queria pedir desculpas, por ter te machucado daquela forma, ter ditos palavras frias.

– Você disse a verdade, mesmo que machuque, você foi clara. Eu devia ter compreendido isso no primeiro momento. Confio em você, Hedvig, mesmo te conhecendo por pouco tempo. Acho que te conhecer foi o melhor que me aconteceu há muito tempo.

Ele falava tudo aquilo sério, mas eu sentia cada emoção nas palavras dele. Tinha vontade de abraçá-lo e de dizer as mesmas palavras, mas me contentei em ficar quieta, apenas pensando. Não fazia ideia de como seria depois que eu fosse para o Céu, não sabia se lá era tão bom quanto as pessoas falavam – ou imaginavam –, mas se era para lá que todos vão, talvez eu devesse ir também.

Ficamos meia hora no barco, apenas apreciando a paisagem e rindo com as pessoas desesperadas em tirar fotos ou das brigas entre as crianças para ocupar o espaço da janela. Decidimos sair no meio da viagem para ver a Torre Eiffel, que cada vez mais se aproximava de nós. Com seus 318 metros imponentes 10.100 toneladas, ela fazia qualquer pessoa do mundo suspirar ou querer conhecê-la. Lembro muito bem da minha miniatura dela no quarto, não passava de dez centímetros, mas tinha um lugar de destaque no meio de tantas outras miniaturas.

– Ela foi construída por Gustave Eiffel para a Exposição Mundial de 1889 – eu disse me lembrando claramente do que eu havia lido na revista que viera junto com a miniatura – Você tem que conhecê-la, ela é incrível! Vamos subir no topo!

– No topo? – Bill exclamou olhando abismado para o topo, que parecia extremamente distante de onde estávamos – Quanto mesmo você disse que mede a torre?

– Não tenha medo – eu disse pegando a mão dele e sorrindo – Vamos subir o mais rápido possível! Da para ver Paris inteira lá de cima!

Corremos até a torre e ficamos bem embaixo dela, nos sentíamos como formigas prestes a ser pisada por um pé gigante. Na verdade, mais parecíamos crianças descobrindo um mundo novo e diferente do que estávamos acostumados a ver. Decidimos ir pelo elevador, apesar da fila, era melhor do que subir todos aqueles lances de escadas.

Quando finalmente conseguimos uma vaga no elevador – depois de Bill dar um pouco de gorjeta a um dos caras que cuidavam da fila, conseguimos passar na frente – começamos a nos sentir ansiosos. Principalmente, quanto mais subia e sentíamos que cada vez mais estávamos longe do chão. Depois de muito esperar de vermos que seríamos um dos únicos que se atreveram a ir até o topo, nós chegamos.

Saímos do elevador e nos deparamos com algo incrível, Paris escurecendo de um lado e do outro havia os últimos vestígios de um Sol sendo engolido pelo horizonte. Havia dezenas de pessoas ali em cima, com câmeras fotográficas tentando tirar foto da cidade e de tudo que eram capazes.

– Isso é incrível! – Bill disse se aproximando da grade e olhando para a cidade inteira que parecia ser feita de caixinhas de fósforos – A vista... o pôr-do-sol... como nunca pude vir aqui antes?

– É lindo, não é? Nós somos tão insignificantes perto dessas maravilhas! – eu disse me sentindo feliz, mesmo de estar sentindo um frio enorme – Você não veio aqui antes por que simplesmente achava que não valia a pena, por que estava preso em si mesmo o tempo todo, apenas levando a vida. E quer saber de uma coisa, o mundo é nosso, Bill!

Agarrei-me as grades e subi um pouco, então como uma louca varrida eu gritei que o mundo era nosso para toda Paris ouvir. Queria que ela chegasse até os céus e que todos os anjos que estivessem lá, ouvissem o que eu estava dizendo. Não importava se eu estava morta, se eu estava aqui, eu iria aproveitar esses poucos segundos que eu tinha.

– Não precisava gritar para todos ouvirem – Bill disse rindo e me ajudando a descer enquanto várias pessoas olhavam para mim.

Mas quando fui descer, tropecei e tive que me agarrar em Bill para não ir com tudo no chão. Ele passou os braços em volta de mim para me segurar e nossos rostos ficaram tão próximos que nossos lábios se encontraram por segundos. Pensei em me afastar, mas antes que pudesse fazer algo, eu o estava beijando. Senti uma felicidade enorme invadir o meu peito e de repente eu não sentia mais frio, só queria ele mais perto de mim como sempre quis.

Ele foi me soltando aos poucos até meus pés tocarem o chão, então envolvi meus braços em seu pescoço para que nosso beijo não se rompesse. Não éramos ninguém naquela noite, éramos apenas duas pessoas há mais de trezentos metros do chão, se beijando enquanto de um lado o Sol dizia adeus e Paris toda ficava iluminada.

A Torre Eiffel começou a acender suas luzes, mas meus olhos estavam fechados nesse momento para apreciar uma noite parisiense. Só percebia o quanto através das minhas pálpebras tudo adquiria um brilho diferente, talvez não fosse só as luzes, fosse algo de mim que se acendia. Talvez isso se chamasse amor. Talvez todas minhas tentativas de não se apaixonar estavam sendo em vão, mas eu ainda sentia que tinha que lutar contra isso. Mas depois. Depois eu realmente tento, mas agora não.

Nosso beijo se desfez e Bill sorriu para mim, senti que era um sorriso culpado, como se tentasse dizer: “Desculpe, mas não resisti”. Então lhe mandei outro sorriso dizendo: “Eu também”. O abracei com força, enterrando meu rosto em seu peito, ouvindo o coração dele bater. Ele estava vivo. Será que ele era capaz de ouvir o meu também? Ou meus batimentos cardíacos seriam falsos e sem vida?

Isso não importava. Não importava se eu estava morta, se eu não deveria estar fazendo esse tipo de coisa. Acho que nunca vivi tanto na minha morte quanto vivi na minha vida, talvez eu estivesse tão focada em passar na faculdade de Estocolmo, em ser uma pessoa popular, em ter vários amigos e ser convidada para várias festas que acabei me esquecendo de viver. Não me importo mais de ter morrido. Acho que as memórias mais bonitas que vou guardar, são de agora.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 17 - Anime seu protegido



– E então o que planeja fazer agora? – eu perguntei quando apareci no quarto dele e o vi deitado na cama, com os braços atrás da cabeça, apenas encarando o teto.

– Descansar – ele disse secamente.

– Vai tirando o cavalinho da chuva – eu disse com minha voz mandona. Não deixaria ele me deixar para baixo. Eu que faço isso com as pessoas – Coloque a roupa menos Bill que você tem e vamos sair.

– Não vamos sair, Hedvig.

– Sim, vamos. Eu falei que quero conhecer a França e vou mostrá-la a você. Então pare de ser hipócrita, levante-se e vamos sair. AGORA!

– Hipócrita? – ele disse se sentando e me olhando ainda de forma ferida, pelo visto, ele estava com muita raiva de mim – A única pessoa que não está sendo hipócrita aqui, sou eu.

– Tudo bem – eu disse suspirando e engolindo o que ele disse – Eu sou uma hipócrita. A maior hipócrita que já existiu. Agora podemos sair? Por favor?

Bill não disse nada, continuou sentado sem saber o que dizer ou fazer. Sentia-me tão culpada por ter feito aquilo com ele, eu tinha vontade de ir até onde ele estava e beijá-lo novamente. Mas eu não podia, tinha que continuar a ser firme, cruel e impiedosa com ele, não importando se ele for tão pior que eu nisso.

– Tem uma Paris inteira esperando por você lá fora, Bill – eu disse indo até ele e me sentando ao seu lado, tentando manter o máximo de espaço possível para que nada acontecesse – Não estou falando de fãs, estou falando das maravilhas que esse lugar esconde. Eu quero conhecer tudo isso e vou levar você comigo, acho que também merece descobrir se tudo que falam daqui é verdade.

– Você não conhece minhas fãs, Hedvig, elas vão me reconhecer assim que eu por o pé para fora – ele disse deixando aquela voz frívola de lado e usando a gentil de sempre, justamente a que me fazia implorar por mais ar para respirar.

– Então você terá que escolher algo bem diferente para não ser reconhecido, além de que se você estiver acompanhado de uma garota como eu, as chances de acharem que é apenas mais um casalzinho pacato em Paris, é muito grande. Além disso, você é Bill Kaulitz e que eu saiba, você não desiste fácil.

Tudo bem, eu não queria ter falado a última frase. Eu percebi as centelhas queimarem novamente nos seus olhos como se eu estivesse dando passagem para ele não desistir de mim. Então simplesmente sai da cama e fui até a janela, fingir que estava checando o tempo, que parecia estar muito frio.

– Invista em cachecóis, toucas, o que for! Está realmente frio e quanto mais roupa você usar, não vão reconhecer sua magreza. E em hipótese nenhuma use salto, vão te reconhecer na primeira esquina que passarmos.

Quem está acostumado a ver Bill Kaulitz excêntrico e chamativo como sempre é, deve ter ficado igual a mim quando o vi normal. Ele usava calças jeans de uma marca comum, nada caro demais, com tênis também normais e pretos, um casaco grosso de lã que com certeza custava os olhos da cara por que já tinha visto em alguma revista de moda, uma touca preta escondendo seu cabelo e um cachecol. Também estava sem maquiagem e não estava tão chamativo.

Decidimos que a melhor maneira para escapulir do hotel sem ser perseguido pelos milhares de fãs que estavam do lado de fora gritando praticamente o dia inteiro era pelos fundos. Saímos pelos fundos do restaurante, onde serviam o café-da-manhã, almoço e jantar para os hóspedes. A saída dava em uma ruazinha pequena e malcheirosa, onde ficava uma caçamba cheio de lixos e gatos fuçando por ali.

Tudo bem, agora era minha vez de me materializar. Eu ainda me sentia meio estranha por causa de ontem, talvez eu tivesse perdido muita energia. Tentei me lembrar de todas as revistas de roupas que eu tinha, precisava de um look legal para eu andar por aí, nada muito caro como da última vez. Então, em alguns segundos eu estava materializada, vestindo um vestido de algodão listrado, com meia calça, botas marrom escuro até os joelhos, um bolero de algodão marrom e uma touca com pelinhos.

– Acha que está bom? – eu perguntei dando uma olhada em mim mesma.

– Está ótimo – ele disse me fazendo olhar para ele ao ouvir as palavras calorosas dele. Mas Bill percebeu o que estava dizendo e voltou com a voz fria – Então, para onde vamos?

– Vamos andar de barco no Rio Sena, aproveitamos a paisagem e também a “carona”, para chegar até a Torre Eiffel. Então poderemos conhecê-la, o monumento mais bonito da França!

Ele assentiu, colocando as mãos nos bolsos e olhando para o céu meio acinzentado. Não era o melhor dia para passear em Paris, mas pelo menos você estava em Paris! Fiz sinal para ele me seguir e nós caminhamos lado a lado, precisávamos chegar até a Pont-Neuf onde os barcos saíam. Meu coração, de certa forma, estava na boca, estávamos tão perto por causa do frio e eu tinha um pouco de medo das fãs descobrirem ele. Mas ninguém havia nos parado no percurso todo, nem uma garota com a camiseta da banda que passou perto de nós.

– Seu plano deu certo – Bill disse baixinho – Quando você está na companhia de uma pessoa casual e não sozinho, não ligam muito para você.

– Então poderemos sair assim sempre que quiser – eu disse o motivando a conhecer mais os lugares, não a sair comigo – Também fica mais fácil para eu achar a garota certa para você, deve ter alguma francesa aqui que fará você ver brilhos e ouvir um coral de Anjos. Se quiser eu até canto atrás dela.

– Tudo bem – ele disse mordendo seu lábio – Mas não é realmente necessário.

Senti uma pontada em mim. Como assim não era mais necessário? Ele realmente gostava tanto de mim a ponto de não querer achar sua alma gêmea? Tudo bem, ele só deve estar desanimado, logo tudo vai dar certo, vocês vão ver.

Chegamos ao Pont-Neuf, era uma ponte enorme feita de granito, cheia de detalhes como cabeças nas laterais, com colunas e arcos dando um ar de ponte de castelo, como se adiante você poderia ver uma princesa ou um príncipe. Eu sempre gostei muito da França – e não foi por causa do meu professor lindo de francês, ele só me ajudou mais a seguir meu sonho de conhecer o local – eu colecionava miniaturas que vinham em uma revista sobre o lugar e sabia várias curiosidades.

 Havia uma escadinha em uma das pontes que levavam a margem do Rio Sena, ali se podiam ver várias casinhas onde se alugava os barcos. Peguei no pulso de Bill e o puxei para que me seguisse, descemos as escadas com cuidado para não cair e eu fui até um dos homens dos Stands. Perguntei para ele em francês se havia um barco e quanto que era o passeio, dessa vez quem teria que pegar seria o Bill, mas acho que ele não se importaria de apenas gastar dez euros.

– Dez euros em uma viagem de barco? – ele perguntou surpreso – Não é muito barato?

– Sim, não vamos querer chamar atenção em um barco luxuoso, vamos apenas passear. E no caso são vinte euros, por que você vai me levar também – eu disse na maior cara de pau.

Bill pagou o homem e logo um enorme barco veio buscar nós e mais outras famílias que estavam lá para apreciar o passeio. Crianças entraram sorrindo no barco, tentando ficar na janela para poder ver as águas do Rio Sena, casais entravam abraçados, com as maçãs do rosto rosados por causa do vento, ou seria apenas a sensação de se sentir rubro ao ver a pessoa amada? Eu não sabia.

A única coisa que sabia era que a primeira vez, depois de tempos, eu me sentia bem. Não totalmente resolvida, mas pelo menos sentia que tudo podia ficar bem, eu estava realizando um dos meus sonhos, de conhecer a França. Claro que não era da maneira que eu queria, mas já era algo. Quando dei por mim, lágrimas estavam rolando pelo meu rosto, não sabia se eram tristes, felizes ou simplesmente de alivio. Só queria apenas chorar.

Caminhei até uma das janelas do barco e fiquei olhando para a paisagem, para as luzes que já começavam a se acender ao longe, o mundo logo iria se engolido pela escuridão noturna. Senti a superfície gelada do vidro, havia me esquecido de imaginar luvas, minhas mãos estavam descobertas, mas eu as queria assim. Queria sentir os últimos vestígios de como é estar viva.

Então uma mão com luva pousou sobre a minha, olhei para trás e vi Bill, sorrindo para mim. Ele pegou um lenço em seu bolso do jeans e passou no meu rosto, secando as minhas lágrimas, enquanto minha mão no vidro era envolvida pela sua.

– Vai ficar tudo bem – ele disse com uma voz baixa e cálida – Eu prometo a você.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 16 - Não machuque seu protegido


Eu sentia como se tivesse um buraco no meu peito, sentia uma dor languida dentro de mim. Acho que passei a noite inteira o observando de verdade, vendo ele de uma forma que nunca vi. Bill parecia ser outra pessoa agora, era como se de repente ele pudesse brilhar em uma multidão. Como se eu pudesse reconhecê-lo em qualquer lugar que ele estivesse.

Ou era isso ou eu havia mentido para mim mesma desde a primeira vez que eu o vi. No começo eu simplesmente não ligava para quem ele era, só queria terminar meu trabalho o mais rápido possível, mas tenho que dizer que fiquei surpresa ao descobrir que ele era vocalista de uma banda e como era uma gracinha.

Agora lá estava ele, dormindo profundamente, quem sabe sonhando com o que? Será que era comigo? Ou ele será realmente capaz de acordar mais tarde e perceber que cometeu um erro enorme ao me beijar? Eu queria com todas as forças que isso acontecesse, que ele se esquecesse de mim, mesmo que isso fosse um pouco doloroso para mim. Afinal eu não estou realmente amando, estou? Isso deve ser só uma paixonite passageira, não é?

Mas se eu fosse viva e por um momento pudesse escolher Lukas ou ele, eu acho que escolheria ele. Quero dizer, eu realmente amei Lukas, ele era tudo para mim e qualquer milhões das manias que ele tinha, eu realmente amava! Por exemplo, como ele amava cappuccino descafeinado ou quando ele sempre tirava as frutinhas do Muffin, por que ele nunca conseguia comprar um de chocolate já que acabavam rápido. Só que depois de tudo que aconteceu, foi como se eu não conhecesse mais ele.

A única coisa que me resta fazer é terminar meu principal objetivo e tentar conseguir uma vaga no Céu. Eu realmente esperava alguma carta de Deus, apontando todas as coisas erradas que fiz só ontem a noite, mas não veio nada, o que isso significa? Será que ele vai esperar até o fim da minha missão para dizer como que eu me saí?

Quando Bill começou a acordar, tentei me manter em meu devido lugar, sentada em uma das poltronas no canto do hotel. Iria tentar ser o mais impassível, como um anjo de verdade, sem emoções ou sentimentos. Ele apenas se levantou, tentando desligar o despertador do seu celular e esfregou os olhos. Quando ele abaixou as mãos, seus olhos me encontraram. Foi como uma flechada no meu peito, eu senti uma dor enorme dentro de mim. E sabia que ele sentia a mesma coisa.

– Bom dia – eu disse tentando parecer que tudo estava bem, mas minha voz pareceu falhar um pouco.

Ele murmurou um bom dia chocho e foi até o banheiro, dando as costas para mim. Bill estava decididamente zangado comigo, eu realmente queria que as coisas voltassem a ser como antes, mas pelo visto terei que continuar a ser cruel. Terei que deixá-lo de lado um pouco e fixar no que ele mais quer. Só isso vai me ajudar nesse momento.



– Aquela festa foi incrível! – exclamou Gustav animado durante o almoço – Tinha comida voando para tudo que é lado!

– E você recebeu pudim bem na cara – Tom disse rindo – Ainda bem que tenho mira boa!

– E o bolo no cabelo do Bill? Quem vocês acham que foi? – Georg disse também rindo – Agora, só preciso descobrir o filho da puta que jogou creme no meu cabelo! Fiquei horas tentando tirar aquilo.

Ah, acho que esse do creme fui eu! Ainda bem que ele nunca vai saber! Não foi minha culpa que ele colocou a cabeça bem na frente da minha real mira: a garota loira com a voz chata. Mas foi legal ver o creme se desfazer no cabelo dele!

– Mas o Bill foi embora muito rápido – disse Gustav – Ele sumiu da festa de repente.

– Ele foi lavar o cabelo com certeza, era o que eu devia ter feito também, antes de esperar aquilo secar! – Georg disse bufando – Mas eu vi você saindo com a prima da Nathalie, ela devia estar pê da vida por terem sujado o vestido dela.

– O Tom nem perdeu tempo, ele já foi tentando dançar com ela! Mas eu vi o fora que ela deu nele, você apalpou alguma parte que não devia? – Gustav disse me deixando tensa de repente. Bill que estava comendo calmamente também deixou o garfo vacilar um pouco da sua mão.

– Não, eu não fiz nada! – Tom disse tentando conter o sorriso malicioso – Eu só tentei beijá-la, então ela simplesmente se afastou e disse que já gostava de outra pessoa e não podia ficar comigo.

Então o garfo de Bill caiu de sua mão e foi parar no chão, ninguém simplesmente deu bola para o ocorrido, mas quando ele se abaixou para pegar o garfo, eu peguei e entreguei a ele. Meus dedos tocaram os seus e seus olhos se conectaram aos meus novamente.

– Senhor – disse o Garçom o cutucando e Bill se afastou de mim rapidamente – Aqui está outro garfo.

– Ah, obrigado – ele disse atônito e meio perdido.

– Aí o Tom levou um fora e o Bill a pegou de jeito – Georg disse falando isso na brincadeira, mas o garfo do Bill voou de novo para o meio da mesa.

– Está de brincadeira, não é? – ele disse engolindo seco. Eu estava quase batendo nele para ele parar de ficar tão tenso, era só ele não dar bola, mas daqui a pouco ele acabaria abrindo a boca.

– Por quê? Você a pegou?

– Não, claro que não – Bill disse tentando não gaguejar – Só a levei até onde ela mora. Ela precisava ir embora logo e me pediu, então apenas a levei.

– Então você precisa passar o endereço para mim – Tom disse passando a língua pelo piercing e pelos lábios – Acho que ela realmente não queria me recusar, apenas tinha medo de ficar com a consciência pesada. Mas eu não me lembro de ver nenhuma aliança na mão dela.

Quando ele falou isso, eu olhei para minha mão, onde devia estar a aliança de Lukas, mas eu estava sem ela. Havia jogado ela na cara dele quando o peguei no quarto com a outra garota, então morri sem ela. Lembro que quando tirava ela para tomar banho, me sentia desprotegida e lá estava eu sem ela, vivendo – ou morrendo – normalmente.

– Mas não é por que ela está com aliança que ela não tenha compromisso com alguém – Bill disse simplesmente – vai que ela jurou amor eterno a alguém da infância dela e não vai quebrar a promessa?

– Essas coisas só acontecem em filmes – Tom disse simplesmente – Mas não ligo muito. Talvez ela seja mais a sua cara, Bill, você tinha que ver sua cara de babaca olhando para ela.

– Eu não olhei com cara de babaca! – ele disse ficando vermelho, acho que fiquei da mesma cor que ele.

– Imagine – Tom disse rindo – Eu vi quando você caiu em cima dela na festa, se aquilo não foi cara de babaca, foi algo bem próximo. Você devia ter aproveitado que estava no carro com ela e deveria tê-la pegado de jeito como o bom e velho Tom.

– Não daríamos certo – Bill disse o cortando e eu senti a frieza na voz dele, meu coração se afundou ao vê-lo falar daquele modo, mas não era isso que eu queria? Que ele simplesmente me esquecesse? – Ela é prima da Nathalie, está estudando aqui e como você disse, ela gosta de outra pessoa.

– Isso não me impediu de pegar garotas – Tom prosseguiu, como se não tivesse prestado atenção no que Bill acabara de dizer – O negócio é o seguinte, quando você quer uma pessoa, você não pode pensar que não vai dar certo, se não acaba com todas as suas chances. Elas podem parecer que não está a fim de você, mas uma hora elas vão cair de amores, principalmente se você for irmão de uma pessoa como eu. Temos o mesmo sangue.

– Se você for pelo Tom, você está ferrado, Bill – Georg disse pegando uma azeitona e acertando Tom – Não faça isso, siga o que a pessoa aqui diz, por que tenho uma namorada. Apenas vá com calma, elas podem ficar assustadas por você ser famoso ou simplesmente maravilhada, primeiro mostre como você é de verdade para ela. Aos poucos ela não vai ligar para o que a mídia e as revistas dizem sobre você. Ela só quer apenas conhecer o cara que há no interior do seu coração.

– Obrigado, mas acho que nenhuma dessas duas dicas podem me ajudar – Bill disse se levantando – Já vou indo, quero descansar.

Então Bill simplesmente se foi, sem me esperar, deixando eu sozinha e os outros todos confusos. Ele ia superar, ele era forte, logo ele iria me esquecer. Agora eu sei como é difícil, mas depois ele vai rir de tudo que aconteceu. Eu realmente espero.

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Angels Don't Cry - Capítulo 15 - Não beije seu protegido


Bill estava dirigindo de volta para o hotel, eram duas horas da manhã e Paris estava quase vazio por causa do frio. Era a hora de eu esclarecer um pouco as coisas, eu tinha feito algo errado e sabia que isso tinha causado algo ruim em Bill. Eu simplesmente não queria ver ele triste. Não queria ver mais ninguém triste por minha causa.

– Me desculpe – eu disse quebrando o silêncio de repente, isso foi meio estranho e por um momento eu quis voltar a ficar quieta – Por ter quase pegado seu irmão.

– Ah... isso não foi nada... – ele disse sem saber o que dizer – Esqueça isso.

– Claro que foi, eu deveria estar te ajudando, cuidando dos seus relacionamentos e não dos meus, afinal eu morri. Não tenho que cuidar de mais nada na minha vida.

– Não, nós prometemos nos divertir hoje, não importando como. Se ficar com Tom fosse algo que você quisesse, você tinha todo o direito. Você tem o direito de se apaixonar por ele, não importa se já morreu.

– Eu não estou apaixonada por ele, só foi uma tentação, algo passageiro. Ele não faz muito o meu tipo.

– É, o Tom faz esse tipo de coisa com as garotas, ele consegue atraí-las facilmente – ele disse gesticulando com uma mão e dirigindo com a outra.

– Você também consegue! É que você está procurando “A Garota”, já seu irmão está interessado em pegar todas as garotas. Cada um tem suas ideologias... mas é que... eu vi você, Bill. Você não estava feliz por me ver com ele – eu disse me lembrando do rosto dele quando estava dançando com Tom.

– Está tudo bem, Vig. Não estou bravo com você nem com ele – ele prosseguiu com a mesma besta explicação.

– Bill, se quiser me chamar de traidora, vadia ou imbecil, pode falar agora, sei que sou uma dessas coisas nesse momento. Ou até mais, como neurótica, maluca, briguenta e insensível. Sou tudo isso e eu sei, mas acho que se vir de você esses xingamentos, talvez seja como um tapa na cara, talvez eu acorde.

– Você não é assim – ele disse de repente estacionando o carro há alguns metros do hotel, ele deixou a chave na ignição e se virou para mim – Eu sei que você é a pessoa com a personalidade mais forte, corajosa e divertida que eu já vi. Vi a forma como olhou a foto da sua família, sei que cometeu erros, mas se há alguém que mais mereça o Céu, é você. Você aprendeu a crescer, a tomar conta de si mesma e a fazer coisas boas, não esta sendo falsa, nem fingindo ser a melhor pessoa do mundo. E é isso que eu quero ver de você, é o que você esconde atrás de seus defeitos.

– É para me proteger – eu disse quase sem palavras, sentindo meu coração quase na boca.

– Se proteger do que?

– Das pessoas... Ah... – eu disse tentando me explicar – De você... De pessoas que podem me fazer sentir algo que eu não quero sentir, como você.

Não sei como as palavras saíram da minha boca, mas de repente tudo ficou muito claro. Eu estava apaixonada por ele, era isso. Por isso eu o tratava mal, tentava me afastar dele, por que simplesmente eu estava me apaixonando e no fundo, no fundo, eu sabia disso. Eu sabia que tinha fazer de tudo para que isso não acontecesse, por que nós dois não temos nenhum futuro juntos e eu não sou a garota especial para ele. Bill precisa de uma garota doce e gentil como ele, não uma idiota como eu sou. Sem contar que estou morta, sempre me esqueço disso.

Mas quando eu falei aquilo, pensando que ele ia sair do carro e não olhar na minha cara, ele fez algo totalmente inusitado. Seus olhos ganharam aquele brilho que eu tanto conhecia, era como se as faíscas de antigamente virassem chamas de verdade. Ele se inclinou até a mim e quando percebi seus lábios haviam tomados os meus, eram tão cálidos quanto eu imaginava e me beijavam de forma tão intensa, que não pude hesitar também em correspondê-lo.

Sua mão percorreu minhas costas descobertas, me puxando para mais perto dele, e eu praticamente passei meus braços em volta do seu pescoço, segurando fervorosamente seu paletó da Dior. Por um momento eu desejei que meu cabelo não estivesse preso naquele maldito penteado, eu o queria solto para que ele pudesse passar a mão se quisesse. Mas eu me lembrei que podia fazer isso. Então em segundos meu cabelo se desfez em cachos caindo pelos meus ombros e costas.

Como mágica, suas mãos em minhas costas subiram para o meu pescoço, segurando meus cabelos, enquanto nosso beijo ficava mais impetuoso. Eu praticamente estava quase sentada no mesmo banco que ele, tentando aproveitar o pouco espaço para ficar mais perto. Minhas mãos escorregaram pelo seu paletó, o retirando aos poucos, ele colocou seu corpo um pouco mais para frente, para que eu pudesse retirar aquilo mais fácil. Tchau Dior!

Eu estava errada sobre a camisa, na verdade era uma regata que ele usava, apesar do maldito frio que fazia. Ele passou seus braços descobertos por volta da minha cintura e de repente eu estava no colo dele, pegando o rosto dele em minhas mãos e encarando aqueles olhos que eu tanto odiava e amava. Ele me beijou novamente, movendo seus lábios pelo meu maxilar.

– Hedvig – ele disse sussurrando, fazendo minha pele se arrepiar ao ouvi-lo tão perto de mim – Você é tão linda que quando me contou que era um anjo, eu realmente quase acreditei.

Meu coração disparou quando ouvi aquilo, mas no mesmo momento algo veio à tona: eu era um anjo. Que eu saiba anjos não ficam beijando seus protegidos no carro deles e arrancando seus paletós da Dior. Só que desde que eu morri, eu nunca me senti tão viva quanto agora, meu corpo parecia receber informações a cada momento, a cada toque dele.

Só que eu estou sendo egoísta, estou pensando só em mim. E depois que eu for embora para o Paraíso, como ele vai ficar? Simplesmente vivendo de minhas lembranças, sem uma pessoa que o ame de verdade. Não posso deixar assim, se for para concertar algo, vou fazer do modo certo e não vai ser ferindo ele.

Quando ele voltou para os meus lábios, os procurando, eu simplesmente virei meu rosto e o parei. Senti a dor amarga ao negar isso a ele, mas seria o melhor. Ele também de repente ficou tenso sem entender o que estava acontecendo, apenas deixou seus lábios tocando minha bochecha e sua respiração me atingindo e me aquecendo.

– Isso não é certo – eu disse para quebrar o silêncio constrangedor que havia, onde a única coisa que fazia barulho era as batidas cardíacas de nossos corações – Não podemos.

– Por quê? – ele perguntou se afastando de mim e pegando meu rosto para olhá-lo. Por favor, não me faça olhar para seus olhos – Por que está morta? Ou por que simplesmente tem medo de se apaixonar novamente?

– Por que isso não é certo – eu disse rispidamente tentando me afastar dele – Sim, por que estou morta! Por que vou embora daqui uma semana! Por mil motivos!

– Então você acha que se afastar de mim é certo? – ele perguntou com o orgulho ferido, quando eu finalmente consegui sentar no meu banco novamente.

– Olha, deixe-me fazer a coisa certa pelo menos uma vez na minha vida, Bill! Não é certo nós juntos, não quero te fazer sofrer, não quero que você cometa os mesmos erros que eu!

– Não vou cometer, eu...

– Já está cometendo só de termos feito isso! Vamos fazer o seguinte, apenas se esqueça do que aconteceu, OK? – eu disse tentando pensar, mas eu estava tão confusa – Retome a sua vida normalmente. Faça de conta que nunca me viu e nem sabe quem eu sou. Um dia simplesmente vou sumir e vai se esquecer de mim.

– Tudo bem, então – ele disse falando friamente enquanto pegava seu casaco e abria o carro – Ótimo.

Ele saiu sem olhar para mim e trancou o carro. Fiquei por ali um momento e então voltei a ser eu mesma, um espírito que parecia ter uma morte tão parecida com a vida. Tudo bem e vocês queriam que eu fizesse o que? Que eu simplesmente desse uns amassos nele e depois sumisse como se tudo tivesse bem? Não vou fazer isso, me desculpem.

 Então simplesmente soquei o banco, bati com toda força que eu tinha e segurei as lágrimas. Mas esqueci que eu não poderia chorar, anjos não choram, por que eles são desprovidos de sentimentos. E é isso que há de errado comigo, eu não sou um anjo e nunca vou ser, só estou substituindo um maldito camarada por um tempo. Muito obrigada Deus, você simplesmente me fez se apaixonar pela pessoa errada de novo! Nunca vou aprender. Nunca mesmo.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 14 - Mantenha a compostura


Então, eu simplesmente saí dos braços dele. Simplesmente empurrei Tom para longe de mim, mesmo sentindo falta do corpo dele perto do meu, mesmo notando como a noite estava fria. Toda a verdade voltou a minha cabeça: você está morta, Hedvig, não está viva! Você simplesmente abandonou seu protegido e ele simplesmente se deu melhor sem você! Ele achou uma garota, e pelo visto ela é loira oxigenada igual a garota da sala 203 de Relações Públicas!

– O que houve? – Tom perguntou, me olhando atônito.

– Olha, eu simplesmente não posso ficar com você – eu disse tentando falar da forma mais sutilmente que eu estava dando um fora nele por que bem... vamos ver... eu estou morta! – Não da, sabe. Eu já gosto de outra pessoa.

Antes que ele abrisse a boca e me questionasse, eu caí fora da pista de dança e corri para a mesa oposta onde Bill estava. Tentei sumir na multidão até encontrar um daqueles garçons com bebidas coloridas, peguei uma delas e tomei em um gole só, a sentindo queimar minha garganta.

Eu estava me sentindo envergonhada, na verdade humilhada por mim mesma. Só me deixei ser levada por Tom por que eu realmente queria dizer: “Hey, minha ultima relação amorosa não foi com um idiota que me traiu, foi com um cara lindo e charmoso”. Mas o que eu fiz? Simplesmente estava quase dando uns amassos no irmão do meu protegido!

Mas por que me importo? Afinal Bill não achou sua tão especial garota? Ele não estava nos braços de outra mulher naquele momento? Ele realmente não precisa de mim, pelo visto! Foi capaz de achar aquela garota vulgar com aquele vestido vermelho do Dolce&Gabbana! Nem para achar uma decente que faça jus a todos os seus critérios!

Caminhei até uma mesa cheia de doces e comecei a comer alguns. Lembro que sempre que ficava triste, Mischa me levava para comprar doces, ela dizia que isso fazia bem. Sei que engordava, mas eu morri, então não vou engordar mais, posso comer o quanto eu quiser. Era bom sentir o açúcar começando a correr no seu sangue, mesmo que seja morto, era como um calmante.

Então eu a vi, a garota, ela me lembrava uma mistura de Marilyn Monroe com Anne Hathaway, ou seja: vadia e um doce na medida certa. O que eu estou fazendo afinal? Eu devia ficar agradecida por finalmente ele se sentir feliz e não ficar xingando a futura Senhora Kaulitz. Era um peso que ia tirar das minhas costas finalmente. Mas eu não estou feliz, mas por quê?

– Essa é a maquiadora que você falou? – ela disse vindo em minha direção, com uma voz tão chata que eu quase enfiei a cascata de chocolate na goela dela – Eu realmente estou precisando de uma maquiadora pessoal.

– Não estou disponível – eu disse secamente, tentando não olhar para Bill e pegando um morango de chocolate.

– Eu sei, bobinha. Não vou pedir para me maquiar agora, estou falando no dia-a-dia – ela disse como se não entendesse o que eu tinha falado. Pelo visto o nível de água oxigenada havia torrado o resto de cérebro que ela tinha.

– Não estou disponível! – eu disse me virando para encará-la, para ela sentir o rancor em meus olhos e depois voltei ao morango com chocolate.

– Não vai dizer que alguém já a contratou? – ela exclamou – Bill disse para mim que você veio para a festa procurando um emprego.

– Olha, eu não quero trabalhar para você, entendeu? – eu disse da forma mais grossa que eu podia, mas ao me virar para ela, encontrei os olhos do Bill, ele parecia estar sem emoção. Ele não estava feliz, decididamente.

– Então por que veio? – ela perguntou agora usando a grosseria igual a mim – Acho que só para pegar o Tom Kaulitz, não é mesmo? Eu vi vocês ali agarrados quase se comendo!

Tudo bem, respire. Não dá.

– Sabe o que você vai comer? Essa merda aqui! – eu disse pegando um copo cheio de chocolate derretido e jogando tudo na cara dela. Fiz questão de sujar aquele maldito vestido caro.

Claro que foi errado. Quero dizer, isso foi muito mau. Acabei de causar um babado daqueles na festa, mas alguém tinha que animar esse lugar! Festas simplesmente têm que ter babados! Ainda mais quando é jogar chocolate derretido em uma garota idiota.

– Sua vaca! – ela exclamou tentando tirar o chocolate do rosto – Você vai me pagar!

Então ela afundou a mão em uma vasilha de manjar e arremessou em mim. Como eu sou mais esperta e ágil, eu simplesmente abaixei, mas o manjar acertou uma velha atrás de nós, bem no suéter Ralph Lauren dela. A mulher praticamente surtou, falou mil palavrões em francês e pegou um pedaço da torta do seu prato e tentou atingir a garota de vermelho. Mas acabou acertando, na verdade, um cara que tinha um terno que parecia ser Armani.

Foi o caos. Comida voando para todo o lado e acertando diversas pessoas que nem deveriam estar na briga. Recebi bolo na cara, pavê no meu vestido lindo da Dior, tinha até raspas de limão no meu cabelo. Mas era a coisa mais divertida que fiz na minha vida! De todas as festas que fui, nunca participei de guerra de comida!

Peguei na mesa um pedaço de mousse de limão e joguei com tudo na roupa de Bill, lá se vai Dior! Ele não ficou bravo, na verdade ele estava rindo, rindo de verdade! Aquela tristeza que havia no seu rosto, havia sumido e agora ele estava se divertindo como todos na festa. Mas ele não ia deixar barato, ele pegou um punhado de brownies e esfregou no meu vestido enquanto eu tentava desviar.

Então, sem perceber, pisei em alguma gororoba que estava no chão e cai, tentei me agarrar em Bill, mas acabei o puxando junto comigo. Só percebi depois que nós dois estávamos no chão, cheios de comida e quase quebrados pela queda. Nós dois continuávamos a rir, só paramos quando nossos olhares se encontraram de repente.

– Tem chantilly no seu rosto – ele disse passando seu dedo em minha bochecha e tirando o chantilly e depois levando até seus lábios – Está bom do mesmo jeito!

– E acho que tem bolo no seu cabelo – eu disse rindo sutilmente, o cabelo era algo que ele mais parecia prezar, espere até ele ver como está – Bem... me desculpe, acho que joguei chocolate derretido na sua namorada e acabei com a festa.

– Ela não é minha namorada! É apenas a filha do dono da festa, do cara que nos divulga na França.  

– Então acabei de jogar chocolate derretido na filha do dono da festa? – eu exclamei – Caramba, agora me sinto pior que antes!

Ele se afastou de mim, sentando ao meu lado e me ajudou a se sentar também. Eu queria falar tanta coisa para ele, mas parecia que naquela situação não dava. Ainda havia comida voando para tudo que era lado e a velha com o suéter da Ralph Lauren estava em cima de uma mesa gritando “This is Sparta!”. As coisas estavam saindo um pouco fora de controle pelo visto.

– Vamos cair fora daqui? – eu disse – Acho que essa festa já deu o que tinha que dar.

– Tudo bem – ele disse se levantando e me ajudando – Preciso realmente tirar esse bolo do meu cabelo.

– Veja pelo lado bom, você não está de moicano, acho que o estrago seria maior!

Então, sem avisar ninguém, escapulimos pela guerra de comida, tomando cuidado para não levar mais na cara. Essa noite estava sendo tão divertida! A parte que eu mais gostava era fugir de uma festa, já fugi de tantas. Se não era os vizinhos que chegavam do nada e nos via bêbados no gramado, eram os policiais que vinham descobrir quem estava fazendo tumulto em determinado lugar.

Agora estávamos apenas fugindo por conta própria, ninguém nos estava perseguindo, eu não estava completamente bêbada nem havia perdido meu sapato. A única coisa errada era que eu estava coberta de comida!

– Vig – Bill disse antes de abrir o carro – Obrigado por animar a festa. Acho que essa foi uma das melhores que já fui, se não, a melhor!

 Não sabia o que dizer, na verdade não achei que tinha feito grande coisa, mas aí estava ele sendo gentil comigo, mesmo depois de ter arruinado a festa e quase ter pegado seu irmão. Eu realmente queria que ele me xingasse e dissesse que sou uma má anja da guarda, mas ele parecia realmente confiar em mim. Ou simplesmente tinha pena de mim por estar quase com o pé no Inferno... mas o que eu estou pensando? Ele não é como eu. Não. Talvez eu tenha que aprender mais com ele.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 13 - Não se interaja com vivos


Tudo bem, que lugar é esse? Meus olhos devem estar parecendo holofotes de tanto brilhar! Eles redecoraram um jardim inteiro, está parecendo àquelas festas de casamentos que se fazem ao ar livre, só que cheio de brilho, pessoas bem vestidas, tomando champanhe e bebidas coloridas. Nunca estive em uma festa tão bonita como essa! O máximo de jardim que já vi, foi em uma festa que invadimos a piscina do vizinho que havia viajado e ficamos bêbados no gramado.

Mas isso era muito melhor que invadir o jardim do vizinho! Pena que eu não conhecia nenhum desses famosos franceses, vou ter que fingir ser mais social pelo jeito, ou posso simplesmente perguntar para Bill se ele conhece algum deles. É claro que me perdi naquela multidão de gente que foi cumprimentar o Tokio Hotel.

Decidi que por enquanto, o melhor que eu teria a fazer era me afastar. Acho que Bill nem me viu sumindo, apenas andei entre as mesas, dando uma olhada nas pessoas que estavam por ali. Então eu vi uma bandeja passando na minha frente, com coquetéis coloridos com frutas, que coisa mais exótica! Peguei um deles e bebi, senti o álcool entrar no meu corpo de mentira e isso era tão bom, faz tanto tempo que eu não bebia nada!

Só seria um coquetel, não podia ficar bêbada, afinal tenho que cuidar de Bill, não que ele não saiba se virar, mas é meu trabalho, oras. Sentei em uma das mesas e fiquei olhando eles ao longe, ainda estavam conversando com outras pessoas e rindo. Sentia-me excluída de certa forma, afinal geralmente eu tinha a Mischa nas festas ou outros amigos.

– Sinceramente, você não vai ficar aí sentada para sempre, não é? – Bill disse vindo em minha direção, quando conseguiu sair de perto de todas aquelas pessoas – Sei que não conhece nenhum deles, mas eu poderia te apresentar.

– Como uma maquiadora procurando por emprego? – eu perguntei rindo – Acho que não preciso disso. Espero que as coisas se agitem mais!

– Quando eu disse que essas festas não são grandes coisas, você não acreditou. Bem, por isso eu te trouxe, para agitar um pouco o local.

– Tudo bem – eu disse me levantando e pegando outro coquetel que estava passando em uma bandeja. Bebi tudo em um gole só – Vamos logo mostrar o que uma festa de verdade tem que ter.

Peguei a mão de Bill e o puxei para longe daquelas mesas, primeiro teríamos que mudar essa musica orquestral, parecia mais uma festa fúnebre do que algo que ia arrasar a noite de todos. Fui até o DJ – o cara que cuidava do som, tanto faz – e acenei para ele, para que olhasse para nós.

– Esse é Bill Kaulitz, vocalista do Tokio Hotel e ele não gosta dessa música – eu disse simplesmente em alemão.

– Não entendo o que você disse – ele disse em francês, mas eu entendi. Vamos dizer que o professor de francês era bem bonito, então eu simplesmente prestava atenção nas aulas dele e tentava ser a melhor aluna. Acabei pegando ele em uma festa da escola em que os alunos colocaram vodka no ponche, vamos dizer que ele bebeu mais do que deveria. É, nunca disse que fui uma boa pessoa.

– Eu disse que esse é Bill Kaulitz e ele não gosta dessa música, coloque uma música mega animada para todas essas pessoas aqui botarem para quebrar. Agora! – eu disse na voz mais autoritária que eu tinha. Não era muito diferente da que eu usava normalmente.

O cara olhou para Bill e depois para mim, então a música parou. No lugar dela uma batida começou a tocar, percebi que algumas pessoas ficaram confusas, outras simplesmente começaram a se movimentar conforme a música continuava. Ponto para mim! Logo a pista de dança começou a encher de pessoas conforme mais chegavam.

– Viu? A música melhorou – eu disse falando para Bill e depois indo até os garçons – Quero vocês circulando com as bebidas perto da pista de dança, é lá que as pessoas vão ter sede de verdade.

Os garçons devem ter pensado que eu era alguma espécie de anfitriã, por que saíram correndo para a pista de dança no momento que terminei de falar. Acho que escolher um vestido Dior foi a melhor ideia que tive, isso mostra poder, mesmo que eu não tenha poder nas minhas mãos, posso fingir que tenho.

– Pronto! Agora é só deixar que as pessoas façam a festa de verdade! – eu disse orgulhosa ao ver todos se divertindo – Pode ir se divertir agora, Bill. Vou procurar alguém para você!

– Não é necessário – ele disse segurando meu braço quando eu estava pronta para ir ao Caça as Namoradas – Não se preocupe com isso.

Me virei pronta para xingá-lo por ser um negativo de primeira, mas encontrei aqueles olhos de novo que faziam com que eu afundasse. Um tremor passou por mim e meu coração começou a disparar freneticamente e acho que nem a batida da música nem o álcool estavam me ajudando nesse momento. Tudo bem, eu nunca havia reparado isso, apesar de ele parece uma garota com toda aquela maquiagem, ele era bonito de verdade, como um homem. E ele tinha um cheiro ótimo também, não era por que o perfume ou sei lá o que ele usava fosse caro, mas aquilo realmente era como uma fragrância floral que atraísse abelhas. E eu era uma abelha nesse exato momento.

– E quem é essa bela mulher? – perguntou um cara quebrando totalmente o clima, nunca tinha visto ele antes – É sua namorada, Bill?

– Não – eu disse soltando meu braço do de Bill e saindo o mais rápido possível de perto dos dois.

O que está acontecendo comigo? Eu não estava pensando que ele fosse me beijar estava? Ou melhor, eu ia beijar ele? Ele é seu protegido Hedvig, não um cara que você pode sair por aí e dar uns amassos, nada disso. É errado se envolver com um humano, ainda mais um humano como ele, que está à procura de uma pessoa decente, não alguém como Hedvig Nondenberg.

Mas isso deve ser da minha imaginação, quero dizer, o Bill não pode gostar de mim. Não pode. Isso praticamente deveria ser um dos Dez Mandamentos: “Não se apaixonarás por tua anja da guarda”. E por que ele se apaixonaria por mim? Afinal eu sou terrível com ele, só sei dar patada... a não ser que ele seja masoquista ou goste de mulheres que tem o poder...

– Aí está você! – disse alguém aparecendo bem na minha frente, nada menos e nada mais que Tom – Te procurei em tudo que é lugar, pensei que já tinha achado algum famoso para ser maquiadora.

– Não, eu estava apenas pegando algumas dicas com seu irmão – eu disse tentando fazer com que ele saísse do meu caminho.

– Por que não dança comigo? – ele perguntou de repente, me fazendo fitá-lo sem graça – Prometo que não vou morder.

Tudo bem, vocês podem me matar. Que tipo de pessoa eu sou? Mas não há nada de errado em dançar com ele, não é mesmo? Afinal só vai ser por hoje, nunca mais vou me encostar a Tom ou qualquer pessoa dessa festa. E ele é bonito, tudo bem? Ele tem charme e simplesmente faz você ficar atraída.

E os olhos dele eram iguais os do Bill, daquela cor acastanhada cálida como chocolate quente. Simplesmente fui fisgada. Ele passou o braço em volta de mim e me trouxe para mais perto dele, fazendo meu corpo ficar colado ao seu. Pude sentir seu cheiro bom impregnando minhas narinas. Sua respiração estava um pouco acima da minha orelha, me fazendo ter arrepios contínuos.

Quem diria que o irmão do Bill era tão... assim? Eu o achava um idiota galinha e agora vejo que além de ele ser isso, o cara sabe o que faz. Ele simplesmente conseguia chamar as garotas ao seu encontro. E eu pensando que poderia conseguir fugir dele, cometi um erro muito grande.

Estávamos tão perto que eu sentia seu coração batendo, balançávamos conforme a batida. Seus lábios beijaram o meu rosto e senti a superfície gelada do seu piercing tocar a minha pele e deixando quente o local. Cada vez mais eu o sentia mais próximo de mim, isso parecia ser tão surreal! Tentei virar o rosto, ele não me teria tão fácil assim quanto imaginava.

Foi quando eu vi Bill, olhando para nós dois, eu não sabia ler sua expressão, se ele estava surpreso, com raiva ou qualquer coisa. E havia mais alguém do seu lado, onde ele estava sentado, ao longe, havia uma garota. Foi quando eu de repente acordei de verdade.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 12 - Não vá a uma festa com seu protegido


– E então, como você vai ir? – ele perguntou quando estava totalmente pronto e faltavam alguns minutos para nós irmos para a festa.

Bill estava realmente incrível! Ele vestia um paletó de riscas de giz apertado, moldando seu corpo magro, embaixo havia uma camiseta preta e vários colares prateados. Sua calça era preta e da Dior – como sempre – e usava botas de couro com salto médio, elas eram tão lustrosas que eu quase podia ver meu reflexo nelas.

– Vou te mostrar – eu disse saindo da poltrona onde eu estava sentada – Apenas preste atenção, vai ser rápido.

Respirei fundo, fechei os olhos e imaginei como eu me queria, senti meu corpo queimar e tomar a forma humana. Senti frio, senti o vento vindo da janela batendo na minha pele, senti o ar preenchendo meus pulmões de verdade... sim, eu estava viva. Parcialmente. Abri meus olhos e olhei para Bill.

Ele parecia admirado, com a boca um pouco aberta e com os olhos estáticos e brilhantes. Não sabia ler a expressão dele, será que ele havia gostado? Ou achou que não tenho o mínimo senso de moda? Quero dizer, eu não ligo, se ele não gostar, vou assim mesmo. Mas preciso da opinião de um admirador de Dior.

– E então? – eu perguntei esperando que ele dissesse pelo menos um A.

– Veja por si só – ele disse pegando a minha mão e me puxando até um espelho oval que havia em um canto e me colocando na frente para eu ver meu reflexo – O que você acha?

Eu estava me vendo no espelho, fazia tanto tempo que isso não acontecia, era como voltar no tempo de repente. Mas eu estava do jeito que eu imaginava, o vestido da Dior ficou perfeito no meu corpo, com sua cor Carmesim combinando com a cor do batom em meus lábios e com o blush em minhas maçãs do rosto. O vestido era comprido e de chiffon, com tecido que se amarrava em volta do meu pescoço, impedindo que caísse. Meu cabelo estava preso atrás, em forma de um rabo de cavalo cheio de cachinhos caindo em meu pescoço.

– Eu estou bonita – eu disse respondendo a pergunta do Bill – De verdade. Não está ruim...

– Ficou perfeito em você – ele disse com sua voz um pouco acima do meu pescoço, senti um arrepio perpassar por minha pele. Eu via o reflexo dele no espelho e ele sorria para mim – Você vai ser o sucesso da festa, vai ter diversos admiradores.

– Sem chance, estou morta, não posso ficar saindo com mortais – eu disse corando – Depois da festa serei eu novamente, mortinha da silva.

– Mas nada impede de você aproveitar enquanto estiver lá. Você é minha Anja da Guarda e te dou a permissão de fazer o que bem entender lá.

– Você não é meu chefe Bill, alguém lá em cima é. Não posso decepcioná-lo, nem a você, então te ajudarei a achar alguém legal na festa. Mesmo que não seja a pessoa especial, nada o impede de aproveitar um pouco a vida.

– Então me prometa que faremos o que quiser hoje, sem importar mais nada além de apenas viver.

– Tudo bem, menos explodir as pessoas – eu disse rindo – Não quero morrer de novo, mesmo isso não sendo possível.

– Nem me matar, isso não seria nada legal.

– Não é uma má ideia, pensando bem!

De repente alguém bateu na porta e congelamos, mas logo se pode ouvir a voz de Natalie do outro lado, perguntando se Bill estava pronto. Ele foi até a porta e abriu, fazendo um sinal com a mão para ela me ver. Natalie simplesmente arregalou os olhos e olhou para mim pasmada igual a Bill quando me viu.

– Nathalie, te apresento sua prima, Hedvig Franz. Ela vai para a festa com a gente, é uma prima próxima de você que está fazendo faculdade na França. Como vamos ficar por pouco tempo, achou legal convidá-la para vir junto com nós.

– Ela vai mesmo? – ela perguntou finalmente – O que... o que... vocês dois estão planejando?

– Nada demais, apenas vamos nos divertir hoje – Bill disse vindo até mim e me empurrando para a porta – E vamos nos atrasar se continuarmos aqui. Não se esqueça de suas falas Nathalie. Terá que ser uma atriz caso surja alguma pergunta cabeluda.

Ela só ficou calada e nos seguiu, talvez ela pensasse que isso não fosse uma coisa boa. Quase que desisti, afinal eu não devia estar me divertindo e sim tentando descobrir uma forma de ajudar meu protegido. Mas e se eu for para o Inferno mesmo depois de todos os meus esforços? Pelo menos vou me divertir pela última vez, talvez eu não mereça, mas vou do mesmo jeito.

Quando chegamos ao hall, lá estavam os outros parados, nos esperando – nós somos os últimos como sempre, mas dessa vez a culpada fui eu – pacientemente. Mas quando eu cheguei, todos me olharam surpresos, me senti realmente desconfortável. Pensando bem, acho que me acostumei tanto ficar invisível, que quando recebo muita atenção, fico ligeiramente envergonhada.

– Quem é essa deusa? – Tom perguntou de repente me fazendo ficar mais rubra ainda.

– Ah... ela... É Hedvig Franz – Nathalie começou, gaguejando e olhando para nós dois como se pedisse ajuda. Coitada, jogamos tudo para cima dela – É minha prima, ela veio há pouco tempo para a França, para estudar. Como ela está na área de maquiagem e moda igual a mim, pensei em convidá-la para a festa, para se interagir com os famosos e quem sabe, conseguir um emprego. Não se importam, não é mesmo?

– Claro que não – Tom disse rapidamente dando um sorriso maroto, percebi que sua língua começou a passar pelos seus lábios, principalmente pelo seu piercing como se tentasse me seduzir. E não é que o cara é bom? – Se quiser, ela pode começar a se interagir comigo.

– Tom, deixe-a em paz – Bill disse, lançando um olhar matador para ele.

– Qual é, Bill? Não é só você que gosta de maquiagem – Tom disse indo até onde estávamos e passando um braço em volta de mim – Se quiser, posso te contratar agora mesmo.

– Acho que estou mais interessada em trabalhar para a Lady Gaga – eu disse dando um sorriso afetado e saindo de perto dele. Mas pensando bem, não seria tão ruim dar bola para ele, afinal, desde Lukas, eu nunca mais gostei de nenhum cara. Bem, também eu morri, não é?

– Tudo bem – disse David – Vamos agora? Já estamos atrasados para a nossa festa!

Todos assentiram e nos encaminhamos até um carro enorme e preto que estava na frente do hotel. David que iria dirigir e pediu que os outros se instalassem nos bancos de trás, onde havia mais espaço.

– David – disse Bill o parando, antes de ele fechar a porta – Eu vou em outro carro, tudo bem?

– Mas por quê?

– Bem... Vai ser melhor para levar Hedvig depois para casa, ela mora um pouco longe e o amigo que a trouxe, não vai poder buscá-la – ele disse simplesmente.

Na verdade é que eu sabia que se ficasse fraca e tivesse que voltar para minha forma original, Bill teria que inventar algo para meu súbito desaparecimento e ter um carro só para nós, era algo que realmente iria ajudar. David não fez muitas perguntas apenas disse que tudo bem. Já havia um carro alugado para Bill, ele havia ligado antes quando soube que eu decidira ir à festa.

– Eu vou com você – eu disse abrindo a porta do carro e entrando no passageiro – Ainda não estou preparada para ser apalpada pelo seu irmão.

– Então quer dizer que vai se preparar? – ele perguntou levantando a sobrancelha para mim.

– Isso não é da sua conta, Kaulitz – eu disse rispidamente – Você disse para mim se divertir essa noite e é o que vou fazer. E você deveria fazer o mesmo.

– E eu vou – ele disse com uma voz firme, enquanto ligava a ignição.

Essa eu pago para ver.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 11 - Não abandone seu protegido


Tudo bem, o que havia acontecido? Sério, estava tudo bem, eu fui gentil com ele e ele foi comigo, mas... não deu certo. Como ele pode dizer aquilo de mim? Sei que não foi um xingamento, foi algo legal da parte dele, mas vocês não viram como ele me olhou! Eu podia até sentir! Era como se eu fosse engolida por eles, como se cada risco de sua íris fossem degraus que me levavam para um fundo escuro.

E eu não queria olhá-lo daquela maneira, não quando eu me sentia tão fraca perto dele. Devia tratar Bill como o maldito cara que conheci e não como um amigo ou qualquer coisa do tipo, eu não podia criar nenhum laço com ele. Ainda mais quando tínhamos pouco tempo juntos.

Eu estava na varanda, apoiada novamente na mureta, olhando para Bill dormindo. Tinha fechado as portar de vidros, estava muito frio e eu não queria que ele pegasse alguma gripe. Espero que ele não fique magoado por eu ter ido embora daquela maneira, eu só sumi por meia hora e voltei. Estou aqui novamente. Pronta para ajudá-lo.

Na verdade eu tinha ido dar uma olhada na Torre Eiffel, eu nunca a tinha visto tão de perto, tão imponente com suas luzes. Era estranho tê-la conhecido na morte e não na vida, mas pelo menos eu a conheci, não é mesmo? Fiquei algum tempo, sentada em um banco apenas apreciando tudo que acontecia no local.

Foi então que eu percebi como eu sentia falta da minha vida, ao ver todas aquelas pessoas felizes, sem saberem que a qualquer momento podem morrer, que há uma força maior por trás de tudo isso. Humanos pensam que sabem de tudo, mas não sabem de nada. E eu era uma humana que não sabia de nada, agora sou uma morta que não sabe o que fazer.

Não, eu sei. Sei que tenho que ir para o paraíso, sei que tenho que terminar esse trabalho, sei que tenho que fazer meu protegido feliz e é o que basta por enquanto. Não posso voltar no passado, mas posso mudar meu futuro e é o que vou fazer nesse momento. Preciso apenas centrar no meu objetivo, só isso.

Quando voltei para casa depois de refletir sobre a vida – ou morte, tanto faz –, vi que Bill dormia, calmamente. Dessa vez ele parecia não ter sonhos conturbados e eu ficava feliz por isso. Só queria o melhor para ele, não queria mais uma pessoa acabando com a própria vida por alguma bobagem. Às vezes queria ser mais forte, só um pouco mais.

– Hey, você acordou! – eu disse quando Bill se sentou na cama, esfregando os olhos – Está uma linda manhã.

Ele olhou para mim, não falou nada, apenas ficou olhando como se minha imagem estivesse fosca. Mordeu os lábios com força, talvez como se quisesse trancar algumas palavras, como se tivesse medo que eu não aceitasse o que ele iria dizer. Mas eu não ia causar nenhuma briga.

– Sobre ontem – eu comecei antes que ele falasse algo – Prometo que vou brigar menos e sorrir mais, entendido, garoto vampiro? Agora se você não se apressar para ir à festa, vou chutar o seu traseiro até você chegar ao banheiro.

– Ah... OK – ele disse finalmente falando algo – E desculpe se eu falei algo que você não gostou.

– Só não fale – eu disse o cortando – Já para o banheiro arrumar seu topete mega gigante, se você perder essa festa, você vai descobrir quem Hedvig é de verdade! Perder uma festa em Paris, não é coisa que eu faria.

Ele se levantou molemente, atravessando o quarto e parando na porta, segurando a porta como se fosse se apoiar. Parou um minuto depois se virou para mim, pelo visto, ele iria falar algo. Tenho que dizer que de repente me senti travada, minha garganta apertou, esperando pelo o que ele iria falar.

– Você poderia ir – ele disse simplesmente.

– Eu vou, Bill, estarei ao seu lado, por que sou sua anja da guarda – eu disse quase gritando que isso era mais do que óbvio.

– Não, não como espírito, mas como uma pessoa normal. Já que você aprecia tanto festas, acho que quem mais deveria aproveitar, era você.

Tudo bem, eu não esperava por essa. A última vez que fiquei tão surpresa, foi quando Albin Wistrom, um garoto idiota que jogava suco em mim quando eu tinha quinze anos se declarou para mim. Ele gostava de cheiro de suco de uva por isso vivia jogando em cima de mim. Era realmente algo inesperado.

– É proibido – eu disse, minha voz saiu como um grito oprimido – Quero dizer, só anjos de verdade tem permissão para fazer isso.

 – E você é de mentira? – ele perguntou levantando a sobrancelha – Também pode fazer isso.

– Mas... mas... não sei se aguento por muito tempo. E se isso for errado? Se eu for mandada para o Inferno?

– Se Deus existe, vou falar com ele pessoalmente e se não der certo, eu vou atrás de você no Inferno.

– Eu não sei – eu disse ficando cada vez mais atônita – Eu realmente não sei.

Novamente pensei em sair dali e correr para a Torre Eiffel, mas apenas fiquei parada, fitando aqueles olhos incisivos. Eu tinha medo deles, como se pudessem descobrir o que eu pensava, me sentia descoberta. Bill apenas me deu as costas e entrou no banheiro, fechando a porta.

Então ele estava pedindo para eu ir à festa com ele? Como uma humana comum? Como uma acompanhante? Tudo bem, estou mais eufórica ainda com a perspectiva de ir a uma festa de ricos e famosos, na França, com a companhia de Bill Kaulitz! Mas isso não é certo, não é mesmo? O certo é ficar como um espírito e achar alguém legal para Bill, afinal é uma festa, sempre tem pessoas legais lá.

Mas não deve ter nada de ruim em fazer o contrário! Afinal eu morri, quando vou ter mais uma oportunidade dessas? Vai ser a última, prometo! Poderei comer o que eu quiser, beber o que eu quiser, dançar quanto eu quiser e é claro ficar de olho no Bill, não vou me esquecer disso de forma nenhuma. Além de que posso fingir ser amiga de alguma garota lá e falar para ela dar uma chance para ele, vai ser tudo mais fácil!

– Eu vou – eu disse quando ele saiu do banheiro – Hedvig não perde nenhuma festa, ainda mais uma tão importante como essa.

– Ótimo! Vou precisar da ajuda da Nathalie – ele disse parecendo ficar eufórico também – Precisamos achar também alguma roupa para você, acho que essa não iria ficar legal...

– Não é necessário achar algo para eu vestir. Como sou feito de um material que não existe, é só eu me materializar da forma que eu quero. Qualquer roupa que eu quero, posso vestir – eu disse já pensando no que eu poderia vestir – Você tem algum catálogo da Dior?

– Vai usar Dior? – ele disse piscando várias vezes.

– Não é só você que pode, garoto vampiro – eu disse colocando as mãos em minha cintura e o olhando de maneira impertinente – Vou com Dior sem gastar um tostão, isso não é ótimo?

– Bem, pensei em apresentar você para as outras pessoas como a prima da Nathalie, não iria ficar estranho você de Dior? – ele perguntou inocentemente, talvez tentando falar da melhor maneira possível que essa marca cara não combinava com uma pessoa como eu.

– Vou usar Dior e você não vai me impedir – eu disse falando entre os dentes – Foda-se os outros, o que vão pensar! Sou a prima rica e mais bonita da Nathalie, se os outros não acreditarem, simplesmente não vai fazer a mínima diferença na minha vida, entendido?

– Tudo bem... – ele disse tentando me acalmar e abrindo a mala dele, depois de procurar por muito tempo, pegou uma revista e jogou para mim – Aqui está. Não use nada muito vulgar.

– Eu sei como me vestir, obrigada por se importar – eu disse olhando brava para ele e começando a folhear a revista – Vai se arrumar, garoto vampiro, eu fico pronta em segundos, você não.

– Entendido, garota da Dior – ele disse rindo.

 OK. Eu gostei desse apelido. Talvez as coisas não estejam tão ruins assim. Vai saber.

Postado por: Grasiele

Angels Don't Cry - Capítulo 10 - Não olhe para seu protegido


– Demoraram, em? – Tom disse quando havíamos voltado para onde eles estavam, eu já estava na minha forma normal, sem que ninguém pudesse me notar – Pensei que tinham se perdido ou foram sequestrados.

– Você sabe como são as mulheres no banheiro – Nathalie disse – Tive que arrumar o cabelo, ver se eu não estava com cara de sono. Preciso parecer decente, pelo menos para mim mesma.

– E vai precisar de muito mais amanhã – disse David desligando o celular – Como saiu o nosso novo clip hoje, então vai ter uma festa para nos promover. Isso vai ser ótimo!

– Uma festa? – exclamou Tom – Já estou lá, pode confirmar nossa presença. Depois de tanto trabalho, precisamos nos divertir.

– Isso vai ser incrível! – disse Gustav deixando a cara de sono para lado e de repente ficando animado – Comidas, bebidas e famosos! Nada como uma festa para animar as coisas.

– Então vou ter que dormir o dia inteiro – Bill disse – Estou realmente morto de cansaço.

Pouco me importava o resto. Eu estava realmente eufórica, afinal eu estava na França, era um dos meus grandes sonhos! Eu nunca saí da Suécia antes e era incrível estar em um lugar como esse, afinal já assisti tantos filmes com a Mischa Sjodin – minha colega de quarto e melhor amiga na faculdade – que se passam na França! E agora estou aqui! Seria tão legal poder contar para ela, mas bem... eu morri. E ainda tinha uma festa! Festa com famosos e ricos! E eu vou mesmo estando morta! Isso é realmente incrível.

Quando entramos em um dos carros, aonde ia Bill e Nathalie enquanto os outros iam a outro carro, já abri a boca. Eu fiquei feliz de mais uma pessoa saber da minha existência, assim era muito melhor. Ainda mais uma pessoa que vivia do lado dele e não saia um minuto sequer.

– Nós vamos, não é mesmo? – eu exclamei eufórica – Isso vai ser incrível, eu nunca estive na França e nunca fui a uma festa tão grandiosa. Eu vivia indo em festas, mas não era grande coisa, era só do tipo: mil adolescentes em um cômodo só, bebendo e dançando igual a uns loucos.

– Sim – disse Bill, fazendo Nathalie olhar para ele e tentando me localizar em algum canto – Nós vamos. Mas não é grande coisa assim, é apenas uma festa.

– Você fala assim por que já foi em várias festas de famosos, eu nunca fui. Você é o primeiro famoso que fico tão cara a cara. E se os outros forem iguais a você que decepção, você é tão chatinho... – eu disse o fazendo olhar feio para mim pelo retrovisor – Estou brincando! Você não é tão ruim assim.

Ele não falou mais nada, claro, para que retrucar? Ambos sabíamos que se ele dissesse algo iríamos acabar brigando. A verdade era que não nos suportávamos, nossos gênios não batiam. Não que ele fosse tão terrível assim, ele era realmente legal, mas é só que eu não ia muito com a dele. Além de eu adorar “cutucar” as pessoas.

Se com o outro hotel já fiquei impressionada, com esse, então, fiquei sem palavras. Ele era enorme e sua arquitetura era gótica e antiga, parecia um castelo que reinava ainda nos tempos modernos. Era tão incrível, que quando saímos do carro eu podia facilmente imaginar uma princesa saindo dali. Melhor eu parar com isso, estou me parecendo Mischa, ela que vive imaginando essas coisas absurdas e românticas.



Tudo bem, o quarto é incrível! É estupendo! Surreal! É enorme e parecem aqueles quartos antigos, cheios de detalhes na cores douradas e ouro queimado. Tem uma porta que da para uma varanda enorme, e sabe o que você vê quando olha para ela? A Torre Eiffel! Havia também uma cama gigante de madeira escura como todos os restos dos móveis, parecia um quarto de realeza.

– Uau – eu disse debruçada na varanda, feita de ferro em forma de flores, onde em cima tinha uma mureta de madeira – Não sei mais o que dizer além de “Uau!”. Eu nunca estive na França antes e nunca pensei que estaria aqui dessa forma!

– É lindo mesmo – ele disse dentro do quarto, enquanto colocava suas malas em um canto – Já vim para a França várias vezes, é um lugar lindo de se visitar, mas nunca parei para dar uma olhada.

– Você deveria, deve ter mil coisas para se ver aqui como museus, patrimônios, atrações, monumentos turísticos e quem sabe o que mais! Eu ficaria completamente louca em um lugar desses, por mais que o hotel fosse incrível, eu não ficaria aqui quando tem tanto para se ver lá fora.

– Sou famoso, Hedvig, se eu por o pé para fora, milhões de fãs pularão no meu pescoço – ele disse como se isso fosse óbvio. Dependendo do ponto de vista, não era, pelo menos eu não enxergava isso – Não dá para sair por aí e apreciar o mundo, mesmo que eu queira.

– Claro que dá! Bill, você pode não ter a melhor Anja da Guarda, nem uma especialista no assunto amor, mas em sair sem que ninguém saiba, ah, eu sou perita nisso! Como você acha que eu escapulia da faculdade de noite? É proibido sair de lá em dia da semana, apenas nos fins de semana, mas eu sempre achava um jeito.

– Mas isso é impossível comigo – ele disse não dando bola para mim.

– Você não me conhece, garoto vampiro – eu disse marchando até ele, o enfrentando por ter me menosprezado – Você está falando com Hedvig Nondenberg, a garota que fugiu da faculdade setenta e quatro vezes. Sempre acho alguma forma de sair e vou encontrar para você também e não duvide! Você vai conhecer a França inteira se depender de mim e vamos achar uma namorada para você.

– Bem... obrigado – ele disse sem-graça ao ver minha explosão de autoconsciência. Viu, eu podia ser boazinha – Mas tudo que eu preciso agora é descansar...

– Sem problemas – eu disse flutuando para longe dele, enquanto ele tirava suas botas se saltos imensos e se deitava na cama, colocando seu celular em cima da mesinha – Hey! Posso dar uma olhada no seu celular? Tem internet?

– Claro, pode, mas por quê? – ele disse levantando a cabeça e olhando enquanto eu ia até o seu celular e depois pulava na cama dele para mexer na internet. Ainda bem que a cama era gigante e tinha bastante espaço, não estava a fim de ficar muito perto dele.

– Quero checar meu Facebook, nunca entrei mais desde que morri por que mortos não entram nesse tipo de coisa. Só queria dar uma checada – eu disse já acessando a minha conta – Olha, está lotado de mensagens, tem um monte de descanse em paz! E tem uma da irmã do Lukas me chamando de vadia, me deixa apagar essa... Esse povo não tem mais o que fazer! Como se eu fosse responder, até parece.

– Seria assustador se você respondesse, não faça isso – ele disse rispidamente, como se eu fosse fazer isso.

– Eu sei! Olha só, tem uma da Mischa! Que triste... é tipo um depoimento, ela contando como nos conhecemos e que sou a melhor amiga dela – eu disse sentindo minha voz ficando embargada – Sinto falta dela e dos meus pais também. Eu fui ao meu enterro, sabe? E eles estavam arrasados! Até o pequeno Joe estava chorando, o meu irmãozinho. Acho que eles meio que sabiam que isso podia acontecer... sabe... que eu podia acabar fazendo algo imaturo.

– Por quê? – ele perguntou se virando de lado para me olhar melhor, apoiando sua cabeça em seu braço – Você já era louquinha desde pequena?

– Um pouco... eu vivi no interior da Suécia, convivi com ovelhas e esse tipo de coisa. Eu queria sair dali, ir para uma faculdade de cidade grande, então fui para a capital escondido. Eles não me queriam deixar ir, desde então nunca mais falei com eles. Olha eles!

Eu mostrei no celular uma foto, onde mostrava um almoço de domingo que aconteceu ano passado. Estávamos na varanda, onde havia uma mesa grande parecida com as de piqueniques, havia minha mãe com cabelos pretos e encaracolados, segurando um grande prato com um pernil. Meu pai estava em um canto com um grande sorriso, segurando o pequeno Joe no colo, este mostrava um sorriso sem dentes de leites. E eu estava em um canto, sorrindo alegremente, mas com cara de: “O que estou fazendo aqui?”.

– Você é linda sorrindo, devia sorrir mais – ele disse parando de olhar para o celular e me encarando.

 É como se tudo tivesse parado, meu sangue subiu para as maçãs do rosto e meu corpo recebeu diversos arrepios. O jeito como ele me olhou fez meu coração bater acelerado e eu perdi totalmente a fala. Hedvig, acorde garota! Como em um impulso, eu fechei o celular dele e saí dali o mais rápido possível. Eu não podia mais ver aqueles olhos, não podia.

Postado por: Grasiele

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