segunda-feira, 16 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 20 - Brincando com um passatempo

Uma semana depois.

Eu estava novamente naquele estado inconsciente, que eu podia ouvir, mas não poderia raciocinar. Senti a ponta dos dedos gelados de alguém passear pela minha testa como se tirasse alguns fios de cabelo fora do lugar. Trazia-me uma sensação gostosa. Eu abri os olhos, agora consciente.
Os olhos quase cinza de Henry estavam bem próximos aos meus, com um sorriso incrível no rosto, eu sorri igualmente.
– Bom dia, sua linda – Ele sussurrou.
Eu notei o quarto um pouco escuro e ouvi a respiração ritmada de Chelsea na cama de cima. Imaginei que Henry estivesse dentro do quarto clandestinamente.
– Bom dia – Eu sussurrei de volta.
– Como você está?
Eu respirei fundo para checar a garganta, os pulmões, a cabeça, as terminações nervosas... Tudo em ordem.
– Bem – Eu respondi – Se eu precisar de um médico eu te chamo.
Henry esboçou um sorriso pervertido e encurtou o espaço entre nossas bocas, tentando me beijar. No início eu mantive a boca fechada, mas logo depois permiti que ele me beijasse. Na verdade, eu não correspondi como queria que meu corpo respondesse. O beijo foi rápido. E logo depois eu me levantei com o travesseiro na cabeça.
– O que é isso?
– Estou tapando o ninho que meu cabelo forma quando eu durmo – Eu respondi – Vou tomar um banho, fique aí.
– Ah, claro. Então a Chelsea vai acordar e me bater. Ou pior, o pai dela vai checar se ela está bem e vai me espancar.
Eu sorri.
– Te espero no café da manhã – Eu falei.
Henry saiu do quarto sem fazer barulho e eu entrei no banheiro para tomar um banho. Coloquei uma roupa não tão simples com a intenção de sair de casa durante o dia. Um short branco, um suéter bem largo de listras grossas azuis e marrons com uma botinha marrom e alguns acessórios como a pulseira de metal que Jamie havia me dado. Passei a leve maquiagem e arrumei os fios negros de cabelo.
Chelsea já estava acordada quando saí do quarto. Ela parecia estar lendo algo muito importante no computador e eu chamei sua atenção.
– Você leu as noticias? – Ela me perguntou com um tom de voz sério.
– Não. O que falam?
– Espera, deixa-me traduzir – Eu ri e alguns segundos depois ela começou a falar: - “Tokio Hotel: alguns fãs podem pensar que é frescura, mas o empresário David Jost alarmou que ‘as coisas estão ficando sérias’ para o lado dos meninos e muitos pensam que está tudo relacionado com as duas meninas das fotos abaixo. Ontem á tarde foi confirmado: a turnê foi cancelada e os shows voltarão em abril desse ano...”
– O que? – Eu ergui a sobrancelha – Eles cancelaram a turnê?
– É o que Jost confirmou. Posso terminar de ler? – Então continuou: - “... Jost confirmou que um dos integrantes não poderá atuar nos palcos durante alguns dias, relacionado á problemas pessoas dos quais ele não pôde revelar, infelizmente não temos mais noticias dos nossos meninos favoritos da Alemanha, porém, nossos fotógrafos vão estar alertas em qualquer sinal de vida de um deles, e das duas meninas também. By: T.W”
Meu queixo caiu. Eu fechei a boca, respirei fundo algumas vezes.
– Eu não acredito – Chel disse.
– Eu também não!
– TEM FOTÓGRAFOS NOS PERSEGUINDO!
Não era aquele “não acredito” que eu queria ouvir, mas bem...
– Chel, um dos integrantes do qual a gente não sabe quem é está incapacitado de atuar nos shows e você está aí se preocupando com fotógrafos!
– Eu me preocupo sim, mas se fosse o Bill ele já teria me ligado, então é bem mais provável que seja algum outro...
– Isso não alivia a situação! O que há de mais estranho é que isso tenha acontecido bem depois que eu saí de Leipzig. Mas não é possível que seja Tom, só se ele se jogou da janela ou coisa assim, mas ele não estava chateado a ponto de fazer algo consigo próprio.
– Se jogar da janela? Você está pensando que seja algo físico? – Ela perguntou, desligando o computador.
– Bem... Não seria algo emocional. Qualquer sinal de depressão, Jost mandaria a melhor psicóloga da Alemanha para ver.
– Você pode estar certa. Mas eu acho que seria mais fácil ligar para um deles e perguntar. Vou tomar um banho.
Chel entrou no banheiro e eu encostei a cabeça na porta para continuar conversando.
– Eu não quero ligar. Não quero saber noticias deles – Eu resmunguei.
– Quer sim.
– Não quero, não! – E depois acrescentei mais baixo: - Ou talvez queira, mas não quero admitir e continuar dizendo para mim mesma de que não quero, ajuda a acreditar que eu não quero saber noticias do Tom...
– Eu não falei o nome dele, é você quem está o colocando no assunto.
– Vá para o inferno, princesa – Eu desencostei da porta e resolvi arrumar minha mala enquanto esperava Chel terminar de tomar banho.

Depois do café da manhã, o Sr. Hölt se despediu de todos. Ele iria pegar um avião para embarcar, ficando apenas a dona Hölt, Henry, eu e Chel na casa. Decidimos assistir um filme na sala com as cortinas fechadas para ficar parecido com um cinema.
– Quais filmes você tem aqui? – Henry perguntou sendo cara-de-pau e abrindo a gaveta da estante de televisão.
– Alguns romances terríveis em alemão em que a voz do gatinho fica grossa e estranha – Chelsea respondeu – Meu pai que comprou e aqui você nem ouve falar em português. Mas lá no meu quarto tem alguns DVDs com legenda.
– Certo, vou pegar. Tem milho de pipoca também? – Eu perguntei.
– Não, essa parte eu faço. Quero mostrar minhas habilidades na cozinha – Henry falou.
– Henry, eu não tenho extintor de incêndio, então deixa que eu faço a pipoca e você fica aqui com seu bumbum colado no tapete – Chelsea foi para a cozinha e eu fui para o quarto.
Procurei em algumas gavetas e achei 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você. Quando voltei a sala com o filme na mão, os dois já tinham seus potes de pipoca e o meu estava separado na mesa de centro. Colocamos refrigerante nos copos e o filme começou.

Estávamos, em minha opinião, na melhor parte do filme, quando a garota está bêbada em um balanço e o Patrick está falando com ela, então ela caí do balanço.
Eu virei o rosto para o pescoço de Henry, rindo, que estava sentado do meu lado. Ele também virou e esboçou um sorriso pequeno nos lábios para mim.
– Venha aqui com seus lábios o mais perto possível dos meus – Ele disse.
Eu me aproximei um pouco e ele terminou a distancia puxando meu lábio inferior com os dentes, iniciando um beijo na sala escura enquanto o filme rolava na tela.
Ouvi a campainha tocar e o filme foi pausado. Chelsea fez uma cara de nojo para nós dois e foi atender a porta, enquanto eu bagunçava os fios negros do cabelo de Henry com o rosto próximo ao seu. Chel voltou alguns segundos depois e disse para mim:
– É para você na porta, e é melhor não demorar.
Eu me levantei num pulo e segurei o controle remoto, caso ela continuasse o filme sem mim. No corredor da porta eu pude vê-la entreaberta. A sombra de um garoto músculo estava do outro lado, com cabelos longos e castanhos. Eu corri, dando de cara com Gustav e Georg no batente da porta.
Pulei nos braços do meu primo, o abraçando forte. Ele me apertou contra seu corpo e depois me soltou me dando a chance de abraçar Georg. Algumas lágrimas ameaçaram escorrer. Eu tentei olhar por trás deles, mas nenhum sinal dos gêmeos Kaulitz. Isso poderia ser bom e ruim.
– Jus – Gustav sorriu. Um sorriso caloroso que eu estava sentindo falta.
– Me desculpem garotos – Eu disse em um sussurro.
Georg colocou a mão no meu ombro, sorrindo.
– Tudo bem.
– Vocês me entendem? – Eu deduzi.
– Não, mas estamos felizes por você estar bem – Gustav completou e eu sorri – Mas foi irresponsável da sua parte. Poderia apenas ficar no meu quarto por um tempo até Chel iniciar uma nova aposta que envolvesse o Bill saindo na rua e comprando coisas para te mostrar que não estávamos brigados com você.
Eu abaixei a cabeça.
– Dessa vez é diferente – Eu disse.
– Não pior do que atrasar um show.
– Tem noção do quanto é estranho ter a sensação de que está sendo perseguido por sua prima? – Eu perguntei – Vocês devem estar sentindo isso agora.
– Como?, se quem veio até aqui fui eu e não você veio atrás de mim – Gustav falou – Julia, eu realmente não me importo com isso. Quero dizer, é chocante e muito estranho, mas tudo bem.
– Tudo bem ser sua fã?
– Não coloque com essas palavras porque fica mais complicado de aceitar a verdade – Georg disse – Mas tudo bem saber ‘tudo’ sobre nós e ter a leve sensação de que vai desmaiar quando pisar no espaço do show.
Nós rimos e eu novamente os abracei.
– Você quer um autógrafo? – Georg brincou, rindo.
– Ah, gracinha. Eu lavo suas roupas e faço seu almoço. Acha mesmo que vou querer um mísero autógrafo? – Eu brinquei de volta – Querem entrar? Estamos vendo um filme.
– Não, não. – Gustav gesticulou – Nós dois viemos para casa, e te levar de volta, se você quiser é claro. Mas também por um assunto meio delicado sobre Jamie.
Eu olhei de Gustav para Georg.
– Sim, Jus, ele já sabe. Todos já sabem – Gustav respondeu meus pensamentos – Também vim para te levar para o hospital, para você ver Jamie pela última vez.
Eu levei as mãos ao rosto e Gustav passou a mão no meu braço como um gesto de consolação, e depois me puxou para um abraço que eu não correspondi.
– Eu... Eu vou pegar minhas coisas – Eu disse entrando em casa – Sentem-se na sala, acho que Chel vai querer me acompanhar. Ela também gostava muito da Jamie.
Eles entraram em casa levando em conta de que não era seguro continuar nas ruas quando os fotógrafos maníacos do site de fofocas estavam á procurar de todos nós. Peguei minha mala no quarto e depois saímos todos no carro do Georg – até mesmo Henry – para o hospital do centro de Magdeburgo.
Henry concordou em ficar do lado de fora da sala, por não conhecer realmente Jamie, mas eu, Chel, Gustie e Georg – com um violão na mão – entramos. Dentro de um quarto espaçoso e branco, duas mulheres se encontravam sentadas em um sofá e na maca ao lado, o corpo praticamente sem vida de uma menina loira e extremamente bonita.
As duas mulheres se levantaram e vieram me abraçar com algumas lágrimas no rosto. Eu as conhecia. A mais velha, Sra. Schäfer, mãe de Gustav. E a adulta mais nova era Franciska, irmã mais velha de Gustav. Eu me perguntei o que as duas faziam mofando naquele hospital.
– Eu não sabia que você chegaria tão cedo – minha tia sussurrou no topo da minha cabeça – Não imaginava que isso acabaria tão rápido.
Abracei Franciska. Nunca fui muito ligada á ela quanto era a Jamie, mas não deixava de ser minha prima.
– Desculpe-me por demorar tanto – Eu solucei.
– Agradeço por vir, Julia. Eu sabia que você era quase tudo para Jamie. Ela precisava te ver antes de ir – Sra. Schäfer disse – Olá Gustav, Georg, Chelsea, que surpresa.
Eles trocaram palavras carinhosas enquanto eu me aproximava lentamente da cama onde Jamie repousava. Ela tinha a expressão relaxada, mas eu ainda podia ver a forma do seu sorriso naquele rosto sem vida. Os cabelos loiros que antes tinham mechas rosa nas pontas também pareciam mortos, mas muito bem penteados como se alguém ficasse penteando aqueles fios por horas. Era o que Jamie adorava fazer, pentear os cabelos. Andava sempre com um mini pente no bolso. Eu toquei sua mão gelada e fagulhas de lembranças me atingiram. Lembranças boas.
– Sinto sua falta – Eu sussurrei mesmo sabendo que ela não poderia ouvir – Obrigada pela pulseira, mais uma vez. Eu a amo.
Eu poderia ouvir Jamie respondendo.
– Queria que você abrisse os olhos para ver meu novo piercing. Lembra aquela vez que você disse que faria um? Fiz por você. Devo estar me esquecendo de algo mais, eu tenho certeza. Ah, eu também realizei alguns sonhos, fui a um show deles. Tirei algumas fotos do Georg para você ver...
Ela não iria abrir os olhos e olhar as fotos. Eu falava sozinha com um meio cadáver, mas não me importava que os meninos ouvissem aquilo.
– Não sei por que Georg trouxe um violão, mas deve cantar algo para você. Qual era sua música favorita mesmo? – Eu me virei.
Georg estava sentado com o violão na mão e Gustav ao lado.
– Vergessene Kinder – Eu disse – Você pode tocar?
– Claro – Georg respondeu e depois começou a dedilhar as cordas do violão em uma versão acústica da música favorita de Jamie.
Eu acompanhei o ritmo com a cabeça e comecei a cantar.
Einsam und verlor'n (Solitárias e perdidas) Unsichtbar gebor'n (Nascidas invisíveis) Beim ersten Schrei erfror'n (Congeladas com o primeiro grito) Vergessene Kinder (Crianças esquecidas) Name unbekannt (Nomes desconhecidos) Endlos weggerannt (Fugindo eternamente) Aus der Welt verbannt (Banidas do mundo) Vergessene Kinder (Crianças esquecidas)
Segurei a mão de Jamie e algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Aquela música era estupidamente incrível e de vez em quando, parecia falar especialmente de mim. Na verdade, era assim com todas as músicas do Tokio Hotel.
Sie sehen (Elas veem) Sie fühlen (Elas sentem) Verstehen (Entendem) Genau wie wir (Exatamente como nós) Sie lachen (Elas riem) Und weinen (E choram) Wollen leben (Querem viver) Genau wie wir (Exatamente como nós)
Fitei seu rosto e notei uma gota de água quase invisível no canto de seus olhos. Era impossível que fossem lágrimas. Ela estava praticamente morta, não podia ouvir nem reagir, mas de qualquer forma, eu limpei a gota de água do seu rosto. A música terminou de tocar e Georg se aproximou.
Ele pegou a mão de Jamie e a beijou delicadamente. Eu sorri. Era tudo que ela sempre quis.
A Sra. Schäfer se aproximou e então eu notei a presença de duas enfermeiras e um médico, próximos da maca. Eu podia sentir que não teria mais que um minuto com o coração de Jamie batendo. Mais lágrimas escorreram e eu corri para abraçar Gustav, que também parecia chorar, mas de forma controlada.
– Julia? – Minha tia chamou minha atenção. Eu balancei a cabeça afirmativamente e ela disse para os médicos: - Podem desligar.
– Espera! – Eu disse – Talvez... Talvez se ela ficar mais tempo, não tem nenhuma forma de ela voltar?
O médico trocou olhares com a enfermeira e analisou a ficha técnica de Jamie por alguns segundos, eu esperei silenciosamente.
– É difícil – O médico falou -, mas ela está aqui não faz quatro meses.
– Então se esperar mais um pouco...? – Gustav disse.
– Com alguns tratamentos, pode ser que ela saia do coma, e nós poderíamos analisar melhor com ela de olhos abertos. Quem sabe – A enfermeira completou.
Eu fitei a Sra Schäfer, suplicante. Ela deixou escapar um risinho.
– Eu posso esperar.
– Por favor! – Eu comecei a sorrir – Eu vou estar perto de Gustav, eu quero saber tudo o que vier acontecer.
Ouvi o bip, bip da máquina se acelerar.
E assim ficou combinado. Jamie continuaria “viva”, e com alguns tratamentos até acordar. Eu tinha esperanças, todos tínhamos.
(...)

O relógio marcou nove horas da noite. Eu o observei se arrastar pelo círculo em cima da geladeira da cozinha. Eu estava apoiada na bancada da casa dos garotos, onde agora só Gustav e Georg estavam, junto comigo e Henry na cozinha.
Eles me explicaram no carro que Bill e Tom precisavam ficar em Leipzig por um tempo, e apenas confirmou que um dos integrantes não poderia atuar nos shows, sem me dizer quem era e eu também não quis insistir.
Chel foi deixada em casa, mas Henry preferiu me acompanhar até a casa dos garotos. E nesse exato momento, ele me abraçava de lado sentado no outro banco, observávamos enquanto Gustav fazia quatro canecas de chocolate quente com marshmallows afundados. “Isso vai esquentar vocês”, Gustav dissera.
Distribuiu as canecas e eu vi Georg terminar a dele em menos de um minuto, enquanto eu nem tinha colocado a boca na caneca. Eu tombei a cabeça no ombro de Henry.
– Estou cansada – murmurei.
– Posso te levar para cama – Henry respondeu.
Eu me levantei do banco com a caneca nas mãos e falei mais alto:
– Gustav, eu vou me deitar e Henry vai ficar lá comigo.
– Boa noite, Jus – Gustie e Georg me disseram juntos.
Entrei no meu quarto com Henry atrás de mim e fechei a porta. Coloquei a caneca no criado mudo e me joguei na cama, fechando os olhos e massageando as têmporas. Fora um dia cheio.
Senti os lábios se Henry encostarem-se ao meu rosto e, eu sorri de lado.
– Você costuma ter pesadelos? – Henry perguntou.
– Às vezes – Eu respondi – Por quê?
– Posso fazê-los desaparecerem – Henry esboçou um sorriso pervertido.
Eu retribuí o sorriso e o puxei pelos cabelos negros para beijá-lo. E posso dizer que não foi um beijo nada santo. Era feroz e cheio de segundas intenções, que logo foram reveladas.
Henry passou uma perna para o outro lado da minha cintura, ficando por cima de mim. Eu agarrei seus fios de cabelo e puxei mais para perto, mas ele desviou da minha boca e pousou no meu pescoço, brincando com minha pele sensível.
Não eram mordidas, eram cócegas. Eu ri e senti seu corpo se remexer por causa da risada. Levei minhas mãos à barra da sua camiseta e ergui um pouco para ter a visão do seu abdômen definido. Henry gostou da brincadeira e tirou a camiseta por mim, puxando também por cima da minha cabeça meu suéter bem fácil de retirar.
Henry não parou para avaliar meu corpo. Ele voltou a me beijar no mesmo instante passando as mãos pela minha cintura, subindo e descendo. Eu desci as mãos pelas suas costas, sentindo cada curva quase perfeita.
O clima estava esquentando, era óbvio. Eu não controlei o que fazia e ignorei totalmente a parte santa da minha mente, deixando espaço para as besteiras pervertidas que me faziam gemer de vez em quando Henry passava as mãos nas minhas pernas.
Estava ficando legal e bastante animado quando batem na porta educadamente e esperam meu sinal de “estou viva”. Henry soltou uma gargalhada, provavelmente imaginando que aquilo parecia a cena de uma novela e era óbvio que alguém iria interromper.
Eu puxei a blusa por cima da minha cabeça e abri a porta, dando de cara com um Gustav vermelho.
– Interrompi algo, e não quero saber o que é – Ele falou – Telefone para Henry. É da Chelsea.
Eu peguei o telefone e fechei a porta, passando para Henry.
– Alô? É, eu vi a hora. Não vou demorar, amizade. Já estou indo. Recado dado. Tchau.
Eu sorri, me deitando na cama e fitando Henry.
– E aí?
– Chelsea me mandou voltar para casa e parar de perversidade com “a santa dela” – Nós rimos – Chel não conhece esse seu lado, Julia. Ela te mandou um beijo e agora eu preciso ir.
– Não faz mal, depois a gente continua – Eu sorri.
Henry se inclinou para me dar um beijo e depois saiu do quarto, indo embora de volta para casa de Chelsea.
Tomei o chocolate quente que estava frio depois daqueles minutinhos de diversão. Troquei de roupa para um pijama confortável e me arrumei para dormir, já me deitando na cama debaixo das cobertas.
Eu fechei os olhos e cantarolei mentalmente uma música aleatória, quando me lembrei de que estava sozinha com Gustav e Georg na casa, ou seja, Tom não estava no seu quarto e ele estava obviamente destrancado.
Minha mente boa martelou minha cabeça dizendo que seria totalmente errado bisbilhotar o quarto de Tom, seja com qualquer intenção, logo depois de sair de uns amassos com Henry. Eu estava brincando com meu passatempo. Mas não estava fora de cogitação.
Eu não iria fazer nada demais, só entrar no quarto. Quem sabe o que eu encontraria lá e o que me daria vontade de fazer...
Não agüentei a curiosidade e me levantei com meu travesseiro nas mãos. Abri a porta do quarto na minha frente e o perfume masculino que era forte o suficiente só para me deixar excitada me envolveu. Eu fechei a porta atrás de mim e analisei o quarto.
Igualzinho da última vez que Tom o deixou. Roupas espalhadas pelo chão, cama desorganizada... Bem, parece que ninguém podia entrar ali. Eu saltitei pelo quarto como um unicórnio babaca e me joguei na cama, onde o perfume era mais forte.
Eu não esperava que o perfume fosse me torturar e me lembrar das imagens mais perfeitas que eu tinha do Tom em minha cabeça. Fechei os olhos e respirei fundo contra os lençóis. Eu senti as lágrimas embaçando meus olhos quando eu tentava abri-los. Eu podia ouvir Tom sussurrando. Eu podia jurar ouvi-lo.
“- Eu não vou dormir, sua chata. - Ele resmungou debaixo das cobertas.”
“- Então me faça dormir. Eu simplesmente não consigo.”
Lembrei-me da primeira vez que entrei no seu quarto, quando Tom me pediu para colocá-lo para dormir. Eu fiz algumas perguntas que ele não me respondeu direito e depois ele dormiu.
“- Você não me odeia, não é? E foi carinhosa com o Bill, poderia ser comigo também. Eu já notei que você não tem recaídas...”
“- Sabia que existe outro Kaulitz na casa, Schäfer?”
Eu perdi os sentidos debaixo das cobertas de Tom, quase sufocando com aquele perfume incrível, e então adormeci naquele quarto.

Ponto de vista - Kaulitz

Meu irmão gêmeo zapeava pela televisão depois de ganhar a guerra do controle remoto, ele deixou cair em um canal que passava um desfile extraterrestre. Eu bufei e virei o rosto para o violão no meu colo, qual eu não conseguia tocar.
A cifra de By Your Side estava do meu lado, eu passei os dedos pelas cordas e fiz algum som que despertou a atenção de Bill. Ele pegou o violão e colocou longe de mim, eu fiz uma careta.
– Assim você não vai melhorar nunca, Tom – Bill disse, voltando sua atenção para a televisão.
– Assim, quando eu melhorar, nunca mais vou tocar violão por falta de prática.
– Eu duvido muito. Não saio por aí cantando minhas músicas, mas quando chego nos palcos minha voz não muda.
– Ok! Então faz um favor e muda de canal, sei lá, aquele canal de hip hop que tem no quarenta e dois.
– Eu não gosto de hip hop, Tom – Bill sorriu de lado e depois começou a dar uns gritinhos quando a próxima modelo entrou – Ai, que salto lindo! Olha aquela caveirinha na ponta!
Eu desviei o olhar da tela para não olhar para a caveirinha. Não poderia entrar no quarto agora, porque alguns homens estavam colocando um novo espelho no lugar e montando minha cama de casal nova. O piano já estava dentro do quarto e o meu violão... Bill pegou de mim. Bati de leve minha cabeça na parede. Fui para a cozinha me entupir de comida até a hora passar.
Comi um saco de salgadinhos olhando para o nada, preparei dois sanduíches e só comi um, levando o outro junto comigo até a varanda. Lá na varanda tinha uma cadeira reclinável, eu me deitei, coloquei os fones de ouvido do mp3 e fechei os olhos. A música começou do meio, era Deshalb do Samy Deluxe.
Eu fui acordado um tempo depois por Simone. Ela me avisou sorrindo que meu quarto estava pronto e depois me avisou séria “Não torne a quebrar tudo novamente”. Eu ri, e me levantei correndo para meu quarto ainda com o sanduíche na mão.
O perfume do quarto tinha outro cheiro. O chão estava limpo, as roupas arrumadas, a cama de casal no lugar com lençóis novos, meu piano preto no canto do quarto, minhas guitarras estavam todas enfileiradas e pela porta entreaberta, o espelho novo também estava no lugar. O chão branco do banheiro estava limpo e o cheiro de sangue não era sentido.
Sentei-me no banco do piano, levantei a tampa e passei o dedo pelas teclas. Puxei um caderno em branco no guarda-roupa e uma caneta. Coloquei em cima do piano e toquei algumas teclas.
– Então se eu não posso tocar violão, vou tocar piano – Eu resmunguei.
Eu toquei mais teclas e repeti a seqüência algumas vezes até formar um som legal. Na minha cabeça, a melodia já estava desenvolvida e algumas palavras se formavam em uma música. Eu anotei minhas idéias.
(...)
A porta do quarto se abriu revelando Bill.
– Nossa, o piano é incrível! – Ele sorriu.
– Sim, ele é – Eu sorri. – Bill, faz um favor para mim.
– Qual?
– Cante isso – Eu entreguei a letra para Bill.
Ele avaliou por um minuto a letra, e começou a sorri depois, se sentando do meu lado.
– Você escreveu isso? Sério mesmo?
– Vai cantar ou não, Bill?
Ele sorriu, e eu comecei a música no piano e troquei olhares com Bill para que ele começasse a cantar.
[Coloque a música para tocar]
I'm trying to tell you (Eu estou tentando te dizer) I'm trying to know you (Eu estou tentando te conhecer) I'm dying to show you (Eu estou morrendo para te mostrar) Fighting to get you (Lutando para conseguir você)
Soon as you got me (Assim que me alcançou) You go and drop me (Você foi e me largou) It's cool when you burn me (É legal quando você me queima) I love how you hurt me (Eu amo o jeito que você me machuca)
Oh no I'll never let you go (Oh não, eu nunca vou deixar você ir) Oh no I hate that I need you so (Oh não, eu odeio precisar tanto de você)
Julia poderia estar aqui. Ela poderia estar ao meu lado cantando essa música com a voz incrível que ela tem. Aquela voz que eu ouvi cantando Don’t Jump. Ela estaria, se eu não fosse tão tolo, burro e idiota.
Ela nunca seria minha. A leve lembrança da balada em Berlim passou pela minha cabeça.
“- Você nunca vai ser meu namorado, ta?
– Provavelmente, eu não namoro. Você já deve ter ouvido alguém falar isso de mim.”
Eu continuei tocando enquanto Bill terminava a letra no papel, e as últimas partes eu forcei minha voz a sair e cantei junto:
I'm standing in the pain (Eu estou continuando na dor) That's smothering me (Que está me consumindo) It's more becoming my own blood (Está tornando-se meu próprio sangue) You can't see (Você não pode ver) That I'm starving for your Love (Que eu estou faminto pelo seu amor) And I need attention (E eu preciso de atenção) Or I'm gonna die! (Ou eu vou morrer!)
It's not what you said (Não é o que você diz) It's the way you say it (É o jeito que você diz) It's not what you did (Não é o que você faz) It's the way you do it (É o jeito que você faz) Sick and tired of needing your affection (Doente e cansado de precisar de sua afeição) I chose to be lonely (Eu escolho ficar sozinho)
Terminamos juntos e no mesmo momento eu decidi a nome da música. Attention. Atenção. Era o que eu precisava agora. Então quase tudo se encaixou na minha cabeça.
Ela sempre me deu atenção. Eu nunca fui ignorado. Quando eu me perguntava por que não era o suficiente para ela, eu sempre fui. Sempre fui seu ídolo. Mas, droga, Julia disfarçava muito bem. Eu sorri, inconscientemente.
– Por que está sorrindo? – Bill perguntou.
– Julia disfarçava muito bem, não?
Bill concordou. A porta novamente se abriu. Eu vi a menina de cabelos castanhos e mexas claras entrar, Hilary. Ela estava linda, usando um salto que alongava suas pernas, mãos perfeitas, um vestido que delineava seu corpo com os cabelos soltos. Eu poderia me levantar e agarrá-la ali mesmo, se Andreas não tivesse entrado bem depois.
– Tom – Ela cantarolou – Como você está? Eu estive tão preocupada.
Hilary precisou se abaixar um pouco para me abraçar enquanto eu estava sentado no piano. Eu me levantei para apertá-la melhor contra meu corpo. Depois ela abraçou Bill e nós cumprimentamos Andreas.
– Bem, o quarto não está acabado como você disse no celular, Bill – Andreas brincou – Mas quando os homens chegarem, podem mandar derrubar tudo de uma vez e reconstruir.
– Ahn, eles acabaram de arrumar o quarto, seu engraçadinho – Eu forcei um sorriso.
– Ficou muito legal com essa nova cama de casal, Tommy – Hilary deixou o senso pervertido escapar na frase e eu sorri, mexendo com a língua no piercing.
– Então – Bill me interrompeu no momento ‘caça’ – Eu estava pensando em visitar o cinema. Não vamos lá desde... Poxa, faz muito tempo!
– Cinema seria uma boa idéia. Vamos, Hil? – Andreas puxou a mão da irmã.
– Eu topo – Eu disse, Hilary concordou no mesmo instante.
Fomos todos no carro de Andreas para não chamar muita atenção, Bill tinha colocado uma roupa bem comum e um casaco com capuz, mais óculos de sol em um dia frio. Eu fiz o mesmo e assim chegamos ao cinema em paz.
Bill e Andreas escolheram um filme de ação qualquer e eu nem me importei que fosse uma comédia romântica ou uma reportagem de moda. Desde que Hilary se sentasse do meu lado para eu continuar minha operação caça, qualquer filme vale.
E foi o que aconteceu. Pegamos as últimas cadeiras, Hilary se sentou do meu lado. Eu esperei até que as luzes se apagassem e peguei a mão de Hil para chamar sua atenção. Meu olhar cheio de malícia foi o suficiente para que ela permitisse que eu iniciasse um beijo.
Passei a mão pelo pescoço arrepiado dela e escorreguei a mão, acariciando seu braço e chegando até sua cintura. Apertei um pouco o que estimulou Hilary a puxar minha camisa para perto dela, mesmo que estivéssemos separados pelo braço dos bancos. Sem hesitar e nem pensar o que aquilo poderia significar, eu subi minha mão até seu seio e apertei levemente, o que fez com que ela mordesse minha boca e eu sorri durante o beijo que parecia ser interminável.
E depois disso, eu puxei Hilary para fora do cinema, pegamos um táxi e voltamos para minha casa que se encontrava vazia sem Simone e Gordon. Ela gargalhou ao notar isso e nós corremos para meu quarto, eu tranquei com chave.
Coloquei Hilary contra a parede e voltei a beijá-la, passando a mão pelo seu corpo por cima do vestido que pelo visto, era bem fácil de tirar. Eu puxei o vestido para baixo e ele escorreu pelo corpo de Hilary, deixando ela apenas com um sutiã tomara-que-caia e a calcinha.
Eu me afastei para tirar a blusa enquanto Hilary desabotoou minha calça. Eu a segurei pela cintura, e ela deu um pulo para eu colocá-la no colo e depois levá-la até minha cama.
No meio disso tudo, eu notei que não sentia nada. Não sentia desejo em possuí-la, nem sentimento nos nossos toques e beijos. Era seco, quero dizer, era sem graça. Para mim, já era comum não ter interesse na garota, mas era só relaxar e curtir o momento.
Depois de uma troca bem longa de carícias, eu senti que Hil já estava bem animada, eu a masturbei mais algumas vezes e estiquei meu braço para o criado mudo, destaquei uma camisinha e a vesti.
Toquei novamente a pele de Hilary e sorri, mas meu sorriso se desfez ao fitar seu rosto e me dar conta de que não era ela quem eu queria ali deitada naquela cama. Percebi que estava novamente com a cabeça em outro lugar e não hesitei em iniciar a penetração forte em Hilary, imaginando que talvez seus gritos agudos fossem tirar a imagem da Schäfer da minha cabeça.
Trocamos de posição, fazendo com que Hilary ficasse por cima. Ela impulsionou algumas vezes e eu comandava seus movimentos com as mãos na sua cintura forçando o corpo contra o meu. Seu rosto se contorcia levemente e Hil deixava que gemidos escapassem, acelerando o ritmo que seu corpo se chocava contra o meu. Ela puxou as cobertas se curvando sobre mim e deixou um rápido grito agudo escapar.
Hilary cravou as unhas nas minhas costas quando seu orgasmo chegou, e logo depois de mais alguns estímulos, o meu. Hil deitou sobre mim e eu coloquei-a ao meu lado na cama, saindo de dentro dela. Levantei-me e fui ao banheiro enquanto ela se cobria, joguei a camisinha fora e tomei uma ducha rápida, vesti uma bermuda e voltei a me deitar na cama.
Hilary rolou e voltou para cima de mim, sem me beijar, sem encostar o rosto no meu. Era apenas para falar:
– Tommy, você já me conhece – Ela sorriu.
– Você também já me conhece, Hil. Nada de compromissos.
Seu sorriso voltou a ficar cheio de malícia como se já estivéssemos em um acordo. Não vou negar que já saí algumas vezes com Hilary e entre nós era sempre assim, sexo sem compromissos. Por isso ela nunca nega. Nem eu.
– Agora vou me vestir, pois o filme já deve ter acabado – Hilary se enrolou no lençol e levantou-se da cama – Se importa se eu usar o chuveiro?
Eu neguei silenciosamente, a porta do banheiro se fechou e eu aproveitei para trocar de roupa, colocando um jeans claro, camiseta cinza e um boné preto. Assim que Hil terminou de colocar o vestido, a porta da frente bateu e eu soube que Bill e Andreas haviam chegado. Encontramos com eles na sala e por mais que os dois soubessem o que havia rolado entre mim e Hil, ninguém fez perguntas e Andreas já conhecia bem a irmã que tinha.
– Eu e Bill pensamos em jantar, mas vocês dois não estavam lá. Agora que nos encontramos, que tal uma churrascaria? – Andreas soltou um risinho.
– Hm, eu não sei, não. Acho melhor um restaurante natural e vegetariano – Eu fiz uma careta.
– Eu sou carnívoro, Tom – disse Andreas.
– E eu pratico canibalismo – Eu sorri com certa safadeza oculta na frase e os outros riram.
Acabamos por escolher um restaurante japonês. Eu já tinha tirado o curativo da minha testa, mas ainda usava a luva ortopédica e minha mão ainda tinha pontos. Isso não fez diferença alguma, fomos todos no carro do Bill dessa vez, o que chamou atenção de fotógrafos. Eu passei o braço por Hilary, mostrando ás fotos que ela era minha. Espero que seja publicado em Magdeburgo, eu pensei.
– Tom! Tom Kaulitz! – Um homem com um gravador ligado me chamou, eu o fitei calado caso a pergunta fosse muito besta – Pode nos informar quem é o integrante que está incapacitado de atuar nos palcos?
Eu arregalei os olhos. Se Jost tinha dito que eu estava “incapacitado”, eu iria arranjar uma bela briga com ele. Incapacitado é coisa de gay, eu acenei ao fotógrafo com meu braço que usava a luva ortopédica e ele voltou a fazer perguntas:
– E como o senhor arranjou isso?
Eu gargalhei antes de responder, os flashes miravam Hilary ao meu lado também, além de fotografar Bill e Andreas que já estavam dentro do restaurante.
– Digamos que eu estava em uma guerra com a cama.
O fotógrafo riu, bom garoto, gostei do senso de humor. Eles voltaram a fazer perguntas todos juntos, eu fiz um sinal de “chega” com a outra mão e me virei para entrar no restaurante com a ajuda dos seguranças de lá, que impediram os fotógrafos de entrar.
(...)
Chegamos a casa, nos despedimos de Hil e Andreas que pegaram o carro e foram embora. Simone e Gordon chegaram mais tarde e hoje eu pude dormir no meu quarto.
O dia não foi tão agitado, para mim até foi divertido e eu me surpreendi com a capacidade de manter Schäfer longe da minha cabeça. Estava na cozinha preparando um suco para depois me deitar quando ouvi Bill falando no telefone.
– Eu tenho certeza, ele já voltou ao normal. – Alguns segundos em silêncio – Está com Hilary. Não brinca! Henry? Que recaída. Então não tem problemas? Tudo bem, eu vou falar com Tom e amanhã a gente te manda notícias. Também já pensei nisso, é irritante ter um peso na consciência te lembrando o tempo todo que precisa manter Jus e Tom afastados. Ok, até mais, Gustav.
Bill apareceu na cozinha, segundos depois e eu tentei não manter contato visual.
– Falei com Gustav agora – Ele disse.
– Hm – Eu tentei não mostrar interesse – E o que vocês falaram?
– Bem, discutimos a idéia de voltar para Magdeburgo. Abrindo o jogo, todos sabem que você e Julia não estão nos melhores dias para se encontrarem, mas eu avisei que você estava com Hilary, e Julia, bem, está com Henry como você já deve saber.
Minha garganta secou. Ela tinha dito que não ficaria com ele se tivesse mais uma chance. Eu bebi um pouco do suco.
– Tudo bem, Tom?
– Continua.
– E aí vimos a possibilidade de voltar amanhã. Mas duvido que você vá querer com seu piano novo e tudo mais. E foi só isso. Vai querer voltar amanhã? Porque você sabe, para mim não faz diferença.
– Vou sim, pode ser legal. – Eu tentei manter minha voz estável – Hilary pode vir junta?
– Claro, se Andreas permitir. Duvido que ele negue. Então está tudo pronto?
– Não, vou arrumar minhas coisas. Acho que vou comprar um piano lá também – Eu disse, descontraindo – Bem, vou dormir, Bill. Boa noite.
– Boa noite, Tom.
Terminei o suco e entrei no meu quarto fechando a porta. Eu senti raiva. Joguei-me na cama embaixo das cobertas e fechei os olhos tentando apagar o rosto de Julia da minha cabeça.
Ela disse que ele não importava nada mais. Disse que provavelmente nunca mais iria beijá-lo. E eu acreditei. E agora? Ela está com ele.
Eu perdi os sentidos de tanto cansaço então foi bem rápido para dormir. Eu não deixava de pensar em como seria amanhã. Como seria olhar para o rosto de Julia novamente. Eu sentiria saudades e seria desonesto continuar com Hilary? Eu estava brincando com meu passatempo.
E o seu príncipe finalmente veio para salvá-la, e o resto você pode imaginar – Paramore

Postado por: Grasiele

By Your Side - Capítulo 19 - Little One (Pequena)

O ar estava frio e respirar estava complicado demais. Meus sentidos foram se recuperando à medida que o carro de Henry se distanciava do hotel de Leipzig, e eu me sentia pior a cada centímetro que me distanciava.
Mordi o lábio inferior sentindo uma pontada de dor por causa da última vez que fiz isso com força e começou a sangrar também pelo recente piercing que tinha ali. Isso me ajudava a prender as lágrimas quando o momento não era certo para chorar. Chelsea passou a mão pelo meu ombro tentando sorrir, mas eu não iria conseguir mentir com o olhar para ela. Não retribuí seu sorriso.
Cheguei ao aeroporto, eu fitei o céu escuro e depois acompanhei os passos de Henry enquanto se dirigia á cabine de passagens de emergência. Eu tentava me distrair para não deixar os pensamentos invadirem minha cabeça, mas era de certo ponto, em vão. O rosto de Tom voltava a dar voltas na minha mente. Mas isso era comum. O pior foi relembrar os melhores e até mesmo os piores momentos ao lado dele.
O primeiro beijo, um tanto desconfortável, mas incrivelmente maravilhoso. O segundo beijo, que tinha como propósito me fazer esquecer o primeiro. E também as provocações, as brigas, os beijos inesperados, os selinhos... O rosto relaxado desprovido de sensações enquanto ele adormecia. Eu podia até sentir o calor do corpo dele, o que me fez arrepiar.
Quando me dei conta, Chelsea me cutucava com um copo de cappuccino da Starbucks que me oferecia. Henry estava sentado de qualquer forma no banco com as três passagens na mão que diziam os números dos assentos no avião.
– O avião chega em alguns minutos. – Henry afirmou – Não querem se deitar? Eu sei que vocês duas não ficam confortáveis em viagens.
– Ah, não. Do jeito que eu estou, vou deitar naquele banco reclinável e dormir até amanhã – Chel disse.
Eu não respondi o que lhe passou a resposta de que eu não queria me deitar nem dormir. Será que o Kaulitz estaria em meus sonhos também?
– De onde vocês tiraram tanto dinheiro? – Eu perguntei aleatoriamente.
– Jus, eu trabalho – Henry fez uma careta –, eu tenho dezoito anos e não sei se já percebeu, eu posso dirigir. Eu sei me virar sozinho.
– E eu recebo certa mesada de vez em quando – Chel comentou – Não se preocupe, eu paguei por você.
Henry fechou os olhos em pouco tempo e eu observei a cabeça de Chel tombar no ombro dele, os dois adormeceram. Peguei as passagens e marquei o tempo em que o avião chegaria. Acordei-os e embarcamos no avião, eu ainda segurava o copo da Starbucks sem vontade de comer alguma coisa.
Sentei-me ao lado de Chel e Henry estava um pouco à frente dos nossos bancos. Como já imaginava, Chelsea caiu no sono, mas eu continuava acordada olhando para a janela tentando ver alguma coisa no nevoeiro negro da noite em Leipzig. Talvez nem estivéssemos mais em Leipzig. Afastar-me da cidade me fez soluçar sem choro, eu abafei os soluços com a mão, tombei minha cabeça no vidro e fechei os olhos sem dormir. Os pensamentos me queimavam por dentro, mas o que eu poderia fazer?
A voz feminina soou pelo avião avisando que ele já iria pousar em Magdeburgo. Por um momento minha mente se preocupou em acordar Chelsea e apertar os cintos. Depois eu ajeitei o rabo de cavalo, desamassei minhas roupas e desci do avião com Chelsea.
Henry fez o favor de pegar todas as malas e colocar em um carrinho. Atravessamos o aeroporto e pegamos um taxi. Ocorreu-me a dúvida de como ficaria o carro de Henry na outra cidade e ele me respondeu que os pais tinham uma chave reserva, e já deveriam ter pegado. Chel informou o endereço de sua casa e chegamos lá em poucos minutos.
Eu vi o sorriso se formar no rosto dela. A casa não era muito pequena nem muito grande. Um tom recém-pintado de verde claro com várias varandas, uma casa de dois andares. A porta da varanda se abriu e uma mulher mediana de cabelos loiros e sem nenhuma ruga no rosto atravessou a varanda e abraçou Chel. Obviamente, seria aquela a senhora Hölt. Katie Hölt.
– Julia! – Ela veio até a mim e me puxou para um abraço de urso enquanto me levava para dentro da casa – Como você está, minha querida? Quanto tempo eu não te vejo! E o Brasil? Quente como sempre?
Eu forcei um sorriso e me senti sem forças para isso.
– Bom... – Olhei para a janela – Bom dia, dona Hölt. Estou parcialmente bem. E a senhora?
– Ah, não seja boba. Você sabe muito bem meu nome, mas o que houve? Por que está tão apagada quanto Chelsea?
Henry riu, despertando a atenção da mãe de Chel.
– Henry, meu querido! – Ela também o abraçou – Entre, vamos entrando os três. Chel me contou que viriam passar alguns dias aqui.
Eu a vi trocar olhares com Chel como se as duas dissessem “conversamos mais tarde sobre o que aconteceu”. Como Katie tinha dito, eu realmente estava apagada, e descobri isso ao me olhar no espelho. Minha pele poderia se igualar á Chelsea. O que poderia ser impossível.
Sentamo-nos todos na sala de estar, eu estava encostada em Henry e piscava as pálpebras pesadas de segundo em segundo tentando me manter em pé e tentando descobrir meu problema. Um homem extremamente alto entrou na sala. Ele parecia um típico alemão com mais ou menos cinqüenta e cinco anos. Alguns fios brancos, óculos e uma barriga saliente. O homem entrou falando outra língua. Então eu percebi que na sala, todos estavam falando português há um tempo. Katie também era brasileira.
Forcei-me a entender o alemão e o cara dizia algo sobre o café da manhã. Já estava claro na janela e eu me senti tonta.
– Olá vocês! – O homem disse para eu e Henry, e eu acenei de volta. Ele deveria ser o senhor Hölt, pai de Chelsea.
Depois de alguns abraços e palavras delicadas entre pai e filha, dona Hölt propôs a mesa quente de café da manhã. Henry se levantou e me ajudou a levantar do sofá, notando algo de errado comigo.
– Jus, você está bem?
Eu fiquei em pé, mas senti que poderia cair a qualquer momento. Minhas pernas tremiam e me senti tonta e com febre, mas não podia comprovar nada. Então minha visão ficou turva e eu fechei os olhos.
– Não, provavelmente – Eu respondi.
E então eu desabei nos braços de Henry, que foi rápido antes de me deixar cair no chão. Achei que talvez pudesse estar tendo muita sorte e não sabia disso. Sempre que caio alguém me segura.
(...)
O espelho refletiam alguém que não era eu. Meu rosto estava manchado de... lágrimas. Eu via o reflexo que elas faziam na luz. Ah, a luz estava me incomodando. Eu poderia dar um jeito nela depois do espelho. Olhei novamente para o espelho. Peguei o primeiro perfume que apareceu e senti a colônia de Bill, atirei no espelho a colônia. Os dois se chocaram com um ruído passageiro e pedaços de vidro caíram no chão. Pronto, sem espelho para ver minhas lágrimas refletidas. Peguei um pedaço de vidro recém-quebrado no chão e sem sorte, acabei sentindo uma pontada de dor na minha mão. Observei o sangue bem vermelho que começou a escorrer.
Uma pontada de adrenalina atravessou minha espinha e eu me sentei na cama deixando um grito escapar rasgando minha garganta.
Chelsea me olhou assustada, ela mexia no computador ao lado da cama que eu estava deitada. Espera, cama? Que raios eu estou fazendo em uma cama?
– Mais um pesadelo? – Ela perguntou.
Eu ergui a sobrancelha em visível dúvida.
– Você já “acordou” gritando umas cinco vezes só na última hora – Ela explicou – Nas duas primeiras vezes eu fiquei assustada, mas já estou acostumada. Agora me diga se você está dormindo porque eu não quero repetir esse discurso isso da próxima vez que você abrir os olhos.
Eu balancei a cabeça e passei a mão no rosto.
– Eu... Estava dormindo? – Ela concordou com a cabeça.
Então fora um sonho. A visão de Tom Kaulitz se olhando no espelho com um rosto amargo manchado de lágrimas, e depois o perfume do Bill se chocando contra o espelho e no final... sangue. Não podia mesmo ser real. Senti meus músculos aliviarem a contração e eu voltei a me deitar na cama que tinha o intenso perfume de flores de Chelsea.
– E agora o que foi? – Eu perguntei – Eu comi camarão novamente? Porque não me lembro de comer nada nas últimas... Oito horas. Ou mais.
– Então está explicado. Inicialmente eu achei que fosse sono. Você desmaiou no colo de Henry. Nós ficamos assustados.
Senti minha roupa colar no corpo. Eu ainda estava com a mesma roupa que saí de Leipzig. Leipzig...
– Você vai dormir no meu quarto e Henry está no quarto de hóspedes, o último desse corredor. Pode usar meu banheiro, sua mala está em algum lugar por aqui.
– Obrigada – Eu agradeci, achando minha mala aos pés da cama, fui ao banheiro de Chelsea para tomar um banho.
A visão do banheiro era podre. Não de sujeira, mas era podre de cores. Ou era rosa, ou rosa claro. Tinha uma toalha rosa choque que parecia usada e outra rosa clara mais perto do branco que parecia limpa. Os perfumes tinham líquidos rosa e o cheiro de violetas estava no ar. Por que aquilo tudo me lembrava tanto o amor?
Vi minha imagem refletida no espelho, e mein Gott, eu parecia a Samara, só que com os cabelos em pé. Minha cara estava amassada, o que não é novidade, mas minha pele estava branca como o teto e olheiras profundas marcavam debaixo dos meus olhos.
Tirei a roupa e entrei no banho de água quase quente que escorria pelo meu corpo gelado me trazendo sensações maravilhosas. Encostei a cabeça no vidro e deixei a água escorrer pelas minhas costas, o que me trouxe uma sensação estranhamente prazerosa e me fez arrepiar. Minhas costas era um dos meus pontos fracos. Poucas pessoas sabiam disso.
Lavei o cabelo – o que era um sinal de desintoxicação. Quando eu queria mudar, ou pelo menos tirar os “restos” de algo da minha mente, eu lavava o cabelo mesmo que tivesse feito isso há pouco tempo.
Terminei o banho, me enrolei na toalha mais parecida com branco e me sentei no chão do banheiro, abrindo a mala para pegar a nécessaire e alguma peça de roupa decente para ficar em casa. A primeira blusa que estava na mala era aquela que eu estava tomada por raiva. Peguei-a e joguei no chuveiro, assistindo a blusa do Tokio Hotel se encharcar.
Puxei uma blusa bege do fim da mala, um casaco leve da mesma cor e um short casual de pano azul. Eu estava totalmente sem senso de moda agora, mas isso nem me incomodava. Penteei o cabelo e passei maquiagem para disfarçar as olheiras. Saí do banheiro sentindo ar quente do quarto me envolver suavemente.
– Já são quase meio-dia – Chelsea informou assim que eu saí do banheiro – Vai querer almoçar fora ou ficamos por aqui mesmo?
– O que você acha?
– Acho que a oleosidade da minha cara poderia diminuir um pouco e cairia bem um chocolate do céu.
Eu pisquei algumas vezes.
– Vamos almoçar fora – Eu disse – Henry tem direito de ir?
– Se ele ficar, meus pais vão fazê-lo algumas perguntas e eu não estou a fim de explicar que Henry é meu ex, e meu atual é o Bill.
– Ainda? – Eu perguntei e recebi um olhar incrédulo de Chel – Quero dizer, você foi embora do nada e ele não ficou chateado nem nada?
– Jus, você foi embora do nada. Eu me despedi do Bill, e tudo está bem entre nós.
Sorte sua, eu pensei, e do outro Kaulitz.
– Chel, o Henry ficou do meu lado? – Eu perguntei.
– Como?
– Ele ficou, você sabe, daquele jeito quando eu desmaiei?
Eu realmente não queria falar “do jeito que Tom ficou” em voz alta, mas Chel não parecia entender. Eu lancei um olhar mortal e ela sorriu torto.
– Bem... Não exatamente.
– Como assim? – Eu perguntei e ela bufou.
– Julia, eu entendo você. E sei que você está procurando um Tom nas outras pessoas, mas falando sério, só existe um Tom Kaulitz, e só ele vai ficar ao seu lado quando você desmaiar. Por isso eu disse que você precisa conhecer o outro lado dele.
Eu a fitei, incrédula.
– Não sei não, mas você presenciou bem quando ele gritou comigo lá no hotel – Eu falei sentindo o bolo na garganta se formar – Só existe um Tom. Aquele egoísta, ignorante, sem sentimentos e estúpido que estava lá.
– Eu não retiro o que eu disse. Se ele fez aquilo, tem alguma razão.
– Que razão, Chelsea? Diga-me uma possibilidade.
Ela deu de ombros e o assunto estava encerrado.
Chel se arrumou, pegamos Henry e saímos de casa assim que eu já estava bem melhor, mas o garoto fez questão de por a mão na minha cintura e me apertar contra ele enquanto caminhávamos.
– Eu vou enfiar comida na sua garganta se ficar mais de três horas sem comer, ouviu bem, amizade? – Henry disse brincalhão.
– Desde que você fique do meu lado, eu até como – Eu falei sorrindo – Vocês dois, está bem sua ciumenta?
Eu vi Chel virar o rosto e fazer uma careta, abracei-a junto com Henry.
Paramos em um restaurante não tão próximo a casa, de massas, eu pedi uma lasanha ainda sem vontade de comer, mas estar em algum lugar que só tenha meus amigos me deixava mais calma. Trocamos alguns assuntos, mas eu sentia que eles estavam sendo cuidadosos com o que falavam. A lasanha chegou e eu senti uma fome gigante só de olhar para a comida. Levei o garfo à boca, mas ele bateu contra o piercing que eu tinha me esquecido que existia. Machuquei a boca e gemi de dor.
Henry e Chelsea riram e eu fiz uma careta.
– Cuida melhor da sua boca, Jus – Henry disse.
– Você tem uma que eu estou vendo, então cuida da sua – Eu retruquei.
– Eu poderia cuidar da sua boca o dia inteiro se você deixasse – Ele falou com um sorriso pervertido. No mesmo segundo eu me lembrei de Tom passando a mão pelo meu piercing e logo em seguida beijando minha boca. Eu estremeci e senti o bolo se formando na garganta. Chel e Henry trocaram olhares.
– Desculpe – ele resmungou baixo.

Ponto de Vista Kaulitz
Deixar o sangue escorrendo pela minha mão não era grande idéia e eu não conseguia raciocinar o que fazer. Eu não sentia dor, portanto, não tinha interesse em curá-la. O rosto de Julia invadiu minha mente, ela dizia “Fique bem”, eu mexi a cabeça tentando tirá-la da minha mente. Não, ela nunca diria isso. Ela me odiava. E por mais que isso fosse antes uma mentira, ela me odiava agora.
Mas eu precisava ficar bem por Bill, pela minha mãe, pelos garotos e pela banda. Eu deveria ter alguns motivos para ficar bem. Danem-se todos.
Voltei ao quarto fazendo uma poça de sangue por onde passava. Pensei em me deitar na cama, mas assim que me aproximei senti um perfume conhecido. Um perfume intoxicante que no começo me deixava um pouco alérgico, mas depois ficava um pouco doce e com os segundos, era o melhor perfume de se sentir. Algo como rosas brancas com álcool. O perfume de Julia. Droga.
Ela deitou naquela cama. Eu pressionei seu corpo contra os meus lençóis. Ela estava no banheiro, no piso, nas paredes e até no ar. Eu deixei um rugido escapar rasgando minha garganta. Puxei a madeira do pé da cama, mas ela teimava em se quebrar. Subi na cama e pulei algumas vezes. Com a altura que eu tenho, posso bater a cabeça no teto, ou cair e possivelmente quebrar um braço. Qualquer coisa vale desde que eu quebre aquela cama. E então... A cama quebrou e eu caí, rolei um pouco e bati com a testa na quina do criado mudo.
Levei a mão á testa e senti que um liquido quente escorria. Sangue novamente. Rasguei os lençóis da cama quebrada e coloquei na minha testa.
Ouvi alguém gritar do outro lado da porta e eu ignorei sem reconhecer a voz. Talvez até reconhecesse, mas não conseguia ligar á nomes.
Voltei ao banheiro e liguei o chuveiro que enchia a banheira. Tirei as peças de roupas que começavam a pesar no meu corpo e me deitei, observando a água se tornar vermelha por causa da minha mão. Prendi a respiração e afundei na banheira, fechando os olhos.
Eu achei que eu fosse forte, até tudo dar errado. Eu desejo que eu possa trazer você de volta. Eu desejo que possa voltar no tempo porque eu não posso deixar você ir, eu não posso achar meu caminho. Sem você eu não consigo achar meu caminho. Isso não podia ter acontecido. Você deveria estar aqui. Isso não faz sentido, eu tento juntar os pedaços, mas nada faz sentindo.
Senti mãos me puxando para fora da água, eu arfei pesadamente quando voltei à superfície sentindo falta do ar. Tentei enxergar e a imagem da minha mãe se juntou em pedaços, meus olhos ardiam. Ela estava chorando. Falava alguma coisa, eu me forcei a entender.
– O que estava fazendo? Tentando se matar, é isso? O que aconteceu com sua testa e sua mão! – Simone jogou uma toalha branca por cima do meu corpo, mas como eu estava dentro d’água, a toalha ficou vermelha, então eu notei a bacia de sangue em minha volta.
Ela me puxou, mas não agüentou meu peso e eu caí no chão do banheiro envolto na toalha vermelha. Eu estava me sentindo um fantoche. A mulher pegou meu rosto com as duas mãos e me fez encará-la.
– Tom, presta atenção, meu filho – Ela disse – Não faça isso. Acorda! Fique bem.
Outra pessoa entrou pela porta do banheiro, era Bill. Ele parecia horrorizado. Saiu do banheiro quase no mesmo segundo que entrou.
Simone me abraçou e eu fechei os olhos um pouco tonto. Não sabia que horas tinham se passado, não me lembrava da minha última refeição e nem da última vez que eu adormeci. Só o rosto da pequena criatura do pântano se passava pela minha cabeça. Achei que fosse desmaiar. Achei certo. Perdi os sentidos e tudo ficou escuro.
Você continua tendo tudo do meu coração. Se é que eu ainda tenho um.
(...)
Abri os olhos. A luz branca queimou-os e eu fechei os olhos novamente, levando minha mão direita ao rosto. Senti dor vindo dela e quando toquei o rosto, não senti minha pele, e sim gesso. Gesso frio.
Abri novamente os olhos e gemi de dor ao ver minha mão parcialmente engessada, apenas com uma tala. Minha outra mão tinha uns três pontos pretos como se tivesse sido costurada e uma dor de cabeça me atingiu.
Notei que eu estava deitado em uma maca, aquelas camas de hospital. Na verdade, eu estava em um hospital. Paredes brancas, frigobar e algumas pessoas adormecidas no sofá ao lado da cama. Bill e Simone Kaulitz eram as pessoas.
Com o silêncio, ouvi o barulho ritmado bip, bip, bip no aparelho estranho ao lado. Mas que raios eu estava fazendo em um hospital?
Eu forcei uma tosse.
– Simone – Chamei. Minha voz estava rouca. – Simone!
Minha mãe acordou e veio até a maca com os olhos cansados. Passou o olho pelo meu gesso, minha mão com pontos e algum lugar na minha testa. Ela passou a mão e eu tombei a cabeça para o lado quando senti fagulhas machucarem.
– O que eu estou fazendo aqui? – Perguntei.
– Tom, você tem noção do que fez no seu quarto? – Ela perguntou com voz séria sem seu tom brincalhão comum. – Você quebrou o espelho do banheiro, cortou a mão, conseqüentemente, uma veia. Quebrou a cama, machucou a testa, torceu o braço e seu quarto está desabando!
Eu soltei o ar pesado como se estivesse prendendo a respiração.
– Sua mão sangrou até você desmaiar e sua testa contribuiu para isso, sem falar que eu cheguei e você estava tentando se afogar em uma banheira de sangue.
– Entendi, mãe.
– Entendeu o que? Eu nem comecei a falar! – Ela colocou as mãos na cintura e trocou de posição algumas vezes – Eu te conheço, Tom. Bill também te conhece bem. Encare os fatos, admita. Isso é por causa da Julia.
Sua imagem voltou a perturbar minha mente. Eu balancei a cabeça e admiti que sim.
– Por quê? O que ela fez?
– Me fez amá-la. – Eu respondi seco – E depois perdê-la, porque eu fui burro demais.
– Só isso?
Eu fiquei com raiva e minha vontade era de arrancar os fios do meu braço e sair correndo quebrando tudo.
– Não é só isso, mamãe – Eu rugi – Você não entende a profundidade disso. Julia me amava e Julia era uma fã. Eu disse para ela que fãs não amavam de verdade. Eu não tinha parado para pensar e decifrar em palavras o que eu estava sentindo. E ela foi embora. Porque eu gritei com ela. Porque eu desconfiei dela e achei que ela estivesse mentindo sobre o que ela era. Então ela foi embora.
– Ela vai voltar!
– Não! – Eu senti lágrimas escorrerem – Não vai, não! Ela tem razões para me odiar agora.
Não seria mais só uma brincadeira.
Simone limpou algumas lágrimas minhas e beijou minha mão. Ela saiu do quarto no mesmo minuto e eu vi Bill abrir os olhos. Ele já estava acordado para ouvir toda a conversa.
– Tom...
– Eu já ouvi o que você tem a dizer, da boca da minha mãe – Eu o cortei – Não precisa vir com lições e tentar me convencer que Julia vai voltar.
Bill pegou o telefone no bolso. Eu o observei. Ele discou alguns números e depois começou a falar:
– Gus? Sou eu, Bill. Escuta, você tem o celular da Julia?
O bip, bip do meu lado acelerou e eu tentei me sentar na cama e alcançar o telefone para desligá-lo imediatamente, mas a dor foi maior.
– O que? – Bill continuou – E por que ela faria isso? Ah, claro. Tom. Gustav, o problema não é a banda, é ele, vamos concordar. Ok, quando tiver noticias, me ligue.
Bill desligou o celular.
– Julia provavelmente quebrou o celular dela.
– Imagino o porquê – Eu disse e Bill bufou.
– David está chegando com noticias e com os garotos.
Eu puxei a coberta e me cobri até a cabeça.
– E quanto tempo eu preciso ficar aqui? – Perguntei. Bill poderia me responder isso.
– Hoje à noite, se quiser. Se mamãe quiser. Ela acha que você está em depressão. Eu concordo.
Em poucos minutos, a porta se abriu e eu vi David entrar com Gustav e Georg. Eles acenaram e se sentaram no sofá. David começou a falar:
– A turnê foi cancelada.
Estremeci. Era minha culpa, não era? O silêncio foi dramático e desnecessário. Onde estava o Bill que criticava tudo e interrompia as falas?
– Devido a uma série de fatores. Todos eles envolvem Tom. – Eu bufei – Mas ele vai se recuperar até abril, não é? A turnê vai começar oficialmente em abril, com o primeiro show dia três de abril em outro país. Não me lembro agora qual.
– Me desculpe David – Eu murmurei.
– Tudo bem, Tom. Eu só vou pedir uma coisa para os quatro: não se apaixonem. É a pior coisa que vocês poderiam fazer agora.
Ele saiu do quarto sem falar mais nada. Eu tomei coragem e fitei os olhos inexpressivos de Gustav.
– Me desculpe Tom – Gustav disse e eu arregalei os olhos.
– Eu quem devo pedir desculpas por me envolver com sua prima. – Eu disse.
– Eu devo pedir desculpas por trazê-la aqui. – Ele retrucou – Eu pensei que seria o melhor a fazer, e ela me atingiu da pior maneira. Ela fugiu. A mesma coisa que Jamie fez.
Eu não entendi a ligação que ele tinha feito. O que Jamie tinha haver com Julia? Além de serem primas, é claro.
– Jamie fugiu. Um caminhão bateu de frente em seu carro e ela teve perda da maior parte do cérebro. Ela está morta se não fosse pelos aparelhos que trabalham por ela.
Todos o olhavam, incrédulos. Eu só conseguia pensar se Julia estava bem ou não. O pânico me atingiu.
– Gus, Jamie não estava em outro país? – Georg perguntou.
– É, eu menti – Gustav admitiu – Minha mãe está esperando que Julia vá visitá-la no hospital, para poder desligar as máquinas de uma vez.
Gustav forçou um sorriso e eu senti pena.
– Julia é como se fosse minha irmã mais nova, que não existe mais. E por isso eu a trouxe. Queria que ela ficasse comigo. Jamie gostava de você, Georg...
Georg fez uma careta, um misto de surpresa e felicidade.
– Eu lamento, Gus – Georg foi o primeiro, seguido por Bill e por mim.
– Jamie ficava tentando escutar o solo do seu baixo no porão, quando tocávamos na minha casa – Gustav continuou, fitando o nada.
Eu me lembrei de quando Julia esbarrou em alguma coisa no corredor e eu soube que ela estava me ouvindo cantar An Deiner Seite. Eu a mandei voltar para o quarto, mas desejando que ela começasse uma briga ali mesmo só para continuar me ouvindo cantar.
Balancei a cabeça novamente. O rosto de Julia sumiu como fumaça.
– Bill... – Eu chamei a atenção – Terminou a tradução de An Deiner Seite?
– Sim, terminei.
– Me empresta depois para eu tocar? – Perguntei.
Bill apontou para o meu braço engessado e depois para os pontos na minha mão. Eu forcei uma risada muita falsa pelo visto. Que lindo, agora não posso tocar violão.
– Quando vou voltar para casa? – Eu perguntei.
– Hoje à noite, eu já disse – Bill repetiu.
– Não, em Magdeburgo! A casa do Gustav, a nossa casa.
Bill fez uma careta e os Gs trocaram olhares.
– Tom... – Georg começou.
– Não é uma boa idéia... – Gustav continuou e Bill terminou a frase, como se tivessem planejado:
– Ver a Julia agora.
O bip, bip do meu lado começou a irritar, o barulho estava acelerado, meu coração estava acelerado. Eu podia senti-lo por cima da camisola.
– Julia está em Magdeburgo? – Eu sussurrei.
A porta se abriu e uma enfermeira entrou correndo para o aparelho. Ela colocou um estetoscópio e me examinou, eu murmurei algo como “estou bem”, mas deve ter saído como “Julia está em Magdeburgo”. Frases totalmente diferentes.
– Me respondam! – Eu falei alto.
A enfermeira sussurrou “shh!” para mim.
– Você achou que ela estava aonde? – Bill perguntou.
– Sei lá, no Brasil! É onde ela mora, e Chelsea e aquele menino são brasileiros também.
De repente, algum ponto de esperança brilhou em mim. Eu poderia ir até Magdeburgo falar com ela. Minha preocupação sempre foi que ela estivesse no Brasil, então eu não poderia ir. Mas se ela está na cidade praticamente aqui do lado... Eu poderia ter minha pequena de volta!
Ou não.
Ela me odiava, certo?
Eu respirei fundo e analisei o gesso e depois os pontos. Minha cara deveria estar horrível. Que raios eu tinha na cabeça para virar meu quarto de cabeça para baixo daquele jeito? Eu deveria estar fora de controle.
A enfermeira foi embora depois que as batidas do meu coração se estabilizaram em um ritmo mais comum.
– Gustav e Georg vão voltar para Magdeburgo – Bill falou depois de um momento de silêncio.
– O que? Levem-me junto! – Eu disse.
– Tom, não! – Gustav falou mais alto – Você vai ficar. Vai passar um tempo com seus amigos aqui de Leipzig, reformar seu quarto e sua vida.
Eu senti uma pontada de raiva do Gustav.
– Mas...
– Você vai ficar longe da Julia por um tempo, e quando ela quiser te ver, ela verá! O que eu duvido muito por você tê-la deixado aos soluços naquele hotel. E talvez quando você voltar, ela já vai estar de volta ao Brasil – Gustav terminou se levantando em direção a porta.
– Gustav! – Eu gritei.
– Já chega, Kaulitz! – Gustav retrucou – Você não vai ficar com a minha irmã... Com a minha prima – Ele se corrigiu e saiu do quarto sendo seguido por Georg.
Eu me encolhi na cama quando os dois se retiraram.
Bill se aproximou da cama olhando para os próprios pés.
– Você concorda com ele, Bill? – Eu perguntei.
Bill trocou um olhar cauteloso comigo e desviou depois vendo que eu poderia ver a resposta em seus olhos; gêmeos idênticos.
– Acho que você deveria ficar bem.
– Ah, obrigado. Simone e Julia já me disseram isso hoje – Eu disse e completei: -, nos meus sonhos. Eu quero ir embora.
– Eu vou chamar as enfermeiras para você se arrumar.
Bill se retirou do quarto e em minutos, duas mulheres vestidas de branco entraram. Elas tiraram os fios grudados ao meu corpo e me ajudaram a me vestir. Eu arrumei meus dreads no banheiro, ajeitei a faixa para cobrir o machucado na testa e em poucos minutos, eu poderia ser Tom Kaulitz novamente, mas sem o braço engessado.
Saí do quarto e encontrei Bill conversando com Gordon e Simone no corredor.
– O médico de raios-X passou por aqui e disse que você poderia tirar a tala, se prometesse usar aquela luva ortopédica – Simone me disse.
– Ótimo, eu prometo qualquer coisa para tirar isso daqui antes de sair do hospital.
Desci até o subterrâneo do hospital e tirei a calha assim que Gordon voltou da farmácia com a luva. Entramos todos em seu carro e voltei para casa com a família.
Assim que pisei nos primeiros degraus, senti vontade de me jogar na minha cama, mas aí me lembrei que ela estava quebrada – o que me causou uma luva ortopédica e um curativo na testa.
– Você vai dormir no quarto de Bill hoje – Mamãe respondeu aos meus pensamentos – E vai fazer uma lista ou qualquer coisa do tipo, porque amanhã vamos fazer umas compras para seu quarto.
– Posso incluir um piano preto da yamaha e uma nova guitarra da gibson? – Perguntei esperançoso.
– Desde que você não faça barulho. – Simone concluiu e eu sorri – Mas agora você vai tomar um lanche da tarde, sabe há quantas horas não come de verdade, mocinho?
Eu contei mentalmente. Desisti, matemática era escrito em japonês para mim.
– Mais ou menos vinte e quatro horas. Sua última refeição foi um sorvete de baunilha – Bill informou.
– Isso me lembrou que eu preciso de uma secretária – Eu disse – Que não grite no meu ouvido e que conte minhas refeições.

Bill apagou a luz do quarto e eu me virei na cama, me cobrindo até a cabeça. Fechei os olhos e minha primeira imagem foi uma jóia preta, um piercing para ser mais preciso. O piercing de Julia. E minha primeira sensação foi tocar aquela jóia. Estremeci. Senti saudades.
– Bill, o que vamos fazer na próxima semana, além de ficar enfurnado em casa? – Eu perguntei.
– Hm? Compras. E depois o que você quiser fazer. Ah, espera. Andreas e Hilary vão vir aqui.
– Boa noite Bill – Eu disse por fim.
Sexo. Eu poderia esquecer – ou desviar – Julia dos meus pensamentos com sexo, e estou certo de que Hilary não vai hesitar em aceitar.
A luz estava apagada, mas o computador iluminava metade do quarto onde Chelsea e Henry estavam entretidos e Julia adormecia na cama feita ao lado da cama de Chelsea. Henry observou a pequena se remexer um pouco. Ele prestou atenção. Julia estava tendo um pesadelo. Seus finos gritos eram abafados pelo travesseiro.
– Chel – Henry cutucou a amiga – Olha a Jus.
– Acorde-a – Chel obrigou o garoto de olhos cinzentos.
Henry não hesitou em caminhar até a cama improvisada da garota. Se abaixou e passou a mão pelo seu cabelo. Com um susto, a menina se virou e se sentou na cama, chorando sem abafar os soluços. Henry não entendeu o motivo, naturalmente.
– Calma, era só um pesadelo – Ele sussurrou.
Julia fitou os olhos brilhantes de Henry que brilhavam até mesmo no escuro. Ela não estava totalmente consciente, mas sabia quem estava vendo, e o que estava fazendo. Encurtou o espaço e colou os lábios na boca do garoto.
Henry apoiou Julia com uma mão em sua cintura e outra no seu cabelo, ele a beijou, brincando com o piercing da menina. Era divertido e especial beijá-la depois de tantos anos querendo tocar aqueles lábios. Henry foi o primeiro a se afastar por falta de ar. Ele fechou os olhos e selou os lábios novamente e depois a abraçou. Deitou carinhosamente a garota na cama e esperou que ela adormecesse nos seus braços.
Garotinha, garotinha, por que esta chorando? Dentro de sua alma incansável, seu coração está morrendo. Pequena, pequena, sua alma está expurgando de amor e navalhas – Green Day

Postado por: Grasiele

By Your Side - Capítulo 18 - Liebe?

Algum dia, de alguma forma. Vou fazer tudo certo, mas não agora. Eu sei que você está se perguntando quando, você é o único que sabe disso – Nickelback

Minha garganta ardeu e eu senti que não havia mais chão, pois minhas pernas começaram a tremer e eu poderia desmaiar naquele segundo.
– O. Que. É. Isso. – Tom falou pausadamente com a voz falha e a raiva que sentia estava visível, suas mãos tremiam segurando o notebook.
Eu deixei minha toalha cair no chão e dei o meu primeiro passo, negando com a cabeça e sussurrei algo como “Não é isso que está pensando”, mas é claro que era. Eu sou uma fã.
– NÃO SE APROXIME! – Ele gritou assim que eu dei o primeiro passo para perto dele.
– Tom, não! – Eu gritei de volta.
– Mas que droga é essa? – Ele perguntou sem esperar resposta e retomou a falar – Você… Você é uma fã?
Eu não sabia ao certo como responder isso sem que ele voltasse a gritar, mas ele não esperava por respostas.
– Você mentiu esse tempo todo?! – Ele disse – Esteve esse tempo todo mentindo, escondendo quem você é!
– Não é verdade… – Eu falei baixo sem realmente saber se eu estava mentido novamente ou não.
– Mas é claro que é! Por isso você sempre soube tanta coisa – Ele deixou meu notebook cair no chão e ele desmontou algumas peças, mas não havia quebrado e naquele momento, isso não importava nada, mas Tom importava muito – Por isso sabia do meu aniversário, a cidade onde eu nasci, não me deixava ver teu mp3, falava em português com Chelsea sem motivos, tem o mesmo estilo que o Bill, parecia uma tonta quando nos conheceu e ficava morrendo de ciúmes por qualquer coisa!
Nota mental: Tom avalia muito bem as pessoas.
– Boa, Schäfer – Comentou Tom com um ar de deboche – Acho que você já sabe o que eu penso de pessoas que tentam criar o que não são… Eu as desprezo.
As últimas palavras foram como facadas e eu poderia vomitar sangue. Desprezar. Boa Schäfer. Minha garganta se fechou, e não era mais uma reação alérgica. Era dor, e aquelas das piores. Tom Kaulitz me despreza. Meu estômago embrulhou e eu senti nojo de mim mesma, mas a pior sensação era de não conseguir raciocinar. Nada, eu não consigo pensar. Eu entrei em desespero mental.
Abaixei os olhos sem conseguir encarar as órbitas castanhas e perfeitas do Kaulitz mais velho e minhas pernas cederam, e eu caí no chão. Por um momento eu pensei que ele fosse me ajudar, mas ele se virou e foi até a porta e a abriu.
Nesse momento, eu já não ouvia mais sons. Minha mente rodava, mas não chegava a lugar algum. Senti braços frios me envolverem e um perfume feminino em volta, eu estava de olhos fechados e dedos frios encostaram-se ao meu rosto limpando… Lágrimas? É. Eu deveria estar chorando, não duvido nada.
Abri os olhos devagar e vi quem me abraçava no chão. Chelsea estava de olhos arregalados para Tom, que pela forma que movia a boca, gritava com alguém na porta… Gustav. Que raios Gustav estava fazendo ali? Eu forcei minha mente a funcionar e ouvir.
– NÃO TORNE A GRITAR COM ELA, TOM! – Gustav gritou – VOCÊ NÃO É NADA AQUI, ALÉM DO IRMÃO DO BILL! Você não tem poder sobre a minha prima.
– E o que você sabe sobre ela?
– Mais que você, provavelmente!
– Sabia que ela é uma fã? – Tom perguntou bem mais baixo e Gustav ficou calado.
Olhei para os rostos surpresos dos garotos na porta. Georg, Bill, Gustav, David. Tom bufava de raiva.
Eu me levantei correndo e entrei no banheiro com Chelsea tentando me acompanhar. Agachei-me próxima ao sanitário e vomitei seja lá o que fosse aquilo, enquanto Chel segurava meu cabelo. Eu senti uma ligeira tontura e bati a cabeça na pia quando me levantei, mas isso não me impediu de muito, eu já estou acostumada com tombos e batidas assim.
– Julia, você está bem? – Ela perguntou.
– Não, evidentemente – Eu respondi desconecta.
Enquanto isso ouvia a voz alta de Tom discutindo dentro do quarto com alguém que parecia ser… Georg? Não duvido nada, mas pareciam que todos discutiam agora. Céus! O que eu estava fazendo ali? Voltei a raciocinar.
Lavei minha boca e o rosto, voltei ao quarto e as lágrimas ainda escorriam.
– E o que você espera que eu faça? – Gustav disse – Não vou enviá-la por correio de volta para o Brasil! Ela não é um objeto, Tom!
– Eu não quero saber, Gustav! Eu me recuso a fazer qualquer coisa enquanto ela estiver aqui.
Meu queixo caiu e eu me curvei sentindo uma dor quase insuportável na minha barriga, o choro compulsivo começou. Solucei algumas vezes e isso chamou atenção de Tom e dos outros.
– K-Kaulitz… – Eu tentei falar, mas não deu certo.
– Eu não a quero aqui! – Disse Tom e depois se voltou a mim – Eu não quero te ver nunca mais – Ele gritou e saiu do quarto.
Senti-me um lixo quando recebi os olhares incrédulos de Bill, Georg, Gustav e David. Os minutos se passaram e eu continuava chorando compulsivamente ao lado de Chel, que me abraçava forte e seu corpo abafava meu choro. Os garotos saíram do quarto sem eu notar, mas quando me dei conta, eu estava colocando tudo que me pertencia dentro da minha mala e a fechei.
Chel trocou olhares comigo como se já tivesse entendido o que eu estava prestes a fazer, e querendo ou não, ela faria comigo. “Vou buscar minha mala”, ela disse e voltou em poucos minutos com a mala pronta e o celular nas mãos.
– E-eu preciso deixar uns bilhetes – Eu disse, procurando desesperada, um bloco de notas e o achei no criado mudo. Arranquei algumas folhas e comecei a escrever na primeira:
“Regra n° 5 – Não fuja. Desculpe-me, mas era minha última escolha, para: Gustav Schäfer”
Chel falava no celular com alguém e eu não prestei atenção na conversa em alemão que ela dizia rápido, mas ouvi meu nome algumas vezes e o desespero na voz. Anotei no segundo bilhete:
“Obrigada por não me deixar cair algumas vezes, para: Georg”
Chel desligou o celular e arrancou uma folha do bloco de notas, escrevendo algo também. Escrevi meus últimos dois bilhetes:
“Não se preocupe, você é um cara legal. Prazer em conhecê-lo, Jost. Para: David”
E o meu último bilhete, deixei que algumas lágrimas escorressem em cima do papel branco e escrevi algumas palavras que seriam ignoradas pelo Kaulitz mais velho, provavelmente.
– Jus – Chel me despertou do transe que eu entrei assim que escrevi a última palavra… Liebe – Henry está lá em baixo.
– Henry?
– Vamos, ele te explica no caminho.
Peguei minha mala e fechei a porta do quarto. Coloquei meu bilhete por baixo da porta fechada de Tom, fiz o mesmo com o bilhete do Gustav, David e Georg. Chelsea deixou um bilhete no quarto de Bill. Desci de elevador, eu deixei a chave na recepção e saí do hotel, achando Henry próximo a porta do hotel. Assim que me viu, me abraçou. Eu aceitei seu abraço sem nenhuma maldade e respirei fundo seu perfume casual de sol, calor e o sal da maresia do Rio de Janeiro.
– Desculpe-me – Eu sussurrei no seu ouvido.
– Tudo bem, eu não sabia… Que você estava com ele.
Henry segurou minha mão e a mão de Chelsea, atravessamos a rua e entramos no carro de Henry, que pisou fundo no acelerador em direção ao aeroporto mais próximo, quebrando oficialmente a regra número cinco, que já estava me levando aos nervos.

Ponto De Vista – Kaulitz

Sentei no sofá do meu quarto sem entender perfeitamente bem o que havia acontecido. Julia é uma fã, o que é muito estranho. Sendo Julia uma fã, seria também Chelsea? Não, ela havia me dito que nunca tinha se interessado realmente pela banda. Eu respirei fundo.
Vi Chelsea adentrar o quarto parecendo nervosa, eu me aproximei delicadamente da loira.
– Chel – Eu disse seu nome e ela sorriu para mim, segurei sua nuca e a beijei lentamente – Você parece nervosa – Eu disse depois que terminei o beijo com selinhos.
– Eu não sei o que vai acontecer agora – Ela disse – A Jus vai fazer alguma coisa sem pé nem cabeça, e eu vou fazer com ela.
Meu coração saltou.
– O que?
– Bill, entenda e não se ofenda. Tom sempre foi o gêmeo favorito da Jus, eu a conheço demais para saber antes de ela admitir para mim que amava o seu irmão mais do que o normal para um fã antes mesmo de conhecer ele pessoalmente. Ouvir o que ele acabou de dizer, para ela, é… Não existem palavras. Ela está sofrendo e escondendo isso perfeitamente bem.
Chelsea pegou seu celular e escreveu “Henry”, apertando na primeira e única opção que apareceu na lista de contatos dela. Eu estranhei, ela levou o celular ao ouvido e disse “Me ligue o mais rápido que puder”.
– Quem é Henry? – Eu perguntei.
Chelsea parecia estar lutando para não me responder, mas eu coloquei a mão em seu ombro e ela disse.
– Um ex-namorado meu, melhor amigo da Julia. Desculpe-me, Bill, mas eu preciso dele aqui, não por mim, mas por ela.
Eu aproximei o corpo delicado da menina com o meu e encostei minha testa á dela, sentindo seu perfume parecido com neve e algum toque de morango, daqueles artificiais que se usa em geléia. Beijei o canto de sua boca, passando a mão pela lateral do corpo fino de Chelsea e propositalmente, levantei um pouco seu vestido. Ela riu e se afastou.
Jogou algumas peças de pijama que estavam em cima da cama e colocou de volta na mala, a fechou rapidamente.
– Chelsea Sol Hölt – Eu falei mais alto e ela se virou – Mantenha Julia bem, por mim, Gus, Ge e principalmente por Tom. Eu te amo.
– Eu prometo – Chelsea sorriu -, e também te amo, Bill Kaulitz.
Chelsea fechou a porta e eu voltei a me jogar no sofá, pegando meu caderno no criado mudo ao lado e avaliando a tradução de An Deiner Seite que eu simplesmente não conseguia terminar de transformá-la em By Your Side. Ainda faltava um pedaço. E minha mente não trabalhava para que as palavras se juntassem na outra língua.
Alguns minutos depois, um pequeno papel branco surgiu por baixo da minha porta e eu me levantei para vê-lo.
“O bilhete do Tom vai ajudá-lo com a música. Onde ele está?” E mais embaixo tinha um endereço em Magdeburgo, provavelmente a casa de Chelsea. Eu não via interesse naquilo agora, mas as duas dicas do bilhete bem me serviam.
Coisas a fazer: Achar Tom e o bilhete dele, e depois completar By Your Side.
Fui ao banheiro arrumar a armação do cabelo e coloquei uns óculos escuros bem casuais e saí do quarto pegando o segundo elevador direto para o estacionamento. O elevador chegou bem rápido ao estacionamento e eu ouvi os passos do meu irmão gêmeo, o avistei próximo a porta que dava á rua e corri todo o estacionamento atrás dele.
– Tom! – Eu gritei, mas ele não quis escutar. Foi só me aproximar dele para sentir a eletricidade de raiva que ele emanava, era fácil sentir, pelo menos com ele – Tom?
Eu coloquei a mão em seu ombro e ele me respondeu com um gesto agressivo, fazendo-me tirar minha mão dali e eu rugi.
– Cara, escuta-me! – Eu gritei e ele se virou, eu vi um reflexo em baixo de seu olho como uma lágrima seca – O que há? Por favor, eu sou irmão.
Tom virou a cabeça para os lados como se procurasse alguma saída, mas não havia, não comigo. Eu estava ligado á ele. Ele não poderia fugir de mim. Quando voltou a me olhar nos olhos, notei algumas lágrimas tentando escapar, mas ele não permitia. Era forte. Nem tanto.
– Que droga, Bill! Ela mentiu para mim. Esse tempo todo. Ela era minha fã. – Ele citou as frases como se fosse uma poesia – Ela deve ter se aproveitado de mim…
– Tommy, do que você está falando?
– Eu não sei! Minha mente está rodando! – Ele resmungou – Ela inverteu os papéis.
– Cara, a Julia te amava. – Eu disse – A Chel me contou que Julia parecia te amar além de um fanatismo antes mesmo de te conhecer.
– Fãs não amam – Tom, que estava de cabeça baixa, logo a levantou de olhos arregalados – Mein Gott! Bill! Eu disse isso para ela!
– Tom, você machucou a garota – Eu disse lentamente avaliando a situação.
– Eu preciso falar com ela – Tom se virou para o lado contrário da rua e eu pensei que ele fosse correr de volta para o elevador, mas me lembrei que Chel e Julia não estavam mais dentro do hotel e Tom não iria gostar nada de saber disso. Eu o virei pelos ombros para a porta que dava á rua e ele entendeu que deveria seguir aquele caminho.
Saímos do estacionamento e andamos em direção á entrada principal do hotel, mas antes, eu vi Tom congelar. As luzes dos postes refletiam uma imagem que eu também não gostaria de ter visto.
Em frente à entrada do hotel, um poste refletia as costas impossíveis de não reconhecer de Julia. Ela abraçava um menino mais alto que usava uma camisa azul e um jeans claro, cabelos pretos e repicados. Não era um garoto comum, ele tinha alguma cor que não o deixava parecendo um alemão. Ele passava a mão no cabelo preto de Julia como um carinho e os dois pareciam conversar abraçados.
Depois que Julia o soltou, ela parecia ainda estar chorando. Eu tive pena de Julia. O garoto deu as mãos a Julia e Chelsea e eu senti uma pontada de ciúmes, imaginei que aquele fosse Henry e respirei fundo.
Henry levou as duas meninas até o outro lado da rua e os três entraram em um carro. O mesmo acelerou e o carro desapareceu virando a esquina.
Eu sabia que Tom estava furioso. Eu sentia, mas de qualquer forma, pela primeira vez eu não sabia como falar com ele antes que ele explodisse. Tom começou a correr e eu fui atrás dele sem gritar, sem chamar a atenção.
Ele não esperou o elevador abrir, subiu as escadas, mas eu peguei o elevador e fui até o nosso andar. Cheguei ao mesmo tempo em que ele abriu a porta do seu quarto como um furacão e a fechou. Eu hesitei em abrir e resolvi passar antes no quarto dos Gs. Bati na porta dos dois, os mesmos abriram ao mesmo tempo com o mesmo rosto, e o mesmo papel na mão.
– Gustav… – Eu arfei – Não pude impedi-la.
Georg bateu com a mão que segurava um bilhete na porta e mordeu o lábio inferior.
– Droga, eu gostava dela. – Disse Georg e eu arregalei os olhos.
– Que? – Gustav fitou Georg sem expressar emoção.
– O que isso vale agora que ela foi embora e diante de quem ela gosta, que é o Tom? – Georg bufou.
– Onde ele está? – Gustie perguntou e eu apontei para o quarto dele.
Nesse mesmo momento, Jost abriu a porta do quarto dele com mais um bilhete em suas mãos. Será que todos tinham bilhetes? Trocamos todos olhares e paramos na porta do meu irmão gêmeo. Jost abriu a porta lentamente, que logo terminou de abrir batendo contra a parede.
– Perdi meu guitarrista favorito – Jost murmurou.
Parado no meio do quarto, Tom tinha as mãos tremendo, segurando um mesmo papel idêntico ao que todos receberam, mas o dele parecia ter mais coisas escritas. Eu sabia que ele tinha notado nossa presença, só estava nos ignorando.
I hold your letter (Eu segurei sua carta) In my frozen hand (Nas minhas mãos frias) The last line was long (A ultima linha foi longa,) As long as it burns (Tão longa que até queimou) My look carries on (Meu olhar sobre ela)
Tom deu alguns passos para trás e se encostou na parede, e depois arrastou lentamente seu corpo até se sentar no chão, sem tirar os olhos do papel. Eu me aproximei e ouvi meu gêmeo deixar escapar um suspiro que vinha seguido por um choro compulsivo.
As lágrimas começaram a escorrer como cachoeiras no rosto idêntico ao meu e sua expressão começou a se contorcer em caretas dolorosas, como se estivesse sendo esfaqueado. Agachei-me ao seu lado e estendi a mão para o bilhete, que ele me permitiu segurar. Tom levou logo as duas mãos ao rosto tentando abafar os soluços altos.
With every word another feeling dies (Com cada palavra outro sentimento morria) I’m left here in the dark (Fui deixado aqui na escuridão) No memories of you (Sem memórias suas) I close my eyes (Eu fechei meus olhos) It’s killing me (Está me matando…)
Eu não via meu irmão assim há mais ou menos seis anos, quando a última garota quebrou o coração dele, e naquele dia eu pensei que ele nunca mais teria um. E depois de seis anos, aparece alguém como Julia, para fazer a mesma coisa com Tom. Eu poderia ter raiva dela, mas não tinha porque entendia seu sofrimento. Isso poderia ser cômico se não fosse tão dramático.
Eu peguei o papel com algumas manchas recentes de lágrimas, provavelmente as de Julia e li:
“ ‘Eu não queria te causar problemas, nem ficar por muito tempo. Eu vim para dizer que eu estou ao seu lado mesmo que só por um momento.’ Desculpe pelo ketchup, pela camisa que ficou com meu perfume, pela camisa que estragou com cloro e por molhar seus dreads. Tom, você acredita em amor?”
Eu sorri timidamente diante da delicadeza natural que a Julia tinha capacidade de colocar em cada coisa que ela fazia, até mesmo um bilhete de despedidas quase de madrugada. Dobrei a carta e coloquei no meu bolso já com um pedaço de By Your Side escrito em alemão naquela carta.
Tom chorava compulsivamente, eu tentei o abraçar o que não deu muito certo até ele aceitar o abraço. Tom cantou baixinho perto do meu ouvido:
We die when love is dead… It’s killing me. – Eu estranhei a música que combinava perfeitamente com aquele momento, mas era praticamente uma agressão – We lost the dream we never had…
– Shiu, Tom – Eu disse – Não canta isso. Não agora.
– Que porra, Bill! – Ele disse alto – Ela gostava de mim… – Soluçou mais uma vez.
Eu adoraria dizer que ela ainda gostava dele. Mas vendo a menina daquela forma no chão do quarto, não podia ter tanta certeza.
– Bill, me devolve a carta…
Eu lhe entreguei o pequeno pedaço de papel, Tom encostou o pedaço de papel no rosto de forma melancólica.
Eu acredito, eu acredito – Ele repetia e eu me afastei um pouco, assim me levantando – Eu acredito em amor, Jus. Eu amo você.
Eu vi todos os garotos arregalarem os olhos. Inclusive eu. Tom não ama, ou pelo menos não amava. Julia é uma menina de sorte por entrar na vida dele, sem ao menos fazer muito esforço, conquistou Tom de forma tão louca que o fez chegar a esse ponto. Logo Tom, que nunca acreditou em amor.
Mas os próximos passos de Tom não foram nada legais. Meu irmão dobrou a folha e colocou no bolso, limpando rapidamente o rosto e se levantando do chão. Ele pegou a mala arrumada dele e pegou as chaves do carro.
– Tom, aonde você vai? – Eu perguntei alto.
Ele não me respondeu. Saiu do quarto e eu o segui, ele desceu as escadas e eu desci atrás dele. Tom colocou a mala em seu carro e pisou no acelerador. Eu entrei no meu carro estacionado ao lado e fui atrás dele na mesma velocidade.
Eu senti como se estivesse dando voltas em Leipzig passando em volta da praça central de Leipzig várias vezes. As ruas estavam um pouco vazias por estar de noite e ele parou o carro em um bar e eu esperei no carro, me surpreendi quando ele voltou com uma garrafa de whisky, entrou no carro e tomou o caminho para casa de Simone e Gordon, parando em frente a casa deles e descendo do carro com sua mala.
Eu saí do carro e gritei atrás de Tom:
– Tom? O que você está fazendo?
– Não sei direito.
– O que você vai fazer? – Tentei novamente.
– Beber whisky, não está vendo?
Tom abriu a casa de Simone com sua chave e eu o segui pela casa. Ele passou pela cozinha e pegou alguns copos de vidro com um cinzero e uma caixa de cigarros, que eu não o via fumar faz tempo. Será que ele iria tacar fogo nele mesmo?
Ele entrou no quarto e eu tentei abrir a porta, mas ele já tinha a trancado. Bati na porta do quarto com força.
– Tom! TOM! Não vá fazer nada imprudente! Você está me ouvindo?
Meus gritos fizeram a porta do quarto do casal se abrir revelando Simone e Gordon com seus pijamas.
– O que está acontecendo aqui? – Simone perguntou – Tom está aí dentro?
Eu bufei.
– Bill, o que há? – Ela me fuzilou com os olhos castanhos iguais aos meus e eu deveria contar tudo do início agora.
– Vamos para a cozinha – Gordon disse colocando a mão no meu ombro – Lá vocês conversam.
(…)
Na cozinha, Gordon preparou um chá qualquer que eu mesmo me obriguei a tomar. Esquentou-me bastante e Simone iniciou a conversa:
– Bill, isso tem haver com Julia? – Ela perguntou, e eu, surpreso, acenei que sim.
– Mãe, tudo começou quando eu e Tom tínhamos 12 anos. Lembra quando ele chegou a casa puto dizendo que eu tinha roubado a namorada dele? – Ela concordou rindo – Bem, você já sabe dessa história. No final, a gente ficou bem, mas ele nunca mais namorou alguém, não foi? Ele parou de acreditar em amor. Passou todo esse tempo, a Jus chegou do Brasil, prima do Gus. Lembro-me de notar que Tom ficava encarando Julia com curiosidade. Depois de um dia assim, eu cheguei a casa depois de regravar uma canção e estava cada um trancado em um quarto. Perguntei para Tom o que havia acontecido e ele me disse…
Abri a porta do quarto sem antes bater. Tom estava deitado na cama com os dreadlocks soltos com a guitarra em cima da barriga sem tocar nada.
– E aí? – Eu disse.
– Droga, Bill! Eu beijei a Julia.
Eu arregalei os olhos. Poderia começar a discutir com o garoto pela falta de responsabilidade por Julia ser prima do Gustav, mas decidi me calar pois Gustav estava em casa.
– Tom! Como é? De língua?
– Não, foi só um selinho. Mas cara, como eu queria beijá-la.
– Você está louco?
– Nein, só que aquela menina me leva a loucura. Ela tem o rosto tão provocativo, e fica sempre tão calada… Ela não me deseja.
– Cara, isso vai causar uma desordem na banda – Eu previ, imaginando o escândalo que Gustav iria arranjar.
– Ah, dane-se. Para ficar com aquela garota, eu faria tudo.
Avaliei o rosto de Simone após contar o episódio, e por não demonstrar nenhuma emoção, eu continuei a história:
– Depois disso, Tom mudou. O jeito de ser, ele ficou mais rabugento. No estúdio não acertava nenhum nota até que Julia não estivesse no mesmo local. Ele ficava sempre nervoso. Naquele dia ela desmaiou.
– De que?
– Uma alergia á camarão, não muito sério. Tom ficou o dia todo do lado dela até eu o tirar de lá e mandá-lo dormir, ah é, ele não estava mais dormindo. Depois daquele dia, as brigas se intensificaram. Eles brigavam por qualquer coisa, era muito chato. Então começou a turnê, estava combinado de Jus dormir no quarto com Georg, mas ele levou uma menina para cama e Jus foi dormir com Tom, eles estavam bem, Chel me contou que rolou uma seção de amassos na piscina e depois Georg comentou que viram eles na mesma situação no elevador.
– Então Julia corresponde?
– Deixa eu chegar lá – Eu disse, respirei e continuei: - Teve aquela festa que você viu fotos, tentamos manter os dois separados, mas graças a mim e Chelsea, ele ficaram juntos. Não sei direito o que rolou e Tom também não se lembrava bem, mas Julia cuidou dela naquela noite, só que no dia seguinte, ele me disse que tinha alguma coisa haver com um joguinho de final de semana, mas eles ‘terminaram’ e ela beijou Georg. Fomos a uma entrevista e Gustav descobriu, brigando com os meninos depois. Então chegamos a Leipzig. Eu presenciei uma briga séria entre Tom e Julia, depois ela fez uma mudança de visual e viemos para cá. Não sei se você sabe, mas rolou outra seção de amassos no quarto do Tom.
– Ah, era óbvio. Eles chegaram de mãos dadas e Tom estava meio corado, Julia também estava mais ‘alegre’. – Simone sorriu – Mas o que aconteceu hoje?
– Não sei direito, Jus saiu de tarde com Chelsea, depois eu achei Chel sozinha no parque e fomos para casa de Andreas, encontrando depois Tom com Julia lá. Tomamos sorvete e depois que chegamos ao hotel, começou a briga. Parece que Julia é fã do Tokio Hotel e andava escondendo isso. Tom ficou puto, mas ele também errou dizendo que fãs não amam de verdade para a garota. Mas agora ela foi embora e deixou um bilhete. De qualquer forma, ele disse, depois que ela foi embora, que ama ela.
– E como Gustav está? – disse Simone.
– O que adianta? Ela foi embora – Comentou Gordon.
– Exatamente, agora que ela foi que ele percebeu isso. Gustav está bem, em geral. Estamos todos chocados demais com a notícia e Julia deve estar acabada. Daqui a pouco talvez eles cheguem. Eu preciso tirar Tom do quarto, pois amanhã temos um show em… Ah, não me lembro o nome, mas uma cidade próxima.
– Bem, esse vai ser o problema, você sabe como seu irmão é – Disse Gordon – Impulsivo, pessimista.
Eu respirei fundo em concordância. Logo a campainha tocou e Gordon foi atender. Os garotos chegaram e Simone fez uma cama na sala para que todos pudessem dormir ali, rondando Tom. Eu não posso prever o que vai acontecer com ele agora, mas vai ser difícil tirá-lo do quarto. Conversamos isso com Jost e ele disse que iria providenciar tudo para cancelar o show.
Bati na porta de Tom mais algumas vezes e nenhum barulho eu podia ouvir de dentro. Estava preocupado demais com ele, mas não podia fazer nada, não agora.
Peguei meu caderno onde estava fazendo um rabisco de By Your Side e tentei me lembrar dos versos na carta de Julia, e depois completei na folha: “I don’t want to cause you trouble, don’t want to stay too long, I just came here to say to you, I am by your side just for a little while.”
Encostei a cabeça na porta de Tom e fechei os olhos cansados com o dia cheio sentindo um pouco a falta de Chelsea. Lembrei do rosto fino da minha namorada. Namorada. Em pensar que nem tínhamos assumido para nós mesmo, em pensar que eu tomei coragem e disse na frente da minha mãe e aí tudo ficou um tanto perfeito na minha vida. Agora só falta concertar a dor do Tom.

Você está em algum lugar lá fora, fraco demais para chorar. Fugiu de todas as pessoas para tentar ser uma. Eu vejo você – Tokio Hotel

Postado por: Grasiele

By Your Side - Capítulo 17 - Conte-me todas as suas mentiras

Posso te mostrar do que meus sonhos são feitos, já que eu estou sonhando com o seu rosto – Sleeping With Sirens

Naquela manhã eu acordei sentindo um pouco de calor e assim que pude recuperar todos os sentidos, senti que braços quentes me envolviam e eu podia sentir minha respiração abafada. Tentei me mover, mas eu estava presa, então abri os olhos vendo o corpo de Tom várias vezes maior que o meu, encostado á mim.
No mesmo instante, me senti bem e respirei fundo seu perfume aproveitando o calor que seus braços me permitiam sentir. Ele tinha a cabeça acima da minha, fazendo com que meu rosto ficasse rente ao seu pescoço.
Ao mesmo tempo em que me senti bem, senti que meu corpo se grudava a roupa que eu vestia e me apavorei ao meu dar conta de que: eu estava dormindo no quarto de Tom sem me lembrar de como fui dormir na noite passada e com o mesmo vestido preto que usei!
Movi-me bruscamente e Tom acordou, o que eu achei que não seria possível. Ele se espreguiçou e se afastou um pouco para me olhar direito.
– Guten tag! – Ele disse com a voz mais rouca do que o normal.
– Ja... Guten tag – Eu respondi hesitante e ele notou.
– O que foi? Por que esse rosto?
– Kaulitz... Como eu vim parar aqui?
Ele riu abafado, mas eu não vi graça.
– Você dormiu no carro – Ele disse como se fosse apenas isso e eu fiz uma cara de “E...?” então ele continuou – Eu te trouxe no colo e Georg permitiu que você dormisse aqui, e agradeça ele por tirar suas peças “extras” de roupas, porque eu não tive coragem de encostar em você com o intuito de tirar sua roupa, nem que fosse apenas um salto.
Dessa vez quem riu fui eu da forma de preocupação exagerada que o Kaulitz encenou.
– Vou tomar um banho – eu disse começando a me levantar da cama, mas assim que eu me sentei, fui puxada de volta batendo a minha cabeça na testa de Tom.
Nós rimos enquanto fazíamos barulhos de dor. Olhei em seus olhos assim que ele ficou quieto e ele sorriu, fechando os olhos e aproximando o rosto do meu não tão devagar. Eu até iria beijá-lo, mas tampei a boca e ele notou o movimento abrindo os olhos novamente.
– O que há?
– Preciso escovar os dentes – Ele riu, mas logo em seguida fez um biquinho – Tudo bem...
Tom se inclinou novamente com um sorriso lindo no rosto e selou seus lábios no meu por alguns segundos até eu empurrar levemente ele para longe. Levantei-me e fui em direção ao banheiro me sentindo estranha a cada passo.
Não hesitei em tirar a roupa e tomei um banho gelado, lavando também o cabelo. As gotas de água gelada que batiam no meu corpo me traziam uma leve sensação de conforto e se eu não estivesse tão alerta, poderia desmaiar e dormir ali mesmo até morrer congelada. Saí do boxe enrolada na toalha branca limpa e notei que tinha me esquecido da mala, ou pior, eu nem sabia onde ela estava!
Abri um pouco a porta e coloquei a cabeça para fora, Tom ainda estava deitado na cama.
– Kaulitz, sabe onde está minha mala, se Georg a trouxe?
– Nos pés da cama – ele respondeu – Ele trouxe ontem á noite.
– Pode pegar para mim? – Eu perguntei como se fosse óbvio, e de fato era ou ele esperava que eu saísse do banheiro de toalha?
– Nein – ele respondeu com um sorriso gigante.
Eu bufei sem paciência para discutir com o garoto e saí do banheiro escorrendo água e traçando um trajeto até a cama pelo carpete do quarto. Puxei minha mala de volta ao banheiro, mas fui surpreendida antes de chegar até lá.
O Kaulitz tirou minha mão que segurava a mala e com essa, me fez girar até ficar de frente para ele. Usou uma das mãos para tirar o cabelo molhado do meu pescoço e me segurou pela nuca para me beijar, e eu ainda não tinha escovado os dentes! Ele encostou seu corpo ao meu e eu senti que a toalha fosse cair, mas seu corpo a prendia. Eu vi o olhar do mais velho pousar sobre minha toalha branca e não queria saber o que ele estava pensando agora.
Com a mão livre, levou até a borda da toalha e me fez caminhar de costas enquanto me beijava até a parede, onde pressionou seu corpo contra o meu e eu gemi de dor entre o beijo sob a pressão que me machucava. Tom parou de me beijar no mesmo instante e se afastou uns dois metros ficando de costas para mim. Ele se apoiou no frigobar.
– Desculpa, desculpa – ele repetia baixinho e eu me perguntei se ele falava comigo ou se estava rezando, mas aí me lembrei que ele não acredita em religião – Desculpa se te machuquei.
Eu perdi a fala, porque nunca havia visto Tom pedir desculpas por imprensar alguém contra a parede. Eu também nunca tinha o visto fazer isso com alguém e não seria nada agradável.
– Tudo bem – eu disse desconecta.
Tom voltou a mim sem expressar emoção, mas depois tentou sorrir. Nada convincente. Eu coloquei a mão em seu ombro e fiquei na ponta dos pés para alcançar seus lábios e lhe dei um selinho.
– Minha vez de tomar banho – ele disse e logo em seguida entrou no banheiro fechando a porta.
Eu peguei minha mala e busquei alguma peça de roupa não tão simples – agora que minha mala habitava roupas no estilo Kaulitz mais novo, o Bill – para tomar o café da manhã e quem sabe passear por Leipzig, qualquer coisa menos ficar enfurnada dentro desse hotel já que iríamos ficar na cidade por mais um dia.
Buscando a roupa, encontrei meu celular e me lembrei que tinha me esquecido de mandar o sms para Henry. Peguei o celular e escrevi em uma mensagem de texto o endereço do hotel com mais a frase: “Vamos almoçar em algum lugar novo que não seja aqui, quem sabe Chelsea vem também – sim, ela está aqui comigo. Até mais, xoxo”
Coloquei um jeans claro, uma camiseta branca com finas listras escuras, casaco jeans da mesma com que a calça e um tênis all star, coisa que a última vez que eu usei foi no meu ensino fundamental. Ajeitei a pulseira de metal que eu sempre usava e penteei o cabelo, deixando-o solto por pouco tempo até desistir de sentir calor e fazer um coque frouxo sem precisar de elástico.
Tom saiu do banheiro já vestido, e depois que eu escovei os dentes, saímos do quarto para tomar café da manhã. O corredor estava vazio e enquanto eu andava distraída, me surpreendi quando ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu estranhei de início, mas aí notei que ele não demonstrou nada de errado e tentei relaxar, caminhando de mãos dadas com Tom Kaulitz.
Eu me perguntei se algum dia, antes de pensar em vir para a Alemanha, eu me peguei imaginando um momento assim, mas nunca passou pela minha cabeça que Tom pudesse ser tão... Tão assim, tão Bill. Não é que não combinasse, mas não era dele. Lembrei-me das palavras de Chelsea no dia anterior Você conheceu o Tom Kaulitz, guitarrista da banda Tokio Hotel. Você precisa aprender a conhecer o Tom Kaulitz de verdade. O que não tem motivos para marketing e que sente como qualquer humano.”
Eu sorri e Tom viu, abrindo um grande sorriso também.
– Por que está sorrindo? – Ele me perguntou.
– Não sei direito, e porque você está sorrindo? – Eu perguntei de volta.
– Não sei direito. – Ele repetiu com mais um dos seus sorrisos fofos.
Resolvemos descer pela escada porque o elevador estava demorando. Eu me encostava ao corrimão enquanto Tom me puxava de brincadeira fingindo que iria me deixar cair. Ele me puxou pela mão que ainda segurava e eu senti o tênis escorregar e deixei escapar um gritinho, mas ele me puxou e me abraçou rindo.
– Eu quase caí! Você é um chato – Eu disse encostada ao seu peito.
– E você é uma bobona que não confia em mim – ele retrucou me apertando – Eu não te machucaria.
Ele desceu os degraus enquanto me segurava e ás vezes me colocava no colo para descer mais rápido, mas desistia e me colocava no chão. Já estávamos chegando ao térreo depois de alguns minutos de palhaçada. Já nos últimos degraus, eu tentei puxá-lo, mas não consegui movê-lo nem um centímetro, no máximo balançou a cabeça. Ele riu e ao invés de me puxar de volta, levantou o braço que segurava a minha mão e me fez rodar até parar com a mão em seu peito.
Ele inclinou a cabeça e encaixou seus lábios nos meus, iniciando um beijo lento que eu fechei os olhos sem me mover para apenas aproveitar o jeito que ele mexia na minha boca.
Eu ouvi um pigarreio forçado e logo em seguida, uma voz grossa disse:
– Guten tag, garotos!
Eu empurrei Tom com a mão que estava em seu peito, mas tinha me esquecido que ainda estava em uma escada. Grande Julia, agora você quebra a cabeça, eu pensei com quase toda a certeza e fechei os olhos esperando a queda.
Mas não veio. Eu senti braços fortes passarem por baixo dos meus e minha cabeça bateu em alguém. Abri os olhos e vi o rosto mais velho de David Jost sorrindo. Ele me colocou no mesmo degrau que Tom de volta, quando o Kaulitz passou a mão pela minha cintura.
– Podem continuar o que estavam fazendo, eu só quis ser gentil! – David gargalhou e eu ri, muito vermelha.
David passou por nós rindo e subiu as escadas. Assim que ele sumiu de vista, o Kaulitz mais velho deixou escapar uma gargalhada alta e eu sorri.
– Será que ele vai contar para alguém? – Eu perguntei.
– Talvez sim, ou talvez não – Tom deu de ombros – Ele é o David Jost, a gente o suborna e tudo fica bem.
– Ah, claro – eu arranquei um fio de cabelo meu – Vende-se fio de cabelo de Julia Schäfer, a prima do Gustav por um milhão de euros! Já estou até vendo na internet.
Tom me apertou mais enquanto ria da minha piada super sem graça. Chegamos à recepção ainda de mãos dadas e enquanto eu passava pelo balcão senti flashes na minha direção e levei minha outra mão ao rosto automaticamente.
– Que lindo! – Ouvi uma voz conhecida e abri os olhos quando os flashes pararam – Se eu fosse um fotógrafo da Bild de plantão Julia já estaria nos jornais.
Chelsea segurava uma maquina fotográfica bem pequena nas mãos se segurando para não rir. Eu me soltei de Tom e fui até ela, arranquei a máquina de suas mãos.
– Sua maluca! Já pensou se alguém pega isso?
– Bom dia para você também, amizade – Ela riu – Bill achou a máquina na mala dele e disse que pertencia a Tom. Eu iria até entregá-la vazia, mas essas fotos ficaram lindas.
Eu passei as fotos e vi em todas elas como uma seqüência. A primeira, eu e Tom descendo as escadas de mãos dadas, a segunda tinha Jost na frente de Tom, mas dava para me ver de costas, a terceira, Tom me apertava em um abraço, e depois tinhas as fotos com flashes que eu levei a mão ao rosto, mas essa não era a parte importante da foto. Estavam todas incríveis, capturadas de uma forma perfeita e com um tom de cores que se combinavam.
– Lindas, não? – Chel sorriu.
– Sim.
– Acho que vou ser fotógrafa – Eu dei um passo para longe dela e ela riu – Não uma paparazzi! Vou ser fotógrafa de modelos, de entrevistas e essas coisas que dão mais dinheiro do que fotos tremidas que todo mundo duvida se é verdade ou mentira.
– Boa sorte então – Tom, que se aproximava, pegou a maquina para olhar as fotos e logo disse:
– Já que a máquina é minha, deixa que eu fico com isso – Tom colocou a máquina no bolso gigante da sua calça – Vamos tomar o café?
– Não sem mim! – Ouvi Bill gritar com sua voz afinada e eu ri acompanhada por Chelsea.
Bill tentava colocar uma touca por cima do cabelo preto liso sem a armação de leãozinho. Ele chegou com um casaco na mão que logo entregou para Chelsea e a segurou pela cintura, virando-a para ele. Ele beijou Chel bem na frente minha e de Tom. Mas o mais estranho foi a forma que ele o fez. A forma que a segurou e tocou delicadamente nela. Parecia Tom.
Nossa, se eu estivesse com minhas amigas que são apaixonadas pelo Bill aqui, rolaria um barraco.
– Sossega o fogo, Bill – Tom disse segurando-se para não rir – Olha só quem eu achei, Gus e Georg.
Tom acenou para o elevador e os Gs vinham caminhando lentamente de lá, Gustav falava ao telefone e eu não parei para prestar atenção e nem queria. Abracei Georg e depois Gustav – que desligou o telefone em seguida, e fomos todos para a sala que costumava ser servida o café da manhã.
Um garçom apareceu logo que Bill passou pela porta e disse já ter reservado uma mesa para todos eles, a pedido de David, que também deixou um bilhete dizendo que todos deveriam comer frutas, porque senão a mãe de cada um iria bater nele.
– Quem quer ver Jost apanhar? – Georg fez uma simples piada que nos fez rir, mas no final, ninguém desobedeceu, fomos todos em fila para o muro de frutas.
Eu peguei alguns morangos e coloquei uma maçã ao lado. Eles serviam caldas também, e eu coloquei chocolate por cima. Bill olhou nojento para meu prato, devido á sua alergia á maçãs e por não gostar de chocolate.
Bill pegou duas bananas, colocou o prato na mesa e disse:
– Olha o que eu sei fazer! – Ele fez malabarismo com as bananas e eu ri sem saber como reagir a uma coisa idiota daquelas – Viu, Tom? Sou melhor que você.
Tom, o maior impulsivo que eu já conheci, se jogou em Bill tentando pegar as bananas, mas o mais novo era mais alto e os dois ficaram brigando por conta de duas bananas.
– Bill! Dê as bananas para o pingüim e pega outras – Chel disse.
– Mas a graça é implicar com ele – Bill respondeu rindo.
– Kaulitz – Eu chamei Tom, mas os dois se viraram para mim e eu mostrei um morango para o mais velho.
Eu tinha em mente o que estava fazendo. Sabendo muito bem que o meu Kaulitz é um tarado do caramba, eu mordi metade do morango rente ao piercing e ele arqueou uma sobrancelha, mexendo em seu piercing com a língua. Ele soltou Bill e veio até a mim, segurou a mão que eu segurava o morango e se aproximou da minha boca molhada com o suco de morango.
– Quer me provocar, Schäfer? – Ele riu com a voz rouca e eu sorri.
– JULIA! – Eu vi Bill reclamar devolvendo as bananas sem mais utilidades para a travessa, e ouvi risadas dos outros garotos.
Eu fiz Tom me soltar sorrindo e terminei de comer o morango, levando meu prato de café da manhã para a mesa onde Chel já estava sentada. Sentei-me na ponta ao lado dela.
Vi Tom e Bill – empurrando um ao outro – terminarem de preparar seus pratos no mesmo momento. Os dois se viraram e viram a cadeira vazia na frente de Chel, mas ao meu lado. Eu sabia agora que os gêmeos dividiam o mesmo pensamento – de correr e se sentar na cadeira vaga.
Os Kaulitz vieram correndo em direção a cadeira, e assim que chegaram, eles se empurravam tentando se sentarem na cadeira. Há essa hora, todos na mesa riam, e os que não estavam na mesa, assistiam de longe no refeitório a briga dos gêmeos idênticos, mas nada parecidos.
– Cinco no Bill – Eu ouvi Gustav falando para o castanho ao seu lado.
– Dez no Tom – Georg riu colocando a mão no bolso.
E logo depois, Bill conseguiu empurrar Tom para longe e se sentou na cadeira, ganhando a pequena disputa. Gustav gargalhou para Georg que agora lhe passava dez euros.
Então eu usei minha arma secreta. Chamei o Kaulitz mais novo e mordi minha maçã com chocolate. Ele fez uma cara de nojo e trocou de lugar, permitindo que Tom se sentasse ao meu lado. Gustav fez um biquinho tendo que devolver o dinheiro com mais cinco euros para Georg, e eu deixei que o sorriso se alastrasse pelo meu rosto, defendendo o meu lado favorito da banda – que Gustav nunca saiba que meu G favorito é o Listing.

Depois de muitas gargalhadas na mesa que estava muito mais animada naquele dia com a mudança de humor de Tom – que antes estava um rabugento mal-humorado que quase não falava com ninguém. Todos notaram, é claro. Mas não precisaram perguntar o motivo.
– Alguém está muito animado hoje – Georg comentou.
– Aposto que sou eu – Disse Tom sorrindo.
– Com uma noite daquelas, duvido que não fique!
A mesa tremeu com as risadas, mas eu não tinha entendido muito bem a piada. Georg fez o favor de explicá-la.
– Aí a baixinha foi carregada como princesa até o quarto, e como o sapo não sabe fazer nada, o príncipe aqui precisou arrumar a menina para dormir, com todo o respeito, Gustav – Disse o castanho.
Então eu entendi a piada e me segurei para não rir enquanto fazia uma careta para Georg.
– Baixinha? Que... Georg! Até você? Garotos, eu nem sou tão pequena – Eu disse corada.
– Ela está certa – Gustav disse – Eu tenho fãs do tamanho dela.
– Viu? Meu primo concorda.
– Aquelas fãs de treze anos, lembra Bill?
E mais risos enchiam o humor da mesa.

Ficamos na sala de jogos conversando e às vezes disputando algumas partidas de jogos eletrônicos. David tinha nos procurado para avisar que o dia seria livre e que na manhã do dia seguinte, partiríamos para Bremen, alguma cidade que eu nunca ouvi falar, mas tudo bem.
Meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei, tinha acabado de receber uma mensagem de texto.
“Estou chegando em cinco minutos. A Chel está arrumada? Ela costumava ser a mais atrasada da turma kkk, beijos, H. Hörn”
Eu sorri e cutuquei Chel no braço.
– Ai! O que foi?
– Vamos sair? – Ela sorriu.
– Pra onde?
– Sei lá, olha isso aqui – eu mostrei as mensagens para Chelsea e ela levou a mão à boca – Vamos?
– Julia! É o Henry!
– E daí? Ele só quer voltar a ser meu amigo, e provavelmente, seu também.
Chelsea bufou, mas por mais que tentasse parecer brava, ela não conseguia. Sorriu e aceitou com um aceno de cabeça.
– Mas não se esqueça que você não pode...
– Já sei, Chel. Naquela época eu era uma desocupada, agora eu sei de quem eu realmente gosto.
– Acho bom.
Avisamos de forma rápida que iríamos passear pela cidade e mais tarde voltaríamos ao hotel.
– Eu também vou sair – Disse Gustav – Vou me encontrar com Agnes.
– Quem? – A banda e nós duas fizemos coro.
– Agnes Campbell, a garota da carta – Gustav explicou – Chamei-a para sair.
Eu bati palmas, mas sem delongas, me retirei da sala com Chel ao meu lado e desci as escadas até a recepção. Estava meio vazia, mas eu vi um menino muito alto, cabelos escuros e alargadores pequenos atravessando a recepção.
– Boa tarde, aqui está hospedada Julia Benjamin? – Eu ouvi-o dizer, e soltei um pequeno gritinho,
– HENRY! – Eu corri e o abracei.
Qualquer um que não saiba da nossa história acharia aquele abraço totalmente estranha, mas é que antes, Henry era meu melhor amigo. Tínhamos certa intimidade e era sempre assim. Eu não o via desde que saí do Brasil, mas ele não tinha mudado tanto, era só saudade mesmo. O garoto de olhos cinzas me fitou com um sorriso bobo no rosto.
– Como vai minha Ju? – Ele beijou meu rosto – O que é isso? Um piercing?
– Sim, o que achou?
– Lindo, como sempre e como tudo que você usa. – Seu olhar me atravessou e ele viu Chel, quem não via há anos desde que terminaram o namoro.
Não foi porque tinha acabado o amor, mas porque Chel iria voltar a viver na Alemanha e um namoro a distância não era boa coisa para nenhum dos dois. Eu só não esperava que eles reagissem de forma tão tensa.
– Qual é? Não vão se abraçar? – Eu empurrei Henry para cima de Chelsea e ela riu, quebrando o clima. Os dois se abraçaram, se cumprimentando.
– E agora? Vamos sair? – Henry perguntou tentando fazer cócegas em mim – Eu escolhi um parque em Leipzig que tem várias coisas para se fazer.
– Tudo bem, mas precisamos voltar para o jantar porque Bill disse algo sobre querer fazer um jantar com todos juntos. – Disse Chel.
– Bill? – Henry perguntou – Quem é Bill?
Eu olhei para trás, o hotel já começava a se distanciar.
– No parque eu te conto – eu sorri.
– Você é uma chata! – Henry apertou minhas bochechas – Nossa, quanto tempo eu não fazia isso.
– Hen, a curiosidade matou o gato – Rimos.
– O gato tinha sete vidas – Ele retrucou – Ele ainda tem mais seis e ele gastaria todas elas se fossem por você.
Eu fiquei vermelha e os dois notaram.
– Tinha até me esquecido de como é fazer você ficar vermelha – O garoto de olhos cinzas beijou minha bochecha vermelha e me pegou no colo – Agora me conta quem é Bill.
Eu respirei fundo e o fiz me colocar no chão.
– Lembra daquela banda que eu sempre fui meio fanática? – Eu perguntei sem esperar por respostas – Então, sabe que Gustav é baterista dela? Eu vim para cá e acabei ficando na casa deles...
– Eles também moram em hotel?
– Não, não! Acontece que entraram em turnê e me trouxeram junto com Chelsea. Bill é o vocalista que se apaixonou por ela.
– E Tom... – Chel começou, mas eu tapei sua boca antes que terminasse.
– E Tom o que? – Henry perguntou.
– É o irmão gêmeo do Bill – Eu respondi.
– Só isso? Qual nome deles mesmo?
– Tokio Hotel, é, só isso – Eu fuzilei Chelsea com o olhar e ela segurou o riso.
– Espera, aqueles meninos que você costumava gostar? O motivo de te chamarem de Creepy Bones? – Ele perguntou rindo.
– Nossa! Até você se lembra disso – Eu fiz uma careta e ele me puxou para um abraço de lado – Ai, me larga seu chato! – Nós rimos.
– Você realizou seu sonho? Foi em algum show deles? – Ele perguntou em aleatório, não parecia estar tão interessado na resposta.
– É, fui.
– E o rapper falso que você gostava? O conheceu?
– Ele é o Tom e ele não é nada falso, Hen – Eu disse com vontade de dizer que na verdade, Tom é bem real.
Chegamos ao parque e conversa vai, conversa vem. Falávamos demais, mas não dizíamos nada. Henry conversava normalmente, mas hesitante de alguma forma que não sabia como explicar. Como se ele temesse falar algo e sempre que os olhares de Chel e Henry se encontravam, ele era o primeiro a desviar. Eu estranhei. Até àquela hora.
– E aí, Ju... Namorando alguém?
Então eu saquei tudo, ou pelo menos parte de tudo. Henry só queria chegar aquele ponto, eu ri trocando olhares com Chelsea.
– Não, não – Eu praticamente menti. Quero dizer, não era nada sério com Tom e talvez nem tivesse futuro. Na verdade eu nem tinha parado para pensar nisso, e nem queria. Balancei a cabeça afastando o pensamento.
– Então que ótimo, porque eu também estou livre – eu estranhei, não queria nada com Henry, não mais – E você, Chel?
– Na verdade, estou sim, namorando, sabe Julia – Chel me encarou séria devido a minha resposta anterior – Com o Bill.
– Wow – Henry exclamou – Que sorte! E como é namorar uma estrela do rock?
– Nada demais, ele é só o Bill – Chelsea disse de forma carinhosa, mas incomodada com a conversa com o ex-namorado.
– Eu pensei até que você estaria envolvida com o irmão dele – Henry riu dizendo isso para mim e eu tentei rir, mas pareceu muito falso.
Chelsea parecia olhar através de mim, e eu me virei para procurar o que ela estava olhando – bem no fundo do parque, vimos uma multidão de garotas, a maioria gritando histericamente, correndo e formando um círculo desorganizado em volta de alguma coisa. Eu passei a mão na testa, já sabia o que era.
– Ah, não! – Eu falei baixo.
Chelsea se levantou na mesma hora e eu puxei seu braço.
– Chel, deve estar cheio de fotógrafos! – Eu alertei – Não vai.
– Mas e se elas o machucarem? Os seguranças não devem estar aqui – Chelsea disse um pouco manhosa.
– Devem estar sim, calma aí.
– Do que vocês estão falando? – Henry perguntou e eu apontei para a multidão que se formava bem longe no final do parque – São eles? – Eu afirmei e Henry bufou parecendo irritado.
– Julia, eu já volto – Chelsea disse, caminhando rapidamente em direção á multidão – Acho que vi uma amiga por ali...
– Aham, sei – eu bufei.
Logo que Chelsea desapareceu de vista eu me senti vulnerável perto de Henry. Não era uma coisa comum de se sentir, afinal, ele costumava ser meu melhor amigo! Como eu podia estar me sentindo tão sozinha perto dele? Logo soube da resposta.
– Jus... – Henry começou – Você deve estar se perguntando por que raios eu te liguei do nada querendo falar com você.
– Sim – eu ri –, eu estou.
– Acontece que, desde que a Chel veio para cá, quando nos deixou no Brasil... – Ele levou a mão aos fios de cabelo preto incrivelmente lindos e eu devo ter me perdido em seus olhos cinzas – Não sei como dizer isso. Vou direito ao ponto: Jus, ainda estou apaixonado por você.
Eu me surpreendi. Um pouco.
– Henry...
– Não, sério agora, Julia – Ele levou uma das mãos para minha cintura e eu tentei afastá-lo, mas ele resistiu como se eu não tivesse feito nada – A gente já tinha alguma coisa antes da Chelsea, eu sei disso.
– Sim, tínhamos, Henry!
– E agora ela não me altera mais! – Ele disse mais alto enquanto se aproximava – Eu posso ficar com você.
Eu senti aquela frase como uma ofensa! Senti-me um lixo, como a segunda opção, o que eu realmente era perto da beleza inacreditável da Chelsea, mas não ligava muito.
Mas eu não pude me mover demais. Henry estava tão próximo que eu sentia sua respiração quente, me alterava e era como se me prendesse ali. Eu não tinha forças para sair, eu queria estar ali. Eu o vi fechar os olhos e ouvi um grito muito agudo vindo de trás, provavelmente de alguma fã.
Fã. Uma fã do Tokio Hotel. Uma fã do Tom Kaulitz. E esse era o motivo pelo qual eu não queria beijar Henry. Porque eu amava demais o Kaulitz estúpido que não acreditava em amor. Dane-se ele, eu o amo.
Eu empurrei Henry com a mão em seu peito e ele abriu os olhos assustado. Levantei-me do banco que estávamos sentados e olhei para os lados. Vi o Kaulitz mais velho parado um pouco longe da multidão balançando uma chave de carro, e atrás dele, algumas garotas corriam tentando alcançá-lo, mas ele ainda estava longe demais delas.
Tom parecia chocado demais para expressar alguma emoção clara, e logo em seguida, eu o vi correr para longe do parque.
– TOM! – Eu gritei, e corri atrás dele deixando Henry para trás.
Eu não me importava o que o garoto pensava de mim agora, provavelmente que eu deixei de beijá-lo porque vi meu ídolo ali no parque, mas não estava realmente ligando para isso.
Corri mais que minhas pernas agüentavam para conseguir seguir o Kaulitz, que era maior e mais rápido do que eu. Ele virou a esquina e eu ainda ouvia gritos histéricos atrás de mim, foi só me virar para levar um choque. Nossa, quanta garota!
Eu virei a esquina e vi a cabeça do Kaulitz passando por entre os carros até chegar ao carro perto dele, um Cadillac Escalade preto que eu conhecia bem. Corri um pouco mais rápido e o alcancei.
– Kaulitz! – Disse em um tom que os dois podiam ouvir.
– Não quero, ouvir, Schäfer! – Ele disse mais alto do que eu.
– Por favor, presta atenção! – Eu gritei – Ele se chama Henry, tem dezoito anos e estuda na minha escola, lá no Brasil e...
– EU NÃO QUERO SABER QUEM É ELE! EU TE VI O BEIJANDO! – Tom bateu com o punho no carro.
– Não foi nada disso! Eu não o beijei! Eu não permiti!
– Schäfer, conta outra! Você bem que gostaria, não é? – Ele falou rápido e eu precisei de segundos para entender o alemão embolado que ele falava – Primeiro Georg, depois esse Hen-sei-lá e eu sou uma última opção. Como sempre fui para você! Esse é o motivo de você me ignorar tanto, você quer estar com todos!
Eu arregalei os olhos e não me permiti dar um tapa na cara daquele garoto.
– O QUE VOCÊ TEM? Você está maluco? Kaulitz você nunca... Nunca foi segunda opção. ACONTECEU, está bem? Com Georg foi... Confuso e agora Henry tentou me beijar, mas eu não permiti, sabe por quê?
– Eu não quero saber de nada, Schäfer – Disse ele, cheio de ódio nos olhos – Eu já tenho opinião formada sobre você. Agora eu tenho.
– E qual é? – Eu perguntei.
– Você só está testando todos para escolher o melhor, o prêmio final. O próximo é o Bill, não é?
Eu não me controlei e encurtei o nosso espaço, dando-lhe um tapa na cara. Ficou a marca dos meus dedos no mesmo segundo.
– Scheiße, Kaulitz! Cala a boca e me ouve agora – Ele tentou retrucar, mas eu fui mais rápida – Não venha me atrapalhar! Você acha que eu sou uma vadiazinha daquelas que você pega por aí, do tipo que sai beijando quem aparece? Eu NÃO sou, está bem? Uma vez eu gostei do Henry e nunca tive a chance de beijá-lo, mas eu não o beijei hoje e provavelmente nunca mais vou fazer isso, isso não importa nada para mim agora. Eu não quero saber do Henry.
– Você me bateu! – O Kaulitz disse quando eu abri uma brecha para respirar.
– Bati sim, e o que você vai fazer? Espancar-me? – Eu o desafiei, mas ele ficou sem reação – Eu tinha um sonho, e ele nunca iria se realizar, até pouco tempo atrás e eu me dei conta de que as coisas mais improváveis também podem acontecer com a mais improvável pessoa – Eu disse um pouco mais calma – E agora eu não quero mais saber de nada além desse meu sonho.
– Encontrou alguém melhor que Henry? – Tom perguntou, arqueando a sobrancelha e eu afirmei com a cabeça.
Ele abaixou a dele parecendo um pouco triste e eu me perguntei se ele não tinha entendido a indireta bem direta que eu lancei, e foi óbvio que não, ele definitivamente não entendia minhas diretas.
Então Tom levantou a cabeça com aquele olhar estranho. Ele mexeu no piercing com a língua – o que não havia necessidade no momento, mas a qualquer hora ele pode fazer isso para mim que eu deixo. O garoto colocou a mão na minha cintura e me empurrou de leve, que foi o suficiente para que eu fosse encostada no carro batendo as costas.
Tom encostou-se a mim, e parecia não ter mais medo de me machucar, fazendo com que uma de suas pernas se colocasse entre a minha. Ele segurou meu pescoço e fez um belo trabalho no mesmo lugar, como na noite anterior. Mordicava, beijava e alguns leves chupões me fizeram gemer baixinho.
– Encontrou alguém melhor do que eu? – Ele sussurrou rouco próximo ao meu ouvido.
Se eu pudesse aos menos respirar, eu o responderia antes que ele atacasse minha boca com ferocidade e sem sentimento, tornando o beijo muito automático que aos poucos se tornava mais calmo, mais emocionante e mais sentimental, um misto de ciúmes, provocação e felicidade. Muita contradição em uma pessoa só.
Eu puxei seus dreads sem pensar se iria ou não machucá-lo. Tentei fazer com que ele se afastasse de mim, tentei o empurrar e até mesmo chutá-lo, mas sua perna prendia a minha. Eu estava sem fuga em uma prisão perfeita.
Quando o senti morder meu lábio inferior próximo ao piercing, eu parei de tentar fugir e ele percebeu que eu havia cedido, tornando-se mais cuidadoso. A mão que antes estava no meu pescoço, agora acariciava com o dedão minha bochecha, e a mão que antes estava em minha cintura traçava um caminho pela lateral do meu corpo. Ele finalizou o beijo quente com alguns selinhos por cima do piercing e se afastou para poder olhar nos meus olhos, parecia triste.
Sua boca estava vermelha e eu achei aquilo lindo. Sorri, passando a mão em seus dreads loiros. Imaginei como seria me ver de fora e comecei a aturar minha altura por ela ter de obrigar Tom inclinar a cabeça para poder olhar nos meus olhos. O que estávamos fazendo? Eu realmente não sei. Eu via o rosto do meu ex-ídolo na minha frente e me lembrava de cada sentimento que eu sentia quando ouvia algum solo de guitarra e ás vezes seus backings vocais nas músicas. Mas o que ele estava pensando, eu nem imagino.
– Schäfer – ele disse relaxado – Não posso ficar aqui.
Eu ergui uma sobrancelha em dúvida.
– As fãs, lembra?
Ele sorriu de lado, pegou minha mão, abriu a porta do passageiro do seu Cadillac e eu entrei. Esse desejo de ser famoso não é para mim, desde que quando eu era menor, me imaginava nas câmeras ao lado do Tom, e eu definitivamente não combinava com ele. E ainda não combino, deu para ver que nossa relação é uma cama de gatos.
Tom ligou o carro e deu a partida apertando o pé no acelerador. De repente, eu fiquei preocupada com Chelsea e Henry. O que não era comum, porque eu não sou do tipo de pessoa que me preocupo com as outras.
– Kaulitz, e os outros? – Eu perguntei.
– Que outros? Bill e os garotos estão com James. Eles sabem que eu vim de carro.
– E Chelsea e... – Eu desisti de fazer a pergunta.
– Se ele encontrar com Bill, ótimo. Se não, ela é alemã não é? Ela volta sozinha.
Eu fiquei quieta e liguei o “dane-se mundo” para Chel e Henry. Respirei fundo e já estava melhor. Olhei para as ruas que estavam um pouco vazias e estranhei. Tom não parecia prestar atenção em nada enquanto dirigia, mas ao contrário do que parece, ele dirigia muito bem. Deixou apenas uma mão no volante e a outra ele segurou minha mão de forma carinhosa que nada combinava com ele.
Foi só eu pensar nisso que ele moveu a mão até minha coxa, que logo ficou quente por baixo do jeans com a temperatura humana que emanava a mão dele.
– Conheço tudo por aqui – Ele disse e eu me segurei para não rir. – Vamos tomar um sorvete?
– Mas, Kaulitz...
– Pode deixar, é uma sorveteria mais afastada do centro.
Depois de um tempo dirigindo com uma só mão, ele tirou a outra da minha perna distraidamente e voltou a dirigir com as duas. Notei que nos afastávamos do centro quando os prédios começavam a ser substituídos por pequenas casas. O Cadillac parou em frente a uma casa de dois andares amarela com um jardim decorado. Saímos do carro e eu pensei que ele fosse tocar a campainha ou coisa do tipo, mas ele apenas gritou:
– ANDREAS!
E da janela do segundo andar, um rapaz loiro apareceu acenando. Eu já tinha o visto em fotos. O melhor amigo dos Kaulitz, fora Gustav e Georg. Mas quando Andreas tinha se tornado tão esquelético?
A porta da frente e abriu revelando o Kaulitz mais novo, e logo depois, Chelsea, Gustav, uma menina com cabelos curtos e castanhos usando uma franja que eu acho que já a vi em algum lugar, Georg, Andreas e uma menina mais baixa, também esquelética com o rosto muito fino que fazia seu queixo parecer grande, mas fora isso, cabelos castanhos com mexas claras e olhos de um castanho claro. Tinha um sorriso bonito.
Eu devo ter ficado com o queixo lá em baixo, tipo, de onde saiu tanta gente? E que raios Chelsea estava fazendo lá? Onde está Henry?
– Finalmente você apareceu! – Andreas trocou um abraço com Tom e depois ficou me avaliando do alto, muito alto esse Andreas – Essa é a Julia?
Engraçado como os alemães inexperientes falam meu J parecido com um X deixando meu nome como “xulia”.
– Ja, a garota do Brasil – Tom respondeu com um sorriso sacana no rosto. Viu o apelido de novo?
– Prazer, Andreas – Andreas estendeu a mão e eu o cumprimentei respondendo o mesmo.
A menina de cabelos castanhos correu um pouco até se jogar nos braços de Tom. No início eu estranhei e controlei o impulso.
– Hallo Hil! – Tom disse para a menina. Que tipo de nome é “Hil”?
Depois daquele drama de reencontro, os meninos se apressaram e fazer as apresentações. Descobri que a menina de curtos cabelos castanhos se chama Agnes e é a menina que segurou meu tornozelo dois dias atrás e agora está saindo com Gustie – essa última parte eu deduzi. Hil é um apelido para Hilary, irmã de Andreas e muito, muito simpática. Eu e Chel trocamos um papo em português e ela me disse que Henry recebeu uma ligação da mãe e precisou ir para casa, mais tarde mandaria um sms.
Por mais incrível que parece, ficamos todos sentados no meio-fio daquela rua que quase não passava carro, muito menos fotógrafos.
– Qual seu pior acidente? – Andreas perguntou para Tom na brincadeira sem graça que todos estavam participando.
– Hm... Uma vez eu e Bill estávamos esquiando e eu fui subir a montanha do modo errado, veio uma menina e o esqui dela veio no meu supercílio. Eu levei pontos e tenho uma cicatriz – Tom apontou para um pequeno risco acima da sua testa. Eu imaginei a cena do gelo branco sendo tingido pelo vermelho sangue de Tom e estremeci.
– Julia – Georg me tirou do transe mental – Qual sua pior lembrança?
Eu estremeci novamente ao lembrar.
– Não é algo que eu tenha visto, é mais uma voz – Eu expliquei – Estava no telefone com uma amiga e ela me disse que estava fugindo de casa para realizar seus sonhos, e que eu deveria fazer isso também, porque foi a coisa mais incrível que ela já fez. – Eu parei de falar por alguns segundos.
– E...? – Chelsea me incentivou a continuar e eu fitei Gustav, que estava congelado.
– E aí eu ouvi uma buzina muito alta vindo do telefone que estava com muita interferência, e depois uma batida feia de carro, o telefone desligou e eu soube que tinha acontecido algo com ela...
Eu disse automaticamente como se nem fosse uma lembrança tão ruim. Lembrei-me da voz alta da minha amiga gritando do outro lado do telefone e logo depois, o estrondo muito alto.
– E o que aconteceu com ela? – Hilary perguntou interessada.
– Está meio viva e meio morta – Gustav respondeu com o mesmo tom automático, mas de uma forma muito mais assustadora.
– Como um zumbi? -Tom gargalhou.
– Em coma – Gustie respondeu por cima da palhaçada de Tom, que ficou chocado.
O silêncio foi tenso por um tempo, até que alguém teve a cara de pau de quebrar o silêncio e voltar ás perguntas.
– Hil, qual foi sua maior paixão? – Bill perguntou para Hilary.
E as perguntas e respostas seguintes eu não prestei atenção direito enquanto o rosto loiro com mexas rosas e delicado com olhos claros de Jamie Schäfer se transformava em um rosto pálido, sem vida, com cabelos sem cor e os olhos fechados.
Jamie Klaus Wolfgang Schäfer, irmã mais nova de Gustav, minha prima. Minha irmã mais velha, a garota que me fez viver. Quem me ensinou a cantar perfeitamente bem em alemão, quem me fez ouvir todas as músicas do álbum Schrei até me tornar fanática pela banda, quem me deu os melhores conselhos e esperanças. Que era apaixonada por Georg e fazia o máximo para chamar atenção dele, ia a todos os concertos na Alemanha escondida do irmão só para ver o Listing. A garota que fechou os olhos para vida cega de sonhos querendo se tornar modelo na França, e fugiu de casa para realizar o sonho. Fechou os olhos e bateu de frente com um caminhão, perdendo parte das funções realizadas pelo cérebro e hoje está deitada em uma cama de hospital qualquer, respirando por máquinas.
Minha heroína eterna. Que me fez acreditar que eu poderia estar com Tom algum dia.
Por causa dela, a regra número cinco da lista de regras patéticas do Gustav era “Não fuja”. E também fora ela quem me deu a pulseira de metal que quase rasgou a camiseta do Tom no hotel em Berlim.
Eu despertei do transe novamente quando recebi um peteleco no braço, me virei e bati com a cabeça no queixo de Tom, que caiu sentado do meu lado gemendo de dor, nós rimos.
– Que cabeçona, ein! – Ele brincou mexendo no meu cabelo.
– Você que é um tonto de ficar em um lugar não muito estratégico sabendo que eu tenho trauma de sustos.
Tom levou seus dedos até meu queixo e sussurrou:
– Se esqueceu do sorvete? Eu quero de baunilha.
– Então somos dois – Eu respondi, me levantando do meio-fio com Tom.
Ele envolveu seu braço na minha cintura e saímos caminhando na calçada para longe da casa de Andreas. Então eu fui perceber que ninguém mais estava ali. Todos já tinham ido para a sorveteria.
Chegamos na sorveteria e eu me sentei na mesa em que todos os outros estavam sentados já tomando seus sorvetes, Tom chegou na mesa com dois milk-shakes de baunilha, um para mim e outro para ele.
Como eu não sou nada boa em fazer nada, mesmo com um canudo eu conseguia sujar todo o meu rosto tomando milk-shake. Às vezes alguém contava uma piada e eu acabava rindo enquanto engolia. Tom ria na mesma hora sendo acompanhado pelos outros. Chegou uma hora que eu fiquei com raivinha e atirei o copo quase vazio na cabeça dele, que se desviou por pouco.
O celular de Bill tocou, era David Jost. Ele estava chamando todos para voltar ao hotel simplesmente por nenhum motivo. Na verdade ele respondeu “Porque eu sou a babá de vocês, e quero que voltem agora”.
Na frente da casa de Andreas novamente, todos se despediram do loiro esquelético e de Hilary.
– Foi bom te conhecer – Ela disse para mim com dois beijinhos na bochecha.
– Sim, igualmente – eu respondi desconecta.
Bill, Chel, Tom, Georg e eu fomos no Cadillac do Tom, enquanto Gustav e Agnes foram com James. Ele iria deixá-la em casa e eu nem quero saber o que mais.
Chegamos ao hotel e eu estava me sentindo exausta. Voltei com Tom para o quarto, ele se deitou na cama dizendo que depois iria tomar banho e eu liguei o notebook para checar e-mails. Sem nenhuma novidade e o Tom parecia dormindo, eu abaixei um pouco a tela do notebook e entrei no banheiro para tomar um banho.
Fiz minha higiene normalmente e coloquei meu pijama, já que estava escurecendo. Prendi o cabelo em um coque e saí do banheiro, vendo Tom segurando meu notebook com uma expressão de raiva no rosto.
Então eu me dei conta quando ele empurrou minha mala, que se abriu revelando a minha camisa do Tokio Hotel favorita jogada por cima das roupas desorganizadas.
Um grito fino escapou da minha garganta e o inferno tinha acabado de começar para mim.

Conte-me todas as mentiras, me faça acreditar nelas, não consigo mais respirar, e este silêncio me deixa surdo – Hilf Mir Fliegen.

Postado por: Grasiele

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