quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 31 - Amor e Ódio

(Contado pelo Bill)

      Ficamos ali a beira do lago até o Sol desaparecer completamente. Minha intenção provavelmente era levar a Duda pra casa do seu pai, para pegar suas coisas e ir pro hotel onde sua mãe estava hospedada. Entramos no carro, e fomos pra casa do John. Quando chegamos, um táxi estava parado em frente à mesma, e o pai dela apareceu segurando algumas malas.

           - Que malas são essas? – pergunta Duda.
           - São as suas malas. – responde ele. – Já que não irá ficar mais aqui, então as suas coisas também não ficarão.
           - Mexeu nas minhas coisas?
           - Não. Pedi que a Carol fizesse isso. Mas fica tranqüila, porque ela só fez o que eu pedi, e nada mais.

      Duda entrou furiosa, subiu as escadas, e chegou ao quarto. Carol terminava de colocar algumas roupas dentro de uma mala. Fiquei calado, pra deixar as duas resolverem as coisas, “sozinhas”.

           - Me desculpe. – disse Carol. – Eu não deveria estar mexendo nas suas coisas. Mas se eu fosse deixar pro seu pai fazer isso, ele provavelmente estragaria boa parte dos seus objetos.
           - Obrigada. – disse Duda. – E não estou dizendo isso só por estar arrumando as minhas coisas, mas por ter dito tudo aquilo na frente do juiz.
           - Não tem que agradecer. Eu só não poderia deixar que uma injustiça fosse cometida. Na sua idade, eu também fui afastada da minha mãe pelo meu pai. E sei muito bem o quanto é horrível.
           - Acho que eu lhe devo desculpas pelas coisas horríveis que disse. Fui muito rude com você, e nem ao menos deixei que me mostrasse quem realmente era.
           - Eu também disse muitas coisas.
           - Posso... posso lhe dar um abraço?
           - Claro.

      As duas se abraçaram. Eu estava me sentindo um intruso ali.

           - Tenho que confessar algumas coisas. – disse Carol.
           - Que tipo de coisas?
           - Aquela famosa torta que você fez assim que chegou aqui, eu não a joguei pros cachorros.
           - E o que fez com ela?
           - Comi tudo sozinha. Inventei aquilo, pois senti ciúmes. É idiotice, eu sei.
           - Tá falando sério?
           - Um-hum. Mandei pintar o seu quarto de rosa, propositalmente. Eu queria saber qual seria a sua reação quando visse.
           - E sabe que não foi uma das melhores, não é?
           - Sei sim. E tem mais uma coisa.
           - Tem mais?
           - Irei me separar do John.
           - O quê?
           - Como você mesma disse “se ele foi capaz de fazer aquilo com a própria filha, imagine o que faria comigo”. Não quero ficar e esperar pra ver o que pode acontecer.
           - Pensei que gostasse dele.
           - Também pensei isso. Mas acho que na verdade eu só queria prejudicar a sua mãe. Ela sempre foi melhor em tudo, e quando consegui me aproximar do John, achei a oportunidade perfeita pra “acabar” com ela.

      Aquela conversa não demorou muito tempo. Duda pegou as últimas coisas que restavam ali. Transferimos tudo que estava no táxi, para o meu carro. Depois disso, fomos até o hotel onde a mãe dela estava.

           - Pronto. Essa foi a última mala. – disse.
           - Obrigada. – disse Duda.
           - Por nada. – olhei no relógio. – Bem, está ficando um pouco tarde. É melhor eu ir pra casa e deixar vocês duas conversarem em paz.
           - Filha, eu tenho algumas coisas pra resolver... – disse Amanda. – Porque não sai pra dar uma volta com o Bill?
           - Que tipo de coisas? – pergunta Duda.
           - Assuntos de trabalho.
           - Tudo bem.

      Que tipo de mãe após ganhar a guarda da sua filha, diz para ela sair? Amanda não deveria curtir a filha? Se bem que as duas terão bastante tempo para curtirem juntas. Mas mesmo assim. Enfim, Duda e eu saímos dali, mas não tínhamos nenhum lugar em especial para irmos. Ficamos rodando com o carro por alguns minutos.

           - Sugere algum lugar? – perguntei.
           - O que acha de irmos pra sua casa?
           - Ta legal.

      Pra minha casa? Sei que existe lugar melhor do que lá. Estacionei o carro, e saímos do mesmo. Caminhamos até a entrada, tirei a chave do bolso e coloquei na fechadura. Girei pro lado direito, e entramos. As luzes estavam apagadas, o que significava que o Tom ainda não tinha chegado. E se ele ainda não chegou, quer dizer que só aparecerá por aqui na manhã seguinte.

           - Eu vou tomar um banho. – disse. – Se importa em ficar alguns minutos sozinha?
           - Não. Pode ir, eu me viro por aqui.

      Eu não queria deixá-la sozinha por muito tempo, então tomei um banho rápido. Sai do banheiro, com uma toalha enrolada em minha cintura. Me assustei ao vê-la ali parada, olhando aqueles mesmo porta-retratos.

           - Desculpa. – disse ela. – Mas eu não resistir em vir aqui.
           - Sem problemas.
           - Cadê o Tom?
           - Não faço idéia.
           - Você disse que ele havia saído com uma garota, certo?
           - Um-hum.
           - Eu tenho que... confessar uma coisa.
           - Confessar?
           - Eu que pedi pro Tom sair.
           - Como assim?
           - Já ouviu falar em “três é demais”?
           - Já.
           - Pois é. Não acha que nós dois aqui fica bem melhor?
           - Só está faltando uma coisa.
           - O quê?
           - Você chegar mais perto.
           - Podemos resolver isso agora mesmo.

      Ela começou a se aproximar, e antes que pudesse chegar ainda mais perto, tirou seu casaco e já jogou em algum lugar. Ai sim, chegou bem perto. Nossos olhares se cruzaram, e pude sentir sua respiração. Enlacei sua cintura com minhas mãos, e colei seu corpo no meu. Senti seu coração bater acelerado, e sua respiração estava mais ofegante. Toquei meus lábios levemente nos seus, e um arrepio percorreu meu corpo. O beijo foi se intensificando cada vez mais. Nossas línguas brincavam uma com a outra. E ainda tem como dizer que ela não é a garota dos meus sonhos? Fui conduzindo-a até a cama, mas algo parecia estar errado.

           - O que foi? – perguntei.
           - Ficaria chateado se eu dissesse que essa noite eu quero apenas dormir abraçada a você?
           - Não.
           - Eu não... não quero transar com você, porque isso pode parecer uma despedida. E não sou fã de despedidas.
           - Entendo.

      Isso que ela acabou de dizer, tirou todas as minhas dúvidas. Ela ia mesmo embora, e nada do que eu fizesse a faria mudar de idéia. Caminhei até o guarda-roupa e escolhi algumas peças. Me vesti, e quando terminei, notei que ela estava deitada na cama. Me aproximei, e me deitei ao seu lado. A abracei, e ela colocou sua cabeça em meu peito. Ficamos calados por um longo tempo.

           - Sinceramente, quando chegar a hora de partir, nem vou saber o que te falar. – disse, finalmente.
           - Não precisa dizer nada, Bill. – disse ela. – Você nunca foi tão bom com as palavras.
           - Tem razão.
           - Promete que não importa qual seja a minha decisão, você ficará bem?
           - Tentarei.

      Afaguei seus cabelos, até que adormecesse. Eu dormi, e também não notei quando isso aconteceu.

–--
(Contado pela Duda)

      O dia já havia amanhecido. Acordei, e o Bill continuava dormindo. Não quis acordá-lo, pois estava amando aquela visão. Meu celular começou a vibrar dentro do bolso, e corri pro banheiro pra atender antes que começasse a tocar. Quando já estava prestes a fechar a porta, começou a tocar a música “Get This Party Started – Pink”. Acabei batendo a porta. Tudo isso pra não acordar o Bill.

           - Alô?! – disse quase sussurrando.
           - Onde está? Disse que era pra dar uma volta com o Bill, e não pra dormir fora.
           - Me desculpa mãe, mas eu tinha que fazer isso.
           - Já disse a ele que vai voltar pra Suíça?
           - Não. Eu não tive coragem.
           - Pode dizer uma coisa pra ele, por mim?
           - Claro. O que é?

      Abri a porta do banheiro lentamente, vi que ele estava acordado e sentado na cama, encostado à cabeceira da mesma. “Como é que eu vou te dizer tudo isso, hein? Só de imaginar que as coisas poderiam ter sido diferentes, me dá um aperto no coração”, pensei. Caminhei até próximo de sua escrivaninha, puxei a cadeira e me sentei de frente pra ele. Ficamos calados por um longo tempo. Mas ficar parada não era uma das melhores soluções. E as lembranças começaram a surgir novamente em minha mente. Às vezes um sorriso surgia para contrariar as minhas lágrimas que começaram a cair. Parece que ultimamente eu só sabia fazer chorar. Tentei encontrar maneiras de dizer a ele, mas nada parecia uma boa opção.

           - Era a sua mãe no celular? – perguntou ele, finalmente.
           - Um-hum. – foi a única coisa que consegui responder.
           - Pelo visto a noticia não é uma das melhores.
           - Não sei.
           - Acho que já pode parar de suspense.
           - Que suspense? – me levantei.
           - Você não vai ficar, não é?

      Era agora ou nunca. Eu tinha duas opções: falar ou falar. Não tinha como fugir daquilo, não dava pra escapar do seu olhar triste, não dava mais pra adiar aquele momento.

           - Não. – respondi com a cabeça baixa. – Não agora, mas talvez daqui dez ou menos dias, porque eu preciso trazer todas as minhas coisas que ficaram lá na Suíça. – ri sacana.

      Vi seus olhos brilharem, e um enorme surgir em seus lábios. Bill se levantou rapidamente, e me puxou para perto. Meu riso foi abafado pelo seu beijo. Perdi completamente o fôlego.

           - Mas... e a sua mãe?
           - Sabe aquela história de que tinha que resolver alguns assuntos de trabalho?
           - Um-hum.
           - Na verdade ela estava fechando um contrato com uma imobiliária. Minha mãe comprou uma casa aqui, e transferiu sua grife pra cá. Fiquei sabendo disso tudo hoje.
           - Por vários momentos pensei que fosse me deixar. – me abraçou apertado.
           - Ah, e tenho um recado pra você.
           - Que recado?
           - Ela mandou dizer “Eu sabia que aquela carta daria certo”.
           - Só você pode responder se funcionou ou não.
           - Não me lembro muito bem, mas acho que tinha alguma pergunta naquela carta, não tinha?
           - Tinha sim.
           - Poderia repeti-la? Porque não me lembro.

      Ele suspirou, e sorriu.

           - Fica comigo?
           - Deixe-me pensar um pouco... – fiz suspense. – Acho que... Sim. Mil vezes sim. E antes que me beije novamente, eu preciso te dizer uma coisa.
           - Ok. Estou ouvindo.
           - Eu te amo, Bill Kaulitz. – fiz questão de pronunciar as palavras fatais bem devagar.

      Mais um sorriso surgiu em seus lábios, em seguida me beijou novamente, e desta vez foi com ainda mais alegria. Tive certeza que minha alma saiu de meu corpo e deu uma volta pelo quarto, retornando com mais vida. Meu coração estava tão acelerado, que senti medo que ele pudesse parar de bater. Olhei mais uma vez para aquela face que me deixou louca nos últimos meses. O abracei, e fiquei sentindo as batidas do seu coração, que estavam aceleradas, mas ainda assim me acalmaram.


DUAS SEMANAS DEPOIS

      Meu quarto finalmente estava como eu sempre quis; paredes em tons de lilás e alguns desenhos em preto e branco. Os móveis eram antigos, e bem conservados, tinham a cor branca. Terminei de ajeitar as almofadas em cima da cama, caminhei até a janela que estava aberta, fechei os meus olhos, e deixei que o ar puro entrasse em meus pulmões. Estava distraída em meus pensamentos, quando um certo alguém entrou, ligou o som e deixou num volume um pouco baixo. Senti que esse alguém me abraçou por trás, afastou meu cabelo, e depositou um leve beijo no meu pescoço. Arrepiei.

           - Tortura é crime. – disse, ainda com os olhos fechados.
           - Se depender de mim – abri os olhos. -, você será torturada todos os dias.

      Não consegui resisti, e tive que me virar para encarar aquele sorriso malicioso, que eu adorava ver. Mal tive tempo de abrir a boca pra falar alguma coisa, e já fui surpreendida com um beijo. Ele me direcionou até a cama, e caímos deitados um do lado do outro.

           - Eu acabei de arrumar essa cama. – disse.
           - Então vamos inaugurá-la.
           - Como você é apressado, hein?
           - Pra quê ficar perdendo tempo?

      Ficamos olhando pro teto, e de mãos dadas.

           - Já disse que você é muito chato? – perguntei.
           - E eu já disse que você é muito irritante?
           - Eu te odeio, sabia?
           - Aposto que eu odeio mais.

      Rimos.

           - Acha que isso tudo é amor ou ódio? – pergunta ele, olhando pra mim.
           - Os dois. – olho pra ele. - Afinal, se eu não te odiasse não poderia te amar tanto.
           - Amor e ódio. – disse ele. – Quem diria, hein?
           - Pois é.
           - Vem comigo. – ele se levantou e me puxou pela mão.
           - Pra onde?

      Fiquei em pé. Ele soltou minha mão e se aproximou do som, aumentou o volume, em seguida me olhou.

           - Vamos dançar. – se aproximou. – E desta vez tem música, e nada de chuva. – enlaçou minha cintura com seus braços.

      Começamos a dançar abraçadinhos. Eu me sentia tão segura assim. Como é que eu teria coragem de deixá-lo? Mais uma vez pude sentir sua doce voz bem pertinho do meu ouvido, dizendo:

           - Eu te amo, sua irritante.

Postado por: Grasiele | Fonte: x

Love And Hate - Capítulo 30 - Talvez não seja tarde demais

(Contado pela Duda)

      Me sentei na cama, abri a mochila e peguei o envelope que o Bill havia me entregado. Tenho que confessar que não tinha certeza se abria ou não. Senti medo. Mas não me pergunte de quê. Respirei fundo, e finalmente abri o lacre. Retirei de dentro do mesmo, três folhas. Mais uma vez respirei e comecei a ler.

           “Alguém uma vez me disse que você tem que escolher se quer ganhar ou perder, pois não se pode ter tudo. Me disseram também para não arriscar, ou eu sentiria dor. Não sei como estou me sentindo agora. Então não me pergunte, ainda estou tentando entender tudo que está acontecendo. Estou sozinho, comigo mesmo, e é tudo que eu sei.

      Me lembro perfeitamente daquela manhã, e de todas as coisas que eu disse. As palavras irritadas que vem do nada, sem avisos. Aquilo roubou o momento, e te mandou pra longe. Agora não posso te tirar de mim novamente. E não importa onde você estiver, estarei lá, mesmo que seja só em pensamentos. Eu não conseguirei viver sem você, e como poderia? Se houvesse uma saída, ou outra alternativa. Mas eu não quero, e nem pretendo ficar longe de ti.

      Se eu fechar meus olhos nesse momento, verei o seu olhar, e poderei sentir no fundo do peito que o brilho da minha vida foi te reencontrar. Se eu fechar os olhos, vou sangrar. O meu coração não pulsa sozinho, ele precisa de uma razão, um motivo para continuar pulsando. E esse motivo, essa razão, é você. Ninguém mais.

      Como é difícil ter que te deixar partir. Te abraçar e resistir. Dar adeus, me despedir. É impossível não sofrer. Mas prometo, que nada irá nos separar, nem mesmo a distância. E se a saudade apertar procure no céu a estrela que mais brilhar, ela será o meu olhar. Se você voltar, meu coração respirará novamente. Não quero voar se você continuar no chão. Bem, você me deixa louco na metade do tempo, e a outra metade eu tento te mostrar que o que eu sinto é verdadeiro.

      Isso não vai funcionar. Foi o que me disseram. Mas talvez eu soubesse desde o inicio que tinha que fazer você ser minha. Ninguém sabe, e ninguém nunca poderá dizer tudo que eu sinto por você. Acho que nem eu consigo dizer isso. Você sabe que preciso de ti. Já não consigo ver meu mundo sem você. Como é que eu vou viver? Dentro do meu peito, algo aperta de um jeito que eu não sei se agüento esse amor que me tira a paz. Preciso te dizer que... O meu mundo sem você é impossível de viver. É como acordar e não ver mais o sol brilhar no céu, jardim sem flor, peixe sem o mar. Não posso e não quero ficar sozinho com essa dor. É apenas o caminho perdido. Amor que não vai se acabar, e que pra mim, vale mais do que uma jóia, a mais rara de todas. Com você tudo é pura diversão, e espero que isso nunca acabe. O meu coração não consegue disfarçar quando você está por perto. Sem ter você comigo é a mesma coisa de não ter motivos pra sonhar. O teu sorriso é o que faz falta, e o que me acalma.

      Posso dizer honestamente que andei pensando muito em você. Na verdade você toma conta dos meus pensamentos nos últimos dias. Me lembro quando nos beijamos, e até hoje sinto aquele tapa que você me deu no rosto. Também sinto a mesma sensação do beijo. Lembro a loucura que fizemos ao dançar sem nenhuma música tocando. Eu lembro as coisas mais simples, aquelas que você nem tem noção. Mas eu desejaria esquecer que você pode me dizer adeus.

      Sei que já fiz e refiz a pergunta que farei novamente. Mas prometo que essa será a última vez, e que se você ficar com raiva, eu até entenderei. Bem, e a pergunta é: Fica comigo?

Com carinho,
Bill.”

      Terminei de ler a carta, e estava chorando. E como poderia ser diferente? Minha mãe bate na porta, e entra. Ela se senta ao meu lado, e me abraça.

           - Esta é a carta do Bill? – pergunta ela.
           - Sim. – disse enquanto enxugava meu rosto. – Como sabia?
           - Por qual outro motivo você estaria chorando assim?
           - Eu não sei mais o que fazer.
           - Logo saberá. Mas é melhor correr e tomar seu banho. Sairemos daqui meia hora.

      Me levantei e fui pro banheiro. Tomei um banho não muito demorado, mas bem relaxante. Coloquei uma roupa confortável, e deixei meus cabelos soltos. Sai do quarto e desci as escadas. Todos estavam tão quietos, que cheguei a pensar que alguém havia morrido.

           - Que silêncio é esse? – perguntei. – Morreu alguém?
           - Se já está pronta, vamos logo. – disse John.
           - Ah, eu estou bem. – disse. – Muito obrigada por perguntar, pai.
           - Deixe de brincadeiras, e vamos.
           - Eu vou com a minha mãe.
           - A sua guarda ainda pertence a mim, então irá comigo!
           - Não comece uma briga agora, Duda. – disse minha mãe. – Vá com ele.
           - Mas...
           - Não discuta comigo. – disse ela.

      Odiei completamente aquilo, mas tive que ir. Entrei no carro, e me sentei no banco de trás. A Carol se sentou no banco do passageiro e meu pai foi dirigindo. O silêncio era total. Quinze minutos depois, chegamos ao fórum. Meus pais foram convidados a entrarem numa sala, e a Carol foi junto. Em poucos minutos a audiência começou. Só achei uma injustiça não me deixarem entrar, e até agora estou sem entender o motivo disso. Fiquei sentada numa cadeira do lado de fora, e aquilo estava me deixando ainda mais ansiosa. Me levantei, e comecei a andar de um lado a outro. Avistei o Bill chegar, e ele acelerou o passo até chegar perto de mim, e me abraçar.

           - Desculpe pela demora. É que o Tom resolveu sair com uma garota e demorou demais debaixo do chuveiro. – disse ele.
           - Não tem problema.
           - A audiência já começou?
           - Já.
           - E porque você está aqui fora?
           - Não sei. Não me deixaram entrar.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      Uma hora e meia havia se passado, e nada de alguém sair de dentro daquela sala e dar alguma noticia. Duda continuava andando de um lado a outro, roendo as unhas, enquanto Bill ficava sentado.

           - Pode parar de ficar andando? – diz ele.
           - Estou nervosa!
           - Mas ficar andando de um lado a outro não resolverá nada.
           - Não conseguirei ficar sentada.

      Duda se aproximou da porta, e encostou sua cabeça, na tentativa de escutar alguma coisa.

           - Do que essa porta é feita? – pergunta ela.
           - Por quê?
           - É que não dá pra ouvir nada! Será o quê que está acontecendo?
           - Vem cá. – ele a chama. – Sente-se aqui comigo. – ela se sentou.
           - Relaxa, vai dar tudo certo. Nós dois sabemos que a sua mãe irá conseguir.

      Ele a abraçou.

           - Eu li a sua carta. – disse ela.
           - Leu? – ele ficou surpreso. – Pensei que não fosse ler por agora.
           - Não deu pra resistir.
           - E... E o que você achou?
           - Bem, acho que é meio difícil explicar. Senti tanta coisa. E foi... muito linda. Na carta você disse que não sabia como estava se sentindo, mas eu acho que consegui deduzir mais ou menos o que sentia.
           - Só você consegue isso.
           - Você vai ficar muito triste se eu for embora, não é?
           - Muito.
           - Eu não quero que sofra por mim, da mesma forma que sofri por você, quando fui embora.
           - Já decidiu alguma coisa?
           - Praticamente. Só preciso aguardar um instante e dar uma resposta definitiva.
           - Ok.
           - E não pense que me esqueci daquela outra coisa que você prometeu me dar.
           - Ah sim. Mas só te darei quando ficarmos sozinhos.
           - Um-hum.

      Os dois estavam sentados e conversavam “tranquilamente”, quando a imensa porta da sala foi aberta. Eles se levantaram.

           - E ai? – pergunta Duda à sua mãe.
           - O juiz fez um pequeno intervalo de dez minutos. – responde ela.
           - Mas como estão indo as coisas? – pergunta Bill.
           - O John tem melhores argumentos, e está quase convencendo o juiz de que a Duda deve ficar com ele. – disse ela.
           - O quê? – pergunta Duda, incrédula. – Por favor, diga que não terei de ficar com ele!
           - Estou fazendo o possivel pra isso não acontecer. – disse o advogado da Amanda.

      Bill chamou a Duda para uma conversa.

           - Porque não você não conta pro juiz que o seu pai te agrediu? – disse Bill.
           - Acha que isso mudaria alguma coisa?
           - Não sei. Mas deveria tentar.
           - Como? Ninguém me deixa participar da audiência.
           - Se a Duda de antigamente estivesse aqui, ela seria louca o suficiente pra entrar naquela sala e falar tudo.

xxx

      As portas da sala se fecharam, e a audiência recomeçou. O juiz ouvia as duas partes com muita atenção, até que algo interrompeu e paralisou tudo. Sim, a Duda havia invadido a sala.

           - Mas o quê é isso? – diz o Juiz.
           - Me desculpe. Mas eu tinha que vir aqui! – diz Duda. – Tenho que contar algo.
           - E o que seria?
           - O John, ele já me “agrediu”. – disse ela.
           - O quê? – pergunta Amanda.
           - Ele me deu uma bofetada no rosto!
           - Isso é mentira! – diz John. – Eu nunca tocaria em você!
           - Mentiroso! – diz Duda. – Porque não confessa logo?!
           - Você tem como provar? – pergunta o Juiz.

      Neste momento a Duda olha pra Carol. Ela era a única prova viva.

           - Não. – responde Duda.
           - Então já pode se retirar. – diz o Juiz.
           - Espera. – diz Carol. – Eu vi quando o John bateu na Eduarda.
           - Cale a boca! – disse John. – Você não viu nada!
           - Se o senhor continuar gritando, serei obrigado a pedir que se retire. – disse o Juiz ao John. – Pode contar o que presenciou? – pergunta a Carol.
           - Tudo começou porque a Duda descobriu o verdadeiro motivo de seus pais terem se separado. As coisas já eram meio difíceis antes, e depois da descoberta tudo ficou pior. Num dia, ela escutava música num volume alto, o que fez com que o John se irritasse e fosse até seu quarto para desligar o aparelho. Foi ai que uma pequena discussão começou. Ele disse algumas coisas a ela, que não hesitou em falar outras. O John se sentiu ofendido quando a Duda disse algo de que não me recordo muito bem. Então ele lhe deu um tapa no rosto, a fazendo até cair no chão. Eu apareci e impedi que ele continuasse.

      John fuzilava a Carol com os olhos. Duda tinha um leve sorriso no rosto, e o Juiz somente escutava com atenção. Um segurança apareceu e colocou a Duda para fora da sala.

           - E ai, como foi lá dentro? – pergunta Bill.
           - O John vai se ferrar. – respondeu.
           - Sério?
           - A Carol contou tudo que viu.
           - Viu só? Eu disse que poderia funcionar.
           - Pensei que ficaria feliz se o John conseguisse a minha guarda definitiva.
           - O que adiantaria eu ficar feliz, se você também não estivesse feliz?
           - Sabe que isso pode trazer algumas conseqüências, não é?
           - Sei sim. Mas acho que já estava na hora d’eu me preparar para tudo.

      Algum tempo depois a audiência finalmente termina. As portas se abrem...

           - Qual foi a decisão do juiz? – pergunta Duda, ansiosa.
           - Ele disse que... – Amanda fez suspense. – Disse que... O seu lugar é comigo!
           - Oh meu Deus! – disse Duda, em seguida deu um abraço apertado em sua mãe.

xxx

      Minutos depois, em frente ao fórum... Bill entra em seu carro, e pouco depois a Duda também entra.

           - Tem certeza que não quer ir com a sua mãe? – pergunta ele. – Deveria aproveitá-la.
           - Não estou a fim de aproveitar a minha mãe agora. – responde ela. – Quero ir com você.
           - Tudo bem. E pra onde a princesa que ir?
           - Pra bem longe daqui. – diz ela. – Me leve pra qualquer lugar onde possamos ficar juntos. Quero... quero ouvir somente a sua voz.
           - Seu desejo é uma ordem.

      Ele girou a chave do carro, e partiu.

–--
(Contado pelo Bill)

      Se ela disse que queria ir pra um lugar onde só se pudesse ouvir a minha voz, então a levarei até esse lugar. Acho que vinte minutos depois de ter saído do fórum, chegamos. Parei o carro, e ficamos calados por pouco tempo.

           - Chegamos. – disse.
           - Onde estamos? – pergunta ela.
           - Vem comigo.

      Desci do carro, e a Duda fez o mesmo. Caminhamos um pouco até chegarmos a beira de um lago. Ela continuou calada. Segurei em sua mão, e fui conduzindo-a até uma ponte que havia no lago. Ficamos parados, observando o sol se pôr.

           - Pelo visto você conhece vários lugares aqui, hein? – disse ela.
           - Só alguns. – respondi. – Mas esse eu conheci graças ao Tom.
           - Como assim?
           - Quando éramos mais novos, ele inventou de sair com uma garota, e a trouxe até aqui. Eu estava curioso pra saber quem era a menina, e segui os dois.
           - Uau.
           - Bom, nós estamos sozinhos, e eu acho que está na hora de te dar aquela outra coisa.
           - Estou aguardando, ansiosa.
           - Quero que fique de costas pra mim.
           - Porque?
           - Só fique de costas, e logo saberá.

      Ela achou um pouco estranho, mas se virou. Tirei do bolso uma caixinha vermelha, e logo em seguida a abri, tirando de dentro dela um cordãozinho de ouro, com um pingente em formato de coração, que poderia ser dividido em dois, deixando assim aquele coração pela metade. Respirei fundo, e me aproximei dela para colocar o cordãozinho. Duda se vira pra mim, com os olhos brilhando.

           - Isso é... é tão lindo. – diz ela.
           - Prometa que sempre o usará?
           - Prometo. – seus olhos agora estavam cheios de lágrimas.
           - Quero que saiba que não importa a distância em que estiver eu sempre te amarei. Ninguém nunca tomará o seu lugar.

      Vi algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

           - Eu te amo. – disse.
           - Bill...
           - Diga.
           - Me beija?

      Era mesmo necessário pedir mais de uma vez? Me aproximei, e lhe dei um beijo, como se aquele fosse o último que daríamos. Eu tinha certeza de que ela estava mesmo decidida a ir embora com a mãe. Me segurei para não chorar, mas não conseguir manter isso por muito tempo. Enquanto nos beijávamos, algumas lágrimas chegaram a cair dos meus olhos. Depois disso nos abraçamos, e continuamos vendo o Sol, que agora já estava desaparecendo no horizonte. 

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 29 - Não existem palavras para isso - parte II

(Contado pela 3º pessoa)

           - Vou direto ao ponto. Eu não sei se fiquei feliz ou triste por saber que está saindo com a Duda. – fez uma pequena pausa. – Você não pode imaginar o que aquela garota sofreu quando fomos pra Suíça. Acho que se eu não estivesse ao seu lado, não sei o que teria acontecido a ela. Cortou-me o coração ver minha filha daquela maneira. Nunca a vi chorar tanto por alguém.
           - Sinto muito por tudo que aconteceu. Eu não tive intenção alguma em magoá-la.
           - Eu sei disso. E deveria mesmo sentir muito. Mas não vim aqui para falar sobre o passado.

      Bill ficou calado só ouvindo o que Amanda falava.

           - Acho que você já deve saber que amanhã será a audiência.
           - A Duda me contou.
           - Então também deve saber que estou disposta a levá-la para casa.
           - Sim. – responde com a cabeça um pouco baixa.
           - Me desculpe, mas não posso abrir mão da minha filha. Ela é a única coisa que tenho, a única que importa pra mim.
           - Entendo. E ela também é importante pra mim.
           - Sei disso. Mas pense comigo. Se a Duda ficar com o pai, ela não será tão feliz. O seu lugar é comigo, lá na Suíça.
           - Estou disposto a acreditar que ela ficará, até que a própria me diga o contrário.
           - Não complique as coisas, Bill. Isso só fará com que os dois sofram ainda mais.
           - Está me pedindo pra desistir dela?
           - As coisas seriam mais fáceis se fizesse isso.
           - Mais fáceis pra você! Não pra mim.
           - O que realmente sente pela Duda?
           - Eu a amo. Pode até não acreditar, mas eu a amo de verdade.
           - E o que seria capaz de fazer para tê-la ao seu lado?
           - Não sei. Acho que... acho que faria qualquer coisa. – ele suspirou. – Só não faria nada que pudesse deixá-la triste.
           - E acha que é capaz de fazê-la feliz?
           - Eu tentaria. Daria o melhor de mim. Srta. Drummond...
           - Amanda. – ela o repreendeu.
           - Amanda, eu sei que você acha que isso não vai funcionar, e que eu vou acabar me machucando. Mas... mas eu nunca amei alguém, como a amo. – seus olhos se encheram de lágrimas. – A Duda... ela agora faz parte da minha vida. Eu preciso dela, então não me peça para desistir. – uma lágrima rolou pelo seu rosto, e ele abaixou a cabeça. – Por favor, não a tire de mim.

      Amanda estendeu suas mãos sobre a mesa. Bill ergueu a cabeça, e limpou seu rosto. Depois ele fez o mesmo com as suas mãos, e as colocou sobre as dela.

           - Se um homem dissesse isso pra mim, eu não pensaria duas vezes, e ficaria. – disse ela. – Mas essa decisão não é só minha.
           - Mas é o principal motivo dela querer ir.
           - Se quer fazê-la ficar, tente convencê-la.
           - Como?
           - Você é um rapaz inteligente, e deve saber como fazer.
           - Poderia me ajudar.
           - Na minha época, quando um rapaz ficava interessado em uma moça, ele lhe enviava cartas românticas.
           - Acha que isso pode dar certo?
           - Não. – os dois riem. – Porque não tenta? Não custa nada.
           - É.

      Ela retira suas mãos das dele, e olha pro relógio.

           - Bem, já está na minha hora. – diz ela. – E não se preocupe com o que acontecerá amanhã. Confie em mim, e as coisas poderão sair como nós dois queremos.

      Amanda pega sua bolsa, e se retira do local. Bill ficou sem entender o que ela quis dizer com “confie em mim, e as coisas poderão sair como nós dois queremos”. Ele ficou mais algum tempo ali, pensando. Depois deixou uma gorjeta em cima da mesa, e foi pra casa.

      Quando chegou, colocou a chave do seu carro sobre a mesinha de centro da sala, e se deitou no sofá. Tom aparece comendo um sanduíche, e se senta na poltrona. Eles ficam em silêncio por algum tempo.

           - Onde estava? – pergunta Tom.
           - Conversando com a mãe da Duda. – responde.
           - Aquela gostosona?!
           - Poderia ter um pouco mais de respeito, não é?
           - E por acaso isso é mentira?
           - Deixe a Duda ficar sabendo disso, e ela acaba com você.
           - Eu bem que queria dar uns cato naquela morena. Já imaginou ela nua?

      Bill o olhava incrédulo.

           - Falei alto demais, não foi? – diz Tom.
           - Demais. – diz Bill. – Deveria guardar esses pensamentos só pra você.
           - Ah, a Duda ligou.
           - E o que ela queria?
           - Não sei. Perguntei se queria deixar recado, mas disse que não. Sugeri então que ligasse pro seu celular.
           - Amanhã o juiz decidirá com quem ela ficará.
           - Aposto que você está bem ansioso, não é?
           - Ansioso. Apreensivo. Acho que estou tendo todas as emoções tudo de uma só vez.
           - Relaxa. Vai dar tudo certo.
           - É bem pouco provável que as coisas fiquem boas pra mim.
           - Já vai começar com o pensamento negativo? Você deveria sair pra se divertir um pouco.
           - Realmente nós não somos tão iguais assim.
           - Ela é só mais uma garota!
           - Está enganado! Ela é a única garota. – Bill se levanta. – Acho melhor você sair logo, antes que se atrase.
           - Como sabia que eu iria sair?
           - Deduzi. – respondeu, e foi pro quarto.

–--
(Contado pelo Bill)

      Tranquei a porta, e fui direto pro banheiro. Tomei um banho demorado, pois a água estava quente. Retornei ao quarto, e vesti uma roupa confortável. Me deitei na cama, de barriga pra cima e fiquei olhando pro teto.

(Flashback)

           - Você é um rapaz inteligente, e deve saber como fazer.
           - Poderia me ajudar.
           - Na minha época, quando um rapaz ficava interessado em uma moça, ele lhe enviava cartas românticas.

(/Flashback)

      Me levantei, e me sentei na cadeira em frente a escrivaninha. Abri minha mochila, peguei meu caderno e a grafite.

           - Se isso não der certo, nada mais dará. – disse a mim mesmo.

      Comecei a escrever tudo que vinha em minha mente. Mas aquilo não estava ficando bom. Na verdade, estava a maior porcaria. Rasguei a folha, e joguei no cesto de lixo. Repeti isso inúmeras vezes, até conseguir fazer algo que ficasse bom. Eu só não sabia com faria para entregá-la, já que havíamos quase discutido. Passei a noite inteira escrevendo a bendita carta que poderia fazê-la mudar de idéia, e ficar comigo.

–--
(Contado pela Duda)

      O dia amanheceu, e os raios de Sol que entravam pela fresta da cortina me avisavam que já era hora de levantar. Abri os olhos, em seguida os fechei novamente. Coloquei minha mão direita na frente, para tentar impedir que o Sol atingisse meus olhos. Me levantei, e fui direto até a janela para abrir a cortina. O dia estava lindo. O céu azul, e nenhum sinal de nuvens. Aquele poderia ser o melhor ou o pior dia da minha vida. Só dependeria do que aconteceria na audiência.

      Fui pro banheiro, fiz minha higiene bucal, em seguida tomei meu banho. Retornei ao quarto, passei desodorante, escolhi uma roupa, e me vesti. Penteei o cabelo, e resolvi deixá-lo preso. Passei perfume, e fiz uma leve maquiagem. Vai que eu choro hoje? Pensei. Peguei minha mochila, e desci pra tomar meu café da manhã. Meu pai tomava café, e lia um jornal. Carol o acompanhava na refeição. Achei a energia daquele lugar muito pesada. Preferi chamar um táxi e tomar café na cantina do colégio.

      Assim que cheguei, encontrei o Bill. Ele me olhou, e fez um sinal com a cabeça, depois desviou o olhar. Passei por ele, e fui pro refeitório. Me sentei numa das mesas, e fiz o pedido de um lanche. Não comi nada, pois havia perdido a fome der repente. Tom se aproxima e se senta.

           - E ai gatinha, como está? – pergunta ele.
           - Acho que não sei definir como estou. – respondi.
           - Ah, já sei. Está assim por causa do Bill, não é?
           - Também.
           - Pode me contar o que está se passando nessa cabecinha sexy?
           - Só você pra tentar me fazer rir numa situação dessas.
           - Tento fazer o possivel.
           - Bem, acho que já deve saber que a minha mãe chegou.
           - É eu sei. E contei pro Bill.
           - Então foi você?
           - Não era pra contar?
           - Uma hora ele ficaria sabendo, não é?
           - Foi isso que pensei.
           - Enfim, ele veio tirar satisfações e acabamos “discutindo”.
           - Que chato.
           - Pedi pra ele me acompanhar, e ficar ao meu lado até eu descobrir o que o juiz vai decidir, mas ele negou.
           - Olha, eu sei que você deve estar sofrendo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. E o Bill também está! Não sei se o seu sofrimento é maior que o dele, mas posso dizer que nunca vi meu irmão daquele jeito. Se você voltar pra Suíça, será a mesma coisa que estar arrancando um pedaço do Bill. É meio estranho dizer isso, mas ele te ama. – ele fez uma pausa. – Antes de tomar qualquer decisão, pensei bem.
           - Obrigada. Vou pensar sim.

      Mais tarde, quando o sinal tocou, meu coração pareceu querer sair pela boca. Nunca senti tanto nervosismo. Eu já estava caminhando em direção ao carro da minha mãe, foi ai que ouvi alguém gritar pelo meu nome. Parei, olhei para trás, e era o Bill.

           - Oi. – disse ele.
           - Pensei que precisasse de um tempo. – disse.
           - É uma pena que eu não tenha esse tempo.
           - Então...
           - Eu queria te entregar duas coisas. Mas uma delas, só entregarei quando estivermos sozinhos.
           - E o que seriam essas coisas?
           - A primeira é essa daqui.

      Me entregou um envelope cor lilás.

           - O que é isso? – perguntei.
           - Só abra e leia quando estiver sozinha.
           - Ta legal.
           - E... Me desculpa por negar em ir com você até a audiência.
           - Sem problemas.
           - Não! Claro que tem problema! Por isso resolvi te acompanhar.
           - Sério?
           - Um-hum. Posso te encontrar lá?
           - Claro.

      Fiquei feliz. Aquilo me deu um alivio enorme, que nem dá pra explicar. Nos despedimos com um abraço apertado, e entrei no carro. Minha mãe sorriu, e acenou pra ele. Fomos pra casa, e assim que entramos, nos deparamos com meu pai, Carol, e um advogado.

           - É melhor subir logo e tomar seu banho. – disse John. – Sairemos daqui uma hora, e não podemos nos atrasar.
           - Já estou indo. – disse, depois subir as escadas, indo pro quarto.

      Como eu sabia que ainda tinha tempo, não fui diretamente pro banheiro pra tomar meu banho. Me sentei na cama, abri a mochila e peguei o envelope que o Bill havia me entregado. Tenho que confessar que não tinha certeza se abria ou não. Senti medo. Mas não me pergunte de quê. Respirei fundo, e finalmente abri o lacre. Retirei de dentro do mesmo, três folhas. Mais uma vez respirei e comecei a ler.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 28 - Não existem palavras para isso - Parte I

(Contado pela Duda)

      O dia mal havia amanhecido e eu já estava acordada, mas ainda me encontrava deitada na cama. Abracei o travesseiro, e uma lágrima escorreu. Eu não me sentia bem em estar mentindo para o Bill. Mas não tinha outra solução. Se eu falasse a verdade, ele ficaria triste e não agüento vê-lo dessa forma, principalmente depois de ele dizer que gosta de mim. O quê que eu faço? Com quem eu devo ficar? Porque isso tinha que acontecer justamente comigo? Tudo seria tão mais fácil se o Bill me odiasse. Porque ele não pode me odiar? Será que ele não poderia me odiar pelo menos por agora?

      Peguei meu celular que estava na mesinha de cabeceira, olhei as horas: 6h10. Me levantei e fui pro banheiro pra tomar meu banho. Pouco depois, retornei, passei desodorante, escolhi uma roupa no guarda-roupa, me vesti, penteei o cabelo, calcei meu all star branco, coloquei meu perfume, peguei minha mochila que já estava arrumada, e sai do quarto em direção à cozinha. Meu pai e Carol tomavam o café da manhã juntos. Me aproximei, coloquei um pouco de suco no copo, e o tomei sem nem ao menos me sentar. Comi um pedaço do bolo de laranja que a Anna havia feito, voltei ao banheiro e escovei mais uma vez os meus dentes. Quando já estava saindo de casa...

           - Não quer uma carona? – pergunta John.
           - Obrigada, mas prefiro ir andando. – respondi.
           - Se for andando, chegará atrasada.
           - E daí? Desde quando se importa?
           - Desde quando eu sou o seu pai.
           - Pais de verdade não agridem seus filhos.
           - Você mereceu.
           - E você é um idiota! Não preciso de você pra nada!

      Segui meu caminho, e peguei um ônibus no ponto mais próximo que encontrei. Cheguei ao colégio, e o sinal ainda nem havia sido tocado, e só tocaria dali quinze minutos. Fui pro refeitório, me sentei numa das mesas. Abri minha mochila e peguei meu caderno de desenho. Comecei a fazer alguns rabiscos, enquanto a aula não pensava em começar.

      Pouco depois o Bill aparece, e coloca a sua mochila em cima da mesa. Mas a forma como ele fez isso, achei que foi um tanto “agressiva”, e me assustei um pouco. Ergui minha cabeça para olhá-lo, e pude notar sua expressão séria.  A primeira coisa que imaginei, foi que acordara de mau humor.

           - O que foi? – perguntei. – Aposto que acordou de mau humor.
           - Dormi feito um anjo. – respondeu, ainda sério.
           - E eu daria tudo para vê-lo dormindo.

      Ele ficou calado.

           - Mas alguma coisa aconteceu pra você estar assim.
           - Tem razão.
           - Me deixe adivinhar. – disse. – Brigou com o Tom, acertei?
           - O Tom e eu não costumamos brigar.
           - Ok, ok. Está me deixando preocupada. Pode me dizer o que aconteceu?
           - Gostaria que você me respondesse algo.
           - E o que seria?
           - Porque escondeu de mim que a sua mãe havia chegado?

      Como ele descobriu? Fiquei surpresa com aquela pergunta, e completamente muda. Não tive reação, e não sabia o que responder. Tentei pronunciar alguma coisa, mas minha voz simplesmente desapareceu.

           - É tão difícil assim responder isso? – pergunta ele.
           - C-Como soube?
           - Isso não vem ao caso agora! Porque não me disse?
           - Porque eu sabia como se sentiria.
           - Por acaso pretendia ir embora sem nem ao menos dizer adeus?
           - Não, claro que não! Eu ia te contar.
           - Quando?
           - Quando chegasse a hora. – respondi com a cabeça um pouco baixa.
           - E essa hora seria quando estivesse prestes a embarcar num avião.
           - Não! – olhei pra ele. – Eu nunca faria isso.
           - Será mesmo?
           - Você... você está duvidando de mim?
           - Se não teve coragem de falar que ela havia chegado, porque não teria coragem de repetir o que fez da última vez?
           - Eu não iria embora sem me despedir.

      Ficamos em silêncio, e só depois que eu fui notar o que eu havia dito. Bill se sentou numa cadeira de frente pra mim, com um olhar triste e disse quase num sussurro, lento e abafado:

           - Você não vai ficar, não é?

      Nem eu havia me decidido sobre isso.

           - Pelo seu silêncio – disse ele. -, não é preciso escutar uma resposta.
           - Não tente colocar palavras em minha boca. – disse finalmente. – Eu ainda não me decidi.
           - Sua mãe não viria até aqui pra te ouvir dizer que não irá mais embora. Ela não perderia o seu tempo.
           - Talvez ela perdesse.
           - Eu queria muito acreditar que isso é verdade.
           - Por favor, não seja injusto.
           - Injusto? A mulher que pretende te tirar de mim está aqui, você não me diz nada, e quer que eu aceite tudo numa boa?

      O que eu poderia responder numa hora dessas? Porque o sinal não toca logo pra eu não ter que enfrentar mais aquele olhar?

           - Eu amo você, Duda. – uma lágrima escorre dos olhos dele, e é enxugada o mais rápido possivel. Talvez para que ninguém o visse chorar. – Mas infelizmente não posso competir com a sua mãe. Eu não teria chances.
           - Isso não é uma competição!
           - E comparado a ela, eu sou o quê? Nada!
           - É isso que pensa? Que não significa nada?
           - É o que parece.
           - Não fale besteiras! Você significa mais do que pode imaginar.
           - Então prove isso, ficando aqui comigo. Não volte pra Suíça.

      Nesse momento o sinal toca. Bill se levanta e pega sua mochila.

           - Aonde vai? – perguntei.
           - A aula já vai começar. – responde, e vira as costas.

      Minha vontade era de chorar. Mas eu precisava ser forte, pelo menos naquele instante. Fechei os olhos e respirei fundo. Coloquei meu livro dentro da mochila, depois peguei a mesma e fui pra sala.

      Não prestei atenção em uma só letra que os professores diziam. Eu boiei completamente. Se me perguntasse qualquer coisa, eu não saberia responder. Assim que o sinal tocou, arrumei minhas coisas e olhei para a cadeira ao lado. Bill já havia saído, ou talvez ele não tivesse assistido à última aula. Sai correndo para tentar encontrá-lo, e o encontrei quase entrando em seu carro.

           - Bill, espera! – gritei, e ele parou. Me aproximei. – Não ficaremos assim, não é?
           - Assim como?
           - Sem conversarmos um com o outro.
           - Talvez nós dois precisássemos de um pouco de tempo.
           - Como assim?
           - Eu também preciso pensar.
           - Amanhã... os meus pais vão ter uma audiência com o juiz, e... decidirão sobre o meu futuro.
           - Porque está me contando isso?
           - Porque eu queria que... que você fosse comigo.
           - Está me pedindo pra te acompanhar e presenciar o momento em que o juiz dirá que você me deixará?
           - Não. Só estou pedindo pra ficar ao meu lado. Eu preciso de você.
           - Não precisa não, e talvez nunca precisasse.
           - Do que está falando?

      Um carro pára e buzina. Olho pra trás, e a minha mãe estava dentro do mesmo, com um sorriso nos lábios e acenando.

           - Sua mãe está te chamando, não a deixará esperando, não é? – disse ele, que entrou no carro, e partiu sem nem me olhar.

      Minha mãe buzinou novamente. Então eu respirei fundo, abri um sorriso forçado, e sigo até o carro.

           - Aquele era o Bill? – pergunta ela.
           - Sim. – respondi.
           - Como ele cresceu, e ficou ainda mais bonito.
           - Concordo.
           - Acho que tenho que falar com ele.
           - Ahn? Falar sobre o quê?
           - Nada de mais.
           - Aham. E o que significa “nada de mais”?
           - Curiosa como antes, hein?
           - Não custa nada falar.
           - Só perguntarei sobre os pais dele.

      Ah, tá. E o meu nome é Tereza. Até parece que eu acredito nisso.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      Era mais ou menos 15h15. Bill acabara de chegar à aconchegante lanchonete “Doce de Menina”. Se sentou numa mesa próxima à lareira, que aquecia o local, e aguardou. A todo instante ele olhava para o relógio. Quinze minutos depois, ele avista alguém entrar, e se levanta, acenando.

           - Olá Bill.
           - Olá Srta. Drummond.
           - Por favor, não seja tão formal. Pode me chamar de Amanda.

      Ele abriu a cadeira para que ela pudesse se sentar, e depois se sentou de frente para a mesma.

           - Recebi o seu telefonema, mas não entendi o motivo de querer me encontrar aqui. – diz ele.
           - Queria conversar com você.
           - E porque aqui? Poderíamos ter combinado de nos encontrar na casa da Duda, ou até mesmo em minha casa.
           - Não quero que a minha filha saiba desse encontro.
           - Por quê?
           - Porque precisamos ter uma conversa extremamente particular.
           - Ok.
           - Vou direto ao ponto. Eu não sei se fiquei feliz ou triste por saber que está saindo com a Duda. – fez uma pequena pausa. – Você não pode imaginar o que aquela garota sofreu quando fomos pra Suíça. Acho que se eu não estivesse ao seu lado, não sei o que teria acontecido a ela. Cortou-me o coração ver minha filha daquela maneira. Nunca a vi chorar tanto por alguém.
           - Sinto muito por tudo que aconteceu. Eu não tive intenção alguma em magoá-la.
           - Eu sei disso. E deveria mesmo sentir muito. Mas não vim aqui para falar sobre o passado.


      Continua...

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 27 - Ela não me disse absolutamente nada

(Contado pelo Bill)

      Um dia havia se passado. Eu estava achando a Duda um pouco diferente. Ela estava mais feliz, e com um lindo brilho no olhar. Me senti alegre ao vê-la desse jeito. Queria sair pra jantar com ela em algum lugar que pudéssemos conversar mais a vontade, sem corrermos o risco do Tom ou a Débora nos encontrar. A levei num restaurante italiano. Jantamos, conversamos sobre várias coisas, menos sobre sua decisão se iria ficar ou partir. Na verdade, naquela noite eu não estava nem me importando com isso. Só queria aproveitar ao máximo. Quando saímos do restaurante, fomos até um parque de diversões que havia chegado à cidade. Duda e eu apostamos que conseguiria acertar mais coelhos na prova de tiro ao alvo. Topei, e ganhei da primeira vez. Como uma má perdedora, pediu revanche, e me ganhou.

           - Quem é a melhor, hein? – ela me provocava.
           - Eu sou o melhor. – disse.
           - Você não sabe nem perder. Admite que eu sou muito boa!
           - Ah, isso tem razão.
           - Seu safado! – nós rimos, e ela me abraçou.

      O rapaz que estava na barraca, entregou um enorme urso azul.

           - Preciso de um nome pra esse urso. – disse ela.
           - Pra quê?
           - E pra quê a sua mãe colocou um nome em você?
           - É completamente diferente.
           - Não é não! Ele também precisa de uma identidade. – tive que rir. – Ah, já sei! O nome dele vai ser Bia.
           - Bia?
           - Sei que é um nome feminino. Mas não sou preconceituosa, e aceito que ele seja gay.

      Continuamos com o passeio. Passamos à tarde praticamente inteira ali no parque, nos divertindo sem medo de absolutamente nada. E confesso que nunca havia me divertido tanto. Quando o Sol já estava se pondo, resolvi levá-la pra casa, para não correr o risco de o seu pai ficar lhe passando sermões. Nos despedimos com um selinho, e ela entrou carregando a Bia em seus braços.

      Cheguei em casa, e o Tom jogava vídeo game. Seus olhos não desgrudavam da tela da televisão. Me sentei ao seu lado, peguei o outro controle, e o acompanhei no jogo.

           - Se divertiu muito? – pergunta ele, sem desviar o olhar.
           - Sim. Por quê?
           - Como consegue se divertir sozinho?
           - E você, como consegue ficar aqui sozinho?
           - Quem disse que eu estava só?
           - Trouxe alguma garota pra cá?
           - Uma só não tem graça.
           - O quê?
           - Foram só duas. Elas são irmãs, e por sinal, muito gostosas.
           - Espero que tenha ficado bem longe do meu quarto.
           - Por quê? Tem medo que a Duda descubra algo?
           - Do que está falando?
           - Até parece que não te conheço. Sei muito bem que está rolando alguma coisa entre vocês dois.

      Larguei o controle em cima da mesinha de centro, e dei pausa no jogo.

           - Porque fez isso?
           - De onde tirou essa história de que a Duda e eu temos alguma coisa?
           - Então é verdade?
           - Você não me respondeu.
           - E nem você! E olha que eu venho lhe perguntando isso há um bom tempo.

      O Tom acabaria descobrindo de qualquer jeito. Achei que já estava passando da hora de contar toda a verdade. E além do mais, ele é meu irmão. Não posso ficar escondendo isso.

           - Tá legal. – disse. – A Duda e eu estamos mesmo saindo.
           - Não foi tão difícil assim, foi?
           - Desculpa por não ter contado antes.
           - Sem problemas. Mas também poderia ter dito que transaram lá no acampamento.
           - C-Como ficou sabendo? – perguntei surpreso.
           - A Débora me falou.
           - Que linguaruda!
           - Concordo.
           - Vai ficar bravo?
           - Só por ter transado com ela? Claro que não! Vocês se gostam, e eu não tenho nada a ver com isso. A não ser pela história que se repetiu.
           - Que história?
           - Ficamos com a mesma garota novamente.
           - Tem razão. Mas isso não irá rolar de novo, porque não estou nem um pouco a fim de dividir a Duda com você.
           - E nem eu quero. Já estou com outra pessoa.

      Passamos um bom tempo conversando e jogando vídeo game. E sabe que foi até bom. Sinto como se tivesse tirado um enorme peso das minhas costas.

      Na manhã seguinte, fui pro colégio e tudo correu normalmente. Na saída, ofereci carona pra Duda.

           - Obrigada. Mas tenho que passar num lugar antes de ir pra casa. – diz ela.
           - Não irei fazer nada, e se quiser posso te levar.
           - Não. É sério. Não precisa mesmo. Eu pego um táxi.
           - Tem certeza?
           - Um-hum.
           - Ok.

      Achei um tanto estranho, pois ela quase nunca recusava minha carona. Não quis perguntar mais nada, e talvez isso se tornasse incomodo. Nos despedimos sem nenhum selinho, já que estávamos em público. Ela apenas acenou pra mim, e eu segui pro carro.

      Eu havia acabado de almoçar, e me deitei no sofá da sala. Liguei a televisão pra ver se passava algo de interessante. O Tom chega, se senta na poltrona, e solta um suspiro.

           - Eu já imaginava que a mãe da Duda pudesse ser tão bonita quanto ela. Mas não imaginava que pudesse ser tão gostosona.
           - Que loucura é essa?
           - Tô falando sério. A mulher é muito gata!
           - A mãe da Duda está na Suíça! Como sabe que ela é isso tudo?
           - Não está não.
           - Claro que está!
           - Ah não ser que a Duda se confundiu. Porque quando eu estava preste a entrar em meu carro, a ouvi claramente dizer “que bom que veio me buscar, mãe”.

      Me sentei.

           - Tem certeza que ouviu isso? – perguntei.
           - Sim.
           - Não pode ser. A Duda teria me contado.
           - Vai ver ela se esqueceu.
           - Como alguém pode esquecer isso?
           - Não sei.
           - Se ela não me disse nada, é porque não queria que eu ficasse sabendo.
           - Acha mesmo?
           - Talvez.

      Porque a Duda faria isso? Porque ela esconderia que sua mãe havia chegado? Só poderia haver uma resposta pra isso. Ela pretender partir sem dizer nada, como da última vez. Ou seja, já fez a sua escolha. Mas preciso ouvir isso de sua própria boca.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      O relógio marcava 20h35. Bill achou que àquela hora seria boa para ir visitar a Duda, mesmo sabendo que era um pouco tarde. Ele pegou seu carro, e passou numa pizzaria, depois seguiu para a casa dela. Estacionou, tocou a campainha e aguardou.

           - Você é o Bill, acertei? – pergunta Anna.
           - Sim. – responde.
           - A Duda está no quarto.

      Ele subiu até lá, e a encontrou sentada em sua cama, e ouvindo música.

           - O que faz aqui? – pergunta ela.
           - Senti saudades, e... trouxe pizza, sorvete, e morangos com chocolate.

      Duda se levantou e trancou a porta. Os dois se sentaram no chão e começaram a comer e conversar.

           - Vou engordar uns três quilos, por sua culpa. – disse ela.
           - Como você é dramática, hein?
           - Só um pouco.
           - Seu sorvete favorito ainda é o de napolitano?
           - Claro! Pra quê melhor do que três sabores num só pote?
           - Gulosa. Só não engorda de ruim.
           - Diga a verdade, comer não é bom? Pra mim é uma das melhores coisas.

      Eles conversaram por várias horas. Mas Bill queria lhe fazer uma pergunta em especial, e não tinha coragem, ou talvez tivesse medo de ouvir a resposta. Sem muito assunto, tentou iniciar algo.

           - Tenho que te contar uma coisa. – diz ele.
           - Pode dizer.
           - Contei pro Tom sobre nós dois.
           - O quê? Por quê?
           - Na verdade ele já sabia, e só fiz confirmar.
           - E como ele descobriu?
           - A Débora contou.
           - Da próxima vez, diga a ela que é segredo.
           - Mas e você?
           - O quê que tem?
           - Não aconteceu nada de interessante contigo?
           - N-Não.
           - Como andam as coisas aqui com seu pai?
           - Frias. Antes da briga ainda nos falávamos, mesmo que fosse com um pouco de ignorância. Mas depois, mal nos olhamos.
           - E a sua mãe? Ela deu noticias?
           - Ainda não. – respondeu após ficar um tempo em silêncio.
           - Estou com a impressão de que quer me contar alguma coisa.
           - Acho que é só impressão, porque não tenho nada pra dizer.
           - Tem certeza?
           - Um-hum.

      Bill olha no relógio.

           - Está tarde, é melhor eu ir antes que seu pai fale alguma coisa.
           - Ok.
           - Até a amanhã.
           - Até.

      Se despediram com um beijo. Algum tempo depois o Bill chega em casa. O Tom acabara de voltar da cozinha, e estava comendo uma maçã.

           - Falou com a Duda? – pergunta Tom.
           - Sim.
           - E ela confirmou que a mãe chegou?
           - Não perguntei isso. Mas lhe joguei algumas indiretas, e ela não me disse absolutamente nada.
           - Estranho.
           - Demais.
           - Não irá fazer mais nada?
           - E o que eu poderia fazer?
           - Pergunta de uma vez!
           - Tem razão. Amanhã mesmo tirarei essa história a limpo.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 26 - Surpresa

(Contado pelo Bill)

      O dia amanheceu. Acordei, e a Duda continuava dormindo. Não queria acordá-la. Mas precisava, já que daqui algumas horas teríamos que ir pro colégio. Me levantei com cuidado, mas não adiantou muito. Ela despertou, e usou o banheiro. Desci pra arrumar a mesa do café da manhã, e o Tom estava lá arrumando tudo. Voltei pro quarto, e Duda olhava alguns porta-retratos que estavam em cima da mesa do computador. Fiquei parado na porta, só a observando-a de costas.

           - Não precisa ficar ai parado. – disse ela ainda de costas, e com um porta-retrato na mão.
           - Como sabia que eu estava aqui?
           - Sei lá. – se virou. - Deduzi.
           - Está pronta para voltar pra casa?
           - Não. Mas também não tenho escolha. – me aproximei.
           - Se quiser, posso passar lá e pegar alguma peça de roupa e seu material escolar.
           - Uma hora ou outra terei que enfrentá-lo. Então... que seja o quanto antes.
           - Não tem medo que ele faça algo?
           - Ele foi bem louco ontem. Mas não acho que tenha coragem o suficiente pra repetir.
           - Acha mesmo?
           - E além do mais, se o John fizer alguma coisa, eu tenho você pra me proteger. – ela me abraçou.
           - E protegerei mesmo.
           - Bom, vai me deixar em casa?
           - Claro. Agora vamos descer pra tomar o café da manhã.

      Nos sentamos a mesa junto com o Tom. O silêncio tomou conta por vários minutos.

           - Ok meninos, não precisam ficar gritando desse jeito. – ela brincou.
           - Aquele dia lá no acampamento, você usou o lenço? – pergunta Tom.
           - Pra quê? – pergunta ela.
           - Você disse que na cabana faltava papel higiênico, e...
           - Ah, sim. Quero dizer... na verdade, quem usou foi o Bill.
           - Usei o quê? – perguntei.
           - O lenço. – disse ela.
           - Que lenço? – eu não fazia idéia.
           - Aquele lenço. – ela chutou minha perna.
           - Ah, é. Usei sim. – disse.
           - Um-hum. – disse Tom.

      Terminamos o nosso café da manhã. Tom pegou seu carro e foi direto pro colégio. A Duda e eu entramos no meu, e seguimos até sua casa. Em poucos minutos chegamos lá. Estacionei, ela olhou em direção a entrada, respirou, fechou os olhos, respirou mais uma vez, e abriu a porta do carro. Sabia que ela estava insegura, ou talvez com medo, e eu não poderia deixar que fizesse aquilo sozinha. A segui.

           - Posso entrar com você? – perguntei, e ela sorriu.
           - Claro. – respondeu.

      Duda colocou a chave na fechadura, e a girou para a esquerda, em seguida abriu a porta. Ela olhou pra mim, e sorri. Entramos juntos, e logo ali na sala, seu pai e sua madrasta a aguardavam.

           - Onde você estava? – pergunta John.
           - Ficou maluca, garota? – disse Carol. – Não pode sair desse jeito sem avisar, e dormir fora.
           - Da próxima vez... – disse John.
           - Ela estava comigo. – me intrometi. – A Duda passou a noite em minha casa. MAS não rolou nada. Não precisam ficar preocupados. Ela está bem, não está? Então parem de fazer isso com ela. Deixem-na em paz.

      Por um instante pensei que o pai dela fosse me colocar pra fora dali com uma surra. Me enganei. Os dois ficaram calados, e a Duda me olhou, dando um meio sorriso, em seguida. Ela permaneceu calada, segurou minha mão, subimos as escadas, e fomos pro seu quarto.

           - Você é realmente muito doido! – disse ela, fechando a porta.
           - Eu sei. – disse.
           - Pensei que meu pai fosse te matar. Viu só a cara dele? – ela riu.

      Pelo menos consegui fazê-la rir.

           - É melhor se apressar, ou chegaremos atrasados no colégio. – disse.
           - Ok, ok. Vou tomar um banho rápido e já volto. Pode ficar a vontade ai.

      Algum tempo depois ela sai do banheiro já vestida. Seu perfume se espalhou pelo quarto. Acho que já repararam o quanto gosto do perfume dela, não é? Não consigo falar nela, sem citar seu cheiro agradável. Enfim, Duda pegou sua mochila e partimos rapidamente pro colégio. Por sorte, conseguimos assistir a segunda aula.

      Quando a aula acabou, levei a Duda pra casa. Ela insistiu muito, e acabei ficando pro almoço. Seu pai a todo instante me fuzilava com os olhos. Por dentro eu morria de medo, e por fora, deixava transparecer que eu era superior aquele olhar. Durante um longo tempo ficamos todos em silêncio, até a Duda começar a puxar assunto comigo. Fiquei um pouco envergonhado, mas fui entrando no seu jogo.

–--
(Contado pela Duda)

      O Bill foi embora após conversarmos um pouco. Fui pro quarto, e me tranquei lá. Era mais ou menos 14h12, quando a campainha tocou. Instantes depois alguém bate a minha porta. Me levantei e fui abrir, era a Anna.

           - Você tem visita. – disse ela.
           - O Bill esqueceu alguma coisa? – perguntei.
           - Não é o Bill.
           - Então...?
           - É melhor descer e conferir.

      Se não era o Bill, então quem poderia ser? O Tom não teria tanta cara de pau de vir aqui. E porque ele viria? Acompanhei a Anna. Quando eu já estava na metade da escada, avistei uma mulher de costas. Senti algo dentro de mim. A felicidade estava crescendo. Eu conhecia muito bem aquele enorme cabelo castanho, e aquelas curvas. Conhecia principalmente aquela blusa vermelha que estava usando, pois eu havia lhe presenteado. Minha voz pareceu desaparecer completamente. Mas tive que tirar forçar de não sei da onde, para pronunciar:

           - Mãe! – disse.

      Ela foi se virando, e seus cabelos pareciam ter dançado naquele momento. Seus olhos azuis me olharam, e não contive as lágrimas. Como eu sentia falta daquele olhar, daquele rosto.

           - Mãe! – desci as escadas correndo, dei a volta no sofá até onde ela estava, e a abracei com força.

      Eu parecia uma criança que acabara de ganhar um presente novo. A abracei com tanta força, e não queria me soltar. Me sentia segura em seus braços.

           - Senti tanto a sua falta. – disse, chorando, e me afastando um pouco.
           - Agora estou aqui. – ela enxugou meu rosto. – Não tem que chorar.
           - Vai me tirar daqui, não é? Por favor, diga que sim.
           - Sim. Vou te tirar daqui sim. Mas não agora.
           - O quê?
           - O Juiz marcou a audiência para daqui quatro dias, e se tudo der certo, você volta comigo pra Suíça.

Por mais incrível que pareça – e realmente é -, me esqueci do Bill por algum tempo. Meu pai e a Carol ficaram o tempo todo calados, com cara feia. E eu nem me importava. Estava toda feliz, e até mostrei o meu quarto pra minha mãe. Ela estava hospedada num hotel, e pediu que eu continuasse na casa até o Juiz resolver tudo. Fiz biquinho, fiquei emburrada, mas nada adiantou. Mas se me pediu pra fazer isso, era porque sabia muito bem o que estava pedindo. Obedeci.

      Mais tarde, estávamos em meu quarto conversando...

           - Me conta o que aconteceu nesses últimos dias?
           - Nossa, foram tantas coisas. – disse.
           - E o Bill?

      Foi ai que a minha ficha caiu.

           - Ai meu Deus. – disse.
           - O que foi?
           - Eu havia me esquecido dele.
           - Como assim?
           - É que o Bill e eu...
           - Estão namorando?
           - Não. Quero dizer... não sei. Estamos num rolo, entende?
           - Acho que sim. Mas não entendi o motivo do “ai meu Deus”.
           - Ele não quer que eu vá embora. Pediu que eu não o abandonasse novamente. Acredita que até ofereceu a sua casa pra eu morar?
           - E o que você disse?
           - Que iria pensar. Mas eu não posso te deixar sozinha naquele lugar, e nem eu agüentaria ficar nessa casa.
           - Se sabia que iria partir, porque se envolveu com ele?
           - Eu não sei. Na verdade... eu sei sim.
           - Está apaixonada de novo. Posso ver isso nos seus olhos.

      A abracei.

           - Mãe, o quê que eu faço?
           - Eu sinto muito. Mas esse tipo de decisão é você quem deve tomar.
           - Não quero ficar aqui, e também não quero deixá-lo. Me ajuda, por favor.

      Nos afastamos um pouco. Ela ergueu sua mão, e a direcionou até meu peito.

           - Essa frase é clichê demais, mas mesmo assim te direi. – ela fez uma pequena pausa. – Siga seu coração. Só você e ele poderão fazer a escolha certa.

      Uma lagrima rolou dos meus olhos.

           - Não vou ter coragem de dizer a ele que você chegou. – disse.
           - Porque não?
           - Eu não agüentaria vê-lo triste.
           - E o que pretende fazer?
           - Esconder. Esconder até que o Juiz decida tudo.
           - Se a decisão for positiva... pretende partir sem se despedir dele?
           - Não. Mas só direi quando as coisas estiverem certas.
           - Tem certeza?
           - Absoluta.

Postado por: Grasiele

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