quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 25 - Prova de amor


– É bem simples – disse Tom, e era mesmo. – você será uma conhecida minha, vou te apresentar. Vocês vão se conhecer, e vão ser amigos – falou olhando pra ela pra ver se ela tinha alguma dúvida. Visto que não, eu continuei.
– Os fotógrafos estarão sempre à espreita, conforme você nos disser a localização. Então se aproxime, mas não se ofereça muito; Bill não gosta de pessoas oferecidas, seja amiga dele e – a olhei firmemente, para não deixar dúvidas –, sorria sempre.
– Entendeu? – perguntou Tom, apreensivo.
– Sim. – respondeu balançando a cabeça – ser amiga, não se oferecer, informar localização, sorrir.
Era uma jogada, era nossa última cartada para salvar a banda do buraco que ela estava entrando. Tanto Tom quanto eu torcíamos – pela primeira vez – juntos para que isso desse certo, e deu. Foi além de nossas expectativas. Ramona ultrapassou os limites impostos a ela, enfurecendo mais a Tom do que a mim.
Tudo começou a mais ou menos um ano atrás. Quando deixei a emoção sobrepor à razão. Não era questão de fazer o bom, o certo ou o que meu coração mandava fazer. Pensar no coração em vez da razão é a maior burrice, não existe escolha boa o bastante feito pelo coração que algum dia não possa se tornar errada. Ser racional é uma dádiva. Uma dádiva que eu não possuía. Mas, veja bem, as feridas ainda estavam ali controlando minhas emoções, eu não havia superado. Bill não ajudou muito indo lá contar aos meus pais o meu desequilíbrio, era como se ele dissesse sem dizer: “vai lá, conta a eles!”, pois bem, eu contei. Abri o jogo.
Contei como sempre, desde o inicio.
Isso o prejudicou. Eu só notei a extensão disso depois, bem depois. Quando cai em mim e vi que, se lá, quando éramos mais novos eu me sacrifiquei para ele ter a carreira dele hoje, e o preço disso foi a nossa felicidade, que sentido teve eu fazer isso? Nada. Concluí a contra gosto.
Estava em todas as revistas, nos tablóides, sites. Tive duas opções: ou eu cuspia meu orgulho ou eu o engolia. De qualquer forma, no final das contas, eu teria que voltar atrás no que havia feito.
Nós vamos dar um jeito nisso, você vai ver
Eu sabia que tinha uma chance, uma única chance de tentar desfazer tudo, passar uma borracha, ainda que essa chance fosse absurda e totalmente errada, mas ela era a única opção que eu tinha.
O fato era que eu havia ido a Bild e contado tudo, eu tentei conversar com eles e tentei uma retratação, qualquer coisa que mudasse a situação de Bill. Por isso era tão importante voltar à Alemanha.
Se fosse só ir falar com, Richard, eu poderia repensar e até ficaria pra não criar turbulências entre mim e Bill, mas minha viagem até a Alemanha envolvia mais.

E como envolvia, mas deu tudo errado, eles não quiseram, aliás, quando comecei a falar eles já negaram e praticamente me expulsaram no escritório deles. E, ainda por cima, me ameaçaram caso eu recorresse à outra revista. Eu teria que pagar uma multa milionária.
Mas a felicidade de Bill não tinha preço.

– Vai ser um arrombo – Disse ele após eu contar meu plano suicida, mas ainda feliz – Tem certeza que não vai se arrepender?
– Mais do que eu já estou, impossível!

Então voltei à Alemanha e falei com um antigo colega meu que conseguiu com que eu falasse com um editor da Bravo. Foi difícil, mas eu fui. Fui, mas antes eu tinha que deixar tudo encaminhado. Eu teria que me afastar de Bill. E comecei aos poucos, devagarzinho, quase imperceptível, como se isso fosse diminuir a dor que eu causaria nele.
Eu sabia que do momento em que eu fizesse o que eu achava que era certo, eu estaria não só decidindo a minha vida, mas a de Bill também. Eu ia dar as cartas e comandar as jogadas.
— Acho que agora você, Bill, já poderia voltar pra antiga casa. — Disse de repente, atraindo a atenção deles.
— Por quê? — Bill perguntou, franzindo o cenho. Claro que ele iria querer saber.
— Porque sim — Droga, pensei, resposta errada. Bufei e resolvi contar a verdade, o inferno tinha chegado até aqui. — Acho que vi um fotógrafo rondando aqui hoje.

Não tinha fotógrafo algum, mas como eu queria que houvesse um. Mas se, Bill voltasse pra casa dele, já era meio caminho andado.

— Aqui? — Tom disse incrédulo — Até aqui?! Vai se ferrar!

Até poderia parecer que Tom Kaulitz estava irritado com isso, mas não. Ele não estava. Ele sabia tanto quanto eu o que iria acontecer, e o que estava acontecendo.

– Rokety, você acha mesmo que “refazendo” a imagem de Bill vai dar certo? – ele riu, juntando as sobrancelhas – daria certo? – se ajeitou no sofá – o que você está pensando?

O coloquei a par de tudo, mesmo achando que eu estava louca ele topou participar dessa loucura. Não íamos só refazer a imagem dele. Íamos mostrar outro Bill, desmentindo aquele que eu havia descrito na Bild. Sim, meu plano era insano e completamente imbecil, mas infelizmente não havia alternativas, o meu mundo havia mudado em algumas semanas e agora eu deveria fazer alguns sacrifícios.

Arrumei-me colocando só o básico dentro da mala, e dentro dela levei um pouco de Bill, o suficiente pra lembrar-se dele todos os dias.

– Ei, seu cuida tá? Mas se cuida mesmo... Eu não suportaria viver sem você.

Ele me olhou firmemente e foi objetivo.
Tem algo que você não nos contou que queira nos dizer agora?
Eu poderia voltar atrás nessa loucura, desistir era a melhor chance que eu teria. Mas pensar em mim estava fora de cogitação, continuei como havia combinado com Tom há alguns dias atrás. Porém, quantas mentiras a mais eu deveria contar ás pessoas até que em algum momento eu mesma pudesse me certificar que talvez, de alguma forma, elas se tornassem reais? Até onde eu seria capaz de ir para me satisfazer? Quem mais pagaria por minhas extravagâncias?

Respirei fundo e me virei na cadeira, encarando o homem em minha frente, que tinha uma expressão difícil de ler, mas eu não fazia questão de desvendar agora.
– Bill tem uma namorada.
– Como assim? – o entrevistador se assustou.
– É – confirmei – Bill tem uma namorada, mas, se você quiser um furo vai ter que esperar e confiar em mim, e aposte, eu sei das coisas.
Em um minuto tudo muda. O mundo gira, pessoas morrem, outras nascem. Uma vida inteira muda. Em um minuto tudo acaba e tudo começa. Em um minuto eu penso no segundo seguinte desse minuto eu repenso no que eu havia pensado. Respiro. Respondo. Em um minuto eu acredito em finais felizes, em histórias inventadas, no entanto, não consigo me desprender da realidade. A dura realidade.
Ramona nesse meio tempo já estava entrando, sorrateiramente, na vida de Bill e fazendo seu papel de colega. Como combinado ela começou a sair com Bill, como encontro casuais, eu observava de longe, o cuidava de longe. Também como combinado os fotógrafos da Bravo fotografaria tudo, e deixaria pra mostrar tudo como um dossiê do namoro as escondidas. E foi indo. Saída depois de saída. Encontro após encontro. Mentira em cima de mentira.
Virou melhor amiga, até ai tudo bem. Tanto eu como Tom aprovávamos o desempenho dela, isso salvaria a banda, estava tudo ótimo. Foi quando ela fez a burrada de por sentimento no meio.
– Temos que parar isso, Rokety! – Tom estava tomado pelo ódio. Ódio de Ramona. – Ela estava se aproveitando da situação!
– Então porque você não a para? Você está com ela todo santo dia! Conta a verdade! – explodi. Era tudo eu. Eu que tiver que pensar o que fazer pra salvar a banda. Eu que tive que pensar no que Ramona faria. Eu, eu, eu e eu!
Porque fui eu que fiz tudo pra tudo isso ter acontecido.
– Se drogou? Seria a briga do século com o Bill quando ele souber que eu, o irmão dele, o enganou! – gritou exasperado, sentando na cadeira – eu, só eu, vi como ele ficou quando você foi embora! Eu o consolei! Eu o vi mudar da água pro vinho em questão de dias! Não quero que isso aconteça de novo, Rokety. – abaixou a cabeça, e apesar de estar a alguns metros de distância dele, pude sentir sua angustia.
– Ela vai se controlar. Vou conversar com ela. – garanti. – vou dar um final pra essa história de sentimentalismo dela.
– Uma história que nunca deveria ter evoluído um sentimento que não deveria ser lúcido o bastante pra nos causar problemas!
Eu realmente conversei com ela, dei uma dura nela. A ameacei. Fiz tudo que estava ao meu alcance. Mas o meu melhor não foi o suficiente. E o que você faz quando o seu melhor não é o suficiente?
Eu ia interferir quando percebi que Ramona não me deu ouvidos. Mas então eu também percebi que Bill estava bem com ela. E, nos encontros que ele julgava ser secretos, ele estava feliz. Porque acabar com aquilo? E eu duvidava que Ramona não quisesse isso também.
Eu cheguei a rir com um humor sombrio. Irônico e massacrante. Essa era definição do que eu sentia quando via como Bill estava alegre quando Ramona estava com ele. Depois vinha a fúria, em seguida a raiva, o medo, a saudade. Tudo junto, embaralhado, com formas diferentes, se remexendo dentro de mim, me puxando pra perto. Senti vontade de fazer o que eu sentia – de sair de sei lá onde que eu estava e acabar com a aquela cena patética que eu presenciava – e não o que era certo,
Mas não era assim que as coisas funcionavam, e se tratando de mim as coisas nunca seriam. Eu sempre cometia erros, até quando queria fazer algo bom. Em quantos pedaços seriam necessários minha cara ser quebrada até que eu aprenda algo com as rachaduras, estilhados e cicatrizes?
Eu não podia ficar longe de Bill, eu tinha que saber o que acontecia com ele, o que estava fazendo, com quem, quando... era o único modo de o manter perto de mim já que fisicamente ele já estava. Eu usava dos encontros dele com Ramona para ir aceitando aos poucos a decisão que eu tomava sem perceber. Que já não existia mais Bill e Rokety, não existia infinito no amor e no final, tudo sempre acabava da pior maneira possível pra nós.
Como um dia eu pensei que daria certo? Como pude pensar que esse plano idiota daria certo? Como cheguei a acreditar que finalmente eu tinha me encontrado, e que a vida havia me dado uma segunda chance? Um novo recomeço para esse amor intenso e arrebatador que eu sinto. Como? A vida é uma filha da puta, eu já sabia disso, mas ainda assim não fui esperta o bastante pra fugir e deixar de ser um fantoche dela, mais uma vez.
Eu não queria que as coisas tomassem aquele rumo. Mas eu rezava para que o rumo que tomasse fizesse Bill feliz. Irônico vendo que eu nunca fora religiosa o bastante pra sequer pedir algo a quem quer que fosse que se achava no direito de fazer o que bem entendia com a vida dos outros. Mas as coisas nunca são do jeito que esperamos e ali, ao definitivamente perdê-lo, finalmente me dei conta do quanto ele significava
Olhei Bill sentado com Ramona ao seu lado. Eles tomavam sorvete. Dei uma ultima olhada e me virei. Caminhei de cabeça baixa, como deveria ter feito há muito tempo. Sem olhar pra trás. Nunca olhar para trás. Só os perdedores o fazem, relembrei-me.
Briguei ou causei a 3º guerra mundial com Tom quando disse isso? Não sei. Mas ele quebrou tudo que viu pela frente. Mas Bill ia ser feliz eu brigando ou não com seu irmão.
– Eu vou conversar com ele! – berrou – ele vai mudar de ideia!
Bill mudou de ideia. Ramona não era mais a sua melhor amiga. Era sua namorada.
E eu estava tão cansada daquela farsa que resolvi acabar com tudo aquilo.
– Valeu mesmo confiar em você! Não é que o grande Bill Kaulitz tem mesmo uma namorada? – afastei o telefone da orelha, era muita felicidade sendo esfregada na minha cara, era muita felicidade baseada na minha desgraça.
– Quando quiser publicar pode ficar a vontade – murmurei, contando em seguida aonde eles iam jantar.
– Obrigado, esse vai ser “o furo”!
De colega pra amiga. De amiga pra melhor amiga. De melhor amiga pra namorada. De namorada pra noiva. De noiva para esposa. De esposa para a pessoa que o faz feliz. E eu? A pessoa que observa essa felicidade longe.
Porque ver Bill daquele jeito, tão feliz me deixou sem palavras. A porcaria do que eu fiz pra salvar ele e a banda – porque mesmo que o orgulho de Tom o impedisse de ver o quanto isso salvou a banda, no fundo ele era grato – não tinha garantias de que eles fossem felizes para sempre, mas deu a oportunidade de mostrar a Bill outro lado das coisas, lhe deu a chance de sair do nosso ciclo vicioso e ver como ele poderia ser feliz fora dele. E era isso que eu desejava para ambos, acima de qualquer coisa. Queria que eles fossem felizes. Queria que ele fosse feliz. E pelo que eu pude nota hoje, eles eram.
Eu havia ficado lá, de longe enquanto ele engasgava pra pronunciar o ‘sim’. Parada, sem reação, vi todos os anos de minha vida passar diante dos meus olhos. Todos os momentos que havia passado do lado de Bill eram claros na minha memória. Passei as mãos nos braços lembrando-se do seu toque em minha pele. Intenso ainda assim de um modo sutil, agradável. Dos beijos roubados. Da vida compartilhada. Dos segredos escondidos e revelados. De sentimentos tão sufocantes que só vivi ao lado dele. Momentos no tempo que estavam sendo deixados para trás de uma forma tão bruta e silenciosa que chegava a sangrar internamente. Estávamos dizendo adeus, e ainda que uma parte de mim se recusasse o abandonar, a outra já havia o deixado completamente
Agora não bastava virar a droga da página e continuar a história. Era hora de queimar o livro. Destruir o sentimento, qualquer que fosse, e pisotear de salto alto as lembranças que ficarem. Nada é tão perfeito que dure para sempre, eu havia de se desapegar, dizer adeus e partir.
E daquele momento em diante Bill não pertencia mais a mim. E nosso amor se resumia a cinzas no meu coração. Não podia amá-lo, sentir sua falta ou desejá-lo mais. Ele não fazia mais parte da minha vida, e ainda que nossa história tenha deixado marcas na pele, nada me impedia de queimar o livro.
Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tentei do jeito mais belo que sabia.
Fui embora e quando fiquei de costa me permiti chorar de felicidade porque eu não deveria ter vindo aqui, se quer ter cogitado a ideia, mas vim. Vim porque precisava ver com meus olhos que tudo que fiz valeu à pena e se deixar Ramona continuar com que nem deveria ter começado foi à decisão certa a tomar.
Não digo que foi fácil tomar a decisão que tomei, mas tive que ser forte e corajosa o suficiente para esquecer-se de mim e compreender que quando se ama de verdade uma pessoa fazemos o que é preciso para ver ela feliz.
E a vida segue seu rumo e a única coisa que tento fazer é acompanha – lá sem ficar pra trás. Era hora de seguir em frente e esquecer todo o resto
Tanto os Kaulitz como eu continuamos a morar em Los Angeles. Eu continuei com minha vida normalmente, vendi algumas boates para suprir o desfalque que tive com a Bild, além de alguns apartamentos e outros bens, porém, ainda me sobrou o bastante pra viver: meus pais. Isso era o essencial.
Estávamos no meio do ano. Meio do ano. Quase um ano que meu amigo tinha se ido, e ainda assim era difícil ir visitá-lo. Mas eu gostava de sentar em um lugar qualquer e observar o céu, parecia que quando eu fazia isso ele estava comigo. Imaginava que se, de qualquer lugar que ele esteja, estava orgulhoso de mim. Eu estava, e muito. Era bom o ter aqui. A gente sempre cuidava um do outro. Não havia dor.
Última chama para o vôo 477 com destino a Alemanha.
Eu queria recomeçar, mais uma vez. E para isso acontecer eu teria que me desprender da velha casa da família Trompson. E lá estava eu viajando para o outro lado do planeta pra acertar pessoalmente a venda, porque a casa era algo pessoal demais pra deixar para qualquer um cuidar. Dessa vez eu não ia virar a página ou começar outro capitulo. Eu iria jogar o livro fora e começar outra história.
– Quer que eu vá com você? – perguntou meu pai. Eu podia ver nos seus olhos medo e angustia, ele sabia como era doloroso voltar lá.
Neguei.
– Não é necessário – o tranqüilizei. – vou num pé e volto no outro.
Era verão na Alemanha e o sol queimava até na sombra. Parada na frente da enorme mansão conclui que tinha chegado mais cedo. O comprador estava atrasado. Agachei-me e peguei a caixa que tinha levado. Pegaria todas as coisas de Gabriel. Eu sabia que isso era coisa mórbida de se fazer, mas ele era o único capitulo da minha historia que ele fazia questão de salvar antes de joga - lá numa lata de lixo qualquer.
Subi as escadas e entrei em seu quarto pegando tudo que pude e que cabia na caixa: as fotos, pôsters, seus carros de coleção, blusas preferidas, seu violão, a guitarra, sua câmera e outros objetos pessoais.
Amarei o cabelo e sequei o suor. Merda! O comprador ainda não tinha chego.
Fui ao meu quarto vendo se não tinha nada que eu quisesse levar antes de deixar tudo para trás.



(Narrado em 3º pessoa)
Rokety poderia não admitir pra si mesma, mas ela queria pegar a caixa de papelão e sair correndo dali o mais rápido que pudesse até suas pernas reclamarem a ponto de cambalear e, por fim, cair. Ralando seus joelhos. Mas ela ficou.
E ai, Rokety, a criança que você foi, teria orgulho da pessoa que você se tornou hoje?
Com passadas largas abriu a porta do seu quarto, ajeitando a caixa no meio da cintura absorvendo o cheio de mofo que abocanhava o ar do cômodo. Com o calor escorrendo pelo canto direito do seu rosto resolveu a abrir a sacada.
Rokety arquejou a sobrancelha, indignada.
Como assim já esta aberta? Perguntou-se, mas não pode se responder.
– Essas crianças, se as pego... – ás mato! Completou em pensando enquanto murmurava mais chingamentos. – sorte delas que matar ainda é crime.
Na verdade ela só estava usando o fato das crianças pra expulsar as lembranças que aquele quarto trazia. De quantas vezes ela desejou que matar não fosse crime para que pudesse estrangular o Kaulitz mais novo bem devagarzinho. Riu em divertimento, ela não poderia esquecer-se de como imaginar essa cena a deixava feliz.
Largou a caixa de lado e sentou-se na cama por alguns minutos. O calor estava digno de ser uma amostra grátis do inferno. Levantou-se e se encaminhou sem demora para a enorme sacada que ficava no lado leste da enorme casa. O ar fresco passou por entre seus cabelos os chacoalhando. Que delicia, pensou.
– Bem, se eu pego esses pequenos galos de macumba, eu os agradeço. – depois riu. Outrora queria matá-los, agora agradecê-los. Alguém entende?
– Agradecer pelo o quê? – a voz dele estava calmíssima. Como se o fato de estar espreguiçado numa cadeira velha de uma casa abandonada não parecesse que ele era uma alma penada.
Do outro lado ela pulou e gritou. Quando parou, gritou de volta, o encarando. Mas gritava de raiva, ódio.
– Custava dizer que estava ai, idiota! – em seguida lhe indicou o dedo do meio.
Esse nem se mexeu, deu de ombros como quem dizia “é comigo?”
– To aqui, satisfeita? – colocou os braços atrás da nuca – não responda.
Ela pensou em lhe dar uma bela de uma resposta, mas suas palavras travaram quando ela percebeu que entre eles não tinha algo que deveria ter. O muro. Sim, porque tinha um muro ali antes, ela lembrava-se disso como se fosse a mais ou menos uma no atrás, não sabia o tempo correto.
Ela tinha várias perguntas em sua mente, assim, perguntou a que parecia a mais óbvia.
– O que faz aqui, Bill? – e ela se surpreendeu ao perceber o quanto sua voz soava cautelosa. Mas, ela tinha urgência em manter qualquer conversa em campo seguro.
– Vim abrir sua sacada. – respondeu simplesmente, como quem comenta o calor insuportável que se fazia.
Se ele não queria falar diretamente ela não se importou em entrar no seu jogo.
– Por quê? – disse ela fingindo uma falsa indignação, o encarando com um beiço quilométrico. – eu queria abrir, seu tosco!
Seu tosco. Fazia muito tempo desde que ouvira da sua boca sair aquele tipo de palavra, tão pouco se incomodou se Bill devolveria o chingamento. Ela queria ouvir sua voz e não tinha importância que mensagem ela carregava.
Eles se encararam por segundos e caíram na risada. Suas risadas tinham som de ”senti saudades” “quanto tempo hein?” “senti sua falta”; mas acima de tudo ecoavam sentimentos de ambos, era como se dissessem só com o olhar “eu sei que faz muito tempo, mas eu ainda amo você”
Ambos reparam em suas mudanças físicas, enquanto Bill colocara dois percings nos lábios, Rokety havia feito uma tatuagem no ombro direito, uma flor de lótus. Ela estava com os cabelos castanhos no meio das costas, contracenando com um Bill de cabelos curtos.
– O que faz aqui? – perguntou de novo, sem fôlego.
Bill se ajeitou na espreguiçadeira e olhou para frente.
– Não se lembra? – disse levemente como que para os ventos levar as palavras até ela, que estava a alguns centímetros dele. – você me prometeu! – aumentou a voz, á assustando. Depois curvou os lábios virando-se para a ela.
Rokety pensou por meio segundo antes de responder.
– Não lembro – admitiu olhando nos olhos dele. – lembre-me, oras!
Bill estalou a língua.
– Você disse que íamos nos ver de volta – disse parcialmente chateado por Rokety não se lembrar. Bill levantou ficando a beirada da sua sacada, bem próxima da dela. – faz um bom tempo que não nos vemos. – confessou sem jeito.
– Eu te vejo sempre – o olhou, era mentira. – nas revistas, sites... –, fazia tempo que ela não sabia nada dele.
– Sério? – Bill não conseguiu esconder a surpresa. – Então você já sabe que me separei?
Rokety vidrou os olhos nos dele. Separação. Bill se separou. Ela tentou ao máximo não demonstrar – ou sorrir- o quanto estava feliz por aquela notícia.
– Você não sabia – ele sorriu, quase gargalhou. – você mente mal às vezes.
– Eu... Eu sabia! – gaguejou. E até pensou em argumentar com ele, mas então se lembrou do porque de estar ali, naquele calor, falando com Bill...– O comprador está atrasado, desgraçado!
Ao seu lado um Bill riu bastante, mostrando uma fileira de dentes alinhados. Onde estava a piada mesmo?
– Não tem comprador nenhum, Rokety. – ficou na ponta da sacada. Era só pular. Só.
– Como assim?! – gritou.
– Eu fiz isso pra ver você, ué – deu de ombros, como se pedisse desculpas. Mas era fingimento, ele não se arrependia. Não se arrependia de ter feito alguém ter passado por ele, de ter dito que queria comprar a casa. De comprar a casa do lado de volta sendo que foi os pais dele que havia vendido há uns anos atrás. De ter ficado tão impaciente que quase pegou uma marreta pra ajudar os pedreiros a derrubar a porcaria daquele muro que nunca deveria ter existido.
Ele não se arrependia de absolutamente nada.
– E tinha que ser aqui, na Alemanha?! – ela fingia estar irritada para não pular no colo dele o beijar todo.
– É que eu queria pular pra sua sacada. – continuo tranquilamente, acreditando na irritação dela.
– E precisava de mim, Bill!
– Claro, só fazia sentido pular se você estivesse ai, do outro lado, pra mim te beijar – e no segundo seguinte ele pulou.
O beijo foi recheado de desejo e nas bordas transbordava um desespero de um pelo outro. Eles pararam por alguns segundos e se olharam, foi então que entenderam, de vez, que quando duas pessoas se amam sempre acharam o caminho de volta. Rokety e Bill aprenderam, daquele dia em diante, que a vida segue. Que o aconteceu no passado são lições para não ser repetidas, e que há coisas que simplesmente são e são não há jeito de mudá-las só por que não nos convém do jeito que elas são. Que amor pra ser amor mesmo tem que andar várias vezes na montanha-russa. Tem que olhar nos olhos da pessoa que amamos e dizer algo que dói, mas que é necessário. Que amigos são eternos. Algumas eternidades são diferentes das outras. Porque quando você sai em busca do amor, ao mesmo tempo, ele sai em sua busca.
– Eu te amo – disseram em uníssono.
Três palavras. Sete letras. Uma gigantesca verdade.

Postado por: Grasiele | Fonte: x

Dangerous - Capítulo 24 - Isso


Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, pra então várias outras se suceder.
Você não vai fazer nada? Vai me ouvir falar e não fazer nada?!
A voz de Bill era quente em minha mente. Encarei o lugar onde ele estava e, parecia que ele ainda estava ali, parado, ainda esperando uma resposta, mas não estava. Quando ele se cansou de esperar, me olhou fixadamente. Nos olhos dele vi raiva e tristeza, vi medo e traição, e quando percebeu que eu não daria um passo para acabar com aquela distância entre nós, vi acima de tudo súplica transbordando por seus olhos, era um pedido desesperado para eu mudar de ideia.
''Siga em frente, só os perdedores olham para trás'' Dizia minha mãe biológica, Patrícia.
Por isso, quando Bill se foi, fiquei parada, sem fazer nada, sem ao menos dizer adeus, eu sabia que se acaso fizesse eu iria falar mais, iria ser fraca e despejar todo o meu desespero em cima dele e só eu sabia o quanto me doía vê-lo partir. Dói pra caralho, por que eu sei que não vai haver pessoa no mundo que o substitua, por isso eu choro, desabo, e fico em pedaços.
Diga-me como dizer adeus á uma pessoa que você ama e nunca se imaginou sem?
Quando ele perguntou se eu não ia fazer nada, eu paralisei no lugar, abri a boca e quase disse algo. Quase. Mas fechei e fiquei calada. Naquele segundo eu poderia ter mudado toda a minha vida se eu tivesse falado alguma coisa, mas eu não disse, fiquei no mesmo lugar, olhando, e no mesmo lugar permaneci por horas depois de sua, enfim, partida.
Eu só torcia para que do mesmo jeito em que ele achou a porta da saída, ele um dia achasse a que o trouxesse de volta para mim. A questão é: eu deixaria ele entrar de volta?
Então amor era isso, é saber tudo sobre uma pessoa, é saber tim por tim o que impede o relacionamento de dar certo, é quando você tem a porcaria da certeza que seriam mais felizes separados do que juntos, é quando você perde a esperança, a fé, e vê que não tem volta, e tudo que acontece parece de algum modo ser uma canção de fundo, e as notas da musica te faz lembra da sua infância, de quando você tinha 10 anos e acreditava que milagres aconteciam.
Apesar de tudo, os sorrisos de Bill sempre me fizeram bem, nunca doeram, mas hoje, no estúdio, doeu. O sorriso dele não era mais pra mim.
– Você o ama?
Sentou-se meu pai á minha frente, me entregando uma xícara de chá, encarando-me com uma sobrancelha arqueada.
– Sim – Resmunguei cansada. Era uma pergunta meio óbvia de se fazer. Mas que eu coloquei em dúvida no instante em que o deixei ir.
– O que impedem vocês de serem felizes, minha filha? – Insistiu.
– Nem sempre o amor é suficiente pra uma relação dar certo, pai. – Nem sempre, completei em pensamento. Largando a xícara do lado e me aconchegando no seu colo. – Ele tá feliz sem mim.
– Não – meu pai discordou convicto. Abaixou e sussurrou no meu ouvido – Ele está tentando ser com outra pessoa já que não consegue ser com você, Rokety.
Dormi mal e acordei péssima, foi difícil levantar e eu não estava com fome, eu sempre estou com fome. Sabia que não estava bem, e sabia também que ia demorar pra ficar, mas quando você quer você fica, eu ia ficar. Fui tomar banho, me sentei no chão e encostei minha testa nos joelhos, deixei a água quente descer por meu corpo, abracei minhas pernas como se o planeta todo dependesse desse meu ato para continuar a girar, então chorei, chorei e chorei. A água se misturava a tudo, até ás minhas lagrimas e eu não me misturava a nada. Tentava, inutilmente, colocar em ordem as coisas em minha cabeça. Troquei de roupa e fui, depois de muito tempo, trabalhar.
Estava andando distraída, e isso não era novidade, ultimamente meus movimentos pareciam ser robóticos. Quando avistei do outro lado da rua alguns garotos amontoados, rindo. Um deles tinha os cabelos castanhos, sua risada parecia familiar. E quando ele ficou de perfil, paralisei no lugar. Bruno. Mas, quando o garoto se virou, seu rosto era redondo, sua risada era um pouco alta e suas roupas largas demais. Senti meu coração murchando, era bem óbvio que não era ele, nunca seria. Nunca mais. Mas quando você sente saudade demais de uma pessoa você começa vê- la nas outras, nos lugares, de costas, rindo, pelo jeito de andar, de mexer no cabelo, de ser.
Então era isso, eu veria Bill nos outros? Viria um casal na rua rindo e se divertindo e veria nós dois? Sentiria-me mal e viraria o rosto ignorando o quanto isso me fazia mal, respiraria fundo e sorriria como se há alguns segundos atrás eu não quisesse ser eles? Como se não quisesse ser feliz.
– Rokety? – ouvi de longe – que mania essa sua de sumir, caralho!
Olhei pra cima e vi Jeferson descer correndo as escadas. Ficamos longos minutos nos abraçando e depois rimos bastante.
– Eu seria muito intrometido se perguntasse aonde você se enfiou? – perguntou já me levando em um sofá. O dia mal havia começado e eu já queria desesperadamente que ele terminasse. – quer falar sobre isso?
O “não” praticamente dançou em minha boca, mas fiquei quieta, eu não queria falar sobre nada. Aprendi, meio que na marra, que histórias como a minha são tão previsíveis como areia no deserto, além de serem chatas. E, apesar de perguntarem, muitos nem querem saber o que realmente aconteceu.
– Sim.
Não foi difícil, Jeferson sabia de um bom bocado. Mas contei do inicio ao fim. Contei com mais detalhes do que pretendia. Quando terminei percebi o quanto foi difícil guardar tudo dentro de mim.
– Vai ficar tudo bem – ele pegou minhas mãos e as beijou – eu vou cuidar de você.
Senti as lágrimas se formando. Malditas!
– Você me promete uma coisa?
Assenti.
– Rokety eu não vou dizer que entendo o que você ta sentindo, porque da sua dor só você sabe. E eu não sou a pessoa mais apropriada pra ficar te dizendo aquelas frases clichês do caralho, você sabe, né? E eu posso não entender, mas me importo. E isso, infelizmente, não te ajuda em nada. Só você sabe o quanto fodida está, e a única que pode te ajudar é você mesma. Então me prometa que não vai ficar chorando e se lamentado pelos cantos. Porque as pessoas aqui não vão ficar preocupadas com você, vão sentir dó. E de dó, eu sei que você não precisa.
Quando terminou de falar, beijou minha testa. Qualquer pessoa no lugar dele sairia logo em seguida, julgando que talvez eu precisasse ficar um pouco só. Mas não, ele me estendeu a mão e perguntou:
– Você quer me dar uma mão? Temos bastante coisa pra fazer aqui.
– Sempre fico feliz em ajudar.
Logo me levantei e fiz uma coisa ali, outra aqui... Ia de cômodo em cômodo ajustando algo, falando com alguém e, simultaneamente pensava em tudo que Jeferson havia me falado e no que meu pai havia me dito de manhã.
Passamos a maior parte da tarde fazendo coisas inúteis, mas suficientes para encher minha cabeça com elas e não deixar nada ser útil o suficiente para me fazer pensar.
Jantei com minha pequena família. E tentava ao máximo não demonstrar o quanto estava desconfortável com os dois medindo cada palavra que saia da minha boca, e analisando cada gesto meu. Um teste que eu passei.
De manhã eu já estava mais acostumada com a idéia de que meu destino e do Bill havia se cruzado, mas não havia se unido. No outro descobri que não o esqueceria se o ignorasse nos locais que provavelmente nos encontraríamos querendo ou não. Que se ele ligasse para mim, certamente minha voz não sumiria e não falharia. Porque se você esquece, você se encontra e o ar não falta. Ele liga e você atende a voz não falta, porque a pior parte do amor é essa: é a indiferença, e não sentir mais nada. Na semana seguinte eu já poderia falar dele e sorrir, como quem comenta de alguém que você sente saudade, mas não faz falta.
O aniversário dos gêmeos chegou. Eles fizeram uma festa. Chamaram Simone, Gordon e mais algumas pessoas. Eu sabia onde ele estava, havia conversado com Aline que estava nervosa, ela conheceria a mãe dos Kaulitz. Uau. Foi à única coisa bacana que eu pensei em dizer. E disse. Comprei um presente legal, a meu ver, que combinava com o Bill. Era uma cruz folheada a ouro, com alguns detalhes a mão que eu sabia que Bill adoraria, ele sempre gostou de jóias artesanais.
Reservei uma mesa no mesmo restaurante que eles jantariam. Uma mesa bem afastada e pedi um vinho. Minha intenção não era beber até criar coragem para olhar em seus olhos e dizer “parabéns!’’ eu só aguardaria o momento certo.

Foi então que eu o vi. Estava sorridente e visivelmente inquieto e com um brilho no rosto que eu já mais havia visto. O vi sorrindo de um jeito estonteante e desajeitado que enquanto pude observar ficou o tempo todo em seu rosto e não saiu sequer um segundo. Parecia cantarolar alguma música animada. Todos estavam se divertindo bastante, inclusive Aline. Ele estava lindo. Eu olhei para ele e sorri, ele sorriu quase que no mesmo instante – não em minha direção, para mim – , apaixonado, sabe?. Sua felicidade brilhava tanto que chegava a me doer os olhos. Eu o vi feliz. Sendo feliz. E não puder deixar de notar que era com outra pessoa.
Continuei ali, sentada, até o momento em que ele se levantou. Iria ao banheiro. Levantei-me também.
– Bill – o chamei.
Ele parou e ficou bem visível que ele estava surpreso.
– Rokety?
– É – respondi sem jeito, sorrindo sem graça, tirando atrapalhadamente o presente da bolsa e o entreguei. – Feliz aniversario!
Ele pegou e abriu delicadamente, me olhando de soslaio. Colocou o pingente sobre a palma da mão e sorriu, ele havia gostado.
– Hum, obrigado, Rokety – sorriu mais – eu amei.
E pronto, o silêncio melancólico de instalou e eu tinha certeza que não demoraria a começarmos um conversar dolorosa.
– Quer ficar? – olhou para trás e depois pra mim – tem lugar ainda.
Não, pensei. Não tem.
– Melhor não
– Está com medo? – arqueou a sobrancelha, desconfiado.
– Melhor não. – repeti, porém, mais firme. – Bonita ela.
Ele riu. Uma risada triste, assim como aquele momento.
– Você sabe, sempre soube. Aliás, nós dois tínhamos um medo danado de se apegar, gostar de alguém, de se envolver, de se mostrar, nu e sem disfarces. Amar dá medo.
– Medo, Bill? Você não queria encontrar o amor verdadeiro? Ele está ai.
– Medo – repetiu. – medo de perder a liberdade, se de machucar, de perder a identidade... Porque o amor nos mostra o caminho, a gente caminha, ele apaga suas pegadas e, de repente, você não sabe mais voltar.
– Bill? – uma voz feminina o chamou.
– Adeus, Bill – corri e o abracei fortemente.
– Um dia desses a gente se encontra? – perguntou rapidamente.
– A gente se encontra. – afirmei e fui.
– Rokety – chamou. Virei-me. – Eu encontrei mesmo o amor verdadeiro, mas o perdi novamente, mas eu estou feliz. Ele acabou de garantir que a gente se encontra de novo.
– Parabéns.
Foi à última coisa que disse.


– Olha, moça igual a esse só te mais um. – a vendedora disse como se tivesse acertado pessoalmente os detalhes da sandália, ou de como havia decidido com estlista que igual aquele só teria mais um, ignorei. – ficou perfeito! Olha no espelho!
É, realmente havia ficado lindo. Isso porque ela nem sabe minha queda por sapatos altos, oh god!
– Vou levar.
Dia sete de setembro, meu aniversário.
Que foi semana passada, com direito a festa, bolo, a fazerem piadinhas com o meu futuro namorado e muita, mas muita bagunça. Meu pai havia me dado um lindo par de brincos de brilhantes. Minha mãe me deu um colar para combinar. Jeferson arriscou uma sandália. Cá estou eu trocando. De resto ganhei roupas e mais roupas e vários presentes de grego, e no meio deles tinha um bracelete prata, em detalhes de corrente, junto com um bilhete escrito: “Vasculhei dicionários, revirei livros, remexi gavetas e gramáticas procurando palavras bonitas para te escrever. Mas, não encontrei nada que pudesse descrever exatamente como eu desejo que você seja feliz. Parabéns. B.”
Fiquei olhando alguns outros sapatos enquanto a atendente voltava com meu. Distraída não percebi de onde ela veio, mas quando ouvi sua voz me arrepiei.
– Olá.
Ela sorria psicoticamente, mas aquilo não me intimidou, eu era raposa velha. Mesmo assim creio que ela percebeu a cara de desgosto que fiz, pois riu mais ainda.
– Muito obrigado. – sorri para a atendente, pegando minha sacola. – O que você quer? – perguntei com desdém assim que passei por ela, que me acompanhou.
– Sério que você não sabe? – perguntou cinicamente, ficando ao meu lado. De longe parecíamos grandes amigas que estavam fazendo compras, que lindo! E patético.
– Cuidado, eles sabem fazer leitura labial, eles estão onde você está agora, queridinha. – debochei. – desembucha. – parei no meio do shopping, a encarando sem paciência. – rápido.
– Calma – disse olhando para os lados – não quer sentar? – revirei os olhos, aborrecida. – vou ser rápida já que você tem que salvar o mundo hoje – e riu. Como se tivesse algum motivo para tal. Mas logo endureceu a voz, e com firmeza nas palavras disse: – se afaste, fui clara? Espero que sim.
Ai foi minha vez de rir, e muito. Só não chorei de rir porque não havia passado lápis à prova d’água.
– Para de rir! Eu não contei piada alguma! – apontou o dedo na minha cara.
Dei um tapa nele.
– Medi as palavras comigo, garota. – sibilei séria – lembre-se que quem financia esse circo sou eu, certo? E quando eu achar que o palhaço não está mais me divertindo eu simplesmente acabo com tudo. – estalei os dedos na sua frente – assim, como um estalar de dedos, entendeu? Espero que sim.
– Não diga que eu não avisei. – virou e saiu pisando duro.
– Digo o mesmo! – disse alto – palhaça.
Tudo isso aconteceu e o dia nem havia começado, e depois ele só piorou. Voltei para casa e deixei as coisas lá, almocei com meus pais e, mas tarde passei no Quiosque. Vesti uma roupa de praia e tentei aproveitar o resto do dia como qualquer outra pessoal normal. Quando sai da água meu pai me estendeu o celular.
– Ele não para de tocar.
Entregou-me. Olhei o visor e havia 17 ligações perdidas de Tom Kaulitz. Retornei imediatamente. Meu pai ficou do meu lado.
– Aconteceu alguma coisa, Tom? – perguntei preocupada, nem lhe dando “oi”.
– Aconteceu, sim. – ele disse baixo, suavemente, mas deu pra notar que ele estava muito bravo com algo, ou alguém.
– E o que você está esperando pra contar?! – soltei indignada.
– Esperar? Esperando? É, talvez eu tenha esperado muito mesmo! – aumentou a voz – esperado demais de você! Que, aliás, não fez porcaria nenhuma!
– Que droga você está falando, Tom?! Não estou entendendo nada, caralho! – perguntei confusa e furiosa por ele enrolar tanto em dizer o que estava acontecendo.
– Não está entendendo? Oh, coitadinha – ironizou, rindo – talvez agora você entenda: Bill vai se casar!
Não disse nada. E Tom não disse nada também, ambos pareciam absorver a informação, assim como eu, ele parecia não acreditar no que dizia. E eu, no que ouvia.
– Casar – repeti – devo ficar feliz em receber a notícia de primeira mão por acaso?
– Claro que não! – urrou do outro lado da linha, me encolhi. – Casar, Rokety! Entendeu a gravidade? Temos que fazer alguma coisa! Qualquer coisa!
– Você não acha que ele deve tomar as decisões por ele mesmo, Tom? Pelo uma vez na vida?
– Ah, sim! Agora nós o deixamos tomar a decisão por ele mesmo depois de tomar várias vezes por ele sem ao menos ter o consultado! Demais, se não fosse você, Rokety o que seria de mim? Nada! – esbanjou ironia, rindo no final. Mas, eu tinha mais ou menos noção de como Tom estava com relação a isso.
– Desculpe, não posso fazer nada com relação a isso. – disse finalmente, tristemente.
– Eu não fico surpreso. Espero que chegue um dia que você se arrependa de ter ficado ai, parada, ao invés de ter feito alguma coisa. – e desligou.
Olhei para meu pai que me encarava como se pudesse ler minhas emoções e saber exatamente como eu me sentia. O abracei forte e quis chorar, mas não chorei. Por que foi como Jeferson disse “não causa preocupação, causa dó. E de dó, tu não precisa”
No decorrer na semana a notícia se espalhou, estava em todos os jornais, revista e sites. Não agi como se não quisesse saber, até uma revista comprei. Foliei até à pagina e li a matéria com qualquer pessoa.
“estamos muito apaixonados” dizia ela, Ramona em uma parte da entrevista.
– ‘’estamos muito apaixonados’’ – Aline imitou uma voz fina, de puta, fechando logo em seguida a revista. – Que lindo, emocionei. Pena que a lágrima secou antes de sair do meu olho.
Aline revirou os olhos e eu ri do modo com que ela falou.
– Não gosto dessa garota, Rokety – acrescentou.
– Bill gosta. – dei de ombros.
– Bill tem péssimo gosto.
– Quando vai ser? – perguntei curiosíssima.
– Sabe como o Bill é né? Quer tudo para o mais próximo possível.
– E o mais próximo possível seria para o meio do ano que vem? – insisti.
– Meio do ano que vem? – riu – ta mais pro final desse ano mesmo!
Arregalei os olhos. O quê?
– Como assim? Vai dar tempo? – cuspi as palavras – eles nem se conhecem há tanto tempo!
– “a gente faz o que pode’’ – engrossou a voz imitando o Bill, péssimo desempenho, devo dizer – isso te responde? Olha, pra mim não faz diferença, o vestido dela rasgando e a deixando semi-nua já está de bom tamanho! – riu mais – e amiga, você está ultrapassada, eles já se conhecem a um bom tempo.
– Nossa como você é má! – rimos.
– A gente faz o que pode. – piscou.
Eu tentei ignorar o fato de que o tempo estava passando, os dias, até os dias pareciam passar mais rápidos, logo chegava os finais de semana, logo seria fim de ano. Mais um ano que iria passar e minha vida estaria na mesma, o que esperar do próximo? Criar expectativa ou deixar acontecer? Se eu soubesse qual dos dois me faria quebrar menos a cara eu já escolheria.
Estamos indo para a segunda semana de dezembro, maravilha não? Ótimo! As festas de final de ano lotariam a boate e a pousada. Los Angeles não era só a capital mundial do cinema, mas também das grandes festas de virada do ano!
– Rokety – Jeferson chamou.
– Aqui – gritei aqui de cima e o ouvi subindo.
– Correspondência – me entregou, sentando-se logo em seguida.
Era um envelope felpudo, com tons em dourado muito bem endereçado. Abri com cuidado, dentro havia um convite em letras elegantes e uma foto de fundo de um casal que eu reconhecia muito bem. Tinha data, o horário, que roupa usar, que presente dar, enfim, tudo.
Olhei para Jeferson que ainda esperava.
– Quer ir a um casamento? – joguei o convite para ele.
– Legal – deu de ombros, abrindo o envelope. – será que tem coxinha? – me olhou sapeca.
– Só indo pra saber, amigo. – respondi sorrindo.
Ele fez uma cara de triste e respondeu.
– Então teremos que ir, infelizmente!
– Cara de pau!
– Engraçado, achei que você seria a última pessoa que quisesse ir nesse casamento – disse sério, meio desacreditado – achei que você era mais orgulhosa.
– E sou – confirmei – mas cuspi meu orgulho quando abri o envelope já sabendo o que continha dentro.

Chegou o dia, o glorioso dia. Eu não ia ir ao casamento. Eu iria ver Bill.
A cerimônia ia ser ao por do sol, como Aline me dissera. Já era de tarde e eu me encaminhei para casa dele. Em todo caminho pensei em várias coisas. Menos de que eu estava indo para o lugar que eu deveria fazer um desvio e não seguir em frente como estava fazendo agora. Mas é que quando você sai na chuva é pra se molhar.
Desci do carro e respirei fundo.
Prometi a mim mesma que não ia chorar, e assim que fiz essa promessa estúpida sabia que a qualquer momento eu poderia quebra - lá. Liguei para Aline. Bill ainda estava em casa, segundo ela andando de um lado para o outro. Estaria só ele em casa e essa seria minha chance – se não a única – de falar com ele depois de tanto tempo sem nos ver.
Finalmente subi as escadas e cheguei ao corredor, de repente tudo me fugiu e eu já não sabia o que fazer só para onde ir. Esfreguei as têmporas e me aproximei da porta de seu quarto. Bill estava sentado de cabeça de baixa e quando notou minha presença se levantou com o semblante confuso. Ele esperou por mim, estalando os dedos enquanto, devagarzinho, eu me aproximava.
Parei a poucos metros de distância.
– Oi, Rokety. – ele disse – O que te trás aqui?
Sem rodeios ele me perguntou, e ao invés de responder, perguntei mudando de assunto.
– Matando tempo?
Estudei-o procurando sinais de aborrecimento, mas não havia nada.
– Mais ou menos – ele balançou a cabeça –, estou meio nervoso. – respirou fundo e acrescentou: – Mas estou feliz.
– Bom – eu disse – estou alegre por ouvir isso.
Bill então me olhou de forma serena, soube então que ter vim aqui foi à coisa certa a fazer. E ali, frente a frente, pareceu estarmos juntos uma vida inteira.
– Por que você veio aqui, Rokety? – perguntou novamente.
Foi estranho, e nenhum de nós parecia saber o que dizer, parte de mim queria pular aquela parte, a outra queria se sentar do lado dele e conversar como velhos amigos que já fomos sobre tudo o que havia acontecido conosco desde a última vez que nos vimos.
– Não sei – admiti – eu só sei que queria te ver. E que talvez você quisesse me ver também.
Ele apenas assentiu e se virou para sua janela; de seu quarto, não dava pra visualizar muita coisa, apenas o imenso verde de seu jardim.
– Sabe qual é a pior parte? – pensei em responder, mas ele não esperou – você está aqui. Na minha frente e ainda assim parece ter uma eternidade nos separando.
Abri a boca pra dizer alguma coisa, mas as palavras não vieram.
– Eu sempre penso nisso sabe? – me olhou – ‘’Será que poderia ter sido diferente?’’ na verdade eu penso em um monte de coisa, quase todas relacionadas a você.
E para não perder o costume, mais uma vez eu não tinha nada a dizer. As palavras de repente não faziam sentido até por que não havia uma lógica para tudo isso.
– Como sabia que eu estava aqui?
– Aline me contou.
Comecei a caminhar de volta a porta e Bill me seguiu com o olhar.
– Um “até logo” ou “boa sorte” não cairia mal, sabia?
Parei de costas e fechei fortemente os olhos, mas não havia como fechar os ouvidos. Então escutei a risada de Bill. E aquilo doeu.
– Isso é um adeus não é?
Fiquei em silêncio tentando absorver sua pergunta. Até que percebi que Bill merecia uma resposta.
– Sim – respondi me virando e dando mais um passo em direção a saída. Bill se levantou.
– Posso te ligar?
Sustentei seu olhar enquanto pude, quando desviei e me dei realmente conta do que estava acontecendo me perguntei se o nosso destino realmente poderia ter tido um final diferente.
– Melhor não, Bill – Crispei os lábios e o respondi friamente.
– Por quê?
– Por quê? – repeti entediada – porque até a meia noite de hoje você será um homem casado. Isso por acaso te responde? – respirei fundo e continuei – não conheço sua futura esposa e nem preciso pra saber que ela deve ser uma pessoa maravilhosa, Bill. Uma pessoa e mulher mil vezes melhor do que eu. Estou feliz por vocês. – parei para tomar coragem de continuar – por mais que eu te ame, sei que ela te fará mais feliz do que eu. Talvez você demore pra percebeu isso, mas quando perceber verá que sempre tive razão.
Quando terminei percebi que tinha aos poucos quebrado minha promessa.
– Há chances de nos vermos de novo, não há?
– Não sei... Isso só o destino pode dizer, mas espero que dessa vez nós dois tomemos um rumo que nos leve um pra bem longe do outro!
– Cale a boca! – gritou com a voz vacilante, também chorava. – você não pode dizer isso!
– Eu sei.
– Você não sabe de nada! Eu fui atrás de você! Eu sabia... Eu sempre soube aquele dia lá na boate, eu fui até você... Eu sabia que a boate era do Coller... – parou e me olhou desconcertado.
– Hã? – perguntei totalmente confusa, não entendendo o que ele realmente queria dizer com aquilo.
– Você sumiu, desapareceu. E eu nunca me conformei com nosso final. – andou até minha frente, me olhando docemente – Esqueceu, Rokety? Quem tem dinheiro tem tudo. Consegui te achar, sabia quando você ia vim...
– Espera! – levantei a voz e a mão, sentindo o estomago girar com o fluxo de informação – Você sempre soube, e mesmo assim deixou tudo acontecer desse jeito? – o olhei magoada e pedindo que aquilo fosse só uma brincadeira de mau gosto.
– Eu sabia que você ia estar lá – se defendeu – não sabia como ia ser! Não sabia que você ainda tinha tanto ódio de mim, e eu não me aguentei também, poxa!
– Isso já não importa mais. – disse finalmente, depois de um longo silêncio.
– Não... – ele tentou dizer.
– Bill – gemi, não queria continuar aquela conversa que não nos levaria a lugar nenhum. Será que Bill sabia o que viria a seguir?
Mais lágrimas escorreram por meus olhos e não havia jeito de as fazer parar. Dei passos de volta e fiquei frente a frente com Bill, passei os dedos por seu rosto delicado e enxuguei suas lágrimas. Então ele realmente quis nos dar uma segunda chance, pena que, mais uma vez, tudo fugiu por entre nossos dedos.
Bill segurou minhas mãos e as afastou.
Engoli em seco.
– Não há espaço pra mim em sua vida – sussurrei. Mais e mais lagrimas desceram por nossos rostos. Suavemente me inclinei e o beijei nos lábios e em seguida o abracei com toda minha força.
– Por que tem que ser assim? – murmurou Bill – Eu te amo.
– Eu também te amo, Bill – solucei – você é a melhor parte de mim. Você foi meu irmão, meu amigo, meu amante, e, jamais, me arrependo de um só momento que passei ao seu lado. Desculpe! Me desculpe, Bill! Só Deus sabe que eu nunca quis que você assim... Mas eu tenho que ir. E você tem um casamento ainda.
Enquanto falava, Bill chorou sem parar, e continuamos abraçados por um longo tempo, e quando nos separamos senti que aquele fora nosso ultimo abraço. Afastei-me olhando em seus olhos.
– Te amo mais, Rokety – ele disse.
– Eu sei, adeus.
Com isso Bill limpo seu rosto, virou-se e andou em direção a janela. Continuei a observá-lo por mais alguns segundos, me sentindo uma intrusa dentro daquele ambiente, percebendo, de repente, que não pertencia mais a Bill. Então, sem pressa alguma, caminhei calmamente para fora de seu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Desci os degraus cambaleando sentindo as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto, enquanto refletia se já havia me sentindo tão cansada assim em toda minha vida.

(Alguns meses depois)
Ele estava bem. Foi meu primeiro pensamento quando o vi, e como estava ele tinha um brilho diferente nos olhos que eu já havia visto antes e um sorriso imenso no rosto. Automaticamente sorri.
Fiquei ali tempo suficiente para saber que eu era uma intrusa. Ao seu lado, uma moça de cabelos negros e pele morena, retribuía seu sorriso. Bill e a mulher lavavam o carro, ou tentavam. Eles travavam uma guerra para ver quem ficava com a mangueira, era hilário e triste. Pensa que um dia eu quis ser aquela mulher da qual tirava gargalhadas dele.
Vendo essa cena, fiquei pensando se passaria por isso um dia, digo, ser feliz com a pessoa que eu amo, se vai demorar muito... Não ligo tanta para demora se eu tiver garantia de que um dia, esse dia chegará.
Cheguei também a conclusão de que eu era, na vida de Bill, apenas um capitulo daqueles bem mal feitos, sabe? Mas que apesar de ser mal feito, era essencial para a história. Ele era o ponto entre o clímax e o desfecho da história.
Agora Bill começa outro capitulo na sua vida, nesse não vai haver Rokety. Ainda assim, cá estou eu, parada, o observando, enquanto o mesmo me olha fixada mente, paralisado, para então piscar e sorrir. Sua mulher nesse instante, segue seu olhar, me olhando confusa. Uma confusão que passa no instante em que Bill grita meu nome seguido de um “senti saudades”.
Agora já era tarde demais. Não havia chances de eu virar as costas e ir embora fingindo não ter escutado ele me chamar. E, mesmo assim, eu calculei quais seriam as chances de eu sair correndo, mas a ideia de decepcioná-lo me fez ficar, enquanto sentia seu abraço molhado e frio, mas ainda assim o mais caloroso possível.
E foi bom. Foi bom constatar que não me atinge mais, que o ter por perto não me entristece, e mesmo sabendo que terei que ir embora e o deixar, isso não me tira mais o sono. Que as emoções passam por mim, mas não me atingem.
– Quanto tempo! – ele disse ainda me abraçando. Desvencilhou-se de mim e me analisou por uma fração de segundos – senti saudades, Rokety.
Parecia então que eu havia recuperado – por algumas horas – uma parte de mim que havia se soltado, parecia que eu estava inteira, de novo, mais uma vez, depois de ter passado um bom tempo andando por ai pela metade.
– E bom te ver.
Ele balançou a cabeça e piscou, talvez se certificando de que eu não era uma miragem.
– É ótimo te ver, sempre. – ele sorriu e me abraçou mais uma vez, queria que aquele abraço nunca tivesse fim. Mas teve. E atrás dele havia um olhar curioso, um rosto cheio de perguntas. Bill pareceu se lembra de algo. – Rokety essa é Ramona. Minha esposa.
Trocamos um breve aceno com a cabeça e eu não esperava mais do que isso, tanto dela quanto de mim.
– Vamos entrar, por favor, e depois se você quiser nos dar uma ajuda com o carro, ficaremos feliz não é, Ramona? – eles riram e trocaram um gesto afetuoso.
– Claro, claro – assenti, sorrindo de canto.
Foi só uma primeira impressão, pensei. Ramona me tratará muito bem, conversava com suavidade, e se teve não notei, indícios de ciúmes em suas palavras. Bill e ela se encaixavam de um jeito assustador, não era como nós fomos um dia, era de um modo que nunca seriamos, mas se fazia bem a Bill, me fazia bem.
– Mas, Rokety, me conta como está?
A tarde se estendeu Bill contava detalhe por detalhe de seu novo álbum, como estava a família, o resto da banda e, de vez em quando, Ramona se intrometia, concordava e sorria nos acompanhando em toda conversa. De mim contei só por cima, não entrei em detalhes como ele, mas confidenciei o suficiente para ele ter a nítida certeza de que eu estava bem.
Se alguns anos atrás alguém viesse dizer que eu, Rokety Françis estaria em uma sala com Bill Kaulitz e sua esposa em uma tarde de primavera no maior estilo “colocando as fofocas em dia” certamente não estaria vivo para ver o que profetizou ou eu teria batido nele o suficiente para que ele aprendesse a não fazer piadas sem graças.
Em uma fração de segundos, Ramona e eu trocamos um olhar cúmplice, pela primeira vez desde que cheguei, vi medo no fundo de seus olhos e uma angústia que só eu conseguia enxergar, nada comparada a menina alegre que conheci um pouco mais de um ano atrás.

Postado por: Grasiele

Dangerous - Capítulo 23 - First Page


Fim. Três letras, vários significados, mas no final ela tem a mesma função.
Às vezes o fim é necessário, às vezes, mesmo que dolorosas algumas coisas precisam de um fim, um capitulo só começa quando outro termina, é a regra. De vez em quando damos muitos ''fins'' e, algo que era pra ser a solução acaba sendo o problema, pontos demais viram reticências, perdem-se o objetivo. Vira eu e a Rokety.
Então se passaram dias, meses e eu temia que por fim, chegassem os anos. O celular infelizmente não apitou anunciando uma mensagem dela dizendo que estava tudo bem, que tudo não passava só de uma brincadeira de mau gosto ou algo do tipo, e muito menos tocou. O carteiro não bateu na minha porta dizendo-me que havia uma carta endereçada a mim e minha caixa de e-mail continuava vazia. Esperei que ela voltasse, aguardei ansiosamente qualquer sinal de vida vindo dela por qualquer meio, cansei de esperar, a espera me consumiu e me desgastou por dentro. Ela se foi e esqueceu-se de levar as lembranças com ela.
Nos primeiros dias fiquei trancado no quarto, remoendo tudo, olhando pela janela , saindo correndo cada vez que a campainha tocava, almejando que fosse ela que estivesse tocando.
Eu esperava que Rokety viesse. Que voltasse pra mim.
Eu pedi com todas as forças que ela viesse, implorei. Mas isso parece que, de alguma forma, não foi o suficiente, pois ela não voltou. Acho que no final de tudo, da minha rebeldia, do meu isolamento e da minha pose de que ''estava tudo bem, eu sobrevivo sem ela'' no fundo do meu ser, eu queria que ela me desse algum sinal, sabe? Qualquer um e por menor que fosse. Talvez eu só quisesse que ela sentisse minha falta, na mesma intensidade que eu sentia dela.
Mas, Rokety não deu sinal algum de onde estava, e vendo hoje, mesmo que ela desse, eu não iria atrás. A escolha de partir foi dela, por mim ela estaria aqui. Todos os dias eu me perguntei o que eu havia feito de errado para que ela tomasse tal decisão, não estávamos bem? Felizes? Apaixonados? Creio que não.
Todos os dias eu desejei voltar atrás no tempo e nunca tê-la conhecido. Não por egoísmo, pra que eu não sofresse tanto, mas por nós mesmos, ambos sofremos, mesmo que eu diga todos os dias que não sinto falta dela, eu sei muito bem que essa é uma grande mentira. Mas é como dizem, se não procura é porque consegue viver sem.
Então me pego imaginando como seria minha vida se eu tivesse pegado um atalho, uma outra rua, tivesse ficado mais hora em um lugar e menos em outro. Se, quando meus pais quiseram se mudar da pequena cidade eu tivesse batido o pé quando era menorzinho se eu seria o mesmo de hoje, quem eu teria me tornado? As coisas teriam sido mais difíceis ou mais fáceis? Eu teria amado alguém e esse alguém teria o correspondido? Eu teria suprido as expectativas dos meus pais e da família? Não sei.

Peguei então tudo que era relacionado a ela e joguei bem lá no fundo da minha mente, não quis esquecer muito menos apagar ela da minha vida, até porque seria um tanto egoísta querer apagar tudo que tivemos, e mesmo que eu quisesse, não dá, não tem como, não consigo.
Nossa historia era pra ser como todas as outras, ter sido linda, mágica, pura, saudável, deliciosa... Era pra ter sido amor. Era pra ter tido os típicos ''felizes para sempre'' de algum modo sempre fomos diferentes dos outros casais, e mesmo sabendo que todas as historias tem um fim, não me conformo com o nosso.
Assim dei continuidade ao nosso álbum, Georg e Gustav vieram da Alemanha pra nos ajudar. David Jost soltou a noticia de uma turnê para 2013 e todos ficaram eufóricos. Chegávamos cedo ao estúdio e eu era sempre o último a sair.
Casa - estúdio, estúdio - casa. Minha rotina por um curto tempo ficou assim. Até que conheci, Ramona. Quando Tom disse o nome dela, tive que me segurar e não soltar de primeira o porquê dos pais dela serem tão maldosos com ela, mas fiquei na minha. Como ela estava acompanhada por meu irmão a primeira impressão sobre ela ficou destorcida, mas depois por incrível que pareça ela e Tom eram apenas amigos.
― Como assim você é amigo de uma garota, Tom? ― Perguntei altamente desconfiado. As amizades de Tom com as mulheres duram até ele levar elas pra cama. Pronto, acabou a amizade. ― Você, depois de velho, tá virando gay?
Pequenas palavras, grandes efeito. Tom começou a tosse sem parar, até que, Aline chegou e deu um tabefe nas costas dele, volto ao normal.
― Quem é gay? – Ela perguntou com cara de paisagem, mas acho que já tinha a resposta, pois quando falou, ficou olhando pra mim meio desacreditada.
― Você acredita que o...
― ...Georg vai fazer uma serenata pra namorada dele e depois vai pedir em casamento? ― Tom disse em tom mega debochado, me interrompendo, balançando a cabeça e arregalando os olhos ― Vai me dizer que isso não é coisa de boiola, Aline?
Aline deu de ombros, só sentou ao lado do meu irmão e ficou lá. Tom não notou, mas ela havia ficado magoada aquele dia, talvez ela tenha sonhado que Tom um dia fosse fazer algo desse tipo.
Logo depois eu soube que Ramona trabalharia conosco, fiquei feliz. Eu precisava de novos ares e novas pessoas. Cada vez mais eu saia na noite, acompanhando Tom e os outros que queriam conhecer o melhor da cidade. Ao contrario do que todos pensavam, Gustav não era tímido. Ele não tinha nenhum medo de chegar em uma mulher, Georg não tinha e nunca teve uma namorada fantasma, como ele mesmo dissera, era uma ''peguete'' a longo prazo. Todos falavam mentiras sobre eles, não sabendo a verdade, e todos falavam uma verdade sobre. Tom, por exemplo, não tinha ''romances só de uma noite''.
Então concluí, enquanto observava a bolinhas de gás subirem por meu uísque, que eu havia voltado a ser o que eu era antes, Bill Kaulitz sem se importar com a existência medíocre de Rokety Françis.
Qualé, vai ficar ai sentado? ― Disse Ramona, se jogando ao meu lado podre de bêbada, fraca.
― Estou bem aqui ― Sinalizei, com a cabeça, meu copo ― Ótima companhia.
Estalou os dedos á minha frente.
― Acorda! ― Gritou, mas seu grito fora abafado pela batida eletrônica ― Ficar ai sentado vendo a vida passar não vai fazer com que ela mude, sabia? Idiota, acorda e modifica o rumo desse rio, porra!
Bufei. Ela tinha a porcaria da razão.
― Ainda está disposta a dançar? ― Sorri.
― Cale essa boca e vamos logo ― Pegou minha mão.
Entramos em uma dança desajeita. Ela bêbada e eu já estava nesse caminho, iria dar merda ou um fiasco dos grandes. Olhei de relance pra cima e peguei Tom e Aline no famoso beijo ''desentope pia'', ali com certeza iria dar bebê.
Ramona pegou minha mão e foi me guiando de acordo com que ela achava que era certo, virei o resto da bebida e depositei o copo numa banqueta ao lado. Quando dei por mim ela havia entrelaçado nossas mãos se virando e grudando nossos corpos, ficando de costas pra mim, não fiz nada, o show era dela, que começasse e terminasse. Foi então ela começou rebolar. Parece que iria rolar uma participação especial.
Prendi mais seu corpo ao meu, ouvindo sua risada abafada, comecei pelo seu pescoço dando pequenos selinhos indo em direção a sua orelha. Mordi-a. Virei-a de frente pra mim e começamos uma deliciosa guerra de línguas raivosa.
Senti o impacto sobre mim, quando uma parte ainda sóbria da minha mente se sentiu no poder de comparar o beijo dela com o de Ramona. Ignorei. Continuei como se estivesse tendo uma overdose de emoções com aquele beijo. Mas minha consciência não deixava, insistia em me dizer que o gosto da boca dela era diferente, que ela tinha uma falha nos dentes, os da frente, eles eram meios afastados um do outro. Que Rokety tinha um beijo feroz e, o mais importante de tudo, quando nos beijávamos por mais que tivesse ódio, existe o que não existe nesse beijo, existia acima de tudo amor de ambas as partes.
Aprofundei o beijo.
Passei a mão pela sua cintura e quase fundi nossos corpos. Se Rokety conseguia ir e viver sua vida como se eu nunca tivesse feito parte dela, significa que em algum momento ela cogitou que eu também poderia.
Afastei-me de Ramona soltando um longo suspiro, relembrando como se fazia o ato de respirar. Então ela piscou, e perdeu toda a cena. Voltei a beijá-la, de novo e de novo, comecei e recomecei, pausei e continuei, cansei, respirei e voltei. Fechei os olhos bem forte e controlei minhas emoções. Esse foi um dos dias que eu havia tomado um porre daqueles.
Quando acordei sete meses haviam se passado, no entanto nada parecia ter mudado.
Sete meses.


E nesse tempo todo percebi que não sei colocar pontos finais, não sei acabar com algo, mesmo que esse algo esteja acabando comigo, não sei tirar alguém da minha vida.
― Oi! ― Ramona chegou ao estúdio com sua alegria contagiante, talvez ela esperasse o mesmo de mim, como só acenei e dei um sorriso meia boca, ela veio até mim, colocando sua a mão em meu ombro ― Oi? Posso ajudar você?
Posso ajudar você? Era sempre assim, não com essas palavras, mas por entrelinhas sim. Sempre disposta a me ajudar, parecia que pra ela eu não era um rockstar, eu me sentia normal, confortável, era aconchegante estar ao seu lado. Ela parecia se moldar as minhas necessidades, se adaptar aos meus costumes e gosto, como se fosse feita sobre medida pra mim. Depois de muita insistência ela confessou.
― Tá, tá ― Ela disse entra as risadas ― Eu pesquisei sobre vocês na internet, conhecer um pouco meus patrões ― Justificou-se. Continuei a encarando, ela bufou ― Também estava curiosa!
― Tudo bem, eu sei que sou irresistível ― Pisquei me gabando.
Arrisquei-me, comecei de novo. Cansei de ficar, de sair, dos beijinhos aparentemente sem sentimento e sem compromisso. Ao contrário, eles tinham mais sentimentos do que deviam e em cada novo toque entre nossos corpos a chama do desejo aumentava, chegando em algumas vezes, eu sentir ele me queimar.
Havia alguns tempos que eu saia mais com minha assistente, sempre usávamos de uma desculpa para alongar as conversar e ir a algum lugar, para no fim acontecer algo mais. Ramona não sabia nada sobre meu passado, muito menos sobre minha relação conturbada com Rokety. Tudo pra ela era novo, fantástico, gostoso como o som da chuva.
Assim começamos a assumir algo mais firme, sólido, mas nada era oficial. Não era como se eu morresse de amores por Ramona, a verdade era que sua companhia me fazia bem, porém, eu tinha uma atração por ela que eu torcia com todo o meu ser para que mais tarde se tornasse amor, porque eu já gostava dela, do jeito dela, das manias, algumas loucas, dela.
Ramona nunca foi contra quando eu disse que queria deixar tudo às escondidas, sua privacidade era muito importante para mim, algo que eu nunca pude saborear, na verdade nem sei se essa palavra algum dia existiu no meu dicionário.
Quis conhecer os pais dela, mas ela havia me dito que eles moravam em outro país e infelizmente no momento eu não poderia viajar, estávamos abdicando todo nosso tempo a finalizar o álbum.
Tom já havia sacado que tinha algo a mais acontecendo. Fiquei preparado para a avalanche de perguntas sem cabimentos do tipo ''Já fizeram sexo?'' ou ''Como são os peitos dela?'', mas ele agiu totalmente diferente, tão diferente que eu quase não o reconheci nas próprias palavras. Estava muito bravo, mas parecia não ser comigo.
― Ela é uma interesseira ― Esbravejou, sentando bravo no sofá ― Você não vê?!
Ele me encarava, gesticulando.
― Mas eu gosto dela ― Me defendi rapidamente ― Ela não era sua amiga?
Lancei-lhe um olhar confuso e em troca recebi outro.
― Acabou a amizade quando percebi que tipo de pessoa ela é ― Após um longo tempo ele respondeu, atordoado, medindo as palavras. E em nenhum momento me olhou nos olhos.
― E que tipo de pessoa ela seria? Diga-me. ― Cruzei os braços a sua frente ― Porque, pelo que parece, você conhece minha namorada melhor do que eu.
Tom me olhou como se eu tivesse acabado de pronunciar um palavrão muito feio ou nojento, pois sua cara se retorceu numa expressão de pura incredulidade e perplexidade. Logo após ele soltou um riso anasalado balançando a cabeça, estupefato.
― Até ontem ela não era nada na sua vida, além de nossa assistente, hoje você enche a boca pra dizer que ela é sua namorada? ― Franziu o cenho desacreditado.
Afundei meu corpo no sofá a frente dele, desarrumei o cabelo e respirei na falha tentativa de entender o que se passava. No meu pensar, Tom ficaria super feliz em saber que havia me curado do amor doentio que eu e Rokety tínhamos, que eu estava bem sem ela, pois agora eu tinha uma pessoa que me fazia bem e respondia a todas as minhas expectativas. Nunca imaginei que tal notícia fosse despertar uma briga com meu irmão, coisa que nunca acontecia.
― Ela já sabe? ― Perguntou segundos depois, sem me olhar.
― Do que? ― Repliquei confuso.
Olhou-me desafiadoramente.
― Sei lá, da Rokety, do nosso passado e por fim, que agora ela esta no posto mais alto de todos? ― Debochou nas ultimas palavras, rindo.
Enfureci-me. Nunca, jamais, eu em interferi nos romances dele e nos seus casinhos de uma noite, sempre o apoiei, mas me parece que quando eu preciso, ele me vira às costas e me aponta o dedo. Legal.
― Não, não sabe ― Respondi para as duas perguntas ― Hoje a noite vai ficar sabendo, para a alegria de todos que nos querem bem e para infelicidade daqueles que nos quer mal. ― Levantei e sai, deixando meu irmão com os olhos arregalados pelo jeito que falei, atrás de mim.
― Meus parabéns para o casalzinho. ― Ainda o ouvi dizer, antes de bater a porta fortemente.


Ainda havia em mim um pouco do romantismo que eu falava nas várias entrevistas que dei por esse mundão afora. Ramona achava que era mais um de nossos passeios, mas se arrumou como se fosse a uma festa glamorosa, na verdade ela pouco fez, já era linda.
Comprei uma aliança básica, forrada com diamantes, mas linda, marquei também um dia para que nossos nomes fossem marcados. Para mim, era um sonho se realizando.
O fato de eu ser músico deveria me dar créditos no quesito criatividade, mas não. Embolei-me todo, não sabia como ia dar, pensei em dar no meio do sorvete, mas vai que ela morre engasgada, ou algo pior?
Já que eu sabia que Tom não iria me ajudar procurei alguém que ficaria feliz em fazer isso. Chamei Aline. Então fiquei só com o serviço de me arrumar e não esquecer a aliança.
Fácil.
― Caralho, aonde foi que aquele lápis se escondeu? ― Urrei nervoso, já estava em cima da hora ― Eu vou matar você quando te encontrar.
― Vai sem ― Tom se recostou na porta ― Sabe, para ela se acostuma com essa sua cara desde já. ― Sorriu cinicamente e saiu.
― Puto!
― Seu reflexo, maninho. ― Sorriu cinicamente e saiu.

Espere um pouco, amor. Já estou descendo ― Falou pelo interfone.
Dez minutos depois ela desceu.
― Como estou? ― Sorriu dando uma voltinha.
― Hm, linda? ― A peguei pela cintura dando um selinho ― Maravilhosa?
― Sua.
― Vamos aonde? ― Perguntou enquanto arrumava meu colarinho, despreocupada.
― Sair, dar uma volta.
― Tudo bem. ― Sorriu sem desconfiar.

Estacionei em frente ao restaurante luxuoso. Desliguei o carro e logo saí, dando a volta para abrir a porta para Ramona. Caminhamos até a entrada, onde dei o meu nome e fomos direcionados, como pedi, a uma mesa no fundo, longe dos olhares curiosos.
Conversamos enquanto nossos pratos não chegavam, nunca faltava assunto, ambos famintos por informações do outro. A única que ela fugiu, discretamente, era quando eu perguntava da sua peculiar - agora aparentemente inexistente - amizade com meu irmão. Ambos contavam a mesma história, como se tivessem ensaiado por horas até nenhum dos dois errarem, que eles haviam se conhecido em uma boate a muito tempo, ela ajudara Tom a chegar salvo antes que eles tirassem fotos dele naquele estado, nada havia acontecido entre eles, mas fazia muito tempo que isso havia ocorrido, só mantinham contato por telefone e de vez em quando. Não querendo estragar a noite, me permiti deixar pra lá, mas não esquecer.
― Mas uma vez, a noite foi ótima, Bill. Obrigada ― Agradeceu com um imenso sorriso, levantando-se da cadeira e me beijando, sentando logo após envergonhada. Ela sempre ficava assim quando achava que tinha passado de algum limite que ela mesma impunha.
― Disponha ― Brinquei. ― Mas que tal deixar a noite perfeita? ― Alteei a sobrancelha
― Mas ela já está – Discordou.
― Tem certeza? ― Insisti.
― Ok, fale. ― Cruzou as mãos, anciosa.
― Feche os olhos ― Pedi carinhosamente.
― Ah, Bill...
― Vamos ― Como ela demorou eu mesmo a ajudei.
Tirei a caixinha do bolso direito e a abri deixando na sua frente.
― Abra.
Ela respirou fundo e quando abriu pareceu perder todo o ar, olhou para mim e depois para o anel, levou a mão a boca e sorriu entre as lagrimas que desciam pelo seu rosto.
― Você...
― Sim, estou te pedindo em namoro, oficialmente. ― Ela nem piscava, olhava fixadamente para mim ― Aceita?
― Isso não é certo, Bill. ― Disse triste, baixando o rosto.
― O que não é certo? Nós nos amarmos e sermos felizes?
Ela pareceu pensar no que me pareceu uma eternidade.
― Regras servem para serem quebradas ― Sussurrou e depois me olhou ― Eu ainda não disse “sim”?


Na manhã seguinte cheguei todo contente no estúdio, mas minha alegria sumiu quando Georg me jogou a revista e nela continha uma enorme foto minha acompanhando de Ramona.
First Page, amigo.
Encarei a imagem por mais alguns segundos, absorvendo o choque de ter sido tão burro a ponto de ser descoberto pela mídia um dia depois de ter oficializado meu namoro. Folheei até a página que dizia ter mais sobre a nova namorada de Bill Kaulitz. Nela dizia algumas informações sobre Ramona, tais como idade, onde morava, o que fazia, até quando estudou... Embaixo continha fotos nossas, de alguns de nossos passeios que achávamos que ninguém sabia.
― Se eles tinham essas fotos, porque não jogaram essa informação pra mídia antes? ― Questionei-me, olhando os outros a minha volta.
― Agora acho que eu sei que tipo de pessoa ela é ― Disse Tom, como quem não quer nada. Sorte Ramona ainda não ter chegado ― Do tipo que nos arruma confusão.
― Para, Tom ― Pediu Gustav ― Não provoca.
Eu ri com desdém.
― Claro, foi você né?
― O amor deve ser um veneno mesmo, pois pelo que parece ele está entrando nessa sua cabecinha, te intoxicando e te deixando cego ― Disse duramente ― Bill, eu sou seu irmão e não seu inimigo.
Arrependi-me na hora do que havia dito, quando fui pedir desculpas, ele já haiva saído, trombando propositalmente com Ramona, que me olhou confusa, dizendo ''O que aconteceu com ele?''. Veio até a mim e me deu um beijo discreto.
― Aconteceu alguma coisa? ― Perguntou baixinho.
Desenrolei a revista e coloquei na altura de seus olhos.
First Page, fomos descobertos.

Nossos rostos estavam em tudo e qualquer tipo de tablóide de fofoca. Por um lado tínhamos que admitir que isso era, de algum modo, bom. Nossa parceria já bombava. A notícia de nosso próximo álbum e uma turnê também estava sendo bastante comentada, isso de algum modo nos ajudaria a nos divulgar ainda mais.
Ramona passou a morar em outro condomínio e destinei a ela dois seguranças que iriam se infiltrar entre as pessoas para não ficar muito na cara. Ela cortou e pintou o cabelo, mas eu avisei a ela que isso seria inútil. Tínhamos marcado uma entrevista para um programa onde esclareceríamos tudo.
Concentrei-me na entrevista. O foco era mostrar que, apesar dos boatos, nós estávamos mais firmes do que tudo, e que nossa parceria musical era um exemplo disso. Sabia bem eu que haveriam perguntas das quais eu teria que ser habilidoso e me desviar delas ao mesmo momento em que não poderia dar indício de nada.
Jost, a nossa frente, nos dava várias instruções, Tom bufava, eu sabia que assim como eu ele já sabia de cor o que nosso manager dizia. Gustav e Georg volta e meia concordavam com a cabeça. Enfim, Jost saiu e nos deixou sozinhos.
Pensei nas possíveis perguntas que iriam me fazer com relação a Rokety e nas possíveis respostas que eu poderia dar sem deixar nada passar.
Iríamos entrar no penúltimo bloco do programa que fazia sucesso nas noites de sábado em Los Angeles. Cantaríamos duas músicas, responderíamos perguntas da platéia e falaríamos de nós e o que poderiam esperar do nosso próximo álbum.
―E essa sua parceria com Far East Movement, como surgiu? ― Perguntou o apresentador e a platéia se silenciou.
― Nos encontramos em uma dessas casas noturnas e eles me fizeram a grande proposta ― Respondi tranquilo, omitindo que essa parceria era, na realidade, uma jogada de Markentig para ambos os grupos.
― Então quer dizer que agora casas noturnas servem para tratar de negócios? ― Disse, arrancando gargalhadas da platéia.
― Depende do ponto de vista...
― Falando em posto de vista, quem é Rokety Françis? Qual é sua relação com ela? ― Falou, me interrompendo, enchendo-me de perguntas.
― Na verdade ela é uma ex-ficante minha, que depois de ter levado um pé na bunda ficou aborrecida e descontou no meu irmão ― Respondeu Tom, fingindo lamentar-se. Disfarçadamente o olhei de soslaio, isso não estava nos planos, eu que iria ''falar'' e o que iria dizer não tinha nada a ver com aquilo que ele disse. Mas, por hora, eu não podia fazer nada.
― Como você a conheceu? ― Inclinou-se o apresentador.
― Em uma noite dessas ― Fez pouco caso ― Mas só porque fiquei mais de duas vezes com ela, a mesma se achou no direito de se achar diferente das outras. E deu no que deu, infelizmente ― Tom deu de ombros, visivelmente inconformado.
― Vocês conseguiram contato com ela depois disso? ― Insistiu.
― Não ― Eu disse. ― Assim como as outras tragédias envolvendo nosso nome, essa também vai passar e ser esquecida. Próxima pergunta, por favor. ― Sorri cínico, encerrando um assunto que nem deveria ter começado.
Tom às vezes mentia numa naturalidade tão grande que eu quase que acreditava nele, mas ainda assim todos notaram meu desconforto. Os G's responderam algumas coisas relacionadas a eles e a banda em geral. Cantamos a primeira música e a outra seria no encerramento do programa.
Participamos das típicas brincadeiras retardadas desses programas idiotas. Mas confesso que cheguei a gostar. De relance sempre observava Ramona encostada na parede, ela prestava atenção em cada movimento meu e quando me pegou a observando sorriu de um jeito doce e amigável, me mandando um beijo discreto.
Enfim, chegou o momento que todos nós aguardávamos. Eu sabia muito bem que meu irmão, por debaixo daquelas calças, suava de nervosismo. Não foi uma coisa que decidimos de uma hora pra outra, mas foi algo que precisávamos decidir que eu precisava, era quase que uma libertação. Eu precisava, aos poucos, construir o eu castelo, mobilhá-lo, reformá-lo, acreditar que dessa vez seria diferente se eu começasse com algo novo.
― Nossa, hoje foi um dia muito produtivo! ― Soltou o apresentador, voltei a encará-lo. ― Fizeram uma parceria, vão lançar um novo álbum, desmentiram aquela louca e os Kaulitz estão namorando? É isso produção? ― Ele se fez de desentendido e essa era nossa intenção.
A platéia começou a falar todos juntos, algumas fãs nem piscavam, Tom sussurrou algo como ''merda, vou perde muitas gatinhas'' e eu sorria todo feliz.
― Por favor, tragam as felizardas!
Em questão de segundos elas já estavam do nosso lado, e mesmo que Tom quisesse negar que não estava completamente apaixonado por Aline, suas ações com relação a ele já eram involuntárias.
Primeiramente Tom fez questão de contar em detalhes como havia conhecido Aline, omitindo a parte que Rokety e ela eram amigas, falaram um pouco das brigas, mas no final eles se amavam. Tom finalmente havia sido fisgado por algo que eu era praticamente escravo: o amor.
― ... Resumindo: Aline não resistiu aos meus encantos, afinal ninguém resiste.
Incrível como Tom perdia a namorada mais não perdia a piada.
E comigo foi o mesmo. Conte tudo sem omitir nada. Queria começar tudo de novo, tentar mais uma vez nesse negócio que chamamos de amor. Eu iria ser feliz, coloquei na cabeça.
― E vocês, garotas, não têm medo não? ― Brincou.
― Por amor vale a pena correr alguns riscos, né?
― Com certeza. ― Confirmou ― Garotos, por favor? ― Indicou o palco.
― Com prazer.
Cada um pegou seu instrumento e começamos. A qualquer hora o programa sairia do ar. Cantamos até o segundo refrão.
― Parabéns! ― Saldou Jost. ― Saiu tudo perfeito até a parte em que você ― Apontou Tom ― Deu uma de super-man, né?
Enquanto eles discutiam, eu sai em busca da minha namorada que estava sentada em uma das poltronas. Pouco a pouco as pessoas iam saindo do estúdio de forma organizada para que ninguém se machucasse ou tentasse vir falar conosco. Ramona estava triste e pensativa, sentei-me ao seu lado, mas ela pareceu não notar minha presença. Chamei-a, porém ela só me ouviu na terceira vez.
― Me desculpe.
Peguei seu queixo e levantei na altura do meu rosto.
― O que aconteceu? A um minuto atrás você estava feliz. ― Questionei.
Tirou o rosto da minha mão e o virou.
― Sei lá ― Deu de ombros e me olhou ― você de vez em quando não se preocupa com o fato dela aparecer de novo e botar tudo isso abaixo?
Eu havia contado, brevemente, sobre Rokety.
Fiquei sem reação. Como dizer a ela que só no fato de pensar em Rokety eu já desmoronava?
― Não ― Afaguei seu rosto, convicto das palavras que diria ― Porque juntos, você e eu, podemos erguer tudo novamente.
― Você sempre sabe o que dizer ― Comentou, sorrindo. Levantou, abrindo os braços ― Por acaso ensaia em casa?
Fui de encontro ao seu abraço gostoso e respondi:
― Faz parte do meu charme ― Respondi.
Meu sorriso durou tempo suficiente para Ramona não notar quando ele se desmanchou quando a olhei, parada, sorrindo. Ela acenou. Não parecia então que havia passado tanto tempo desde a última vez que nos vimos, mas eu sabia que havia sim, eu só não conseguia ver isso agora, muito perplexo para reparar nas suas mudanças físicas. Ela sorriu mais uma vez e sibilou um “parabéns” bem baixinho, como que só para eu ouvir. Em seguida ela virou e foi-se, quando olhei de volta, ela era apenas uma pessoa no mio da grande multidão.
Diante de suas palavras pouco pude fazer, apenas intensifiquei o abraço em volta de Ramona, trazendo-a para mais perto. Eu poderia ter feito alguma coisa, dito algo, ter corrido em sua direção ou ter chamado a atenção de todos ali enquanto um ''espere'' saía desesperado por minha garganta. Mas parecia que as palavras de Rokety tinham efeito anestésico sobre mim, somente fiquei ali parado, por alguns instantes me senti paralisado.

Empenhei-me tanto em esconder o quanto tinha ficado abalado que ninguém percebeu minha mudança repentina de humor, nem Ramona. O caminho até em casa foi tranquilo, o ruim foi sair. Deixei Ramona em casa e depois fui pra minha. Não encontrei Tom, muito menos Aline.
Tentei dormir, virei várias vezes na cama, procurando algum tipo de posição que me fizesse embalar num sono tranquilo e só me fizesse acordar no dia seguinte. Mas foi impossível. Diante disso, saí. Fui aonde meus pensamentos queriam me levar. Eu repetia para mim mesmo que não precisava daquilo, mas meu coração dizia o contrário.
Xinguei-me mentalmente quando me vi parado na frente de sua casa. Estava tudo silencioso e eu não esperava outra coisa vendo as horas. Mas eu precisava vir, eu não aceitava o fato dela sumir por meses e depois voltar, assim, de repente, e ir lá com a maior cara de pau me dar parabéns. Ela estava comemorando o quê? Havia algo que ela ficava feliz em comemorar? Se ela não fosse tão estúpido, talvez ela estivesse no lugar de Ramona, que seria apenas minha assistente, como era pra ter sido desde o começo.
― Vai ficar parado ai por mais quanto tempo, Bill?
Ela estava parada do lado carro, me encarando confusa enquanto soprava a fumaça do cigarro pro alto.
― Rokety?
Ela riu.
― Não, Papai Noel, o que você deseja? ― Debochou, me dando as costas e entrando pra dentro da pousada. Fechei o carro rapidamente e a segui.
Rokety estava sentada e eu a observa enquanto ela fumava um cigarro atrás do outro. Parecia que eu não estava ali, ou ela me ignorava muito bem a ponto de nem se incomodar com o meu olhar raivoso sobre ela. A indiferença sempre foi uma qualidade dela, ou um defeito, depende de quem vê.
― Da pra parar? ― Sibilei irritado, ela me olhou vagamente e voltou a olhar algo lá fora, mas interessante do que eu.
― Dá, mas nos últimos meses eu infelizmente viciei, pelo menos um maço por dia. ― Jogou a butuca fora ― Você sabe que é feio vir na casa das pessoas a essa hora, né?
― Claro, porque bonito mesmo é sumir e depois reaparecer do nada. Lindo, né? ― Entortei a cabeça, totalmente irritado. Estava cansado da sua cara de ''tanto faz você aí, eu to bem aqui''.
― Algumas coisas fugiram do controle, não era pra ser assim. Você tem que acreditar em mim ― Rokety gesticulava freneticamente com as mãos, em seguida as colocou na cabeça ― Eu meti os pés pelas mãos, Bill.
― O que você fez? ― Falei suavemente, ficando a sua frente.
Ela levantou a cabeça e me olhou triste.
― Bom, agora isso já não importa mais ― Levou uma mão a meu rosto ― Porque afinal, você está feliz, você está diferente ― Contornou meus olhos ― Esse brilho nos olhos quer dizer que eu fiz algo certo, você está apaixonado.
Soltou uma risada vazia, oca e sem vida.
― Não era pra ser assim...
― Realmente não era, mas já que foi, vamos aceitar ― Complementou.
― Então você não vai fazer nada? Não vai me pedir pra nos voltarmos ou coisa parecida? Vai desistir e fingir não se importar? ― Enquanto eu soltava perguntas e mais perguntas pra ela, eu sentia minha voz falhar e meus olhos lacrimejarem ― Vai fica aí, parada, enquanto eu falo também?
Ela só fez que sim com a cabeça, também chorava.
Não aguentando mais aquela situação patética, virei-me e fui embora, mas não com aquela sensação de que amanhã ou depois nós estaríamos juntos novamente, senti que aquele era nosso fim, sem reticências ou vírgula, era o temeroso fim. Nunca pensei que seria assim, na verdade nunca pensei. Mas aconteceu e estamos assim, com o coração em pedaços, talvez com o tempo, mais uma vez, possamos juntá-los.
Olhei pra trás numa última esperança de que Rokety mudasse de ideia, mas não, ela continuava na mesma posição que eu a havia deixado, e me parecia que não ia se mexer por um bom tempo.
Entrei no carro e encostei a cabeça no volante, e chorei. Chorei por tudo que fomos um dia e tudo que eu pensei que seriamos e pelo o que não conseguimos ser. Por tudo que conquistamos, ganhamos e perdemos. Chorei por termos nos perdido depois de termos nos reencontrados infinitas vezes. Pelo que achamos que foi, que era e que - na verdade - não foi nada, não era nada. Pelos nossos erros e nas vezes, as poucas vezes que acertamos e não comemoramos. Pelas muitas vezes em que as mesmas palavras que nos feriam eram as que nos curavam. Chorei também pelas nossas tentativas, porque o que mais fizemos em nossa vida foi tentar. Tentamos ser pessoas melhores, e somos. Tentamos deixar o passado pra trás e com muita luta conseguimos. Tentamos e tentamos, e nunca pararemos de tentar. Só chorei e, antes de levantar a cabeça e tentar seguir em frente, meu celular apitou.
Mas eu amo você. Só queria terminar dizendo isso. Eu amo você. De verdade.
Rokety.

Postado por: Grasiele

Dangerous - Capítulo 22 - Pizza


Lembro perfeitamente de como era agonizante seu olhar. Lembro-me dele pedindo que eu resistisse, e por ele eu lutei até o último minuto. Apesar de, simultaneamente, querer ser leve o suficiente para que o vento que chocalhava meus cabelos me levasse junto com ele. Quando pequena, sempre via e ouvia as pessoas dizendo que amizade entre sexos opostos não existia. Fomos a exceção.
Posso afirmar que eu era e sou apaixonada por ele, e como todos os amores, a partida do meu amado me faz sofrer dia após dia. Sabendo eu que essa dor nunca terá fim. Parte de mim é madura o suficiente pra saber que, mesmo que Richard esteja atrás das grades, isso nunca irá fazer Bruno voltar. Porém, a outra parte é pirracenta o suficiente pra ir até onde ele esteja e fazê-lo gritar pedindo desculpas, não importando que ele seja falso, mas que diga, que sinta e que veja o quanto eu sofro pela partida do irmão que ele nunca nem sequer considerou, mas que pra mim, nunca precisou ser de sangue pra ser da família, da minha. Que por fim, Richard se arrependa do que fez.
Mas eu também havia pedido inúmeras vezes que ele ficasse, que resistisse. Nunca vou saber se ele tentou ficar por mim. ''Não fique assim, eu estou bem'' ele dissera aquela vez, dentro da ambulância. Mas eu podia ver que ele não estava. De algum jeito, eu sempre soube que aquele era o fim, mas por ser tão óbvio, eu não enxerguei.
Mas os pegaram.
Richard e Fernandis estavam na cadeia, presos. E eu faria o possível para que eles nunca saíssem de lá. Enquanto seguia o corredor, me lembrava de como haviam pegado eles. Segundo Jeferson, eles estava atualmente na cidade do pecado, Las Vegas. Prenderam-os em uma emboscada, quando ambos tentavam negociar meninas no mercado ilegal de tráfico humano. “Típico de amadores nesse ramo”, dissera Jeferson, não que ele fizesse esse tipo de coisa, mas ele conhecia gente da pesada.
A euforia e o doce gosto de saber que eu estaria frente a frente com causador da morte do meu amigo me deixaram zonza de felicidade. Mas ainda assim, não me esqueci de Bill em nenhum momento.
— Onde ele está? – Perguntei a Jeferson ontem à noite quando ele acabara de me dar a noticia, eu andava de um lado para o outro.
— Da última vez que falei com uns conhecidos meus, os dois estavam em Las Vegas, na delegacia.
— Vamos pra lá! — Disse nervosa — Quero matá-lo, desgraçado!
Jeferson negou com a cabeça.
— Não adianta, se fosse o caso eu já teria ido — Falou — Vão deportá-lo.
—De qualquer jeito eu voltaria pra Alemanha — Suspirei me sentando novamente — E aquela vadia?
— Volta pra cá. E saber que você nunca gostou dela... No final isso tinha um fundamento.
E hoje estamos aqui, parados em frente a uma janela de vidro, enquanto os policiais a interrogavam. Parecia que eu estava em um daqueles filmes policiais que passam na TV, ela estava sentada de frente a uma mesa, enquanto havia dois policiais a sua frente, um com uma pasta e outro debruçado próximo a ela, sorrindo.
— Pela última vez, qual é sua relação com o crime aqui em Los Angeles e com o desaparecimento de meninas em Las Vegas? — O policial que estava debruçado perguntou.
— Só digo na presença dos meus advogados. — E sorriu, olhando diretamente pra tela em que eu estava. — Hm, me diga, não tem nenhuma visita especial pra mim?
— Você quer falar com ela? — Um policial que me acompanhara até ali sussurrou baixinho.
— Quero sim — Disse arrastado, quase inaudível.
Nunca conseguiria descrever o que senti quando pisei naquela minúscula sala. Era como se todo o tempo em que eu cuidei da ferida que a morte do Bruno me causou tivesse ido por água abaixo no instante em que meu olhar cruzou com o dela. As bordas incharam e a ruptura foi inevitável. Aquela seria, em mim, o tipo de ferida que nunca se cicatrizaria, sempre haveria alguém para machucá-la, ela voltaria a sangrar, a casca seria arrancada, dando assim, espaço pra outra se formar.
Eu tinha tanta coisa pra dizer a ela, queria justificativas e porquês da parte dela. Exigir que ela me desse um bom motivo pra justificar a atrocidade que havia ajudado a fazer. Bruno sempre foi tão bom, ajudava as pessoas, me ajudava, era uma pessoa confiável a amável. Dava e nunca pedia nada em troca, apesar de rico nunca perdeu a humildade. Em vida, Bruno me ensinou que temos que dar sem pensar em receber nada por isso. E poucos valorizam isso.
E de tudo do que eu realmente queria dizer, a única coisa que saiu por entre meus lábios trêmulos foi:
— Por quê?
Era uma pergunta sem resposta. Mesmo assim eu queria uma.
Ela me olhou de cima a baixo, analisando. Baixou a cabeça e passou a mão nos cabelos, bagunçando-os.
Ela riu.
Você é tão estúpida assim? Realmente não sabe o porquê? — Ela disse me olhando com uma expressão atrevida.
— Eu quero ouvir da sua boca! — Falei ríspida.
Ela inclinou a cabeça para o lado, me analisando.
— Dinheiro, querida Rokety, dinheiro. — Fernandis deu um sorriso torto, que me deu nojo.
Raiva? Ódio? Sim. Mas meu principal sentimento naquele momento era desejo. Desejo de que ela sentisse tudo que eu senti quando Bruno morreu. Depositar nela meu medo, minha angústia, o desespero, a perda, a dor, o vazio. Cada sentimento ruim que senti. Queria que Fernandis sentisse tudo! Mas eu sabia que isso não era possível. Uma pessoa como ela não sente nada, apenas ambição.
Você é um monstro! – Cuspi as palavras na cara dela. Eu estava lutando com todas as minhas forças para me controlar, para não pular no pescoço daquela mulher e bater nela até eu perde minhas forças. E do jeito que ela falava, debochando do que aconteceu, isso logo aconteceria.
— Você é tão patética Rokety. Eu sinceramente esperava mais de você. Acha mesmo que vai me ofender me chamando de monstro? Já ouvi coisas muito piores. — Ela falava irônica.
— Eu odeio você.
— Entra na fila.
— Como você pôde? Como?! Bruno não merecia isso. — E minha raiva só aumentava.
— Não tenho culpa se ele foi burro o suficiente para acreditar em mim. Bruno deveria ter sido mais esperto. — Ela falava calmamente. Eu não podia acreditar no que acabara de ouvir. Como ela tinha coragem de culpar Bruno pelo que aconteceu?
— Não fale o nome dele, sua desgraçada! — Falei alto, com os punhos fechados. Tentando encontrar forças para me controlar, o que estava ficando cada vez mais difícil.
Bruno, Bruno, Bruno, Bruno. — Fernandis cantarolou, sorrindo. Me olhou de maneira desafiadora. Agora ela tinha ido longe demais. Cruzei o curto espaço entre nós e minha mão atingiu seu rosto. Depositei toda a raiva que eu sentia naquele momento em um tapa. Então um policial entrou na sala me segurando. Fernandis me olhou com uma expressão que misturava raiva e ao mesmo tempo diversão. Raiva pelo tapa, e diversão por ver o quanto ela me afetava. O policial me levou para fora. Mas antes eu gritei:
Tomara que você morra nessa prisão, e só saia daí pra ir direto pro inferno!
Rindo ainda pude ouvi-la responder:
Então nos vemos no lá!

Saí da delegacia completamente desnorteada. Jeferson ia atrás de mim. Meu corpo todo tremia. A vontade de matar aquela mulher não passava. Mas ela seria castigada. Eu estava contando com isso, as lésbicas da cadeia cuidariam dela. Então fui embora, tentando deixar para trás os pensamentos com Fernandis. Ela não merecia que eu perdesse mais um segundo sequer com ela.
No caminho de casa, Jeferson me olhava atentamente. Fingi não ver.
— Não sei se vou consegui segurar as pontas, Rokety — Apertou o volante, em seguida o socou — Não é justo você fazer isso!
— A vida não é justa — Me virei, afagando seu ombro — Vai dar tudo certo.
Ele sorriu, duvidando.
— Vai me dizer que você ainda acredita em felizes para sempre? — Debochou, rindo. Ri também.
— Ah, você não? — Fingi estar ofendida — Poxa! — Rimos, mas logo voltamos a ficar sérios — Aposto todas minhas fichas que eles vão amar o furo que eu vou dar de mãos beijadas a eles.
Ele parou na frente da pousada, meus pais logo nos avistaram e vieram a nosso encontro.
— Demoraram — Lucy disse, e quando me olhou, eu soube que teria que dar explicações a ela — Vamos tomar um café, está fresquinho.
— Ah — Jeferson soltou, lamentando — Não vai dar mesmo, tenho que resolver algumas coisas, burocracia.
— Tudo bem, rapaz — Disse meu pai — Volte outra hora.
Logo em seguida eles foram indo, deixando eu me despedir de Jeferson.
— Se der passo lá à noite. — Saí do carro.
— Beleza, adeus. — Acenou, e quando eu já estava no portão de casa, ele colocou a cabeça pra fora, gritando:
— Talvez esse seja o problema. Você está apostando, literalmente, todas as suas fichas.
E se foi.
O tempo voou. Eu me revisava entre estar com Bill e estar sem ele. O tempo que eu não estava eram os piores, e aos poucos eu voltava a necessitar dele para viver. Ele era a primeira pessoa que eu pensava quando eu acordava e a última quando ia dormir. Involuntário. Estávamos bem, e assim eu queria que continuasse.
Mas eu sabia que querer não é poder.
A autoestima dele voltou a mil por hora, sorria, comia bem, dormia tranquilamente, voltou a viver. Então decidi que ir todo dia pra sua nova casa era muito empenho, o convidei para morar na pousada comigo e meus pais. Não era o luxo que ele tinha na antiga casa, mas era acolhedor, o lugar ideal para eu compor, ele disse.
Para o novo álbum, ele já tinha sete músicas. Tom vinha sempre o visitar, posso dizer que eu e ele estávamos mais amigáveis. Aline estava sempre junto. Estávamos tão bem que eu temia algo acontecer e destruir essa minha felicidade, ela era tão frágil que qualquer sopro já á quebrava.
A melhor coisa em tê-lo comigo, era que todos os dias eu tinha o privilégio de vê-lo dormir, calmo e sereno. Sentei-me do ladinho da cama e afaguei os cabelos de Bill.
— Hey, dorminhoco, acorda! — Sibilei baixinho perto do seu ouvido, dando selinhos por todo seu rosto e uma mordidinha na sua bochecha branca. Ele sorriu abertamente sem abrir olhos.
— Só mais um pouquinho... — Falou com a voz rouca. Soltei uma risadinha.
— Vamos, amor, sem moleza! Vamos tomar café, mocinho! — Disse, dando logo em seguida um beijo demorado nele, entrando com uma das mãos por debaixo do coberto e fazendo cócegas nele. Bill me agarrou pela cintura me fazendo cair por cima dele, rimos juntos.
— Mas eu prefiro aqui — Falou todo manhoso, quase senti pena, mas passou — Vamos ficar aqui — Disse afundando o rosto no meu pescoço. Dei um beijo na sua testa.
— Não, bebê chorão — Disse finalmente, me levantando sendo seguida por ele.
— Malvada.
Ri. Certas coisas nunca mudariam.
Durante o café da manhã, tudo correu bem. Tom estava aqui, isso era suficiente para que a manhã de Bill se iluminasse. Era incrível a conectividade deles, se moldavam como peças de quebra-cabeça, eu mais observava do que falava.
Observei Bill feliz, notei cada traço do seu rosto e o modo como ele me olhava, pensando se ele aguentaria uma nova queda e, se dela, ele sairia tão bem quanto ele saiu dessa. Eu apenas torcia pra que a resposta fosse sim. Eu sabia que do momento em que eu fizesse o que eu achava que era certo, eu estaria não só decidindo a minha vida, mas a de Bill também. Eu ia dar as cartas e comandar as jogadas.
Eu tinha que colocar na cabeça que Bill podia viver sem mim, que sua felicidade não dependia da minha presença. Afinal, ele sempre respirou e nunca precisou dos meus pulmões.

Olhei em volta, e de nós quatro eu era a que menos se encaixa naquele cenário. Eu era uma intrometida, uma intrusa, igual àquelas pessoas que vão a uma festa sem serem chamadas, penetras.
Qual seriam as chances de Bill estar aqui, hoje, se refugiando para compor, para fugir, separado momentaneamente do seu irmão, em uma pousada? Eu lhes repondo: zero. Por que isso aconteceu? Por queeu entrei na vida dele, eu fiz de sua vida uma montanha-russa, porque apesar de, às vezes, eu fazer bem, na maioria das vezes, eu só faço o mal.
Olhando nos olhos dele, sorri, concordando com alguma coisa que eles haviam dito. Vi seu sorriso se estender quando me olhou.
— Acho que agora você, Bill, já poderia voltar pra antiga casa. — Disse de repente, atraindo a atenção deles.
— Por quê? — Bill perguntou, franzindo o cenho. Claro que ele iria querer saber.
— Porque sim — Droga, pensei, resposta errada. Bufei e resolvi contar a verdade, o inferno tinha chegado até aqui. — Acho que vi um fotógrafo rondando aqui hoje.
— Aqui? — Tom disse incrédulo — Até aqui?! Vai se ferrar!
— Acho melhor você ir mesmo, Bill — Aline sibilou — Iria ficar chato se os pais da Rokety acordassem e vissem um monte de gente rondando a pousada deles.
— Você pode dormir aqui essa noite — Pisquei, dando um beijo suave na sua bochecha.
— Uma despedida, hein — Tom disse travesso, tirando assim a pequena tensão que havia se instalado — Alguém vai sair lucrando, e não vai ser eu. — Ele quase sorriu, mas foi interceptado pela mão de Aline em seu ombro.
Pela tarde ajudei Bill a arrumar suas malas e depois fomos compor. Bem, pelo menos ele compôs, porque eu só ajudava a olhar. Quando a noite caiu, eu sabia que alguma coisa iria acontecer, e não seria nossa festinha particular e sim a explosão de Bill com relação a minha ida a Alemanha. Talvez ver a cara de Richard não fosse tão importante pra Bill como é pra mim. Talvez porque ele não saiba a dor de uma perda.
— Acabou! O que adianta ir lá vê-lo? — Questionou, irritado.
— Nenhum argumento seu será forte o suficiente para me fazer ficar — Respondi. Se fosse só ir falar com, Richard, eu poderia repensar e até ficaria pra não criar turbulências entre mim e Bill, mas minha viagem até a Alemanha envolvia mais.
— Nem eu?
Engoli em seco.
— Nem você. — Assim que disse, preferi nunca ter aberto a boca. Bill me olhou magoado, como se eu tivesse acabo de enfiar uma faca no seu peito, e queria poder tira lá de lá, mas era necessário.
Bill sentou-se na cama abaixando a cabeça.
— Você é inacreditável — Disse pausadamente, e aquilo não foi bom, não era como se ele estivesse me elogiando.
Sai de onde estava agachando-me na sua frente.
— Quero que você saiba que tudo que faço, por algum motivo — Sorri — É por você. E que se às vezes cometo erros é porque não sou perfeita, se sou teimosa, como agora, é que as vezes também quero ter a razão na palma das minhas mãos. Que se você sorrir, eu sorrio.
Quando vi, seus braços me envolveram. Ele me puxou para si e juntou nossos corpos. Devagarzinho fui subindo minhas mãos por suas costas arrancando sua camiseta. Bill ergueu os braços me ajudando e voltou a me abraçar me deitando na cama. Ele arfou quando sentiu minhas unhas em suas costas, coloquei meu rosto na curva de seu pescoço sentindo o doce aroma do seu cheiro, que colada na minha pele e me causava vertigens de tão bom que era.
Bill desceu suas mãos pelo meu corpo arrancando qualquer tecido que pudesse me cobrir, então suspirei fundo quando senti sua pele quente em contado com a minha. Fechei meus olhos colocando minhas mãos em seu pescoço enquanto ele me puxava para mais um beijo ardente, sentindo-o mergulhar fundo para dentro de mim. Quando se separou da minha boca, pude enfim soltar o ar, sentindo meu peito explodir dentro de mim enquanto os lábios de Bill faziam um trajeto pelos meus ombros e seios, parecendo querer decorar o caminho que ele já sabia de cor.
— Eu te amo tanto, que chega dói. — Ele disse em voz baixa, sussurrando. Sorri fraco afundando ainda mais meus dedos em suas costas.
Eu queria dizer também que o amava, mas ele me tirava todo o ar, era como se eu fosse um satélite fora de órbita, sem funcionamento algum. Eu me sentia assim perto dele, em êxtase, fora de mim, ainda assim completa. Mas eu não ligava de estar ''desligada'', eu só precisava dele e de mais nada, tudo que eu desejava entre os segundos que eu ia e voltava do céu, era que ele estivesse comigo independentemente de tudo e de todos. E ali, com nossos corpos colados, eu soube que tudo ficaria bem.
Então eu te pergunto: Você sabe o que significado da palavra altruísmo?
Altruísmo significa fazer o bem, mesmo que isso te faça mal.

Saí de manhã bem cedinho, mas antes fiquei longo minutos observando Bill. Incrível como eu não fazia nenhum tipo de esforço com relação a isso, era como se eu pudesse fazer isso sem parar. Nunca liguei para a enorme babaquice que é Crepúsculo, mas, por um momento, entendi como Edward se sentiu ao observar Bella dormir.
O dia já estava clareando, se eu erguesse mais a cabeça até poderia ver o sol nascer. Fiquei tentada em dar um beijo em Bill, mas se eu o acordasse, o que eu diria? Haveria justificativa? Bill dissera me perdoar sempre, pois me amava, levei isso como empurrão para eu ir. Ainda assim, cheguei próximo ao seu ouvido e sussurrei o mais baixo possível:
– Ei, seu cuida tá? Mas se cuida mesmo... Eu não suportaria viver sem você.
Do lado de fora eu sabia que encontraria meus pais, a eles eu teria que dar algum tipo de explicação.
– Vai viajar? – Erick perguntou, observando minhas malas.
– Hm, é né?
– E seu namorado sabe? – Questionou olhando atrás de mim.
– Você vai me impedir se eu disser que não? – Larguei a pequena mala ao lado, eu responderia outras perguntas antes de ir.
– Eu? – Gargalhou – Jamais, você é livre, minha filha. Se você acha que é certo sair de manhãzinha ser dar satisfações a ninguém, nem mesmo á ele, eu não farei nada. Sou seu pai, não seu dono.
Claro, ele não faria nada, isso nunca foi do feitio de Erick, a única vez que ele me obrigou a fazer alguma coisa, foi quando me fez vim pra cá, agradeço aos céus por ele ter feito isso. Do mesmo modo que ele, Lucy também não me impediria.
– Só não demore, filha.
– Oh, pai... – Corri o abraçando, inalando seu cheiro adocicado, parecia que os braços de meu pai foram projetados do tamanho certo pra me acolher. – Eu volto logo.
– Agora vai. – Me afastou olhando nos meus olhos marejados, passando seus dedos por meu cabelo – Eu sei que você está com pressa, esse velho aqui só está te atrasando.
Enquanto me afastava, olhei várias vezes pra trás, meu pai estava na mesma posição, me olhando. Passou pela minha cabeça voltar, desistir de tudo, chutar o pau da barraca, largar aquela maldita mala ali na rua, rasgar a passagem, e por fim gritar. Gritar o mais alto que eu pudesse que eu o amava, não era mentira. Mas o vento balançou meus cabelos e mostrou que o caminho é para frente, reto e sem curvas.


Casaco, meias, botas, e boina. A Alemanha estava no seu período de inverno rigoroso. Ajeitei minha bolsa checando o endereço que me passaram, havia se passado dias desde minha chegada, eu havia me desprendido de tudo que pudesse me localizar, eu precisava, de novo, de um tempo só pra mim. Colocar as ideias no lugar mais uma vez, organizar meus sentimentos, enumerar as prioridades, enterrar a saudade em algum lugar no fundo da minha mente, depois da faxina que eu começara com Richard, um dia depois da minha vinda.
Ele estava diferente, cansado e com barba por fazer, tinha enormes olheiras envolta dos olhos verdes, seu cabelo estava tão oleoso que eu podia fritar um ovo ali. Ainda assim, ele estava igual.
– Me diga, Rokety – Ele me olhou irônico – Eu sou ou não sou alguém importante? Veja, você está aqui na minha frente! Quase achei que não viria me fazer uma visita.
Ri friamente.
– Achou mesmo que eu iria perder a chance de te ver assim... – O mirei com nojo – Nesse estado? Enfim, você está do jeito que sempre foi – Cheguei próximo ao seu rosto, e sussurrei maléfica – Um lixo de pessoa.
Richard não se abalou, ao contrário, riu como se eu tivesse acabado de contar uma piada.
– Tem certeza que eu sou um lixo de pessoa? Tem certeza? – Questionou, semicerrando os olhos – Porque das pessoas aqui da sala, que eu saiba, a única pessoa que se cortar pra se sentir bem é você, meu bem – Sorriu triunfante, como se suas palavras tivessem efeito sobre mim – Eu posso ser um lixo, mas tenha a decência de admitir que você não está muito longe de ser igual a mim.
– Você tem inveja de mim, e principalmente – Me afastei, cruzando as pernas – De Bruno, do que ele era e você nunca seria, e tenha a decência de admitir que você nunca irá ser.
Bingo. Vi o resto dele se retorcer em uma mascara de fúria, ódio e raiva. Mas eu só estava no começo.
– Inveja do amor que ele tinha que você nunca recebeu, bastardo. – Eu me divertia, enquanto pisava com o sapato alto em cima de sua ferida, ria descontroladamente vendo sua respiração apressada, quase podia vê-lo suando. – Sempre teve inveja de nós.
– Inveja de você? – Disse baixo, sombriamente. – Dele? – Ele riu balançando a cabeça – Você se acha demais, sempre se achou, se toca, você era apenas uma garota de dezesseis anos, achando que sabia demais, sendo que tinha somente um quarto, o dinheiro dos seus pais e alguns amigos que, se fosse contar não enchia nenhuma mão.
– Pelo menos eu tinha, e você? – Repliquei, sabendo que não poderia contestar a verdade de suas palavras.
– Antes não ter nenhum amigo, do que ter um bando de gente falsa me rondando, eu era drogado, revoltado, não era igual a ele, não tinha o que ele tinha, não sou o que ele era, e como você mesma disse, nunca vou ser. – Ele disse cada palavra olhando nos meus olhos – Mas isso realmente conta? Eu estou aqui, vivo, respirando, vivendo, e ele? – Riu sarcástico, colocando as mãos algemadas na minha frente, apontando com o dedo indicador pra cima – Vou dizer céu pra ser legal com você, mas eu desejo que ele esteja no inferno.
Controlei a respiração, pisquei e o encarei de um jeito assustador.
– Se for da sua vontade, estou disposta a te mandar agora mesmo pra lá pra você checar com seus próprios olhos.
– Adoro suas piadas, sempre desconfiei que por de trás dessa sua máscara de durona, você era na verdade, uma palhaça.
– Não me provoca – Trinquei os dentes.
– Vá embora, Rokety – Falou entediado – Passou, foi. Tenha piedade de você mesma e de meia volta, se você acha tão injusto assim a morte dele, comece a fazer algo que ele estaria fazendo se ainda estivesse aqui, viva.
Até hoje me questiono sobre esse dia, apesar de parecer surreal, Richard de algum modo se arrependia do que fizera, não era o que eu esperava, mas valeu. Ainda que seja Richard, se ele pedisse perdão a mim, eu perdoaria, pois todos cometem erros, alguns, como o dele, sem voltas.
Balancei a cabeça, passado, Rokety, o deixe lá, minha mente me pedia, então voltei a minha realidade.
– Rokety? – Ele me olhava preocupado – Está tudo bem?
Pisquei.
– Oh, sim, me desculpe – Sorri sem jeito, me ajeitando na cadeira.
– Acho que vou perguntar de novo, acho que você não me escutou – Disse rindo – Tem algo que você não nos contou que queira nos dizer agora?
Olhando no fundo de seus olhos concluí que a vida se resume em pizza. A vida é feita de pizza se for parar pra pensar, cada pessoa é uma massa pré-cozida, do tipo que você compra em supermecardo, ao longo da sua infância você acrescenta alguns ingredientes a sua massa, começa a construi-lá, esse ingredientes somos o que chamamos de pessoas, recordações, lembranças, momentos inesquecíveis. Essa fase de preparo é a mais importante, pois essa parte é a que dirá se no final a pizza ficará boa ou ruim. Na adolescência acrescentamos o que dá gosto à pizza, amores, paixões, felicidade, amigos, e mais momentos inesquecíveis, só que essa parte é a mais difícil no projeto de preparo, aqui cada dose exagerada é fatal de algum modo a sua pizza, você pode deixa lá doce demais ou salgada demais, alguns a deixam no meio, muitos erram a mão, mas só sabem disso no final. Então estamos na penúltima fase de preparo, somos pessoas maduras, sabemos o peso de nossas consequências, somos mais cautelosos, quase não erramos aqui, pois já vimos como são a pizza de algumas pessoas e não queremos que a nossa fique parecida, as vezes a pizza da pessoa parece tão boa que queremos ter a pizza dela, mas não podemos, cada um tem a pizza que prepara. Agora acrescentamos o recheio da pizza, acrescentamos confiança às pessoas, morremos de amor, vivemos como adolescentes algumas vezes, mas vemos o mundo com um olhar diferente, às vezes acrescentamos pessoinhas que nem sabiam que fariam parte da sua pizza, nem você, mas você não se incomoda em deixa-las em um lugar de destaque em sua pizza, você sabe que ela é tão essencial na sua pizza como os demais ingredientes, a diferencia é que você agora não pode viver sem elas. Pronto, sua pizza está pronta. Então você senta debaixo da sua varanda e a aprecia. Prova o gosto que sua pizza tem, se delicia. Prova o gosto que sua vida tem, nem todo mundo sai bem no preparo da sua pizza, alguns erram desde o começo, então deixam pra lá, o gosto da pizza não é o dos melhores, mas fazer o que? É sua pizza! É você. A vida é como uma pizza, feita de etapas, e em cada uma delas temos que tomar cuidado, qualquer deslize e pronto, às vezes, não se pode voltar a trás, e infelizmente, Rokety, boa ou ruim você vai ter que comer a sua.
– Bill tem uma namorada.
Pronto, eu acabará de acrescentar mais um ingrediente na minha pizza, na minha vida.

Postado por: Grasiele

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