quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 23 - First Page


Fim. Três letras, vários significados, mas no final ela tem a mesma função.
Às vezes o fim é necessário, às vezes, mesmo que dolorosas algumas coisas precisam de um fim, um capitulo só começa quando outro termina, é a regra. De vez em quando damos muitos ''fins'' e, algo que era pra ser a solução acaba sendo o problema, pontos demais viram reticências, perdem-se o objetivo. Vira eu e a Rokety.
Então se passaram dias, meses e eu temia que por fim, chegassem os anos. O celular infelizmente não apitou anunciando uma mensagem dela dizendo que estava tudo bem, que tudo não passava só de uma brincadeira de mau gosto ou algo do tipo, e muito menos tocou. O carteiro não bateu na minha porta dizendo-me que havia uma carta endereçada a mim e minha caixa de e-mail continuava vazia. Esperei que ela voltasse, aguardei ansiosamente qualquer sinal de vida vindo dela por qualquer meio, cansei de esperar, a espera me consumiu e me desgastou por dentro. Ela se foi e esqueceu-se de levar as lembranças com ela.
Nos primeiros dias fiquei trancado no quarto, remoendo tudo, olhando pela janela , saindo correndo cada vez que a campainha tocava, almejando que fosse ela que estivesse tocando.
Eu esperava que Rokety viesse. Que voltasse pra mim.
Eu pedi com todas as forças que ela viesse, implorei. Mas isso parece que, de alguma forma, não foi o suficiente, pois ela não voltou. Acho que no final de tudo, da minha rebeldia, do meu isolamento e da minha pose de que ''estava tudo bem, eu sobrevivo sem ela'' no fundo do meu ser, eu queria que ela me desse algum sinal, sabe? Qualquer um e por menor que fosse. Talvez eu só quisesse que ela sentisse minha falta, na mesma intensidade que eu sentia dela.
Mas, Rokety não deu sinal algum de onde estava, e vendo hoje, mesmo que ela desse, eu não iria atrás. A escolha de partir foi dela, por mim ela estaria aqui. Todos os dias eu me perguntei o que eu havia feito de errado para que ela tomasse tal decisão, não estávamos bem? Felizes? Apaixonados? Creio que não.
Todos os dias eu desejei voltar atrás no tempo e nunca tê-la conhecido. Não por egoísmo, pra que eu não sofresse tanto, mas por nós mesmos, ambos sofremos, mesmo que eu diga todos os dias que não sinto falta dela, eu sei muito bem que essa é uma grande mentira. Mas é como dizem, se não procura é porque consegue viver sem.
Então me pego imaginando como seria minha vida se eu tivesse pegado um atalho, uma outra rua, tivesse ficado mais hora em um lugar e menos em outro. Se, quando meus pais quiseram se mudar da pequena cidade eu tivesse batido o pé quando era menorzinho se eu seria o mesmo de hoje, quem eu teria me tornado? As coisas teriam sido mais difíceis ou mais fáceis? Eu teria amado alguém e esse alguém teria o correspondido? Eu teria suprido as expectativas dos meus pais e da família? Não sei.

Peguei então tudo que era relacionado a ela e joguei bem lá no fundo da minha mente, não quis esquecer muito menos apagar ela da minha vida, até porque seria um tanto egoísta querer apagar tudo que tivemos, e mesmo que eu quisesse, não dá, não tem como, não consigo.
Nossa historia era pra ser como todas as outras, ter sido linda, mágica, pura, saudável, deliciosa... Era pra ter sido amor. Era pra ter tido os típicos ''felizes para sempre'' de algum modo sempre fomos diferentes dos outros casais, e mesmo sabendo que todas as historias tem um fim, não me conformo com o nosso.
Assim dei continuidade ao nosso álbum, Georg e Gustav vieram da Alemanha pra nos ajudar. David Jost soltou a noticia de uma turnê para 2013 e todos ficaram eufóricos. Chegávamos cedo ao estúdio e eu era sempre o último a sair.
Casa - estúdio, estúdio - casa. Minha rotina por um curto tempo ficou assim. Até que conheci, Ramona. Quando Tom disse o nome dela, tive que me segurar e não soltar de primeira o porquê dos pais dela serem tão maldosos com ela, mas fiquei na minha. Como ela estava acompanhada por meu irmão a primeira impressão sobre ela ficou destorcida, mas depois por incrível que pareça ela e Tom eram apenas amigos.
― Como assim você é amigo de uma garota, Tom? ― Perguntei altamente desconfiado. As amizades de Tom com as mulheres duram até ele levar elas pra cama. Pronto, acabou a amizade. ― Você, depois de velho, tá virando gay?
Pequenas palavras, grandes efeito. Tom começou a tosse sem parar, até que, Aline chegou e deu um tabefe nas costas dele, volto ao normal.
― Quem é gay? – Ela perguntou com cara de paisagem, mas acho que já tinha a resposta, pois quando falou, ficou olhando pra mim meio desacreditada.
― Você acredita que o...
― ...Georg vai fazer uma serenata pra namorada dele e depois vai pedir em casamento? ― Tom disse em tom mega debochado, me interrompendo, balançando a cabeça e arregalando os olhos ― Vai me dizer que isso não é coisa de boiola, Aline?
Aline deu de ombros, só sentou ao lado do meu irmão e ficou lá. Tom não notou, mas ela havia ficado magoada aquele dia, talvez ela tenha sonhado que Tom um dia fosse fazer algo desse tipo.
Logo depois eu soube que Ramona trabalharia conosco, fiquei feliz. Eu precisava de novos ares e novas pessoas. Cada vez mais eu saia na noite, acompanhando Tom e os outros que queriam conhecer o melhor da cidade. Ao contrario do que todos pensavam, Gustav não era tímido. Ele não tinha nenhum medo de chegar em uma mulher, Georg não tinha e nunca teve uma namorada fantasma, como ele mesmo dissera, era uma ''peguete'' a longo prazo. Todos falavam mentiras sobre eles, não sabendo a verdade, e todos falavam uma verdade sobre. Tom, por exemplo, não tinha ''romances só de uma noite''.
Então concluí, enquanto observava a bolinhas de gás subirem por meu uísque, que eu havia voltado a ser o que eu era antes, Bill Kaulitz sem se importar com a existência medíocre de Rokety Françis.
Qualé, vai ficar ai sentado? ― Disse Ramona, se jogando ao meu lado podre de bêbada, fraca.
― Estou bem aqui ― Sinalizei, com a cabeça, meu copo ― Ótima companhia.
Estalou os dedos á minha frente.
― Acorda! ― Gritou, mas seu grito fora abafado pela batida eletrônica ― Ficar ai sentado vendo a vida passar não vai fazer com que ela mude, sabia? Idiota, acorda e modifica o rumo desse rio, porra!
Bufei. Ela tinha a porcaria da razão.
― Ainda está disposta a dançar? ― Sorri.
― Cale essa boca e vamos logo ― Pegou minha mão.
Entramos em uma dança desajeita. Ela bêbada e eu já estava nesse caminho, iria dar merda ou um fiasco dos grandes. Olhei de relance pra cima e peguei Tom e Aline no famoso beijo ''desentope pia'', ali com certeza iria dar bebê.
Ramona pegou minha mão e foi me guiando de acordo com que ela achava que era certo, virei o resto da bebida e depositei o copo numa banqueta ao lado. Quando dei por mim ela havia entrelaçado nossas mãos se virando e grudando nossos corpos, ficando de costas pra mim, não fiz nada, o show era dela, que começasse e terminasse. Foi então ela começou rebolar. Parece que iria rolar uma participação especial.
Prendi mais seu corpo ao meu, ouvindo sua risada abafada, comecei pelo seu pescoço dando pequenos selinhos indo em direção a sua orelha. Mordi-a. Virei-a de frente pra mim e começamos uma deliciosa guerra de línguas raivosa.
Senti o impacto sobre mim, quando uma parte ainda sóbria da minha mente se sentiu no poder de comparar o beijo dela com o de Ramona. Ignorei. Continuei como se estivesse tendo uma overdose de emoções com aquele beijo. Mas minha consciência não deixava, insistia em me dizer que o gosto da boca dela era diferente, que ela tinha uma falha nos dentes, os da frente, eles eram meios afastados um do outro. Que Rokety tinha um beijo feroz e, o mais importante de tudo, quando nos beijávamos por mais que tivesse ódio, existe o que não existe nesse beijo, existia acima de tudo amor de ambas as partes.
Aprofundei o beijo.
Passei a mão pela sua cintura e quase fundi nossos corpos. Se Rokety conseguia ir e viver sua vida como se eu nunca tivesse feito parte dela, significa que em algum momento ela cogitou que eu também poderia.
Afastei-me de Ramona soltando um longo suspiro, relembrando como se fazia o ato de respirar. Então ela piscou, e perdeu toda a cena. Voltei a beijá-la, de novo e de novo, comecei e recomecei, pausei e continuei, cansei, respirei e voltei. Fechei os olhos bem forte e controlei minhas emoções. Esse foi um dos dias que eu havia tomado um porre daqueles.
Quando acordei sete meses haviam se passado, no entanto nada parecia ter mudado.
Sete meses.


E nesse tempo todo percebi que não sei colocar pontos finais, não sei acabar com algo, mesmo que esse algo esteja acabando comigo, não sei tirar alguém da minha vida.
― Oi! ― Ramona chegou ao estúdio com sua alegria contagiante, talvez ela esperasse o mesmo de mim, como só acenei e dei um sorriso meia boca, ela veio até mim, colocando sua a mão em meu ombro ― Oi? Posso ajudar você?
Posso ajudar você? Era sempre assim, não com essas palavras, mas por entrelinhas sim. Sempre disposta a me ajudar, parecia que pra ela eu não era um rockstar, eu me sentia normal, confortável, era aconchegante estar ao seu lado. Ela parecia se moldar as minhas necessidades, se adaptar aos meus costumes e gosto, como se fosse feita sobre medida pra mim. Depois de muita insistência ela confessou.
― Tá, tá ― Ela disse entra as risadas ― Eu pesquisei sobre vocês na internet, conhecer um pouco meus patrões ― Justificou-se. Continuei a encarando, ela bufou ― Também estava curiosa!
― Tudo bem, eu sei que sou irresistível ― Pisquei me gabando.
Arrisquei-me, comecei de novo. Cansei de ficar, de sair, dos beijinhos aparentemente sem sentimento e sem compromisso. Ao contrário, eles tinham mais sentimentos do que deviam e em cada novo toque entre nossos corpos a chama do desejo aumentava, chegando em algumas vezes, eu sentir ele me queimar.
Havia alguns tempos que eu saia mais com minha assistente, sempre usávamos de uma desculpa para alongar as conversar e ir a algum lugar, para no fim acontecer algo mais. Ramona não sabia nada sobre meu passado, muito menos sobre minha relação conturbada com Rokety. Tudo pra ela era novo, fantástico, gostoso como o som da chuva.
Assim começamos a assumir algo mais firme, sólido, mas nada era oficial. Não era como se eu morresse de amores por Ramona, a verdade era que sua companhia me fazia bem, porém, eu tinha uma atração por ela que eu torcia com todo o meu ser para que mais tarde se tornasse amor, porque eu já gostava dela, do jeito dela, das manias, algumas loucas, dela.
Ramona nunca foi contra quando eu disse que queria deixar tudo às escondidas, sua privacidade era muito importante para mim, algo que eu nunca pude saborear, na verdade nem sei se essa palavra algum dia existiu no meu dicionário.
Quis conhecer os pais dela, mas ela havia me dito que eles moravam em outro país e infelizmente no momento eu não poderia viajar, estávamos abdicando todo nosso tempo a finalizar o álbum.
Tom já havia sacado que tinha algo a mais acontecendo. Fiquei preparado para a avalanche de perguntas sem cabimentos do tipo ''Já fizeram sexo?'' ou ''Como são os peitos dela?'', mas ele agiu totalmente diferente, tão diferente que eu quase não o reconheci nas próprias palavras. Estava muito bravo, mas parecia não ser comigo.
― Ela é uma interesseira ― Esbravejou, sentando bravo no sofá ― Você não vê?!
Ele me encarava, gesticulando.
― Mas eu gosto dela ― Me defendi rapidamente ― Ela não era sua amiga?
Lancei-lhe um olhar confuso e em troca recebi outro.
― Acabou a amizade quando percebi que tipo de pessoa ela é ― Após um longo tempo ele respondeu, atordoado, medindo as palavras. E em nenhum momento me olhou nos olhos.
― E que tipo de pessoa ela seria? Diga-me. ― Cruzei os braços a sua frente ― Porque, pelo que parece, você conhece minha namorada melhor do que eu.
Tom me olhou como se eu tivesse acabado de pronunciar um palavrão muito feio ou nojento, pois sua cara se retorceu numa expressão de pura incredulidade e perplexidade. Logo após ele soltou um riso anasalado balançando a cabeça, estupefato.
― Até ontem ela não era nada na sua vida, além de nossa assistente, hoje você enche a boca pra dizer que ela é sua namorada? ― Franziu o cenho desacreditado.
Afundei meu corpo no sofá a frente dele, desarrumei o cabelo e respirei na falha tentativa de entender o que se passava. No meu pensar, Tom ficaria super feliz em saber que havia me curado do amor doentio que eu e Rokety tínhamos, que eu estava bem sem ela, pois agora eu tinha uma pessoa que me fazia bem e respondia a todas as minhas expectativas. Nunca imaginei que tal notícia fosse despertar uma briga com meu irmão, coisa que nunca acontecia.
― Ela já sabe? ― Perguntou segundos depois, sem me olhar.
― Do que? ― Repliquei confuso.
Olhou-me desafiadoramente.
― Sei lá, da Rokety, do nosso passado e por fim, que agora ela esta no posto mais alto de todos? ― Debochou nas ultimas palavras, rindo.
Enfureci-me. Nunca, jamais, eu em interferi nos romances dele e nos seus casinhos de uma noite, sempre o apoiei, mas me parece que quando eu preciso, ele me vira às costas e me aponta o dedo. Legal.
― Não, não sabe ― Respondi para as duas perguntas ― Hoje a noite vai ficar sabendo, para a alegria de todos que nos querem bem e para infelicidade daqueles que nos quer mal. ― Levantei e sai, deixando meu irmão com os olhos arregalados pelo jeito que falei, atrás de mim.
― Meus parabéns para o casalzinho. ― Ainda o ouvi dizer, antes de bater a porta fortemente.


Ainda havia em mim um pouco do romantismo que eu falava nas várias entrevistas que dei por esse mundão afora. Ramona achava que era mais um de nossos passeios, mas se arrumou como se fosse a uma festa glamorosa, na verdade ela pouco fez, já era linda.
Comprei uma aliança básica, forrada com diamantes, mas linda, marquei também um dia para que nossos nomes fossem marcados. Para mim, era um sonho se realizando.
O fato de eu ser músico deveria me dar créditos no quesito criatividade, mas não. Embolei-me todo, não sabia como ia dar, pensei em dar no meio do sorvete, mas vai que ela morre engasgada, ou algo pior?
Já que eu sabia que Tom não iria me ajudar procurei alguém que ficaria feliz em fazer isso. Chamei Aline. Então fiquei só com o serviço de me arrumar e não esquecer a aliança.
Fácil.
― Caralho, aonde foi que aquele lápis se escondeu? ― Urrei nervoso, já estava em cima da hora ― Eu vou matar você quando te encontrar.
― Vai sem ― Tom se recostou na porta ― Sabe, para ela se acostuma com essa sua cara desde já. ― Sorriu cinicamente e saiu.
― Puto!
― Seu reflexo, maninho. ― Sorriu cinicamente e saiu.

Espere um pouco, amor. Já estou descendo ― Falou pelo interfone.
Dez minutos depois ela desceu.
― Como estou? ― Sorriu dando uma voltinha.
― Hm, linda? ― A peguei pela cintura dando um selinho ― Maravilhosa?
― Sua.
― Vamos aonde? ― Perguntou enquanto arrumava meu colarinho, despreocupada.
― Sair, dar uma volta.
― Tudo bem. ― Sorriu sem desconfiar.

Estacionei em frente ao restaurante luxuoso. Desliguei o carro e logo saí, dando a volta para abrir a porta para Ramona. Caminhamos até a entrada, onde dei o meu nome e fomos direcionados, como pedi, a uma mesa no fundo, longe dos olhares curiosos.
Conversamos enquanto nossos pratos não chegavam, nunca faltava assunto, ambos famintos por informações do outro. A única que ela fugiu, discretamente, era quando eu perguntava da sua peculiar - agora aparentemente inexistente - amizade com meu irmão. Ambos contavam a mesma história, como se tivessem ensaiado por horas até nenhum dos dois errarem, que eles haviam se conhecido em uma boate a muito tempo, ela ajudara Tom a chegar salvo antes que eles tirassem fotos dele naquele estado, nada havia acontecido entre eles, mas fazia muito tempo que isso havia ocorrido, só mantinham contato por telefone e de vez em quando. Não querendo estragar a noite, me permiti deixar pra lá, mas não esquecer.
― Mas uma vez, a noite foi ótima, Bill. Obrigada ― Agradeceu com um imenso sorriso, levantando-se da cadeira e me beijando, sentando logo após envergonhada. Ela sempre ficava assim quando achava que tinha passado de algum limite que ela mesma impunha.
― Disponha ― Brinquei. ― Mas que tal deixar a noite perfeita? ― Alteei a sobrancelha
― Mas ela já está – Discordou.
― Tem certeza? ― Insisti.
― Ok, fale. ― Cruzou as mãos, anciosa.
― Feche os olhos ― Pedi carinhosamente.
― Ah, Bill...
― Vamos ― Como ela demorou eu mesmo a ajudei.
Tirei a caixinha do bolso direito e a abri deixando na sua frente.
― Abra.
Ela respirou fundo e quando abriu pareceu perder todo o ar, olhou para mim e depois para o anel, levou a mão a boca e sorriu entre as lagrimas que desciam pelo seu rosto.
― Você...
― Sim, estou te pedindo em namoro, oficialmente. ― Ela nem piscava, olhava fixadamente para mim ― Aceita?
― Isso não é certo, Bill. ― Disse triste, baixando o rosto.
― O que não é certo? Nós nos amarmos e sermos felizes?
Ela pareceu pensar no que me pareceu uma eternidade.
― Regras servem para serem quebradas ― Sussurrou e depois me olhou ― Eu ainda não disse “sim”?


Na manhã seguinte cheguei todo contente no estúdio, mas minha alegria sumiu quando Georg me jogou a revista e nela continha uma enorme foto minha acompanhando de Ramona.
First Page, amigo.
Encarei a imagem por mais alguns segundos, absorvendo o choque de ter sido tão burro a ponto de ser descoberto pela mídia um dia depois de ter oficializado meu namoro. Folheei até a página que dizia ter mais sobre a nova namorada de Bill Kaulitz. Nela dizia algumas informações sobre Ramona, tais como idade, onde morava, o que fazia, até quando estudou... Embaixo continha fotos nossas, de alguns de nossos passeios que achávamos que ninguém sabia.
― Se eles tinham essas fotos, porque não jogaram essa informação pra mídia antes? ― Questionei-me, olhando os outros a minha volta.
― Agora acho que eu sei que tipo de pessoa ela é ― Disse Tom, como quem não quer nada. Sorte Ramona ainda não ter chegado ― Do tipo que nos arruma confusão.
― Para, Tom ― Pediu Gustav ― Não provoca.
Eu ri com desdém.
― Claro, foi você né?
― O amor deve ser um veneno mesmo, pois pelo que parece ele está entrando nessa sua cabecinha, te intoxicando e te deixando cego ― Disse duramente ― Bill, eu sou seu irmão e não seu inimigo.
Arrependi-me na hora do que havia dito, quando fui pedir desculpas, ele já haiva saído, trombando propositalmente com Ramona, que me olhou confusa, dizendo ''O que aconteceu com ele?''. Veio até a mim e me deu um beijo discreto.
― Aconteceu alguma coisa? ― Perguntou baixinho.
Desenrolei a revista e coloquei na altura de seus olhos.
First Page, fomos descobertos.

Nossos rostos estavam em tudo e qualquer tipo de tablóide de fofoca. Por um lado tínhamos que admitir que isso era, de algum modo, bom. Nossa parceria já bombava. A notícia de nosso próximo álbum e uma turnê também estava sendo bastante comentada, isso de algum modo nos ajudaria a nos divulgar ainda mais.
Ramona passou a morar em outro condomínio e destinei a ela dois seguranças que iriam se infiltrar entre as pessoas para não ficar muito na cara. Ela cortou e pintou o cabelo, mas eu avisei a ela que isso seria inútil. Tínhamos marcado uma entrevista para um programa onde esclareceríamos tudo.
Concentrei-me na entrevista. O foco era mostrar que, apesar dos boatos, nós estávamos mais firmes do que tudo, e que nossa parceria musical era um exemplo disso. Sabia bem eu que haveriam perguntas das quais eu teria que ser habilidoso e me desviar delas ao mesmo momento em que não poderia dar indício de nada.
Jost, a nossa frente, nos dava várias instruções, Tom bufava, eu sabia que assim como eu ele já sabia de cor o que nosso manager dizia. Gustav e Georg volta e meia concordavam com a cabeça. Enfim, Jost saiu e nos deixou sozinhos.
Pensei nas possíveis perguntas que iriam me fazer com relação a Rokety e nas possíveis respostas que eu poderia dar sem deixar nada passar.
Iríamos entrar no penúltimo bloco do programa que fazia sucesso nas noites de sábado em Los Angeles. Cantaríamos duas músicas, responderíamos perguntas da platéia e falaríamos de nós e o que poderiam esperar do nosso próximo álbum.
―E essa sua parceria com Far East Movement, como surgiu? ― Perguntou o apresentador e a platéia se silenciou.
― Nos encontramos em uma dessas casas noturnas e eles me fizeram a grande proposta ― Respondi tranquilo, omitindo que essa parceria era, na realidade, uma jogada de Markentig para ambos os grupos.
― Então quer dizer que agora casas noturnas servem para tratar de negócios? ― Disse, arrancando gargalhadas da platéia.
― Depende do ponto de vista...
― Falando em posto de vista, quem é Rokety Françis? Qual é sua relação com ela? ― Falou, me interrompendo, enchendo-me de perguntas.
― Na verdade ela é uma ex-ficante minha, que depois de ter levado um pé na bunda ficou aborrecida e descontou no meu irmão ― Respondeu Tom, fingindo lamentar-se. Disfarçadamente o olhei de soslaio, isso não estava nos planos, eu que iria ''falar'' e o que iria dizer não tinha nada a ver com aquilo que ele disse. Mas, por hora, eu não podia fazer nada.
― Como você a conheceu? ― Inclinou-se o apresentador.
― Em uma noite dessas ― Fez pouco caso ― Mas só porque fiquei mais de duas vezes com ela, a mesma se achou no direito de se achar diferente das outras. E deu no que deu, infelizmente ― Tom deu de ombros, visivelmente inconformado.
― Vocês conseguiram contato com ela depois disso? ― Insistiu.
― Não ― Eu disse. ― Assim como as outras tragédias envolvendo nosso nome, essa também vai passar e ser esquecida. Próxima pergunta, por favor. ― Sorri cínico, encerrando um assunto que nem deveria ter começado.
Tom às vezes mentia numa naturalidade tão grande que eu quase que acreditava nele, mas ainda assim todos notaram meu desconforto. Os G's responderam algumas coisas relacionadas a eles e a banda em geral. Cantamos a primeira música e a outra seria no encerramento do programa.
Participamos das típicas brincadeiras retardadas desses programas idiotas. Mas confesso que cheguei a gostar. De relance sempre observava Ramona encostada na parede, ela prestava atenção em cada movimento meu e quando me pegou a observando sorriu de um jeito doce e amigável, me mandando um beijo discreto.
Enfim, chegou o momento que todos nós aguardávamos. Eu sabia muito bem que meu irmão, por debaixo daquelas calças, suava de nervosismo. Não foi uma coisa que decidimos de uma hora pra outra, mas foi algo que precisávamos decidir que eu precisava, era quase que uma libertação. Eu precisava, aos poucos, construir o eu castelo, mobilhá-lo, reformá-lo, acreditar que dessa vez seria diferente se eu começasse com algo novo.
― Nossa, hoje foi um dia muito produtivo! ― Soltou o apresentador, voltei a encará-lo. ― Fizeram uma parceria, vão lançar um novo álbum, desmentiram aquela louca e os Kaulitz estão namorando? É isso produção? ― Ele se fez de desentendido e essa era nossa intenção.
A platéia começou a falar todos juntos, algumas fãs nem piscavam, Tom sussurrou algo como ''merda, vou perde muitas gatinhas'' e eu sorria todo feliz.
― Por favor, tragam as felizardas!
Em questão de segundos elas já estavam do nosso lado, e mesmo que Tom quisesse negar que não estava completamente apaixonado por Aline, suas ações com relação a ele já eram involuntárias.
Primeiramente Tom fez questão de contar em detalhes como havia conhecido Aline, omitindo a parte que Rokety e ela eram amigas, falaram um pouco das brigas, mas no final eles se amavam. Tom finalmente havia sido fisgado por algo que eu era praticamente escravo: o amor.
― ... Resumindo: Aline não resistiu aos meus encantos, afinal ninguém resiste.
Incrível como Tom perdia a namorada mais não perdia a piada.
E comigo foi o mesmo. Conte tudo sem omitir nada. Queria começar tudo de novo, tentar mais uma vez nesse negócio que chamamos de amor. Eu iria ser feliz, coloquei na cabeça.
― E vocês, garotas, não têm medo não? ― Brincou.
― Por amor vale a pena correr alguns riscos, né?
― Com certeza. ― Confirmou ― Garotos, por favor? ― Indicou o palco.
― Com prazer.
Cada um pegou seu instrumento e começamos. A qualquer hora o programa sairia do ar. Cantamos até o segundo refrão.
― Parabéns! ― Saldou Jost. ― Saiu tudo perfeito até a parte em que você ― Apontou Tom ― Deu uma de super-man, né?
Enquanto eles discutiam, eu sai em busca da minha namorada que estava sentada em uma das poltronas. Pouco a pouco as pessoas iam saindo do estúdio de forma organizada para que ninguém se machucasse ou tentasse vir falar conosco. Ramona estava triste e pensativa, sentei-me ao seu lado, mas ela pareceu não notar minha presença. Chamei-a, porém ela só me ouviu na terceira vez.
― Me desculpe.
Peguei seu queixo e levantei na altura do meu rosto.
― O que aconteceu? A um minuto atrás você estava feliz. ― Questionei.
Tirou o rosto da minha mão e o virou.
― Sei lá ― Deu de ombros e me olhou ― você de vez em quando não se preocupa com o fato dela aparecer de novo e botar tudo isso abaixo?
Eu havia contado, brevemente, sobre Rokety.
Fiquei sem reação. Como dizer a ela que só no fato de pensar em Rokety eu já desmoronava?
― Não ― Afaguei seu rosto, convicto das palavras que diria ― Porque juntos, você e eu, podemos erguer tudo novamente.
― Você sempre sabe o que dizer ― Comentou, sorrindo. Levantou, abrindo os braços ― Por acaso ensaia em casa?
Fui de encontro ao seu abraço gostoso e respondi:
― Faz parte do meu charme ― Respondi.
Meu sorriso durou tempo suficiente para Ramona não notar quando ele se desmanchou quando a olhei, parada, sorrindo. Ela acenou. Não parecia então que havia passado tanto tempo desde a última vez que nos vimos, mas eu sabia que havia sim, eu só não conseguia ver isso agora, muito perplexo para reparar nas suas mudanças físicas. Ela sorriu mais uma vez e sibilou um “parabéns” bem baixinho, como que só para eu ouvir. Em seguida ela virou e foi-se, quando olhei de volta, ela era apenas uma pessoa no mio da grande multidão.
Diante de suas palavras pouco pude fazer, apenas intensifiquei o abraço em volta de Ramona, trazendo-a para mais perto. Eu poderia ter feito alguma coisa, dito algo, ter corrido em sua direção ou ter chamado a atenção de todos ali enquanto um ''espere'' saía desesperado por minha garganta. Mas parecia que as palavras de Rokety tinham efeito anestésico sobre mim, somente fiquei ali parado, por alguns instantes me senti paralisado.

Empenhei-me tanto em esconder o quanto tinha ficado abalado que ninguém percebeu minha mudança repentina de humor, nem Ramona. O caminho até em casa foi tranquilo, o ruim foi sair. Deixei Ramona em casa e depois fui pra minha. Não encontrei Tom, muito menos Aline.
Tentei dormir, virei várias vezes na cama, procurando algum tipo de posição que me fizesse embalar num sono tranquilo e só me fizesse acordar no dia seguinte. Mas foi impossível. Diante disso, saí. Fui aonde meus pensamentos queriam me levar. Eu repetia para mim mesmo que não precisava daquilo, mas meu coração dizia o contrário.
Xinguei-me mentalmente quando me vi parado na frente de sua casa. Estava tudo silencioso e eu não esperava outra coisa vendo as horas. Mas eu precisava vir, eu não aceitava o fato dela sumir por meses e depois voltar, assim, de repente, e ir lá com a maior cara de pau me dar parabéns. Ela estava comemorando o quê? Havia algo que ela ficava feliz em comemorar? Se ela não fosse tão estúpido, talvez ela estivesse no lugar de Ramona, que seria apenas minha assistente, como era pra ter sido desde o começo.
― Vai ficar parado ai por mais quanto tempo, Bill?
Ela estava parada do lado carro, me encarando confusa enquanto soprava a fumaça do cigarro pro alto.
― Rokety?
Ela riu.
― Não, Papai Noel, o que você deseja? ― Debochou, me dando as costas e entrando pra dentro da pousada. Fechei o carro rapidamente e a segui.
Rokety estava sentada e eu a observa enquanto ela fumava um cigarro atrás do outro. Parecia que eu não estava ali, ou ela me ignorava muito bem a ponto de nem se incomodar com o meu olhar raivoso sobre ela. A indiferença sempre foi uma qualidade dela, ou um defeito, depende de quem vê.
― Da pra parar? ― Sibilei irritado, ela me olhou vagamente e voltou a olhar algo lá fora, mas interessante do que eu.
― Dá, mas nos últimos meses eu infelizmente viciei, pelo menos um maço por dia. ― Jogou a butuca fora ― Você sabe que é feio vir na casa das pessoas a essa hora, né?
― Claro, porque bonito mesmo é sumir e depois reaparecer do nada. Lindo, né? ― Entortei a cabeça, totalmente irritado. Estava cansado da sua cara de ''tanto faz você aí, eu to bem aqui''.
― Algumas coisas fugiram do controle, não era pra ser assim. Você tem que acreditar em mim ― Rokety gesticulava freneticamente com as mãos, em seguida as colocou na cabeça ― Eu meti os pés pelas mãos, Bill.
― O que você fez? ― Falei suavemente, ficando a sua frente.
Ela levantou a cabeça e me olhou triste.
― Bom, agora isso já não importa mais ― Levou uma mão a meu rosto ― Porque afinal, você está feliz, você está diferente ― Contornou meus olhos ― Esse brilho nos olhos quer dizer que eu fiz algo certo, você está apaixonado.
Soltou uma risada vazia, oca e sem vida.
― Não era pra ser assim...
― Realmente não era, mas já que foi, vamos aceitar ― Complementou.
― Então você não vai fazer nada? Não vai me pedir pra nos voltarmos ou coisa parecida? Vai desistir e fingir não se importar? ― Enquanto eu soltava perguntas e mais perguntas pra ela, eu sentia minha voz falhar e meus olhos lacrimejarem ― Vai fica aí, parada, enquanto eu falo também?
Ela só fez que sim com a cabeça, também chorava.
Não aguentando mais aquela situação patética, virei-me e fui embora, mas não com aquela sensação de que amanhã ou depois nós estaríamos juntos novamente, senti que aquele era nosso fim, sem reticências ou vírgula, era o temeroso fim. Nunca pensei que seria assim, na verdade nunca pensei. Mas aconteceu e estamos assim, com o coração em pedaços, talvez com o tempo, mais uma vez, possamos juntá-los.
Olhei pra trás numa última esperança de que Rokety mudasse de ideia, mas não, ela continuava na mesma posição que eu a havia deixado, e me parecia que não ia se mexer por um bom tempo.
Entrei no carro e encostei a cabeça no volante, e chorei. Chorei por tudo que fomos um dia e tudo que eu pensei que seriamos e pelo o que não conseguimos ser. Por tudo que conquistamos, ganhamos e perdemos. Chorei por termos nos perdido depois de termos nos reencontrados infinitas vezes. Pelo que achamos que foi, que era e que - na verdade - não foi nada, não era nada. Pelos nossos erros e nas vezes, as poucas vezes que acertamos e não comemoramos. Pelas muitas vezes em que as mesmas palavras que nos feriam eram as que nos curavam. Chorei também pelas nossas tentativas, porque o que mais fizemos em nossa vida foi tentar. Tentamos ser pessoas melhores, e somos. Tentamos deixar o passado pra trás e com muita luta conseguimos. Tentamos e tentamos, e nunca pararemos de tentar. Só chorei e, antes de levantar a cabeça e tentar seguir em frente, meu celular apitou.
Mas eu amo você. Só queria terminar dizendo isso. Eu amo você. De verdade.
Rokety.

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog