quinta-feira, 22 de março de 2012

Insanity - Capítulo 20 - Epílogo

Tom...
Qual era o significado do tempo?



Sete meses é essa a pergunta que me faço, sete meses longe de kate, meses me perguntando se meu sentimento por ela havia mudado com a distancia. Sete meses em que via meu irmão vagar dia e noite de casa para o estúdio sem um sentido maior a sua vida.
E me pergunto durante este tempo se fiz a coisa certa, se não devia ter deixado o pedido de Bill de lado e partido em busca de Kate, mas assim que o vejo me olhar e conversar animadamente comigo outra vez, sinto pela primeira vez que ela tinha algum tipo de razão. Eu tinha meu irmão de volta e ele a mim. Éramos nós dois novamente, sem brigas ou decepções e o melhor de tudo, sem ressentimentos, ao menos era isso que Bill deixava claro sempre que eu tentava voltar ao assunto.
Dias depois de minha volta para casa nossa vida começou a voltar a mesma rotina de antes, trabalho, casa, nossos cachorros e em meu caso algumas saídas noturnas com garotas diferentes a cada dia. Nada de envolvimento como sempre. De fato eu não havia mudado em nenhum aspecto.
Georg finalmente havia conseguido voltar para Shopie e sua companhia em festas tornava-se a cada dia mais difícil. Mas isso não o impediu de dar uma última festa em sua estranha casa de vidro, antes de vendê-la. Quando perguntei a ele quem a havia comprado, Georg não soube informar, e eu sabia que havia perdido ali as chances de ter aquela casa como uma última lembrança de Kate para mim.
Então poucos dias depois de nossa última festa enquanto fazia o caminho de volta para casa direto do estúdio, visualizei a pequena placa entre as árvores na estrada que nos levara tantas vezes para a antiga casa de Georg, e por um momento enquanto parava meu carro no acostamento cogitei que minha idéia de ir até a mesma não fosse boa, mas as lembranças que me restavam de Kate estavam naquele lugar e por segundos eu queria a sensação de tê-la por perto de volta.
Faço o recuo com meu carro e entro na estrada de chão, estamos no outono o que torna o caminho um pouco mais agradável, folhas coloridas traçam o caminho até a casa, e nela que penso enquanto admiro a paisagem. Porque sei que está era sua estação do ano favorita.
Quando vejo a casa em minha frente, entro em uma trilha de árvores, escondendo meu carro, porque não quero que o novo dono se assuste com minha presença. E porque quero poder voltar e observar a casa sempre que tiver vontade. Sempre que a saudade for maior que minha sanidade.
Um sopro de ar frio passa por mim assim que abro a porta do carro e encosto-me sobre o mesmo, eu observo a fumaça sair pela chaminé da casa e desaparecer no ar gelado de outono que começa a se espalhar.
As cortinas estão fechadas, tornando a vista do interior do imóvel impossível. Então volto meu olhar para o lago em volta da casa e lembro-me do olhar radiante de kate sobre ele e também de suas palavras para descrever aquele lugar.
Respiro profundamente sentindo o ar gélido entrar em meus pulmões e ensaio voltar ao carro, mas assim que me mexo ouço o barulho da porta ao lado da casa abrindo.
Quando me viro novamente lá está ela, e em nenhum momento penso estar enganado, porque eu a reconheceria em qualquer lugar, É Kate e está de costas para mim e sei que de onde estou jamais conseguiria me ver.
Eu a observo ao longe parada enfrente ao lago, Kate senta-se no banco branco e então empurra as folhas secas para o chão. Penso em ir até ela, em abraçá-la e pedir para que volte, mas assim que avanço um pouco, ouço novamente o barulho da porta abrindo e então imagino que depois de tanto tempo ela já não estivesse mais sozinha. Talvez um outro amor... Quem sabe...
Mas assim que vejo a figura de meu irmão indo até ela, meus sentimentos passam por um turbilhão de emoções em segundos. Bill caminha até ela e senta-se ao seu lado. Kate o olha e então encosta sua cabeça sobre o ombro dele.
Mais do que nunca me pego querendo ir até lá e perguntar a eles porque esconderam isso de mim, e enquanto caminho por entre as árvores cortando caminho para pega-los de surpresa. Repentinamente vejo que a surpresa é completamente minha.
Entre as árvores ao lado deles, entre o coberto que envolve o corpo dela vejo Bill acariciar a barriga de Kate enorme e voluptuosa. Eles entrelaçam os dedos sobre a mesma e assim ficam durante um tempo em meio a sorrisos e suspiros tristes.
E é os observando que afasto de mim todos os sentimentos ruins que me permiti sentir minutos atrás.
E comecei a entender de repente o sentido de tudo. Comecei a entender o que o amor significa de verdade e cheguei à conclusão de que Bill apesar de todo seu sofrimento, achou uma forma de proteger a todos nós com ele. E concluo o que há muito tempo já pensava, ele era e sempre seria uma pessoa muito melhor do que eu.
Sento-me ao chão fazendo menos barulho possível, porque quero tempo para observá-los, porque quero absorver a pequena felicidade de ambos, porque não quero pensar e agir de uma forma errônea. Como tanta vezes fiz.
Começo a rir enquanto os observo pensando que nem tudo está perdido e que desta vez posso fazer a coisa certa, como uma segunda chance que a vida acabará de me dar. Então eu paro assim que a ouço perguntar a ele, quanto tempo ainda acha que levará para estarmos todos juntos de novo. E o ouço responder...
– Logo, logo estaremos juntos outra vez.
– Como sempre foi. – Ela diz segurando a mão dele.
– Como deve ser. – Bill responde sorrindo esperançosamente.
Então ele levanta e ajuda a fazer o mesmo, ela abre o cobertor e ele a abraça por debaixo do mesmo, e assim caminham para dentro de casa novamente.
Volto para meu carro e faço o caminho de volta até nossa casa, pensando novamente no tempo e em suas formas de cura. Assim como nas estações quando algo que morre no inverno acaba renascendo na primavera, acredito que na vida haverá um tempo pra tudo.
Haverá principalmente um tempo certo para estarmos todos juntos novamente.
Fim.

Postado por: Grasiele | Fonte: x

Insanity - Capítulo 19

Ela fecha a porta lentamente e eu a observo ir embora passando pela janela do corredor como se estivesse em câmera lenta. Tento entender o significado de suas últimas palavras, mas quando tento levantar e ir atrás dela a porta de meu quarto abre e sou invadido por perguntas e olhares preocupados.

...

Tom...



Mamãe, Gordon, Georg e Gustav junto com outras pessoas que pouco percebo o rosto falam comigo apressadamente, eu não os entendo e a primeira vista tudo que vejo são borrões em minha frente, porque meus pensamentos estão em Kate e isso me deixa louco com as possibilidades que crio em minha mente.
Bill não está com eles, mas assim que dou por sua falta o mesmo entra em meu quarto e fecha a porta atrás de si, como se não faltasse mais ninguém. Como se ela já não fizesse mais parte de nós.
Eu os olho e então tento me acalmar para não preocupa-los.
Mais tarde quando abro os meus olhos novamente, apenas Bill está em meu quarto, está sentado ao lado com a cabeça apoiada em minha cama. Ajeito-me calmamente para não acorda-lo. Mas o vejo abrir os olhos assim que me acomodo outra vez.
– Está acordado há muito tempo? – Pergunta ele sonolento espreguiçando-se
– Não. Acabei de acordar.
Ele suspira e então se levanta para pegar um copo de água perto de minha cabeceira. Eu o observo e vejo que está mais magro e pálido. Bastante cansado eu diria. Mas resolvo não tocar no assunto porque sei que a culpa é minha.
– Bill? – Eu o chamo e ele volta rapidamente para perto de minha cama, arrastando sua cadeira para mais perto de mim.
– O que? – Pergunta em tom neutro.
– Foi um sonho não foi? – Digo a ele esperando que sua resposta seja clara o bastante para me fazer acreditar. – Um sonho dentro de um sonho por que...
– Não, não foi um sonho. – Ele me interrompe. – Foi um pesadelo.
– Você também viu? – Pergunto novamente um pouco alterado. – Estava lá, não estava?
– Sempre que fechava os meus olhos. – Diz ele com certo peso na voz. – Mas o sonho era seu, eu não pude interferir, sinto muito por não poder ajudá-lo.
Ele toca meu braço e o aperta em sinal de conforto.
– Não foi sua culpa. – Digo por fim não acreditando no que afinal havia acontecido comigo e também com meu irmão.
– Nem sua. – Diz ele em meio sorriso, voltando a sua mão para o copo. - Volte a dormir, vamos para casa pela manha.
– Kate vai estar em casa? – Pergunto sem pensar.
– Não se preocupe Tom. – Ele sorri e então volta a encostar a cabeça sobre a cama fechando seus olhos novamente.
Olho para janela e vejo suas cortinas balançarem calmamente, e isso aos poucos me devolve ao sono.
De amanha com quase todos no hospital novamente eu os observo atentamente tentando achar algo errado em suas reações, algo que os condene e que entregue que estão mentindo, mas não há nada em seus semblantes.
Gordon assina os papéis de minha alta, enquanto mamãe fala com uma das enfermeiras. Georg da em cima da enfermeira mais bonita que havia naquele hospital enquanto ela o ignora escrevendo algo em sua prancheta.
Gustav está com uma cadeira de rodas nas mãos, e observa a todos atentamente como sempre.
Ele me olha e então empina a cadeira em minha direção e eu me dou conta de que terei de sair nela até o carro.
...
O caminho é longo e durante ele Bill pergunta algumas vezes se estou me sentindo bem. Apenas respondo que sim, mesmo sabendo que é mentira. Meu nervosismo e vontade de estar em casa são inquietantes.
Quero vê-la e saber que está ali, quero saber que está tudo bem e que de verdade nada mudou. Que eu não fui o responsável por estragar a vida de meu irmão e de Kate.
O Carro para e Bill desce, correndo até minha porta.
– Precisa de ajuda?
– Não, está tudo bem. – Digo a ele enquanto levanto.
Então eu entro em casa novamente depois de tanto tempo, e o que vejo é que estranhamente tudo está realmente como sempre foi literalmente falando. Como sempre foi antes de termos conhecido Kate.
– O que está acontecendo aqui? – Pergunto a Bill assim que o vejo entrar logo atrás de mim.
Ele segue até a outra sala largando minhas coisas que estavam no carro, e então vejo mamãe e gordon entrarem na sala.
– Alguém pode responder? – Grito sem olhá-los, por que estou furioso. – Onde estão as fotos, onde estão as coisas dela?
– Tom. – Mamãe me chama em vão.
Ignoro meu estado e então corro até o quarto deles e abro as portas de seu closet, o lugar está vazio. Não há sinal de Kate ou de que fez parte de nossas vidas em lugar algum daquele apartamento.
Volto para sala e os olho. Acreditando com absoluta certeza que jamais a veria outra vez. Que o casamento de meu irmão fora arruinado por minha total incapacidade de ficar calado e guardar meus sentimentos estúpidos para mim mesmo.
– Onde está kate? – Ninguém responde. – Onde ela está Bill?
– Por favor, não se altere, você não pode... – Mamãe chega perto de mim, mas eu a afasto e corro até Bill.
– Porque não diz nada? – Grito com ele.
– Ela preferiu assim Tom. – Gordon diz sentando-se no sofá. - Não conseguimos faze-la mudar de idéia, sinto muito.
Olho para Bill novamente e tudo que vejo é que está tão assustado quanto eu, caminho até ele e o abraço apertando-o o quanto posso, sinto-o o chorar perto de mim. Rendendo-me a um choro convulsivo também. Eu sussurro milhares de desculpas a ele enquanto o abraço, mas sei que nada disso trará Kate de volta, então eu prometo a ele que farei isso pessoalmente.
Mas ele se afasta e me olha calmamente.
– Não.
– Mas ela disse...
– Ela disse “como sempre foi”. Ela preferiu assim e ambos sabemos que ela estava certa.
Ele fala de uma forma estramente calma, e que me acalma aos poucos também. Eu deveria saber que não teríamos futuro algum juntos, e que a idéia fixa em minha mente de que teríamos nossa vida a três de volta era completamente estúpida, apenas uma ilusão.
Mas Bill não era como eu, não pensava como eu, não agia como eu. E quem poderia condená-lo por isso?
O que eu havia feito meu comportamento durante todo este tempo, era imperdoável. Eu tinha sem a menor duvida destruído sua expectativa de vida com Kate, destruído seu amor, sugado a alegria, felicidade e confiança de ambos até a última gota.
Eu alienei meu próprio irmão com minha insanidade durante todo este tempo. Eu cedi aos meus pensamentos mais sombrios e por não saber me controlar perdi para sempre a primeira pessoa que amei de verdade. E que infelizmente não havia e nem poderia me amar de volta.
Eu os olho uma última vez e então lentamente caminho até a outra sala, eles não saem atrás de mim ou tão pouco me chamam, porque sabem que este é um momento daqueles que preciso ficar sozinho comigo mesmo. Um momento de encontro com meus erros e acertos e com o que farei daqui em diante...
Mas por enquanto tudo que me resta são apenas memórias boas ou ruins. Memórias de momentos com Kate ... De seus olhares e sorrisos, alegria, amizade e simplicidade, mas acima de tudo do carinho que ofereceu a mim durante toda a tempestade que enfrentamos. Durante todo caminho enfrentando minha completa insanidade.
Então me sento ao piano e toco sua canção favorita e por um momento em minha mente, Kate está em casa outra vez.

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 18

Tom...



Quando abro meus olhos novamente aos poucos consigo me lembrar de tudo que aconteceu, lembro do médico pedindo a enfermeira para que chamasse meu irmão, mas também lembro que ela não se moveu um centímetro de perto de mim.
Lembro de virar meu rosto para o lado em que ela estava um pouco antes de apagar por completo e vê-la colocando um liquido amarelo em meu soro.
Ajeito-me um pouco na cama e sinto as agulhas em meu braço picarem o mesmo deixando um pouco de sangue escorrer por entre os tubos do soro. Levo minha outra mão livre até elas e as arranco. A dor incomoda, e o sangue parece não querer parar de escorrer. Solto um gemido abafado e então ouço um barulho na janela, Bill estava sentado na poltrona ao lado da mesma, dormindo eu suponho.
Ele arregala os olhos e me olha apavorado. Seus passos são longos até a cama, ele toca meu pulso, mas não diz nada.
– Estou bem. – Falo, mais para começar um dialogo do que para provar que nada aconteceu em meu braço.
– É claro que está. – Ele fala em tom irônico. – Vou chamar a enfermeira para concertar o que fez.
– Eu não quero.
– Não está em condições de negar ajuda.
Ele me observa de soslaio e então sai de perto de mim caminhando rapidamente até a porta abrindo a mesma e chamando a enfermeira que passava pelo corredor.
A mulher de meia idade, baixinha e sem nenhum atrativo entra em meu quarto e me olha com reprovação.
A rapidez com que pega novas agulhas e injeta novamente o soro em meu braço é admirável e quase não sinto dor. Mas assim que encontro o rosto de meu irmão parado perto da porta sinto que a dor que poderia sentir em meu braço passa longe de me ferir tanto quanto às vezes em que encontro seu olhar triste sobre o meu.
– Pronto. – A enfermeira diz sorrindo. – Espero que não tenhamos mais problemas com o seu soro Sr kaulitz. – Continua com desdenha, pegando o material sujo e jogando-o na lixeira perto da porta.
– Obrigado. – É tudo que digo enquanto a vejo sair pela mesma com o sorriso ainda estampado no rosto.
– Está se sentindo melhor? – Bill pergunta, aproximando-se da cama.
– Sim.
Eu o olho por um instante esperando que ele comece a falar, que comece a brigar comigo, mas ele nada faz. Bill simplesmente senta sobre a cama, e continua a olhar para a janela perto da mesma.
– Por favor, fale alguma coisa. – Peço a ele por que seu silencio constante começa a me assustar.
– O que quer que eu diga? – Bill me olha, mas rapidamente volta a olhar o exterior do hospital.
– Eu não sei, qualquer coisa, me culpe, grite comigo.
– Eu normalmente faria isso...
– E é o que eu espero que faça.
– Eu gritaria e xingaria você, estaria agora mesmo culpando-o. – Diz ele sabendo que é exatamente o que eu espero que faça.
– Faça isso, mas, por favor, Bill não fique neste silencio.
– Não vou fazer isso, não vou por que... – Ele suspira pesadamente e então vejo uma lágrima grossa escorrer por seu rosto. – Porque estou simplesmente agradecido de vê-lo acordado outra vez.
Bill aproxima-se de mim rapidamente e então circula seus braços por meu corpo. Quero entender por que sua reação é tão plácida, mas tudo que faço é trazê-lo para ainda mais perto de mim em um abraço há muito tempo esperado.
Quando nos separamos ele ri enquanto segura meu rosto apertando-o, e então começo a rir também por vê-lo assim perto de mim. E só assim começo a entender que de verdade tudo não passara de um terrível pesadelo, apesar de não saber exatamente onde o mesmo começou.
Ele leva as mãos aos seus olhos secando suas lágrimas e faz o mesmo em meu rosto. Começo a rir do jeito atrapalhado em que se encontra e então bato em seu braço como de costume.
Começamos a rir estranhamente e só paramos quando o barulho da porta sendo aberta invade nossos ouvidos.
É kate... Ela nos observa com um brilho diferente nos olhos e posso ver Bill sorrir timidamente ao vê-la se aproximar.
Seu rosto está mais claro do que o costume, como se sua pele fosse feita de cera. Como um anjo que na verdade é.
Bill me observa e então bate em minha perna enquanto se levanta ele está prestes a nos deixar sozinho e eu não entendo como pode fazer isso mesmo depois de tudo. Talvez confie em mim, talvez não se importe. Talvez eu esteja subestimando meu próprio irmão.
Ele passa por ela antes de sair do quarto e eu vejo suas mãos se tocarem ainda que timidamente em um gesto de cumplicidade. Meu coração dispara, mas felizmente eu ainda sou aquele tipo de pessoa que consegue esconder isso muito facilmente.
Kate aproxima-se de mim e sinto seu perfume invadir o meu espaço, tomando conta de mim por completo. Talvez eu não seja mais tão bom assim em esconder meus sentimentos.
– Oi – Digo a ela com um sorriso meio bobo nos lábios.
– Oi.
– Está mesmo aqui. – Digo sem pensar.
– Sim. – Responde rindo enquanto chega mais perto de minha cama.
– Desculpe, eu tive uns sonhos malucos e... – Tento explicar para não parecer um bobo, mas ela me interrompe, quando toca em minhas mãos.
– Não importa. Está acordado agora.
– Vem aqui vem? –
Bato minha mão sobre a cama e Kate aproxima-se sentando ao meu lado. E enquanto ajeitasse, vejo Bill nos observando da janela.
Kate me abraça forte e então eu beijo o topo de sua cabeça, e assim ficamos abraçados por um tempo até ela levantar seu olhar sobre o meu.
– Você é a pessoa que ... – Suspira pesadamente. - A pessoa que eu mais gosto nesta vida.
– Há não, não vai chorar agora. – Tento rir. – E, além disso, tem o Bill.
– Não, é diferente. – Ela volta-se para mim com seu semblante triste e pesado – Eu amo Bill... Mas você... Tom. Quando perdi meu irmão, acreditei que jamais sentiria algo parecido novamente, o amor, a amizade, a cumplicidade. Um tipo de amor diferente de todos os outros... Puro.
– Kate eu... – Esforço-me para não desviar o olhar desejando que minhas palavras saiam certas, mas ela me interrompe.
– Você substituiu isso. – Começa. – Você me devolveu todos aqueles sentimentos de volta. Com seu jeito, sua alegria, seu amor.
– Desculpa... – É tudo que consigo dizer, porque talvez seja tudo que eu tenha a dizer a ela. – Por tudo que eu fiz você passar nos últimos dias... Eu... Não queria... Eu...
– Nada do que aconteceu importa pra mim, desde que você fique bem. – Ela balança a cabeça e olha para o soro ao lado de minha cama. Está vermelha e vejo que está prestes a chorar. – Desde que tudo volte a ser como antes.
– Isso é impossível... Depois de tudo que eu fiz... Que eu disse. – Eu reajo a sua bondade, sentindo minhas palavras queimarem minha garganta.
– Nada é impossível Tom. - Ela me olha nos olhos, estamos perto demais, mas agora diferente do que sentia antes, estou apenas feliz por ainda tê-la por perto.
Eu a puxo pra ainda mais perto de mim e então beijo o topo de sua cabeça novamente. Eu sussurro uma de suas canções favorita próximo ao seu ouvido e a ouço rir fracamente. Lembro-me de nossa dança no dia em que tudo realmente começou a desmoronar a nossa volta. Lembro de suas mãos sobre as minhas e a forma como meu coração parecia querer saltar do peito a cada passo que dávamos. Lembro-me de vê-la feliz e então me dou conta do que realmente importa.
– And you can tell everybody this is your song – Sussurro e ela ri apertando meu braço. – Não é a primeira, mas é a música que...
– Dançamos no casamento. – Ela diz sorrindo.
– Você lembra... – Digo surpreso. - Kate. – Paro por um instante e a vejo levantar seu rosto e olhar-me novamente. – O dia em que estávamos dançando na sala, você disse que precisa me contar...
– Não era nada. – Ela levanta-se de repente empalidecendo. – Nada que precise se preocupar.
Eu a observo por instantes e ofereço minha mão para que volte ao meu lado na cama, mas ela segura minha mão entre a sua e as entrelaça.
– Precisa ir. – Digo a ela calmamente, porque não quero que se assuste com minha reação repentina e também porque tenho certo receio de que Bill entre no quarto e tire conclusões erradas de nossas ações. – Não quero que fique aqui, não é um bom lugar para se estar.
– Você está aqui, Bill está aqui. – Ela ri divertida, mas sinto que a um disfarce em suas reações. – É exatamente onde eu deveria estar.
– Volte para casa, logo estaremos de volta também.
Ela me abraça e me olha sorrindo com lágrimas nos olhos, estão se afasta e caminha lentamente até a porta.
Uma espécie de sensação assustadora toma conta de mim assim que a vejo por a mão na maçaneta em sua frente.
– Vai estar em casa quando eu voltar, não vai? Tudo vai estar no lugar? Como sempre foi?
– Como sempre foi. – Ela diz calmamente em um tom quase inaudível fechando a porta a seguir.
Tento entender o significado de suas últimas palavras, mas quando consigo levantar para ir atrás dela a porta de meu quarto abre e sou invadido por perguntas e olhares preocupados.

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 17

Tom...

Abro meus olhos, mas tenho dificuldades em enxergar. Há fios por toda parte e um barulho completamente irritante ao meu lado. Meus dedos, minhas mãos, meus braços, meu pescoço, tudo em mim parece oco. Minha boca e nariz estão completamente tapados por um tubo de oxigênio e sinto uma enorme vontade de atirá-lo longe. Observo um pouco mais o quarto, e me dou conta finalmente de que estou em um hospital. Perto de mim a um aparelho, está medindo meus batimentos cardíacos eu suponho, e tenho certeza que encontrei o culpado pelo maldito barulho que me assombrava.

Minha cabeça ainda está latejando debaixo da sobrancelha esquerda. E estou com um gosto azedo na boca. Tento achar um modo de avisar que estou acordado, que estou bem, mas não há nada que eu possa alcançar ou tocar.

Bill deveria estar aqui, ele deveria saber que eu acordaria em algum momento, porque ele não está aqui?
Com dificuldade consigo levar minha mão até meu rosto, e retiro o tubo de oxigênio finalmente, não consigo imaginar a quanto tempo devo estar usando-o, só o que eu sei é que nunca mais quero tê-lo em minha garganta de novo.

– Tom...

Ouço o barulho ao lado, a alguém sentado perto de mim. Alguém que eu não consigo ver.

– Tom?

Engulo minha saliva com força. Lágrimas pinicam o canto dos meus olhos.
Porque é a voz de Kate. Uma voz que pensei jamais ouvir novamente.

– Graças a deus, você acordou. – Ela diz levantando-se enquanto cada músculo do meu pescoço queima de vontade de virar para o outro lado.

– Vou chamar o médico. - Ela avisa.

– Kate? – Consigo falar, mas ela não escuta e sai rapidamente me deixando com uma sensação de que não aconteceu, de que não estava ali e que suas poucas palavras foram apenas fruto da minha imaginação.

Ouço novamente um som vindo da porta, a uma luz vinda do corredor.
Pessoas entram em meu quarto, suas sombras se perdem na parede a minha frente e não posso reconhecer nenhuma delas.

– Tom? – Ouço uma voz logo acima de mim e então posso ver seu rosto, é meu médico, meu e de Bill. – Como está se sentindo – Ele pergunta logo projetando uma luz em forte em meus olhos. – Consegue enxergar? – Faz muitas perguntas e eu acabo optando por responder à última, ou a que entendi melhor.

– Sim. – Digo apenas.
– Está me ouvindo bem? – Se eu respondi é porque estou isso não é obvio para ele?

– Estou.

– Consegue se movimentar Tom? – Ele bate um pequeno martelo em minha perna esquerda e logo repete na direita. Minhas pernas reagem bem, sinto isso perfeitamente, mas no momento isso não me importa muito.

– Sim, onde está o meu irmão? - Pergunto já impaciente. - Eu quero ver o meu irmão.

– Seu irmão está lá fora. – Ele olha meus braços examinando-os e logo enxerga o tubo que a pouco arranquei. –Bill poderá entrar assim que você estiver mais calmo.

– Quero vê-lo. – Insisto.

– Você sabe por que está aqui? – Ele também insiste em continuar com perguntas. – Sabe por que veio parar aqui?

– Não. – Na verdade não faço idéia. Só quero poder ver meu irmão.

– Qual foi a sua última lembrança? – Ele senta ao meu lado na cama, enquanto uma das enfermeiras começa a separar remédios.

– Eu estava a seguindo e então ouve um barulho. – Tento explicar a ele, mas como explicar algo que eu também não entendo. - Ela... Ela está morta. - Eu me inclino para trás, apoiando a cabeça no encosto, e fecho os olhos me lembrando de tudo.

– Quem está morta Tom? – Ele pergunta curioso.

– Kate. – Digo como se fosse obvio.

Ele se afasta e me olha com preocupação, meche nos cabelos enquanto acena para que duas enfermeiras que estavam perto da sala saiam, mas a terceira ainda fica ao lado da minha cama, mexendo em alguma coisa.

– Tom você estava em coma induzido há três dias. – Ele diz e eu o olho rápido. – Você ingeriu uma quantidade excessiva de absinto misturado com everclear. Lembra-se disso?

– Sim. – Eu realmente me lembro.

– Bom. – Ele continua, sei que quer chegar a algum lugar e isso me deixa ansioso. – Você chegou aqui com o quadro de coma alcoólico, nós sedamos você para que pudéssemos retirar o álcool de seu organismo...

– Quanto tempo eu dormi? – O interrompo.

– Como eu disse está aqui há três dias. – Ele continua calmamente. – Não respondeu como gostaríamos então decidimos mantê-lo sedado.

Nervoso começo a levantar meu corpo pouco a pouco, quero sair dali, ele está louco e está querendo me deixar também, eu sei o que aconteceu não preciso que ninguém me diga ou conte nada. Sei exatamente o que fiz e não vai ser ele a tentar me convencer do contrário.

– Do que está falando? – Grito – Eu estava em casa, não sei por que vim parar aqui. Eu quero ver o meu irmão. – Sento-me na cama arrancando o resto de fios que estão em meus braços. – Quero ver o meu irmão agora. – O aviso, mas ele não se move.

– Ontem. – Ele começa a falar novamente e isso me deixa irritado. – Ontem à noite começamos a diminuir sua sedação para que pudesse ir acordando aos poucos. – Se aproxima de mim, segurando meus braços. - Por favor, você precisa se acalmar, para que possamos examiná-lo direito.
– Não. – Eu avanço e ele instintivamente se afasta. – Preciso me desculpar com ele. Eu quero...

– Sua cunhada está com seu irmão, está tudo bem senhor. – Ouço a voz da enfermeira ao meu lado, seu olhar é tranqüilizador e por um momento tento acreditar no que disse. – Eu a vi. – Ela continua e eu desabo novamente sobre a cama. – Foi ela quem nos chamou agora pouco avisando que você havia acordado.

– Você a viu? – Pergunto acreditando que entendi errado.

– Sim eu a vi, todos nós a vimos. – Ela sorri amigavelmente enquanto fala.

– Você provavelmente teve sonhos enquanto estava sedado. – Dr. Altman voltou a falar. -É completamente normal.

– Não, foi real. – Tento voltar ao assunto, explicar a eles que não pode ter sido sonho – Real de mais para ser um sonho.

– Foi um sonho, pesadelo, chame como quiser, mas foi apenas isso. – Ele fala novamente a mesma coisa e isso me deixa mais irritado ainda.

Eu quero surtar. Quero cair no chão e me arrastar corredor a fora, quero encontrar meu irmão, quero ver Bill, pedir desculpas a ele.

– Quero ver meu irmão. – Grito sem paciência nenhuma levantando-me rápido da cama.

Caminho pelo quarto, jogo tudo que está ao meu alcance no chão enquanto eles apenas assistem tudo de longe, talvez isso seja normal para eles, porem não é para mim.
Eu não posso acreditar em nada do que falaram aqui, não depois do que eu vi, não depois de tudo que eu vivi.

– Agora!! – Grito, sentando-me cansado na cama a minha frente. – Por favor.

Eu estava assustado. Mais uma vez, eu tinha me deixado assustar. Escorreguei para fora da cama e caí no chão. Fiquei sentado ali, ao lado da cama... Chorando.
Ele olha pela janela e inspira profundamente antes de seguir até a porta a abrindo em seguida.

– Tudo bem, chame o irmão dele.

Eu o ouço dizer, mas assim que o olho tudo parece ir apagando-se aos poucos novamente, como nuvens escuras cobrindo um céu completamente limpo. Estava sendo sedado outra vez.

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 16

Tom...

Tudo parece caminhar para o fim, eu sei, eu sinto. Ao fundo vejo pessoas conversando, sorrindo, pensando. Imaginando talvez porque estejamos distantes.
Olho ao longo da sala encontro Bill sentado. Ele olha para as mãos. Está segurando uma na outra, como uma criança amedrontada.
Vejo Georg aproximando-se dela, parece preocupado, talvez ele saiba aonde chegamos, talvez não, e agora tudo que eu consigo pensar era que devia tê-lo escutado, deveria ter ficado em sua casa e por um bom tempo não ter voltado. Isso não resolveria tudo, mas agora nada disso estaria acontecendo.
– Oi Kate. – Ela assusta-se com a repentina aproximação.

– Oi. – Diz baixinho, quase com tristeza.

– Está tudo bem? – Ele pergunta curioso olhando para as mãos dela que tremiam incessantemente.

– Sim.

– Você está tremendo.

– Só um pouco nas mãos. – Ela balança a cabeça negativamente. – Não é nada importante.

– Não. Seu corpo está tremendo. - Ele olha a analisando.

– Vou beber um pouco de água, talvez passe. – Ela diz mantendo um fino sorriso ao longo da face. – Com licença.

E retira-se caminhando em passos lentos, quase flutuantes ao longo do corredor e antes que possa fechar a porta do banheiro, posso vê-la escorregar ao longo do mesmo entre soluços e lágrimas silenciosas.
Posso sentir o calor invadindo meu rosto. Minha raiva é tanta que mal consigo falar.
Caminho em direção a Bill, que tenta me ignorar assim que me vê, mas ele é o único com quem posso falar no momento, mesmo que não eu não saiba o motivo.

– Bill, você lembra. - Começo a falar nervoso, tentando explicar tudo de uma vez só. – Lembra que sonhávamos as mesmas coisas quando éramos pequenos?

– Não fale comigo. – Ele solta virando-se para a direção oposta de mim.

– Não estou brincando. - Ele permanece mudo enquanto falo, mas agora parece estar mais perturbado do que antes. – Esse pode ter sido outro sonho daqueles.

– Está tão arrependido que quer achar uma desculpa qualquer para que eu o perdoe? – Ele solta de repente e me olha - Sinto muito isso não vai acontecer. Só quero que saiba que eu não vou perdê-la porque você não consegue controlar seus hormônios. Se Kate quer ficar com você. – Ele respira fundo antes de continuar. – Se você quer ficar com ela também, eu aprenderei a conviver com isso, mas eu não vou perdê-la. - Fala enquanto eu nada digo, não tenho resposta. O que ele diz faz sentido, mas não confio mais em minha própria capacidade de discernimento. - O que você fumou?

Ele me pergunta sarcasticamente quando nota que pouco entendi do que ele acabará de falar.

– Droga Bill! Será que pode me ouvir? – Grito ao seu ouvido – Está me ouvindo? – Pergunto, mas sei que não está, nem eu mesmo posso me ouvir, a cada minuto que passa o barulho do bip torna-se ainda mais incessante em minha mente abafando qualquer ruído próximo que possa existir. – Não consigo enxergar você.

Digo por fim desesperado por meu estado, tudo estava sumindo aos poucos, deixando no ar apenas finas camadas brancas, como cortinas balançando ao vento.

O Ar me falta, sinto que estou completamente tonto enquanto busco algo próximo para me encostar, mas nada parece estar próximo quando você precisa.

O silencio volta e com ele sinto que meus sentidos ficam aguçados, não posso ver ou sentir nada, sinto-me imóvel e não sei onde estou.

Há um cheiro forte de remédios pairando ao meu redor e ao fundo ouço sons de vozes conversando aleatoriamente. Sinto medo porque esse é um momento daqueles em que não tenho certeza de nada... Eu posso estar morrendo e ainda sim não saberia dizer.

– Pare de olhá-lo – Eu o ouço gritar.
Meus batimentos estão acelerados e eu consigo ouvir o som do meu coração assustado.

Ao meu lado o bip parece ainda pior, e eu me dou conta de que estou próximo de perder o único sentido que ainda tenho.

– Ele não está bem. – Ela diz a ele, provavelmente falando de mim.

– Eu não estou bem e você não parece estar preocupa com isso.

– Por favor, já chega disso. - Pediu ela. - Não estou agüentando.

– Só estamos começando.

– Deixe-me ver como ele está.

– Não você não vai. – Ele grita.

– Pare com isso. As pessoas estão olhando. – O avisa.

– Porque está preocupada, você gosta de publico... - Exclama, irado – Pelo menos pareceu gostar noite passada. – Ele blasfema com a voz chorosa. – Ouça bem, vá para o quarto... Tom e eu iremos encontrar você daqui a pouco.

– O que está pretendendo? – Ela pergunta em tom desesperador

– O que você acha? Você o ama... Você deseja ele, estar com ele. Eu amo você, é minha esposa e sei que também me ama, e se o que você deseja é ter aos dois, então você terá. - Ele fala sem interrupções.

– Antes... Eu prefiro estar morta.

Ela diz e então suas vozes acabam ali. Seus diálogos ofensivos novamente dão lugar ao um silencio desesperador para mim. Eu me concentro e tento pensar racionalmente. Ele está tentando me assustar, é só isso.

Fecho meus olhos, tento absorver tudo que ouvi por um minuto, talvez isso me faça acordar, talvez isso me faça perceber que eu estive preso em um pesadelo o tempo todo.

Aperto-os ainda mais, e subitamente começo a me lembrar do dia em que a conheci, o dia em que sorriu para mim pela primeira vez. A primeira dança, quando por um momento a roubei de Bill em seu casamento.

Lembro-me também do sorriso alegre e bobo de meu irmão assim que percebeu.
Ele estava feliz e eu sabia que não só por ter enfim se casado com ela, mas feliz especialmente por ver que de alguma forma eu também havia descoberto nela o mesmo encantamento que ele.

As cenas de nossas vidas, desde aquele dia, começam a se passar depressa em minha mente, e logo param no dia em que toquei para ela. A última vez que me viu como o irmão que eu deveria ter sido até aqui.

A última vez que toquei suas mãos sem esperar nada em troca...

É estranho o modo como essas cenas passam, é como se eu estivesse lá como espectador, mas ainda sim conseguisse sentir toda aquela pureza vinda dela novamente.

Sinto-me feliz outra vez, como naquele dia no momento em que segurei sua mão.

Ela me olha sorrindo, levando sua cabeça ao meu ombro, e então eu fecho meus olhos tentando viver meu último momento de paz outra vez.
Sinto respirar e quando me olha novamente, não é a mesma Kate de antes, pelo contrario, está cansada, pálida, preocupada... Distante do mundo.

E quando a solto, ela caminha rapidamente até Bill que a olha desconfiado, mas ainda sim seguem para o quarto. Quando tento ir atrás, me dou conta de que já vivi está cena antes... E quando tento fazer o caminho contrario tudo parece vir à abaixo.

Tudo começa vir em minha direção, tudo que passamos até chegar aqui, todas as brigas, desconfianças, abraços e momentos em que estivemos completamente sozinhos.

Mas também a cenas em que eu não estava presente, e isso me fazia crer ainda mais que estivesse em um sonho.

O tempo passa... Minha respiração é rápida e superficial e o pavor começa a tomar conta de mim.

Abro meus olhos em fim e diferente do que eu imaginava, estou no centro de nossa sala.

As paredes estão brancas, todo o local me parece branco demais... Quase doente.

Posso ver a porta para o jardim aberta entre as cortinas, e calmamente começo a caminhar até ela. Quando as afasto de meus olhos, ouço o sorriso de Kate ao longe, ela está alegre posso sentir...

Está correndo também vestida de branco, parece brincar com alguém, mas não consigo ver quem é.
Por um instante fico apenas a observando sorrir, e me pergunto como seria possível não ama-la.

Esta em minha frente agora era a verdadeira Kate com quem ele casou e por quem me apaixonei... Alegre, divertida, completamente solta e viva... Sorri para mim mesmo por um tempo, até que posso ver seus olhos caídos sobre mim.

Ela parecia completamente derrotada desta vez, e de seus pensamentos eu só conseguia absorver uma coisa, seu desejo incessante pela morte.

Estranho, não? Tudo de um momento para o outro foi completamente mudado diante dos meus olhos. Como se algum tivesse me oferecido dois caminhos a seguir e eu inevitavelmente tivesse escolhido o pior.

O Lugar antes branco, agora era banhado por cores pretas que pouco a pouco o invadia.

E ela seguia em passos firmes para dentro, pedindo-me mentalmente para que a seguisse.

E assim o fiz...

Eu a acompanhei pelo corredor até seu quarto. Kate virou-se me olhando uma última vez, antes de apontar para si mesma, a arma que até pouco estava posta sobre sua cômoda.

Vejo tristeza em seus olhos tão dolorosamente castanhos, e embora eu queira acreditar que não fará nada estou certo de que não poderei impedi-la.

Tento rapidamente me aproximar, mas alguma coisa me empurra para trás, como se estivesse me segurando. Não posso fazer nada, e tudo parece ruir a minha volta. Alguém grita meu nome ao longe, mas ela é tudo que importa agora.

– Tom - Novamente ouço a mesma voz desconhecida. – Está me ouvindo?

Ela sorri para mim, e então ouço um barulho assustador...

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 15

Tom...

As palavras, na maioria das vezes barulhos vinham constantemente da sala e só assim consegui perceber que o jantar já havia começado.
Ouço sons abafados de choro a distancia e sei exatamente de quem está vindo. Bill pode ser outro agora, mas ele ainda é uma parte conhecida de mim. A parte que eu conscientemente machuquei.
Mesmo assim, não consigo me mover para longe dela. Tão vulnerável e tão distante em seus pensamentos que nem ao menos consegue sentir minha presença.
– Porque está fazendo isso? – Eu me aproximo dela sussurrando em seu ouvido e a vejo arrepiar-se, não porque sentiu minha presença, mas por que parece ter sentindo frio subitamente. – Me dê uma razão. – Eu peço a ela.
Ela passa as mãos por seus braços tentando de alguma forma aquece-los, mas parou assim que viu os dedos de Bill marcados em sua pele pálida.
– Vamos Kate me dê uma razão. – Eu falo um pouco mais alto, mas ela da às costas e começa a caminhar em direção a sala, parando um momento no corredor.
– Você é a razão. – Ela diz levando a mão ao estomago, - A razão para que eu consiga agüentar tudo isso. – Continua e eu imediatamente me dou conta de que não está falando comigo.
Sinto meu estomago embrulhar e caminho em direção a sala, passando por ela sem olhá-la. Tento chegar perto de minha mãe, mas ela também não percebe minha presença. Há pessoas em volta dela e supostamente falam sobre nos, enquanto por um segundo tenta deixar que tudo pareça estar normal, ignorando o fato de que Bill bateu em Kate.
– Eles não são mais tão iguais. – Mamãe diz a outra mulher que não faço idéia de quem seja embora esteja em minha casa.
– Talvez você não consiga notar, mas para mim eles são exatamente a mesma pessoa. – A mulher exclama, como se nos conhecesse.
– Para mim também. – Minha tia fala entrando na conversa. – Sempre os mesmos gostos, as mesmas vontades, os mesmos sonhos.
– Há sim, lembro-me como se fosse hoje as brigas assim que acordavam de um mesmo sonho. – Vovó concorda com ambas.
– Sim, vovó tem razão era inacreditavelmente difícil convence-los de que era apenas um sonho. – Todas começam a rir, enquanto mamãe se mantém serena por algum motivo, talvez ela saiba mais do que eu presuma.
A história agora lembrada por elas vem á tona em minha cabeça e me questiono se há possibilidade de ter acontecido outra vez.
Bill e eu, presos em um mesmo pesadelo, como bruxas que nos assombravam nos sonhos em nossa infância esse agora poderia ser o pior de todos.
Aquele que acabaria com nossos sonos e também com nossas vidas.
Arrastei meus pés lentamente até chegar perto de kate outra vez. Ironicamente Bill fez o mesmo, mas agora em silencio, totalmente diferente de algumas horas atrás ele apenas conversa com ela, fazendo pequenos carinhos em seu rosto ou alisando seus cabelos.
Mas quando ela se afastou a ilusão de que tudo estava bem foi quebrada outra vez, e então eu me dei conta de que ele estava fazendo aquilo apenas para manter a aparência de casal perfeito na frente de todos.
– Está evitando todo mundo. – Ele diz a ela enquanto acena levemente a cabeça para alguém. – Não foi isso que combinamos.
– Estou com dor de cabeça. – Disse ela.
– Arrependida? – Ele blasfemou e ela imediatamente o olhou.
– Não posso estar arrependida por algo que não fiz.
– Eu adoro isso. – Bill leva sua mão aos cabelos dela empurrando-os de leve para trás da orelha. – A forma como você mente pra mim. – Ele sussurra aproximando-se de seu ouvido – Até consigo sentir pena.
– Não preciso que sinta pena de mim. – Ela se afasta, mas ele logo a puxa pela cintura selando seus corpos.
– Bom... Um traço de personalidade. – Ele ri, e subitamente aproxima seus lábios dos dela depositando pequenos selinhos. - Você é muito tolerante comigo, sabe?
– Eu sei – Ela responde assustada.
– É uma verdadeira falha de caráter. – Zomba ele.
– Eu nunca disse a você que era perfeita. – Ela o olha estranhando a repentina mudança de humor
– Eu sei. – Resmungou rindo. – Eu lembro exatamente o que você disse quando nos conhecemos... “Eu nunca mentiria pra você Bill.” – ele enfatizou.
– Eu nunca menti. – Ela tenta lembrá-lo, mas Bill não parece estar disposto a ouvir suas mentiras.
– Você não está feliz, sinto isso há muito tempo.
– Eu não estou. - Disse ela com cuidado. – Não neste momento.
– Posso pedir a ele que a toque de novo, talvez possa sentir-se melhor outra vez. – Ele diz e isso me soa um tanto masoquista. Bom talvez ele seja... Talvez ambos sejamos.
– Você não vai conseguir. – Ela o olha enojada - Você está pensando que eu tenho raiva de você, mas não tenho. – Ela o observa com um peso no olhar – Você só está tentando me machucar com isso.
– Você pelo menos o ama? – Ele a solta de repente e Kate desequilibra-se enquanto procura um apoio qualquer.
– Sim eu o amo. – Ela fala com plena certeza, e eu a encaro pronto para ouvir o pior.
– Como ama a mim? – Bill a questiona em tom vacilante.
– Amo ele como meu irmão. – Ela diz calmamente e eu aproximo-me dela.
Bill sai enfurecido e eu não sei o que fazer. Era isso? Não era? O que ele queria tanto ouvir.
Examinei seu rosto procurando sinais de negação, mas não achei nenhum. Levando-me a crer que o que acabara de falar era a mais pura verdade.
Deixando claro ao menos para mim, que nossa noite não passara de um sonho, um delírio criado por mim e passado inconscientemente para meu irmão.
E este estava sendo o pior momento, por que só agora havia me dado conta de que não poderia voltar atrás e me arrepender do que tinha feito até aqui.
E o tempo infelizmente tornaria isso tudo ainda mais difícil...

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 14

Tom...

Nossa mãe sorri, disfarçando a cena forçada que acabara de presenciar, ela mais do que ninguém sabia o quanto Bill não gostava de intromissões quando o assunto era seu casamento, e se a própria Kate dissera que estava tudo bem era nisso que ela iria acreditar, mesmo contra sua vontade.

– Então ótimo, ligarei para Gert vir me ajudar e você poderá descansar. – Disse ela.

– Obrigada, mas prefiro ajuda-la. – Kate se afasta rapidamente de Bill como se quisesse livrar-se de sua presença.

– Tudo bem, não se preocupe. – Ela agradece e logo volta sua atenção para mim que apenas observo tudo de longe, ainda não consigo me mexer e também não consigo falar, é como se estivesse assistindo toda a cena de outro lugar sem que ninguém notasse minha presença, sem que pudesse opinar... – Tom?

Eu a olho e ela sabe que estou completamente estranho, mas como explicar se nem eu mesmo tenho certeza de meu estado?
Nunca mais vou misturar bebidas, nunca mais repito mentalmente antes de começar a seguir ela até a cozinha, mas logo me lembro que não posso deixar Kate sozinha com Bill e fico a espreita na porta do corredor, esperando qualquer movimento dele.

Kate continua afastando-se dele passo a passo, não parece querer fugir apenas manter uma distancia segura.

– Espero que não resolva ir embora, no meio do jantar. – Ele a avisa enquanto leva suas mãos ao cabelo dela.

– Na verdade eu estava pensando em ir agora mesmo. – Ela responde, com sua voz um pouco instável.

– Então esqueça. – Ele sussurra, embolando seus cabelos em sua mão e imediatamente ela muda sua expressão.

– Vai me bater se eu tentar ir? – Pergunta em tom vacilante.

– Não.

– Por que está agindo assim? – Ela vira o rosto, procurando por mim e logo que me encontra posso ver sua expressão dolorida – O que está acontecendo com Tom?

– Kate, olhe para mim. – Ele grita puxando seu cabelo.

Lentamente, ela levantou a cabeça e olhou em seus olhos escuros.

– Vá para o banho. – Bill a olha e sei que está com nojo de seus pensamentos. – Tire o cheiro dele do seu corpo e comporte-se na frente de todos. – Ele a avisa... – Não olhe para o Tom, não fale com ele, e principalmente não tente ir embora.

– Você está louco. – Ela sussurra. – Por que está fazendo isso?

– Não me subestime. – Ele grita olhando para os lados.

– Não estou.

– Se tentar fugir. – Aperta os braços dela com suas unhas em forma de aviso do que estava por vir, tento dar um passo em direção a eles, mas isso só acontece em minha mente, meu corpo não anda e como resposta só consigo ouvir novamente aquele maldito bip, que agora sinalizava meus passos como um sensor. - Vou matar você. – Ele diz e em vez de largá-la, aperta-a ainda mais.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, e eu pude ver o medo nos mesmos, mas ainda sim ela não estava facilitando nada. Seu rosto embora carregado de lágrimas ainda era totalmente neutro, e eu não fazia idéia sobre o que ela estava pensando.

Tudo que eu pensava era em porque Kate estava mentindo daquela forma, se ele nos viu ela não teria porque mentir, isso não me parecia ser a coisa certa a fazer, mesmo que fosse doloroso para Bill eu falei a verdade então porque ela não conseguia fazer o mesmo?
Quando ele a largou, Kate limpou rapidamente seu rosto e passou apressada por mim indo direto para a cozinha, onde minha mãe estava.

– Posso ajudar? – Ela perguntou tentando manter suas lágrimas para si mesma.

– Você não caiu. – Mamãe se aproximou de Kate, jogando seu cabelo para o lado, tendo assim uma visão maior do corte em seu pescoço. - Não ficaria tão machucada apenas caindo.

– Eu caí sobre a mesa. – Ela disse, era verdade ela realmente havia caído, porem não sozinha.

– Foi ele? – Mamãe perguntou, assustando tanto Kate quanto a mim.

– Quantas pessoas virão hoje? - Kate tentou ignorar sua pergunta virando-se em direção a mesa, começando a contar os pratos e talheres.

– Tudo bem, você não quer contar. – Minha mãe colocou as mãos na cintura, como há muito tempo não fazia, e começou a caminhar em direção a sala. – Não acredito que ele fez isso. – Ela gritou.

– Não, por favor. – Kate a impediu segurando-a pelo braço. – Está tudo bem.

– Sei que está mentindo – Ela olhou para as mãos de kate e logo as segurou aquecendo-as com as suas. - Mas se não está pronta para se abrir, tudo bem. Sei que a alguma coisa errada. – Levou suas mãos até o rosto de kate impedindo que uma lágrima caísse. - Pode, pelo menos, se animar um pouco? Nunca vi você assim.

– Vou ficar bem, Simone. – Kate sorriu e logo voltou a contar os pratos sobre a mesa.

– Eu sei, sempre fica, mas seria ótimo se pudesse ficar mais do que apenas bem desta vez.

Kate sorriu, mas não respondeu e ao longe eu pude ver Bill as espiando, mais do que isso, eu pude ouvi-lo se culpar por tê-la machucado... Imaginando a decepção e a agonia de nossos pais ao saber que tipo de pessoa ele havia se tornado... E imaginando que talvez o odiassem ainda mais depois que tudo isso acabasse.

Mais tarde quando tudo estava pronto, kate voltou para o quarto e a acompanhei como um fantasma capaz de atravessar paredes, não me importava por que tudo que eu pensava era que devia protegê-la dele mesmo estando neste estado medíocre e desconhecido.

Ela entrou e eu a segui, iria falar com ela, seria a hora certa, mas quando ela estava dentro do mesmo a porta se fechou em meu rosto e eu sabia que havia sido ele.
Sabia por que podia ouvir seus batimentos no mesmo compasso que os meus, e principalmente podia ouvir seus pensamentos.

Fiquei a espera que falasse qualquer coisa, mas as palavras continuavam a não fazer sentindo na cabeça dele.
As palmas das minhas mãos estavam ficando suadas e sem me importar com o que podia vir a acontecer empurro a porta e entro fechando-a novamente.
Ele me encara com raiva, ela com pena, mas ambos acabam me ignorando como se eu não estivesse ali.

– Eu nunca quis machucar você. – Bill a agarrou pelo braço. – Não ontem, nem agora.

– Você pode me bater Bill. – Ela o desafiou pela primeira vez. – Nada me machucaria mais do que ver o jeito que me olha, e saber o que pensa de mim.

– Por favor, para de mentir. – Ele grita a atirando sobre a cama.

– Não sei o que Tom disse a você. – Ela fala e eu a olho.

– A verdade. O que você queria que eu tivesse dito? – Grito a olhando na cama, mas nem ela ou Bill parece se importar com minha presença e muito menos com o que acabo de dizer.

– Eu vi vocês dois juntos! – Ele grita enquanto se aproxima da cama.
– Quando chegamos? – Ela tenta levantar da cama, mas ele a impedi ficando por cima de seu corpo. – Quando conversamos? Quando eu disse a ele que não poderia oferecer nada? – kate grita, e eu juro nunca havia visto ficar tão desesperada quanto agora.

– Quando ele desejou você. – Bill começa a tocá-la por cima da roupa - Quando beijou você. – Ele toca seus lábios – Quando ele tocava você enquanto... – Parou de falar, avançando suas mãos ao pescoço dela, onde havia machucado noite anterior.

– Está me machucando. – Ela diz assustada.

– Foda-se, você fez isso! Você fez isso com a gente, você acabou com a nossa família. A culpa é sua Kate. – Ele grita com ela, apertando-a com suas mãos e corpo.

Isso me deixou sem saber o que fazer, já que me mover quando isso acontecia era impossível, toda vez que ele parecia querer machucá-la eu ficava preso como em um pesadelo sem fim.

– Você está me enlouquecendo, porque você não para, não agüento mais ouvi-lo. – Ela chora sufocando embaixo dele. – Não vê o quanto está me machucando? É isso que você quer Bill?

– Você me machuca mais. – Posso ver suas mãos escorregando pelo pescoço de Kate enquanto ele chora. – Não posso dividir você com ele, se é isso que você quer... Não aceito a idéia de que não consiga ser feliz apenas comigo e que precise dormir com meu irmão para se sentir completa.

– Por favor... Para! – Ela pediu a ele empurrando-o para o chão.

– Para de chorar, porque sempre faz que eu grite com você? – Bill levantou rapidamente e prensou contra a parede do quarto. - Como pode?Dormir com meu irmão em minha própria casa? – Ele começa a chorar junto com ela. - Como você pode dormir com ele em nossa cama?

– Eu nunca faria isso com você. – Ela diz, obviamente mentindo, o que me deixa claramente nervoso. – Você está doente, porque insiste nisso?

– Droga... – Ele se afasta e passa por mim. – Eu perdoaria você se me contasse a verdade Kate.

– Eu nunca menti pra você. – Ela se aproxima tocando seu rosto está mentindo e tentando convence-lo de que está louco.

Eu sei, ele sabe... Porque também pode me ouvir, mesmo que não possamos nos comunicar verbalmente.

– Não toque em mim... – Ele a empurra assim que me olha. – Eu odeio você... Eu odeio você. – Diz a ela em tom desesperador – Droga... Eu amo você, porque fez isso, porque você fez isso comigo?

– Por favor, eu amo você, para com isso. – Ela se aproxima dele soluçando.

Porque ela esta fazendo isso comigo? Porque estou assim? Enquanto meu irmão precisa de mim tudo que eu consigo fazer é manipulá-lo através de sua mente.
Porque não consigo me mexer? Porque esse maldito barulho não sai da minha cabeça?

– Por que não, porra! – Eu grito comigo mesmo.

– Eu deveria ter percebido, quando você começou a ficar estranha... – Ele continuou olhando para ela com receio.

– Kate? – Mamãe bateu a porta e eu agradeci mentalmente por isso. – Pode ajudar Gert?

– Sim. – Kate respondeu, alinhando-se novamente.

Acho que nem eu ou Bill neste momento fazíamos idéia de quem era essa pessoa em nossa frente...
E neste momento eu tentei imaginar kate perdendo totalmente a linha, falando a verdade e contanto a todos o que realmente estava acontecendo conosco, mas no fundo eu sabia que ela nunca faria isso, ela sempre seria alheia a tudo isso de alguma forma, mesmo que isso a afetasse.

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 13

 

Tom...


E então eu acordei...

Dando-me conta que pela primeira vez sinto medo de estar acordado... Medo de olhar para o lado, e ver que esse novo dia a tenha carregado para longe de mim, medo de um vazio inexistente. Sinto medo de não poder nunca mais tocá-la,... Sinto um grande medo, de não poder ver os mesmos olhos que ontem me guiaram...

E ainda que eu tenha perdido tudo isso, eu consigo ouvir sua respiração, ainda consigo sentir cada traço de seu corpo sobre meus dedos... Ainda lembro de tê-la desenhado em minha memória com cada toque, com cada suspiro que absorvi, com cada gota de suor derramada sobre seu corpo...

“Ergueu a mão e deixou seus cabelos deslizarem de seus dedos devagar, acariciando meu rosto, roçando em meus lábios, flutuando macios e pesados em meu pescoço e ombros, enquanto eu escorregava meus dedos depositando-os como penas em cima dos seus seios...A ponta da minha língua tocando a linha dos lábios de kate, com suaves beijos nos cantos. Ela não se mexia, rígida, a não ser por seus dedos que se curvavam sobre meu peito - Vamos, Kate... Você sabe o que eu quero – sussurrei bem acima dos lábios dela.”

Balancei minha cabeça negativamente, tentando afastar minhas memórias da noite anterior, como se pudesse me sentir menos culpado sem isso, mas era impossível e eu tinha plena certeza disso.

Nunca em minha vida esqueceria um único momento de nossa primeira e última noite juntos, sempre olharei para trás e relembrarei do quanto fazer amor com ela foi arrebatador e guardaria essa lembrança comigo sempre, como uma jóia inestimável, insubstituível, mas que de fato nunca me pertenceu.



Mais tarde quando em fim ganhei um pouco de coragem para olhar para o lado, como imaginava ela não estava mais lá, não havia marcas suas muito menos seu perfume em meu travesseiro... Foi como um sonho apenas, real demais para arcarmos com as conseqüências que ele nos traria.

Levei minhas mãos até meus olhos, tentando acordar realmente, já que tudo ainda parecia bastante nublado pra mim.

Quando sentei em minha cama pude me dar conta de que minhas roupas ainda estavam em meu corpo, estranho, pois não lembrava de tê-las vestido outra vez.

Levanto-me e caminho pelo corredor, segurando as paredes do mesmo, meus olhos fraquejam o tempo todo e eu mal consigo enxergar um palmo a frente dos mesmos.

– Kate? – Eu chamo, sem conseguir enxergar nada.

– Eu confiei em você. – Ouço a voz de Bill ao fundo, mas logo ele se aproxima, e me faz cair sentado no sofá.

Começo a ouvir sua voz alta gritando, mas as palavras que não eram dirigidas a mim não faziam qualquer sentido, Pertenciam à realidade de outra pessoa.

E só quando o pude vê-lo percebi que está quieto esperado minha resposta em silencio, mesmo que pra mim ele estivesse gritando alto.

– Quanto tempo está aqui? – Eu pergunto, levando a mão aos meus olhos tentando limpa-los.

– Eu estava aqui o tempo todo. – O som do choro dele acionou uma reação repentina, como se estivesse guardando aquilo há muito tempo.

– Eu não sei o que eu fiz. – Digo apenas e embora pareça estar mentindo e ainda tenha memórias da última noite eu não sei até onde tudo isso é realmente realidade.

– Você não sabe? – Ele grita e começa a jogar coisas sobre mim, não consigo desviar ou talvez não quisesse fazê-lo... Você sabe... No estado em que eu estava o melhor era que ele me acertasse logo, eu faria se pudesse.

– Bill eu... – Levo as minhas mãos ao meu rosto tentando cobri-lo. – Não estou bem.

Sinto meus olhos fraquejarem mais uma vez, e também começo a ouvi-lo gritar de novo, não é possível que isso seja a porra de historia de gêmeos outra vez, não me lembro de ter avançado tanto ao poder ouvir os pensamentos dele... Embora isso pereça realidade no momento.

– Está se sentindo culpado? – Ele se aproxima. - Quer se desculpar? – Grita em meu ouvido.

– Quer mesmo que eu fale? – Eu grito levantando-me e nos afastamos. – Por que eu ficaria aqui tentando me desculpar se você viu tudo? – Pergunto curioso. Afinal porque ele teria deixado kate sozinha comigo se não confiava em mim? – Você diz que confia em mim, mas na verdade estava me testando.

– E você caiu. – Ele confirma minha suposição. – Os dois caíram!

Eu fecho meus olhos, ciente de que a hora da verdade chegou. Eu limpo a garganta.
Molho os lábios e me detenho por um último instante... Não posso mentir a ele, então ao invés disso, eu fecho meus olhos, pensando que, se ele puder ler minha mente, assim como eu estou lendo a dele, eu não preciso seguir a diante com essa confissão.

– Bill?

Viramos em direção a porta do corredor e lá estava ela parada olhando tudo de longe, completamente assustada com o que estava acontecendo, bem ao menos era o que parecia...

– Como você está? – Bill caminha em direção a ela e seus pensamentos não são nada bons – Dormiu bem?

– Sim. - Ela o olha com medo e começa a se afastar instintivamente – Dói um pouco, mas consegui dormir.

– Dor? – Ele cerra os punhos e esforça-se para não perder o controle. – É eu a ouvi gemer durante a noite. – Diz blasfemando enquanto me encara, e em seus pensamentos ele me pergunta o quanto foi bom estar em seu lugar... Quer mesmo saber? Seria ainda melhor se eu não estivesse tão bêbado e pudesse me lembrar agora.

– Você estava aqui? – Ela pergunta calmamente e eu não consigo entender como ela consegue se manter assim, apesar de tudo.

– O tempo todo. – Ele tentou encontrar algum sentido em sua pergunta.

– Parece um pouco triste. - Ela o olhou dentro dos olhos e levantou ambas as sobrancelhas...

– Eu tenho motivos. Não tenho? - Bill olhou para o lado oposto da sala, e seus olhos encontraram os meus.

– Não foi uma boa idéia eu ter vindo para sua casa. – Ela percebe a minha reação e acima de tudo percebe que Bill está da mesma forma que estava quando bateu nela.

– Aonde você vai? – Ele grita quando a vê se afastar.

– Eu vou embora. – Ela caminha em direção ao quarto.

– Não, você não vai. – Ele gritou e seus olhos ficaram ainda mais apertados.

Tento chegar perto dele, impedi-lo de fazer qualquer bobagem, mas involuntariamente meus pés não me obedecem, não consigo andar, nem tão pouco falar... E ao longe tudo que ouço é um sinal tocando pequeno e prolongado... Um bip talvez.

Olho para os lados, tentando encontrar o barulho insuportável, mas não há nada lá, pelo contrario minha cabeça parece querer rodar e enquanto isso acontece, vejo pequenas cenas como se fossem um filme... Imagens que relampejam através de mim.

Cenas em que apenas Bill e Kate estão presentes, cenas em que eu nem ao menos presenciei de longe... Acredite em mim não é como se eu estivesse em um sonho, é mais como um pesadelo.

– Pode me soltar. – Ouço Kate pedir a ele e então estou na sala novamente.

– Por quê? – Bill grita apertando seu braço. – Está com medo que eu sinta o cheiro dele na sua pele?

– O que disse? – Ela pergunta com a voz falha.

– Estou cansado de jogos Kate... Só preciso que me conte a verdade. - Por um instante ela não tinha certeza de ter ouvido direito – O que fez ontem à noite?

– Você estava aqui, não estava? -Ela o forçou a parar e observa-la. – Eu estava dormindo.

– Não foi o que eu vi. - Ele balança a cabeça e leva a mão ao rosto dela, mas para assim que escuta a porta se abrir.


– Bom dia meninos – Mamãe entra batendo a porta atrás de si e noto que scotty voltou com ela pra casa. – Kate.

– Mãe? – Bill sai em direção a ela para ajudá-la com as muitas sacolas que carregava, mas não sem antes me encarar, pedindo mentalmente para que eu pareça normal aos olhos dela. – O que faz aqui?

– Eu e Kate planejamos há dias fazer um jantar está noite. – Ela entrega as sacolas a ele e logo se vira para Kate que está acuada em um canto da sala. – Você esqueceu Kate?

– Sim, me desculpe. – kate diz com os olhos baixos, mas mamãe rapidamente corre até ela, segurando seu rosto entre as mãos.

– O que aconteceu com você? – Ela pergunta e Kate se afasta. – Seu rosto ele...

– Não se preocupe, estou bem. – Ela responde, e logo vai em direção as compras ainda falando, mas tentando de alguma forma mudar o foco do assunto. – Ontem à noite eu acabei caindo e...

– Você já foi ao hospital? – Mamãe pergunta enquanto caminha novamente em direção a Kate.

– Sim, Bill me levou, está tudo bem. – Kate o olha e ele parece rir com a situação. – De verdade. – Sorri, mas ainda sim mamãe não parece conformada com a resposta.

– Se quiser podemos deixar o jantar para outro dia. – Pergunta e Kate segura suas mãos.

– Não... Será hoje, como planejado.

– Tem certeza que kate está bem? – Mamãe pergunta, mas desta vez olha para Bill que caminha em direção a Kate puxando-a pela cintura.

– Ela está ótima. – Ele a beija e os olhos dela se enchem de lágrimas – Não é amor?

– Sim, estou bem. - Sua voz saiu tremida enquanto observava o rosto fechado e irritado de Bill.

Eu olho para ele, absorvendo seus pensamentos e sei que não posso impedi-lo... Só posso encontrar uma maneira de resolver o que eu mesmo comecei.
Encontrando uma forma de não levar a idéia de Bill em matar Kate adiante.

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 12

Tom...

Não poderia descrever as longas horas esperando uma noticia e tão pouco mencionar a sensação ruim que tive ao ver meu irmão cruzar a porta daquele quarto de hospital.
Eu podia ver lágrimas correndo por seu rosto e o fato de que ele estivera chorando tão silenciosamente me fez doer, principalmente por que sentia que a culpa de tudo isso era apenas minha.

–Você ouviu... Não foi? – Ele me encarou ao fechar a porta.

– Sim. - Não é algo de que eu possa me orgulhar de dizer, mas sim eu estava ouvindo atrás da porta.

– Sei o que está pensando agora Tom, e embora eu também esteja culpando você, não acho que isto seja totalmente verdade. – Ele faz uma pausa e limpa seu rosto, mas logo volta a me olhar. - A culpa foi minha também.

– Bill... – Tento conversar, mas ele não parecia estar disposto a me ouvir.

– Eu... Vou até a nossa casa, pegar algumas coisas e irei para casa da mamãe.

– Como ela está? – Pergunto e ele apenas solta uma risada triste e então me olha apreencivo.

– Pode levá-la para casa? – Pediu. – Eu sei que ela não pensa em ficar lá, mas eu quero que ela se recupere antes de ir embora. - Tanta me explicar, mas parece estar completamente perdido em suas palavras, e eu tento entender como ele pode estar me pedindo isso, mesmo depois de tudo confiar em mim... Eu não confiaria. – Pode fazer isso Tom?

– Claro. - Eu confirmo – Vou fazer isso, prometo.

– Obrigado.

E então vejo Bill caminhar rapidamente pelo corredor do hospital, até sumir de meu campo de visão.

Viro-me para frente e encaro a porta do quarto de kate, lanço minha mão instintivamente a abrindo sem fazer barulho, tomo fôlego e caminho até sua cama, tentando mentalmente controlar meus sentimentos, mas fica completamente impossível assim que vejo seu rosto.

Sinto meu coração parar e então ela me olha e posso ver que está sorrindo, mesmo depois de tudo ela ainda consegue. Talvez sorrir seja a defesa dela, gosto disso gosto de imaginar que mesmo depois de tudo Kate ainda consiga ser otimista em relação a tudo que está acontecendo em nossas vidas.

Caminho com passos lentos até sua cama e começo a notar todas as marcas da noite anterior, não somente em seu corpo, mas em toda exaustão presente em seu rosto.
Sento-me ao seu lado na cama, e a vejo se endireitar ficando com o rosto na altura do meu, podendo assim me olhar nos olhos.

– Oi. –Falei tentando manter minha respiração normal, o que era praticamente impossível quando estava perto dela.

– Oi. - Ela fala mantendo seu sorriso acolhedor.

– Como está se sentindo? – Pergunto me aproximando dela.

– Estou bem... – Ela responde, obviamente mentindo. - Obrigada.

– Eu ouvi vocês e... Não quero que faça isso, você não precisa...

– Tom... Não vá por ai... – Ela pede sorrindo, e isso me faz sorrir também.

– Desculpa.

– Vem aqui... Vem? –Ela me chama e então me sento ao seu lado.

– Eu não queria isso... – Comecei com a voz embargada. - Não desejei que isso...

Enquanto eu tentava falar, ela me interrompeu pedindo que eu não continuasse.

– Não... Não fala nada não, só fica aqui quietinho. – Kate encosta sua cabeça em meu ombro e fecha os olhos enquanto eu apenas a observo.

Ficamos em silêncio durante um tempo, ambos lutando com nossos próprios pensamentos.

Até ela sussurrar em meu ouvido...

– Eu amo você Tom.

– Eu sei... - Sei exatamente o que ela quer dizer e de que forma quer que eu entenda.

– Não sei o que eu faria sem você do meu lado. – Segura minha mão e encaixa seus dedos nos meus, perfeitamente e por um momento me faz pensar que poderíamos ficar assim para sempre.

– Eu não vou sair do seu lado – Aperto sua mão na minha – Vou estar sempre perto de você... Até você cansar de mim. – Sussurro para ela.

– Eu nunca vou me cansar de você. - Ela ri, fazendo desenhos na palma da minha mão e só agora posso notar a aliança brilhando no dedo esquerdo. Essa visão foi como uma ducha de água fria, um choque de realidade.

Levantei-me rápido de seu lado dando-lhe a desculpa de que iria ligar para Bill, e não esperando sua resposta sai do quarto fechando a porta.


Algumas horas depois, quando mais calmo entrei novamente em seu quarto, ela já estava de pé perto da cama ouvindo algumas recomendações da médica ao seu lado.

– Pronta pra ir? – Perguntei interrompendo a conversa.

– Eu não... – Ela parou dando-se conta de que não estávamos sozinhos.

E enquanto permanecíamos em silencio a médica pareceu se dar conta de que estava sobrando. Despediu-se de Kate e então saiu do quarto sem me olhar.

– Pelo menos por hoje. – Eu voltei a falar. – Ele me pediu para fazer isso.

– Tudo bem. – Diferente do que eu imaginava aceitou rápido, cansada de discussões eu presumo.

O caminho de volta pra casa foi em completo silêncio, nenhum de nós falou... Ou ao menos tentou esboçar alguma expressão. Ela passou o tempo todo olhando pela janela do passageiro com os braços cruzados. Eu poderia ficar preocupado, mas nada em sua expressão denunciava que aquela preocupação tinha a ver comigo, então a deixei sozinha com seus pensamentos.

Quando entramos em casa estava tudo em seu devido lugar novamente, a não ser por tudo que foi quebrado, e eu não estou falando de cacos de vidro.

Kate caminhou até a mesinha a tocando sentindo como se nada daquilo tivesse acontecido, um pesadelo talvez. Eu não sei, mas em certos momentos ela parecia perdida.

– A sala está arrumada. - Ela falou olhando para todos os lados.

– Sim acho que Gert levou um susto hoje de manha. – Ri pensando em Gert nossa empregada, entrando para limpar nosso apartamento – Deve estar achando que eu aprontei. – Conclui.

– Pode apostar. - Sorri com sua resposta. Não pude evitar.

– Então... – Eu comecei tentando tornar o clima mais fácil para ambos.

– Então... Vou pegar algumas coisas e ir, não quero dar mais trabalho a você.

– Não... Não pense assim, e também você não pode ir, eu prometi a ele que a deixaria aqui para se recuperar, não quero desapontá-lo ainda mais. Já bastou tudo que aconteceu ontem.

– Ontem acabou Tom.. – Ela disse - Hoje é diferente.

Olhamos nos olhos um do outro por um momento antes de eu desviar os meus.

– Desculpa, mas não parece diferente pra mim, eu posso ver uma sala maquiada na tentativa de apagar o que aconteceu, meu irmão mal fala comigo, e você... – Caminhei até ela, tocando seu rosto, tocando cada marca e hematoma que ali estavam. – Você Kate... Está assim.

– Logo eles irão sumir... – Sabendo do que eu estava falando ela afastou-se – Assim como eu.

– Não quero que faça isso. – Digo em voz alta.

– Já está feito Tom. - Ela não deu importância.

– Não está você ainda está aqui, é só... Droga Kate. – Fiquei em sua frente obrigando-a a me encarar. - Qual é a pior coisa que pode acontecer se você ficar?

– Vai doer. – Ela diz.

– Já está doendo.

– Então pra que deixar isso ainda maior? – Ela diz baixinho, sem me olhar.

Instantes se passam. O intervalo tem um som, como se algo muito pequeno houvesse se
partido.

Aproximo-me dela e a abraço, afundando meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro, sentindo respirar perto de mim.

– Eu amo você. – sussurro com raiva em seu pescoço. – É a pior dor da minha vida, mas é o que eu sinto.

Ouvi minha própria voz sair como se tivesse vontade própria e me dei conta do quanto era difícil manter isso dentro de mim.

– Você não ama porque você não conhece esse tipo de amor. - Ela me empurra e se afasta, posso ver que está chorando e não posso fazer nada quanto a isso.

– Não se atreva a dizer que eu não sinto. - Grito com ela, essa é a primeira vez e meu coração está aos pulos.

– O que você quer que eu faça? - Ela grita também. – O que quer de mim?

– Eu não sei.

Sento-me no sofá e minhas mãos cobrem meu rosto, de alguma forma sinto-me envergonhado e por várias vezes me pergunto mentalmente porque eu fiz isso, porque contei, eu faria isso de novo? Sou sempre eu, você sabe que acaba com tudo, que estraga tudo.

– Eu não posso dar nada a você Tom. – Ela me olha e respira fundo algumas vezes, tentando se recuperar - Não há nada que possa ser oferecido.


– Por favor, vá descansar – Peço e ela parece se dar conta de que eu precisava desesperadamente de um momento sozinho. - Por favor, Kate, me deixe sozinho.


Em um minuto ela já não estava mais lá e então observando o apartamento vazio, começo a pensar em Bill.

Ele era, e eu comecei a acreditar nisso há muito tempo, um homem muito melhor do que eu jamais serei.

Eu sempre usei mulheres, me permiti ser usado e sempre manti meus sentimentos pra mim mesmo. Não é fácil pra eu admitir certas verdades, e é isso que me faz simplesmente enlouquecer.




Minutos mais tarde quando estou cansado de pensar e refletir levanto-me e caminho em direção ao quarto dela, mas ao invés disso paro em frente ao bar, e este me parece bem convidativo... Começo a pensar novamente, mas desta vez me pergunto se estou perto de virar alcoólatra, espero que não porque não sou a melhor pessoa do mundo quando estou bêbado. Na verdade eu sou a pior pessoa do mundo mesmo estando sóbrio. Nenhum ser humano no mundo pode ser considerado digno quando se está apaixonado pela mulher do irmão. Então posso presumir que sou um idiota que está virando alcoólatra.

Caminho até o bar e sirvo uma dose de Everclear misturada com Absinto. Se Andy estivesse aqui agora com certeza perguntaria se estou tentando cometer suicídio, o que não me parece uma má idéia.

Empino o copo e deixo o liquido escorrer por minha garganta, queimando por onde passa e me dou conta de que realmente eu seria um péssimo barman, minha mistura não funciona, ainda estou vivo.

Que ridículo, pensamentos ridículos, tudo é ridículo, sou um alcoólatra que não serve pra barman, estou apaixonado pela minha cunhada, meu irmão me deixou, aquele estúpido confiou em mim mesmo depois de tudo. E para piorar nem meu cachorro me quer... Definitivamente essa bebida merece fazer efeito, bem talvez ela já esteja não costumo ter pensamentos idiotas durante muito tempo, muito menos sentimentalistas.

Levanto minha cabeça rapidamente do balcão onde estava apoiado e sinto meus olhos ficarem embaçados. Curvo-me mais uma vez tentando enxergar e sinto que ela está me observando quieta... Não sei quanto tempo está ali, mas creio que seja o bastante para estar assustada com meu comportamento.

– O que está acontecendo com a gente? – Ela pergunta afastando meu copo e todas as bebidas para longe.

Puxo seu corpo para frente do meu e a encosto no balcão, não consigo vê-la, mas sei que está apavorada.

Prenso-a junto de mim e a encaro de perto, posso ver seus olhos vermelhos e sei que estava chorando, não me importo muito por estar sofrendo, eu também estou. Bill está. Não é justo, mas nada disso importa agora que ela está ali nos meus braços.

– Eu quero você. – Digo a ela.

– O que está dizendo. - Eu percebo uma mudança no tom da sua voz.

– Você perguntou o que eu quero, e a minha resposta é essa... - Aproximo-me rapidamente de seus lábios sem dar chance a ela de fugir. – Eu quero você kate.

Ela me olha com uma expressão tão séria que imediatamente agarro seu rosto e lhe beijo.

Seus lábios são macios, e ela tem um cheiro bom isso é tudo que consigo pensar enquanto ainda consigo raciocinar como uma pessoa normal.

Tudo havia sumido, não existia mais nada, e eu nem ao menos conseguia me lembrar quem éramos ali, tudo que eu podia pensar era no quanto eu queria aquilo, não só agora, mas sempre.

Eu não sei, talvez estivesse louco demais pra saber em que momento ela cedeu, mas não me lembro de ter sentido qualquer tipo de resistência.

Em nenhum momento no bar, enquanto eu a beijava... E muito menos agora enquanto eu a carrego para meu quarto...

Tarde demais para sentir medo...

Tarde demais para voltar atrás...

Postado por: Grasiele

Insanity - Capítulo 11

Bill...




Finalmente, depois de alguma hesitação, respirei fundo a fim de conseguir forças para poder conversar com ela sobre isso, eu sabia exatamente onde Kate queria chegar e sinceramente eu não estava ansioso para este momento.

–Ajudar você a me esquecer? - Perguntei calmamente - Porque eu faria isso?

– Por que está seria a melhor forma de acabar com o sofrimento de todos nós. - ela respondeu mecanicamente.

E olhando seu rosto naquele momento tudo que eu conseguia pensar era que de alguma forma Kate tentava brincar de propósito com minhas emoções... Como um castigo talvez.

– Um tipo de troca? – Falei já com tom alterado, assustando-a de inicio - Você me esqueceria e em troca eu também estaria esquecendo você?

– E se isso for o certo a ser feito? – Ela questionou.

–Aí está o problema... Isso não é certo e não há nenhuma chance de chegarmos a essa conclusão. – Gritei com desprezo.

Ficamos em silencio durante algum tempo porque simplesmente estava sem palavras, e me sentia exausto. Ela estava me fazendo sofrer pelo que eu fizera, mas pelos meus cálculos de certa forma eu já tinha pago.

– Bill? – Virei minha cabeça para trás para olhar para ela e a encontrei me observando calmamente.

– Sim.

– Lembra quando eu falei a você sobre meu irmão? – Ela perguntou empalidecendo.

– Sim, mas porque que está tocando neste assunto agora? – Disse confuso com a repentina mudança de conversa.

– Tay estava apaixonado por uma garota quando morreu. – Ela continuou ignorando totalmente minha pergunta. - Ela não o quis, não sentia o mesmo por ele... - Kate sorriu sem graça e eu pensei em pedi-la para não continuar, pois sabia que tocar no nome do irmão não era fácil para ela. - E então ela ficou noiva e partiu para outro lugar... – Ela continuou fazendo gestos com as mãos, tentando me explicar. - Nós achávamos que ele fosse superar, mas não foi o que aconteceu.

– Então ele... – Fechei meus olhos pedindo que ela não continuasse.

– Sim... – Ela suspirou fechando os olhos – Tay se suicidou.

Disse em fim, e então eu corri para perto dela segurando sua mão, acreditando que naquele momento pela primeira vez kate fosse se entregar a mim totalmente como nunca até agora havia feito.

Mas como sempre, com seu suspiro profundo ela também levou as lagrimas junto com o ar, e eu começava a notar o quão forte ela era, ou ao menos tentava ser.

– E você acha que Tom... – Claro... Eu pensei... Tudo fazia sentido agora e ao olhar para ela notei que ela podia ler meus pensamentos.

– Eu sei que não Bill... Não é o que eu quero dizer. – Ela disse.

– Eu não entendo - Perguntei, saindo do meu estado de choque. - Aonde quer chegar?

– Foi por isso que eu não me afastei do Tom... Eu precisava cuidar dele... E eu fiz isso por você. – Confessou.

– Cuidar dele?

– Eu fiquei com medo Bill, vi meu irmão morrer e não estou falando na hora em si, mas de todos os dias que a antecederam. – Ela suspirou continuando... – Eu vi o quanto ele sofreu.

– Acha que Tom estava perto de um sentimento como esse? - Eu finalmente digo, com a voz tremula. – Não conhece meu irmão. – Concluo ligeiramente nervoso.

– Não foi o que eu disse. – Ela diz de mansinho.

Eu inspiro fundo, e espero todo o ar sair. Posso sentir os primeiros traços de raiva de verdade tomando conta de meu rosto, mas ainda sim, tento me manter calmo.

– Ontem... Ontem à noite você disse que o amava. – Falo tentando tirar de minha mente o fato de que as horas que ela tinha passado com meu irmão não eram nada mais que amizade.

– Sim... E eu estava falando sério. – Ela responde abertamente e isso me deixa um pouco abalado.

– Mas é porque você tem nele a lembrança do seu irmão. – Eu pergunto temeroso, por que é exatamente nisso que quero acreditar.

– Não... Não totalmente. – Ela diz, e eu posso ver o quanto está se culpando.

– Você queria ajudá-lo porque ficou com medo que ele fosse tão fraco quanto seu irmão foi. – Tentei novamente, não querendo chegar a nenhuma conclusão precipitada.

– Não... Você não entende... Tay não foi fraco, ele estava doente. – Ela diz rancorosa.

– Tom não está doente. – Gritei.

– Eu nunca disse que estava... – Ela me olhou assombrada – Eu apenas quis me certificar de que isso não fosse acontecer.

– Você acha mesmo que é a pessoa mais indicada para isso?

– Não. - A culpa estava escrita claramente no rosto dela.

– Pare de mentir.

– Não estou mentindo... - Ela disse, com os olhos completamente abatidos. - Eu só queria que entendesse que fiz isso por você... Porque queria trazê-lo de volta e queria que ele aceitasse que na verdade não me ama.

– Ele ama você, ou talvez ele apenas esteja confundindo. - Eu não conseguia esconder a raiva em minha voz

– Talvez, e é por isso... Exatamente por isso que quero que entenda Bill... –Eu não posso mais ficar aqui, não posso ficar com você.

– Não quer dizer isso... Você não tem que ir embora por isso, é minha esposa.

– Eu não sou ninguém... Não sou ninguém. - Sua honestidade fez com que ficasse dolorosamente claro que ela acreditava no que estava dizendo.

– Porque está dizendo isso?- Eu fecho meus olhos, ciente de que a hora da verdade chegou. - O que quer dizer com isso?

– Exatamente o que você entendeu. - o Silêncio foi repentino.

– Kate? ... Não está falando sério... Está? – Perguntei já completamente apavorado em pensar nesta possibilidade.

– O que espera que eu faça? – Perguntou com a voz vacilante.

– Que não me peça para escolher. – Eu pedi.

– Não há o que escolher Bill... Você tem que ficar com seu irmão. – Ela falou e por mais que isso me doesse sabia que ela tomaria essa posição.

– Está me deixando? - Eu mal conseguia ouvi-la - É isso?

– Sim. – Disse ela baixinho, sem me olhar.

– Não pode estar falando sério. – Supliquei.

– Só estou dando a você a chance de não ter que escolher... - Sussurrou.

E naquele momento olhando para ela, eu me dei conta de que tinha razão e que mesmo que eu não quisesse ou pensasse assim, chegaria o momento em que eu teria de escolher, os fatos me levariam a isso e Kate sabia exatamente qual seria minha decisão.





Essa era a primeira vez que eu podia sentir o abismo entre nós...

Postado por: Grasiele

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