quinta-feira, 22 de março de 2012

Insanity - Capítulo 17

Tom...

Abro meus olhos, mas tenho dificuldades em enxergar. Há fios por toda parte e um barulho completamente irritante ao meu lado. Meus dedos, minhas mãos, meus braços, meu pescoço, tudo em mim parece oco. Minha boca e nariz estão completamente tapados por um tubo de oxigênio e sinto uma enorme vontade de atirá-lo longe. Observo um pouco mais o quarto, e me dou conta finalmente de que estou em um hospital. Perto de mim a um aparelho, está medindo meus batimentos cardíacos eu suponho, e tenho certeza que encontrei o culpado pelo maldito barulho que me assombrava.

Minha cabeça ainda está latejando debaixo da sobrancelha esquerda. E estou com um gosto azedo na boca. Tento achar um modo de avisar que estou acordado, que estou bem, mas não há nada que eu possa alcançar ou tocar.

Bill deveria estar aqui, ele deveria saber que eu acordaria em algum momento, porque ele não está aqui?
Com dificuldade consigo levar minha mão até meu rosto, e retiro o tubo de oxigênio finalmente, não consigo imaginar a quanto tempo devo estar usando-o, só o que eu sei é que nunca mais quero tê-lo em minha garganta de novo.

– Tom...

Ouço o barulho ao lado, a alguém sentado perto de mim. Alguém que eu não consigo ver.

– Tom?

Engulo minha saliva com força. Lágrimas pinicam o canto dos meus olhos.
Porque é a voz de Kate. Uma voz que pensei jamais ouvir novamente.

– Graças a deus, você acordou. – Ela diz levantando-se enquanto cada músculo do meu pescoço queima de vontade de virar para o outro lado.

– Vou chamar o médico. - Ela avisa.

– Kate? – Consigo falar, mas ela não escuta e sai rapidamente me deixando com uma sensação de que não aconteceu, de que não estava ali e que suas poucas palavras foram apenas fruto da minha imaginação.

Ouço novamente um som vindo da porta, a uma luz vinda do corredor.
Pessoas entram em meu quarto, suas sombras se perdem na parede a minha frente e não posso reconhecer nenhuma delas.

– Tom? – Ouço uma voz logo acima de mim e então posso ver seu rosto, é meu médico, meu e de Bill. – Como está se sentindo – Ele pergunta logo projetando uma luz em forte em meus olhos. – Consegue enxergar? – Faz muitas perguntas e eu acabo optando por responder à última, ou a que entendi melhor.

– Sim. – Digo apenas.
– Está me ouvindo bem? – Se eu respondi é porque estou isso não é obvio para ele?

– Estou.

– Consegue se movimentar Tom? – Ele bate um pequeno martelo em minha perna esquerda e logo repete na direita. Minhas pernas reagem bem, sinto isso perfeitamente, mas no momento isso não me importa muito.

– Sim, onde está o meu irmão? - Pergunto já impaciente. - Eu quero ver o meu irmão.

– Seu irmão está lá fora. – Ele olha meus braços examinando-os e logo enxerga o tubo que a pouco arranquei. –Bill poderá entrar assim que você estiver mais calmo.

– Quero vê-lo. – Insisto.

– Você sabe por que está aqui? – Ele também insiste em continuar com perguntas. – Sabe por que veio parar aqui?

– Não. – Na verdade não faço idéia. Só quero poder ver meu irmão.

– Qual foi a sua última lembrança? – Ele senta ao meu lado na cama, enquanto uma das enfermeiras começa a separar remédios.

– Eu estava a seguindo e então ouve um barulho. – Tento explicar a ele, mas como explicar algo que eu também não entendo. - Ela... Ela está morta. - Eu me inclino para trás, apoiando a cabeça no encosto, e fecho os olhos me lembrando de tudo.

– Quem está morta Tom? – Ele pergunta curioso.

– Kate. – Digo como se fosse obvio.

Ele se afasta e me olha com preocupação, meche nos cabelos enquanto acena para que duas enfermeiras que estavam perto da sala saiam, mas a terceira ainda fica ao lado da minha cama, mexendo em alguma coisa.

– Tom você estava em coma induzido há três dias. – Ele diz e eu o olho rápido. – Você ingeriu uma quantidade excessiva de absinto misturado com everclear. Lembra-se disso?

– Sim. – Eu realmente me lembro.

– Bom. – Ele continua, sei que quer chegar a algum lugar e isso me deixa ansioso. – Você chegou aqui com o quadro de coma alcoólico, nós sedamos você para que pudéssemos retirar o álcool de seu organismo...

– Quanto tempo eu dormi? – O interrompo.

– Como eu disse está aqui há três dias. – Ele continua calmamente. – Não respondeu como gostaríamos então decidimos mantê-lo sedado.

Nervoso começo a levantar meu corpo pouco a pouco, quero sair dali, ele está louco e está querendo me deixar também, eu sei o que aconteceu não preciso que ninguém me diga ou conte nada. Sei exatamente o que fiz e não vai ser ele a tentar me convencer do contrário.

– Do que está falando? – Grito – Eu estava em casa, não sei por que vim parar aqui. Eu quero ver o meu irmão. – Sento-me na cama arrancando o resto de fios que estão em meus braços. – Quero ver o meu irmão agora. – O aviso, mas ele não se move.

– Ontem. – Ele começa a falar novamente e isso me deixa irritado. – Ontem à noite começamos a diminuir sua sedação para que pudesse ir acordando aos poucos. – Se aproxima de mim, segurando meus braços. - Por favor, você precisa se acalmar, para que possamos examiná-lo direito.
– Não. – Eu avanço e ele instintivamente se afasta. – Preciso me desculpar com ele. Eu quero...

– Sua cunhada está com seu irmão, está tudo bem senhor. – Ouço a voz da enfermeira ao meu lado, seu olhar é tranqüilizador e por um momento tento acreditar no que disse. – Eu a vi. – Ela continua e eu desabo novamente sobre a cama. – Foi ela quem nos chamou agora pouco avisando que você havia acordado.

– Você a viu? – Pergunto acreditando que entendi errado.

– Sim eu a vi, todos nós a vimos. – Ela sorri amigavelmente enquanto fala.

– Você provavelmente teve sonhos enquanto estava sedado. – Dr. Altman voltou a falar. -É completamente normal.

– Não, foi real. – Tento voltar ao assunto, explicar a eles que não pode ter sido sonho – Real de mais para ser um sonho.

– Foi um sonho, pesadelo, chame como quiser, mas foi apenas isso. – Ele fala novamente a mesma coisa e isso me deixa mais irritado ainda.

Eu quero surtar. Quero cair no chão e me arrastar corredor a fora, quero encontrar meu irmão, quero ver Bill, pedir desculpas a ele.

– Quero ver meu irmão. – Grito sem paciência nenhuma levantando-me rápido da cama.

Caminho pelo quarto, jogo tudo que está ao meu alcance no chão enquanto eles apenas assistem tudo de longe, talvez isso seja normal para eles, porem não é para mim.
Eu não posso acreditar em nada do que falaram aqui, não depois do que eu vi, não depois de tudo que eu vivi.

– Agora!! – Grito, sentando-me cansado na cama a minha frente. – Por favor.

Eu estava assustado. Mais uma vez, eu tinha me deixado assustar. Escorreguei para fora da cama e caí no chão. Fiquei sentado ali, ao lado da cama... Chorando.
Ele olha pela janela e inspira profundamente antes de seguir até a porta a abrindo em seguida.

– Tudo bem, chame o irmão dele.

Eu o ouço dizer, mas assim que o olho tudo parece ir apagando-se aos poucos novamente, como nuvens escuras cobrindo um céu completamente limpo. Estava sendo sedado outra vez.

Postado por: Grasiele

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