quinta-feira, 22 de março de 2012

Insanity - Capítulo 18

Tom...



Quando abro meus olhos novamente aos poucos consigo me lembrar de tudo que aconteceu, lembro do médico pedindo a enfermeira para que chamasse meu irmão, mas também lembro que ela não se moveu um centímetro de perto de mim.
Lembro de virar meu rosto para o lado em que ela estava um pouco antes de apagar por completo e vê-la colocando um liquido amarelo em meu soro.
Ajeito-me um pouco na cama e sinto as agulhas em meu braço picarem o mesmo deixando um pouco de sangue escorrer por entre os tubos do soro. Levo minha outra mão livre até elas e as arranco. A dor incomoda, e o sangue parece não querer parar de escorrer. Solto um gemido abafado e então ouço um barulho na janela, Bill estava sentado na poltrona ao lado da mesma, dormindo eu suponho.
Ele arregala os olhos e me olha apavorado. Seus passos são longos até a cama, ele toca meu pulso, mas não diz nada.
– Estou bem. – Falo, mais para começar um dialogo do que para provar que nada aconteceu em meu braço.
– É claro que está. – Ele fala em tom irônico. – Vou chamar a enfermeira para concertar o que fez.
– Eu não quero.
– Não está em condições de negar ajuda.
Ele me observa de soslaio e então sai de perto de mim caminhando rapidamente até a porta abrindo a mesma e chamando a enfermeira que passava pelo corredor.
A mulher de meia idade, baixinha e sem nenhum atrativo entra em meu quarto e me olha com reprovação.
A rapidez com que pega novas agulhas e injeta novamente o soro em meu braço é admirável e quase não sinto dor. Mas assim que encontro o rosto de meu irmão parado perto da porta sinto que a dor que poderia sentir em meu braço passa longe de me ferir tanto quanto às vezes em que encontro seu olhar triste sobre o meu.
– Pronto. – A enfermeira diz sorrindo. – Espero que não tenhamos mais problemas com o seu soro Sr kaulitz. – Continua com desdenha, pegando o material sujo e jogando-o na lixeira perto da porta.
– Obrigado. – É tudo que digo enquanto a vejo sair pela mesma com o sorriso ainda estampado no rosto.
– Está se sentindo melhor? – Bill pergunta, aproximando-se da cama.
– Sim.
Eu o olho por um instante esperando que ele comece a falar, que comece a brigar comigo, mas ele nada faz. Bill simplesmente senta sobre a cama, e continua a olhar para a janela perto da mesma.
– Por favor, fale alguma coisa. – Peço a ele por que seu silencio constante começa a me assustar.
– O que quer que eu diga? – Bill me olha, mas rapidamente volta a olhar o exterior do hospital.
– Eu não sei, qualquer coisa, me culpe, grite comigo.
– Eu normalmente faria isso...
– E é o que eu espero que faça.
– Eu gritaria e xingaria você, estaria agora mesmo culpando-o. – Diz ele sabendo que é exatamente o que eu espero que faça.
– Faça isso, mas, por favor, Bill não fique neste silencio.
– Não vou fazer isso, não vou por que... – Ele suspira pesadamente e então vejo uma lágrima grossa escorrer por seu rosto. – Porque estou simplesmente agradecido de vê-lo acordado outra vez.
Bill aproxima-se de mim rapidamente e então circula seus braços por meu corpo. Quero entender por que sua reação é tão plácida, mas tudo que faço é trazê-lo para ainda mais perto de mim em um abraço há muito tempo esperado.
Quando nos separamos ele ri enquanto segura meu rosto apertando-o, e então começo a rir também por vê-lo assim perto de mim. E só assim começo a entender que de verdade tudo não passara de um terrível pesadelo, apesar de não saber exatamente onde o mesmo começou.
Ele leva as mãos aos seus olhos secando suas lágrimas e faz o mesmo em meu rosto. Começo a rir do jeito atrapalhado em que se encontra e então bato em seu braço como de costume.
Começamos a rir estranhamente e só paramos quando o barulho da porta sendo aberta invade nossos ouvidos.
É kate... Ela nos observa com um brilho diferente nos olhos e posso ver Bill sorrir timidamente ao vê-la se aproximar.
Seu rosto está mais claro do que o costume, como se sua pele fosse feita de cera. Como um anjo que na verdade é.
Bill me observa e então bate em minha perna enquanto se levanta ele está prestes a nos deixar sozinho e eu não entendo como pode fazer isso mesmo depois de tudo. Talvez confie em mim, talvez não se importe. Talvez eu esteja subestimando meu próprio irmão.
Ele passa por ela antes de sair do quarto e eu vejo suas mãos se tocarem ainda que timidamente em um gesto de cumplicidade. Meu coração dispara, mas felizmente eu ainda sou aquele tipo de pessoa que consegue esconder isso muito facilmente.
Kate aproxima-se de mim e sinto seu perfume invadir o meu espaço, tomando conta de mim por completo. Talvez eu não seja mais tão bom assim em esconder meus sentimentos.
– Oi – Digo a ela com um sorriso meio bobo nos lábios.
– Oi.
– Está mesmo aqui. – Digo sem pensar.
– Sim. – Responde rindo enquanto chega mais perto de minha cama.
– Desculpe, eu tive uns sonhos malucos e... – Tento explicar para não parecer um bobo, mas ela me interrompe, quando toca em minhas mãos.
– Não importa. Está acordado agora.
– Vem aqui vem? –
Bato minha mão sobre a cama e Kate aproxima-se sentando ao meu lado. E enquanto ajeitasse, vejo Bill nos observando da janela.
Kate me abraça forte e então eu beijo o topo de sua cabeça, e assim ficamos abraçados por um tempo até ela levantar seu olhar sobre o meu.
– Você é a pessoa que ... – Suspira pesadamente. - A pessoa que eu mais gosto nesta vida.
– Há não, não vai chorar agora. – Tento rir. – E, além disso, tem o Bill.
– Não, é diferente. – Ela volta-se para mim com seu semblante triste e pesado – Eu amo Bill... Mas você... Tom. Quando perdi meu irmão, acreditei que jamais sentiria algo parecido novamente, o amor, a amizade, a cumplicidade. Um tipo de amor diferente de todos os outros... Puro.
– Kate eu... – Esforço-me para não desviar o olhar desejando que minhas palavras saiam certas, mas ela me interrompe.
– Você substituiu isso. – Começa. – Você me devolveu todos aqueles sentimentos de volta. Com seu jeito, sua alegria, seu amor.
– Desculpa... – É tudo que consigo dizer, porque talvez seja tudo que eu tenha a dizer a ela. – Por tudo que eu fiz você passar nos últimos dias... Eu... Não queria... Eu...
– Nada do que aconteceu importa pra mim, desde que você fique bem. – Ela balança a cabeça e olha para o soro ao lado de minha cama. Está vermelha e vejo que está prestes a chorar. – Desde que tudo volte a ser como antes.
– Isso é impossível... Depois de tudo que eu fiz... Que eu disse. – Eu reajo a sua bondade, sentindo minhas palavras queimarem minha garganta.
– Nada é impossível Tom. - Ela me olha nos olhos, estamos perto demais, mas agora diferente do que sentia antes, estou apenas feliz por ainda tê-la por perto.
Eu a puxo pra ainda mais perto de mim e então beijo o topo de sua cabeça novamente. Eu sussurro uma de suas canções favorita próximo ao seu ouvido e a ouço rir fracamente. Lembro-me de nossa dança no dia em que tudo realmente começou a desmoronar a nossa volta. Lembro de suas mãos sobre as minhas e a forma como meu coração parecia querer saltar do peito a cada passo que dávamos. Lembro-me de vê-la feliz e então me dou conta do que realmente importa.
– And you can tell everybody this is your song – Sussurro e ela ri apertando meu braço. – Não é a primeira, mas é a música que...
– Dançamos no casamento. – Ela diz sorrindo.
– Você lembra... – Digo surpreso. - Kate. – Paro por um instante e a vejo levantar seu rosto e olhar-me novamente. – O dia em que estávamos dançando na sala, você disse que precisa me contar...
– Não era nada. – Ela levanta-se de repente empalidecendo. – Nada que precise se preocupar.
Eu a observo por instantes e ofereço minha mão para que volte ao meu lado na cama, mas ela segura minha mão entre a sua e as entrelaça.
– Precisa ir. – Digo a ela calmamente, porque não quero que se assuste com minha reação repentina e também porque tenho certo receio de que Bill entre no quarto e tire conclusões erradas de nossas ações. – Não quero que fique aqui, não é um bom lugar para se estar.
– Você está aqui, Bill está aqui. – Ela ri divertida, mas sinto que a um disfarce em suas reações. – É exatamente onde eu deveria estar.
– Volte para casa, logo estaremos de volta também.
Ela me abraça e me olha sorrindo com lágrimas nos olhos, estão se afasta e caminha lentamente até a porta.
Uma espécie de sensação assustadora toma conta de mim assim que a vejo por a mão na maçaneta em sua frente.
– Vai estar em casa quando eu voltar, não vai? Tudo vai estar no lugar? Como sempre foi?
– Como sempre foi. – Ela diz calmamente em um tom quase inaudível fechando a porta a seguir.
Tento entender o significado de suas últimas palavras, mas quando consigo levantar para ir atrás dela a porta de meu quarto abre e sou invadido por perguntas e olhares preocupados.

Postado por: Grasiele

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