quinta-feira, 22 de março de 2012

Insanity - Capítulo 19

Ela fecha a porta lentamente e eu a observo ir embora passando pela janela do corredor como se estivesse em câmera lenta. Tento entender o significado de suas últimas palavras, mas quando tento levantar e ir atrás dela a porta de meu quarto abre e sou invadido por perguntas e olhares preocupados.

...

Tom...



Mamãe, Gordon, Georg e Gustav junto com outras pessoas que pouco percebo o rosto falam comigo apressadamente, eu não os entendo e a primeira vista tudo que vejo são borrões em minha frente, porque meus pensamentos estão em Kate e isso me deixa louco com as possibilidades que crio em minha mente.
Bill não está com eles, mas assim que dou por sua falta o mesmo entra em meu quarto e fecha a porta atrás de si, como se não faltasse mais ninguém. Como se ela já não fizesse mais parte de nós.
Eu os olho e então tento me acalmar para não preocupa-los.
Mais tarde quando abro os meus olhos novamente, apenas Bill está em meu quarto, está sentado ao lado com a cabeça apoiada em minha cama. Ajeito-me calmamente para não acorda-lo. Mas o vejo abrir os olhos assim que me acomodo outra vez.
– Está acordado há muito tempo? – Pergunta ele sonolento espreguiçando-se
– Não. Acabei de acordar.
Ele suspira e então se levanta para pegar um copo de água perto de minha cabeceira. Eu o observo e vejo que está mais magro e pálido. Bastante cansado eu diria. Mas resolvo não tocar no assunto porque sei que a culpa é minha.
– Bill? – Eu o chamo e ele volta rapidamente para perto de minha cama, arrastando sua cadeira para mais perto de mim.
– O que? – Pergunta em tom neutro.
– Foi um sonho não foi? – Digo a ele esperando que sua resposta seja clara o bastante para me fazer acreditar. – Um sonho dentro de um sonho por que...
– Não, não foi um sonho. – Ele me interrompe. – Foi um pesadelo.
– Você também viu? – Pergunto novamente um pouco alterado. – Estava lá, não estava?
– Sempre que fechava os meus olhos. – Diz ele com certo peso na voz. – Mas o sonho era seu, eu não pude interferir, sinto muito por não poder ajudá-lo.
Ele toca meu braço e o aperta em sinal de conforto.
– Não foi sua culpa. – Digo por fim não acreditando no que afinal havia acontecido comigo e também com meu irmão.
– Nem sua. – Diz ele em meio sorriso, voltando a sua mão para o copo. - Volte a dormir, vamos para casa pela manha.
– Kate vai estar em casa? – Pergunto sem pensar.
– Não se preocupe Tom. – Ele sorri e então volta a encostar a cabeça sobre a cama fechando seus olhos novamente.
Olho para janela e vejo suas cortinas balançarem calmamente, e isso aos poucos me devolve ao sono.
De amanha com quase todos no hospital novamente eu os observo atentamente tentando achar algo errado em suas reações, algo que os condene e que entregue que estão mentindo, mas não há nada em seus semblantes.
Gordon assina os papéis de minha alta, enquanto mamãe fala com uma das enfermeiras. Georg da em cima da enfermeira mais bonita que havia naquele hospital enquanto ela o ignora escrevendo algo em sua prancheta.
Gustav está com uma cadeira de rodas nas mãos, e observa a todos atentamente como sempre.
Ele me olha e então empina a cadeira em minha direção e eu me dou conta de que terei de sair nela até o carro.
...
O caminho é longo e durante ele Bill pergunta algumas vezes se estou me sentindo bem. Apenas respondo que sim, mesmo sabendo que é mentira. Meu nervosismo e vontade de estar em casa são inquietantes.
Quero vê-la e saber que está ali, quero saber que está tudo bem e que de verdade nada mudou. Que eu não fui o responsável por estragar a vida de meu irmão e de Kate.
O Carro para e Bill desce, correndo até minha porta.
– Precisa de ajuda?
– Não, está tudo bem. – Digo a ele enquanto levanto.
Então eu entro em casa novamente depois de tanto tempo, e o que vejo é que estranhamente tudo está realmente como sempre foi literalmente falando. Como sempre foi antes de termos conhecido Kate.
– O que está acontecendo aqui? – Pergunto a Bill assim que o vejo entrar logo atrás de mim.
Ele segue até a outra sala largando minhas coisas que estavam no carro, e então vejo mamãe e gordon entrarem na sala.
– Alguém pode responder? – Grito sem olhá-los, por que estou furioso. – Onde estão as fotos, onde estão as coisas dela?
– Tom. – Mamãe me chama em vão.
Ignoro meu estado e então corro até o quarto deles e abro as portas de seu closet, o lugar está vazio. Não há sinal de Kate ou de que fez parte de nossas vidas em lugar algum daquele apartamento.
Volto para sala e os olho. Acreditando com absoluta certeza que jamais a veria outra vez. Que o casamento de meu irmão fora arruinado por minha total incapacidade de ficar calado e guardar meus sentimentos estúpidos para mim mesmo.
– Onde está kate? – Ninguém responde. – Onde ela está Bill?
– Por favor, não se altere, você não pode... – Mamãe chega perto de mim, mas eu a afasto e corro até Bill.
– Porque não diz nada? – Grito com ele.
– Ela preferiu assim Tom. – Gordon diz sentando-se no sofá. - Não conseguimos faze-la mudar de idéia, sinto muito.
Olho para Bill novamente e tudo que vejo é que está tão assustado quanto eu, caminho até ele e o abraço apertando-o o quanto posso, sinto-o o chorar perto de mim. Rendendo-me a um choro convulsivo também. Eu sussurro milhares de desculpas a ele enquanto o abraço, mas sei que nada disso trará Kate de volta, então eu prometo a ele que farei isso pessoalmente.
Mas ele se afasta e me olha calmamente.
– Não.
– Mas ela disse...
– Ela disse “como sempre foi”. Ela preferiu assim e ambos sabemos que ela estava certa.
Ele fala de uma forma estramente calma, e que me acalma aos poucos também. Eu deveria saber que não teríamos futuro algum juntos, e que a idéia fixa em minha mente de que teríamos nossa vida a três de volta era completamente estúpida, apenas uma ilusão.
Mas Bill não era como eu, não pensava como eu, não agia como eu. E quem poderia condená-lo por isso?
O que eu havia feito meu comportamento durante todo este tempo, era imperdoável. Eu tinha sem a menor duvida destruído sua expectativa de vida com Kate, destruído seu amor, sugado a alegria, felicidade e confiança de ambos até a última gota.
Eu alienei meu próprio irmão com minha insanidade durante todo este tempo. Eu cedi aos meus pensamentos mais sombrios e por não saber me controlar perdi para sempre a primeira pessoa que amei de verdade. E que infelizmente não havia e nem poderia me amar de volta.
Eu os olho uma última vez e então lentamente caminho até a outra sala, eles não saem atrás de mim ou tão pouco me chamam, porque sabem que este é um momento daqueles que preciso ficar sozinho comigo mesmo. Um momento de encontro com meus erros e acertos e com o que farei daqui em diante...
Mas por enquanto tudo que me resta são apenas memórias boas ou ruins. Memórias de momentos com Kate ... De seus olhares e sorrisos, alegria, amizade e simplicidade, mas acima de tudo do carinho que ofereceu a mim durante toda a tempestade que enfrentamos. Durante todo caminho enfrentando minha completa insanidade.
Então me sento ao piano e toco sua canção favorita e por um momento em minha mente, Kate está em casa outra vez.

Postado por: Grasiele

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