quarta-feira, 13 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 30

Luiza

Depois de alguns drinks, sendo que o último foi uma mistura infeliz e “fiadazunha” que levava vodca e alguma outra bebida forte com um suco de morango, acho que já dá para ter uma noção do quanto eu fiquei risonha. Até a luz piscando era engraçada. O Tom tentava me controlar, mas não conseguia. Então, para fazer com que ele sossegasse, meio aos trancos e barrancos, consegui fazer uma proposta: Se me deixasse dançar por quinze minutos, depois poderia me levar de volta ao hotel. 

E como bebida é uma bagaça, estava dançando toda alegre quando um folgado, totalmente trêbado, se aproximou. Era um poço de malícia, já que chegou por trás e me abraçou, colando nossos quadris. E disse, com aquela voz arrastada:

- Eu estava te observando desde que chegou... Tenho que te dizer que você é muito gostosa... 

- Obrigada, mas eu não sou solteira. - Respondi, dando um sorriso sem mostrar os dentes. Procurava o Tom ou algum dos meninos com o olhar. Mas eles simplesmente sumiram. 

- Eu não tenho ciúmes... Vem cá, não quer ir para um lugar mais reservado para a gente se conhecer melhor? 

- Meu Deus, como você é insistente! Já falei que não!

- Ah, linda, o que custa? - Perguntou, me fazendo virar de frente para ele e segurando meu pulso. Detalhe que estava machucando. 

- Custa. E me solta, porque você está me machucando! 

- Só um beijinho, vai... Você tem a boca mais linda que eu já vi... Te beijar deve ser como ir ao paraíso... 

Tinha passado os braços em volta da minha cintura e eu tentava empurrá-lo. Já estava pronta para dar uma joelhada nos “países baixos” dele quando o Bill se materializou do meu lado e, quando vi, estava me defendendo. Disse para o cara:

- Vem cá, você não escutou o que ela disse? Ela não tá a fim!

- Ah é? E quem você pensa que é, hein? 

- Eu sou o namorado dela. Só a deixei sozinha porque fui ao banheiro. 

- Ah, faz-me rir! Até parece que ela ia ser sua namorada. Ela merece um cara como eu. 

Nessa hora, agi por puro instinto. E bebedeira, diga-se de passagem. Num instante, o Bill estava quase avançando no cara. No outro, eu estava puxando uma das pontas da sua jaqueta e fazendo com que virasse para mim. E o beijei. Por mais que odiasse fazer aquilo nessas circunstâncias, ainda sim, não me arrependi... Até a hora que vimos uma luz rápida e branca na nossa direção. Quando nos separamos, vimos que era um fotógrafo e obviamente, tinha feito uma foto nossa durante o beijo. E num súbito momento de lucidez, peguei a mão do Bill e pedi:

- Me leva para o hotel, pelo amor de Deus. 

E nem pensou duas vezes. Nem procurou o Tom ou os outros para avisar onde estávamos indo. Dentro do táxi, o álcool parecia ter voltado a fazer efeito e as minhas risadas voltaram. E com elas, veio a enxurrada de besteiras, a maioria eram teorias de como eu conseguiria, naquele estado, chutar o... Enfim. 

Já no andar certo do hotel, assim que percebi que não estava indo na direção da minha suíte, resmunguei: 

- Mas aquela lá é minha suíte! 

- Eu sei. Só que se o Alex te ver assim, ele me mata. E você quer que isso aconteça?

Ainda rindo feito uma idiota, neguei. Então, destrancou a porta e me fez entrar. Uma das coisas que percebi foi que justamente nessa hora, não andava trocando as pernas. Vendo que eu tinha caído sobre o sofá e estava quase dormindo, o Bill me pegou nos braços e falava mais que pobre na chuva. Devo ter mandado ele calar a boca em algum momento, mas fui ignorada. Vi que tínhamos entrado no banheiro e fui posta sentada sobre a pia. Enquanto ele abria o fecho da minha sandália, não me contive e comecei a falar, antes que tivesse controle sobre minhas ações: 

- Você tinha razão. 

Me olhou, sem entender. 

- O Alex realmente é bem-dotado, mas você é mais. 

Disfarçou um riso e falei:

- É sério, não ri! 

Concordou com a cabeça, tentando se manter inexpressivo. 

- E no que mais eu sou melhor que ele? 

- No oral. 

Fez 
aquela cara de safado. 

- Por que? 

- Além do piercing... Você sabe como fazer. 

O seu sorriso se manteve malicioso. 

- Então quer dizer que vocês dois já transaram. - Afirmou, fingindo indiferença. Mas é óbvio que, além de curiosidade, tinha alguma outra coisa ali que eu não conseguia identificar. 

- Já. E no dia seguinte à primeira vez... Eu queria que fosse você. - Disse, antes que me desse conta. Me olhou fixamente, com uma expressão indecifrável. - Cheguei até a desejar que conseguisse ver as suas tatuagens... 

Respirou fundo e, logo depois, fez algo que eu não esperava: Tirou minha blusa. Mas o surpreendente foi que pediu licença para fazer isso. Enquanto passava a peça pela minha cabeça, falei:

- Você tem direitos suficientes para fazer isso sem pedir permissão. 

- Não tenho. E você sempre deixou isso bem claro. 

- A verdade é que você tem. Não só porque foi o cara com quem eu perdi a virgindade, mas por outros motivos. 

- Ah é? Quais? 

- É graças à você que recuperei uma boa parte da minha autoestima. Por causa das várias vezes que te vi falando que gostava de meninas com bunda grande que eu consegui olhar no espelho e gostar do que vi. Por sua causa, consegui me animar a terminar aquela porcaria de ensino médio e entrar numa faculdade e me formar. Foi por sua causa que viajei de avião pela primeira vez na vida e cometi a insanidade de ficar um dia inteiro na fila de um show, em uma cidade completamente diferente de Belo Horizonte. Foi por sua culpa que, também pela primeira vez, gritei nesse mesmo show até perder a voz. É por isso também que eu te amo, Bill. Por causa dessas e outras coisas que você me fez, mesmo que nem soubesse que existia. Eu nunca gostei de você por ser Bill Kaulitz, o vocalista do Tokio Hotel, mas por ser um cara que sempre riu das próprias palhaçadas. Por ser doce. E é por isso que nunca consigo ficar brava com você, mesmo quando te vi com a Sofia. 

Ainda me fixava e, por fim, me fez descer de cima da pia e tirou o legging que eu estava usando, me deixando só com 
a calcinha e o sutiã. Em seguida, tirou as suas roupas também e ficou só de boxers, abrindo o registro do chuveiro logo depois. Eu só o observava e, quando me fez entrar no box, gritei e tentei fugir, mas não consegui, graças ao abraço apertado dele. Depois de alguns minutos, encostei a cabeça no seu peito e pude ouvir seu coração batendo. 

- Você está com o coração acelerado porque estou aqui, te abraçando? - Perguntei, o olhando. 

- Acho melhor a gente sair daqui debaixo, senão você pega uma gripe. - Disse, disfarçando, só que ficou meio óbvio qual era o real motivo. 

Saímos dali e senti que me enrolo numa toalha macia e felpuda. Quando vi que hesitou porque eu ainda estava com calcinha e sutiã, respirei fundo e me despi das duas peças. Ficou me olhando e agi como se não estivesse sem roupa nenhuma na sua frente. Rapidamente, me fez vestir um roupão e me pediu para sentar sobre a cama, todo encabulado. Enquanto estava sentada sobre a cama, o observava, com uma toalha enrolada no quadril, pedir para o serviço de quarto trazer um café puro e sem açúcar. Até que eu falei:

- É melhor pedir alguma coisa doce, para ajudar a minha glicose a subir. 

Me olhou, curioso e logo depois, disse ao atendente: 

- Oi? Acho que é melhor trazerem uma coisa doce. Tem algum pedaço de torta? 

Ouviu a resposta e pediu para trazerem. Em seguida, desligou o telefone e cuidou de mim. Não consegui descobrir como um pijama meu foi parar ali. Só sei que, antes de dormir, comi uns doces, inclusive alguns marshmallows. E realmente ajudou. Depois disso, não consegui mais me manter acordada e acabei apagando ali mesmo. 

Bill

Uma das coisas que sempre gostei de fazer era observar a Iza enquanto ela dormia. Geralmente, ela deitava, no máximo, três horas antes de mim (Sendo que eram raras as vezes que um dormia no mesmo horário que o outro) então era muito fácil para que isso acontecesse. 

E naquele dia não foi diferente. Enquanto ela estava ferrada no sono, eu a olhava. Sua expressão era uma mistura de tranquilidade e algo mais que eu não conseguia perceber o que era. 

Naquela noite, eu não demorei muito a dormir. E acordei cedo. Ainda não eram oito horas quando me levantei. E ela continuava dormindo. Resolvi ir ao banheiro e, assim que saí de lá, ela me olhava. Não parecia que estava de ressaca. Perguntei:

- Como você está?

- Bem. Só um pouco de dor de cabeça. Mas não acho que vá me atrapalhar se eu tomar remédio. 

Concordei e ainda me fixava. Perguntou:

- Bill... O que aconteceu ontem? Por que eu estou aqui com você? 

- Vejamos se me lembro... - Falei, coçando o queixo. - Você ficou bêbada com o Tom, daí, um cara quis te agarrar e não vi como você se livrou dele. Depois, te achei do lado de fora do quarto e te trouxe para cá. Enquanto eu tentava te dar um banho, você começou a dizer algumas coisas... 

- Que coisas? - Perguntou, assustada. 

- Tipo que eu era... Maior que o almofadinha. 

Arregalou os olhos. 

- Eu não disse isso! 

- Ah, falou. E ainda disse que eu fazia oral melhor que ele. Principalmente por causa do piercing da minha língua. 

Sabia que queria morrer. Ainda mais que estava literalmente vermelha de tanta vergonha, o que era inédito para mim, verdade seja dita...

- E se servir de consolo... - Falei, mordendo o lábio e dando um meio sorriso. - Eu tinha certeza de tudo. 

- Ai meu Deus! - Quase gritou. 

- Aliás... Gostei da técnica que usou ontem. 

- Técnica? Que técnica? Anda, Kaulitz! Fala! - Pediu, quase histérica. 

- Você não lembra? Poxa... Achei que pelo menos disso não ia se esquecer... 

- Você sabe que eu detesto enrolação. Vai direto ao ponto antes que eu perca minha paciência. 

- Bom, já que está fazendo tanta questão... Ontem, não sei se foi por causa do álcool, mas você me pareceu bem mais... Fogosa que de costume. Tanto que, assim que fechei a porta aqui, você parecia outra. E eu tenho que confessar que gostei. 

Me olhava, incrédula. De repente, olhou para baixo e perguntou:

- Boa jogada, Kaulitz. Se a gente realmente transou... Eu deveria estar sem roupa, não é?

- Pela lógica, sim. Só que você reclamou que estava com frio e me pediu para ir buscar o pijama. 

- Tá. E eu sou loira natural... - Disse, sarcástica. Dando um sorriso maldoso, puxei a gola da camiseta que estava usando e mostrei uma marca que tinha no meu pescoço. 

- E como você explica isso? A única garota que foi vista comigo a noite inteira foi você. Pode perguntar para o Tom ou o Georg ou o Gustav. 

- Eu nunca te dei um chupão. 

- E nunca tinha feito 69. Até ontem. 

- Vem cá... Onde você está querendo chegar? 

- A lugar nenhum. Só estou te respondendo. Ontem à noite, você bebeu, quando cheguei aqui no quarto, você me atacou e dormiu aqui comigo. E o almofadinha foi traído mais uma vez. 

- Isso é mentira sua. - Disse. 

- E como você explica a marca do meu pescoço? 

- Te vi se atracando com uma piriguete. Pode muito bem ter sido de autoria dela. 

- Eu não te disse que você foi a única garota que passou a noite comigo?

- Posso até ter sido. Mas que eu te vi quando estava sóbria... Bom, acho melhor ir até a minha suíte. O Alex deve estar morto de preocupação comigo. Tenta inventar uma mentira mais convincente da próxima, viu? 

E se levantou, saindo do quarto. 

Quando estava tomando café da manhã e conversando com o Tom a respeito do que acontecera na noite anterior e a tentativa de pegar a Luiza, me disse:

- Na boa... Ela pode realmente ter dito essas coisas. Mas esqueceu que estamos falando da Luiza? 

- Mas foi justamente por isso que eu inventei tudo aquilo. Sei lá. Achei que, se ela acreditasse que tinha transado comigo, ia botar o almofadinha para correr. Não digo que ela ia voltar para mim correndo, mas sem o filho da mãe na jogada, ia ser mais fácil de tentar reconquistá-la. 

- Desculpa, mas o poço de ingenuidade não foi a Luiza, mas você. 

- Eu sei. Mas ela mesma não diz que a esperança é a última que morre? 

- Sim. Mas se eu fosse você e quisesse a Luiza de volta... Usaria outra tática. Além de artilharia pesada. 

Olhei para ele, desconfiado. E graças àquela ligação que tínhamos, na mesma hora soube o que tinha que fazer.

Postado por: Alessandra

The Neighbour - Capítulo 29

Luiza

Quando recebi alta, o Alex estava lá, me esperando. E ao seu lado, não só o Tom, Georg e Gustav, mas Bill também. Eles queriam me matar, não era possível! Todo mundo me tratava como se eu fosse uma boneca de porcelana que, só de olhar, já tinha o risco sério de quebrar. E eu estava ótima. 

Quando voltamos ao hotel, o Alex cuidou de mim com o máximo de esmero possível. Perguntava o tempo inteiro se eu precisava que afofasse meu travesseiro, se eu queria algo para comer ou beber... 

- Ei, calma! Alex, eu estou perfeitamente bem! Pode deixar que, se eu precisar de qualquer coisa, te digo. 

- Eu sei, honey, mas é que tenho medo por você. Mesmo que a Sofia já não esteja mais aqui...

- Como assim? 

- A mãe dela e uns caras vieram busca-la depois que tudo aconteceu. 

Arqueei a sobrancelha, fazendo que tinha entendido e, quando se ofereceu para ir buscar um chocolate, acabei perdendo a paciência (Apesar de não ter deixado transparecer) e falei:

- Tá. Já que você quer tanto buscar alguma coisa para mim... Tem aquela Starbucks que passamos em frente mais cedo... Traz aquele de caramelo e um muffin de mirtilo? - Pedi, fazendo manha. - Ah! Se pudesse também... 

- Me deixa adivinhar. Alcaçuz?

Sorri feito uma criança, concordando. Ele se levantou de um pulo e, antes de sair, me deu um beijo na testa, falando que já voltava. Insisti que não se apressasse, afinal, ia tentar dormir um pouco. Concordou e, depois que ouvi a porta se fechando, alguns segundos a mais que o esperado, tinha me distraído, respondendo à uma mensagem da Emily e, imaginando que ainda fosse ele, que tivesse se esquecido de alguma coisa, perguntei:

- Só não esquece a cabeça porque tá grudada no pescoço, hein? 

- Bom, eu realmente espero que ele tenha se lembrado de levar tudo que precisa. - Ouvi o Bill dizendo. Desviei o olhar da tela do meu celular, depois que apareceu o aviso que a mensagem tinha sido enviada, e tentei me explicar:

- Desculpa. Achei que era o Alex. 

- Não. Aliás, foi por causa dele que eu consegui entrar. 

Arqueei a sobrancelha e, na maior folga da História, se sentou do meu lado na cama. Perguntei:

- Kaulitz, você não tem vergonha? Pode ter botado a Sofia para correr, mas eu ainda estou com o Alex.

- Até quando? 

- Hã? 

- Até quando você acha que vai ficar com o Alex? 

- Mas que...? Olha, eu agradeço por ter ajudado a me salvar e sabe que, apesar de tudo, tenho um carinho enorme por você. Mas eu estou em outra. 

- Não... Se estivesse em outra, teria recusado a oferta de trabalhar com a gente. Não estaria falando comigo agora e muito menos teria ido lá em casa e dormido comigo. 

- Em primeiro lugar: Não seria idiota o bastante para quebrar o contrato com vocês. Sem falar que eu não aceitei vir só por sua causa. E também, porque não tinha como desperdiçar uma chance dessas. Em segundo: Não tem nada de mais em uma conversa. Desde que ela se mantenha só como uma conversa. E em terceiro... Aquele dia foi um momento de fraqueza inconsciente. Não sabia direito o que estava fazendo. 

- Ah, você sabia. Se não soubesse, não teria ido até meu apartamento. E outra: Eu sei que você não se sentiu nem um pouco culpada de ter ido atrás de mim. Eu te conheço melhor do que você imagina, Luiza. Você está só usando o Alex como desculpa para não dar o braço a torcer. É orgulhosa e teimosa demais para isso. Sem falar que você sabe que eu não tive culpa naquela história da Sofia. Só não consigo entender o motivo de toda essa teimosia. Por que você não admite de uma vez por todas que está se enganando, enganando ao Alex, fazendo com que ele acredite que você o ama, sendo que, no fundo, gosta dele como um amigo? 

- E quem te disse que eu realmente gosto dele como um amigo? 

- Eu acho que ficou muito óbvio durante o show. 

- Kaulitz, não inventa. - Pedi. - Além do mais, foi golpe baixo seu ter cantado minha música lenta preferida e ainda mais daquele jeito. 

- Ah, espera aí. - Disse, rindo com escárnio. - Depois eu que estou inventando? 

- Quer saber? Foda-se. - Falei, irritada e me levantando. Senti uma leve tontura por ter feito aquilo rápido demais. - Eu não vou ficar aqui, perdendo tempo com você me estressando. Acabei de voltar do hospital e você sabe disso. Quero descansar, então, se você não se importa... 

Se levantou e veio andando na minha direção, me olhando de um jeito tão intenso que sempre me fazia lembrar de um vampiro, prestes a atacar a vítima eleita. E como era de se esperar, ficou a pouquíssimos milímetros de distância de mim. Só o suficiente para me torturar e começar a me provocar, passando a boca entreaberta sobre a minha. Disse:

- Procure se convencer disso, liebe. 
[1]

Minha mão coçou para dar aquele tapa estalado no seu rosto por mais esse golpe baixo. 

- Kaulitz... Vai embora. Se você quer que eu continue por perto, faz o que estou te pedindo e me respeita. 

- Eu sei o que você quer. E sabe disso. Portanto, não adianta me pedir uma coisa dessas, tendo certeza de que não vou acatar. 

Respirei fundo e o afastei, colocando a mão sobre seu peito e o empurrando de leve. 

- Se você ainda gosta de mim... Se conforme em ter apenas minha amizade, que você sabe que não é pouca coisa. 

- Tá. - Disse, indiferente e dando de ombros. Só eu que tive a impressão que era evidente que ia aprontar alguma? - Mas se você mudar de ideia e precisar botar o Fred para correr... 

- Fred? 

- É. Me lembra d
aquele personagem do Scooby-Doo. 

- Por que é loiro? 

- Não. Porque é um cuzão. 

Tive que disfarçar um sorriso e, falei:

- Bill... É sério. Volta lá para sua suíte. Se eu precisar de alguma coisa, pode ter certeza que vou te chamar primeiro. 

Fez que ia embora, mas, quando eu estava menos esperando, se aproveitou que eu estava perto e me pôs contra a parede. Tentei empurrá-lo de novo, mas foi mais rápido e segurou meus pulsos e acima da minha cabeça. Me debati, tentando fazer com que soltasse minhas mãos, mas se manteve firme. Me controlava para não dar uma joelhada ou até mesmo um chute nele. E quando roubou um selinho, entrei em estado de choque, surpresa pelo fato de que ele não estava dando a mínima para o fato de que o Alex podia muito bem chegar a qualquer minuto. E para dizer o mínimo, arrancar o Bill de perto de mim na base do soco. 

Não demorou muito para que eu sentisse aquela maldita bolinha do seu piercing da língua deslizando sobre meu lábio, dando indícios do que queria. Mas mantive minha boca fechada, feito uma menina pequena e birrenta. Entretanto, deveria ter imaginado que ele não se daria por satisfeito. Dito isso, simplesmente afastou a boca da minha e começou a beijar meu pescoço, dando uma atenção especial ao ponto entre o lóbulo da minha orelha e a linha do meu maxilar. Em seguida, com aquela voz rouca que sempre fazia com que ele conseguisse o que queria de mim, perguntou: 

- Dá para parar de ser teimosa ao menos uma vez na vida? 

- Não. Ainda mais agora. - Disse, com a voz saindo mais falha que o planejado. E obviamente, isso foi um trunfo para ele, que 
sorriu e, nessa hora, agi por puro impulso. Sabia que ia me dar mal (O que não era exatamente ruim, dadas as atuais circunstâncias), mas pelo menos, podia funcionar. Arqueando a sobrancelha e dando um meio sorriso, perguntei, o provocando: - Principalmente que eu sei que você gosta que eu te provoque... 

Puxei sua camisa para fora da calça e circulei seu umbigo com a ponta da minha unha, percebendo sua respiração ficando fraca aos poucos. Passados alguns segundos, já estava começando a se descontrolar e era a minha chance. Roubei um selinho demorado e, quando me afastei, pedi:

- Vai para a sua suíte. Mais tarde eu vou lá... 

Ainda dando um meio sorriso, finalmente acatou meu pedido e foi embora. Cerca de cinco minutos depois, o Alex ainda não tinha voltado e por isso, aproveitei para ir falar com o Tom. E como sempre, estava sentado à beirada da piscina. Me sentei ao seu lado e perguntei, o abraçando meio de lado:

- Por que tudo tem que ser tão complicado, hein? 

- O que houve? - Perguntou, passando o braço sobre minha cintura. 

- Aquele mesmo... Mesma complicação de sempre. - Falei, depois de pensar qual seria a melhor definição. 

- Só é complicado porque você quer. 

- Não. Quer dizer, eu tenho medo. 

- De quê? 

- Acabar magoada, como da outra vez. Magoar o Bill. Magoar o Alex. Perder a amizade dele... 

Estava encarando um ponto qualquer à nossa frente, com carinha de quem estava imerso nos pensamentos. E sabia que realmente estava. 

- De uma coisa o Alex não pode te acusar. De nunca ter sido honesta com ele. Afinal, você contou o que aconteceu entre você e o Bill, ele sabe o quanto meu irmão é importante para você... À parte se vocês namoraram ou não. Eu sei que você está se esforçando para corresponder aos sentimentos dele, mas... Liebe, vamos encarar os fatos. - Me olhou. - Você ama mesmo é o Bill. 

Suspirei, deixando que tirasse as próprias conclusões. Dando um meio sorriso, continuou:

- Agora sou eu quem vai fazer o papel de conselheiro. Esquece que eu sou virginiano e finge que meu signo mudou para aquário. - Me fez rir e fez o mesmo. - Na boa. Abre o jogo com o Alex. Conta tudo o que você está sentindo. Por mais que ele possa ficar bravo e ter raiva de você, vai ser melhor. Quer dizer, pelo menos você não vai ficar cozinhando o cara em banho-Maria, não vai desgastar a relação de vocês, mesmo que continue sendo só de amizade. Além do mais... É ele quem tá empatando sua vida, não o contrário. Estou certo? 

Concordei com a cabeça. 

- Pois é. Faz isso então. E se põe no lugar dele. Imagina se fosse o contrário: Ele ainda fosse a fim de uma menina e ficasse te enrolando?

- Na realidade... - Mordi o lábio inferior e me endireitei. - Eu já passei por algo assim. E realmente é o melhor a se fazer. 

- Sério? 

- Sim. E eu não quero falar sobre isso, se você não se importa. 

Assentiu e, de repente, senti meu celular vibrando. Peguei o aparelho de dentro do bolso do casaco e vi que era uma mensagem do Alex: 

Já cheguei e não te achei. Onde você se enfiou?

O Tom acabou falando uma coisa muito indecente, apanhando e eu digitei a resposta:

Já estou indo. Estou desfrutando da companhia do Tom enquanto te esperava. 

- Quer dizer que eu sou desfrutável? 

- Ó pequeno grande Kaulitz... Você faz por merecer. 

- Faço nada! - Disse, rindo. 

- Tá. Deixa eu ir ver o que o Alex quer. Depois apareço lá para minha vingança do Guitar Hero. 

Concordou, ainda sorrindo e fui até a minha suíte. Chamei pelo Alex, que apareceu e perguntou:

- Onde você estava? 

- Te falei, estava com o Tom. A gente só estava jogando conversa fora. 

- Luiza, eu... Me desculpa. - Falou. Dei um sorriso fraco e deixei que me abraçasse. Naquela noite, alegando que sentia uma leve dor nas costas, consegui escapar do assédio dele, que estava querendo dormir comigo. E como eu já não estava mais a fim, dei aquela desculpa. 

Dois dias depois, os meninos tiveram folga e, como sempre, inventaram de sair e ir à uma boate. Obviamente, o Tom me intimou a ir e até chamou o Alex, que não quis se juntar ao grupo. Disse que estava com dor de cabeça e ia ficar quieto no hotel. Por um segundo, quis ficar e resolver de uma vez por todas aquela confusão que tinha me metido. Mas o Tom insistiu tanto que eu acabei indo. E pela cara nada amigável que o Alex tinha feito quando saí, sabia que tinha tomado a decisão errada. 

Chegando lá, o Tom avisou que não sairia do meu lado por nada no mundo, nem que a própria Jessica Alba aparecesse pelada na sua frente. Obviamente, estranhei aquilo e perguntei:

- Vai querer mesmo que eu acredite nessa sua história para boi dormir? 

- E por que não? Quer dizer, eu sou seu melhor amigo. Você é como a irmã caçula que eu nunca tive, mesmo sendo seis meses mais velha. Portanto, me sinto no direito de cuidar de você, do mesmo jeito que eu cuido do Bill. 

- Sei... Levando em clubes de strip-tease, né? - O provoquei, fazendo-o 
sorrir daquele jeito descarado que só o Tom fazia. 

- Apesar do que, eu não te levaria lá. É um lugar que não é para meninas inocentes. 

Arqueei a sobrancelha e falei:

- Qualquer dia desses, te mostro o nível de inocência das minhas conversas com as minhas amigas. 

- Provavelmente sobre bolsas, maquiagens, roupas... Coisas de meninas. 

- Ah sim... Sobre Nutella. 

- Nutella? - Perguntou, estranhando. 

- É. Sabe aquele creme divino de avelãs e chocolate? Pois é. 

- E a troco de quê você e suas amigas falam de Nutella? 

- Ah... Nada demais. Só algemar o Bill na cabeceira de uma e arrumar um outro uso ainda mais interessante para o creme. 

Ficou me olhando como se, de uma hora para a outra, tivesse dito que a Jessica Alba tinha ligado para ele. 

- Se quiser, pode me algemar e achar um uso ainda mais interessante para a Nutella. - Disse, depois de um minuto. Caímos na risada e, logo depois, foi buscar um drink para cada um. O Georg e o Gustav conversavam com um grupo de meninas e o Bill tinha sumido. Menos mal. Quer dizer, por mais que soubesse que deveria estar em algum canto escondido, quase engolindo uma piriguete. 

Tão rápido quanto veio trazer as bebidas, o Tom foi andando na direção do banheiro. E, quando ia tomar o primeiro gole do líquido vermelho, ouvi aquela voz rouca que sempre acabava com meu juízo:

- Será que o almofadinha não vai brigar com você por estar bebendo? 

Respirei fundo e respondi:

- O Alex não manda em mim. Aliás... Deveria saber disso. 

- Pois é. Desde que você começou a ficar com o almofadinha não sei de mais nada sobre você. É como se outra Luiza, muito diferente daquela por quem eu sou apaixonado, estivesse na minha frente. 

- Depois eu que sou exagerada, né, Bill? 

Deu aquele sorriso torto quando o olhei e perguntei:

- O que você quer, hein?

- E o que mais eu podia querer? Você, óbvio. De preferência, bem longe daquele almofadinha filho da puta. 

Arqueei a sobrancelha e, de repente, aproximou sua boca da minha orelha e, enquanto arranhava meu braço muito de leve, disse: 

- Eu quero você hoje à noite... Na minha cama, sem roupa nenhuma, linda como sempre que fica excitada só com um simples olhar meu... Gemendo meu nome enquanto te faço ter um orgasmo. 

Provavelmente, estava roxa de tanta vergonha. Não só pelas coisas que me falou, mas porque eu estava envergonhada de mim, por estar tentada a aceitar. 

Postado por: Alessandra

The Neighbour - Capítulo 28

Bill

Não me controlei e fui até a varanda do meu quarto. Foi quando notei a Iza conversando com o Tom. Como estávamos a certa distância, não era possível ouvir o que estavam falando. De repente, ouvi um barulho e, quando percebi, a Sofia estava furiosa atrás de mim. 

- QUE PALHAÇADA FOI AQUELA NO SHOW? VOCÊ VAI SE CASAR COMIGO E NÃO COM AQUELA BRASILEIRA DE MERDA! 

- OLHA LÁ COMO VOCÊ FALA DELA! - Gritei de volta. 

- EU FALO COMO EU QUISER! AQUELA IDIOTA SÓ SABE SE METER NO MEU CAMINHO! DEVERIA SUMIR DA FACE DA TERRA E ME DEIXAR EM PAZ! 

A peguei pelo braço, ignorando seus protestos e falei, a sacudindo, mal importando se estava machucando ou não: 

- Nunca mais fala isso. Ou senão, não respondo pelos meus atos! Já estou de saco cheio de você Sofia. Deixei bem claro que só te pedi em casamento por causa desse bebê na sua barriga. Apesar do que, mesmo depois que nascer, não tem nenhuma garantia que eu vá suportar morar sob o mesmo teto que você. 

E a larguei sobre o colchão. 

- VOLTA AQUI, KAULITZ QUE EU NÃO TERMINEI!

- Mas eu sim. 

- Se você sair por essa porta, eu juro que me atiro por essa varanda. 

Fechei os olhos e, por fim, falei:

- Me faz esse favor então. 

Ela tinha conseguido me tirar do sério com aquela chantagem emocional. E eu sabia que ela não ia se arriscar a perder a vida daquele jeito. Tanto que veio andando atrás de mim, gritando o caminho inteiro e atraindo a atenção de quem quer que estivesse passando. Vendo que não ia dar certo, foi numa direção que eu achei que era a dos elevadores. De repente, ouvi uma gritaria e, logo, foi aquela confusão. Saí correndo na direção da área da piscina e a Sofia estava ali. O Tom corria na mesma direção e meu sangue gelou quando vi que tinha mais alguém ali. E alguém de cabelos escuros que eu conhecia muito bem. E que estava sendo empurrada cada vez mais para baixo d’água. Logo, não só o Tom e eu, mas até o Jost e alguns seguranças, fora o Georg e o Gustav, foi tentar separar as duas. Os seguranças e o Jost tentavam afastar a Sofia ao mesmo tempo em que eu e os outros tentávamos salvar a Iza. Quando finalmente conseguimos o nosso intento, percebi que a Iza estava pálida demais e não respirava. Nessas horas é que sempre aparece um médico, certo? Só que no nosso caso, vieram uns dez, todos dispostos a nos ajudar. Enquanto um fez respiração boca-a-boca na Iza, outro fazia aquela manobra para que ela expelisse a água. De repente, ela deu um solavanco e cuspiu a água, tossindo. Um dos médicos falou:

- Quem é o responsável por ela?

Eu, o Tom, o Georg, o Gustav e o Alex levantamos as mãos ao mesmo tempo. 

- Quem pode acompanha-la ao hospital? 

Até o Alex olhou para mim. Falei com o Tom:

- Vai com ela que eu tenho que resolver um assunto com a Sofia. 

Concordou e, logo, ele pegou a Iza nos braços e foi na direção do saguão. Peguei a Sofia pelo braço e saí a arrastando até o elevador, ignorando todos os olhares de reprovação na direção dela. Assim que chegamos ao quarto, falei:

- Quer saber? Essa foi a gota d’água. Cansei dos seus chiliques, dos seus dramas, das suas chantagens. Nem esse filho que você está esperando vai conseguir me segurar depois dessa sua última. 

Disquei os números do telefone da mãe dela e, assim que atendeu, tranquei a porta do quarto e a da varanda e fui até a suíte do meu irmão, onde eu expliquei tudo à Sylvie, mãe da Sofia. Quase que imediatamente, ela disse que estava vindo buscar a filha. Podia ouvir a Sofia quebrando tudo que tinha dentro do quarto e, assim que entrei, parecia que um furacão havia passado por ali. O prejuízo que ela havia dado era absurdo. Estava caída perto da cama, chorando e em posição fetal. 

Cerca de três horas depois, a Sylvie chegou ao hotel. E com a ajuda dos irmãos da Sofia, levou a filha. Enquanto os dois a levavam até o carro, a Sylvie perguntou:

- Já teve notícias da moça?

- Já. Engoliu muita água, mas não está correndo perigo. Está sob observação. - Respondi. 

- Se precisar de qualquer coisa... Me liga. 

Concordei e ela se despediu, com aquele olhar de quem implora por desculpas. Nem bem fechei a porta e meu celular tocou. Vi o número da minha mãe e atendi à chamada:

- Oi. 

- 
Como a Luiza está? Acabei de saber pelo Tom... 

– Ele te contou? Meu irmão é um linguarudo mesmo! 

- 
Calma. Eu liguei para ele, para saber de você e me contou que estava no hospital. Achei que pudesse ser alguma coisa que aconteceu com você e logo ele me contou o que tinha acontecido. 

- Pois é. A Sylvie acabou de buscar a Sofia. Eu queria aproveitar e ir até o hospital, ver como a Luiza está.

- 
Faz isso. E me liga assim que tiver notícias.

Concordei e, por fim, assim que desliguei o telefone, fui até o hospital. Assim que me informaram onde era o quarto onde a Iza estava, quase levantei voo ao ir para lá. Bati na porta e uma enfermeira abriu. Perguntou: 

- Posso te ajudar?

- Eu... Sou o acompanhante dela. - Falei, mostrando a bolsa com algumas roupas dela que o próprio Alex tinha me dado. 

A enfermeira me olhou estranho e perguntou:

- Dela? Que paciente você está procurando?

- Luiza Belotti. Me informaram que ela estava neste quarto. 

A enfermeira, segurando o riso por causa da minha confusão, indicou que era a porta atrás de mim. Agradeci e bati na porta, entrando no quarto logo em seguida. A Iza estava dormindo e parecia ainda mais branquinha que antes. Me aproximei e, depois de colocar a bolsa sobre um sofá, sentei sobre sua cama, acariciando sua mão muito de leve. Quase imediatamente, ouvi umas batidas na porta e o médico entrou. Perguntou, depois que apertou minha mão:

- A enfermeira me disse que é o acompanhante dela... 

- Sou. Ela... Está bem? 

- Melhor do que quando chegou. Ela apresentava hipotermia aguda, mas com sintomas moderados. Sorte que os rapazes que a trouxeram agiram rápido. 

- Como assim?

- A moça estava enrolada em um cobertor e a mantiveram aquecida o tempo inteiro. Ah! Antes que eu me esqueça... Tem muito tempo que a conhece?

Concordei. 

- Sabe me dizer se a pressão dela sempre foi tão baixa?

- Foi. Já tomei um susto uma vez, porque ela quase desmaiou. Ela sempre diz que não sabe explicar o motivo, mas a pressão cai raramente e, quando cai, é logo depois que come alguma coisa salgada. 

- Curioso! - O médico disse. 

- Pois é. - Falei, a olhando. - Mas tem certeza que ela está bem? 

- Sim. Ela já foi medicada e agora está em observação. Se tudo correr bem, conforme o esperado, talvez ela receba alta amanhã mesmo. 

Concordei. Assim que o médico nos deixou, puxei uma cadeira para mais perto da cama e a observei. Era realmente linda. Talvez fosse por causa do que tudo que havia acontecido, mas ela me dava calafrios, já que parecia não ter mais vida, mesmo vendo seu peito subir e descer lentamente. Acariciei seus cabelos, lembrando do medo que senti ao ver que ela não acordava quando a tiramos da piscina. Peguei na sua mão e fiz questão de não soltá-la. 

Na manhã seguinte, ouvia um zumbido muito fraco. Parei para prestar atenção e percebi que eram três vozes fininhas, além da do meu irmão e uma outra, feminina, que eu não estava reconhecendo por ser fraca e rouca demais. O Tom disse:

- Com licença, mas vou atender. É minha mãe, provavelmente querendo notícias. 

Houve um silêncio onde uma das vozes finas perguntou:

- Por que vocês não estão mais namorando? 

- É... Complicado, Sabine. - A dona da voz rouca e fraca disse. Só então, me dei conta de que era a Iza. - Quando você ficar maior, vai entender. Espero que nunca passe por isso tudo, já que é tão chato quanto tomar injeção. 

- Mas a mãe do Michael descobriu que o pai dele tinha uma namorada. E mesmo assim, ela desculpou ele. Por que você não faz o mesmo com o Bill? - Outra voz fina disse. 

- Veremos. - A Iza deu o assunto por encerrado antes que ouvisse algumas batidas na porta e outra voz de mulher enchesse o ambiente:

- Vamos meninas... Já deu o horário e precisamos voltar para Hamburgo. 

As vozinhas finas protestaram um pouco alto demais, mas não me mexi. A mulher, que parecia ser mais velha, sibilou, pedindo silêncio e disse: 

- Depois vocês visitam a Luiza de novo, não é?

- Claro. Estava até pensando em, quando voltar a Hamburgo, organizar uma festa do chocolate, o que vocês me dizem? 

As meninas, que eram donas das vozinhas finas, comemoraram e se despediram de mim. Até que, de repente, senti que uma delas deu um beijo na minha bochecha e, logo que todas elas saíram, me permiti abrir os olhos. 

- Oi. - Falei, a observando. 

- Oi. - Respondeu, sorrindo daquele jeito que eu gostava, quando era espontâneo e ela não escondia os dentes. 

- Como você está se sentindo?

- Bem melhor. Mas ainda parece que me atiraram num moedor de carne. 

- Me desculpe. 

- Pelo quê?

- A Sofia. 

- Ai, Bill... A culpa é dela. Não sua. 

- É minha sim. Afinal, se eu tivesse a impedido... 

- Pergunta. Alguém morreu?

- Não. 

- Alguém se feriu? 

- Acho que um dos seguranças que tentou imobilizá-la. Foi superficialmente, eu imagino.

- Tá. Mas como não houve mortos e nem feridos gravemente... Não tem nada com o que se preocupar. Quer dizer, eu estou bem, falante como sempre... Então desfaz essa ruguinha feiosa aí do meio da sua testa. 

Ri e disse:

- Confesso que nunca vi a sua mãe tão... 

- Surtada? É, nem eu. Ela gosta mesmo de você.

- Só ela?

- Todos nós, você sabe disso. 

- Sei. E é recíproco. 

Dei um sorriso fraco. 

- Nunca tive tanto medo de te perder. 

- Lá em Londres não deixou bem claro que não ia desistir de cumprir com a sua promessa? Pois é. Não vou deixar de cobrá-la. 

- Mudou de ideia? 

- Quem sabe? 

- Eu vi que você estava conversando com o Tom... 

- Minha nossa senhora Aparecida, mas era só o que me faltava! Mais uma criatura curiosa! Já basta a Vivi, tá bom? 

- Eu vou acabar descobrindo... - Falei, dando de ombros. - Esqueceu que conheço o meu irmão? 

Arqueou a sobrancelha e disse:

- Menos ego, Bill... Bem menos ego. 

Ri e, logo, trouxeram o café da manhã para nós dois. E nem bem começamos a comer e o Tom apareceu, com um daqueles sacos de papéis da Starbucks. 

- Meu salvador! 

Rimos e ele disse:

- A menina que me atendeu, assim que se recuperou do susto, me disse que não tinha o de caramelo que você queria. Daí, trouxe esse, de caramelo... - Fazendo graça, fez bico na hora de pronunciar em italiano: - 
macchiato. 

A cara da Iza era o melhor de tudo.

- 
Non c’e problemma. Anche questo mi piace.

- Vai, humilha... - Meu irmão disse. 

- E quem disse que estou humilhando? Só falei que não tinha problema e que gostava deste também. - Respondeu, com aquele arzinho de superior que sempre assumia quando queria bancar sabichona.

- Posso falar? Você é estranha. A primeira pessoa que eu encontro que gosta de caramelo. É enjoativo! 

- Seu nariz que é enjoativo. Eu gosto, dá licença? E falando em gosto... Gosto e bunda, cada um tem o seu. 

Houve mais batidas na porta e a enfermeira entrou, seguida de perto pelo Georg e o Gustav. Disse:

- Vocês fiquem comportados, senão todo mundo vai ter de sair, entendido? 

- Deixa comigo que boto ordem neste galinheiro aqui. - A Luiza disse, apontando para todos nós. 

- Ah, vai! - O Tom disse, indignado. 

- E aí, Iza? Tudo bem? - O Georg perguntou, se sentando sobre a cama. 

- Melhor que ontem... 

- Que susto que você passou na gente, hein? - O Gustav disse. 

- Pois é. O Georg ficou tão apavorado que foi atrás de mim no meu quarto. - O Tom falou, provocando. A cara da Iza foi impagável.

- Tom... - Ela disse, rindo. 

- Iza, você me conhece! - o Georg tentou se defender. 

- É justamente por te conhecer que aposto que aconteceu o contrário... - Ela provocou meu irmão, que ia mostrar o dedo do meio para ela, que bateu na sua mão. - Eu estou bem, não se preocupem, ainda vão ter de me aturar por um bom tempo.

- Mas é sério... Você parecia... Morta. - O Georg disse, tomando um pedala do Tom. 

- Ai Hagen! - A Iza quase gritou. - Credo! - Bateu no criado-mudo. 

- Ué, mas é verdade! Você estava pálida demais! - Ele continuou dizendo. Até que a Iza enfiou uma colherada de gelatina na boca dele, para fazê-lo se calar. Foi engraçado. E ele ainda resmungou, depois que engoliu: - Nossa, que coisa ruim! 

- Pois é. Agora a gente sabe que o melhor é contar com um contrabandista. - E piscou para o Tom, que retribuiu, dando um meio sorrisinho também. 

Eles ficaram com a gente ali até que o médico apareceu para examinar a Luiza. Foram aqueles exames clássicos, de auscultar como a respiração dela estava, por exemplo. Pôs um termômetro sob o braço dela e, enquanto esperava que medisse a temperatura corporal da Iza, anotava algumas coisas. Ela segurava minha mão o tempo inteiro e percebi que estava quente como na maior parte do tempo. Em seguida, o aparelho apitou e, depois que o médico viu que estava normal, disse:

- Bom, Luiza, está tudo certo. Sua temperatura já está normalizada, sua respiração também e portanto, não acho que há outra razão para mantê-la aqui. Vou preparar sua alta e daqui a pouco eu volto para te liberar, tudo bem? 

Concordou com a cabeça e, assim que ele saiu, se levantou e foi até a bolsa onde estavam suas roupas. E sem o menor pudor, tirou aquela camisola de hospital na minha frente. A diferença é que ficou virada de costas para mim o tempo inteiro. E ver seu corpo ali... Tão... Alcançável e perigosamente perto, fazia a ponta dos meus dedos formigarem de ansiedade por tocar sua pele mais uma vez. Assim que terminou de se arrumar um pouco, o médico voltou e nos liberou. Assim que pagamos a conta, fomos atrás de um táxi e, de lá, até um hotel. O Jost abraçou a Iza tão apertado que ela até batia no seu braço, tentando afastá-lo. E quando vi o olhar que o Alex lançou na direção dela e depois na minha, enquanto murmurava alguma coisa, tive um pressentimento que era bom e ruim ao mesmo tempo...

Postado por: Alessandra

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