terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 20 - Talvez

(Contado pelo Bill)

      A manhã estava ensolarada, e todos nós combinamos de ir à cachoeira. Arrumamos o que era necessário, e partimos. Fiquei sentado nas pedras, enquanto os outros se divertiam na água. Senti falta da Duda ali. Eu sei que ela tinha vindo, mas não sabia onde estava. Observei melhor, e também notei que o Tom não estava. Comecei a pensar que os dois haviam saído para se divertirem num lugar mais calmo. Sim, eu estou com um pouco de ciúmes dela.

      Continuei ali, mas a ansiedade em saber onde estavam - e se estavam juntos -, era grande. Tentei me controlar. A Débora apareceu com seu namorado e se sentou ao meu lado. Esse negócio de ficar segurando vela não dá certo. Me levantei dali e fui dar uma volta.

–--
(Contado pela Duda)

      O Tom e eu caminhávamos, e conversávamos. Nada mais que isso. Ele me contava como estavam as coisas lá na cabana dele, e eu escutava.

           - Só tem gente doida lá comigo. – disse ele.
           - E você por acaso está incluído?
           - Claro que não. – nós rimos.
           - Sei.
           - E você e o Bill?
           - O quê que tem?
           - Tá rolando alguma coisa?
           - Não.
           - Tem certeza?
           - Ô Tom, vamos mesmo falar nele?
           - Ok. E sobre o quê quer falar.
           - Não sei. Sugere alguma coisa?
           - Eu não gosto muito de conversar. Prefiro fazer outras coisas. – sorriu maliciosamente.
           - Nem vem que isso não vai acontecer.
           - Porque não? Estamos sozinhos aqui, e ninguém verá.
           - Deixa de ser tarado!
           - Vai dizer que não gostou daquela noite?
           - Mas isso não significa que devemos repetir.
           - Eu adoraria.
           - Safado.
           - Ah, qual é? O Bill não precisa ficar sabendo.
           - É que não tô a fim. E além do mais, não me importo com o que o Bill pensa.
           - Sério? Porque outro dia ele me contou que está apaixonado por você.
           - Ele disse o quê? – perguntei incrédula.
           - É isso ai. O meu irmão tá gamado em você.
           - Tá falando sério?
           - E porque eu inventaria algo assim?
           - Não sei se devo acreditar.
           - Tanto faz. Se estiver duvidando, é só perguntar para o próprio.
           - É melhor voltarmos pra cachoeira antes que o pessoal comece a dar ataque pensando que nos perdemos.

      Fiquei com aquilo que o Tom disse, em minha mente. Será que ele estava mesmo falando a verdade ou só contou pra saber qual seria a minha reação? Pra mim tanto faz. Acho que não mudaria muita coisa. Disse que não me envolveria com o Bill novamente, e pretendo cumprir minha palavra até o fim. Só espero que minha mãe não demore muito a resolver as coisas, pois talvez eu não consiga resistir. Eu quero, mas está cada vez mais difícil ficar perto do Bill, sem desejá-lo. E ele vive me tentando, me provocando. Como resistir? Alguém tem alguma dica?

–--
(Contado pelo Bill)

      O Sol já estava se pondo no horizonte. Recolhemos nossas coisas, para voltarmos ao acampamento. No meio do caminho, chamo a Débora e começo a conversar com ela.

           - Posso lhe pedir um favor? – perguntei.
           - Claro. – respondeu. - Diga ai.
           - Preciso que faça algo por mim.
           - Não vai me pedir pra vender drogas aqui não, não é?
           - De onde tirou essa idéia?
           - Sei lá. Mas diga logo, que eu preciso ir ficar com meu namorado.
           - É exatamente isso.
           - Isso o quê?

      Contei tudo que precisava, e ela concordou. Eu estava com um plano em mente, e adoraria que ele fosse executado. Mas para que tudo saísse perfeitamente, eu precisaria mesmo da ajuda da Débora. Como ela aceitou, as coisas poderiam ser mais fáceis.

      Cheguei à cabana, sozinho. Ainda não havia cruzado nem com a Duda e nem com o Tom. Ajeitei tudo que eu fosse usar. Fui até o quarto das meninas, e arrumei a cama. Estava um pouco cansado, e acabei me deitando ali mesmo.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      Já era noite, quando Duda se despede do Tom com um beijo no rosto. Em seguida entra na cabana, que estava escura. Acendeu a luz. Ela achou estranho, pois o Bill sempre costumava ficar assistindo TV ali, e a Débora... Ah, ela nem parecia “moradora” dali, já que quase nunca era encontrada no local. Duda vai até o quarto, e nem se dá o trabalho de acender a luz, pois a iluminação que vinha da sala era suficiente para ela enxergar apenas um pedaço da cama, onde suas roupas se encontravam. Ela pega as mesmas, e segue até o banheiro. Começa a se despir, e toma um banho quente, que durou cerca de vinte minutos. Vestiu sua camisola feita de seda, e na cor preta. Passou desodorante, penteou os cabelos, em seguida colocou seu perfume. Estendeu a toalha molhada, e saiu do banheiro. 

      Duda caminhou em direção ao quarto, e mais uma vez, não acendeu a luz. Ela se deitou na cama, e cobriu-se com o lençol. Tudo estava bem, até algo parecer estranho demais. Ela estava virada para o lado esquerdo, abriu os olhos naquela escuridão, e apalpou algo que estava atrás de si. Se assustou, e caiu da cama. Bill imediatamente se levantou e acendeu o abajur que estava por perto, em seguida pegou a primeira coisa que avistou; um jarro.

           - O que foi? – pergunta Bill. – Cadê ele? – ele olha pros lados - É um besouro, não é?
           - O que você tá fazendo aqui? – pergunta Duda.
           - Eu... eu estava dormindo.
           - E porque não estava em seu quarto?! – ela se levanta e acende a luz.
           - A cama daqui é melhor. – ele coloca o jarro no lugar.
           - Cadê a Débora?
           - Não sei.
           - Isso significa que...
           - Ficaremos sozinhos. – ele completou.
           - É melhor você ir pro outro quarto.
           - Por quê? Essa cama é bem mais confortável. – ele dá a volta e fica próximo a Duda.
           - A Débora disse se iria dormir fora?
           - Na verdade... eu pedi que ela fosse dormir com o namorado.
           - E porque faria isso?
           - Por que... Porque eu...

      Bill não conseguia dar uma explicação. E Duda simplesmente esperava.

           - Porque eu... – ele tentou novamente.
           - Você não consegue dizer, não é?

      Ele fica calado, e ela dá a volta na cama, e se deita do outro lado. Bill permanece em pé por alguns instantes, mas depois se deita. Ele a abraça, e sussurra em seu ouvido:

           - Não faz isso comigo.

      Duda fica arrepiada, e se levanta. Ela pega o travesseiro, em seguida o lençol da cama.

           - O que vai fazer?
           - Dormir no outro quarto. – responde ela.

      Quando ela abriu a porta para sair do quarto, Bill se pôs na frente e fechou a mesma, depois a trancando.

           - Abre essa porta e saia da frente! – disse ela.
           - Não.
           - Sai logo daí, garoto!
           - Já disse que não!
           - Perdeu a noção do perigo, foi? Tá querendo que eu derrube essa porta com você junto?!
           - Você não vai sair daqui!
           - Vai me manter em cativeiro por acaso?
           - Se for preciso.
           - Deixa de ser idiota e abra logo essa porta!
           - Mais que droga, Duda! – ele grita, e ela se assusta um pouco. – Porque você tem que ser assim, hein?
           - Ô Bill, eu não tô com vontade de discutir com você. Por favor, sai da frente.

      Ele se afasta, e destranca a porta, abrindo-a em seguida.

           - Só me responda uma coisa. – disse ele, antes que ela pudesse sair.
           - O quê? – ela se vira.
           - Ainda sente alguma coisa por mim?
           - Talvez. – responde ela, e sai dali, indo em direção ao outro quarto. Bill deu um meio sorriso.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 19 - Chuva

(Contado pelo Bill)

      Era de tarde, eu estava assistindo TV. Não havia ninguém além de mim na cabana. Eu mudava os canais pra tentar encontrar algo legal, mas não tinha nada de interessante. Desliguei a TV, e fui até o quarto das meninas. Vi que Duda deixará seu caderno de desenho em cima da cama. Me aproximei, e peguei o mesmo. Sai dali e fui para a cozinha. Me sentei, e abri o caderno. Observei todos os desenhos, e seus perfeitos detalhes. Ela com certeza era uma artista. A maioria do que estava desenhado ali, era o meu rosto. Eu queria retribuir aquilo de alguma maneira. Mas não sabia como. Decidi desenhar alguma coisa pra ela, mesmo sabendo que não sou nada bom.

      Eu tentava desenhar, quando ouvi a porta bater. Imaginei que fosse a Débora, pois a Duda sempre chega fazendo barulho.

           - O que está fazendo com meu caderno? – pergunta Duda.
           - Eu... eu... – gaguejei.
           - Não disse que se tocasse nele de novo, eu arrebentaria a sua cara?!
           - Posso explicar.
           - Então explique.
           - É que você fez tantos desenhos meus, que eu... eu queria retribuir.
           - Retribuir?
           - É. Eu queria desenhar algo pra você. Mas não sou bom nisso.

      Ela ficou calada por um tempo.

           - Quer que eu te ajude? – pergunta ela.
           - Faria isso?

      Duda se sentou numa cadeira, ao meu lado.

           - Pra fazer um desenho, não tem muito segredo. – disse ela, pegando a grafite de minha mão, em seguida o caderno. – Você precisa considerar o seu desenho como um rascunho, pois se o considerar algo definitivo, não sairá algo tão bom. – ela começa a desenhar. – Tá vendo só?
           - Um-hum.
           - Também precisa ter leveza na mão.

      Confesso que mal estava prestando atenção no que ela dizia. Eu só conseguia olhar pra ela, sendo tão delicada. Duda falou várias coisas, e eu não entendi metade.

           - Tá entendendo?
           - Sim. – mentira.

      Não dá. Eu não consigo parar de olhá-la.

           - O que foi? – pergunta ela.
           - Nada. É que... você fica tão linda assim.

      Ela voltou o seu olhar pro desenho, e notei que suas bochechas ficaram coradas.

           - Na verdade, você fica linda de qualquer jeito. – disse.
           - Aonde quer chegar? – ela olha pra mim.
           - Bem perto de você.

      Me aproximei dela.

           - Pára Bill. – ela sussurrou.
           - Eu sei que... que você também quer. – sussurrei de volta.

      Exatamente nessa hora, a Débora entra na cabana. A Duda se levanta, carregando seu caderno junto. E eu comecei a pensar que deveria ter sido um pouco mais rápido. Porque sempre tem que ter alguém para atrapalhar?

      Mais tarde, o assistente do professor avisou que era para todos os alunos irem até a cabana principal, que era a maior e mais confortável de todas. Jantaríamos ali, pela primeira vez. A noite chegou, e junto a ela, veio a chuva. Eu estava sentado no sofá, conversando com o Tom.

           - Então quer dizer que ela fez vários desenhos seus? – pergunta ele.
           - Sim. E são incríveis!
           - Legal.
           - Você... ainda gosta dela?
           - Não.
           - Tom.
           - Não, eu não gosto dela. Pode relaxar e seguir em frente.

      A Duda apareceu, e se sentou entre nós.

           - Posso saber sobre o que estão falando? – pergunta ela.
           - Nada. – respondi.
           - Sei. – diz ela.
           - Tá gostando do acampamento? – pergunta Tom.
           - Ficaria melhor ainda se eu não tivesse que dividir a cabana com o Bill.
           - Confessa que você gosta. – disse.
           - Mas eu não gosto. – disse ela. – Sem contar que ele vive correndo atrás de mim.
           - O quê?! – disse. – É você que corre atrás de mim.
           - Hoje mais cedo, você queria me beijar.
           - Quem disse?! Só pode estar ficando louca!

      O Tom se levantou dali, e eu nem vi a hora. A Duda e eu ficamos ali “discutindo”.

           - Não precisa esconder isso do seu irmão, não é? – diz ela. – Você me ama.
           - Eu não te amo. – mentira. – É você que me ama.
           - Quem é que tá te iludindo desse jeito? Por acaso é o Tom? Porque se for, eu vou ter que conversar muito sério com ele.
           - Engraçadinha.
           - Chato. – ela se levantou e foi pra algum lugar. Eu a segui.

      Duda estava na varanda, vendo a chuva cair. Ela parecia distraída. Muito distraída. Me aproximei, e fiquei ao seu lado.

           - Por acaso está me seguindo? – pergunta ela.
           - Se eu disser que não, você acreditaria?
           - Não.
           - Então... Sim, estou te seguindo.
           - O que você quer?
           - Nada. Não posso admirar a chuva?

      Ela ficou calada. O silêncio tomou conta.

           - Já tomou banho de chuva?
           - Não. – respondi.
           - Quer experimentar?
           - Agora?
           - Não. Vamos esperar essa parar, e quando outra chuva cair, a gente experimenta. – disse ela, ironicamente.

      Em seguida, Duda desceu as poucas escadas, ficando na chuva.

           - Você vai pegar um resfriado! – disse.
           - Por acaso tem medo de água? Deixa de ser fresco e vem logo!

      Olhei pros lados, dei um sorriso, e fui logo “entrando” na chuva. Ainda não estava acreditando naquilo. Só ela mesma pra me induzir a fazer isso. Fomos andando, e eu não fazia idéia para onde estávamos indo, e também não fazia questão em saber. Cada vez mais a chuva ia ficando grossa, e eu comecei a ficar preocupado, temendo que pudéssemos ficar doentes.

           - Onde estamos indo? – perguntei.
           - Dar uma volta. – respondeu.
           - A gente deveria ter ficado lá na cabana.
           - E que graça teria ficar parado sem fazer nada?
           - Ah é? E que graça tem ficar resfriado?
           - O seu problema é que se preocupa demais. Tenta esquecer o mundo pelo menos uma vez na vida!

      Enfim chegamos ao lago. Ele estava mais cheio, e ainda mais belo. Ficamos parados ali por alguns minutos, e notei que Duda abraçava o próprio corpo. Ela sentia frio. Tirei meu casaco, e a cobri. Sei que não adiantou muita coisa, já que estava completamente encharcado. Mas ela sorriu, e aceitou. Continuamos andando por ali, até que uma idéia maluca me passou pela mente. Parei de andar, o que acabou fazendo com que ela parasse também, e se virasse para me olhar.

           - Porque parou? – pergunta ela.
           - Me concede essa dança? – perguntei, estendendo minha mão, e me curvando um pouco.
           - Está falando sério? – ela ri. – Quer mesmo dançar, nessa chuva?
           - Porque não? Afinal, não iremos esperar que a próxima chegue, não é?

–--
(Contado pela Duda)

      Não tinha como não rir disso. E confesso que foi a cena mais estranha que eu já poderia ter vivenciado. Dançar no meio do nada, e o único som que poderia ser ouvido, era o da chuva. Era extremamente estranho. Mas de alguma maneira eu estava gostando de ficar ali com ele. Paramos de dançar, e permanecemos abraçados, e a chuva não parava. Bill se afastou um pouco, olhou pra mim, e um leve sorriso começou a surgir em meus lábios. Essa foi a deixa para que ele se aproximasse. Meu coração parecia querer saltar para fora do peito, e comecei a sentir as famosas borboletas no estômago. Esses segundos pareciam ter se transformado em minutos, horas... Até que finalmente seus lábios molhados, frios, e macios encontraram os meus. Minhas pernas fraquejaram e o ar se esvaiu de meus pulmões. Se ele não estivesse me segurando, eu com certeza teria caído.

      Confesso que gosto um pouco do Kaulitz. Que penso nele, e que já tentei de todas as formas esquecê-lo. Mas eu não consigo. Sei que beijá-lo é a mesma coisa de assinar um papel em branco, pedindo para continuar gostando dele. Sei também, que poderei me arrepender disso. Mas e daí? Neste momento, tudo que estava em meu pensamento, desapareceu, e a única coisa que eu queria, era continuar ali, abraçada a ele, beijando-o.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 18 - Luau

(Contado pela 3º pessoa)

      O Sol já estava se pondo, e no horizonte do lago, a vista era incrivelmente linda. Duda estava sentada nas raízes de uma árvore, desenhando. Bill se aproxima devagar, e a surpreende.

           - O que está fazendo? – pergunta ele.
           - Bill, que susto... – ela tenta esconder o desenho.
           - Desculpa. O que está desenhando?
           - Nada de mais.
           - Posso ver?
           - NÃO! Quero dizer... não.
           - Por quê?
           - Não é nada de interessante.
           - Fiquei sabendo que é uma ótima desenhista.
           - Quem inventou essa mentira?
           - Deixa de bobagem. Eu sei que é talentosa. Me deixe ver.
           - Já disse que não!
           - Tudo bem.

      Num momento de distração, o Bill pega o caderno e sai correndo.

           - Me devolva esse caderno! – ela gritava.
           - Não antes de ver o que tem nele.
           - Devolva agora, se não quiser morrer!
           - E quem vai me matar? Você?

      Os dois param.

           - É sério, Bill. Ninguém toca nesse caderno, além de mim!
           - Você fará uma exceção pra mim.
           - Quando eu te pegar, vou acabar com a sua raça!
           - Vai me pegar?
           - Não seja idiota! Você entendeu muito bem o que eu quis dizer.
           - O quê que custa eu ver?
           - Deixa de ser enxerido, garoto!
           - Prometo que só verei um desenho.
           - NÃO! – ela gritou.

      Vendo que não teria jeito, Duda cedeu. Ficou parada, enquanto Bill começava a folhear o caderno. Ele observava cada desenho com cuidado, e permaneceu calado por um tempo. Ela parecia tímida, e sem graça.

           - Realmente você é muito talentosa. – disse ele.
           - Obrigada.
           - Estou impressionado com os desenhos.
           - Hum.
           - Posso fazer uma pergunta?
           - S-Sim.
           - Quanto tempo demorou a me desenhar?
           - Uns quinze minutos, ou meia hora no máximo.
           - Sério? – perguntou ele incrédulo. – Isso significa que me conhece muito bem.
           - Acho que sim.
           - Também gostei das paisagens. Deveria investir nisso.
           - Acha mesmo?
           - Claro? – ele se aproxima dela.
           - Não acha que é uma perda de tempo?
           - Óbvio que não! Você é uma artista. No momento, a minha favorita.

      As bochechas dela coraram.

           - Vai confessar? – pergunta ele.
           - Confessar o quê?
           - Que me ama.
           - Como você é abusado, hein? – ele riu. – E quem disse que te amo?
           - Eu sei.
           - Sabe nada! Eu nunca amaria você! – ele se aproxima mais.
           - Tem certeza?
           - T-Tenho. – ela gagueja.
           - E porque fica nervosa quando chego perto?
           - Não estou nervosa.
           - Está sim. – ele se inclina para beijá-la.

      De inicio, Duda não consegue se controlar e quase o beijava. Mas recuperou a consciência. Ela tomou o caderno da mão dele, e disse:

           - Se triscar uma unha no meu caderno novamente, arrebento a sua cara!

      Ela se retirou. Bill ficou parado por um tempo, e riu da situação. Depois ele voltou ao acampamento. Mais tarde, o professor de ciências reuniu todos, e avisou que teria de voltar para a cidade, pois um parente havia sofrido um acidente. Mas o assistente ficaria para “cuidar” deles. Os alunos se animaram. E assim que o professor saiu, deram um jeito de planejarem algo.

      O pessoal se reuniu na beira do lado, fizeram fogueira, levaram os violões, e vários tipos de lanches, sem contar as bebidas. O resto ficaria por conta deles. O luau já rolava na maior alegria.

           - Ô Tom, cadê o supervisor? – pergunta Débora.
           - A gente o amarrou na cabana mais afastada. – respondeu.
           - Sério? – pergunta uma aluna.
           - Achou mesmo que ele faria parte da festa?

      E era só alegria. Minutos depois, um dos alunos apareceu com garrafas de bebida.

           - É melhor vigiar a Duda, antes que ela comece a beber. – disse Tom.
           - Não seria uma má idéia. Pelo menos ela confessaria que me ama. – disse Bill.

      Horas mais tarde... Duda e Débora estavam sentadas num dos troncos que fora colocado ali. Elas conversavam sobre várias coisas.

           - O Bill é tão fofo, não é? – diz Débora.
           - Não acho. Ele é metido!
           - Discordo. Ainda não vi garoto mais legal que ele.
           - O irmão é bem mais.
           - Ah, o Tom é uma delicia.
           - Já provou?
           - Não. Mas adoraria.
           - Um-hum.
           - E você?
           - Eu? Ah, eu... eu não.
           - Sei. – Débora olha pra frente. – Aquele ali é o Bill? – ela aponta.
           - Ai meu Deus! – disse Duda. – O Bill tá dançando igual uma bicha! Eu sempre desconfiei desse lado feminino dele. – ela rir.

      Bill dançava estranhamente, com uma garrafa de bebida na mão, enquanto ouvia os amigos – ainda mais bêbados – tentando tocar violão. Os outros só faziam rir. Instantes depois o Tom aparece correndo.

           - Duda, você precisa fazer o Bill parar de beber. – disse ele.
           - E porque eu faria isso? Está tão engraçado. – ele começou a rir.
           - Você tem que fazê-lo parar! – ele repetiu.
           - Ô Tom, você é o irmão! Vai você cuidar dele.
           - Quando você estava bêbada, ele te ajudou.
           - Droga. Eu sabia que ficaria devendo um favor a ele.

      Ela se levanta, e caminha até Bill, que ao vê-la, a abraçou.

           - Você... – soluçou. – Você está... está... está...
           - Diga logo!
           - Linda!
           - Não acha que está na hora de parar de beber?
           - Não. – ele sacudiu a garrafa praticamente no rosto dela. – Eu não acho não. – soluçou.
           - Está sim. Vem, irei te levar pra cabana.

      Duda estava calma, e tentava convencê-lo de todas as formas possíveis. Mas nada parecia estar dando certo.

           - Já sei o que farei. – disse ela.
           - O quê?

      Ela se afasta um pouco do Bill, e lhe dá um soco, o fazendo cair.

           - Ficou maluca?! – diz Tom, se abaixando para pegar o irmão. – Tá querendo matá-lo?!
           - Era o único jeito de fazê-lo ficar quieto. – respondeu. – Agora leva ele.

      Bill foi apoiado no ombro do Tom. Poucos instantes depois, já estavam chegando à cabana. Duda abriu a porta para facilitar as coisas. Tom foi levando-o até o sofá, e o colocou no mesmo.

           - E agora? – pergunta Tom.
           - Acho que deveria dar um banho bem frio nele. – diz Duda.
           - Tá falando sério?
           - Um-hum. Por quê?
           - Porque eu não to nenhum pouco a fim de ver as coisas dele.
           - E o que sugere?
           - Um café bem forte não seria o suficiente?
           - Não precisa tirar a roupa dele. É só colocá-lo debaixo do chuveiro.
           - Mas eu não sou bom nesse tipo de coisa.
           - Tá legal. Então prepara um café bem forte, que eu irei levá-lo.

      Duda apoiou o braço de Bill em seu ombro e foi levando-o. Chegou ao banheiro, e o colocou sentado no sanitário. Caminhou até o chuveiro e o ligou, deixando a água ficar bem fria. Voltou e o pegou novamente, colocando-o debaixo da água.

           - Está fria. – disse ele.
           - Assim é que é bom. – disse ela.
           - Eu quero sair. - ele tentou sair.
           - Mas não irá. - ela impediu. - E enfia logo essa cabeça debaixo da água!

      Bill tremia de tanto frio. E Duda com o maior cuidado possivel, ia ajudando-o a ficar em pé. Até que chegou um momento em que ele a puxou para perto, fazendo-a se molhar inteirinha.

           - Fica aqui comigo. – disse ele. – A água está fria, e dois corpos juntos resolvem o problema.
           - Você é um... – ela se controlou para não xingá-lo.

      Ela tentou se desvencilhar, mas não conseguiu. Numa dessas tentativas, os dois acabaram se desequilibrando, e caíram naquele minúsculo espaço. Ele ficou por cima dela.

           - Você fica ainda mais linda quando está molhada. – disse ele, olhando em seus olhos.
           - Parece que o efeito da bebida já passou.
           - Acho que não.
           - Dá pra sair de cima?
           - Pra quê? Assim está bem melhor.
           - Osso pesa, sabia?
           - Sem graça.
           - Sai logo!

     Bill se levanta com um pouco de dificuldade, em seguida ela faz o mesmo, na maior facilidade, e desliga o chuveiro. Pega uma toalha, e pede que ele se seque, enquanto ela fazia o mesmo consigo. Como suas roupas estavam molhadas, Duda tira sua blusa, deixando seu sutiã rosa claro aparecer, e fica com a calça encharcada.

      Eles saem do banheiro, e ela o leva até o sofá. Tom sai da cozinha para levar a xícara de café, e se depara com aquela garota de sutiã.

           - Uau. – diz ele.
           - O que foi? – pergunta ela.
           - Não acredito que esse corpo foi meu por uma noite.
           - É melhor cuidar do seu irmão, se não quiser perder um dos olhos.
           - Calma. – disse ele, e se aproxima do Bill. – Preparei o café, mas não sei se ficou bom.
           - Deixa eu provar. – diz ela.

      Duda bebe um pouco.

           - Está perfeitamente amargo. – diz ela.

      Tom se sentou ao lado do irmão, e lhe entregou a xícara. Duda por sua vez, se sentou na mesinha de centro, de frente pro Bill, e apoiou seus braços nas pernas.

           - Está amargo! – reclamou Bill.
           - Cale a boca e beba logo! – disse ela.
           - Duda, é melhor você colocar uma blusa. – diz Tom, que olhava descaradamente para os seios dela.
           - É só você parar de me olhar.
           - Digamos que isso seja... praticamente impossível.
           - Vai dizer que está excitado?!
           - Está excitado? – pergunta Bill, fuzilando-o com o olhar.
           - Não. – responde Tom.
           - Ok, ok. Vou colocar uma blusa e trocar essa calça. E você, leve o Bill pro quarto e quando sair feche a porta.

      Duda vai pro quarto, se troca, e aproveita pra dormir. No meio da noite ela acorda para beber um pouco de água, e quando passa pela sala vê que o Bill estava dormindo no sofá. Para não acordá-lo, ela vai até o quarto dele e pega um cobertor. Retorna à sala, e o cobre. Antes de sair dali, dá um leve beijo na bochecha dele, que deixou brotar um minúsculo sorriso nos lábios.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 17 - Ela é...

(Contado pelo Bill)

      O dia já havia amanhecido. Me levantei com cuidado, e apaguei a fogueira que ficara acesa. A Duda dormia tranquilamente, com a cabeça em cima do braço, e um quase sorriso formado nos lábios. Me sentei próximo onde a fogueira havia sido feita, para não acordá-la. Minutos depois...

           - Bill... – disse Duda, e me virei para olhá-la. – Por favor, diga que o que está passando por mim não é uma cobra?

      Sim, era uma cobra. O que eu iria fazer?

           - Tenha calma. – disse. – E fique bem quietinha.
           - Tira ela daqui. – ela aprecia tremer.
           - Eu vou tirar. Mas fique calma.
           - Tira logo!

      Fui me aproximando, e a cobra cada vez mais ficava colada ao corpo dela.

           - Eu não quero morrer. – disse ela.
           - Você não vai morrer!
           - Ela é nojenta. Tira logo! – repetiu.

      E o medo de colocar a minha mão naquele bicho? Entendo que a ela estava com medo. Mas eu também estava e não sabia o que fazer. Aos poucos, a cobra foi saindo dali. Assim que saiu, a Duda se levantou rapidamente.

           - Está bem? – perguntei.
           - O que deu em você? – ela deu m soquinho no meu ombro. – Iria deixar que aquela cobra me picasse?!
           - Ela não fez nada, fez? Então, não precisa ficar desse jeito.
           - Acho que se dependesse de você, eu morreria.
           - Não fale besteiras, e deixa de ser dramática.
           - Não é drama!
           - Vamos parar de conversa, e voltar logo pro acampamento.

      Coloquei minha mochila nas costas, e a nossa caminhada começou. Alguns minutos assim, e ficamos cansados. Paramos um pouco.

           - Você ouviu isso? – pergunta Duda.
           - Ouviu o quê?
           - Parece barulho de água.

      Ela começou a correr na direção que o barulho vinha. Não tive alternativa, a não ser ir atrás.

           - Espera! – disse. – Vai mais devagar!

      Acabamos indo parar numa cachoeira. Nos sentamos nas pedras a beira da mesma. Mas aquilo durou pouco tempo. Duda se levantou, e tirou o short que estava usando.

           - O que está fazendo? – perguntei.
           - Não vou desperdiçar essa oportunidade. – disse ela, tirando sua blusa.

      Ela agora estava usando apenas calcinha e sutiã, vermelhos. Não demorou muito para que ela saltasse na água.

           - Não vai entrar? – pergunta ela.
           - Prefiro ficar aqui.
           - Deixa de ser bobo. A água está uma delicia!
           - Melhor não.
           - Vamos, entre logo!

      A água parecia mesmo muito boa. Acabei não resistindo, e também mergulhei.

           - Você disse que a água estava uma delicia. – disse. – Mas está fria.
           - Foi só uma mentirinha. Dizem que quando dois corpos ficam próximos o calor de um passa para o outro.

      Me aproximei dela, e passei minhas mãos por sua cintura.

           - Assim? – perguntei.
           - Mais perto. – disse ela, e me aproximei ainda mais.
           - Agora está bom?
           - Só falta uma coisa.
           - O quê?
           - Você me beijar.

      Ela sorriu delicadamente, e retribui. Aproximei meus lábios dos seus. De inicio, o beijo foi calmo, e aos poucos fui “pedindo” passagem para que nossas línguas pudessem aproveitar mais. Der repente, a Duda interrompe.

           - O que foi? – perguntei.
           - Não deveríamos ter feito isso.
           - Por quê?
           - Por que... porque não!

      Duda se afastou de mim, e saiu da água. Eu não ficaria ali sozinho, então também sai. Peguei minhas roupas, e fui vestindo-as enquanto tentava acompanhar os passos da Duda.

           - Esperai! – a segurei pelo braço. – Não pode fazer isso.
           - Fazer o quê?
           - Me beijar e depois fugir!
           - Não deveríamos nem termos nos beijados.
           - E pode me dizer por quê?
           - Porque prometi a mim mesma que nunca mais me envolveria contigo novamente!
           - As pessoas mudam, sabia?
           - Sabia sim! Mas não quero correr o risco.

      Ela se desvencilhou, e continuou andando. Fui atrás, e quando a alcancei, novamente segurei em seu braço, fazendo-a virar-se para mim. Quando isso aconteceu, fui rápido e lhe dei um beijo.

           - Pára! – disse ela, se afastando. – Não faz isso.
           - Duda...
           - Vamos voltar logo pro acampamento. E se me beijar de novo, lhe darei um soco!

      Começamos a caminhar. Horas depois, chegamos ao acampamento. Todos estavam desesperados e preocupados com nosso sumiço.

           - Onde vocês estavam? – perguntou o professor.
           - Nós... – Duda tentou dizer.
           - Fomos dar uma volta. – respondi, e ela olhou pra mim.
           - Sem avisar ninguém? – pergunta Tom.
           - Hum. Pra mim, esses dois resolveram fugir pra fazer besteirinhas. – disse Débora.
           - Cale a boca garota! – disse Duda.
           - Ei, ei! – disse o professor. – Vamos parar com isso?
           - Não fizemos nada. – disse.
           - E então, onde estavam? – pergunta o assistente.
           - Já disse que fomos dar uma volta. – repeti.
           - Sairemos daqui cinco minutos para visitar a cachoeira e só voltaremos às 18h00. – disse o professor. – E vocês dois estão de castigo. Não irão conosco.
           - O quê? – perguntou Duda. – Mas isso não é justo!
           - É justo sim. – disse o professor. – Vocês sumiram e nos deixaram preocupados! Não virão conosco e acabou!
           - Tudo bem. – disse. – Além do mais, estamos muito cansados, não é Duda?
           - Não...
           - Estamos sim! – disse.
           - É... nós estamos cansados.

      Todos começaram a caminhar em direção a floresta. Duda e eu fomos para a cabana. Ela pegou sua toalha, e foi tomar um banho. Enquanto isso, eu me sentei no sofá e liguei a televisão. Assim que ela saiu do banheiro, peguei minha toalha. Era a minha vez de ficar limpo.

      Sai do banheiro e fui pro quarto. Ela estava dormindo em minha cama. Não liguei, e fui pro quarto onde ela e a Débora dormem. Me deitei, e logo dormi. Mais tarde, quando todos já haviam voltado do passeio, convidei o Tom para dar uma volta.

      Começamos a andar até chegarmos ao lado, que fica aqui perto. Resolvemos parar por ali mesmo. Tom pegou algumas pedras no chão, e enquanto conversávamos, e ia atirando-as na água.

           - E como vão as coisas lá no seu barraco? – pergunta ele, e joga uma pedra no lado.
           - Normais. – respondi. – A Débora passa a maior parte de tempo fora, e eu e a Duda ficamos sozinhos.
           - E rola alguma coisa?
           - Nada além de brigas. Mas sabe que... eu não a entendo.
           - Como assim?
           - Num instante ela me provoca e parece me odiar, e em outro parece... sei lá, gostar de mim.
           - Acha que ela gosta de você?
           - Não faço idéia. Ela não me deixa descobrir isso.

      Ficamos calados por um tempo. Só se ouvia os barulhos que as pedras faziam ao cair na água.

           - Tenho que te contar uma coisa. – disse.
           - O quê?
           - Promete que não ficará chateado?
           - Ta legal.
           - Lembra daquela vez que cheguei em casa furioso, e descontando toda a raiva em você?
           - Sim, por quê?
           - Naquele dia... naquele dia eu beijei a Duda.
           - Sério? – ele parou de jogar as pedras, e me encarou.
           - Um-hum.
           - Mas deveria ter ficado alegre, e não irritado.
           - Fiquei furioso porque ela me deu um tapa no rosto.
           - Nossa, que agressiva. Pelo menos só rolou uma vez, não é?
           - Não. – respondi.
           - O quê? Então ficaram outras vezes?
           - Só mais uma vez.
           - Quando?
           - Essa manhã.
           - Ô Bill, não acha que está se envolvendo demais com ela não?
           - Acho. Mas o que eu posso fazer?
           - Isso pode soar egoísta, mas... sei lá, porque não se afasta?
           - É um pouco tarde pra isso.
           - Por quê?
           - Porque eu to completamente apaixonado por aquela maluca. – não consegui segurar o sorriso que se formou em meu rosto. – Ela me tira do sério, e é provocante. Mas foi exatamente isso que me fez ficar tão... tão gamado nela. Nunca vi garota igual. Ela é misteriosa, é...
           - Irritante?
           - Não. Ela é incrível.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 16 - Memórias

(Contado pelo Bill)

           - Porque você foi embora? – perguntei.
           - Porque meus pais se separaram. – responde Duda.
           - Sei que não foi só por causa disso. Você adorava Hamburgo, e não iria embora por nada! Tem alguma coisa por trás disso, não tem? O que foi? Me conta.
           - Se tivesse pelo menos um pouco de consciência, talvez soubesse.
           - Do que está falando?
           - Eu não quero falar sobre isso.
           - Mas eu quero! Nunca entendi o motivo da sua partida.
           - E nem precisa entender.

      Ela ficou calada, e virou o rosto para o lado contrário que eu estava.

           - Eu te procurei. – disse, e ela se virou pra mim.
           - Me procurou onde?
           - Em todos os lugares que costumávamos ir. Você sempre ia às aulas, e naquele dia você faltou. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. Fiquei tão preocupado, que acabei zerando a prova de química. O sinal mal havia tocado, e eu fui correndo pra sua casa.
           - Foi até minha casa?
           - Claro! Queria saber onde você estava, o que tinha acontecido.

(Flashback)

      Há cinco ou seis anos atrás...

      Recolhi minha mochila, entreguei a prova – em branco - de química à professora, e sai da classe. Fui até o estacionamento e peguei minha bicicleta. Acelerei o máximo que pude. Cheguei à casa da Duda, toquei a campainha e aguardei.


           - Olá Bill. – disse John, sorrindo.
           - Bom dia senhor Drummond. – disse. – A Duda está?
           - Ela saiu pra dar uma volta com a mãe. Eu te convidaria pra entrar, mas já estou de saída pro trabalho.
           - Não tem problema.
           - Se quiser pode esperar aqui na varanda. Ela não deve demorar muito.
           - Obrigado.

      O pai dela fechou a porta atrás de si, caminhou até o carro, e saiu pro trabalho. Eu me sentei na escada da varanda, e fiquei aguardando. As horas passavam, e nada da Duda chegar. A noite veio, seu pai voltara do trabalho, e ela nem tinha aparecido.

           - Ainda está ai Bill? – pergunta John.
           - O senhor disse que eu poderia esperar, e...
           - Disse sim. – ele me interrompeu. – Mas não achei que fosse ficar.

      John se aproximou, e sentou-se ao meu lado.

           - Tenho que te contar uma coisa. – disse ele.
           - O quê? – perguntei.
           - A Duda não foi dar uma volta.
           - Não? E onde ela está?
           - Ela foi embora.
           - Embora pra onde?
           - Pra Suíça. A mãe dela a levou.
           - E a Duda voltará?
           - Provavelmente não.
           - Mas... porque ela foi?
           - Não sei. Ela iria ficar, mas der repente decidiu acompanhar a mãe.

      Eu era apenas um garoto, que mesmo brigando muito com a Duda, gostava dela. Como estudávamos na mesma sala, éramos inseparáveis. Todo instante brigávamos, colocávamos apelidos um no outro, resumindo tudo, nos odiávamos, e nos amávamos, ao mesmo tempo. E quando ouvi o pai dela dizer que havia ido embora e que não voltaria, senti um aperto no coração, e o chão sumiu dos meus pés. O que eu faria sem a companhia dela? O que seria de mim, sem nossas brigas? Quem iria me bater todas as manhãs? Quem me fuzilaria com seus olhos brilhantes? Quem colaria nas provas, e colocaria a culpa em mim? Quem desafiaria os professores, e me induziria a fazer a mesma coisa? Quem “assaltaria” o mercadinho da esquina toda sexta-feira? Quem pediria a minha bicicleta emprestada por um dia, e só devolveria na semana seguinte? Quem colocaria defeito nas minhas roupas? Quem me daria um abraço apertado após ganhar um jogo de vôlei? Quem estaria ao meu lado?

      Cheguei em casa, e fui direto pro quarto. Tranquei a porta, joguei a mochila no chão, me deitei na cama e comecei a chorar. Já estava sentindo a falta dela, mesmo não tendo passado nem vinte e quatro horas. Eu só queria ouvir sua voz.

(/Flashback)

           - Você chorou quando parti? – pergunta Duda, incrédula.
           - Inúmeras vezes. – respondi. – Mas eu sei que não foi embora simplesmente por que seus pais se separaram.
           - Se lembra da última coisa que me falou no dia anterior?
           - Não. O que foi que eu disse?

–--
(Contado pela Duda)

(Flashback)

      Ainda era de manhã, e cheguei ao colégio toda feliz. Estava decidida a contar absolutamente tudo que sentia por ele, mesmo correndo o risco de levar o maior fora da história. Fiquei esperando todas as aulas acabarem, para conversar com o Bill. E assim que o sinal tocou, fiquei esperando por ele em frente ao colégio. Vários alunos aguardavam seus pais, outros conversavam, cantavam, e até corriam por ali. Uma colega me ajudaria no plano. O avistei de longe, respirei fundo, e fui caminhando em sua direção.

           - Oi Bill. – disse, sorrindo.
           - Oi. – responde ele, sem muito entusiasmo.

      Ele estava acompanhado de alguns colegas, o que me fez ficar ainda mais nervosa e tímida. Minhas bochechas começaram a ficar vermelhas. Mas eu tinha que dizer! Tinha que acabar com aquilo logo!

           - Conta logo pra ele. – minha amiga sussurrou.
           - Contar o quê? – pergunta Bill.
           - É que... – gaguejei.
           - Ela está apaixonada por você! – minha amiga confessou por mim.

      Se antes a minha voz estava com dificuldades pra sair, depois disso, ela sumiu literalmente.

           - Apaixonada? – um dos amigos dele perguntou.
           - Sim. Muito apaixonada. – novamente ela falou por mim.
           - Só pode ser brincadeira, não é? – pergunta Bill.
           - Por quê? – finalmente falei.
           - Seria uma perda de tempo. – respondeu ele. – Acha mesmo que daríamos certo? Você é irritante, chata, marrenta, cabeça dura... Esse é o tipo de combinação que nunca iria pra frente.

      Os amigos dele começaram a rir. Minha amiga ficou calada. Eu, fiquei paralisada, sem saber o que dizer.

           - Não perca o seu tempo. – disse ele. – Porque eu não perderia o meu.

      Bill e seus amigos se retiraram. Continuei lá parada, sem saber o que fazer. Senti meus olhos lacrimejarem, em seguida as lágrimas molharam meu rosto. Eu não queria que ninguém me visse chorar, então larguei todos os meus livros ali no chão, e fui correndo pra casa.

      Assim que cheguei, minha mãe estava no quarto terminando de arrumar as suas coisas para a viagem. Fiquei parada na porta, a observando.

           - Duda, o que faz parada ai? – pergunta ela.
           - Mamãe, eu posso... posso ir com você? – me aproximei, com vontade de chorar.
           - Claro! – responde, e a abraço, chorando. – Mas... mas o que houve? Porque está chorando?
           - Eu só quero ir embora. Não me deixe aqui.

(/Flashback)

           - Não perca o seu tempo. Porque eu não perderia o meu. – Bill repetiu a frase que ele havia dito há tanto tempo atrás.
           - Esse foi o principal motivo de eu ter partido com a minha mãe. – disse.
           - Não dá pra acreditar no quão idiota eu fui. – disse ele. – Eu devo ter te machucado muito com isso, não é?
           - Ainda tem alguma dúvida?
           - Droga. Como eu sou idiota.
           - Nisso você tem razão.

      Ele se aproximou de mim, e se sentou ao meu lado.

           - Me perdoa? – disse ele. – Me perdoa por tudo. Eu não deveria ter dito nada daquilo.
           - Mas disse. E certas coisas são complicadas de se esquecer.
           - Eu sei.
           - Acha que pedir perdão agora irá adiantar alguma coisa?
           - Duda, eu não posso fazer com que o tempo volte pra poder mudar tudo. Mas posso concertar agora.
           - Como?

–--
(Contado pelo Bill)

      Duda perguntou como eu mudaria o passado, e eu não tinha a resposta pra isso. Apenas senti que era exatamente ali que eu queria e deveria estar; ao lado dela. E talvez, eu consiga mudar alguma coisa. Eu não poderia imaginar o que ela sentiu quando disse aquelas coisas. Mas agora, consigo até me colocar em seu lugar.

      Horas depois, estávamos sentados mais próximos da rocha para nos livrar do frio que estava aumentando.

           - Vem cá. – disse. – Deite-se aqui.

      Ofereci meu peito para que ela pudesse ficar mais “confortável”, mesmo sabendo que não adiantaria muita coisa. Ela resistiu, e após muita insistência, acabou cedendo.

           - Obrigada. – disse ela.
           - Não precisa agradecer.

      Minutos depois, ela já dormia. Com o braço esquerdo, peguei minha blusa que estava em cima da mochila, e cobri parte do seu corpo. Depois fiquei mexendo em seus cabelos. Acabei adormecendo também.

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 15 - Como ela é teimosa

(Contado pelo Bill)

      Por mais que eu quisesse me afastar, não estava conseguindo. Nossos rostos estavam ficando cada vez mais próximos agora. Nossas respirações iam se alterando.

           - Acho que ganhou. – disse ela, num quase sussurro.

      Me afastei um pouco.

           - É, eu ganhei. – disse.
           - Não acredito que vou ter que ficar dois dias sem te xingar.
           - E tá achando ruim?
           - Claro! É divertido xingar você.
           - Engraçadinha.
           - Adoraria ver você dormindo naquele sofá.
           - Pena que não terá esse prazer.
           - É uma pena mesmo.
           - Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde.

      Fomos os últimos a chegar ao acampamento. E acho que conseguimos pegar o máximo de plantas possíveis. Uma fogueira havia sido acessa, e pequenos troncos de árvores colocados em volta para que pudéssemos nos sentar. Dois dos alunos levaram violões, o Tom pegou um deles e começou a tocar. Me pediram para cantar, e como insistiram tanto, acabei aceitando.

      Mais tarde... Eu estava assistindo televisão, a Débora estava com o namorado, e a Duda se encontrava no quarto.

           - Droga! – ela gritou.

      Instantes depois ela sai do quarto, nervosa. Parecia estar procurando algo.

           - Precisa de ajuda? – perguntei.
           - Não, obrigada.

      Aquele desespero dela estava me fazendo ficar preocupado e curioso pra saber o que estava acontecendo. Ela se aproximou do sofá, e começou a jogar as almofadas pro alto. Foi ai que tive a certeza de que estava mesmo procurando por alguma coisa. Me levantei, e a segui.

           - Dá pra me falar o que está acontecendo?

      Ela parou de vez, e me encarou.

           - Acho que perdi algo de extrema importância.
           - E o que seria?
           - Um lenço que a minha mãe me deu antes de eu vir pra Hamburgo.
           - Você deve ter guardado ele em algum lugar.
           - Já procurei em tudo, revirei todos os cantos e não encontrei.
           - Fica calma.
           - Não posso ter calma! Aquela era única lembrança que trouxe comigo!
           - Eu vou te ajudar a procurar. De que cor era?
           - Branco com caveiras pretas.

      Passamos um tempão procurando pela cabana, e nada.

           - Já sei! – disse ela.
           - Encontrou? – perguntei.
           - Não. Mas eu sei onde o perdi.
           - Onde?
           - Na floresta.
           - Tem certeza?
           - Absoluta.

      Duda abriu sua mochila, pegou um casaco, em seguida o vestindo. Depois pegou a lanterna.

           - O que está pensando em fazer?
           - Vou procurar o lenço.
           - Está brincando, não é?
           - Não.
           - Duda, são 21h14. Não pode sair a essa hora!
           - Eu preciso ir.
           - Você só pode estar maluca! Se esperar até amanhã...
           - Não posso esperar! – ela me interrompeu.
           - É perigoso vagar por ai. E além do mais, vai ser difícil encontrar qualquer tipo de coisa nessa escuridão.
           - Você realmente não sabe o quanto aquele lenço é importante pra mim.
           - Entendo que seja importante. Mas não pode arriscar sua vida!

      Vi os olhos dela se encherem de lágrimas. Aquilo me deu um aperto no coração.

           - É muito importante. – ela disse, em seguida desceram lágrimas de seus olhos.

      Me aproximei com um certo medo. Iria abraçá-la, mas ela se adiantou. Duda me abraçou fortemente, e chorou. Passei minha mão por seus cabelos, e ela continuava chorando. Senti até minha blusa molhar um pouco.

           - Irei te ajudar. – disse, e ela se afastou um pouco para me olhar.
           - Obrigada.

      Eu ainda não estava acreditando naquilo. Vesti um casaco, peguei outra lanterna. Alguma coisa me dizia que isso não daria muito certo.

           - Espera. – disse.
           - O que foi? Vai desistir?
           - Não. Só vou pegar minha mochila.

      Entrei novamente na cabana, avisei a mochila num canto, fui até lá e a coloquei em minhas costas. A noite não estava fria, somente ventando. O céu estava estrelado, e a lua cheia – o que facilitava mais a nossa visão. Saímos cuidadosamente para não acordarmos ninguém. Quando chegamos à entrada da floresta, olhei pra ela. Talvez quisesse mudar de idéia, mas me enganei. Duda parecia mesmo decidida a entrar lá e procurar o lenço que sua mãe havia lhe presenteado.

      Ficamos caminhando, pelo que me pareceram, por uma hora, com as lanternas acesas. Não encontramos nada.

           - Duda, é melhor voltarmos. – disse.
           - Só sairei daqui quando encontrá-lo.
           - Como você é cabeça dura, hein?
           - Desculpa dizer isso, mas... Se quiser pode voltar pro acampamento.
           - E deixar você sozinha? Nem pensar!

      Cada vez mais íamos nos distanciando do acampamento, e nada de encontrarmos o tal lenço. Comecei a achar que não havia mais esperanças, que o lenço não seria mais encontrado.

           - Achei! – disse ela.

      Cheguei mais perto dela. Duda “abraçou” o lenço, em seguida o amarrou em sua cintura. Soltei um suspiro de alivio.

           - Vamos voltar antes que sintam a nossa falta. – disse.
           - Ok.

      Nos viramos, e ficamos paralisados. A mata era um tanto fechada. Havíamos caminhado tanto, que nem percebemos o quanto nos distanciamos. Olhei pro relógio em meu pulso.

           - Estamos andando há três horas. – disse.
           - Por favor, diga que trouxe uma bússola? – pergunta ela.
           - Vou ver na mochila.

      Procurei em todos os bolsos, e nada de bússola.

           - Nada. – disse.
           - Perfeito, estamos perdidos.
           - Eu sabia que essa não era uma boa idéia. Disse pra esperar até amanhã.
           - Não vem me culpar não. Você que não trouxe a bússola.
           - Não iremos brigar numa hora dessas, não é?
           - Nem devemos. – ela fez uma pequena pausa. – Tem alguma idéia de como podemos chegar ao acampamento?
           - Não. O Tom é quem conhece melhor esse lugar.
           - Deveríamos ter chamado ele.
           - Como se pudesse adivinhar que isso aconteceria.
           - Acha que dá pra chegarmos antes que o dia amanheça?
           - Duvido.
           - E o que faremos?
           - Sugiro que encontremos um lugar para passar a noite.

      Caminhamos mais um pouco, até encontrarmos uma imensa rocha, que se curvava um pouco, quase formando a entrada de uma caverna. Nos sentamos no chão mesmo.

           - A pilha da lanterna está perdendo a força. – disse ela. – Não tem um isqueiro?
           - Não está pensando em colocar fogo em alguma coisa, está?
           - Prefere ficar no escuro?

      Abri a mochila, e encontrei um. Entreguei-lhe. Duda pegou algumas folhas secas e acendeu o isqueiro. A fogueira não era grande, mas aquecia. Coloquei a mochila num cantinho, e me aproximei mais da fogueira. Ela abraçou os joelhos, e também se aproximou mais do fogo. O silêncio era total, dava para se ouvir apenas o barulho que as árvores faziam quando o vento batia, e os grilos.

           - Ei Bill. – disse ela, quebrando aquele incômodo silêncio. – Me desculpa.
           - E está se desculpando por quê?
           - Se não fosse pela minha teimosia, você não estaria nessa situação.
           - Tem razão. Mas se eu não tivesse vindo você poderia estar desesperada.

      Após isso, rimos, e novamente o silêncio tomou conta. Aquilo estava ficando chato, e acabei perguntando-lhe a primeira coisa que me veio na mente.

           - Gostou de ter transado com o Tom?
           - O quê? – ela virou seu rosto para me olhar. Parecia não acreditar naquela pergunta que eu acabara de fazer.
           - Quero dizer... gostou de ter saído com ele?
           - Não sei... Acho que... acho que sim. Porque a pergunta?
           - Curiosidade.
           - Eu te conheço, e sei que não era isso que queria me perguntar.
           - É verdade.
           - Então, pergunte logo!
           - Porque você foi embora?

Postado por: Grasiele

Love And Hate - Capítulo 14 - Primeira Prova

(Contado pela 3º pessoa)

      A primeira noite ali no acampamento foi tranqüila. Os alunos não fizeram absolutamente nada. Estavam cansados, e por isso dormiram cedo. O dia amanheceu, os passarinhos começaram a cantar, as árvores balançavam. No céu, nada de nuvens, e o Sol brilhava fortemente. Aos poucos, todos foram despertando.

      Duda abriu os olhos devagar, e se deparou com o rosto de Débora que estava frente a frente com o seu. Se tivessem mais próximas, um beijo sairia. Duda gritou, e caiu da cama, acabou acordando Débora e Bill, que dormia em outro quarto.

           - O que houve? – pergunta Bill, abrindo a porta do quarto.
           - Não sei. – responde Débora.
           - Você é maluca ou o quê? – pergunta Duda. – Esse negócio de dormirmos juntas não dá certo!
           - Porque não? – pergunta Débora.
           - Porque você estava quase me beijando! – responde ela.

      Bill começou a rir.

           - Tá rindo do quê? – diz Duda.
           - Vocês são engraçadas. – responde ele.
           - Engraçado vai ser eu me levantar daqui e dar um soco na sua cara! – diz Duda.
           - Ignorante! – diz ele.
           - Pessoal! – grita Débora. – Ô Duda, se você não quer dormir comigo, então prefere dormir com o Bill?
           - N-Não. – ela gagueja. – Claro que não! Eu só não quero que fique tão perto.
           - Vamos fazer o seguinte: eu durmo nesse quarto, e você dorme no quarto que o Bill está. – disse Débora.
           - Esperai, - diz Bill. – E eu?
           - Você dorme no sofá. – responde Duda.
           - Nem pensar! – diz ele. – Vocês que se resolvam ai. Só sei que eu não irei sair daquele quarto.

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(Contado pelo Bill)

      Era só o que me faltava. As duas não dão certo na mesma cama, e agora decidem me expulsar do quarto. Acho graça dessas coisas. Sai do quarto, e deixei as duas conversando. Tomei um banho, coloquei minha roupa, e fui para a pequena cozinha da cabana. Preparei o café. Minutos depois a Débora sai do quarto toda arrumada, e vai em direção a porta. Ela não tomou o café da manhã ali, e provavelmente deve ter ido se encontrar com o namorado. A Duda apareceu, e trajava uma regata branca, um mini short cor de rosa, usava também uma meia ¾ preta e branca, e nos pés uma pantufa com cabeças de porcos, também rosa. Aquela roupa fez com suas curvas ficassem mais a mostra.

      Continuei tomando meu café. Ela foi até o armário para pegar algo, mas não alcançava. Levantava os pés, mas ainda assim não conseguia. Ao mesmo tempo em que levantava os pés, seu bumbum parecia acompanhar, e ficava empinado. Seu short parecia diminuir a cada tentativa.

           - Poderia parar de olhar pra minha bunda e vir aqui me ajudar?

      Como ela sabia que eu estava olhando se estava de costas?

           - Vai me ajudar ou não?
           - O que você quer? – me levantei e fui até lá.
           - O pote de biscoitos que você não colocou na mesa.

      Sem esforço algum, estiquei o braço e peguei o pote, em seguida lhe entreguei.

           - Obrigada. – disse ela.
           - Por nada.

      Me sentei e continuei a refeição. Duda só se sentou após pegar um copo para por o suco. Permanecemos calados o tempo todo, e também não trocamos olhares em momento algum.

           - Porque voltou? – quebrei o silêncio.
           - O quê?
           - Porque resolveu voltar der repente?
           - Pra quê quer saber?
           - Curiosidade.
           - Acho que deveria segurar um pouco essa sua curiosidade.
           - Não custa nada falar.
           - Não tive outra escolha, fui forçada a vir. Pronto, satisfez a sua curiosidade?
           - Um-hum.

      Essa não era a pergunta que eu queria ter feito. Na verdade, eu queria mesmo era saber por que havia ido embora. Mas me contive e não fiz mais nenhuma pergunta.

           - É melhor colocar uma roupa decente. – disse.
           - Está incomodado?
           - Não. Mas outras pessoas ficariam.
           - Estamos sozinhos, e a única pessoa que poderia reclamar, seria você. Mas como disse que não está incomodado, não irei trocar.
           - Daqui dez minutos iremos encontrar o professor. Vai vestida desse jeito?
           - Óbvio que não.
           - Então, se não quer se atrasar é melhor trocar.

      Ela se levantou, colocou a louça na pia e foi pro quarto. Fui até o banheiro e fiz minha higiene bucal. Voltei à sala, e liguei a televisão. Cinco minutos depois a Duda aparece e sai da cabana. Desliguei a TV e também sai. Vários alunos já estavam reunidos na área próxima ao restaurante. O professor começou a fazer a chamada, e conforme isso ia acontecendo, íamos respondendo.

           - Já que estão todos aqui, irei passar a primeira prova. – disse ele. – Junior, entregue os catálogos aos trios.

      Junior, assistente do professor, começou a nos entregar catálogos com fotos de plantas.

           - Todas essas plantas que estão vendo, existe aqui no acampamento. Vocês precisam encontrá-las e trazê-las até mim, antes que anoiteça. – disse ele.
           - Mas onde começaremos a procurar? – pergunta Débora.
           - Na floresta. – responde o professor. – Levem tudo que precisarem; bússola, lanterna – caso se percam -, lanches, casacos... Esse tipo de coisa.
           - Quando começaremos? – pergunta outro aluno.

      O professor olha no relógio.

           - Quero que comecem às 13h00, em ponto. – respondeu. – E estejam aqui até as 19h00.

      Voltamos para a cabana e arrumamos as mochilas para sair à procura das plantas. Estou começando a me arrepender de ter vindo pra cá. No horário marcado, saímos em direção a floresta. Mal começamos a procurar, e a Débora já começara a colocar defeitos.

           - Tô cansada. – disse ela.
           - Acabamos de começar. – disse.
           - É nisso que dá ser tão mimada. – disse Duda.
           - Bill, posso te pedir um favor?
           - Qual?
           - Combinei de encontrar o David, será que pode quebrar esse galho pra mim?
           - E quando eu lhe coloco apelidos, você não gosta. – disse Duda.
           - Que apelido? – perguntei.
           - Ela acabou de te chamar de macaco. – disse Duda. - Vai deixar por isso mesmo?
           - Não. – disse Débora. – Não foi isso que eu disse. Só pedi que me cobrisse, para que o professor não descubra.
           - Sei. Mas no fundo, você bem que gostaria de chamá-lo de macaco, confessa.
           - Ô Débora, vai encontrar com seu namorado, que eu continuo procurando as plantas. – disse, para que não começasse uma briga.

      Duda e eu continuamos o caminho.

           - Achei uma! – disse, e ela se aproximou para ver.
           - Não, essa não é igual.
           - É sim.
           - Não é não!
           - Claro que é!
           - Tem miopia por acaso? Tá na cara que não é a mesma!
           - É sim! – repeti.
           - Ô garoto burro! Então tá, leva essa. Mas eu tô dizendo que não é a mesma.
           - Você acha que sabe tudo, não é?
           - Eu não acho, tenho certeza. Bill repare bem nos detalhes. Esta daqui – ela apontou pro papel. -, não tem essas linhas fininhas em cor de rosa.

      E não é que ela tinha razão?

           - Ta legal. – disse.
           - Viu só? Eu sei das coisas. – ela se gabou.

      Continuamos a procura. Passamos o caminho praticamente inteiro brigando.

           - Já chega! – disse. – Não agüento mais ficar perto de você.
           - Perfeito, porque também não agüento mais ouvir sua voz!
           - Ótimo.
           - Ótimo. – ela repetiu. – Você vai por esse lado, que eu vou por esse.
           - Não conseguirá ficar sozinha um só minuto.
           - Quer apostar?
           - Quero.

      Se eu perdesse, teria que dormir na sala, enquanto ela ficaria no meu quarto. Mas se ela não conseguisse, iria ficar dois dias sem me xingar. Apertamos as mãos, selando a aposta. Fui pro lado esquerdo, e ela pro direito. Tudo estava indo perfeitamente bem, quando ouço gritos, que vinham na direção contrária a que eu estava. Corri para saber o que era. De longe vi a Duda batendo suas mãos pelo corpo, e correndo.

           - O que foi? – perguntei.
           - Um besouro grudou em mim! – ela gritou.

      Uma imensa vontade de rir apareceu. Mas me controlei. Sei o quanto ela tem medo de insetos. Me aproximei, pra tentar enxergar onde o besouro estava. Fiquei atrás dela, para continuar procurando. Acabei encontrando uma joaninha no ombro dela. Quando direcionei minha mão para pegá-la, a Duda se vira, perguntando:

           - Já tirou?

      Estávamos próximos demais um do outro. E mais uma vez, pude senti aquele perfume que ficara impregnado em meu travesseiro. Por mais que eu quisesse me afastar, não estava conseguindo.

Postado por: Grasiele

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