(Contado pelo Bill)
Por mais que eu quisesse me afastar, não estava conseguindo. Nossos rostos estavam ficando cada vez mais próximos agora. Nossas respirações iam se alterando.
- Acho que ganhou. – disse ela, num quase sussurro.
Me afastei um pouco.
- É, eu ganhei. – disse.
- Não acredito que vou ter que ficar dois dias sem te xingar.
- E tá achando ruim?
- Claro! É divertido xingar você.
- Engraçadinha.
- Adoraria ver você dormindo naquele sofá.
- Pena que não terá esse prazer.
- É uma pena mesmo.
- Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde.
Fomos os últimos a chegar ao acampamento. E acho que conseguimos pegar o máximo de plantas possíveis. Uma fogueira havia sido acessa, e pequenos troncos de árvores colocados em volta para que pudéssemos nos sentar. Dois dos alunos levaram violões, o Tom pegou um deles e começou a tocar. Me pediram para cantar, e como insistiram tanto, acabei aceitando.
Mais tarde... Eu estava assistindo televisão, a Débora estava com o namorado, e a Duda se encontrava no quarto.
- Droga! – ela gritou.
Instantes depois ela sai do quarto, nervosa. Parecia estar procurando algo.
- Precisa de ajuda? – perguntei.
- Não, obrigada.
Aquele desespero dela estava me fazendo ficar preocupado e curioso pra saber o que estava acontecendo. Ela se aproximou do sofá, e começou a jogar as almofadas pro alto. Foi ai que tive a certeza de que estava mesmo procurando por alguma coisa. Me levantei, e a segui.
- Dá pra me falar o que está acontecendo?
Ela parou de vez, e me encarou.
- Acho que perdi algo de extrema importância.
- E o que seria?
- Um lenço que a minha mãe me deu antes de eu vir pra Hamburgo.
- Você deve ter guardado ele em algum lugar.
- Já procurei em tudo, revirei todos os cantos e não encontrei.
- Fica calma.
- Não posso ter calma! Aquela era única lembrança que trouxe comigo!
- Eu vou te ajudar a procurar. De que cor era?
- Branco com caveiras pretas.
Passamos um tempão procurando pela cabana, e nada.
- Já sei! – disse ela.
- Encontrou? – perguntei.
- Não. Mas eu sei onde o perdi.
- Onde?
- Na floresta.
- Tem certeza?
- Absoluta.
Duda abriu sua mochila, pegou um casaco, em seguida o vestindo. Depois pegou a lanterna.
- O que está pensando em fazer?
- Vou procurar o lenço.
- Está brincando, não é?
- Não.
- Duda, são 21h14. Não pode sair a essa hora!
- Eu preciso ir.
- Você só pode estar maluca! Se esperar até amanhã...
- Não posso esperar! – ela me interrompeu.
- É perigoso vagar por ai. E além do mais, vai ser difícil encontrar qualquer tipo de coisa nessa escuridão.
- Você realmente não sabe o quanto aquele lenço é importante pra mim.
- Entendo que seja importante. Mas não pode arriscar sua vida!
Vi os olhos dela se encherem de lágrimas. Aquilo me deu um aperto no coração.
- É muito importante. – ela disse, em seguida desceram lágrimas de seus olhos.
Me aproximei com um certo medo. Iria abraçá-la, mas ela se adiantou. Duda me abraçou fortemente, e chorou. Passei minha mão por seus cabelos, e ela continuava chorando. Senti até minha blusa molhar um pouco.
- Irei te ajudar. – disse, e ela se afastou um pouco para me olhar.
- Obrigada.
Eu ainda não estava acreditando naquilo. Vesti um casaco, peguei outra lanterna. Alguma coisa me dizia que isso não daria muito certo.
- Espera. – disse.
- O que foi? Vai desistir?
- Não. Só vou pegar minha mochila.
Entrei novamente na cabana, avisei a mochila num canto, fui até lá e a coloquei em minhas costas. A noite não estava fria, somente ventando. O céu estava estrelado, e a lua cheia – o que facilitava mais a nossa visão. Saímos cuidadosamente para não acordarmos ninguém. Quando chegamos à entrada da floresta, olhei pra ela. Talvez quisesse mudar de idéia, mas me enganei. Duda parecia mesmo decidida a entrar lá e procurar o lenço que sua mãe havia lhe presenteado.
Ficamos caminhando, pelo que me pareceram, por uma hora, com as lanternas acesas. Não encontramos nada.
- Duda, é melhor voltarmos. – disse.
- Só sairei daqui quando encontrá-lo.
- Como você é cabeça dura, hein?
- Desculpa dizer isso, mas... Se quiser pode voltar pro acampamento.
- E deixar você sozinha? Nem pensar!
Cada vez mais íamos nos distanciando do acampamento, e nada de encontrarmos o tal lenço. Comecei a achar que não havia mais esperanças, que o lenço não seria mais encontrado.
- Achei! – disse ela.
Cheguei mais perto dela. Duda “abraçou” o lenço, em seguida o amarrou em sua cintura. Soltei um suspiro de alivio.
- Vamos voltar antes que sintam a nossa falta. – disse.
- Ok.
Nos viramos, e ficamos paralisados. A mata era um tanto fechada. Havíamos caminhado tanto, que nem percebemos o quanto nos distanciamos. Olhei pro relógio em meu pulso.
- Estamos andando há três horas. – disse.
- Por favor, diga que trouxe uma bússola? – pergunta ela.
- Vou ver na mochila.
Procurei em todos os bolsos, e nada de bússola.
- Nada. – disse.
- Perfeito, estamos perdidos.
- Eu sabia que essa não era uma boa idéia. Disse pra esperar até amanhã.
- Não vem me culpar não. Você que não trouxe a bússola.
- Não iremos brigar numa hora dessas, não é?
- Nem devemos. – ela fez uma pequena pausa. – Tem alguma idéia de como podemos chegar ao acampamento?
- Não. O Tom é quem conhece melhor esse lugar.
- Deveríamos ter chamado ele.
- Como se pudesse adivinhar que isso aconteceria.
- Acha que dá pra chegarmos antes que o dia amanheça?
- Duvido.
- E o que faremos?
- Sugiro que encontremos um lugar para passar a noite.
Caminhamos mais um pouco, até encontrarmos uma imensa rocha, que se curvava um pouco, quase formando a entrada de uma caverna. Nos sentamos no chão mesmo.
- A pilha da lanterna está perdendo a força. – disse ela. – Não tem um isqueiro?
- Não está pensando em colocar fogo em alguma coisa, está?
- Prefere ficar no escuro?
Abri a mochila, e encontrei um. Entreguei-lhe. Duda pegou algumas folhas secas e acendeu o isqueiro. A fogueira não era grande, mas aquecia. Coloquei a mochila num cantinho, e me aproximei mais da fogueira. Ela abraçou os joelhos, e também se aproximou mais do fogo. O silêncio era total, dava para se ouvir apenas o barulho que as árvores faziam quando o vento batia, e os grilos.
- Ei Bill. – disse ela, quebrando aquele incômodo silêncio. – Me desculpa.
- E está se desculpando por quê?
- Se não fosse pela minha teimosia, você não estaria nessa situação.
- Tem razão. Mas se eu não tivesse vindo você poderia estar desesperada.
Após isso, rimos, e novamente o silêncio tomou conta. Aquilo estava ficando chato, e acabei perguntando-lhe a primeira coisa que me veio na mente.
- Gostou de ter transado com o Tom?
- O quê? – ela virou seu rosto para me olhar. Parecia não acreditar naquela pergunta que eu acabara de fazer.
- Quero dizer... gostou de ter saído com ele?
- Não sei... Acho que... acho que sim. Porque a pergunta?
- Curiosidade.
- Eu te conheço, e sei que não era isso que queria me perguntar.
- É verdade.
- Então, pergunte logo!
- Porque você foi embora?
Postado por: Grasiele
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