terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 15 - Como ela é teimosa

(Contado pelo Bill)

      Por mais que eu quisesse me afastar, não estava conseguindo. Nossos rostos estavam ficando cada vez mais próximos agora. Nossas respirações iam se alterando.

           - Acho que ganhou. – disse ela, num quase sussurro.

      Me afastei um pouco.

           - É, eu ganhei. – disse.
           - Não acredito que vou ter que ficar dois dias sem te xingar.
           - E tá achando ruim?
           - Claro! É divertido xingar você.
           - Engraçadinha.
           - Adoraria ver você dormindo naquele sofá.
           - Pena que não terá esse prazer.
           - É uma pena mesmo.
           - Acho melhor voltarmos. Está ficando tarde.

      Fomos os últimos a chegar ao acampamento. E acho que conseguimos pegar o máximo de plantas possíveis. Uma fogueira havia sido acessa, e pequenos troncos de árvores colocados em volta para que pudéssemos nos sentar. Dois dos alunos levaram violões, o Tom pegou um deles e começou a tocar. Me pediram para cantar, e como insistiram tanto, acabei aceitando.

      Mais tarde... Eu estava assistindo televisão, a Débora estava com o namorado, e a Duda se encontrava no quarto.

           - Droga! – ela gritou.

      Instantes depois ela sai do quarto, nervosa. Parecia estar procurando algo.

           - Precisa de ajuda? – perguntei.
           - Não, obrigada.

      Aquele desespero dela estava me fazendo ficar preocupado e curioso pra saber o que estava acontecendo. Ela se aproximou do sofá, e começou a jogar as almofadas pro alto. Foi ai que tive a certeza de que estava mesmo procurando por alguma coisa. Me levantei, e a segui.

           - Dá pra me falar o que está acontecendo?

      Ela parou de vez, e me encarou.

           - Acho que perdi algo de extrema importância.
           - E o que seria?
           - Um lenço que a minha mãe me deu antes de eu vir pra Hamburgo.
           - Você deve ter guardado ele em algum lugar.
           - Já procurei em tudo, revirei todos os cantos e não encontrei.
           - Fica calma.
           - Não posso ter calma! Aquela era única lembrança que trouxe comigo!
           - Eu vou te ajudar a procurar. De que cor era?
           - Branco com caveiras pretas.

      Passamos um tempão procurando pela cabana, e nada.

           - Já sei! – disse ela.
           - Encontrou? – perguntei.
           - Não. Mas eu sei onde o perdi.
           - Onde?
           - Na floresta.
           - Tem certeza?
           - Absoluta.

      Duda abriu sua mochila, pegou um casaco, em seguida o vestindo. Depois pegou a lanterna.

           - O que está pensando em fazer?
           - Vou procurar o lenço.
           - Está brincando, não é?
           - Não.
           - Duda, são 21h14. Não pode sair a essa hora!
           - Eu preciso ir.
           - Você só pode estar maluca! Se esperar até amanhã...
           - Não posso esperar! – ela me interrompeu.
           - É perigoso vagar por ai. E além do mais, vai ser difícil encontrar qualquer tipo de coisa nessa escuridão.
           - Você realmente não sabe o quanto aquele lenço é importante pra mim.
           - Entendo que seja importante. Mas não pode arriscar sua vida!

      Vi os olhos dela se encherem de lágrimas. Aquilo me deu um aperto no coração.

           - É muito importante. – ela disse, em seguida desceram lágrimas de seus olhos.

      Me aproximei com um certo medo. Iria abraçá-la, mas ela se adiantou. Duda me abraçou fortemente, e chorou. Passei minha mão por seus cabelos, e ela continuava chorando. Senti até minha blusa molhar um pouco.

           - Irei te ajudar. – disse, e ela se afastou um pouco para me olhar.
           - Obrigada.

      Eu ainda não estava acreditando naquilo. Vesti um casaco, peguei outra lanterna. Alguma coisa me dizia que isso não daria muito certo.

           - Espera. – disse.
           - O que foi? Vai desistir?
           - Não. Só vou pegar minha mochila.

      Entrei novamente na cabana, avisei a mochila num canto, fui até lá e a coloquei em minhas costas. A noite não estava fria, somente ventando. O céu estava estrelado, e a lua cheia – o que facilitava mais a nossa visão. Saímos cuidadosamente para não acordarmos ninguém. Quando chegamos à entrada da floresta, olhei pra ela. Talvez quisesse mudar de idéia, mas me enganei. Duda parecia mesmo decidida a entrar lá e procurar o lenço que sua mãe havia lhe presenteado.

      Ficamos caminhando, pelo que me pareceram, por uma hora, com as lanternas acesas. Não encontramos nada.

           - Duda, é melhor voltarmos. – disse.
           - Só sairei daqui quando encontrá-lo.
           - Como você é cabeça dura, hein?
           - Desculpa dizer isso, mas... Se quiser pode voltar pro acampamento.
           - E deixar você sozinha? Nem pensar!

      Cada vez mais íamos nos distanciando do acampamento, e nada de encontrarmos o tal lenço. Comecei a achar que não havia mais esperanças, que o lenço não seria mais encontrado.

           - Achei! – disse ela.

      Cheguei mais perto dela. Duda “abraçou” o lenço, em seguida o amarrou em sua cintura. Soltei um suspiro de alivio.

           - Vamos voltar antes que sintam a nossa falta. – disse.
           - Ok.

      Nos viramos, e ficamos paralisados. A mata era um tanto fechada. Havíamos caminhado tanto, que nem percebemos o quanto nos distanciamos. Olhei pro relógio em meu pulso.

           - Estamos andando há três horas. – disse.
           - Por favor, diga que trouxe uma bússola? – pergunta ela.
           - Vou ver na mochila.

      Procurei em todos os bolsos, e nada de bússola.

           - Nada. – disse.
           - Perfeito, estamos perdidos.
           - Eu sabia que essa não era uma boa idéia. Disse pra esperar até amanhã.
           - Não vem me culpar não. Você que não trouxe a bússola.
           - Não iremos brigar numa hora dessas, não é?
           - Nem devemos. – ela fez uma pequena pausa. – Tem alguma idéia de como podemos chegar ao acampamento?
           - Não. O Tom é quem conhece melhor esse lugar.
           - Deveríamos ter chamado ele.
           - Como se pudesse adivinhar que isso aconteceria.
           - Acha que dá pra chegarmos antes que o dia amanheça?
           - Duvido.
           - E o que faremos?
           - Sugiro que encontremos um lugar para passar a noite.

      Caminhamos mais um pouco, até encontrarmos uma imensa rocha, que se curvava um pouco, quase formando a entrada de uma caverna. Nos sentamos no chão mesmo.

           - A pilha da lanterna está perdendo a força. – disse ela. – Não tem um isqueiro?
           - Não está pensando em colocar fogo em alguma coisa, está?
           - Prefere ficar no escuro?

      Abri a mochila, e encontrei um. Entreguei-lhe. Duda pegou algumas folhas secas e acendeu o isqueiro. A fogueira não era grande, mas aquecia. Coloquei a mochila num cantinho, e me aproximei mais da fogueira. Ela abraçou os joelhos, e também se aproximou mais do fogo. O silêncio era total, dava para se ouvir apenas o barulho que as árvores faziam quando o vento batia, e os grilos.

           - Ei Bill. – disse ela, quebrando aquele incômodo silêncio. – Me desculpa.
           - E está se desculpando por quê?
           - Se não fosse pela minha teimosia, você não estaria nessa situação.
           - Tem razão. Mas se eu não tivesse vindo você poderia estar desesperada.

      Após isso, rimos, e novamente o silêncio tomou conta. Aquilo estava ficando chato, e acabei perguntando-lhe a primeira coisa que me veio na mente.

           - Gostou de ter transado com o Tom?
           - O quê? – ela virou seu rosto para me olhar. Parecia não acreditar naquela pergunta que eu acabara de fazer.
           - Quero dizer... gostou de ter saído com ele?
           - Não sei... Acho que... acho que sim. Porque a pergunta?
           - Curiosidade.
           - Eu te conheço, e sei que não era isso que queria me perguntar.
           - É verdade.
           - Então, pergunte logo!
           - Porque você foi embora?

Postado por: Grasiele

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