terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 16 - Memórias

(Contado pelo Bill)

           - Porque você foi embora? – perguntei.
           - Porque meus pais se separaram. – responde Duda.
           - Sei que não foi só por causa disso. Você adorava Hamburgo, e não iria embora por nada! Tem alguma coisa por trás disso, não tem? O que foi? Me conta.
           - Se tivesse pelo menos um pouco de consciência, talvez soubesse.
           - Do que está falando?
           - Eu não quero falar sobre isso.
           - Mas eu quero! Nunca entendi o motivo da sua partida.
           - E nem precisa entender.

      Ela ficou calada, e virou o rosto para o lado contrário que eu estava.

           - Eu te procurei. – disse, e ela se virou pra mim.
           - Me procurou onde?
           - Em todos os lugares que costumávamos ir. Você sempre ia às aulas, e naquele dia você faltou. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa. Fiquei tão preocupado, que acabei zerando a prova de química. O sinal mal havia tocado, e eu fui correndo pra sua casa.
           - Foi até minha casa?
           - Claro! Queria saber onde você estava, o que tinha acontecido.

(Flashback)

      Há cinco ou seis anos atrás...

      Recolhi minha mochila, entreguei a prova – em branco - de química à professora, e sai da classe. Fui até o estacionamento e peguei minha bicicleta. Acelerei o máximo que pude. Cheguei à casa da Duda, toquei a campainha e aguardei.


           - Olá Bill. – disse John, sorrindo.
           - Bom dia senhor Drummond. – disse. – A Duda está?
           - Ela saiu pra dar uma volta com a mãe. Eu te convidaria pra entrar, mas já estou de saída pro trabalho.
           - Não tem problema.
           - Se quiser pode esperar aqui na varanda. Ela não deve demorar muito.
           - Obrigado.

      O pai dela fechou a porta atrás de si, caminhou até o carro, e saiu pro trabalho. Eu me sentei na escada da varanda, e fiquei aguardando. As horas passavam, e nada da Duda chegar. A noite veio, seu pai voltara do trabalho, e ela nem tinha aparecido.

           - Ainda está ai Bill? – pergunta John.
           - O senhor disse que eu poderia esperar, e...
           - Disse sim. – ele me interrompeu. – Mas não achei que fosse ficar.

      John se aproximou, e sentou-se ao meu lado.

           - Tenho que te contar uma coisa. – disse ele.
           - O quê? – perguntei.
           - A Duda não foi dar uma volta.
           - Não? E onde ela está?
           - Ela foi embora.
           - Embora pra onde?
           - Pra Suíça. A mãe dela a levou.
           - E a Duda voltará?
           - Provavelmente não.
           - Mas... porque ela foi?
           - Não sei. Ela iria ficar, mas der repente decidiu acompanhar a mãe.

      Eu era apenas um garoto, que mesmo brigando muito com a Duda, gostava dela. Como estudávamos na mesma sala, éramos inseparáveis. Todo instante brigávamos, colocávamos apelidos um no outro, resumindo tudo, nos odiávamos, e nos amávamos, ao mesmo tempo. E quando ouvi o pai dela dizer que havia ido embora e que não voltaria, senti um aperto no coração, e o chão sumiu dos meus pés. O que eu faria sem a companhia dela? O que seria de mim, sem nossas brigas? Quem iria me bater todas as manhãs? Quem me fuzilaria com seus olhos brilhantes? Quem colaria nas provas, e colocaria a culpa em mim? Quem desafiaria os professores, e me induziria a fazer a mesma coisa? Quem “assaltaria” o mercadinho da esquina toda sexta-feira? Quem pediria a minha bicicleta emprestada por um dia, e só devolveria na semana seguinte? Quem colocaria defeito nas minhas roupas? Quem me daria um abraço apertado após ganhar um jogo de vôlei? Quem estaria ao meu lado?

      Cheguei em casa, e fui direto pro quarto. Tranquei a porta, joguei a mochila no chão, me deitei na cama e comecei a chorar. Já estava sentindo a falta dela, mesmo não tendo passado nem vinte e quatro horas. Eu só queria ouvir sua voz.

(/Flashback)

           - Você chorou quando parti? – pergunta Duda, incrédula.
           - Inúmeras vezes. – respondi. – Mas eu sei que não foi embora simplesmente por que seus pais se separaram.
           - Se lembra da última coisa que me falou no dia anterior?
           - Não. O que foi que eu disse?

–--
(Contado pela Duda)

(Flashback)

      Ainda era de manhã, e cheguei ao colégio toda feliz. Estava decidida a contar absolutamente tudo que sentia por ele, mesmo correndo o risco de levar o maior fora da história. Fiquei esperando todas as aulas acabarem, para conversar com o Bill. E assim que o sinal tocou, fiquei esperando por ele em frente ao colégio. Vários alunos aguardavam seus pais, outros conversavam, cantavam, e até corriam por ali. Uma colega me ajudaria no plano. O avistei de longe, respirei fundo, e fui caminhando em sua direção.

           - Oi Bill. – disse, sorrindo.
           - Oi. – responde ele, sem muito entusiasmo.

      Ele estava acompanhado de alguns colegas, o que me fez ficar ainda mais nervosa e tímida. Minhas bochechas começaram a ficar vermelhas. Mas eu tinha que dizer! Tinha que acabar com aquilo logo!

           - Conta logo pra ele. – minha amiga sussurrou.
           - Contar o quê? – pergunta Bill.
           - É que... – gaguejei.
           - Ela está apaixonada por você! – minha amiga confessou por mim.

      Se antes a minha voz estava com dificuldades pra sair, depois disso, ela sumiu literalmente.

           - Apaixonada? – um dos amigos dele perguntou.
           - Sim. Muito apaixonada. – novamente ela falou por mim.
           - Só pode ser brincadeira, não é? – pergunta Bill.
           - Por quê? – finalmente falei.
           - Seria uma perda de tempo. – respondeu ele. – Acha mesmo que daríamos certo? Você é irritante, chata, marrenta, cabeça dura... Esse é o tipo de combinação que nunca iria pra frente.

      Os amigos dele começaram a rir. Minha amiga ficou calada. Eu, fiquei paralisada, sem saber o que dizer.

           - Não perca o seu tempo. – disse ele. – Porque eu não perderia o meu.

      Bill e seus amigos se retiraram. Continuei lá parada, sem saber o que fazer. Senti meus olhos lacrimejarem, em seguida as lágrimas molharam meu rosto. Eu não queria que ninguém me visse chorar, então larguei todos os meus livros ali no chão, e fui correndo pra casa.

      Assim que cheguei, minha mãe estava no quarto terminando de arrumar as suas coisas para a viagem. Fiquei parada na porta, a observando.

           - Duda, o que faz parada ai? – pergunta ela.
           - Mamãe, eu posso... posso ir com você? – me aproximei, com vontade de chorar.
           - Claro! – responde, e a abraço, chorando. – Mas... mas o que houve? Porque está chorando?
           - Eu só quero ir embora. Não me deixe aqui.

(/Flashback)

           - Não perca o seu tempo. Porque eu não perderia o meu. – Bill repetiu a frase que ele havia dito há tanto tempo atrás.
           - Esse foi o principal motivo de eu ter partido com a minha mãe. – disse.
           - Não dá pra acreditar no quão idiota eu fui. – disse ele. – Eu devo ter te machucado muito com isso, não é?
           - Ainda tem alguma dúvida?
           - Droga. Como eu sou idiota.
           - Nisso você tem razão.

      Ele se aproximou de mim, e se sentou ao meu lado.

           - Me perdoa? – disse ele. – Me perdoa por tudo. Eu não deveria ter dito nada daquilo.
           - Mas disse. E certas coisas são complicadas de se esquecer.
           - Eu sei.
           - Acha que pedir perdão agora irá adiantar alguma coisa?
           - Duda, eu não posso fazer com que o tempo volte pra poder mudar tudo. Mas posso concertar agora.
           - Como?

–--
(Contado pelo Bill)

      Duda perguntou como eu mudaria o passado, e eu não tinha a resposta pra isso. Apenas senti que era exatamente ali que eu queria e deveria estar; ao lado dela. E talvez, eu consiga mudar alguma coisa. Eu não poderia imaginar o que ela sentiu quando disse aquelas coisas. Mas agora, consigo até me colocar em seu lugar.

      Horas depois, estávamos sentados mais próximos da rocha para nos livrar do frio que estava aumentando.

           - Vem cá. – disse. – Deite-se aqui.

      Ofereci meu peito para que ela pudesse ficar mais “confortável”, mesmo sabendo que não adiantaria muita coisa. Ela resistiu, e após muita insistência, acabou cedendo.

           - Obrigada. – disse ela.
           - Não precisa agradecer.

      Minutos depois, ela já dormia. Com o braço esquerdo, peguei minha blusa que estava em cima da mochila, e cobri parte do seu corpo. Depois fiquei mexendo em seus cabelos. Acabei adormecendo também.

Postado por: Grasiele

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