quarta-feira, 13 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 25

Luiza

Assim que voltei de Londres, morrendo de vontade de ter ficado por lá, estava passando pelo maior perrengue para levar minhas malas até meu apartamento quando veio uma alma boa me ajudar. Porém, quando vi o formato das unhas e 
a tatuagem nos dedos da mão direita segurando o puxador da mala, respirei fundo e me resignei a murmurar um agradecimento enquanto puxava o resto das bagagens para dentro do elevador. Da maneira mais... Estranha, perguntou, naquele tom de voz de quem comenta sobre o tempo: 

- Como foi a viagem? 

- Boa. - Respondi. - E você? Voltou tem quanto tempo?

- Uns dias. E... Aquele seu amigo? 

- Alex? - Perguntei, lembrando de uma semana antes e deixando um sorriso todo bobo aparecer nos meus lábios...

[Flashback]

O Alex manteve o suspense durante todo o caminho até uma lanchonete perto da King’s Cross (Sim, aquela estação de trem do Harry Potter). Por mais que perguntasse, se recusava terminantemente a me dizer o que estava planejando. Depois de nos sentarmos e dividirmos uma fatia de torta de chocolate, começou a me olhar fixamente, com um sorriso enviesado nos lábios e perguntei: 

- O que foi?

- Você é linda, sabia disso?

- Não. - Respondi, brincando. - Sou gostosa, o que é muito diferente. 

Riu e falou:

- Sério. Você é linda. E gostosa. - Foi minha vez de rir com o elogio. - E engraçada. E a garota mais incrível que eu conheci. 

- Nah... - Respondi, dando um breve estalo com a língua e dando um aceno displicente com a mão. - Aposto que você, que já viajou pelo globo terrestre inteiro conheceu um mundaréu de meninas incríveis. 

- É verdade. Mas nenhuma delas se compara à você. 

Desviei meu olhar do dele para o copo e comecei a brincar com o canudo. 

- Você é sempre tão galanteador assim a ponto de fazer as pobres donzelas corarem de timidez? 

Sorrindo, respondeu:

- Só com as que valem a pena. E é justamente por você ser uma delas que quero te perguntar uma coisa. 

- Que coisa? 

Olhou por cima do meu ombro e, fazendo uma careta fofa, continuou: 

- O que acha de a gente vir aqui mais vezes, só que num horário que não tenham operários peludos, gordos e suados usando calças baixas? Acho que depois de hoje, traumatizei. 

Ri da maneira mais escandalosa, atraindo a atenção de algumas pessoas e, por fim, ele voltou a ficar “sério”, já que o seu característico meio sorriso jamais deixava seus lábios, e perguntou: 

- OK. Agora falando sério mesmo... Uma vez, vi uma citação de 
Stendhal que dizia uma coisa que eu acho que se encaixa muito bem na nossa situação. "O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter a coragem de ir colhê-la à beira de um precipício.". Eu sei que você ainda não se recuperou totalmente do seu último relacionamento e... Entendo perfeitamente se você não quiser que passemos da linha da amizade. Mas... Fato é que parece que tudo que faço é por você. Até respirar. Eu... Estou perdidamente apaixonado, Luiza. 

Olhei para ele e não pude me conter. Num impulso, o beijei. E senti um leve comichão na boca do estômago. Claro que não era nada comparado ao turbilhão tenso que acontecia quando era o Bill quem me beijava. Mas ainda sim, era bom... 

Quando interrompemos o beijo, com um selinho, me olhou e perguntou: 

- E então? Vamos nos arriscar e ver no que dá?

Sua resposta foi um sorriso que não pude controlar. E nem queria. 

[/Flashback]

- Deve ser. - Disse, indiferente. A melhor coisa era isso: A criatura divina e iluminada podia muito bem fingir que não estava nem aí, mas não conseguia disfarçar que, por dentro, estava se corroendo de ciúmes. E esse era o caso do Bill. 

- É. Se for ele a quem você está se referindo... Ele não é mais meu amigo. 

- Não? 

- Não.

- O que aconteceu? Para quem estava o usando como álibi para fugir de mim naquela boate... 

- Ele não foi usado como álibi. E a prova disso... - Chegamos ao nosso andar. As portas se abriram e saí puxando minhas malas, ignorando totalmente o Bill, que estava me fixando curioso. Assim que destranquei meu apartamento, completei: - É que ele foi promovido.

Me olhava, sem entender. Depois que terminei de colocar as bagagens na sala, já ia fechando a porta quando ele me impediu: 

- Me explica essa história direito. Como assim “ele foi promovido”? 

- Simples. De amigo, passou para namorado. 

Me fixava, só que com raiva. 

- Como assim? Não, você não pode! 

Arqueei a sobrancelha, cruzando os braços e, por fim, perguntei:

- Tem certeza que quer discutir sobre isso comigo justo agora, que estou cansada da viagem? 

- Você não pode namorar com ele! 

- Ah, e posso perguntar o porquê? 

- Porque... Porque... Ah, porque ele é um filhinho de papai que adora ostentar a riqueza dele. E eu sei que você não gosta de luxo. 

Minha sobrancelha continuava arqueada. 

- Já que você sabe tanto sobre mim... Deveria se lembrar que minha percepção muda bastante a respeito das coisas... E pessoas. E ele não é o único que adora ostentar o luxo que tem. Tenha um bom dia. - Respondi, sorrindo e, me aproveitando da oportunidade, fechei a porta. Não demorou muito para que começasse a tocar a campainha insistentemente, bater na porta e me gritar mesmo. Liguei o som do meu quarto no volume máximo. Enquanto me despia para ir tomar banho, ouvi o toque de mensagem do meu celular. Ignorei totalmente e, no final das contas, entrei sob o chuveiro. Assim que saí, vi que tinham umas vinte mensagens e umas trinta ligações dele, fora de brincadeira. Revirei os olhos e apaguei as ligações, só não resistindo à tentação de ler as mensagens, que diziam basicamente a mesma coisa: “
Ele não é para você.”, “Ele não presta.”, “Ele é esnobe demais para o nosso gosto.”... E a mais engraçada de todas: “Aposto que ele é anatomicamente desprovido.”. Nem bem terminei de ler a mensagem e o Tom me ligou. Ainda com o riso descontrolado, atendi e ele perguntou:

- 
O que foi? 

- Nada, é... Besteira. Vi uma coisa engraçada agora e você sabe que, quanto mais besta a coisa for, pior é para me fazer rir. 

- Sei... – Disse, desconfiado. - Já tá em Hamburgo ou o Alex te prendeu em Londres?

- Se estiver sem fazer nada, pode vir matar a saudade da Vivi. 

- Ah, não, obrigada. Prefiro matar as saudades da dona dela. 

Sorri, toda besta. É. Era fofo assim mesmo e não tinha como não sorrir frente à esse tipo de comentário. 

- Pode vir. - Falei. 

– Estava querendo passar na Starbucks antes. Quer alguma coisa de lá?

- Aquele de caramelo que você sabe que eu amo. Ah! E eu te dou o dinheiro depois. 

- 
Ih, não preocupa com isso. 

Dei um estalo impaciente com a língua e, depois de nos despedirmos, desliguei. Logo em seguida, a campainha voltou a tocar, já me preparando para quebrar o pau em cima do Bill quando abri a porta e, vendo que estava certa, falei, irritada:

- Vai cuidar da Sofia, me deixa em paz com o Alex e não liga mais para mim! 

- Você quer me escutar? 

- Não. E mesmo que isso não te interesse, ele não é anatomicamente desprovido porque eu vi! 

E bati a porta. Só depois é que me dei conta do que falei e caí na gargalhada. Quase imediatamente, o ouvi esmurrando a porta, ainda que já tivesse ido para o quarto e terminando de trocar de roupa. Vendo que a Vivi estava com medo e ele ia quebrar minha porta a qualquer minuto, fui até a sala e a destranquei. E veio com tudo para cima de mim. Me colocando contra a parede, segurou meus pulsos assim que ia tentar bater nele e, disse, me imobilizando completamente: 

- Você tá conseguindo me tirar do sério. E não ache que, inventando que está namorando o almofadinha inglês, vai conseguir fazer com que eu desista de você. 

Arqueei a sobrancelha e, conseguindo soltar a mão esquerda, mostrei o anel, tipo aliança, de ouro branco que estava no meu dedo havia vinte e quatro horas. Segurou minha mão e, tentando se controlar para não quebrar meu dedo, tirou o anel e o jogou sobre o ombro. Protestei e me disse:

- Um anel não significa nada! Seu coração é meu ainda que eu sei. 

- Não é mais. Desde aquele dia que te peguei com a Sofia! EU VI O JEITO QUE VOCÊ OLHOU PARA ELA! 

- POR QUE EU ACHEI QUE ERA VOCÊ, CARAMBA! - Gritou de volta. - A Sofia estava igual à você. Me deram um alucinógeno e por isso que confundi! Até o perfume era o mesmo! 

Respirei fundo, me arrependendo imediatamente de fazer isso. Sentir o cheiro dele quase acabou com meu juízo. 

- Eu... Não acredito. - Falei, com a voz fraca.

- Tem certeza? - Perguntou, num tom sedutor que usava sempre que queria me convencer a fazer alguma coisa que ele queria. E eu odiava. Principalmente porque ele sempre conseguia me dobrar. 

- Absoluta. - Teimei. E, para a infelicidade geral da nação... O Tom chegou. Não sabia dizer com precisão se tinha gostado ou não daquela interrupção onde ele olhava de um para outro, com aquele ponto interrogativo imaginário e gigante acima da cabeça. Antes de sair, só para piorar minha vida um pouquinho, aproximou a boca da minha orelha e sussurrou: 

- Esse assunto não acabou ainda. 

Preciso dizer que senti AQUELE arrepio tenso que percorreu toda minha espinha dorsal?

Assim que ele saiu, o Tom me olhava, curioso e avisei: 

- Ouse abrir essa boca para falar um A e juro que não respondo por mim! 

Rindo, concordou, mantendo 
o sorriso malicioso nos lábios. Disse: 

- Posso só... Dizer que foi bem inesperado? 

Respirei fundo e concordei. 

Ficou comigo ali a tarde inteira e, antes que pudesse ir embora, perguntou: 

- Gosta do Alex, né? 

Concordei. 

- Se não gostasse, não teria motivo para não me dar uma chance para ele, não é?

- Luiza... Quer que eu seja sincero e te responda? 

- Não, porque eu já sei o que você falar e tenho que te dizer que você não está certo, Kaulitz. 

- Se você prefere tentar enganar aos outros e se enganar dessa maneira... Não acho que tenho muito a fazer a não ser te alertar, já que você parece ter se esquecido que o Alex não precisa ser iludido desse jeito. Sem falar que você corre o risco de perder um amigo. 

- Tom... - Falei, olhando para ele. 

- Não vem com esse “Tom” para cima de mim. Não vai conseguir me amolecer. - Disse, fazendo uma cara e pose de durão, tipo a minha quando aconteciam situações tipo essas. 

- Tá. - Respondi, dando de ombros. - E por mais que diga que eu não gosto dele, que estou enganando o Alex... Pode até ser que está certo. Mas ainda sim, decidi me arriscar porque é um cara legal e acho que mereço essa chance depois de tudo que passei com o Bill.

- Não merece. Eu vi como vocês estavam e te digo sinceramente que você está sendo teimosa em ficar com o Alex, sendo que ama o Bill.

Suspirei e disse: 

- E não adianta fazer essa cara e nem suspirar porque sabe que eu estou certo. 

- E desde quando você virou conselheiro amoroso? - Perguntei. 

- Desde que você e meu irmão terminaram. Estou do lado dos dois e por isso que acho que deveria reconsiderar a hipótese de perdoá-lo. Conheço o Bill, sei que ele jamais faria algo assim se estivesse sóbrio e viu que ele não saiu do seu lado um único instante. 

- Ele me traiu, Tom! 

- Porque achou que era você. Deixa de ser cabeça dura e me ouvir pelo menos uma única vez na vida? 

- Para que eu vou te ouvir se ele engravidou a Sofia? Mesmo que eles fiquem separados, não vai ser totalmente, já que vai ter um laço entre os dois! Sem falar que eu sei o quanto ele gosta de crianças, sei melhor que vocês o que é crescer sem um pai ou até mesmo uma figura paterna por perto. Esse é justamente um dos motivos que não quero que o Bill volte para mim. 

Ficou em silêncio, só me olhando e analisando. 

- Bom, você é quem sabe o que é melhor para vocês. Não vou te obrigar a nada. Só estou te dando um conselho, do mesmo jeito que faz comigo e com os outros. 

Concordei, olhando para baixo e fui surpreendida por um abraço apertado e desajeitado que me fez rir. 

- Eu gosto muito mesmo de você, Iza. 

Passei os braços em torno da sua cintura e falei, dando um beijo na sua bochecha: 

- Eu também gosto demais da conta de você. 

Riu baixo e perguntei:

- E a Em? Tem falado com ela?

- Tenho. Vai fazer um curso aqui em Hamburgo e acho que vai ser uma boa oportunidade de a gente se aproximar. 

- Não vai ser boa. 

Me soltou e, olhando sem entender para mim, perguntou: 

- De onde você tirou que não vai ser boa?

- Porque não vai. Vai ser ótima, soberba... - Respondi, rindo e sendo acompanhada por ele. Era incrível que nos déssemos tão bem. Quem diria?

Mais tarde, quando deitei na minha cama, não conseguia pregar o olho. Virei e revirei durante um bom tempo até que decidi levantar e ir até a sala, em busca de um livro. Assim que me sentei no sofá e a Vivi se encostou no meu pé, algo sobre a mesa de centro chamou a minha atenção. Logo de cara, reconheci 
o chaveiro da Torre Eiffel que a Em me deu quando chegou de viagem da França, depois de passar um longo período nos Estados Unidos. Por mais que tentasse ler as palavras, não conseguia absorvê-las porque as chaves que estavam enfiadas naquela argola pareciam imãs que só faziam atrair meu olhar para elas o tempo inteiro. Então, desisti da leitura e, depois de quase jogar o livro sobre a mesinha de centro, me recostei mais à almofada, fechando os olhos. E as malditas chaves pareciam gritar, com aquelas vozinhas tipo as do Alvin e os esquilos: “Me pegue! Vai atrás dele! É só atravessar o corredor!”. Já estava a ponto de atirá-las num canto qualquer da sala, só de birra quando entrei no automático. Depois disso, até me lembro do que fiz, mas parecia que não tinha qualquer controle sobre minhas ações. 

Cansada daquelas vozinhas irritantes me fazendo sentir esquizofrênica, peguei o maldito molho, vendo a Vivi me olhando com curiosidade e me acompanhando com o olhar. Destranquei a porta e atravessei o corredor. Assim que girei a maçaneta e empurrei aquele pedaço enorme de madeira, respirei fundo e antes que pudesse tentar me deter, já estava caminhando, lentamente, na direção da sala de estar. Logo, estava avançando pelo corredor até chegar ao quarto que ficava ali, exatamente no fundo. Não havia qualquer luz no apartamento e isso só me deixava ainda mais ansiosa. Quando toquei a outra maçaneta, meu coração batia mais forte que cem bandas de metal cujos vocalistas parecem bichos, cantando com vozes guturais e acompanhados por duzentas baterias de escola de samba. Respirei fundo e a girei, finalmente entrando naquele quarto pela primeira vez desde que terminei com o Bill. E falando no próprio... Saía do banheiro, distraído e com semblante carregado. Porém, desanuviou-se assim que me viu. 

- O que foi? - Perguntou e, antes que pudesse me controlar, andei na sua direção, roubando aquele beijo, que nos deixou sem fôlego por alguns bons instantes. Sabia perfeitamente das consequências que aquela noite traria, mas a última coisa que poderia fazer era me arrepender. Não dizem sempre que é preferível ter arrependimento do que fez do que aquilo que não foi feito?

Postado por: Alessandra

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