quarta-feira, 13 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 28

Bill

Não me controlei e fui até a varanda do meu quarto. Foi quando notei a Iza conversando com o Tom. Como estávamos a certa distância, não era possível ouvir o que estavam falando. De repente, ouvi um barulho e, quando percebi, a Sofia estava furiosa atrás de mim. 

- QUE PALHAÇADA FOI AQUELA NO SHOW? VOCÊ VAI SE CASAR COMIGO E NÃO COM AQUELA BRASILEIRA DE MERDA! 

- OLHA LÁ COMO VOCÊ FALA DELA! - Gritei de volta. 

- EU FALO COMO EU QUISER! AQUELA IDIOTA SÓ SABE SE METER NO MEU CAMINHO! DEVERIA SUMIR DA FACE DA TERRA E ME DEIXAR EM PAZ! 

A peguei pelo braço, ignorando seus protestos e falei, a sacudindo, mal importando se estava machucando ou não: 

- Nunca mais fala isso. Ou senão, não respondo pelos meus atos! Já estou de saco cheio de você Sofia. Deixei bem claro que só te pedi em casamento por causa desse bebê na sua barriga. Apesar do que, mesmo depois que nascer, não tem nenhuma garantia que eu vá suportar morar sob o mesmo teto que você. 

E a larguei sobre o colchão. 

- VOLTA AQUI, KAULITZ QUE EU NÃO TERMINEI!

- Mas eu sim. 

- Se você sair por essa porta, eu juro que me atiro por essa varanda. 

Fechei os olhos e, por fim, falei:

- Me faz esse favor então. 

Ela tinha conseguido me tirar do sério com aquela chantagem emocional. E eu sabia que ela não ia se arriscar a perder a vida daquele jeito. Tanto que veio andando atrás de mim, gritando o caminho inteiro e atraindo a atenção de quem quer que estivesse passando. Vendo que não ia dar certo, foi numa direção que eu achei que era a dos elevadores. De repente, ouvi uma gritaria e, logo, foi aquela confusão. Saí correndo na direção da área da piscina e a Sofia estava ali. O Tom corria na mesma direção e meu sangue gelou quando vi que tinha mais alguém ali. E alguém de cabelos escuros que eu conhecia muito bem. E que estava sendo empurrada cada vez mais para baixo d’água. Logo, não só o Tom e eu, mas até o Jost e alguns seguranças, fora o Georg e o Gustav, foi tentar separar as duas. Os seguranças e o Jost tentavam afastar a Sofia ao mesmo tempo em que eu e os outros tentávamos salvar a Iza. Quando finalmente conseguimos o nosso intento, percebi que a Iza estava pálida demais e não respirava. Nessas horas é que sempre aparece um médico, certo? Só que no nosso caso, vieram uns dez, todos dispostos a nos ajudar. Enquanto um fez respiração boca-a-boca na Iza, outro fazia aquela manobra para que ela expelisse a água. De repente, ela deu um solavanco e cuspiu a água, tossindo. Um dos médicos falou:

- Quem é o responsável por ela?

Eu, o Tom, o Georg, o Gustav e o Alex levantamos as mãos ao mesmo tempo. 

- Quem pode acompanha-la ao hospital? 

Até o Alex olhou para mim. Falei com o Tom:

- Vai com ela que eu tenho que resolver um assunto com a Sofia. 

Concordou e, logo, ele pegou a Iza nos braços e foi na direção do saguão. Peguei a Sofia pelo braço e saí a arrastando até o elevador, ignorando todos os olhares de reprovação na direção dela. Assim que chegamos ao quarto, falei:

- Quer saber? Essa foi a gota d’água. Cansei dos seus chiliques, dos seus dramas, das suas chantagens. Nem esse filho que você está esperando vai conseguir me segurar depois dessa sua última. 

Disquei os números do telefone da mãe dela e, assim que atendeu, tranquei a porta do quarto e a da varanda e fui até a suíte do meu irmão, onde eu expliquei tudo à Sylvie, mãe da Sofia. Quase que imediatamente, ela disse que estava vindo buscar a filha. Podia ouvir a Sofia quebrando tudo que tinha dentro do quarto e, assim que entrei, parecia que um furacão havia passado por ali. O prejuízo que ela havia dado era absurdo. Estava caída perto da cama, chorando e em posição fetal. 

Cerca de três horas depois, a Sylvie chegou ao hotel. E com a ajuda dos irmãos da Sofia, levou a filha. Enquanto os dois a levavam até o carro, a Sylvie perguntou:

- Já teve notícias da moça?

- Já. Engoliu muita água, mas não está correndo perigo. Está sob observação. - Respondi. 

- Se precisar de qualquer coisa... Me liga. 

Concordei e ela se despediu, com aquele olhar de quem implora por desculpas. Nem bem fechei a porta e meu celular tocou. Vi o número da minha mãe e atendi à chamada:

- Oi. 

- 
Como a Luiza está? Acabei de saber pelo Tom... 

– Ele te contou? Meu irmão é um linguarudo mesmo! 

- 
Calma. Eu liguei para ele, para saber de você e me contou que estava no hospital. Achei que pudesse ser alguma coisa que aconteceu com você e logo ele me contou o que tinha acontecido. 

- Pois é. A Sylvie acabou de buscar a Sofia. Eu queria aproveitar e ir até o hospital, ver como a Luiza está.

- 
Faz isso. E me liga assim que tiver notícias.

Concordei e, por fim, assim que desliguei o telefone, fui até o hospital. Assim que me informaram onde era o quarto onde a Iza estava, quase levantei voo ao ir para lá. Bati na porta e uma enfermeira abriu. Perguntou: 

- Posso te ajudar?

- Eu... Sou o acompanhante dela. - Falei, mostrando a bolsa com algumas roupas dela que o próprio Alex tinha me dado. 

A enfermeira me olhou estranho e perguntou:

- Dela? Que paciente você está procurando?

- Luiza Belotti. Me informaram que ela estava neste quarto. 

A enfermeira, segurando o riso por causa da minha confusão, indicou que era a porta atrás de mim. Agradeci e bati na porta, entrando no quarto logo em seguida. A Iza estava dormindo e parecia ainda mais branquinha que antes. Me aproximei e, depois de colocar a bolsa sobre um sofá, sentei sobre sua cama, acariciando sua mão muito de leve. Quase imediatamente, ouvi umas batidas na porta e o médico entrou. Perguntou, depois que apertou minha mão:

- A enfermeira me disse que é o acompanhante dela... 

- Sou. Ela... Está bem? 

- Melhor do que quando chegou. Ela apresentava hipotermia aguda, mas com sintomas moderados. Sorte que os rapazes que a trouxeram agiram rápido. 

- Como assim?

- A moça estava enrolada em um cobertor e a mantiveram aquecida o tempo inteiro. Ah! Antes que eu me esqueça... Tem muito tempo que a conhece?

Concordei. 

- Sabe me dizer se a pressão dela sempre foi tão baixa?

- Foi. Já tomei um susto uma vez, porque ela quase desmaiou. Ela sempre diz que não sabe explicar o motivo, mas a pressão cai raramente e, quando cai, é logo depois que come alguma coisa salgada. 

- Curioso! - O médico disse. 

- Pois é. - Falei, a olhando. - Mas tem certeza que ela está bem? 

- Sim. Ela já foi medicada e agora está em observação. Se tudo correr bem, conforme o esperado, talvez ela receba alta amanhã mesmo. 

Concordei. Assim que o médico nos deixou, puxei uma cadeira para mais perto da cama e a observei. Era realmente linda. Talvez fosse por causa do que tudo que havia acontecido, mas ela me dava calafrios, já que parecia não ter mais vida, mesmo vendo seu peito subir e descer lentamente. Acariciei seus cabelos, lembrando do medo que senti ao ver que ela não acordava quando a tiramos da piscina. Peguei na sua mão e fiz questão de não soltá-la. 

Na manhã seguinte, ouvia um zumbido muito fraco. Parei para prestar atenção e percebi que eram três vozes fininhas, além da do meu irmão e uma outra, feminina, que eu não estava reconhecendo por ser fraca e rouca demais. O Tom disse:

- Com licença, mas vou atender. É minha mãe, provavelmente querendo notícias. 

Houve um silêncio onde uma das vozes finas perguntou:

- Por que vocês não estão mais namorando? 

- É... Complicado, Sabine. - A dona da voz rouca e fraca disse. Só então, me dei conta de que era a Iza. - Quando você ficar maior, vai entender. Espero que nunca passe por isso tudo, já que é tão chato quanto tomar injeção. 

- Mas a mãe do Michael descobriu que o pai dele tinha uma namorada. E mesmo assim, ela desculpou ele. Por que você não faz o mesmo com o Bill? - Outra voz fina disse. 

- Veremos. - A Iza deu o assunto por encerrado antes que ouvisse algumas batidas na porta e outra voz de mulher enchesse o ambiente:

- Vamos meninas... Já deu o horário e precisamos voltar para Hamburgo. 

As vozinhas finas protestaram um pouco alto demais, mas não me mexi. A mulher, que parecia ser mais velha, sibilou, pedindo silêncio e disse: 

- Depois vocês visitam a Luiza de novo, não é?

- Claro. Estava até pensando em, quando voltar a Hamburgo, organizar uma festa do chocolate, o que vocês me dizem? 

As meninas, que eram donas das vozinhas finas, comemoraram e se despediram de mim. Até que, de repente, senti que uma delas deu um beijo na minha bochecha e, logo que todas elas saíram, me permiti abrir os olhos. 

- Oi. - Falei, a observando. 

- Oi. - Respondeu, sorrindo daquele jeito que eu gostava, quando era espontâneo e ela não escondia os dentes. 

- Como você está se sentindo?

- Bem melhor. Mas ainda parece que me atiraram num moedor de carne. 

- Me desculpe. 

- Pelo quê?

- A Sofia. 

- Ai, Bill... A culpa é dela. Não sua. 

- É minha sim. Afinal, se eu tivesse a impedido... 

- Pergunta. Alguém morreu?

- Não. 

- Alguém se feriu? 

- Acho que um dos seguranças que tentou imobilizá-la. Foi superficialmente, eu imagino.

- Tá. Mas como não houve mortos e nem feridos gravemente... Não tem nada com o que se preocupar. Quer dizer, eu estou bem, falante como sempre... Então desfaz essa ruguinha feiosa aí do meio da sua testa. 

Ri e disse:

- Confesso que nunca vi a sua mãe tão... 

- Surtada? É, nem eu. Ela gosta mesmo de você.

- Só ela?

- Todos nós, você sabe disso. 

- Sei. E é recíproco. 

Dei um sorriso fraco. 

- Nunca tive tanto medo de te perder. 

- Lá em Londres não deixou bem claro que não ia desistir de cumprir com a sua promessa? Pois é. Não vou deixar de cobrá-la. 

- Mudou de ideia? 

- Quem sabe? 

- Eu vi que você estava conversando com o Tom... 

- Minha nossa senhora Aparecida, mas era só o que me faltava! Mais uma criatura curiosa! Já basta a Vivi, tá bom? 

- Eu vou acabar descobrindo... - Falei, dando de ombros. - Esqueceu que conheço o meu irmão? 

Arqueou a sobrancelha e disse:

- Menos ego, Bill... Bem menos ego. 

Ri e, logo, trouxeram o café da manhã para nós dois. E nem bem começamos a comer e o Tom apareceu, com um daqueles sacos de papéis da Starbucks. 

- Meu salvador! 

Rimos e ele disse:

- A menina que me atendeu, assim que se recuperou do susto, me disse que não tinha o de caramelo que você queria. Daí, trouxe esse, de caramelo... - Fazendo graça, fez bico na hora de pronunciar em italiano: - 
macchiato. 

A cara da Iza era o melhor de tudo.

- 
Non c’e problemma. Anche questo mi piace.

- Vai, humilha... - Meu irmão disse. 

- E quem disse que estou humilhando? Só falei que não tinha problema e que gostava deste também. - Respondeu, com aquele arzinho de superior que sempre assumia quando queria bancar sabichona.

- Posso falar? Você é estranha. A primeira pessoa que eu encontro que gosta de caramelo. É enjoativo! 

- Seu nariz que é enjoativo. Eu gosto, dá licença? E falando em gosto... Gosto e bunda, cada um tem o seu. 

Houve mais batidas na porta e a enfermeira entrou, seguida de perto pelo Georg e o Gustav. Disse:

- Vocês fiquem comportados, senão todo mundo vai ter de sair, entendido? 

- Deixa comigo que boto ordem neste galinheiro aqui. - A Luiza disse, apontando para todos nós. 

- Ah, vai! - O Tom disse, indignado. 

- E aí, Iza? Tudo bem? - O Georg perguntou, se sentando sobre a cama. 

- Melhor que ontem... 

- Que susto que você passou na gente, hein? - O Gustav disse. 

- Pois é. O Georg ficou tão apavorado que foi atrás de mim no meu quarto. - O Tom falou, provocando. A cara da Iza foi impagável.

- Tom... - Ela disse, rindo. 

- Iza, você me conhece! - o Georg tentou se defender. 

- É justamente por te conhecer que aposto que aconteceu o contrário... - Ela provocou meu irmão, que ia mostrar o dedo do meio para ela, que bateu na sua mão. - Eu estou bem, não se preocupem, ainda vão ter de me aturar por um bom tempo.

- Mas é sério... Você parecia... Morta. - O Georg disse, tomando um pedala do Tom. 

- Ai Hagen! - A Iza quase gritou. - Credo! - Bateu no criado-mudo. 

- Ué, mas é verdade! Você estava pálida demais! - Ele continuou dizendo. Até que a Iza enfiou uma colherada de gelatina na boca dele, para fazê-lo se calar. Foi engraçado. E ele ainda resmungou, depois que engoliu: - Nossa, que coisa ruim! 

- Pois é. Agora a gente sabe que o melhor é contar com um contrabandista. - E piscou para o Tom, que retribuiu, dando um meio sorrisinho também. 

Eles ficaram com a gente ali até que o médico apareceu para examinar a Luiza. Foram aqueles exames clássicos, de auscultar como a respiração dela estava, por exemplo. Pôs um termômetro sob o braço dela e, enquanto esperava que medisse a temperatura corporal da Iza, anotava algumas coisas. Ela segurava minha mão o tempo inteiro e percebi que estava quente como na maior parte do tempo. Em seguida, o aparelho apitou e, depois que o médico viu que estava normal, disse:

- Bom, Luiza, está tudo certo. Sua temperatura já está normalizada, sua respiração também e portanto, não acho que há outra razão para mantê-la aqui. Vou preparar sua alta e daqui a pouco eu volto para te liberar, tudo bem? 

Concordou com a cabeça e, assim que ele saiu, se levantou e foi até a bolsa onde estavam suas roupas. E sem o menor pudor, tirou aquela camisola de hospital na minha frente. A diferença é que ficou virada de costas para mim o tempo inteiro. E ver seu corpo ali... Tão... Alcançável e perigosamente perto, fazia a ponta dos meus dedos formigarem de ansiedade por tocar sua pele mais uma vez. Assim que terminou de se arrumar um pouco, o médico voltou e nos liberou. Assim que pagamos a conta, fomos atrás de um táxi e, de lá, até um hotel. O Jost abraçou a Iza tão apertado que ela até batia no seu braço, tentando afastá-lo. E quando vi o olhar que o Alex lançou na direção dela e depois na minha, enquanto murmurava alguma coisa, tive um pressentimento que era bom e ruim ao mesmo tempo...

Postado por: Alessandra

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