quinta-feira, 22 de março de 2012

Insanity - Capítulo 16

Tom...

Tudo parece caminhar para o fim, eu sei, eu sinto. Ao fundo vejo pessoas conversando, sorrindo, pensando. Imaginando talvez porque estejamos distantes.
Olho ao longo da sala encontro Bill sentado. Ele olha para as mãos. Está segurando uma na outra, como uma criança amedrontada.
Vejo Georg aproximando-se dela, parece preocupado, talvez ele saiba aonde chegamos, talvez não, e agora tudo que eu consigo pensar era que devia tê-lo escutado, deveria ter ficado em sua casa e por um bom tempo não ter voltado. Isso não resolveria tudo, mas agora nada disso estaria acontecendo.
– Oi Kate. – Ela assusta-se com a repentina aproximação.

– Oi. – Diz baixinho, quase com tristeza.

– Está tudo bem? – Ele pergunta curioso olhando para as mãos dela que tremiam incessantemente.

– Sim.

– Você está tremendo.

– Só um pouco nas mãos. – Ela balança a cabeça negativamente. – Não é nada importante.

– Não. Seu corpo está tremendo. - Ele olha a analisando.

– Vou beber um pouco de água, talvez passe. – Ela diz mantendo um fino sorriso ao longo da face. – Com licença.

E retira-se caminhando em passos lentos, quase flutuantes ao longo do corredor e antes que possa fechar a porta do banheiro, posso vê-la escorregar ao longo do mesmo entre soluços e lágrimas silenciosas.
Posso sentir o calor invadindo meu rosto. Minha raiva é tanta que mal consigo falar.
Caminho em direção a Bill, que tenta me ignorar assim que me vê, mas ele é o único com quem posso falar no momento, mesmo que não eu não saiba o motivo.

– Bill, você lembra. - Começo a falar nervoso, tentando explicar tudo de uma vez só. – Lembra que sonhávamos as mesmas coisas quando éramos pequenos?

– Não fale comigo. – Ele solta virando-se para a direção oposta de mim.

– Não estou brincando. - Ele permanece mudo enquanto falo, mas agora parece estar mais perturbado do que antes. – Esse pode ter sido outro sonho daqueles.

– Está tão arrependido que quer achar uma desculpa qualquer para que eu o perdoe? – Ele solta de repente e me olha - Sinto muito isso não vai acontecer. Só quero que saiba que eu não vou perdê-la porque você não consegue controlar seus hormônios. Se Kate quer ficar com você. – Ele respira fundo antes de continuar. – Se você quer ficar com ela também, eu aprenderei a conviver com isso, mas eu não vou perdê-la. - Fala enquanto eu nada digo, não tenho resposta. O que ele diz faz sentido, mas não confio mais em minha própria capacidade de discernimento. - O que você fumou?

Ele me pergunta sarcasticamente quando nota que pouco entendi do que ele acabará de falar.

– Droga Bill! Será que pode me ouvir? – Grito ao seu ouvido – Está me ouvindo? – Pergunto, mas sei que não está, nem eu mesmo posso me ouvir, a cada minuto que passa o barulho do bip torna-se ainda mais incessante em minha mente abafando qualquer ruído próximo que possa existir. – Não consigo enxergar você.

Digo por fim desesperado por meu estado, tudo estava sumindo aos poucos, deixando no ar apenas finas camadas brancas, como cortinas balançando ao vento.

O Ar me falta, sinto que estou completamente tonto enquanto busco algo próximo para me encostar, mas nada parece estar próximo quando você precisa.

O silencio volta e com ele sinto que meus sentidos ficam aguçados, não posso ver ou sentir nada, sinto-me imóvel e não sei onde estou.

Há um cheiro forte de remédios pairando ao meu redor e ao fundo ouço sons de vozes conversando aleatoriamente. Sinto medo porque esse é um momento daqueles em que não tenho certeza de nada... Eu posso estar morrendo e ainda sim não saberia dizer.

– Pare de olhá-lo – Eu o ouço gritar.
Meus batimentos estão acelerados e eu consigo ouvir o som do meu coração assustado.

Ao meu lado o bip parece ainda pior, e eu me dou conta de que estou próximo de perder o único sentido que ainda tenho.

– Ele não está bem. – Ela diz a ele, provavelmente falando de mim.

– Eu não estou bem e você não parece estar preocupa com isso.

– Por favor, já chega disso. - Pediu ela. - Não estou agüentando.

– Só estamos começando.

– Deixe-me ver como ele está.

– Não você não vai. – Ele grita.

– Pare com isso. As pessoas estão olhando. – O avisa.

– Porque está preocupada, você gosta de publico... - Exclama, irado – Pelo menos pareceu gostar noite passada. – Ele blasfema com a voz chorosa. – Ouça bem, vá para o quarto... Tom e eu iremos encontrar você daqui a pouco.

– O que está pretendendo? – Ela pergunta em tom desesperador

– O que você acha? Você o ama... Você deseja ele, estar com ele. Eu amo você, é minha esposa e sei que também me ama, e se o que você deseja é ter aos dois, então você terá. - Ele fala sem interrupções.

– Antes... Eu prefiro estar morta.

Ela diz e então suas vozes acabam ali. Seus diálogos ofensivos novamente dão lugar ao um silencio desesperador para mim. Eu me concentro e tento pensar racionalmente. Ele está tentando me assustar, é só isso.

Fecho meus olhos, tento absorver tudo que ouvi por um minuto, talvez isso me faça acordar, talvez isso me faça perceber que eu estive preso em um pesadelo o tempo todo.

Aperto-os ainda mais, e subitamente começo a me lembrar do dia em que a conheci, o dia em que sorriu para mim pela primeira vez. A primeira dança, quando por um momento a roubei de Bill em seu casamento.

Lembro-me também do sorriso alegre e bobo de meu irmão assim que percebeu.
Ele estava feliz e eu sabia que não só por ter enfim se casado com ela, mas feliz especialmente por ver que de alguma forma eu também havia descoberto nela o mesmo encantamento que ele.

As cenas de nossas vidas, desde aquele dia, começam a se passar depressa em minha mente, e logo param no dia em que toquei para ela. A última vez que me viu como o irmão que eu deveria ter sido até aqui.

A última vez que toquei suas mãos sem esperar nada em troca...

É estranho o modo como essas cenas passam, é como se eu estivesse lá como espectador, mas ainda sim conseguisse sentir toda aquela pureza vinda dela novamente.

Sinto-me feliz outra vez, como naquele dia no momento em que segurei sua mão.

Ela me olha sorrindo, levando sua cabeça ao meu ombro, e então eu fecho meus olhos tentando viver meu último momento de paz outra vez.
Sinto respirar e quando me olha novamente, não é a mesma Kate de antes, pelo contrario, está cansada, pálida, preocupada... Distante do mundo.

E quando a solto, ela caminha rapidamente até Bill que a olha desconfiado, mas ainda sim seguem para o quarto. Quando tento ir atrás, me dou conta de que já vivi está cena antes... E quando tento fazer o caminho contrario tudo parece vir à abaixo.

Tudo começa vir em minha direção, tudo que passamos até chegar aqui, todas as brigas, desconfianças, abraços e momentos em que estivemos completamente sozinhos.

Mas também a cenas em que eu não estava presente, e isso me fazia crer ainda mais que estivesse em um sonho.

O tempo passa... Minha respiração é rápida e superficial e o pavor começa a tomar conta de mim.

Abro meus olhos em fim e diferente do que eu imaginava, estou no centro de nossa sala.

As paredes estão brancas, todo o local me parece branco demais... Quase doente.

Posso ver a porta para o jardim aberta entre as cortinas, e calmamente começo a caminhar até ela. Quando as afasto de meus olhos, ouço o sorriso de Kate ao longe, ela está alegre posso sentir...

Está correndo também vestida de branco, parece brincar com alguém, mas não consigo ver quem é.
Por um instante fico apenas a observando sorrir, e me pergunto como seria possível não ama-la.

Esta em minha frente agora era a verdadeira Kate com quem ele casou e por quem me apaixonei... Alegre, divertida, completamente solta e viva... Sorri para mim mesmo por um tempo, até que posso ver seus olhos caídos sobre mim.

Ela parecia completamente derrotada desta vez, e de seus pensamentos eu só conseguia absorver uma coisa, seu desejo incessante pela morte.

Estranho, não? Tudo de um momento para o outro foi completamente mudado diante dos meus olhos. Como se algum tivesse me oferecido dois caminhos a seguir e eu inevitavelmente tivesse escolhido o pior.

O Lugar antes branco, agora era banhado por cores pretas que pouco a pouco o invadia.

E ela seguia em passos firmes para dentro, pedindo-me mentalmente para que a seguisse.

E assim o fiz...

Eu a acompanhei pelo corredor até seu quarto. Kate virou-se me olhando uma última vez, antes de apontar para si mesma, a arma que até pouco estava posta sobre sua cômoda.

Vejo tristeza em seus olhos tão dolorosamente castanhos, e embora eu queira acreditar que não fará nada estou certo de que não poderei impedi-la.

Tento rapidamente me aproximar, mas alguma coisa me empurra para trás, como se estivesse me segurando. Não posso fazer nada, e tudo parece ruir a minha volta. Alguém grita meu nome ao longe, mas ela é tudo que importa agora.

– Tom - Novamente ouço a mesma voz desconhecida. – Está me ouvindo?

Ela sorri para mim, e então ouço um barulho assustador...

Postado por: Grasiele

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