quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 20 - Lar, Amargo Lar


Durante toda nossa vida julgamos o que é certo e o que errado, esquecendo que o mais importante é ser feliz. Julgamos porque desde pequenos nossos pais nos ensina que é assim, e assim você o faz, mas se seus pais não fazem isso? E quando eles estão pouco se importando com o seu caráter? Ai é simples, a vida te ensina aqui fora o que você deveria ter aprendido dentro de casa.
Uma certa vez cai na audácia de perguntar a minha mãe o que era o amor, um erro, mas naquela época eu não sabia nada sobre tal, e com a resposta dela desejei mesmo nunca saber, afinal ela nem ligou de destruir os sonhos de uma garotinha de dez anos. ''Ao contrario do que dizem minha filha, o amor não é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas, o amor é aquilo que nasce no coração dos fracos e burros, os fortes e espertos ficam longe dele, nunca se apaixone por ninguém, digo, se gosta de ter seu coração inteiro''
Hoje, tenho uma nova definição, acredito que o amor seja só uma desculpa de desespero pra alguém que não queira passar o resto da vida sozinho.
Olhei a paisagem da bela Alemanha, mudara muito desde minha ultima visita, caso naquela época eu soubesse o que viera acontecer no futuro não teria ido embora, talvez nem partido.
A viagem até ali tinha sido exaustiva e turbulenta.
Lá estava eu, parada na frente do enorme portão da bem sucedida família Trompson, que hoje não passava de um portão qualquer de uma casa abandonada pelo tempo. Respirei fundo e dei uma olhada em volta, talvez me certificando que ninguém fosse aparecer e apontar o dedo na minha cara, gritando para a vizinhança inteira que a filha problemática deles estava de volta.
E sem delongas, dei o primeiro passo indo em direção aquela grande casa, aonde vivi a maior parte da minha vida, aonde conheci a dor, o sofrimento e alegria, aonde aprendi a cair, só que ao contrario de outras pessoas eu não fiz o chão como local de queda, e sim como local de base, sendo que cada vez que eu me reerguia, eu ficava mais forte, e mais fria.
Abri o portão com dificuldades, ele estava todo enferrujado. Mirei o grande jardim, que agora era coberto por folhas secas e mato. O único som que eu podia ouvir era do meu salto seguido por minha mala, era assustador mais eu já havia passado da época em que eu tinha medo de monstros. O caminho até a posta parecia ter diminuído, parei frente à porta principal, deslizando os dedos pela maçaneta, a abrindo-a.
Não entrei. Fiquei parada, vendo a poeira subir pelo ar, fitei a casa por dentro. Estava tudo igual. Os moveis estavam todos cobertos com lençóis brancos, as fotos como eu pedirá, estavam abaixadas. O cheiro de casa velha emanava o ar. Com certa dificuldade eu entrei. Andando lentamente enquanto passava os dedos pelos objetos de sala. Senti meu coração apertar e minha respiração falhar com a intensidade que as lembranças invadiam minha mente. Mas consegui controlar aquela louca vontade de sair correndo dali. Olhei a grande escada, parando sobre o primeiro degrau e em seguida subindo o restante que faltava. Cheguei ao corredor principal, aonde se encontrava a porta para a maioria dos quartos.
Olhei atentamente o corredor me certificando que eu não esquecerá nenhum detalhe, passei lentamente porta por porta, sabendo qual eu procurava. Parei ereta sobre ela. Meio tremula eu girei a maçaneta, abrindo devagarzinho o quarto. Como eu imaginara estava tudo empoeirado, e tudo no lugar.
Era o quarto dele. Meu adorável Gabriel. O quarto dele foi o único em toda casa que eu não deixei ninguém tocar, era torturante estar ali do mesmo modo que era bom também. Uma bela de uma antítese sabendo que eu mesma era causadora da minha própria dor. Sabendo que se eu fosse menos irresponsável e cabeça dura, ele estaria aqui comigo.
O quarto tinha suas roupas, sua cama, suas fotos, tinha tudo, menos ele. Se ele estivesse aqui, eu não estaria perdida, com ele eu saberia pra onde seguir, que escolha fazer. Tudo seria tão mais fácil. Tudo seria tão mais leve, pois ele dividiria esse peso comigo.
E ainda anestesiada pelo momento eu me deitei na sua cama, não podendo deixar de reparar nas fotos do teto. Em todas elas Gabriel estava sorrindo, e por raras vezes eu fazia parte dessa felicidade. Sorri vendo seu sorriso.
Se existisse uma forma de voltar no tempo, qualquer uma que fosse eu faria o possível para fazer acontecer. Mais dizem que se a gente pudesse voltar a trás nas coisas que fazemos, nunca seguiríamos em frente. E era verdade.
Levantei-me da cama, limpando uma lagrima solitária que escorreu pelo meu rosto, se curvando no meu pescoço. Fechei a porta atrás de mim, suspirando pesadamente, e em seguida olhei a porta da frente. Ela ainda estava com a plaquinha ''Vai pro inferno, não me perturbe!''. Dei dois passos, e abri a porta.
Sorri. Depois de tanto tempo não era tão ruim voltar aqui, era até confortável. Atravessei o imenso quarto e espichei o pescoço por entre a sacada, não havia mais a casa de Bill ali. Agora só havia um grande muro, talvez até pra não ocorrer de talvez o vizinho cair na tentação de pular da sua casa pra nossa. Era até engraçado, eu nunca imaginei ser assim, do contrario imaginei que íamos crescer e continuaríamos a pular a sacada um do outro, hoje em dia vejo como esse meu pensamento soa ridículo.
Não havia nada no quarto dos meus antigos pais, pedi que tirassem tudo e doasse a alguma instituição de caridade. De resto, cozinha, salas, jardim, garagem, estava na mais perfeita ordem, fora a vasta poeira que encobria tudo, nada que uma boa limpeza não resolvesse. Meu telefone apitou, era o toque que coloquei para meus pais. Obvio que eles sentiriam minha falta, tanto quanto estou sentindo a deles.
Fizeram as perguntas clássicas ''Como você está?'' ''Onde você está?'' e, depois que respondi a avalanche de perguntas curiosas me quase fez arrumar umas desculpas e desligar, porém, de agora em diante eu queria ser o mais transparente possível com eles.
– Deu uns problemas aqui dos quais só eu posso resolver – Justifiquei.
– Que tipo de problemas? Posso ajudar?
– Me chamaram pra dar uma entrevista na Bravo!
Então a conversa se alongou por um bom tempo.

O tsc-tsc no meu sapato alto transmitia o que minha cara provavelmente já devia ter me entregado: impaciência. Já fazia pelo menos meia hora que eu estava sentada, em uma sala, esperando alguém vir. Quando estava preste a sair, um homem alto e com barba por fazer entrou, distribuindo sorrisos, que eu fiz questão de só alonga os lábios como retribuição. Não eram meus melhores dias.
– Desculpa – Sentou a minha frente, arrumando alguns papeis em sua frente, e depois dobrando as mãos em cima da mesa – Rokety Francis?
– A própria. – Pelo meu tom de voz, logo ele pode deduzir que meu humor não estava bom – O seu?
– Robert Klaus, um dos editores da revista vim pessoalmente falar com você!
Em seguida, ele explicou passo a passo o que poderia acontecer comigo e com a revista caso o que eu dissesse fosse mentira, as consequências mais pesadas ficariam pra mim, não precisei assinar nada, mas ele me garantiu que meu nome não seria divulgado.
Voltei a um dia atrás, relembrando a conversa com minha mãe, e o quanto ela havia pedido que eu não fizesse isso. Realmente eu estava sendo cruel, mas, Bill não se importou em ser ou não ser cruel quando me humilhou na frente da escola inteira contando meu segredo, ou quando não pensou nas consequências que teria quando contou sobre minha gravidez ao meu irmão, assim como não pensou em mim quando foi até a casa de meus pais e contou tudo a eles. Então eu não via problema em uma vez na vida ser cruel com ele também.
Porque se talvez eu tivesse pensado em mim, eu teria contado a todos aquela época sobre nós, e destruído sua carreira, hoje tudo que eu disser pode abalar sua carreira, assim como a banda toda. Eles são populares, vão superar, eu superei tantas coisas que pensei que nunca conseguiria.
– Conte-nos Rokety qual é sua relação com Bill Kaulitz? – E logo em seguida ligou um gravador.
Contei como sempre, desde o inicio.

A bomba tinha estourado, e eu estava sentado de baixo de uma arvore tomando suco. Poucos dias havia se passado desde minha chegada e o dia lá na revista, porém o suficiente para a noticia se espalhar pela Alemanha, e alguns países, não demoraria pra logo em seguida o mundo todo saber.
Passei a frente de uma banca, e sem exceção todas as revistas tinha o rosto dele estampado, manchetes enormes, foliei mais por curiosidade eu já sabia o que tinha dentro dela.
Meu celular estava cheio de ligações perdidas, bem eu sabia que não era dos meus pais, muito menos de Aline, era dele. Quando não eram ligações, eram mensagens, todas quase iguais ''eu vou te matar''. Aline provavelmente estava consolando Tom, Georg sua namorada fantasma e Gustav, bom, esse eu não sei. Bill as drogas o consolaria, mas pro bem dele, era bom ele parar.
Dizem que a vingança é um prato que se come frio, pra mim ela tem um gosto ruim, amargo, eu estava disposta a mudar, e vingar-se de alguém de cara, não é legal. Mas toda regra tem sua exceção.
Já era fim de semana, e havia dois planos inadiáveis em minha agenda, o primeiro era ir até uma das boates Coller que tem por aqui, ver como está, a pedido do Jerferson, e depois criar coragem com doses e mais doses de bebida pra poder ir visita-lo.
Estacionei o carro alugado na frente da boate, lotada.
Passei pela multidão que estava esperando para entrar, e mesmo sem olhar sabia que estava recebendo olhares nada amigáveis de todo mundo até ser barrada, de novo.
– Desculpe mocinha, final da fila – Sem se mexer o segurança grandalhão me disse.
– Eu só quero entrar na minha própria boate, posso? – Murmurei irritada, colando a mão na cintura e ajeitando o cabelo, ocupando as mãos, ao invés de usa-las na cara dele.
– Sua? Interessante... – Colocou as mãos no queixo, eu já sabia o que ia acontecer – Não vejo seu nome nela.
– Olha seu idiota, retar-
– Ei, ei, você poderia ser mais educada não? – Outra voz se pronunciou – Não vi ele te tratando mal. – Um homem alto, musculoso, e serio, saiu de dentro da boate, parando ao lado do segurança e me encarando.
– Eu poderia ser a miss universos também, mas não sou, então se conforme com minha falta de educação, do mesmo jeito que eu me conformo em não ser a garota mais linda do planeta.
– Não minha interessa se você é, foi, ou será miss alguma coisa, o que me interessa é que das câmeras dá pra ver seu barraco, e devo lhe informar que a entrada é igual pra todos. – Cruzou os braços, irritado.
– Rokety Francis. – Informei brigar não me levaria a lugar nenhum.
E com um longo suspiro, ele disse:
– Entra, a casa é sua – O modo que ele disse dava pra entende que aquilo era no literal da frase.

– O que te trás aqui? – Em um lugar mais calmo, aonde podíamos falar ao invés de gritar, Rômulo perguntou.
– Férias, apenas – Respondi.
– E resolveu dá um pulinho aqui? Gostou? – Dava pra sentir a expectativa na voz dele.
– Adorei, menos o pequeno incidente na porta, mas tudo bem – O tranquilizei, Rômulo, apenas balançou a cabeça.
– Desculpe-me isso não vai acontecer – Garantiu, sorrindo abertamente.
– Sem problemas.
– E ai, o que temos pra hoje? – Esfregou as mãos animado.
Ai depende, na minha cama ou na sua?
– Me mostre o que você tem de melhor!

Não foi na minha cama nem da dele, não foi em lugar nenhum, achei que estava animada, que bebendo eu esqueceria, mas infelizmente a angustia e todos os sentimentos ruins estavam me cercando, que raio de férias é essa que eu não me sinto relaxada, aliás, parece que o peso do mundo está nas minhas costas.
Com os pés no chão e as sandálias na mão, eu caminhava, sozinha, mas pra mim eu mesma estava ótima, eu era uma ótima companhia para mim mesma, eu me entendia, eu me acusava, eu reclamava de mim mesma, eu chorava, e o melhor de tudo, eu nem precisava abrir a boca, só pensar.
O sol já estava nascendo no horizonte quando eu cheguei lá, a melhor coisa em cemitérios de pessoas ricas é que não importa o tempo que passe, sempre que você vier visitar alguém, vai parecer que você não o enterrou á anos e sim há dias.
Afundei o pé na grama aparada, e sentei em forma de indiozinho a sua frente, e observei a sua imagem por longos minutos e sorri, talvez pensando que de alguma forma ele fosse sorrir também. Tirei de dentro da bolsa uma foto nossa, e passei o dedo pelo seu rosto.
– Mas você disse que nunca ia me abandonar... – Sussurrei com a voz embargada pelo choro que já estava vindo à tona. – Mas você também disse tanta coisa, e nem teve tempo de cumprir por minha culpa né?
Se ele estivesse aqui, provavelmente diria ''Para com isso, não é culpa sua, foi o destino'', mas quem é o destino quando se temos escolhas? Que culpa ele tem? Não podemos culpar o destino pelas consequências de nossos atos.
– A senhora está bem? – Um senhor de idade colocou sua mão em meu ombro – Dá pra ouvir seus soluços de longe – Limpou uma lagrima minha – Posso fazer alguma coisa?
– Pode me ouvir chorar e não questionar – Afaguei sua mão amigavelmente. Ele se sentou ao meu lado e deixou a sua pá de cavar de lado.
– Uma, posso?
Eu queria dizer que não, mas ele me presenteou com um sorriso tão lindo que não resisti, suas rugas se uniam e seu olho se fechava quase que por inteiro, era perfeito.
– Pode.
– Sei que você está chorando por esse rapaz, mas qual o motivo?
Qualquer um poderia achar que ele é mais um curioso afim de saber uma fofoca qualquer, mas em suas palavras, senti sinceridade, ele realmente queria saber para me ajudar de alguma forma e não por curiosidade.
– Meu irmão morreu por minha culpa, por minha falta de responsabilidade, imaturidade de estupidez em excesso. – Não quis olhar na sua cara, tinha medo da sua reação, mais um pra apontar o dedo e julgar.
– E se cada vez que você se culpasse você se ocupasse em ser feliz e seguir em frente, provavelmente seria mais alegre com a vida.
– Tento fazer isso todos os dias – Disse – Mas parece que toda vez que eu tento, eu falho, parece que eu estou nadando no seco, sempre retrocedendo, o passado sempre está presente e quase sempre fode com meu futuro. – Poucas palavras, mas agora parecia que desabafar com aquele estranho me tirava um peso danado das costas.
– E chorar resolve?
– Não.
– Então porque chora? – Questionou intrigado.
– Porque é a única coisa que eu sei fazer sem machucar ninguém que eu amo. – Dei um sorriso triste, secando as lágrimas com as mãos.
– Você não é daqui certo?
– Sou sim – Falei, e o vi ficar surpreso – É que faz muito tempo que eu não venho aqui, moro em L.A, queria tirar umas férias de tudo, mas ao que parece, terei que voltar.
Sua expressão ficou triste de repente.
– Mas por quê? – Choramingou.

Assim que eu estava no maior clima com Rômulo, meu celular tocou, não reconheci o numero e fiquei desconfiada em atender, Rômulo me olhou como se dissesse pra mim atender que não teria problema, me afastei e assim fiz. Para depois me arrepender.
– Achei que não ia atender – Para meu espanto, ele falou feliz e aliviado.
– Não entendo porque está me ligando, aliás, espero que seja muito importante você me atrapalhou – Sibilei brava, intercalando olhares com Rômulo do outro lado.
– É da sua importância sim – Engrossou a voz – Porque você é a culpada.
– Eu estou do outro lado do país e estou sendo culpada do que?! – Esbravejei – Vocês não sabem fazer nada sem assumir a culpa não é?
– Se é pra falar de culpas, você tem muitas pendências não? – Acusou – Só estou dizendo que ele está pior, trancando em um quarto, e tudo é culpa sua!

Fiz um breve resumo de tudo a Grigori, esse era o nome do simpático senhor, que a muitos anos trabalhava aqui, quando cheguei na parte de Bill fui repreendida, segundo ele não se paga mau com mau. Ele meu deu bons conselhos, e disse-me para eu ir ajuda-lo.
– Mas, Grigori, ele errou feio comigo.
Ele pegou minhas mãos, deu um suave beijo, levantou-se pegando sua pá, e limpando a grama de seu corpo, ele foi indo, assim sem dar explicação nenhuma, e eu só olhei, mas antes que eu pudesse o perder de vista, ele disse:
– Então, minha jovem, espero que nunca erre.

Postado por: Grasiele

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