quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 21 - Band-aids


''Cuidado, curva perigosa!''
''Reduza a velocidade, neblina''.

Quando estamos viajando a centenas de placas nos avisando como proceder em certos caminhos, na estrada da minha vida, nunca fui preparada pra nada que viesse me acontecer no meu percurso, não havia nenhuma placa, sinal ou alguém que pudesse me dizer, por exemplo, quando eu deveria frear e não fazer alguma coisa, tomar cuidado quando algo era perigoso demais, eles simplesmente assistiam.
A estrada da vida é um caminho difícil de percorrer.
Voltar pra Los Angeles é uma manobra arriscada, pensei. E lá estava eu, parada com uma pequena bagagem de mão e um carrinho com o resto, enfim notei o que estava procurando, também sabia que nunca iria achar.
Eu procurava Bruno. Vasculhava com os olhos procurando alguém que não estaria ali me esperando, não haveria ninguém com os olhos verdes e um cabelo totalmente desorganizado, com a mão no bolso enquanto falaria ''Senti saudades'', entre um bocejo e outro ou me dar uma bronca seguido de um abraço caloroso, não haveria nada. Só sai do transe quando alguém se esbarrou comigo, xingando em alguma língua que eu não conhecia.
Cheguei rápido em casa, larguei as bagagens em algum lugar depois que passei pela porta e corri para os braços dos meus pais, que como sempre estariam de braços abertos pra me receber. E não havia lugar melhor do que estar debaixo das assas protetoras deles. Então desabei. Chorei tempo suficiente para o cansaço me dominar e os soluços virarem apenas suspiros enquanto eu caia mais fundo em um sono sem pesadelos. Eles não fizeram perguntas, apenas diziam que estava tudo bem, eles estavam ali, me senti mais leve após tirar um peso de cima de mim que eu nem sabia que carregava.
Acordei cedo, não me surpreendendo em estar em meu quarto, tomei um banho e me arrumei, deixei um bilhete a meus pais e sai.
Não se preocupem dizia eu já volto, R.
Rodei a cidade sabendo que não poderia adiar a conversar que teria com Bill, hesitante virei à esquina de sua casa e fiquei feliz, não havia carros nem ao menos paparazzis com suas câmeras super tecnológicas, seria fácil entrar inteira, difícil seria sair sem deixar um pedaço de mim pra trás.
Titubeei os dedos sobre o volante contando até dez, coloquei o capuz e um óculos, por precaução e sai do carro.
Toquei o interfone uma vez, duas, três e esperei. Nada. Olhei em volta e reparei nas pequenas câmeras direcionas para a entrada, claro, ele estava me vendo, nunca iria me atender, ainda assim tentei mais uma vez.
– Bill, atende, por favor – Sibilei olhando diretamente a câmera. – Como quer me matar se não me atende, hã?
Ainda assim nada, desisti. Na boate ele não escaparia.
– Hm, moça? – Havia um rapaz de estatura mediada a minha frente me olhando curioso, ajeitei meus óculos.
– Sim
– Se está procurando os moradores dessa casa, perdeu a viagem – Disse, e quando eu ia perguntar por que, ele continuou – Eles foram embora há alguns dias.
Foram embora, repetiu minha mente Tudo bem, tudo bem. Mas logo cai na real, nada iria ficar bem. E como se não quisesse nada eu perguntei o porquê, o rapaz respondeu o que eu já sabia, só precisava confirmar.
Já havia passado alguns minutos e eu ainda estava olhando a casa fixadamente, de dentro do carro eu ainda não conseguia acreditar que consegui fazê-los ir embora, suspirando busquei minha ultima alternativa.
– Alô – Aline, disse desconfiada, ela não conhecia meu novo número – Quem fala?
– Sou eu, Rokety – Respondi alegre – Como está?
Ouve uma agitação do outro lado.
– Oh meu deus! – Ela sussurrou – É você mesmo? – Ela riu e acrescentou: – Senti saudades!
– Eu também – Senti a força da sinceridade em minha voz – Onde você está?
Aline ficou em silêncio, quando voltou a falar sua voz era aflita.
– Na casa do Tom – Sussurrou novamente. Ela estava com Tom, e Tom não queria me ver nem pintada de ouro, ambos não sabiam que eu já estava de volta – Aconteceu muita coisa.
– Eu precisava falar com Bill.
– Acho melhor não, Rokety – Disse ela – Ele não está nada bem.
– Eu posso ajudar – Supliquei – Por favor, me diga onde vocês estão, Aline.
– Você já causou danos demais e, Tom não deixa, desculpa – Lamentou.
E antes dela desligar, eu implorei mais uma vez.
– Me dê uma chance de tentar, por favor, Aline.
Ela não disse nada de imediato, alguns minutos de passaram e quando eu já deslizava o dedo para desligar, ela disse:
– Onde você está?
Meia hora mais tarde encontrei, Aline em um píer bem afastado da cidade.
– O que faz por aqui? – Perguntei – Não vai me dizer...
– Sim, eles estão morando por aqui. – Ela deu uma olhada em volta, assim como eu, ela parecia não aprovar a localização – É longe, não chama a atenção.
Assenti baixando os olhos.
– Tom sabe que está aqui? – Cutuquei a madeira sobre meus pés e esfreguei minhas mãos sobre o casaco de inverno.
Ela riu.
– Não, ela vai me matar, mas quem se importa? – Apesar de tudo, Aline ainda me apoiava, colocando em risco seu rolo com Tom. – Vamos, Tom acha que fui compra pão.
Enquanto íamos pensei em várias formas de falar com ele, ensaiei mentalmente desculpas, respostas e falas, sabendo que não adiantaria de nada, na hora, provavelmente, a impulsividade falaria por nós.
Olhando da janela do carro e reparei como eles realmente se empenharam em se esconder, nós já havíamos pegado a rodovia e agora entravamos por uma pequena estrada de terra, chovia um pouco, o tempo úmido não ajuda em nada, mas de longe ainda se vida um pouco do mar, e algumas ilhas distantes. Então paramos.
Minha garganta secou, minutos, passadas e uma porta me separavam dele, acompanhei o carro de Aline e estacionei. A casa era mais ou menos rancho, não parecia ser do Bill, até porque não vi nada de diferente, nada que pudesse dizer que Bill havia habitado aqui antes, esse tipo de lugar não combinava com ele.
Aline saiu do carro fiz o mesmo.
– Eu entro primeiro, ok?
Virou e foi. Esperei poucos minutos encostada no carro até ouvir a voz um tanto elevada do Tom, de principio era só um sussurro indignado, com sua proximidade ela ficou bem audível.
– Mas você é mesmo muito cara de pau né, Rokety? – Parou na minha frente apontando o dedo na minha cara, nada fiz – Fora! – Apontou a saída. – Agora!
– Não vou sair antes de falar com, Bill – Dobrei os braços – Nem que eu tenha que passar por cima de você.
– Ok – Ele passou as mãos na testa, limpando um suor inexistente – Não sai por bem, sai por mal.
Eu fui mais rápida. Quando ele veio pra cima de mim eu passei por debaixo do seu braço e corri o mais rápido que pude, o ar frio entrava por minhas narinas congelando meus pulmões querendo me fazer parar, mas eu continuei.
– Volta aqui!
Ouvi a voz de Tom de longe, cheguei ao hall de entrada e olhei a escada.
– Lá em cima.
Subi rapidamente, procurando algum indicio de Bill. Por onde ia passando fui abrindo ligeiramente a porta, calculei que o baque que cada uma fazia iria ser suficiente para fazê-lo vir ver o que estava acontecendo, mas quanto mais eu chegava ao final de corredor, mais o desespero aumentava, afinal cadê ele?
Quando cheguei às ultimas portas do corredor o encontrei. O barulho da porta nem o fez mexer. Como era de imaginar,o quarto de Bill era enorme, maior até que o meu.
Bill estava com um moletom preto, deitado em diagonal na cama de casal que ficava no centro do quarto. Ele dormia profundamente, ressonando de vez em quando. Seu rosto estava tranquilo com sono pesado e havia olheiras que eu não havia percebido antes, parecia cansado. A sensação de culpa e pena se misturaram, tomando conta de mim.
Dei meia volta e, em silencio fechei a porta atrás de mim.
Quando voltei, Tom e Aline me olhavam com curiosidade.
– Vou deixá-lo descansar.
Aline assentiu carinhosamente enquanto eu e Tom nos encaramos por um longo minuto. Dentro de mim havia várias perguntas, eu estava morrendo de vontade de perguntar a ele como estava Bill, como foram os dias que sucederam a noticia, se ele estava com raiva de mim, mais eu sabia que, Tom não responderia nenhuma delas.
Puder ver muitas perguntas para mim nos olhos amendoados de Tom, mas assim como eu, ele também não verbalizou nenhuma delas.
– Olhe – Eu disse, rompendo o silêncio intenso – Vou dar uma volta, ficar na praia...
– Isso! – Aline me interrompeu – Vamos dar uma volta – Então se virou pra Tom – Tudo bem, Tom?
Eles trocaram um olhar afetuoso, foi a primeira vez que fiquei feliz de saber que minha amiga andava com Tom.
– Tudo bem.
Hesitante, eu perguntei:
– Poderia avisar a ele que eu vim aqui?
– Claro, claro – Respondeu Tom.
Enquanto me dirigia à porta com o braço de Aline envolta do meu, me perguntei se ele faria mesmo aquilo, se não fizesse ninguém poderia dizer que eu não tentei, concluí.
Dirigimos a praia mais próxima.
Andamos em silêncio, ambas com as mãos no bolso, o céu estava nublado e mais perto do limite do mar o ar era mais frio. Não conseguia ver nenhuma das ilhas, a neblina não deixava. Sentamos-nos em uma rocha, Aline não disse nada, parecia entender que eu precisava só do som do mar e nada mais.
Ver Bill dormindo tão inocentemente roubou de mim toda a raiva que um dia eu sustentei por ele, mas não poderia ignorar o que fiz para ele estar daquele jeito. Bill, além de ser um grande companheiro, por assim dizer, foi primeiramente meu amigo, quer tivesse feito qualquer coisa. E olhando o mar invisível eu não via uma forma de fazê-lo voltar ao normal, á sua antiga vida, aquela antes de me rever em Los Angeles naquela noite.
Quando imaginei ele dormindo, no seu quarto, vulnerável, senti vontade de protegê-lo, sabendo que eu era o perigo. Era completamente ilógico.
Lógico ou ilógico, isso não importava, eu ainda tinha a lembrança viva de seu rosto sereno passando em minha mente, tentando pensar em uma resposta, ou uma forma de concertas as coisas.
–Hm,Rokety?
A voz de Aline, ainda que do meu lado me fez saltar. Ela me olhava timidamente, como se pedisse desculpas por interromper meus pensamentos.
– Sim?
– Tom disse que Bill acordou – Falou, esperando uma iniciativa minha como demorei ela voltou a falar – Você vai ir?
– Sim.
O caminho pareceu mais curto na volta, e minha garganta secava toda vez que eu imaginava como Bill reagiria a minha presença, se ele estava me esperando pra me matar como havia prometido nas inúmeras mensagens ou, se ele esperaria eu entrar pra então me enxotar junto com Tom para fora de sua casa, como um cão sarnento.
Mas tudo passou quando eu finalmente cheguei, Tom zapeava os canais despreocupadamente, e quando entramos, ele não disse nada, talvez fingindo que eu não estava ali, mas virou e me encarou.
Levando em conta que se tratando de irmãos gêmeos, Tom estava sentindo as mesmas sensações que Bill, seu olhar mortal tinha um fundamento,mas não me importei, vim para, por assim dizer, curar Bill, passar remédio e curar o ferimento que eu mesma causei.
Sei também que certos ferimentos deixam marcas pra vida inteira.
– Olha o que você vai falar, Rokety – Tom fazia um esforço danado pra dirigir a palavra a mim, Aline como era de esperar estava do lado dele. – Ele não consegue mais compor – Baixou os olhos – Tem crises, pesadelos, às vezes chora, então eu lhe peço, meça suas palavras.
– Não se preocupe.
Para uma pessoa que havia causados danos demais, falar ''não se preocupe'' era fácil. É como dizem, quem apanha nunca esquece quem bate sim. Não digo que sabia o que Tom estava sentindo com relação ao irmão, mas posso afirmar que posso ter uma noção do ele possa estar passando, sentindo-se impotente diante do sofrimento do irmão, eu bem sei o que é isso, e sei mais ainda que dói como se fosse em nós mesmo.
Nunca fui boa em ajudar as pessoas, se fosse talvez me ajudasse, Bruno era ótimo em ajudar as pessoas, abdicava de seu tempo livre, para ajudar em albergues e mendigos.
– Não vejo vantagem em ajudar as pessoas, e quando eu precisar, quem vai me ajudar? – Perguntei a ele uma vez, Bruno simplesmente riu.
– Fazer bem e não ver a quem, dar e não esperar nada em troca sabe essas coisas não são só bonitas quando saem pela boca, quando a fazemos valer, ficam mais bonitas ainda sabia?
Então era isso que eu ai fazer, a única diferença é que eu não poderia ignorar o ''quem'', pois eu sabia quem era.
Bati duas vezes na porta. Sem resposta.
Bati novamente.
– Vai embora, Tom – Resmungou, mas sua voz era baixa – Já disse que não estou com fome.
Abri a porta, e coloquei metade do corpo pra dentro. Ao que parecia ele não esperava que eu viesse tão rápido.
– Tom...
– Sou eu – Interrompi e seu olhar logo se encontrou com o meu. E deus, como ele estava mal.
– Tom me disse que você apareceu.
– Eu vim conversar – Sussurrei.
Fez-se silêncio por um bom tempo, tanto que eu me questionei se Bill havia me escutado, seu quarto estava escuro, não pude ver sua expressão, mas quando voltou a falar sua voz estava ríspida.
– Poderia ter ligado – Soltou asperadamente.
Assenti sarcasticamente.
– Claro! Como se vocês fossem mesmo atender alguma ligação minha, Bill.
Bill se agitou e começou a andar pelo quarto.
– Porque você veio? – Perguntou ele, sem interromper seu andar irritado.
– Queria conversar cara a cara, pessoalmente.
– Ah, claro.
– Bill...
– Veio ver o estrago que você causou pessoalmente, certo? – Murmurou friamente – Pois bem, serviço completo. – Fiquei quieta enquanto entrava sorrateiramente e me encostei-me à porta – Essa é a hora que você diz, ''nossa! Isso saiu melhor que a encomenda!'' – Sorriu sarcástico.
– Já parou pra pensar que talvez eu só quisesse que uma vez na vida você sentisse o que é ser apunhalado pelas costas pela única pessoa que você achava que deveria se importar com você? Que você sentisse o que eu senti? Mas estou aqui Bill! – Aumentei a voz – Estou aqui por você! – Parei na sua frente – Voltei por você, quando foi que você voltou pra limpar os machucados que você deixou em mim?
– Sentir eu já estou sentindo se esse era seu objetivo – Saiu da minha frente e foi pra janela – Mas acho que há outros modos de fazer as pessoas pagarem pelo o que elas fizeram, você não prejudicou só a mim, você prejudicou muitos. – Ergueu o cigarro na boca e o acendeu.
– Mas todos que eu prejudiquei, estão vivos. – Sibilei baixo, sendo tomada pelas lagrimas – Eu queria ver o que você faria se Tom... – Deixei a frase no ar, a essa altura ele já sabia ao que eu me referia.
Ele se aproximou alguns passos de mim, inclinando e me olhando com fúria.
– Você sabe que eu sinto muito! –Girou meio corpo, soltando a fumaça – Eu nunca pensei... Quem poderia saber?! Quantas vezes vou ter que pedir desculpas?! Porcaria!
Quantas vezes forem necessárias pra trazê-lo de volta! – Gritei de volta – Então para de pedir, isso nunca vai acontecer.
Silencio. Ele olhava fixadamente lá fora, apoiado a janela e eu observava, sabendo perfeitamente que aquela pose dele era só por fora, e temia saber como ele se encontrava por dentro.
– Não precisa sentir nada, eu já sinto por dois ou até mais – Falei quebrando o maldito silêncio que havia se instalado – Esse é nosso maior problema, nós nunca pensamos, por isso sempre voltamos a cometer o mesmo erro, e sempre, e sempre, e sempre, provando que nunca aprendemos com eles, vai chegar uma hora que não teremos tempo de acertar, e errado ficará.
Ele me olhou.
– Então me diga como fazer certo, pois eu não sei – Jogou o cigarro, irritado e angustiado, quase que implorando. – E se tiver alguma formula pra ser perfeito não hesite em me dar, por favor, senhorita eu-sou-muito-perfeita !
Eu tinha a resposta na ponta da língua, mas não disse.
Meça suas palavras. A voz de Tom dançava em minha mente.
Respirei. Brigar não nos levaria a lugar nenhum.
– Nem eu, acho que temos que procurar a respostas juntos, pois erramos juntos, - Sempre juntos, pensei. O que chega ser criminoso usarmos tanto ''juntos'' quando na verdade estamos o mais separado possível.
Bill pareceu relaxar por alguns instantes, tanto que sua voz já era suave.
– Odeio admitir... – Desencostou-se e, sentou a meu lado casualmente – Você sempre foi melhor do que eu, mais forte, mais tudo.
– Todos nós somos fortes de jeitos diferentes. – Falei passando os braços em sua volta – Tom me disse que você não consegue mais compor já faz algum tempo, contou as crises, e que você não parou com as... – Suspirei – Você sabe, mesmo depois daquilo.
– Estão todos em cima de mim – Disse cansado – David, a gravadora, Tom, e agora a mídia inteira – Me olhou – Tivemos que desligar os celulares o telefone e dobrar os seguranças, está um inferno.
– Me desculpe, não vou mentir e dizer que essa não era minha intenção antes, mas ainda assim que você me perdoasse.
Uni os dedos, estalando um por um, a aflição subindo pelos meus poros.
– Talvez... – Pego minhas mãos – Você me perdoa também?
Um dia, eu poderei voltar no dia de hoje e perceber que esse foi pedido mais sincero de Bill, o raro pedido. Mas hoje, nessa hora, vejo que o pedido que esperei a vida inteira não teve o mesmo efeito que eu esperasse que teria sobre mim. Na minha mente, Bill pediria desculpas e eu pisaria nele, o acusaria e diria que não, me sentiria bem e feliz, como se fosse alguma espécie de prisioneira que enfim ganhou sua liberdade. A liberdade agora não me parecia nada de diferente, nada que já não tenha experimentado antes.
Senti vontade de perguntar, pelo o que Bill pedia desculpas, mas fiquei quieta.
No silencio do quarto tudo,enfim, se encaixou.
Balancei a cabeça. Bill. Sempre Bill. Tudo nessa viagem, tudo em minha vida, percebi, sempre me levaria de volta a ele, como se fossemos imãs, mas que ainda assim se repeliam. Então vi o que, se fosse ainda possível, partiu ainda mais meu coração e me devastou por dentro.
Bill chorava silenciosamente.
Quando fui à revista sabia o peso das minhas palavras sobre Bill, sabia o quanto isso o afetaria e a extensão dos danos nele. Banda sem Bill não era banda. Então Bill estava vendo o projeto de sua vida ir por água abaixo e podia nada fazer, somente assistir de camarote.
Sabia que havia palavras pra reconfortar Bill, mas como de costume, não sabia o que dizer. Somente cheguei mais perto dele e coloquei minhas mãos em suas costas. Ele não disse nada, nem precisava. Fiquei ali parada, como se tentasse absorver sua dor , na esperança de toma lá para mim.
– Estou sendo punido – Disse ele, com a voz engasgada. – É um preço justo.
– Não, Bill! – Protestei, percebendo só agora que chorava também - Não há preço justo porque você não me deve nada.
– Devo – Continuo como se eu não tivesse falado nada – Te fiz sofrer e ainda ri da sua dor – Respirou fundo e me olhou ternamente – Desde daquela vez lá na Alemanha, todos os dias, desejava saber tudo que aconteceu com você desde que fiz aquela coisa horrível.
– Eu fiquei bem, tudo ficou bem – Disse eu o confortando, pensando que a ultima coisa que eu havia ficado naquela época, era bem.
Eu esperava que Bill continuasse com o melodrama, mas ele me surpreendeu.
– Você ainda não me disse por que veio aqui – Limpou a cara.
– Eu já disse, conversar.
– Só isso? – Indagou – Mais nada?
– Vim te pedir... – Parei, o orgulho ainda estava no ar – Vim pedir... – Suspirei – Desculpas.
Ele se virou e pegou meu rosto em suas mãos e disse:
– Eu te amo – Sibilou – Sempre vou te perdoar.
E me beijou. Beijamos-nos por incontáveis minutos. Estremeci um pouco quando senti sua pele em contato com a minha, parei e o fiz me encarar, me perdi em seus olhos e desejei nunca mais me encontrar, perdi noção de tempo e espaço, não sabia pra onde iria, mas sabia que se ele estivesse do meu lado, qualquer direção servia. Fui egoísta e desejei que Bill fosse só meu, de qualquer tipo, forma e existência. Desejei que fossemos só um, sabendo que quando estava com ele, eu tinha tudo, com ele não me faltava nada, pois seu amor me preenchia.
– Nós vamos dar um jeito nisso, você vai ver – Eu disse, ele balançou a cabeça concordando.
Segundos depois, Bill me puxou pra outro beijo, desesperado por minha boca tanto quanto eu pela sua.

Acordei de noite já, Bill dormia despreocupadamente do meu lado, comparando ao que vi horas atrás, Bill deu uma grande melhorada, quase podia vê-lo sorrindo enquanto dormia. Queria poder ficar o observando, mais eu disse que eu ia dar um jeito, e vou.
Eu sabia que tinha uma chance, uma única chance de tentar desfazer tudo, passar uma borracha, ainda que essa chance fosse absurda e totalmente errada, mas ela a única opção que eu tinha.
Sabia também que Jeferson ainda cuidava de tudo pra mim e que estaria na boate, só ele poderia me dizer se dava ou não pra fazer o que eu queria. Idiotice, mesmo ele dizendo que não, eu bem sabia que eu iria fazer.
Entrei pelas portas do fundo, e de cara encontrei Jeferson. Contei tudo a ele, não havia também nada esconder. Notei que ele estava com um sorriso que não saia do seu rosto, mesmo quando eu disse o que queria fazer.
– Vai ser um arrombo – Disse ele após eu contar meu plano suicida, mas ainda feliz – Tem certeza que não vai se arrepender?
– Mais do que eu já estou, impossível! – O mirei – Você esta estranho.
Ele alargou mais o sorriso.
– Impressão sua. – Debruçou-se sobre a mesa, anotando alguma coisa. – Quando?
– Nem conversei com ele – Me afundei no sofá – Vai ser difícil.
– Não se preocupe, estarei aqui com você. – Entrelaçou nossas mãos e sorriu – Sempre.
– Basta uma ligação, para que, talvez, tudo volte ao normal – Disse.
– Talvez você queira fazer duas – E piscou, sorrindo. – Pegamos um fugitivo.

Postado por: Grasiele

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