quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 24 - Isso


Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, pra então várias outras se suceder.
Você não vai fazer nada? Vai me ouvir falar e não fazer nada?!
A voz de Bill era quente em minha mente. Encarei o lugar onde ele estava e, parecia que ele ainda estava ali, parado, ainda esperando uma resposta, mas não estava. Quando ele se cansou de esperar, me olhou fixadamente. Nos olhos dele vi raiva e tristeza, vi medo e traição, e quando percebeu que eu não daria um passo para acabar com aquela distância entre nós, vi acima de tudo súplica transbordando por seus olhos, era um pedido desesperado para eu mudar de ideia.
''Siga em frente, só os perdedores olham para trás'' Dizia minha mãe biológica, Patrícia.
Por isso, quando Bill se foi, fiquei parada, sem fazer nada, sem ao menos dizer adeus, eu sabia que se acaso fizesse eu iria falar mais, iria ser fraca e despejar todo o meu desespero em cima dele e só eu sabia o quanto me doía vê-lo partir. Dói pra caralho, por que eu sei que não vai haver pessoa no mundo que o substitua, por isso eu choro, desabo, e fico em pedaços.
Diga-me como dizer adeus á uma pessoa que você ama e nunca se imaginou sem?
Quando ele perguntou se eu não ia fazer nada, eu paralisei no lugar, abri a boca e quase disse algo. Quase. Mas fechei e fiquei calada. Naquele segundo eu poderia ter mudado toda a minha vida se eu tivesse falado alguma coisa, mas eu não disse, fiquei no mesmo lugar, olhando, e no mesmo lugar permaneci por horas depois de sua, enfim, partida.
Eu só torcia para que do mesmo jeito em que ele achou a porta da saída, ele um dia achasse a que o trouxesse de volta para mim. A questão é: eu deixaria ele entrar de volta?
Então amor era isso, é saber tudo sobre uma pessoa, é saber tim por tim o que impede o relacionamento de dar certo, é quando você tem a porcaria da certeza que seriam mais felizes separados do que juntos, é quando você perde a esperança, a fé, e vê que não tem volta, e tudo que acontece parece de algum modo ser uma canção de fundo, e as notas da musica te faz lembra da sua infância, de quando você tinha 10 anos e acreditava que milagres aconteciam.
Apesar de tudo, os sorrisos de Bill sempre me fizeram bem, nunca doeram, mas hoje, no estúdio, doeu. O sorriso dele não era mais pra mim.
– Você o ama?
Sentou-se meu pai á minha frente, me entregando uma xícara de chá, encarando-me com uma sobrancelha arqueada.
– Sim – Resmunguei cansada. Era uma pergunta meio óbvia de se fazer. Mas que eu coloquei em dúvida no instante em que o deixei ir.
– O que impedem vocês de serem felizes, minha filha? – Insistiu.
– Nem sempre o amor é suficiente pra uma relação dar certo, pai. – Nem sempre, completei em pensamento. Largando a xícara do lado e me aconchegando no seu colo. – Ele tá feliz sem mim.
– Não – meu pai discordou convicto. Abaixou e sussurrou no meu ouvido – Ele está tentando ser com outra pessoa já que não consegue ser com você, Rokety.
Dormi mal e acordei péssima, foi difícil levantar e eu não estava com fome, eu sempre estou com fome. Sabia que não estava bem, e sabia também que ia demorar pra ficar, mas quando você quer você fica, eu ia ficar. Fui tomar banho, me sentei no chão e encostei minha testa nos joelhos, deixei a água quente descer por meu corpo, abracei minhas pernas como se o planeta todo dependesse desse meu ato para continuar a girar, então chorei, chorei e chorei. A água se misturava a tudo, até ás minhas lagrimas e eu não me misturava a nada. Tentava, inutilmente, colocar em ordem as coisas em minha cabeça. Troquei de roupa e fui, depois de muito tempo, trabalhar.
Estava andando distraída, e isso não era novidade, ultimamente meus movimentos pareciam ser robóticos. Quando avistei do outro lado da rua alguns garotos amontoados, rindo. Um deles tinha os cabelos castanhos, sua risada parecia familiar. E quando ele ficou de perfil, paralisei no lugar. Bruno. Mas, quando o garoto se virou, seu rosto era redondo, sua risada era um pouco alta e suas roupas largas demais. Senti meu coração murchando, era bem óbvio que não era ele, nunca seria. Nunca mais. Mas quando você sente saudade demais de uma pessoa você começa vê- la nas outras, nos lugares, de costas, rindo, pelo jeito de andar, de mexer no cabelo, de ser.
Então era isso, eu veria Bill nos outros? Viria um casal na rua rindo e se divertindo e veria nós dois? Sentiria-me mal e viraria o rosto ignorando o quanto isso me fazia mal, respiraria fundo e sorriria como se há alguns segundos atrás eu não quisesse ser eles? Como se não quisesse ser feliz.
– Rokety? – ouvi de longe – que mania essa sua de sumir, caralho!
Olhei pra cima e vi Jeferson descer correndo as escadas. Ficamos longos minutos nos abraçando e depois rimos bastante.
– Eu seria muito intrometido se perguntasse aonde você se enfiou? – perguntou já me levando em um sofá. O dia mal havia começado e eu já queria desesperadamente que ele terminasse. – quer falar sobre isso?
O “não” praticamente dançou em minha boca, mas fiquei quieta, eu não queria falar sobre nada. Aprendi, meio que na marra, que histórias como a minha são tão previsíveis como areia no deserto, além de serem chatas. E, apesar de perguntarem, muitos nem querem saber o que realmente aconteceu.
– Sim.
Não foi difícil, Jeferson sabia de um bom bocado. Mas contei do inicio ao fim. Contei com mais detalhes do que pretendia. Quando terminei percebi o quanto foi difícil guardar tudo dentro de mim.
– Vai ficar tudo bem – ele pegou minhas mãos e as beijou – eu vou cuidar de você.
Senti as lágrimas se formando. Malditas!
– Você me promete uma coisa?
Assenti.
– Rokety eu não vou dizer que entendo o que você ta sentindo, porque da sua dor só você sabe. E eu não sou a pessoa mais apropriada pra ficar te dizendo aquelas frases clichês do caralho, você sabe, né? E eu posso não entender, mas me importo. E isso, infelizmente, não te ajuda em nada. Só você sabe o quanto fodida está, e a única que pode te ajudar é você mesma. Então me prometa que não vai ficar chorando e se lamentado pelos cantos. Porque as pessoas aqui não vão ficar preocupadas com você, vão sentir dó. E de dó, eu sei que você não precisa.
Quando terminou de falar, beijou minha testa. Qualquer pessoa no lugar dele sairia logo em seguida, julgando que talvez eu precisasse ficar um pouco só. Mas não, ele me estendeu a mão e perguntou:
– Você quer me dar uma mão? Temos bastante coisa pra fazer aqui.
– Sempre fico feliz em ajudar.
Logo me levantei e fiz uma coisa ali, outra aqui... Ia de cômodo em cômodo ajustando algo, falando com alguém e, simultaneamente pensava em tudo que Jeferson havia me falado e no que meu pai havia me dito de manhã.
Passamos a maior parte da tarde fazendo coisas inúteis, mas suficientes para encher minha cabeça com elas e não deixar nada ser útil o suficiente para me fazer pensar.
Jantei com minha pequena família. E tentava ao máximo não demonstrar o quanto estava desconfortável com os dois medindo cada palavra que saia da minha boca, e analisando cada gesto meu. Um teste que eu passei.
De manhã eu já estava mais acostumada com a idéia de que meu destino e do Bill havia se cruzado, mas não havia se unido. No outro descobri que não o esqueceria se o ignorasse nos locais que provavelmente nos encontraríamos querendo ou não. Que se ele ligasse para mim, certamente minha voz não sumiria e não falharia. Porque se você esquece, você se encontra e o ar não falta. Ele liga e você atende a voz não falta, porque a pior parte do amor é essa: é a indiferença, e não sentir mais nada. Na semana seguinte eu já poderia falar dele e sorrir, como quem comenta de alguém que você sente saudade, mas não faz falta.
O aniversário dos gêmeos chegou. Eles fizeram uma festa. Chamaram Simone, Gordon e mais algumas pessoas. Eu sabia onde ele estava, havia conversado com Aline que estava nervosa, ela conheceria a mãe dos Kaulitz. Uau. Foi à única coisa bacana que eu pensei em dizer. E disse. Comprei um presente legal, a meu ver, que combinava com o Bill. Era uma cruz folheada a ouro, com alguns detalhes a mão que eu sabia que Bill adoraria, ele sempre gostou de jóias artesanais.
Reservei uma mesa no mesmo restaurante que eles jantariam. Uma mesa bem afastada e pedi um vinho. Minha intenção não era beber até criar coragem para olhar em seus olhos e dizer “parabéns!’’ eu só aguardaria o momento certo.

Foi então que eu o vi. Estava sorridente e visivelmente inquieto e com um brilho no rosto que eu já mais havia visto. O vi sorrindo de um jeito estonteante e desajeitado que enquanto pude observar ficou o tempo todo em seu rosto e não saiu sequer um segundo. Parecia cantarolar alguma música animada. Todos estavam se divertindo bastante, inclusive Aline. Ele estava lindo. Eu olhei para ele e sorri, ele sorriu quase que no mesmo instante – não em minha direção, para mim – , apaixonado, sabe?. Sua felicidade brilhava tanto que chegava a me doer os olhos. Eu o vi feliz. Sendo feliz. E não puder deixar de notar que era com outra pessoa.
Continuei ali, sentada, até o momento em que ele se levantou. Iria ao banheiro. Levantei-me também.
– Bill – o chamei.
Ele parou e ficou bem visível que ele estava surpreso.
– Rokety?
– É – respondi sem jeito, sorrindo sem graça, tirando atrapalhadamente o presente da bolsa e o entreguei. – Feliz aniversario!
Ele pegou e abriu delicadamente, me olhando de soslaio. Colocou o pingente sobre a palma da mão e sorriu, ele havia gostado.
– Hum, obrigado, Rokety – sorriu mais – eu amei.
E pronto, o silêncio melancólico de instalou e eu tinha certeza que não demoraria a começarmos um conversar dolorosa.
– Quer ficar? – olhou para trás e depois pra mim – tem lugar ainda.
Não, pensei. Não tem.
– Melhor não
– Está com medo? – arqueou a sobrancelha, desconfiado.
– Melhor não. – repeti, porém, mais firme. – Bonita ela.
Ele riu. Uma risada triste, assim como aquele momento.
– Você sabe, sempre soube. Aliás, nós dois tínhamos um medo danado de se apegar, gostar de alguém, de se envolver, de se mostrar, nu e sem disfarces. Amar dá medo.
– Medo, Bill? Você não queria encontrar o amor verdadeiro? Ele está ai.
– Medo – repetiu. – medo de perder a liberdade, se de machucar, de perder a identidade... Porque o amor nos mostra o caminho, a gente caminha, ele apaga suas pegadas e, de repente, você não sabe mais voltar.
– Bill? – uma voz feminina o chamou.
– Adeus, Bill – corri e o abracei fortemente.
– Um dia desses a gente se encontra? – perguntou rapidamente.
– A gente se encontra. – afirmei e fui.
– Rokety – chamou. Virei-me. – Eu encontrei mesmo o amor verdadeiro, mas o perdi novamente, mas eu estou feliz. Ele acabou de garantir que a gente se encontra de novo.
– Parabéns.
Foi à última coisa que disse.


– Olha, moça igual a esse só te mais um. – a vendedora disse como se tivesse acertado pessoalmente os detalhes da sandália, ou de como havia decidido com estlista que igual aquele só teria mais um, ignorei. – ficou perfeito! Olha no espelho!
É, realmente havia ficado lindo. Isso porque ela nem sabe minha queda por sapatos altos, oh god!
– Vou levar.
Dia sete de setembro, meu aniversário.
Que foi semana passada, com direito a festa, bolo, a fazerem piadinhas com o meu futuro namorado e muita, mas muita bagunça. Meu pai havia me dado um lindo par de brincos de brilhantes. Minha mãe me deu um colar para combinar. Jeferson arriscou uma sandália. Cá estou eu trocando. De resto ganhei roupas e mais roupas e vários presentes de grego, e no meio deles tinha um bracelete prata, em detalhes de corrente, junto com um bilhete escrito: “Vasculhei dicionários, revirei livros, remexi gavetas e gramáticas procurando palavras bonitas para te escrever. Mas, não encontrei nada que pudesse descrever exatamente como eu desejo que você seja feliz. Parabéns. B.”
Fiquei olhando alguns outros sapatos enquanto a atendente voltava com meu. Distraída não percebi de onde ela veio, mas quando ouvi sua voz me arrepiei.
– Olá.
Ela sorria psicoticamente, mas aquilo não me intimidou, eu era raposa velha. Mesmo assim creio que ela percebeu a cara de desgosto que fiz, pois riu mais ainda.
– Muito obrigado. – sorri para a atendente, pegando minha sacola. – O que você quer? – perguntei com desdém assim que passei por ela, que me acompanhou.
– Sério que você não sabe? – perguntou cinicamente, ficando ao meu lado. De longe parecíamos grandes amigas que estavam fazendo compras, que lindo! E patético.
– Cuidado, eles sabem fazer leitura labial, eles estão onde você está agora, queridinha. – debochei. – desembucha. – parei no meio do shopping, a encarando sem paciência. – rápido.
– Calma – disse olhando para os lados – não quer sentar? – revirei os olhos, aborrecida. – vou ser rápida já que você tem que salvar o mundo hoje – e riu. Como se tivesse algum motivo para tal. Mas logo endureceu a voz, e com firmeza nas palavras disse: – se afaste, fui clara? Espero que sim.
Ai foi minha vez de rir, e muito. Só não chorei de rir porque não havia passado lápis à prova d’água.
– Para de rir! Eu não contei piada alguma! – apontou o dedo na minha cara.
Dei um tapa nele.
– Medi as palavras comigo, garota. – sibilei séria – lembre-se que quem financia esse circo sou eu, certo? E quando eu achar que o palhaço não está mais me divertindo eu simplesmente acabo com tudo. – estalei os dedos na sua frente – assim, como um estalar de dedos, entendeu? Espero que sim.
– Não diga que eu não avisei. – virou e saiu pisando duro.
– Digo o mesmo! – disse alto – palhaça.
Tudo isso aconteceu e o dia nem havia começado, e depois ele só piorou. Voltei para casa e deixei as coisas lá, almocei com meus pais e, mas tarde passei no Quiosque. Vesti uma roupa de praia e tentei aproveitar o resto do dia como qualquer outra pessoal normal. Quando sai da água meu pai me estendeu o celular.
– Ele não para de tocar.
Entregou-me. Olhei o visor e havia 17 ligações perdidas de Tom Kaulitz. Retornei imediatamente. Meu pai ficou do meu lado.
– Aconteceu alguma coisa, Tom? – perguntei preocupada, nem lhe dando “oi”.
– Aconteceu, sim. – ele disse baixo, suavemente, mas deu pra notar que ele estava muito bravo com algo, ou alguém.
– E o que você está esperando pra contar?! – soltei indignada.
– Esperar? Esperando? É, talvez eu tenha esperado muito mesmo! – aumentou a voz – esperado demais de você! Que, aliás, não fez porcaria nenhuma!
– Que droga você está falando, Tom?! Não estou entendendo nada, caralho! – perguntei confusa e furiosa por ele enrolar tanto em dizer o que estava acontecendo.
– Não está entendendo? Oh, coitadinha – ironizou, rindo – talvez agora você entenda: Bill vai se casar!
Não disse nada. E Tom não disse nada também, ambos pareciam absorver a informação, assim como eu, ele parecia não acreditar no que dizia. E eu, no que ouvia.
– Casar – repeti – devo ficar feliz em receber a notícia de primeira mão por acaso?
– Claro que não! – urrou do outro lado da linha, me encolhi. – Casar, Rokety! Entendeu a gravidade? Temos que fazer alguma coisa! Qualquer coisa!
– Você não acha que ele deve tomar as decisões por ele mesmo, Tom? Pelo uma vez na vida?
– Ah, sim! Agora nós o deixamos tomar a decisão por ele mesmo depois de tomar várias vezes por ele sem ao menos ter o consultado! Demais, se não fosse você, Rokety o que seria de mim? Nada! – esbanjou ironia, rindo no final. Mas, eu tinha mais ou menos noção de como Tom estava com relação a isso.
– Desculpe, não posso fazer nada com relação a isso. – disse finalmente, tristemente.
– Eu não fico surpreso. Espero que chegue um dia que você se arrependa de ter ficado ai, parada, ao invés de ter feito alguma coisa. – e desligou.
Olhei para meu pai que me encarava como se pudesse ler minhas emoções e saber exatamente como eu me sentia. O abracei forte e quis chorar, mas não chorei. Por que foi como Jeferson disse “não causa preocupação, causa dó. E de dó, tu não precisa”
No decorrer na semana a notícia se espalhou, estava em todos os jornais, revista e sites. Não agi como se não quisesse saber, até uma revista comprei. Foliei até à pagina e li a matéria com qualquer pessoa.
“estamos muito apaixonados” dizia ela, Ramona em uma parte da entrevista.
– ‘’estamos muito apaixonados’’ – Aline imitou uma voz fina, de puta, fechando logo em seguida a revista. – Que lindo, emocionei. Pena que a lágrima secou antes de sair do meu olho.
Aline revirou os olhos e eu ri do modo com que ela falou.
– Não gosto dessa garota, Rokety – acrescentou.
– Bill gosta. – dei de ombros.
– Bill tem péssimo gosto.
– Quando vai ser? – perguntei curiosíssima.
– Sabe como o Bill é né? Quer tudo para o mais próximo possível.
– E o mais próximo possível seria para o meio do ano que vem? – insisti.
– Meio do ano que vem? – riu – ta mais pro final desse ano mesmo!
Arregalei os olhos. O quê?
– Como assim? Vai dar tempo? – cuspi as palavras – eles nem se conhecem há tanto tempo!
– “a gente faz o que pode’’ – engrossou a voz imitando o Bill, péssimo desempenho, devo dizer – isso te responde? Olha, pra mim não faz diferença, o vestido dela rasgando e a deixando semi-nua já está de bom tamanho! – riu mais – e amiga, você está ultrapassada, eles já se conhecem a um bom tempo.
– Nossa como você é má! – rimos.
– A gente faz o que pode. – piscou.
Eu tentei ignorar o fato de que o tempo estava passando, os dias, até os dias pareciam passar mais rápidos, logo chegava os finais de semana, logo seria fim de ano. Mais um ano que iria passar e minha vida estaria na mesma, o que esperar do próximo? Criar expectativa ou deixar acontecer? Se eu soubesse qual dos dois me faria quebrar menos a cara eu já escolheria.
Estamos indo para a segunda semana de dezembro, maravilha não? Ótimo! As festas de final de ano lotariam a boate e a pousada. Los Angeles não era só a capital mundial do cinema, mas também das grandes festas de virada do ano!
– Rokety – Jeferson chamou.
– Aqui – gritei aqui de cima e o ouvi subindo.
– Correspondência – me entregou, sentando-se logo em seguida.
Era um envelope felpudo, com tons em dourado muito bem endereçado. Abri com cuidado, dentro havia um convite em letras elegantes e uma foto de fundo de um casal que eu reconhecia muito bem. Tinha data, o horário, que roupa usar, que presente dar, enfim, tudo.
Olhei para Jeferson que ainda esperava.
– Quer ir a um casamento? – joguei o convite para ele.
– Legal – deu de ombros, abrindo o envelope. – será que tem coxinha? – me olhou sapeca.
– Só indo pra saber, amigo. – respondi sorrindo.
Ele fez uma cara de triste e respondeu.
– Então teremos que ir, infelizmente!
– Cara de pau!
– Engraçado, achei que você seria a última pessoa que quisesse ir nesse casamento – disse sério, meio desacreditado – achei que você era mais orgulhosa.
– E sou – confirmei – mas cuspi meu orgulho quando abri o envelope já sabendo o que continha dentro.

Chegou o dia, o glorioso dia. Eu não ia ir ao casamento. Eu iria ver Bill.
A cerimônia ia ser ao por do sol, como Aline me dissera. Já era de tarde e eu me encaminhei para casa dele. Em todo caminho pensei em várias coisas. Menos de que eu estava indo para o lugar que eu deveria fazer um desvio e não seguir em frente como estava fazendo agora. Mas é que quando você sai na chuva é pra se molhar.
Desci do carro e respirei fundo.
Prometi a mim mesma que não ia chorar, e assim que fiz essa promessa estúpida sabia que a qualquer momento eu poderia quebra - lá. Liguei para Aline. Bill ainda estava em casa, segundo ela andando de um lado para o outro. Estaria só ele em casa e essa seria minha chance – se não a única – de falar com ele depois de tanto tempo sem nos ver.
Finalmente subi as escadas e cheguei ao corredor, de repente tudo me fugiu e eu já não sabia o que fazer só para onde ir. Esfreguei as têmporas e me aproximei da porta de seu quarto. Bill estava sentado de cabeça de baixa e quando notou minha presença se levantou com o semblante confuso. Ele esperou por mim, estalando os dedos enquanto, devagarzinho, eu me aproximava.
Parei a poucos metros de distância.
– Oi, Rokety. – ele disse – O que te trás aqui?
Sem rodeios ele me perguntou, e ao invés de responder, perguntei mudando de assunto.
– Matando tempo?
Estudei-o procurando sinais de aborrecimento, mas não havia nada.
– Mais ou menos – ele balançou a cabeça –, estou meio nervoso. – respirou fundo e acrescentou: – Mas estou feliz.
– Bom – eu disse – estou alegre por ouvir isso.
Bill então me olhou de forma serena, soube então que ter vim aqui foi à coisa certa a fazer. E ali, frente a frente, pareceu estarmos juntos uma vida inteira.
– Por que você veio aqui, Rokety? – perguntou novamente.
Foi estranho, e nenhum de nós parecia saber o que dizer, parte de mim queria pular aquela parte, a outra queria se sentar do lado dele e conversar como velhos amigos que já fomos sobre tudo o que havia acontecido conosco desde a última vez que nos vimos.
– Não sei – admiti – eu só sei que queria te ver. E que talvez você quisesse me ver também.
Ele apenas assentiu e se virou para sua janela; de seu quarto, não dava pra visualizar muita coisa, apenas o imenso verde de seu jardim.
– Sabe qual é a pior parte? – pensei em responder, mas ele não esperou – você está aqui. Na minha frente e ainda assim parece ter uma eternidade nos separando.
Abri a boca pra dizer alguma coisa, mas as palavras não vieram.
– Eu sempre penso nisso sabe? – me olhou – ‘’Será que poderia ter sido diferente?’’ na verdade eu penso em um monte de coisa, quase todas relacionadas a você.
E para não perder o costume, mais uma vez eu não tinha nada a dizer. As palavras de repente não faziam sentido até por que não havia uma lógica para tudo isso.
– Como sabia que eu estava aqui?
– Aline me contou.
Comecei a caminhar de volta a porta e Bill me seguiu com o olhar.
– Um “até logo” ou “boa sorte” não cairia mal, sabia?
Parei de costas e fechei fortemente os olhos, mas não havia como fechar os ouvidos. Então escutei a risada de Bill. E aquilo doeu.
– Isso é um adeus não é?
Fiquei em silêncio tentando absorver sua pergunta. Até que percebi que Bill merecia uma resposta.
– Sim – respondi me virando e dando mais um passo em direção a saída. Bill se levantou.
– Posso te ligar?
Sustentei seu olhar enquanto pude, quando desviei e me dei realmente conta do que estava acontecendo me perguntei se o nosso destino realmente poderia ter tido um final diferente.
– Melhor não, Bill – Crispei os lábios e o respondi friamente.
– Por quê?
– Por quê? – repeti entediada – porque até a meia noite de hoje você será um homem casado. Isso por acaso te responde? – respirei fundo e continuei – não conheço sua futura esposa e nem preciso pra saber que ela deve ser uma pessoa maravilhosa, Bill. Uma pessoa e mulher mil vezes melhor do que eu. Estou feliz por vocês. – parei para tomar coragem de continuar – por mais que eu te ame, sei que ela te fará mais feliz do que eu. Talvez você demore pra percebeu isso, mas quando perceber verá que sempre tive razão.
Quando terminei percebi que tinha aos poucos quebrado minha promessa.
– Há chances de nos vermos de novo, não há?
– Não sei... Isso só o destino pode dizer, mas espero que dessa vez nós dois tomemos um rumo que nos leve um pra bem longe do outro!
– Cale a boca! – gritou com a voz vacilante, também chorava. – você não pode dizer isso!
– Eu sei.
– Você não sabe de nada! Eu fui atrás de você! Eu sabia... Eu sempre soube aquele dia lá na boate, eu fui até você... Eu sabia que a boate era do Coller... – parou e me olhou desconcertado.
– Hã? – perguntei totalmente confusa, não entendendo o que ele realmente queria dizer com aquilo.
– Você sumiu, desapareceu. E eu nunca me conformei com nosso final. – andou até minha frente, me olhando docemente – Esqueceu, Rokety? Quem tem dinheiro tem tudo. Consegui te achar, sabia quando você ia vim...
– Espera! – levantei a voz e a mão, sentindo o estomago girar com o fluxo de informação – Você sempre soube, e mesmo assim deixou tudo acontecer desse jeito? – o olhei magoada e pedindo que aquilo fosse só uma brincadeira de mau gosto.
– Eu sabia que você ia estar lá – se defendeu – não sabia como ia ser! Não sabia que você ainda tinha tanto ódio de mim, e eu não me aguentei também, poxa!
– Isso já não importa mais. – disse finalmente, depois de um longo silêncio.
– Não... – ele tentou dizer.
– Bill – gemi, não queria continuar aquela conversa que não nos levaria a lugar nenhum. Será que Bill sabia o que viria a seguir?
Mais lágrimas escorreram por meus olhos e não havia jeito de as fazer parar. Dei passos de volta e fiquei frente a frente com Bill, passei os dedos por seu rosto delicado e enxuguei suas lágrimas. Então ele realmente quis nos dar uma segunda chance, pena que, mais uma vez, tudo fugiu por entre nossos dedos.
Bill segurou minhas mãos e as afastou.
Engoli em seco.
– Não há espaço pra mim em sua vida – sussurrei. Mais e mais lagrimas desceram por nossos rostos. Suavemente me inclinei e o beijei nos lábios e em seguida o abracei com toda minha força.
– Por que tem que ser assim? – murmurou Bill – Eu te amo.
– Eu também te amo, Bill – solucei – você é a melhor parte de mim. Você foi meu irmão, meu amigo, meu amante, e, jamais, me arrependo de um só momento que passei ao seu lado. Desculpe! Me desculpe, Bill! Só Deus sabe que eu nunca quis que você assim... Mas eu tenho que ir. E você tem um casamento ainda.
Enquanto falava, Bill chorou sem parar, e continuamos abraçados por um longo tempo, e quando nos separamos senti que aquele fora nosso ultimo abraço. Afastei-me olhando em seus olhos.
– Te amo mais, Rokety – ele disse.
– Eu sei, adeus.
Com isso Bill limpo seu rosto, virou-se e andou em direção a janela. Continuei a observá-lo por mais alguns segundos, me sentindo uma intrusa dentro daquele ambiente, percebendo, de repente, que não pertencia mais a Bill. Então, sem pressa alguma, caminhei calmamente para fora de seu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Desci os degraus cambaleando sentindo as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto, enquanto refletia se já havia me sentindo tão cansada assim em toda minha vida.

(Alguns meses depois)
Ele estava bem. Foi meu primeiro pensamento quando o vi, e como estava ele tinha um brilho diferente nos olhos que eu já havia visto antes e um sorriso imenso no rosto. Automaticamente sorri.
Fiquei ali tempo suficiente para saber que eu era uma intrusa. Ao seu lado, uma moça de cabelos negros e pele morena, retribuía seu sorriso. Bill e a mulher lavavam o carro, ou tentavam. Eles travavam uma guerra para ver quem ficava com a mangueira, era hilário e triste. Pensa que um dia eu quis ser aquela mulher da qual tirava gargalhadas dele.
Vendo essa cena, fiquei pensando se passaria por isso um dia, digo, ser feliz com a pessoa que eu amo, se vai demorar muito... Não ligo tanta para demora se eu tiver garantia de que um dia, esse dia chegará.
Cheguei também a conclusão de que eu era, na vida de Bill, apenas um capitulo daqueles bem mal feitos, sabe? Mas que apesar de ser mal feito, era essencial para a história. Ele era o ponto entre o clímax e o desfecho da história.
Agora Bill começa outro capitulo na sua vida, nesse não vai haver Rokety. Ainda assim, cá estou eu, parada, o observando, enquanto o mesmo me olha fixada mente, paralisado, para então piscar e sorrir. Sua mulher nesse instante, segue seu olhar, me olhando confusa. Uma confusão que passa no instante em que Bill grita meu nome seguido de um “senti saudades”.
Agora já era tarde demais. Não havia chances de eu virar as costas e ir embora fingindo não ter escutado ele me chamar. E, mesmo assim, eu calculei quais seriam as chances de eu sair correndo, mas a ideia de decepcioná-lo me fez ficar, enquanto sentia seu abraço molhado e frio, mas ainda assim o mais caloroso possível.
E foi bom. Foi bom constatar que não me atinge mais, que o ter por perto não me entristece, e mesmo sabendo que terei que ir embora e o deixar, isso não me tira mais o sono. Que as emoções passam por mim, mas não me atingem.
– Quanto tempo! – ele disse ainda me abraçando. Desvencilhou-se de mim e me analisou por uma fração de segundos – senti saudades, Rokety.
Parecia então que eu havia recuperado – por algumas horas – uma parte de mim que havia se soltado, parecia que eu estava inteira, de novo, mais uma vez, depois de ter passado um bom tempo andando por ai pela metade.
– E bom te ver.
Ele balançou a cabeça e piscou, talvez se certificando de que eu não era uma miragem.
– É ótimo te ver, sempre. – ele sorriu e me abraçou mais uma vez, queria que aquele abraço nunca tivesse fim. Mas teve. E atrás dele havia um olhar curioso, um rosto cheio de perguntas. Bill pareceu se lembra de algo. – Rokety essa é Ramona. Minha esposa.
Trocamos um breve aceno com a cabeça e eu não esperava mais do que isso, tanto dela quanto de mim.
– Vamos entrar, por favor, e depois se você quiser nos dar uma ajuda com o carro, ficaremos feliz não é, Ramona? – eles riram e trocaram um gesto afetuoso.
– Claro, claro – assenti, sorrindo de canto.
Foi só uma primeira impressão, pensei. Ramona me tratará muito bem, conversava com suavidade, e se teve não notei, indícios de ciúmes em suas palavras. Bill e ela se encaixavam de um jeito assustador, não era como nós fomos um dia, era de um modo que nunca seriamos, mas se fazia bem a Bill, me fazia bem.
– Mas, Rokety, me conta como está?
A tarde se estendeu Bill contava detalhe por detalhe de seu novo álbum, como estava a família, o resto da banda e, de vez em quando, Ramona se intrometia, concordava e sorria nos acompanhando em toda conversa. De mim contei só por cima, não entrei em detalhes como ele, mas confidenciei o suficiente para ele ter a nítida certeza de que eu estava bem.
Se alguns anos atrás alguém viesse dizer que eu, Rokety Françis estaria em uma sala com Bill Kaulitz e sua esposa em uma tarde de primavera no maior estilo “colocando as fofocas em dia” certamente não estaria vivo para ver o que profetizou ou eu teria batido nele o suficiente para que ele aprendesse a não fazer piadas sem graças.
Em uma fração de segundos, Ramona e eu trocamos um olhar cúmplice, pela primeira vez desde que cheguei, vi medo no fundo de seus olhos e uma angústia que só eu conseguia enxergar, nada comparada a menina alegre que conheci um pouco mais de um ano atrás.

Postado por: Grasiele

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