quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 4 - Dor


Seu beijo era diferente, talvez porque eu o já tinha experimentado, ou porque era só bom mesmo. Em nenhum momento eu tentei me desvencilhar dos seus calorosos braços, ao contrario, aprofundei o beijo, explorando sem pressa cada cantinho de sua boca. Beijávamos, com fúria, um pouco rude eu poderia dizer, mais nossos beijos sempre foram assim, ele apertava com força minha cintura com uma das mãos,e a outra cuidava da minha nuca. Estávamos na sintonia perfeita, como se nossas bocas fossem feitas uma para outra,nos separamos por falta de ar mesmo.
Por um momento, me permiti sentir seu cheiro novamente, um cheiro gostoso, fresco, doce, seu cheiro, me permiti também, me lembra de um tempo em que nossos beijos eram diferentes desses, eram calmos, delicados, amorosos, deve ser porque nesses existiam um sentimento. Um sentimento que agora não existe. Pode até existir um, não sei.
É incrível como você tenta esquecer, mas o coração insiste em guarda muito bem as lembranças.
Assim, que separamos nossos lábios, abri meus olhos que até então estavam fechados, e encarei aqueles olhos castanhos amendoados, que um dia me fizeram suspira. Ele também me encaro, tirando lentamente suas mãos do meu corpo. Eu fiquei sem reação por longos segundos, parada na mesma posição, voltando a realidade e encarando os fatos.
O que fazer? Eu estava sem reação,perdida, talvez virar as costas e ir embora, passa uma borracha enorme no dia de hoje? Uma boa alternativa.
Mas Bill me ajudo na escolha.

– Vira e mexe, aconteça o que acontecer, passe o tempo que passar, a vadia sempre vai cai nos meus encantos – levantou a mão, acariciando meu rosto.
Ir embora, pensei.
Girei os calcanhares indo em direção a boate, mais sem antes ouvir sua voz ao fundo, quase inaudível.
– Engraçado como as coisas são. O que ontem era pra sempre, hoje parece que nunca existiu.
Virei a cabeça lentamente, entendendo perfeitamente suas palavras.
– È – concordei, lhe encarando - Um dia,você me disse que seria para sempre. É, você mentiu – coloquei as mãos no ouvido, não querendo ouvir sua resposta se é que ele respondeu alguma coisa. Duvido.

Voltei pra dentro da boate, querendo sumi o mais rápido possível daquele local, dormi, toma um banho e esquece o que se passo hoje. Caminhei apressada entre as pessoas, que pareciam saber que eu estava com pressa, e se enviavam na minha frente, mas eu passava esbarrando, costurando a mesma sem pedir desculpas a ninguém. Subi na área vip, tentando encontra B. mas ele não estava, desci, e fui até o bar, também não estava, até que fui no escritório.
Soltei um suspiro de alivio quando o encontrei lá, mais logo bufei, B estava se agarrando com uma loira mais rodada que o carro do meu pai. Em outra situação, se eu estivesse bem, eu até me divertiria com a situação, mais hoje, ou agora, eu não estava. Não fiz igual nos filmes, em que as pessoas pedem desculpas, ou simplesmente saem sem ninguém percebe.
Eu entrei arrombando mesmo.
– Quero ir embora – intimei, vendo a loira e o B. quase terem um taquicardia, pelo susto que dei.
– Ah sim – Disse B. limpando o batom vermelho-biscate da sua boca. – olha toma a chave, você sabe o caminho né ?– ele não estava preocupado, se acaso eu fosse me perde, ele estava mais preocupado em ter que talvez me levar, e deixar a loira pra comer depois.
Pobre Jaqueline,foi trocada, também com tantas vadia por aqui, ia me surpreende se o B. se prendesse a uma só.
– Sim, até mais – dei um pequeno aceno e sai dali.

Desci, mas não com tanta pressa com que subi, claro que isso tinha a ver com o fato, de que em poucos minutos eu estaria em casa, na minha cama. Entre vários carros que tinha ali, eu não sabia qual era dele, optei por aperta o alarme, Seu carro logo se destacou dos outros, me encaminhei até ele, dando partida.
Burra, burra, idiota, porque não paro o beijo? Porque não disse não? Porque retribuiu? Eram tantos porquês, que eu me perdia neles, mas no fim não adianta reclama, se repreende, as coisas acontecem porque a gente permite.
Eu permiti. E me fodi. É.
Estacionei o carro na garagem dos meus pais, saindo direto pro quarto. Abri a porta e me joguei na cama. Como eu estava cansada, só que eu ainda não sabia se era físico ou mental, mais que era cansaço era.
Fiquei ali, mais uns instantes, ainda me repreendendo. Resolvi toma um banho pra tira essa nhaca do meu corpo, fui tirando a roupa pelo caminho que levava até o banheiro. Liguei o chuveiro deixando água escorre pelo meu corpo, talvez ela levasse com ela todos esses pensamentos, ou faça uma lavagem cerebral em mim.
Quando eu vi eu já estava chorando, silenciosamente, soltando pequenos soluços, quando o nó em mim garganta era demais.


– Não é lindo o por do sol? – me pergunto, estávamos na minha cama, não tinha ninguém em casa, víamos o por do sol, da sacada do meu quarto.
– O por do sol fica feio, perto da sua beleza – lhe respondi acariciando seu rosto, e lhe dando pequenos selinhos.
– Eu sei disso – falou convencido, entre o beijo que tínhamos iniciado.
– Vai me amar mesmo longe? – me encarou serio.
– Quando o amor é verdadeiro, distancia é apenas uma palavra,sem nenhum significado – ele sorriu com minha resposta e eu o acompanhei.
– Pra sempre?
– Pra sempre – prometi.


Pra sempre. Ridiculo
Me levantei decidida, eu prometera, eu não ia mais fazer isso, eu não ia, cadê as juras agora? Pra onde se foram, aonde esconderam?. Me levantei indo até a pia, olhei meu reflexo no espelho, eu estava um lixo. Abri o suporte que ficava na parede, tirei de lá uma pequena lâmina. Pequena mas que podia fazer um grande estrago.
Voltei a sentar debaixo do chuveiro sentindo as gotículas bater nas minha costa.
Diante da lâmina altamente afiada, duas ''eus'' se debatia dentro de mim, vendo quem tinha razão.
Uma delas me diziam que aquilo era estúpido, que eu não precisava daquilo, que tudo tinha uma solução, havia jeitos mais sadios de revolver as coisas, aquilo não resolveria nada minha situação. Que eu era idiota e fraca.
A outra ria de mim, apontava meus defeitos e dizia o quão se noção eu era, que só meu auto-mutilando que eu seria alguém. Essa outra parte gritava redenção, dizendo-me que aquilo era o melhor. Que tudo ia ficar bem, ia acabar com a dor, como uma beijo de um mãe no machucado do filho que acabará de cair. Ela mostrava imagens do passado, mostrando aquilo que ninguém além de mim via ou sentia.
Arfei fechando a mão em punhos, sentindo a lâmina arranhar minha pele, gemi baixinho abrindo os olhos outra vez.
Não, Não. Minha mente gritava pra mim. A parte boa gritava. Implorava.
Quem escutar? Quem estaria certo?
Mas todas minhas divagações sumiram no instante em que eu senti a lâmina deslizar por minha pele. Cortei a carne lentamente, absorvendo cada milímetro da dor, uma dor invisível. Porque fazer isso nem doía mais, não mais.Eu havia me acostumado com aquilo ao que me sujeitei um dia.
A dor tinha se perdido em algum lugar na minha mente dando lugar a uma sensação de alivio.
Mirei meio tonta o sangue escorrer pelo meu pulso, manchar minhas mãos e as lajotas brancas, mas sorri meio abobada. Ela veio, a sensação, aquela boa sensação de alivio e leveza, parecia que estava flutuando, me sentia uma pena. Essa era a sensação que eu procurava.
Sorri de lado, jogando a lâmina no chão e curvando minha cabeça para trás, enquanto lembranças e mais lembranças me invadiam sem piedade. É difícil esquecer alguém que lhe deu tanta coisa pra lembrar. Eu chorava, chorava na intenção de que a dor fosse sai junto com as lágrimas.

Postado por: Grasiele

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