– Respira Bruno, Respira...
Meu corpo
estava mole, frio e sem vida, alias minha vida ou o que restava dela se
esvaia junto com as gotas de sangue que saia de mim. Eu sabia que era
errado, mas eu não poderia seguir em frente, que futuro seria reservado a
mim se continuasse?
O certo era acabar com tudo.
Tentei me reerguer do chão gelado do banheiro, porém, minha barriga se
contraiu de dor. Minha visão já começava a ficar embaçada, e a cada
minuto eu sentia mais frio, e minha vontade que algum anjo negro viesse
me buscar aumentava junto com a dor e o sangue que saia por entre minhas
pernas.
Estava tudo acabado. Eu havia acabado comigo mesma.
Havia ido até o fundo do poço e me aconchegado por lá.
O fundo do poço, o limite de tudo e de todos o fim era mais acolhedor e
tentador do que levantar a cabeça e continuar fingindo que estava tudo
bem. As paredes do poço eram geladas, não eram muito diferentes de mim.
Uma boneca, dissera Bill, e eu concordava com ele, uma boneca um
fantoche, era comandada como que por controle remoto, não tinha
sentimentos, artificial.
Uma vez me disseram que fortes
mesmo não são os que guardam o que estão sentindo pra si e sorriem da
própria dor como eu fazia. Fortes mesmo são aqueles que deixam suas
fraquezas expostas, de preferência aquelas que transbordam pelos olhos,
por que desse modo dizemos, mesmo que sem palavras, que fomos fortes o
bastante, e agora isso já não é possível.
Olhei para cima, havia alguém disposto a me tirar desse poço?
Havia.
Eu ainda ouvia, ainda que ruim e distante, parecia que eu estava em
alto mar e afundando, e tudo parecia ficar sem sentido, vago. Porém, ao
contrario das outras pessoas, eu não batia as pernas e os braços para
tentar emergir, porque aquela sensação de estar flutuando e um tanto
deslocada era bom, suave. Sorri.
A voz insistia em me
chamar, batia freneticamente na porta, mas eu não conseguia entender o
que a pessoa falava. Cerrei os olhos e tentei focalizar minha mente só
em sua voz.
– Rokety, abre essa porta! Por favor – Era meu anjo.
Encolhi-me eu reconhecia aquela voz, me encolhi também de frio, mas eu
estava tão cansada que o chão gelado me sérvio como apoio, entortei-me e
deitei encolhida no mármore. Houve um estrondo, e eu forcei meus olhos a
se abrirem, o vi vindo desesperado em minha direção
–
Oh meu deus Rokety! – Desesperou-se. Pegou-me desengonçado e colocou
sobre seu peito – Meu deus quanto sangue! – Passou a mão sobre meus
lábios – Eles estão roxos!
– Está tudo bem... – Tentei acalmá-lo, mas minha voz saiu rouca e um pouco falha.
Negou.
– Não está, vem – Me pegou em seu colo e foi me levando para fora do banheiro – Vou te levar a um médico as pressas, ou...
Ele não completou a frase.
Eu sentia pouco a pouco o cansaço me vencer, era difícil manter os
olhos abertos, mesmo Bruno pedindo de meio em meio segundo que eu
ficasse acordada, mais ele pedia muito, e eu tinha pouco a oferecer.
– Eu te amo... – Falei de modo arrastado.
–
Para, para de dizer isso, vai dar tudo certo – Ele intercalava comigo e
o transito. – Estamos quase chegando – Sorriu otimista.
Mas eu tinha que falar não sabia se teria outra chance.
– Pede desculpas ao meu irmão – Continuei – Diga que o amo, e manda meus pais se ferrarem, que os odeio.
–
Você vai dizer isso pessoalmente! – Tentava se controlar, mais eu via
as lagrimas se acumular no canto de seus olhos. Eu também chorava.
Balancei a cabeça.
–
Está tudo ficando preto – Confessei. E tudo começou a ficar distante.
Eu ouvia a voz de Bruno, mais era como se fosse uma canção de fundo, uma
canção triste e desesperada.
– Rokety abre os olhos! Fale comigo!
– Eu só... – Pisquei, vendo seu rosto pela ultima vez –... Vou dormir se cuida.
E tudo se apagou.
Aquele
dia ele me salvou. Me salvo de mim mesma, acreditou na única chance que
eu tinha, quando nem eu mesma acreditava que podia sair dali viva.
Agora
meu anjo que precisava ser salvo. Mais todas as minhas tentativas eram
falhas, poucas, eu estava de mão e pé atados. Era agonizante o gosto do
desespero.
Tudo estava se passando de um modo lento, arrastado
como se estivesse em câmera lenta, por mais eu que eu repetisse em minha
mente que tudo era um sonho, e fechava os olhos e reabria, toda vez que
os fazia eu tinha mais certeza que aquilo era real, a prova disso era
minha mão suja de sangue, e minha roupa também.
Eu olhava aquelas
portas branca desde o momento em que ele foi levado de perto de mim, eu
estava sentada no sofá, ainda olhava minha mãos quando meus pais
chegaram histéricos no corredor.
– Está tudo bem minha filha? –
Praticamente gritou desesperada, ora me sacudia, ora passava as mãos
pelo meu corpo, certificando-se que estava tudo bem comigo – Ai meu
deus, obrigada – Me apertou sobre seu abraço sufocante, e meu pai fez o
mesmo, só me soltaram quando viram que eu realmente estava bem. – Está
tudo bem mesmo? – Como demorei a responder, ela me sacudiu, os dois me
olhavam atento.
Pisquei.
– Estou – Olhei pra eles, tentando fazê-los acreditar.
–
Hey – Meu pai chamou minha atenção com seu toque meigo em meu rosto,
limpando minha lagrima fujona – Está tudo bem, o pior já passou. –
Tentou me reconfortar.
Estava em um hospital no centro de L.A, no
mesmo em Bruno foi daquela vez quando passou mal, porém só o vi quando
ele deu entrada depois ele sumiu o que me deixava mais agoniada, pois já
fazia mais de horas que estávamos aqui e nada de noticias, ora ou outra
eu trocava olhares preocupados com Jeferson e Aline, sim ela veio
depois que eu liguei soluçando no telefone.
Não conseguindo
centralizar meu nervosismo sentada, levantei e comecei a andar, eu
sentia que estava com sono, mas não podia me dar ao luxo de dormir, já
se passava das cinco da manha e nada.
Só sabia que tinha entrado em uma cirurgia e só.
– Filha, não é melhor irmos pra casa e você descansar? – Sugeriu – Aliás, todos vocês?
Parei por um segundo, e se ele saísse de lá?
– E se ele sair de lá? – Verbalizei o meu medo.
– Eu te aviso – Falou Jeferson – Eu fico aqui e vocês vão, todo mundo está cansado.
– Você também está!
–
Mas depois eu reviso, quando vocês voltarem – Insistiu, me pegando
pelos ombros e em seguida me abraçando – Ele vai ficar bem – Riu – Erva
ruim geada não mata – Piscou.
Eu não consegui dormir. Quem dera descansar.
O
melhor que eu fiz foi tomar banho e ver o sol nascer, parei na soleira
da janela e respirei fundo. Eu estava com uma sensação ruim, e nem
descrever eu sabia, eu apenas sentia, e isso me fazia ficar com um
aperto no coração e conseqüentemente eu chorava.
Funguei logo
tentando limpar minhas lágrimas, porém era impossível parar de chorar,
era como se eu estivesse vazando, transbordando emoções por muito tempo
contidas, e que agora saiam por conta própria. Encostei a cabeça na
parede pensando só em coisas boas.
–
E hoje eu só peço uma dança a essa linda menina – Olhou divertido pra
mim, enquanto meu sorriso saia espontâneo – Me concede essa dança?
Como negar?
Pegou a palma de minha mão, colocou a sua em minha cintura e, a minha
em seu ombro. Sorriamos bobos, éramos talvez, esse com certeza foi o
melhor aniversario que tive, não pelo fato de ser o de quinze anos, e
que por um momento eu pude deixar de ser quem eles queriam, pra ser eu
por algumas horas.
Demorávamos a brigar, mas quando brigávamos...
–
Oh desculpa – Coloquei a mão na boca como se me importasse mesmo que
meu suco tinha caído todo em sua roupa – Foi sem querer, juro.
– Sem querer? – Explodiu – Sua idiota! Olha o que você fez sua estúpida! Eu não tenho outra roupa!
– Eu já pedi desculpas – Gritei também – E não me chama de estúpida seu estúpido!
Todos da escola olhavam nossa briga, eles já estavam acostumados, essa não era a primeira.
– Míope!
–
Retardado escroto! Ah quer saber – Fui até uma mesa e peguei outro suco
– Tá reclamando sem motivos, te dou um – Joguei agora na cara. Bem
feito.
O bom de nossas brigas era que cada vez que brigávamos nossa amizade se fortalecia mais. Ri
Lembrava-me perfeitamente do dia que ele tentou me ensinar a dirigir.
– Calma – Ele estava de lado, como se a qualquer momento fosse tomar o volante pra si.
– Estou calma – Freada – Muito calma – Outra freada.
Eu estava suando.
– Continua as- – Freei novamente – Porra Rock! Calma velho!
– Ah quer saber? – Me enraive si – Isso tá lerdo demais – Pisei no acelerador.
Isso não prestou.
– Rock pisa no freio – Mandou.
– Não! – Acelerei mais.
– Pisa!
– Não! – E quanto mais ele falava mais eu acelerava, era uma terapia pro meu medo.
– Roket-
– Isso é uma abelha? – Gritei, largando o volante e tentando mata-lá. Eu era alérgica.
– Meu deus, sua louca! – Pegou o volante, antes que o carro colidisse.
–
Eu vou te matar – Ela voou pro pára-brisa – Ahá te peguei – E quando ia
acertar ela fugiu. – Meu que desgraçada – Tirei o cinto.
– Sua filha da mãe, volta aqui! – Puxou meu cabelo, cai por cima dele já que o carro fazia zig-zag na pista.
– Não, um bom soldado nunca deixa o campo de batalha – Filosofei.
– O soldado vai estar morto se não sair!
Bom, morta eu não estava, mais o carro ficou bem... Destruído.
Mas a abelha morreu.
O bom de nossas bebedeiras, é que sempre acordávamos sabendo o que tínhamos feito.
– Bruno vadio acorda – Falei uma, duas, três, e na quarta já não havia paciência. – Acordaaaaaa! – Gritei em seu ouvido.
– Ah sua desgraçada – Ele havia caído da cama – Que horas são? Perai... – Olhou em volta – Onde estamos porra?
– Dá pra parar de gritar?! – Gritei, fez careta – Obrigado – Dei um sorrisinho – Estamos no quarto de hotel e-
– Cadê nossas malas? – Ateou a sobrancelha, me interrompendo.
– Boa pergunta – Coloquei a mão no queixo.
– Hoje não é o dia de voltarmos pra Alemanha? – Gritou histérico andando pelo quarto.
– Estamos aonde mesmo?
– Na inglat- - Me olhou – Você não é a sabe-tudo? – Debochou.
– Sei sim – Concordei – Sei, por exemplo, quantos segundo leva da minha mão até sua cara.
Mostrou a língua.
– Serio vamos perder o avião!
– Ok
Não estávamos no hotel, estávamos na casa de um gringo.
Perdemos o avião, ou melhor, pegamos o errado, e ainda eu errei nos segundos da minha mão na cara dele.
Estava
ótimo relembrar minha aventuras com ele, mais meu celular me despertou
das poucas vezes em que eu conseguia ter uma lembrança boa da minha
vida.
Atendi.
– Sua retardada, não tínhamos marcado de nos
encontrar? – Bill disse no seu tom rude de sempre. Suspirei estava sem
forças até pra brigar com ele.
– Por favor, Bill outra hora... – Disse em um fio de voz, levando a manga do meu moletom até o rosto e limpando o mesmo.
–
Qual é não vai revidar não? Oh coitadinha, ela ta triste! – Disse
irônico eu ouvia sua risada do outro lado, deixei mais lágrimas
escorrerem enquanto escutava sua risada fria.
Apenas ri de seu
comentário estúpido enquanto perdia meu olhar pelo quarto, eu não iria
revidar, pois sabia que se eu encarasse eu perderia, eu estava
vulnerável, fraca, e no primeiro round eu entregaria os pontos de vez,
nesse jogo estúpido que nós dois jogamos.
– Aconteceu alguma coisa? – Parecia se importar com minha resposta.
– Não, apenas dor de cabeça – Menti – Descu-
– Está pedindo desculpas?! – Soou incrédulo – É aconteceu alguma coisa, e seria. – Concluiu.
– Sim, aconteceu e não é da sua conta! – Desliguei na sua cara, em seguida fazendo o mesmo com o celular.
–
Dormiu filha? – Minha mãe me serviu um banquete e logo se sentou ao meu
lado, passando as mãos pelo meu cabelo – Está tão abatida.
– Estou preocupada – Comentei, pegando o café e tomando.
– Jeferson ligou e disse que está tudo bem – Tranqüilizou -me.
– Estou indo lá – Levantei.
– Mais come mais um pouco – Insistiu ela com cara de pidona.
– Como lá – Dei um beijo em sua testa, e fui alegremente visitar meu amigo.
Não
sei descrever a minha reação ao pisar naquele hospital, mais eu estava
feliz que tudo tinha se resolvido de maneira mais positiva possível,
agora pra tudo ficar completo só Richard sendo preso mesmo, ai sim iria
ser uma maravilha.
– Como ele está? – Perguntei assim que cheguei do seu lado – Perguntou de mim?
– Sim – Disse como se fosse obvio – Mais antes de você ir falar com ele, temos que conversar. – Me olhou serio.
– O que aconteceu? – Falei preocupada, ocupando o assento ao seu lado.
– Fernadis...
Minha
sofreu um baque. Fernandis... Desde que Bruno havia entrado na UTI eu
não tinha visto ela, mais era tanta coisa, que ela tão insignificante
passou despercebida por mim.
– Cadê ela?! – Me exaltei, as pessoas que estavam ali me encaram com repreensão – Eu vou mata ela! – Sussurrei.
– Ai que eu queria chegar – Estalou os dedos. – Ela era parceira de Richard.
– Como é?!
–
A policia descobriu que ela estava passando informações a ele há algum
tempo já, por isso ele conseguiu passar pela segurança – Explicou – Vai
dizer que você não achou estranho eles entrarem e ninguém perceber?
Nenhum segurança? – Arqueou a sobrancelha.
– Filha da puta!
– Sim
– Ah, mais eu vou achar esses dois nem que seja no inferno! – Estalei os dedos. – E o cofre?
– Você não conhece o Bruno? Mexeu com a amiga dele – Riu – Acabou com os dois!
– Ah, esse é meu Bruno – Me Gabei.
– Não vai entrar? – Franziu o cenho.
–
Sim, sim – Bati as mãos na perna, me levantando – E você vai pra casa –
Fiz pose de mão, até na cintura coloquei a mão – Se quiser pode ir lá
pra pousada.
– Não, não
– Ok então – Ele se levantou – Depois você volta?
– Claro – Beijou minha testa – Até.
Entrei
sorrateiramente dentro do quarto, ele estava fazendo um barulho com a
boca e tocando bateria de ar e solo de guitarra quando podia. Ri, como
ele era idiota. Meu idiota.
Fiquei o observando até o momento em que ele colocou a mão aonde havia sido baleado e operado.
–
Tá doendo aonde?! – Cheguei rapidamente ao seu lado, passando a mão por
todo seu corpo, procurando indícios de dor, além da que ele mostrava, e
percorrendo o quarto com olhar em busca de um remédio.
– Já passo – Disse rouco – Foi só uma pontada sua escandalosa – Mesmo ele me criticando, ouvir sua voz era maravilhoso.
– Desculpa – Fiz beiço – Só estava preocupada.
– Tudo bem – Deu um meio sorriso e respirou com dificuldade.
– Tem certeza?
Confirmou.
– Vai passar – Finalizou – Mas me conta o que aconteceu depois? – Perguntou.
Mil
coisas se passaram pela minha cabeça, no entanto nenhuma me pareceu
adequada pra ser dito naquele momento. Inclusive os chingamentos.
– Nada – Sorri da forma mais convencida que pude.
– Nada? – Indagou desconfiado – Cadê Fernandis?
Vendo o melhor lugar pra ela no inferno, apartamentos alugados com antecedência têm cinqüenta por cento de desconto. Pensei.
– Sabe que eu não sei?! – Pisquei revirando os olhos.
–
Ok, vamos conversar estou com saudades de falar com você – Estranhei,
porém, se aquilo fosse desviar a atenção da onde estava ela, eu
aceitaria, até porque conversa com ele era sempre bom.
Não vi a hora passar.
Conversamos
de tudo, desde nossa infância até os dias de hoje, relembramos as
brigas, relembramos só o que nos fazia bem. Rimos de nossas piadas, e eu
de suas cantadas falidas que ele antes de praticá-las com as garotas da
escola testava em mim, eu sempre avaliava e me divertia. Revisamos os
filmes que assistimos, ele tiú dos filmes que eu chorei, e depois fiz o
mesmo com ele, conversávamos sobre coisas idiotas e ríamos da cara um do
outro, e as vezes em silêncio dizíamos exatamente tudo apenas por
olhares, e por incrível que pareça, amávamos passar uma tarde inteira
assim, apenas Rokety e Bruno, a dupla dinâmica.
Por um momento,
esqueci de todos que ficavam do outro lado da porta, deixei um pouco os
problemas e me permiti ter um momento só meu, era como se nunca tivesse
acontecido nada, e eu tivesse vivendo daquilo minuto que entrei no
quarto em diante.
– Sinto falta desses momentos sabe? – Disse o vendo virar para me encarar, dei um sorriso fraco e o abracei de lado.
–
É sempre assim , às pessoas crescem, viram filhos da puta e te
esquecem, mas não se preocupe, juramos ser melhores amigos para sempre
não? – Perguntou me encarando e levantando seu dedo mindinho, não
consegui segurar a risada, como se precisássemos mesmo daquilo pra ter
garantia que nossa amizade seria eterna, porém, levantei meu dedo e fiz
nosso antigo cumprimento.
– Sempre. – Concordei e nos abraçamos. –
E Bruno, podemos estar um pouco afastado, por que querendo ou não
nossas vidas mudaram, tudo mudou – Comente cabisbaixa – e agora temos
problemas também, eu..é só que... é complicado, mas você pode contar
comigo sempre, tudo bem? - Disse se atrapalhando nas palavras, sorrindo
com os olhos marejados. Ele sabia que sempre poderia contar comigo, eu
só queria saber o porquê dessa conversa.
– Sim você também meu amor.
O
sol já estava preste a se por no horizonte, e Bruno preste a dormir,
mais ele lutava pra ficar acordado. Deris, o médico dele, queria
conversar comigo depois, assenti positivamente calculando quanto tempo
ainda me restava dessa visita, a enfermeira já havia vindo me repreender
por cansar o paciente.
Fui educada. Não mostrei o dedo a ela. Hoje.
– Ele tem que descansar senhorita – Com a voz enjoativa a enfermeira entrou no quarto.
– Estou indo – Fui grossa.
– Já – Franziu o cenho – Ah fica mais – Usou da sua arma mais poderosa. O beiçinho.
–
Tenho que ir meu amor – Beijei sua testa – Se cuida e dorme com os
anjos – Encarei seus olhos verdes que tinham um brilho estranho.
– Se cuida, eu te amo – Esticou o pescoço e beijou minha testa.
Sai, mas o senti meu coração se contrair de angustia, ou outro sentimento que não consegui identificar.
Ele vai ficar bem, repeti varias vezes. Mais não me convenci em nenhuma vez.
– O que seria? – Sentei na sua frente, enquanto ele anotava algo na ficha de Bruno.
– Bruno tem pressão alta – Contou – Ele está realmente mal – Ajustou seus óculos, e me encarou serio.
Neguei.
– Ele estava bem lá no quarto – Juntei as sobrancelhas – Impossível! – Levantei-me – Como nunca percebi nada?!
–
Pressão Alta é uma doença silenciosa – Explicou – O problema é que seu
amigo não foi atrás quando ela deu indícios a ele, e isso agravou tudo. –
Foi o mais claro mais possível, mais não compreendi – Se lembra das
tonturas? – Assenti – Aquilo era só um dos sinais, seu amigo já sabia
que tinha quando exame veio eu contei...
– Como assim contou?! Quando?! – Levantei as mãos pro alto, histérica.
– Mas ele não te contou? Sua teimosia pode custar a vida dele!
Conversei
com ele tempo suficiente para que o bip que ele usava apitasse,
avisando que algo estava errado. Ele me olhou e em seguida saiu. Olhei
para os lados, e mesmo sem resposta corri. Era como se tudo dependesse
daquele momento.
Parei no corredor, e os enfermeiros se esbarravam em mim, estavam com aparelhos, medidor, tudo.
Tudo que uma pessoa preste a morrer ou tendo algum tipo de convulsão precisaria.
Não.
Cheguei sem fôlego ao seu quarto. Tentaram me barrar, mas não conseguiram.
Todos estavam em volta dele.
– Pressão caindo!
– Continue fazendo os primeiros socorros! Não parem!
– A senhora tem que sair daqui – Alguém falava – Senhora? Senhora?
– Pressão caindo gradativamente! Batimentos nulos!
Foi ai que eu ouvi o pior barulho da minha vida.
Aquele que tirava ela.
O piii constante
da maquina, disse a todos naquela sala que poderiam parar com suas
tentativas falhas de tentar salva-lo. Me fez sair daquele transe, e
perceber que ele havia ido. E eu ficado.
– Queria que seu nome fosse esperança – Disse de repente mudando o assunto
– Por quê? – pergunto curioso.
– Porque a esperança é a ultima que morre – Falei, voltando a um assunto que eu não queria me lembra nem pensa, pois machucava, doía, e me corroia por dentro.
– Senhora? – A pessoa ainda insistia em me chamar.
Senti
algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto e logo fiz questão de
limpá-las. Respirei fundo ajeitando minha bolsa no ombro e no instante
seguinte sai correndo para o estacionamento do hospital, e nem ao menos
me importei com os chingamentos alheios.
Coloquei as mãos no
rosto enquanto corria, sentindo as lágrimas caírem enquanto eu nem ao
menos conseguia respirar direito. Chorei, chorei alto, como nunca havia
chorado a minha vida inteira.
A chuva era forte demais em Los
Angeles, e eu mal conseguia enxergar a estrada pra onde seguia, mas nem
por isso parei de correr para longe, sem saber onde ir, sem saber a onde
chegar.
Só desejava sumir de vez, sem me importar onde estava.
–
Eu também te amo. – Sussurrei baixinho enquanto sentia a chuva bater
forte contra o para-brisa do carro causando uma barulho chato, mas não
me importei nem um pouco.
Cheguei em sua casa e fui entrando
apressada, nem ao menos retribui o cumprimento do porteiro. Abri a porta
e corri pelas escadas, abri a porta do quarto rudemente, trancando e
encarando tudo.
– Eu te odeio Bruno! – Gritei jogando seu abajur
com toda força contra a parede – Te odeio! – Estava fora de mim, joguei
tudo que via pelo quarto, me sentindo idiota, o que isso mudaria?
– Eu... Eu te amo. – Disse agora sem forças – Porque você fez isso? Porque se foi?
Caminhei
em direção do banheiro e me apoiei na bancada me encarando no espelho,
eu estava pior que nunca, um lixo, e com olheiras.
Eu precisava fazer alguma coisa.
Abri todas as gavetas até que a achei.
–
Eu não preciso – As lagrimas se juntaram com a minha tristeza, quando
percebi estava deslizando a lâmina por meu braço, arfei sentindo o
sangue vermelho escorrer por entre meus dedos e logo após cair em
grandes gotas no chão, fechei os olhos sentindo a dor me atingir, me
fazendo morder os lábios fortemente.
– Porque sempre tem que
levar as pessoas que eu amo Deus? – Murmurei deslizando a lâmina
novamente, fazendo pequenos cortes superficiais, um em cima do outro.
Cai
de joelhos no chão, fechando os olhos sentindo o sangue manchar minha
roupa, fechei os olhos e senti meu coração acelerado, não, não importava
os danos causados aqui fora, por dentro iria estar pior.
Tremula
me arrastei até a beirada da banheira e liguei a torneira com as mãos
cheia de sangue, me encostei-me à beirada enquanto esperava encher,
respirei e gemi de dor dos cortes que ardiam.
– Sabe o que você é
Rokety? Uma estúpida! Idiota! Escrota! Você é um lixo! Um lixo! –
Berrei comigo mesma, jogando a lâmina em qualquer lugar do banheiro,
fazendo um barulho irritando ao colidir.
Coloquei a mão na cabeça
e senti minha garganta inflama e logo os soluço e mais soluços se
sucederam enquanto minha visão ficava embasada pelas lágrimas.
Assim
que a banheira se encheu tomei impulso e me joguei dentro dela, de
roupa e tudo, fazendo a água ficar vermelho e meus cortes endurecerem,
se tornando uma dor chata, porém, suportável, rosnei apesar disso,
parecia que minha pele estava sendo queimada.
Afundei a cabeça na água, como se aquilo pudesse fazer tudo voltar o que era antes.
Respira Rokety, respira.
Los Angeles estava literalmente desmoronando, assim como eu mesma.
Postado por: Grasiele
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Dangerous - Capítulo 16 - Respira
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