quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dangerous - Capítulo 25 - Prova de amor


– É bem simples – disse Tom, e era mesmo. – você será uma conhecida minha, vou te apresentar. Vocês vão se conhecer, e vão ser amigos – falou olhando pra ela pra ver se ela tinha alguma dúvida. Visto que não, eu continuei.
– Os fotógrafos estarão sempre à espreita, conforme você nos disser a localização. Então se aproxime, mas não se ofereça muito; Bill não gosta de pessoas oferecidas, seja amiga dele e – a olhei firmemente, para não deixar dúvidas –, sorria sempre.
– Entendeu? – perguntou Tom, apreensivo.
– Sim. – respondeu balançando a cabeça – ser amiga, não se oferecer, informar localização, sorrir.
Era uma jogada, era nossa última cartada para salvar a banda do buraco que ela estava entrando. Tanto Tom quanto eu torcíamos – pela primeira vez – juntos para que isso desse certo, e deu. Foi além de nossas expectativas. Ramona ultrapassou os limites impostos a ela, enfurecendo mais a Tom do que a mim.
Tudo começou a mais ou menos um ano atrás. Quando deixei a emoção sobrepor à razão. Não era questão de fazer o bom, o certo ou o que meu coração mandava fazer. Pensar no coração em vez da razão é a maior burrice, não existe escolha boa o bastante feito pelo coração que algum dia não possa se tornar errada. Ser racional é uma dádiva. Uma dádiva que eu não possuía. Mas, veja bem, as feridas ainda estavam ali controlando minhas emoções, eu não havia superado. Bill não ajudou muito indo lá contar aos meus pais o meu desequilíbrio, era como se ele dissesse sem dizer: “vai lá, conta a eles!”, pois bem, eu contei. Abri o jogo.
Contei como sempre, desde o inicio.
Isso o prejudicou. Eu só notei a extensão disso depois, bem depois. Quando cai em mim e vi que, se lá, quando éramos mais novos eu me sacrifiquei para ele ter a carreira dele hoje, e o preço disso foi a nossa felicidade, que sentido teve eu fazer isso? Nada. Concluí a contra gosto.
Estava em todas as revistas, nos tablóides, sites. Tive duas opções: ou eu cuspia meu orgulho ou eu o engolia. De qualquer forma, no final das contas, eu teria que voltar atrás no que havia feito.
Nós vamos dar um jeito nisso, você vai ver
Eu sabia que tinha uma chance, uma única chance de tentar desfazer tudo, passar uma borracha, ainda que essa chance fosse absurda e totalmente errada, mas ela era a única opção que eu tinha.
O fato era que eu havia ido a Bild e contado tudo, eu tentei conversar com eles e tentei uma retratação, qualquer coisa que mudasse a situação de Bill. Por isso era tão importante voltar à Alemanha.
Se fosse só ir falar com, Richard, eu poderia repensar e até ficaria pra não criar turbulências entre mim e Bill, mas minha viagem até a Alemanha envolvia mais.

E como envolvia, mas deu tudo errado, eles não quiseram, aliás, quando comecei a falar eles já negaram e praticamente me expulsaram no escritório deles. E, ainda por cima, me ameaçaram caso eu recorresse à outra revista. Eu teria que pagar uma multa milionária.
Mas a felicidade de Bill não tinha preço.

– Vai ser um arrombo – Disse ele após eu contar meu plano suicida, mas ainda feliz – Tem certeza que não vai se arrepender?
– Mais do que eu já estou, impossível!

Então voltei à Alemanha e falei com um antigo colega meu que conseguiu com que eu falasse com um editor da Bravo. Foi difícil, mas eu fui. Fui, mas antes eu tinha que deixar tudo encaminhado. Eu teria que me afastar de Bill. E comecei aos poucos, devagarzinho, quase imperceptível, como se isso fosse diminuir a dor que eu causaria nele.
Eu sabia que do momento em que eu fizesse o que eu achava que era certo, eu estaria não só decidindo a minha vida, mas a de Bill também. Eu ia dar as cartas e comandar as jogadas.
— Acho que agora você, Bill, já poderia voltar pra antiga casa. — Disse de repente, atraindo a atenção deles.
— Por quê? — Bill perguntou, franzindo o cenho. Claro que ele iria querer saber.
— Porque sim — Droga, pensei, resposta errada. Bufei e resolvi contar a verdade, o inferno tinha chegado até aqui. — Acho que vi um fotógrafo rondando aqui hoje.

Não tinha fotógrafo algum, mas como eu queria que houvesse um. Mas se, Bill voltasse pra casa dele, já era meio caminho andado.

— Aqui? — Tom disse incrédulo — Até aqui?! Vai se ferrar!

Até poderia parecer que Tom Kaulitz estava irritado com isso, mas não. Ele não estava. Ele sabia tanto quanto eu o que iria acontecer, e o que estava acontecendo.

– Rokety, você acha mesmo que “refazendo” a imagem de Bill vai dar certo? – ele riu, juntando as sobrancelhas – daria certo? – se ajeitou no sofá – o que você está pensando?

O coloquei a par de tudo, mesmo achando que eu estava louca ele topou participar dessa loucura. Não íamos só refazer a imagem dele. Íamos mostrar outro Bill, desmentindo aquele que eu havia descrito na Bild. Sim, meu plano era insano e completamente imbecil, mas infelizmente não havia alternativas, o meu mundo havia mudado em algumas semanas e agora eu deveria fazer alguns sacrifícios.

Arrumei-me colocando só o básico dentro da mala, e dentro dela levei um pouco de Bill, o suficiente pra lembrar-se dele todos os dias.

– Ei, seu cuida tá? Mas se cuida mesmo... Eu não suportaria viver sem você.

Ele me olhou firmemente e foi objetivo.
Tem algo que você não nos contou que queira nos dizer agora?
Eu poderia voltar atrás nessa loucura, desistir era a melhor chance que eu teria. Mas pensar em mim estava fora de cogitação, continuei como havia combinado com Tom há alguns dias atrás. Porém, quantas mentiras a mais eu deveria contar ás pessoas até que em algum momento eu mesma pudesse me certificar que talvez, de alguma forma, elas se tornassem reais? Até onde eu seria capaz de ir para me satisfazer? Quem mais pagaria por minhas extravagâncias?

Respirei fundo e me virei na cadeira, encarando o homem em minha frente, que tinha uma expressão difícil de ler, mas eu não fazia questão de desvendar agora.
– Bill tem uma namorada.
– Como assim? – o entrevistador se assustou.
– É – confirmei – Bill tem uma namorada, mas, se você quiser um furo vai ter que esperar e confiar em mim, e aposte, eu sei das coisas.
Em um minuto tudo muda. O mundo gira, pessoas morrem, outras nascem. Uma vida inteira muda. Em um minuto tudo acaba e tudo começa. Em um minuto eu penso no segundo seguinte desse minuto eu repenso no que eu havia pensado. Respiro. Respondo. Em um minuto eu acredito em finais felizes, em histórias inventadas, no entanto, não consigo me desprender da realidade. A dura realidade.
Ramona nesse meio tempo já estava entrando, sorrateiramente, na vida de Bill e fazendo seu papel de colega. Como combinado ela começou a sair com Bill, como encontro casuais, eu observava de longe, o cuidava de longe. Também como combinado os fotógrafos da Bravo fotografaria tudo, e deixaria pra mostrar tudo como um dossiê do namoro as escondidas. E foi indo. Saída depois de saída. Encontro após encontro. Mentira em cima de mentira.
Virou melhor amiga, até ai tudo bem. Tanto eu como Tom aprovávamos o desempenho dela, isso salvaria a banda, estava tudo ótimo. Foi quando ela fez a burrada de por sentimento no meio.
– Temos que parar isso, Rokety! – Tom estava tomado pelo ódio. Ódio de Ramona. – Ela estava se aproveitando da situação!
– Então porque você não a para? Você está com ela todo santo dia! Conta a verdade! – explodi. Era tudo eu. Eu que tiver que pensar o que fazer pra salvar a banda. Eu que tive que pensar no que Ramona faria. Eu, eu, eu e eu!
Porque fui eu que fiz tudo pra tudo isso ter acontecido.
– Se drogou? Seria a briga do século com o Bill quando ele souber que eu, o irmão dele, o enganou! – gritou exasperado, sentando na cadeira – eu, só eu, vi como ele ficou quando você foi embora! Eu o consolei! Eu o vi mudar da água pro vinho em questão de dias! Não quero que isso aconteça de novo, Rokety. – abaixou a cabeça, e apesar de estar a alguns metros de distância dele, pude sentir sua angustia.
– Ela vai se controlar. Vou conversar com ela. – garanti. – vou dar um final pra essa história de sentimentalismo dela.
– Uma história que nunca deveria ter evoluído um sentimento que não deveria ser lúcido o bastante pra nos causar problemas!
Eu realmente conversei com ela, dei uma dura nela. A ameacei. Fiz tudo que estava ao meu alcance. Mas o meu melhor não foi o suficiente. E o que você faz quando o seu melhor não é o suficiente?
Eu ia interferir quando percebi que Ramona não me deu ouvidos. Mas então eu também percebi que Bill estava bem com ela. E, nos encontros que ele julgava ser secretos, ele estava feliz. Porque acabar com aquilo? E eu duvidava que Ramona não quisesse isso também.
Eu cheguei a rir com um humor sombrio. Irônico e massacrante. Essa era definição do que eu sentia quando via como Bill estava alegre quando Ramona estava com ele. Depois vinha a fúria, em seguida a raiva, o medo, a saudade. Tudo junto, embaralhado, com formas diferentes, se remexendo dentro de mim, me puxando pra perto. Senti vontade de fazer o que eu sentia – de sair de sei lá onde que eu estava e acabar com a aquela cena patética que eu presenciava – e não o que era certo,
Mas não era assim que as coisas funcionavam, e se tratando de mim as coisas nunca seriam. Eu sempre cometia erros, até quando queria fazer algo bom. Em quantos pedaços seriam necessários minha cara ser quebrada até que eu aprenda algo com as rachaduras, estilhados e cicatrizes?
Eu não podia ficar longe de Bill, eu tinha que saber o que acontecia com ele, o que estava fazendo, com quem, quando... era o único modo de o manter perto de mim já que fisicamente ele já estava. Eu usava dos encontros dele com Ramona para ir aceitando aos poucos a decisão que eu tomava sem perceber. Que já não existia mais Bill e Rokety, não existia infinito no amor e no final, tudo sempre acabava da pior maneira possível pra nós.
Como um dia eu pensei que daria certo? Como pude pensar que esse plano idiota daria certo? Como cheguei a acreditar que finalmente eu tinha me encontrado, e que a vida havia me dado uma segunda chance? Um novo recomeço para esse amor intenso e arrebatador que eu sinto. Como? A vida é uma filha da puta, eu já sabia disso, mas ainda assim não fui esperta o bastante pra fugir e deixar de ser um fantoche dela, mais uma vez.
Eu não queria que as coisas tomassem aquele rumo. Mas eu rezava para que o rumo que tomasse fizesse Bill feliz. Irônico vendo que eu nunca fora religiosa o bastante pra sequer pedir algo a quem quer que fosse que se achava no direito de fazer o que bem entendia com a vida dos outros. Mas as coisas nunca são do jeito que esperamos e ali, ao definitivamente perdê-lo, finalmente me dei conta do quanto ele significava
Olhei Bill sentado com Ramona ao seu lado. Eles tomavam sorvete. Dei uma ultima olhada e me virei. Caminhei de cabeça baixa, como deveria ter feito há muito tempo. Sem olhar pra trás. Nunca olhar para trás. Só os perdedores o fazem, relembrei-me.
Briguei ou causei a 3º guerra mundial com Tom quando disse isso? Não sei. Mas ele quebrou tudo que viu pela frente. Mas Bill ia ser feliz eu brigando ou não com seu irmão.
– Eu vou conversar com ele! – berrou – ele vai mudar de ideia!
Bill mudou de ideia. Ramona não era mais a sua melhor amiga. Era sua namorada.
E eu estava tão cansada daquela farsa que resolvi acabar com tudo aquilo.
– Valeu mesmo confiar em você! Não é que o grande Bill Kaulitz tem mesmo uma namorada? – afastei o telefone da orelha, era muita felicidade sendo esfregada na minha cara, era muita felicidade baseada na minha desgraça.
– Quando quiser publicar pode ficar a vontade – murmurei, contando em seguida aonde eles iam jantar.
– Obrigado, esse vai ser “o furo”!
De colega pra amiga. De amiga pra melhor amiga. De melhor amiga pra namorada. De namorada pra noiva. De noiva para esposa. De esposa para a pessoa que o faz feliz. E eu? A pessoa que observa essa felicidade longe.
Porque ver Bill daquele jeito, tão feliz me deixou sem palavras. A porcaria do que eu fiz pra salvar ele e a banda – porque mesmo que o orgulho de Tom o impedisse de ver o quanto isso salvou a banda, no fundo ele era grato – não tinha garantias de que eles fossem felizes para sempre, mas deu a oportunidade de mostrar a Bill outro lado das coisas, lhe deu a chance de sair do nosso ciclo vicioso e ver como ele poderia ser feliz fora dele. E era isso que eu desejava para ambos, acima de qualquer coisa. Queria que eles fossem felizes. Queria que ele fosse feliz. E pelo que eu pude nota hoje, eles eram.
Eu havia ficado lá, de longe enquanto ele engasgava pra pronunciar o ‘sim’. Parada, sem reação, vi todos os anos de minha vida passar diante dos meus olhos. Todos os momentos que havia passado do lado de Bill eram claros na minha memória. Passei as mãos nos braços lembrando-se do seu toque em minha pele. Intenso ainda assim de um modo sutil, agradável. Dos beijos roubados. Da vida compartilhada. Dos segredos escondidos e revelados. De sentimentos tão sufocantes que só vivi ao lado dele. Momentos no tempo que estavam sendo deixados para trás de uma forma tão bruta e silenciosa que chegava a sangrar internamente. Estávamos dizendo adeus, e ainda que uma parte de mim se recusasse o abandonar, a outra já havia o deixado completamente
Agora não bastava virar a droga da página e continuar a história. Era hora de queimar o livro. Destruir o sentimento, qualquer que fosse, e pisotear de salto alto as lembranças que ficarem. Nada é tão perfeito que dure para sempre, eu havia de se desapegar, dizer adeus e partir.
E daquele momento em diante Bill não pertencia mais a mim. E nosso amor se resumia a cinzas no meu coração. Não podia amá-lo, sentir sua falta ou desejá-lo mais. Ele não fazia mais parte da minha vida, e ainda que nossa história tenha deixado marcas na pele, nada me impedia de queimar o livro.
Acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tentei do jeito mais belo que sabia.
Fui embora e quando fiquei de costa me permiti chorar de felicidade porque eu não deveria ter vindo aqui, se quer ter cogitado a ideia, mas vim. Vim porque precisava ver com meus olhos que tudo que fiz valeu à pena e se deixar Ramona continuar com que nem deveria ter começado foi à decisão certa a tomar.
Não digo que foi fácil tomar a decisão que tomei, mas tive que ser forte e corajosa o suficiente para esquecer-se de mim e compreender que quando se ama de verdade uma pessoa fazemos o que é preciso para ver ela feliz.
E a vida segue seu rumo e a única coisa que tento fazer é acompanha – lá sem ficar pra trás. Era hora de seguir em frente e esquecer todo o resto
Tanto os Kaulitz como eu continuamos a morar em Los Angeles. Eu continuei com minha vida normalmente, vendi algumas boates para suprir o desfalque que tive com a Bild, além de alguns apartamentos e outros bens, porém, ainda me sobrou o bastante pra viver: meus pais. Isso era o essencial.
Estávamos no meio do ano. Meio do ano. Quase um ano que meu amigo tinha se ido, e ainda assim era difícil ir visitá-lo. Mas eu gostava de sentar em um lugar qualquer e observar o céu, parecia que quando eu fazia isso ele estava comigo. Imaginava que se, de qualquer lugar que ele esteja, estava orgulhoso de mim. Eu estava, e muito. Era bom o ter aqui. A gente sempre cuidava um do outro. Não havia dor.
Última chama para o vôo 477 com destino a Alemanha.
Eu queria recomeçar, mais uma vez. E para isso acontecer eu teria que me desprender da velha casa da família Trompson. E lá estava eu viajando para o outro lado do planeta pra acertar pessoalmente a venda, porque a casa era algo pessoal demais pra deixar para qualquer um cuidar. Dessa vez eu não ia virar a página ou começar outro capitulo. Eu iria jogar o livro fora e começar outra história.
– Quer que eu vá com você? – perguntou meu pai. Eu podia ver nos seus olhos medo e angustia, ele sabia como era doloroso voltar lá.
Neguei.
– Não é necessário – o tranqüilizei. – vou num pé e volto no outro.
Era verão na Alemanha e o sol queimava até na sombra. Parada na frente da enorme mansão conclui que tinha chegado mais cedo. O comprador estava atrasado. Agachei-me e peguei a caixa que tinha levado. Pegaria todas as coisas de Gabriel. Eu sabia que isso era coisa mórbida de se fazer, mas ele era o único capitulo da minha historia que ele fazia questão de salvar antes de joga - lá numa lata de lixo qualquer.
Subi as escadas e entrei em seu quarto pegando tudo que pude e que cabia na caixa: as fotos, pôsters, seus carros de coleção, blusas preferidas, seu violão, a guitarra, sua câmera e outros objetos pessoais.
Amarei o cabelo e sequei o suor. Merda! O comprador ainda não tinha chego.
Fui ao meu quarto vendo se não tinha nada que eu quisesse levar antes de deixar tudo para trás.



(Narrado em 3º pessoa)
Rokety poderia não admitir pra si mesma, mas ela queria pegar a caixa de papelão e sair correndo dali o mais rápido que pudesse até suas pernas reclamarem a ponto de cambalear e, por fim, cair. Ralando seus joelhos. Mas ela ficou.
E ai, Rokety, a criança que você foi, teria orgulho da pessoa que você se tornou hoje?
Com passadas largas abriu a porta do seu quarto, ajeitando a caixa no meio da cintura absorvendo o cheio de mofo que abocanhava o ar do cômodo. Com o calor escorrendo pelo canto direito do seu rosto resolveu a abrir a sacada.
Rokety arquejou a sobrancelha, indignada.
Como assim já esta aberta? Perguntou-se, mas não pode se responder.
– Essas crianças, se as pego... – ás mato! Completou em pensando enquanto murmurava mais chingamentos. – sorte delas que matar ainda é crime.
Na verdade ela só estava usando o fato das crianças pra expulsar as lembranças que aquele quarto trazia. De quantas vezes ela desejou que matar não fosse crime para que pudesse estrangular o Kaulitz mais novo bem devagarzinho. Riu em divertimento, ela não poderia esquecer-se de como imaginar essa cena a deixava feliz.
Largou a caixa de lado e sentou-se na cama por alguns minutos. O calor estava digno de ser uma amostra grátis do inferno. Levantou-se e se encaminhou sem demora para a enorme sacada que ficava no lado leste da enorme casa. O ar fresco passou por entre seus cabelos os chacoalhando. Que delicia, pensou.
– Bem, se eu pego esses pequenos galos de macumba, eu os agradeço. – depois riu. Outrora queria matá-los, agora agradecê-los. Alguém entende?
– Agradecer pelo o quê? – a voz dele estava calmíssima. Como se o fato de estar espreguiçado numa cadeira velha de uma casa abandonada não parecesse que ele era uma alma penada.
Do outro lado ela pulou e gritou. Quando parou, gritou de volta, o encarando. Mas gritava de raiva, ódio.
– Custava dizer que estava ai, idiota! – em seguida lhe indicou o dedo do meio.
Esse nem se mexeu, deu de ombros como quem dizia “é comigo?”
– To aqui, satisfeita? – colocou os braços atrás da nuca – não responda.
Ela pensou em lhe dar uma bela de uma resposta, mas suas palavras travaram quando ela percebeu que entre eles não tinha algo que deveria ter. O muro. Sim, porque tinha um muro ali antes, ela lembrava-se disso como se fosse a mais ou menos uma no atrás, não sabia o tempo correto.
Ela tinha várias perguntas em sua mente, assim, perguntou a que parecia a mais óbvia.
– O que faz aqui, Bill? – e ela se surpreendeu ao perceber o quanto sua voz soava cautelosa. Mas, ela tinha urgência em manter qualquer conversa em campo seguro.
– Vim abrir sua sacada. – respondeu simplesmente, como quem comenta o calor insuportável que se fazia.
Se ele não queria falar diretamente ela não se importou em entrar no seu jogo.
– Por quê? – disse ela fingindo uma falsa indignação, o encarando com um beiço quilométrico. – eu queria abrir, seu tosco!
Seu tosco. Fazia muito tempo desde que ouvira da sua boca sair aquele tipo de palavra, tão pouco se incomodou se Bill devolveria o chingamento. Ela queria ouvir sua voz e não tinha importância que mensagem ela carregava.
Eles se encararam por segundos e caíram na risada. Suas risadas tinham som de ”senti saudades” “quanto tempo hein?” “senti sua falta”; mas acima de tudo ecoavam sentimentos de ambos, era como se dissessem só com o olhar “eu sei que faz muito tempo, mas eu ainda amo você”
Ambos reparam em suas mudanças físicas, enquanto Bill colocara dois percings nos lábios, Rokety havia feito uma tatuagem no ombro direito, uma flor de lótus. Ela estava com os cabelos castanhos no meio das costas, contracenando com um Bill de cabelos curtos.
– O que faz aqui? – perguntou de novo, sem fôlego.
Bill se ajeitou na espreguiçadeira e olhou para frente.
– Não se lembra? – disse levemente como que para os ventos levar as palavras até ela, que estava a alguns centímetros dele. – você me prometeu! – aumentou a voz, á assustando. Depois curvou os lábios virando-se para a ela.
Rokety pensou por meio segundo antes de responder.
– Não lembro – admitiu olhando nos olhos dele. – lembre-me, oras!
Bill estalou a língua.
– Você disse que íamos nos ver de volta – disse parcialmente chateado por Rokety não se lembrar. Bill levantou ficando a beirada da sua sacada, bem próxima da dela. – faz um bom tempo que não nos vemos. – confessou sem jeito.
– Eu te vejo sempre – o olhou, era mentira. – nas revistas, sites... –, fazia tempo que ela não sabia nada dele.
– Sério? – Bill não conseguiu esconder a surpresa. – Então você já sabe que me separei?
Rokety vidrou os olhos nos dele. Separação. Bill se separou. Ela tentou ao máximo não demonstrar – ou sorrir- o quanto estava feliz por aquela notícia.
– Você não sabia – ele sorriu, quase gargalhou. – você mente mal às vezes.
– Eu... Eu sabia! – gaguejou. E até pensou em argumentar com ele, mas então se lembrou do porque de estar ali, naquele calor, falando com Bill...– O comprador está atrasado, desgraçado!
Ao seu lado um Bill riu bastante, mostrando uma fileira de dentes alinhados. Onde estava a piada mesmo?
– Não tem comprador nenhum, Rokety. – ficou na ponta da sacada. Era só pular. Só.
– Como assim?! – gritou.
– Eu fiz isso pra ver você, ué – deu de ombros, como se pedisse desculpas. Mas era fingimento, ele não se arrependia. Não se arrependia de ter feito alguém ter passado por ele, de ter dito que queria comprar a casa. De comprar a casa do lado de volta sendo que foi os pais dele que havia vendido há uns anos atrás. De ter ficado tão impaciente que quase pegou uma marreta pra ajudar os pedreiros a derrubar a porcaria daquele muro que nunca deveria ter existido.
Ele não se arrependia de absolutamente nada.
– E tinha que ser aqui, na Alemanha?! – ela fingia estar irritada para não pular no colo dele o beijar todo.
– É que eu queria pular pra sua sacada. – continuo tranquilamente, acreditando na irritação dela.
– E precisava de mim, Bill!
– Claro, só fazia sentido pular se você estivesse ai, do outro lado, pra mim te beijar – e no segundo seguinte ele pulou.
O beijo foi recheado de desejo e nas bordas transbordava um desespero de um pelo outro. Eles pararam por alguns segundos e se olharam, foi então que entenderam, de vez, que quando duas pessoas se amam sempre acharam o caminho de volta. Rokety e Bill aprenderam, daquele dia em diante, que a vida segue. Que o aconteceu no passado são lições para não ser repetidas, e que há coisas que simplesmente são e são não há jeito de mudá-las só por que não nos convém do jeito que elas são. Que amor pra ser amor mesmo tem que andar várias vezes na montanha-russa. Tem que olhar nos olhos da pessoa que amamos e dizer algo que dói, mas que é necessário. Que amigos são eternos. Algumas eternidades são diferentes das outras. Porque quando você sai em busca do amor, ao mesmo tempo, ele sai em sua busca.
– Eu te amo – disseram em uníssono.
Três palavras. Sete letras. Uma gigantesca verdade.

Postado por: Grasiele | Fonte: x

Um comentário:

  1. lindo,tô chorando até agora!!!ADOREI O FINAL................

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