quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 30 - Talvez não seja tarde demais

(Contado pela Duda)

      Me sentei na cama, abri a mochila e peguei o envelope que o Bill havia me entregado. Tenho que confessar que não tinha certeza se abria ou não. Senti medo. Mas não me pergunte de quê. Respirei fundo, e finalmente abri o lacre. Retirei de dentro do mesmo, três folhas. Mais uma vez respirei e comecei a ler.

           “Alguém uma vez me disse que você tem que escolher se quer ganhar ou perder, pois não se pode ter tudo. Me disseram também para não arriscar, ou eu sentiria dor. Não sei como estou me sentindo agora. Então não me pergunte, ainda estou tentando entender tudo que está acontecendo. Estou sozinho, comigo mesmo, e é tudo que eu sei.

      Me lembro perfeitamente daquela manhã, e de todas as coisas que eu disse. As palavras irritadas que vem do nada, sem avisos. Aquilo roubou o momento, e te mandou pra longe. Agora não posso te tirar de mim novamente. E não importa onde você estiver, estarei lá, mesmo que seja só em pensamentos. Eu não conseguirei viver sem você, e como poderia? Se houvesse uma saída, ou outra alternativa. Mas eu não quero, e nem pretendo ficar longe de ti.

      Se eu fechar meus olhos nesse momento, verei o seu olhar, e poderei sentir no fundo do peito que o brilho da minha vida foi te reencontrar. Se eu fechar os olhos, vou sangrar. O meu coração não pulsa sozinho, ele precisa de uma razão, um motivo para continuar pulsando. E esse motivo, essa razão, é você. Ninguém mais.

      Como é difícil ter que te deixar partir. Te abraçar e resistir. Dar adeus, me despedir. É impossível não sofrer. Mas prometo, que nada irá nos separar, nem mesmo a distância. E se a saudade apertar procure no céu a estrela que mais brilhar, ela será o meu olhar. Se você voltar, meu coração respirará novamente. Não quero voar se você continuar no chão. Bem, você me deixa louco na metade do tempo, e a outra metade eu tento te mostrar que o que eu sinto é verdadeiro.

      Isso não vai funcionar. Foi o que me disseram. Mas talvez eu soubesse desde o inicio que tinha que fazer você ser minha. Ninguém sabe, e ninguém nunca poderá dizer tudo que eu sinto por você. Acho que nem eu consigo dizer isso. Você sabe que preciso de ti. Já não consigo ver meu mundo sem você. Como é que eu vou viver? Dentro do meu peito, algo aperta de um jeito que eu não sei se agüento esse amor que me tira a paz. Preciso te dizer que... O meu mundo sem você é impossível de viver. É como acordar e não ver mais o sol brilhar no céu, jardim sem flor, peixe sem o mar. Não posso e não quero ficar sozinho com essa dor. É apenas o caminho perdido. Amor que não vai se acabar, e que pra mim, vale mais do que uma jóia, a mais rara de todas. Com você tudo é pura diversão, e espero que isso nunca acabe. O meu coração não consegue disfarçar quando você está por perto. Sem ter você comigo é a mesma coisa de não ter motivos pra sonhar. O teu sorriso é o que faz falta, e o que me acalma.

      Posso dizer honestamente que andei pensando muito em você. Na verdade você toma conta dos meus pensamentos nos últimos dias. Me lembro quando nos beijamos, e até hoje sinto aquele tapa que você me deu no rosto. Também sinto a mesma sensação do beijo. Lembro a loucura que fizemos ao dançar sem nenhuma música tocando. Eu lembro as coisas mais simples, aquelas que você nem tem noção. Mas eu desejaria esquecer que você pode me dizer adeus.

      Sei que já fiz e refiz a pergunta que farei novamente. Mas prometo que essa será a última vez, e que se você ficar com raiva, eu até entenderei. Bem, e a pergunta é: Fica comigo?

Com carinho,
Bill.”

      Terminei de ler a carta, e estava chorando. E como poderia ser diferente? Minha mãe bate na porta, e entra. Ela se senta ao meu lado, e me abraça.

           - Esta é a carta do Bill? – pergunta ela.
           - Sim. – disse enquanto enxugava meu rosto. – Como sabia?
           - Por qual outro motivo você estaria chorando assim?
           - Eu não sei mais o que fazer.
           - Logo saberá. Mas é melhor correr e tomar seu banho. Sairemos daqui meia hora.

      Me levantei e fui pro banheiro. Tomei um banho não muito demorado, mas bem relaxante. Coloquei uma roupa confortável, e deixei meus cabelos soltos. Sai do quarto e desci as escadas. Todos estavam tão quietos, que cheguei a pensar que alguém havia morrido.

           - Que silêncio é esse? – perguntei. – Morreu alguém?
           - Se já está pronta, vamos logo. – disse John.
           - Ah, eu estou bem. – disse. – Muito obrigada por perguntar, pai.
           - Deixe de brincadeiras, e vamos.
           - Eu vou com a minha mãe.
           - A sua guarda ainda pertence a mim, então irá comigo!
           - Não comece uma briga agora, Duda. – disse minha mãe. – Vá com ele.
           - Mas...
           - Não discuta comigo. – disse ela.

      Odiei completamente aquilo, mas tive que ir. Entrei no carro, e me sentei no banco de trás. A Carol se sentou no banco do passageiro e meu pai foi dirigindo. O silêncio era total. Quinze minutos depois, chegamos ao fórum. Meus pais foram convidados a entrarem numa sala, e a Carol foi junto. Em poucos minutos a audiência começou. Só achei uma injustiça não me deixarem entrar, e até agora estou sem entender o motivo disso. Fiquei sentada numa cadeira do lado de fora, e aquilo estava me deixando ainda mais ansiosa. Me levantei, e comecei a andar de um lado a outro. Avistei o Bill chegar, e ele acelerou o passo até chegar perto de mim, e me abraçar.

           - Desculpe pela demora. É que o Tom resolveu sair com uma garota e demorou demais debaixo do chuveiro. – disse ele.
           - Não tem problema.
           - A audiência já começou?
           - Já.
           - E porque você está aqui fora?
           - Não sei. Não me deixaram entrar.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      Uma hora e meia havia se passado, e nada de alguém sair de dentro daquela sala e dar alguma noticia. Duda continuava andando de um lado a outro, roendo as unhas, enquanto Bill ficava sentado.

           - Pode parar de ficar andando? – diz ele.
           - Estou nervosa!
           - Mas ficar andando de um lado a outro não resolverá nada.
           - Não conseguirei ficar sentada.

      Duda se aproximou da porta, e encostou sua cabeça, na tentativa de escutar alguma coisa.

           - Do que essa porta é feita? – pergunta ela.
           - Por quê?
           - É que não dá pra ouvir nada! Será o quê que está acontecendo?
           - Vem cá. – ele a chama. – Sente-se aqui comigo. – ela se sentou.
           - Relaxa, vai dar tudo certo. Nós dois sabemos que a sua mãe irá conseguir.

      Ele a abraçou.

           - Eu li a sua carta. – disse ela.
           - Leu? – ele ficou surpreso. – Pensei que não fosse ler por agora.
           - Não deu pra resistir.
           - E... E o que você achou?
           - Bem, acho que é meio difícil explicar. Senti tanta coisa. E foi... muito linda. Na carta você disse que não sabia como estava se sentindo, mas eu acho que consegui deduzir mais ou menos o que sentia.
           - Só você consegue isso.
           - Você vai ficar muito triste se eu for embora, não é?
           - Muito.
           - Eu não quero que sofra por mim, da mesma forma que sofri por você, quando fui embora.
           - Já decidiu alguma coisa?
           - Praticamente. Só preciso aguardar um instante e dar uma resposta definitiva.
           - Ok.
           - E não pense que me esqueci daquela outra coisa que você prometeu me dar.
           - Ah sim. Mas só te darei quando ficarmos sozinhos.
           - Um-hum.

      Os dois estavam sentados e conversavam “tranquilamente”, quando a imensa porta da sala foi aberta. Eles se levantaram.

           - E ai? – pergunta Duda à sua mãe.
           - O juiz fez um pequeno intervalo de dez minutos. – responde ela.
           - Mas como estão indo as coisas? – pergunta Bill.
           - O John tem melhores argumentos, e está quase convencendo o juiz de que a Duda deve ficar com ele. – disse ela.
           - O quê? – pergunta Duda, incrédula. – Por favor, diga que não terei de ficar com ele!
           - Estou fazendo o possivel pra isso não acontecer. – disse o advogado da Amanda.

      Bill chamou a Duda para uma conversa.

           - Porque não você não conta pro juiz que o seu pai te agrediu? – disse Bill.
           - Acha que isso mudaria alguma coisa?
           - Não sei. Mas deveria tentar.
           - Como? Ninguém me deixa participar da audiência.
           - Se a Duda de antigamente estivesse aqui, ela seria louca o suficiente pra entrar naquela sala e falar tudo.

xxx

      As portas da sala se fecharam, e a audiência recomeçou. O juiz ouvia as duas partes com muita atenção, até que algo interrompeu e paralisou tudo. Sim, a Duda havia invadido a sala.

           - Mas o quê é isso? – diz o Juiz.
           - Me desculpe. Mas eu tinha que vir aqui! – diz Duda. – Tenho que contar algo.
           - E o que seria?
           - O John, ele já me “agrediu”. – disse ela.
           - O quê? – pergunta Amanda.
           - Ele me deu uma bofetada no rosto!
           - Isso é mentira! – diz John. – Eu nunca tocaria em você!
           - Mentiroso! – diz Duda. – Porque não confessa logo?!
           - Você tem como provar? – pergunta o Juiz.

      Neste momento a Duda olha pra Carol. Ela era a única prova viva.

           - Não. – responde Duda.
           - Então já pode se retirar. – diz o Juiz.
           - Espera. – diz Carol. – Eu vi quando o John bateu na Eduarda.
           - Cale a boca! – disse John. – Você não viu nada!
           - Se o senhor continuar gritando, serei obrigado a pedir que se retire. – disse o Juiz ao John. – Pode contar o que presenciou? – pergunta a Carol.
           - Tudo começou porque a Duda descobriu o verdadeiro motivo de seus pais terem se separado. As coisas já eram meio difíceis antes, e depois da descoberta tudo ficou pior. Num dia, ela escutava música num volume alto, o que fez com que o John se irritasse e fosse até seu quarto para desligar o aparelho. Foi ai que uma pequena discussão começou. Ele disse algumas coisas a ela, que não hesitou em falar outras. O John se sentiu ofendido quando a Duda disse algo de que não me recordo muito bem. Então ele lhe deu um tapa no rosto, a fazendo até cair no chão. Eu apareci e impedi que ele continuasse.

      John fuzilava a Carol com os olhos. Duda tinha um leve sorriso no rosto, e o Juiz somente escutava com atenção. Um segurança apareceu e colocou a Duda para fora da sala.

           - E ai, como foi lá dentro? – pergunta Bill.
           - O John vai se ferrar. – respondeu.
           - Sério?
           - A Carol contou tudo que viu.
           - Viu só? Eu disse que poderia funcionar.
           - Pensei que ficaria feliz se o John conseguisse a minha guarda definitiva.
           - O que adiantaria eu ficar feliz, se você também não estivesse feliz?
           - Sabe que isso pode trazer algumas conseqüências, não é?
           - Sei sim. Mas acho que já estava na hora d’eu me preparar para tudo.

      Algum tempo depois a audiência finalmente termina. As portas se abrem...

           - Qual foi a decisão do juiz? – pergunta Duda, ansiosa.
           - Ele disse que... – Amanda fez suspense. – Disse que... O seu lugar é comigo!
           - Oh meu Deus! – disse Duda, em seguida deu um abraço apertado em sua mãe.

xxx

      Minutos depois, em frente ao fórum... Bill entra em seu carro, e pouco depois a Duda também entra.

           - Tem certeza que não quer ir com a sua mãe? – pergunta ele. – Deveria aproveitá-la.
           - Não estou a fim de aproveitar a minha mãe agora. – responde ela. – Quero ir com você.
           - Tudo bem. E pra onde a princesa que ir?
           - Pra bem longe daqui. – diz ela. – Me leve pra qualquer lugar onde possamos ficar juntos. Quero... quero ouvir somente a sua voz.
           - Seu desejo é uma ordem.

      Ele girou a chave do carro, e partiu.

–--
(Contado pelo Bill)

      Se ela disse que queria ir pra um lugar onde só se pudesse ouvir a minha voz, então a levarei até esse lugar. Acho que vinte minutos depois de ter saído do fórum, chegamos. Parei o carro, e ficamos calados por pouco tempo.

           - Chegamos. – disse.
           - Onde estamos? – pergunta ela.
           - Vem comigo.

      Desci do carro, e a Duda fez o mesmo. Caminhamos um pouco até chegarmos a beira de um lago. Ela continuou calada. Segurei em sua mão, e fui conduzindo-a até uma ponte que havia no lago. Ficamos parados, observando o sol se pôr.

           - Pelo visto você conhece vários lugares aqui, hein? – disse ela.
           - Só alguns. – respondi. – Mas esse eu conheci graças ao Tom.
           - Como assim?
           - Quando éramos mais novos, ele inventou de sair com uma garota, e a trouxe até aqui. Eu estava curioso pra saber quem era a menina, e segui os dois.
           - Uau.
           - Bom, nós estamos sozinhos, e eu acho que está na hora de te dar aquela outra coisa.
           - Estou aguardando, ansiosa.
           - Quero que fique de costas pra mim.
           - Porque?
           - Só fique de costas, e logo saberá.

      Ela achou um pouco estranho, mas se virou. Tirei do bolso uma caixinha vermelha, e logo em seguida a abri, tirando de dentro dela um cordãozinho de ouro, com um pingente em formato de coração, que poderia ser dividido em dois, deixando assim aquele coração pela metade. Respirei fundo, e me aproximei dela para colocar o cordãozinho. Duda se vira pra mim, com os olhos brilhando.

           - Isso é... é tão lindo. – diz ela.
           - Prometa que sempre o usará?
           - Prometo. – seus olhos agora estavam cheios de lágrimas.
           - Quero que saiba que não importa a distância em que estiver eu sempre te amarei. Ninguém nunca tomará o seu lugar.

      Vi algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

           - Eu te amo. – disse.
           - Bill...
           - Diga.
           - Me beija?

      Era mesmo necessário pedir mais de uma vez? Me aproximei, e lhe dei um beijo, como se aquele fosse o último que daríamos. Eu tinha certeza de que ela estava mesmo decidida a ir embora com a mãe. Me segurei para não chorar, mas não conseguir manter isso por muito tempo. Enquanto nos beijávamos, algumas lágrimas chegaram a cair dos meus olhos. Depois disso nos abraçamos, e continuamos vendo o Sol, que agora já estava desaparecendo no horizonte. 

Postado por: Grasiele

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