quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 28 - Não existem palavras para isso - Parte I

(Contado pela Duda)

      O dia mal havia amanhecido e eu já estava acordada, mas ainda me encontrava deitada na cama. Abracei o travesseiro, e uma lágrima escorreu. Eu não me sentia bem em estar mentindo para o Bill. Mas não tinha outra solução. Se eu falasse a verdade, ele ficaria triste e não agüento vê-lo dessa forma, principalmente depois de ele dizer que gosta de mim. O quê que eu faço? Com quem eu devo ficar? Porque isso tinha que acontecer justamente comigo? Tudo seria tão mais fácil se o Bill me odiasse. Porque ele não pode me odiar? Será que ele não poderia me odiar pelo menos por agora?

      Peguei meu celular que estava na mesinha de cabeceira, olhei as horas: 6h10. Me levantei e fui pro banheiro pra tomar meu banho. Pouco depois, retornei, passei desodorante, escolhi uma roupa no guarda-roupa, me vesti, penteei o cabelo, calcei meu all star branco, coloquei meu perfume, peguei minha mochila que já estava arrumada, e sai do quarto em direção à cozinha. Meu pai e Carol tomavam o café da manhã juntos. Me aproximei, coloquei um pouco de suco no copo, e o tomei sem nem ao menos me sentar. Comi um pedaço do bolo de laranja que a Anna havia feito, voltei ao banheiro e escovei mais uma vez os meus dentes. Quando já estava saindo de casa...

           - Não quer uma carona? – pergunta John.
           - Obrigada, mas prefiro ir andando. – respondi.
           - Se for andando, chegará atrasada.
           - E daí? Desde quando se importa?
           - Desde quando eu sou o seu pai.
           - Pais de verdade não agridem seus filhos.
           - Você mereceu.
           - E você é um idiota! Não preciso de você pra nada!

      Segui meu caminho, e peguei um ônibus no ponto mais próximo que encontrei. Cheguei ao colégio, e o sinal ainda nem havia sido tocado, e só tocaria dali quinze minutos. Fui pro refeitório, me sentei numa das mesas. Abri minha mochila e peguei meu caderno de desenho. Comecei a fazer alguns rabiscos, enquanto a aula não pensava em começar.

      Pouco depois o Bill aparece, e coloca a sua mochila em cima da mesa. Mas a forma como ele fez isso, achei que foi um tanto “agressiva”, e me assustei um pouco. Ergui minha cabeça para olhá-lo, e pude notar sua expressão séria.  A primeira coisa que imaginei, foi que acordara de mau humor.

           - O que foi? – perguntei. – Aposto que acordou de mau humor.
           - Dormi feito um anjo. – respondeu, ainda sério.
           - E eu daria tudo para vê-lo dormindo.

      Ele ficou calado.

           - Mas alguma coisa aconteceu pra você estar assim.
           - Tem razão.
           - Me deixe adivinhar. – disse. – Brigou com o Tom, acertei?
           - O Tom e eu não costumamos brigar.
           - Ok, ok. Está me deixando preocupada. Pode me dizer o que aconteceu?
           - Gostaria que você me respondesse algo.
           - E o que seria?
           - Porque escondeu de mim que a sua mãe havia chegado?

      Como ele descobriu? Fiquei surpresa com aquela pergunta, e completamente muda. Não tive reação, e não sabia o que responder. Tentei pronunciar alguma coisa, mas minha voz simplesmente desapareceu.

           - É tão difícil assim responder isso? – pergunta ele.
           - C-Como soube?
           - Isso não vem ao caso agora! Porque não me disse?
           - Porque eu sabia como se sentiria.
           - Por acaso pretendia ir embora sem nem ao menos dizer adeus?
           - Não, claro que não! Eu ia te contar.
           - Quando?
           - Quando chegasse a hora. – respondi com a cabeça um pouco baixa.
           - E essa hora seria quando estivesse prestes a embarcar num avião.
           - Não! – olhei pra ele. – Eu nunca faria isso.
           - Será mesmo?
           - Você... você está duvidando de mim?
           - Se não teve coragem de falar que ela havia chegado, porque não teria coragem de repetir o que fez da última vez?
           - Eu não iria embora sem me despedir.

      Ficamos em silêncio, e só depois que eu fui notar o que eu havia dito. Bill se sentou numa cadeira de frente pra mim, com um olhar triste e disse quase num sussurro, lento e abafado:

           - Você não vai ficar, não é?

      Nem eu havia me decidido sobre isso.

           - Pelo seu silêncio – disse ele. -, não é preciso escutar uma resposta.
           - Não tente colocar palavras em minha boca. – disse finalmente. – Eu ainda não me decidi.
           - Sua mãe não viria até aqui pra te ouvir dizer que não irá mais embora. Ela não perderia o seu tempo.
           - Talvez ela perdesse.
           - Eu queria muito acreditar que isso é verdade.
           - Por favor, não seja injusto.
           - Injusto? A mulher que pretende te tirar de mim está aqui, você não me diz nada, e quer que eu aceite tudo numa boa?

      O que eu poderia responder numa hora dessas? Porque o sinal não toca logo pra eu não ter que enfrentar mais aquele olhar?

           - Eu amo você, Duda. – uma lágrima escorre dos olhos dele, e é enxugada o mais rápido possivel. Talvez para que ninguém o visse chorar. – Mas infelizmente não posso competir com a sua mãe. Eu não teria chances.
           - Isso não é uma competição!
           - E comparado a ela, eu sou o quê? Nada!
           - É isso que pensa? Que não significa nada?
           - É o que parece.
           - Não fale besteiras! Você significa mais do que pode imaginar.
           - Então prove isso, ficando aqui comigo. Não volte pra Suíça.

      Nesse momento o sinal toca. Bill se levanta e pega sua mochila.

           - Aonde vai? – perguntei.
           - A aula já vai começar. – responde, e vira as costas.

      Minha vontade era de chorar. Mas eu precisava ser forte, pelo menos naquele instante. Fechei os olhos e respirei fundo. Coloquei meu livro dentro da mochila, depois peguei a mesma e fui pra sala.

      Não prestei atenção em uma só letra que os professores diziam. Eu boiei completamente. Se me perguntasse qualquer coisa, eu não saberia responder. Assim que o sinal tocou, arrumei minhas coisas e olhei para a cadeira ao lado. Bill já havia saído, ou talvez ele não tivesse assistido à última aula. Sai correndo para tentar encontrá-lo, e o encontrei quase entrando em seu carro.

           - Bill, espera! – gritei, e ele parou. Me aproximei. – Não ficaremos assim, não é?
           - Assim como?
           - Sem conversarmos um com o outro.
           - Talvez nós dois precisássemos de um pouco de tempo.
           - Como assim?
           - Eu também preciso pensar.
           - Amanhã... os meus pais vão ter uma audiência com o juiz, e... decidirão sobre o meu futuro.
           - Porque está me contando isso?
           - Porque eu queria que... que você fosse comigo.
           - Está me pedindo pra te acompanhar e presenciar o momento em que o juiz dirá que você me deixará?
           - Não. Só estou pedindo pra ficar ao meu lado. Eu preciso de você.
           - Não precisa não, e talvez nunca precisasse.
           - Do que está falando?

      Um carro pára e buzina. Olho pra trás, e a minha mãe estava dentro do mesmo, com um sorriso nos lábios e acenando.

           - Sua mãe está te chamando, não a deixará esperando, não é? – disse ele, que entrou no carro, e partiu sem nem me olhar.

      Minha mãe buzinou novamente. Então eu respirei fundo, abri um sorriso forçado, e sigo até o carro.

           - Aquele era o Bill? – pergunta ela.
           - Sim. – respondi.
           - Como ele cresceu, e ficou ainda mais bonito.
           - Concordo.
           - Acho que tenho que falar com ele.
           - Ahn? Falar sobre o quê?
           - Nada de mais.
           - Aham. E o que significa “nada de mais”?
           - Curiosa como antes, hein?
           - Não custa nada falar.
           - Só perguntarei sobre os pais dele.

      Ah, tá. E o meu nome é Tereza. Até parece que eu acredito nisso.

–--
(Contado pela 3º pessoa)

      Era mais ou menos 15h15. Bill acabara de chegar à aconchegante lanchonete “Doce de Menina”. Se sentou numa mesa próxima à lareira, que aquecia o local, e aguardou. A todo instante ele olhava para o relógio. Quinze minutos depois, ele avista alguém entrar, e se levanta, acenando.

           - Olá Bill.
           - Olá Srta. Drummond.
           - Por favor, não seja tão formal. Pode me chamar de Amanda.

      Ele abriu a cadeira para que ela pudesse se sentar, e depois se sentou de frente para a mesma.

           - Recebi o seu telefonema, mas não entendi o motivo de querer me encontrar aqui. – diz ele.
           - Queria conversar com você.
           - E porque aqui? Poderíamos ter combinado de nos encontrar na casa da Duda, ou até mesmo em minha casa.
           - Não quero que a minha filha saiba desse encontro.
           - Por quê?
           - Porque precisamos ter uma conversa extremamente particular.
           - Ok.
           - Vou direto ao ponto. Eu não sei se fiquei feliz ou triste por saber que está saindo com a Duda. – fez uma pequena pausa. – Você não pode imaginar o que aquela garota sofreu quando fomos pra Suíça. Acho que se eu não estivesse ao seu lado, não sei o que teria acontecido a ela. Cortou-me o coração ver minha filha daquela maneira. Nunca a vi chorar tanto por alguém.
           - Sinto muito por tudo que aconteceu. Eu não tive intenção alguma em magoá-la.
           - Eu sei disso. E deveria mesmo sentir muito. Mas não vim aqui para falar sobre o passado.


      Continua...

Postado por: Grasiele

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