(Contado pela Duda)
Já era noite. Eu estava em meu quarto, e o telefone lá da sala começou a tocar. Me levantei rapidamente da cama, e desci as escadas correndo. Tropecei num dos degraus, e cai de cara no chão. Fiquei um pouco tonta, mas consegui ficar de pé. Atendi o telefone.
- Alô?
A ligação caiu. Agora pensem comigo: vale mesmo à pena descer as escadas correndo, dar de cara com o chão, atender ao telefone e ver que a ligação caiu? Acho que não. Subi pro quarto, e tranquei a porta. Me deitei novamente, e fiquei olhando pro teto. A cortina da janela estava aberta, o quarto estava escuro, e a iluminação que ali entrara, vinha da rua. Fiquei olhando pro teto. Lá fora, a luz refletia nas árvores que balançavam, e acabavam formando desenhos estranhos no teto do quarto. Permaneci imóvel por alguns minutos, até meu celular começar a toca. Imaginei que fosse a minha mãe. Mas era o Bill.
- Oi. – atendi.
- Ô Tom, vê se não rouba! – disse ele.
Ele ligou pra mim, e ao invés de falar comigo, brigava com o Tom.
- Bill. – disse.
- Deixa de ser idiota Tom! – continuavam a brigar.
- Bill! – chamei novamente.
- Esperai, estou um pouco ocupado.
- Se está ocupado, porque ligou?
- É que o Tom e eu estamos jogando vídeo game, e sempre que ele acha uma brecha, tenta trapacear.
- Então quando terminar de jogar, me ligue.
Sim, eu desliguei. E queria que eu fizesse o quê? Ficar esperando ele terminar o jogo? Nem pensar. Apesar de que, a conta viria alta pra ele, e não pra mim. Eu estava quase pegando no sono, quando o celular mais uma vez começa a tocar. Já sabia que era ele.
- Já terminou? – perguntei.
- Sim.
- Por acaso o Tom sabe sobre a gente?
- Não. Ele só acha que sou apaixonado por você, e que estou tentando fazer de tudo para que fique.
- Mas contou sobre o que rolou?
- Óbvio que não. Segredo só funciona se for entre duas pessoas, se três ficarem sabendo, vira fofoca.
- Tem razão. E... obrigada por isso.
- Não tem que agradecer. – ficamos em silêncio. – Você... está pensando na proposta que lhe fiz?
- Com todo carinho. Mas ainda não decidi nada.
- Tô com saudades.
- Eu também.
- Pode me dar uma dica de como ficar longe de você, lá no colégio?
Nós dois rimos.
- Acho que não conseguiria ficar longe de mim. – disse.
- Mas infelizmente tenho que ficar. A não ser que você queria falar pra todo mundo o que se passa conosco.
- Não. Ainda é cedo pra isso. E talvez o pessoal não agüentasse essa noticia. – ele riu.
- Por quanto tempo esconderemos isso?
- Não sei.
- Ei, não pense que estou perguntando isso só pra apressar as coisas. Se for preciso, esperarei o tempo necessário.
- Que fofo.
- Ah, eu sei.
- E depois diz que eu sou a convencida, não é?
- Só um pouquinho.
- Eu vou desligar agora, porque amanhã a gente tem aula.
- Ok. Durma bem.
- Você também.
- Eu... te amo.
Fiquei em silêncio por um tempo. Podem achar estranho eu não dizer o mesmo a ele. Mas tentem entender, sofri muito quando meus sentimentos foram declarados a ele. Já pensou se acontece de novo? Não quero passar pela mesma coisa novamente. Foi muita dor pra uma só pessoa.
- Boa noite. – disse finalmente.
Desligamos juntos. Coloquei o celular em cima da mesinha ao lado da cama, me virei para o outro lado, e peguei no sono.
Acordei, e parecia que eu não havia dormido absolutamente nada. Apalpei a mesinha pra pegar o celular, olhei as horas: 7h45. Eu estava completamente atrasada. Cadê aquela droga de despertador nesse momento? É nisso que dá quebrar as coisas. Me levantei correndo, entrei no banheiro e tomei o banho mais rápido que consegui. Retornei ao quarto, passei desodorante, e vesti a roupa que eu tinha separado na noite anterior. Ainda bem que fiz isso. Passei meu perfume, peguei minha mochila, e desci correndo. Desta vez não tropecei. Cheguei a cozinha e o casal vinte tomava o café tranquilamente.
- Porque não me acordou?! – perguntei.
- Cadê seu despertador? – pergunta meu pai, após beber um gole do café.
- Ele quebrou. – respondi.
- Não. Você o arrebentou. – disse ele.
- Tanto faz! Você é o meu pai, e deveria ter me acordado!
- Desculpa.
- Por favor, diga que as suas desculpas fazem o tempo congelar até eu chegar ao colégio?
- O quê?
- Não vai me dar uma carona?
- Hoje não vai dar.
- Perfeito. – disse.
Respirei fundo, contei de 1 a 10, e sai correndo pra rua. Se tivesse sorte, um táxi passaria por ali e me levaria. Mas eu não tive a sorte. Gritei de raiva, e uma senhora que passeava com sua cadelinha, se assustou e se afastou o mais rápido que pôde. O jeito era pegar um ônibus. Mas qual? Eu não fazia idéia do ônibus que passaria em frente ao colégio, e por isso, entrei no primeiro que passou. Fiquei dentro dele por meia hora, e tive que caminhar por mais vinte minutos. Ah, vá. Não é tão ruim assim, não é? Nem um pouco.
Entrei no colégio, e fui recebida pelo inspetor. Ele me levou diretamente a direção, e ficarei na detenção por quinze minutos. Hoje os meus anjinhos da guarda me abandonaram. Acho que ficaram com raiva de alguma coisa. Fui pra sala, e a professora perguntou o motivo do meu atraso.
- Meu porquinho da índia morreu. – disse, fingindo chorar.
- Oh, eu sinto muito, querida. – ela me abraçou. – Agora vá se sentar.
Me sentei, e o Bill se inclinou e sussurrou:
- Você é muito sínica.
- Ela que é burra demais. – sussurrei de volta.
O Tom ficou nos olhando, e pra despistar, pisquei e lhe joguei um beijinho. Ele sorriu, e voltou a fazer sua atividade. Não sei por que, mas acho que o Tom desconfia de alguma coisa.
No intervalo, decidi ir até a sala de música pra tocar um pouco. Estava com saudades daquilo. Entrei, fechei a porta, e comecei a tocar. Pouco depois, senti alguém beijar meu pescoço. Quem mais poderia ser?
- É melhor parar, Bill. – disse.
- Bill?
Me virei, e era o Tom.
- Tom?! O que está fazendo aqui?
- Porque disse o nome do Bill?
- Eu não disse nada.
- Disse sim.
- Não. O que eu quis dizer foi... – gaguejei. – Bia! Eu preciso ligar pra minha amiga Bia.
- Não tente me enganar! Sei muito bem o que disse. Está rolando alguma coisa entre vocês dois, não é?
- Que idéia é essa? Tá doido? Acha mesmo que eu ficaria com aquele idiota?
- Me responda você.
- Eu nunca ficaria com ele. Tem garotos mais interessantes por ai, não acha. – sorri maliciosamente, de propósito.
- Acho. – ele retribuiu.
- Bom, é melhor eu ir ligar pra minha amiga Bia, antes que eu me esqueça.
Sai dali rapidamente. Não sei se ele acreditou. Mas tentei fazer o melhor. Que mancada! Mas que culpa eu tenho se o Bill vive fazendo isso? Acabei me encontrando com o mesmo, que me puxou pra um corredor vazio, e começou a me beijar.
- Bill, espera! – disse, quase sussurrando.
- O que foi?
- Podem nos ver.
- Ninguém vai ver nada! – me beijou novamente.
- É sério! Aqui é perigoso.
- Deixa de ser medrosa! – beijou de novo.
- O que estão fazendo? – pergunta Débora.
Paramos de nos beijar. Nos entreolhamos, e tive que fazer a única coisa que poderia dar certo naquele momento. Dei um soco no nariz dele. No momento fiquei com muita pena, pois eu havia o machucado. Mas era um pouco tarde pra pensar nisso.
- Me agarra de novo, e o seu nariz não será o meu alvo. – disse, e sai dali sem nem olhar pra trás.
No final da aula, eu estava no refeitório, e avistei o Bill chegar com um curativo no nariz. Senti tanta coisa quando o vi. Deu vontade de rir, de pedir desculpas, e até mesmo de chorar. Me controlei. Ele e o Tom se sentaram na mesma mesa em que eu estava. O irmão foi pegar um refrigerante na cantina, e ficamos sozinhos.
- Desculpa. – disse, me controlando pra não rir.
- Você bate bem forte, pra uma garota. – disse ele.
- Eu disse que era perigoso.
- Mas precisava ser tão forte?
- Já pedi desculpas. O que contou pro Tom?
- Disse que não vi a porta de vidro da diretoria aberta, e bati de cara.
Não me controlei e ri.
- Pouco antes da Débora, o Tom me deu um beijo no pescoço lá na sala de música. Pensei que fosse você, e disse seu nome. Por sorte inventei uma desculpa super esfarrapada. Mas ele está desconfiado.
- O que iremos fazer?
- Precisamos ter mais cuidado.
- Promete que não vai mais me dar outro soco daquele?
- Prometo. – ri.
Tom vinha se aproximando, e paramos de conversar. Ele se sentou ao meu lado, e iniciamos uma nova conversa, como se nada tivesse acontecido.
Postado por: Grasiele
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