quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Love And Hate - Capítulo 23 - De volta ao inferno

(Contado pelo Bill)

      O assistente fez questão de passar em todas as cabanas para avisar que a viajem acabaria mais cedo, pois o professor não retornaria, e ele não seria louco de ficar sozinho com tantos “adolescentes”, já que da última vez, foi amarrado para que uma “festa” fosse realizada. Todos começaram a arrumar suas malas. A viajem de volta, aconteceria na manhã seguinte.

      Era mais ou menos 14h45. A Débora tomava banho para dar uma última volta ali no local, com o namorado. Eu assistia televisão, e a Duda se encontrava dentro do quarto, fazendo alguma coisa, que até o momento eu não sabia. A programação da TV estava péssima, e eu começara a sentir sono. Desliguei a mesma, me levantei e fui até o quando da Duda. Ela estava arrumando suas roupas dentro da mala. Me sentei na cama, encostado a cabeceira.

           - Amanhã nossa viajem infelizmente acaba. – disse.
           - É. – ela suspira. – E voltarei à rotina infernal novamente.
           - Rotina infernal?
           - Terei de enfrentar um pai traidor, uma madrasta insuportável, e uma casa tão silenciosa, que é bem capaz que se dê para ouvir o que os micróbios conversando.

      Tive que rir desse último comentário.

           - É tão ruim assim, morar com seu pai? – perguntei.
           - Nem imagina o quanto. Não vejo à hora da minha mãe chegar.
           - E quando isso acontecer, você vai embora.
           - Provavelmente.
           - E irá me deixar novamente.
           - Um-hum.
           - Porque não fica? Sei lá, alugue uma casa. More com a Débora por algum tempo. Faça qualquer coisa, menos partir.
           - Eu não posso ficar. O meu lugar é na Suíça, ao lado da minha mãe. Ela quem mais me deu forças. E não posso abandoná-la.
           - Mas pode me abandonar?
           - Não seja dramático. Você vai superar.
           - Demoramos tanto tempo para nos reconciliar, e agora quer destruir tudo.
           - Já disse para não ser dramático. Bill, o que aconteceu com a gente, foi algo... sei lá, meio que passageiro.
           - Então é isso que pensa? Acha que não gosto de você de verdade?
           - Eu não disse isso.
           - Mas pensou!
           - Não venha colocar pensamentos em minha mente. Eu sei o que pensei, e não foi isso!
           - Eu só quero que fique.
           - Se estivesse em meu lugar, entenderia.
           - É uma pena que eu não esteja.
           - Realmente não sabe o que é conviver com pessoas que parecem não se importar contigo. Me responda uma coisa: você ama muito o Tom, não é?
           - Claro! Ele é o meu irmão.
           - E gostaria que ele fosse morar em outro país?
           - Obvio que não!
           - É exatamente isso que quero lhe dizer. Você é feliz, pois tem o seu irmão pra te apoiar em tudo. Mas não duraria um dia se quer longe dele. Esse período que estou afastada da minha mãe está sendo uma tortura! Ela foi e sempre será a minha melhor amiga. A única que me apoiou quando contei sobre você. Aquela que enxugou inúmeras vezes as minhas lágrimas. – ela fez uma pausa. – Não posso simplesmente virar para ela e “Olha mãe, eu não vou mais voltar pra Suíça, porque o Bill me pediu pra ficar. Ah, eu também não irei morar com meu pai. Na verdade eu nem tenho um lugar pra ficar, então quando quiser me encontrar, procure-me debaixo dos viadutos.”. Não ficarei na casa da Débora, porque os pais dela nunca aceitariam, e eu não me sentiria bem.

      Ela tinha razão. Por mais difícil que seja admitir, a Duda tinha toda razão. Ela não poderia simplesmente largar a mãe, por um pedido meu. A quem estou querendo enganar? A Duda nunca deixaria qualquer coisa por mim. Então é melhor eu parar de me iludir tanto com ela, antes que as coisas fiquem ainda piores. Talvez ela nem se importe tanto comigo, ou com o que estou sentindo. Só sei que será difícil esquecê-la, melhor dizendo, impossível. Como se esquece alguém da noite pro dia? Acho que não há uma formula pra isso. E mesmo que tivesse, acho que sou fraco demais pra querer esquecê-la.

      Sei que o que direi a seguir, poderá ter uma resposta negativa. Mas não custa na tentar. E essa seria a minha “última” tentativa de ouvi-la dizer que ficaria por mim, por nós.

           - More comigo. – disse.
           - O quê? – perguntou ela.
           - Você sabe que lá em casa tem espaço suficiente. E já que não quer ir pra casa da Débora, vá para a minha.
           - Bill...
           - Não. – interrompi. – Não responda nada agora. Sei que isso é algo para se pensar. Então pense com muito, mas muito carinho mesmo. Se for preciso, pense em mim.
           - Ok.

      Vou ficar ansioso, curioso, nervoso. Vou sentir tudo de uma só vez. Louco pra saber a sua resposta. Mas também vou tentar me segurar, e manter a calma. Nem que para isso, eu precise fingir.

      O silêncio tomou conta, e logo a Débora apareceu enrolada numa toalha rosa.

           - O que estão fazendo aqui sozinhos? – pergunta ela.
           - Esse idiota veio me encher o saco. – responde Duda.
           - Sei. – diz Débora.
           - É que não dá pra resistir. Gosto de infernizar a vida dela. – disse.
           - Pode infernizar a Duda outra hora? Porque preciso me vestir.
           - Claro.

      Sai do quarto, fechando a porta. Fui até a cabana do Tom. Precisava conversar com alguém. Fomos dar uma volta, e como sempre, chegamos ao lago, e nos sentamos nas raízes das árvores.

           - Parece preocupado. – diz ele.
           - E estou. – respondi.
           - Posso saber com o quê?
           - A Duda.
           - Eu sabia. Ela tinha que estar no meio. O que houve?
           - Daqui algum dia a mãe dela aparecerá.
           - E o que te preocupa?
           - Se a mãe dela chegar, a Duda vai embora.
           - Ou seja, você ficará triste novamente.
           - É isso ai.
           - Acho que não deveria se preocupar com o que irá acontecer no futuro. Mas com o que pode acontecer antes dela aparecer.
           - Como assim?
           - Tente curtir o máximo possivel. Faça coisas que a Duda possa se lembrar quando partir.
           - Mas não quero que ela vá.
           - Melhor ainda. Faça coisas para surpreendê-la, e prove o quanto a ama. Quem sabe ela não desiste, e resolve ficar?

      Não sei o que está acontecendo com o Tom. Mas ultimamente ele vem me dando bons conselhos. É estranho, e incrível, eu sei. Pelo menos está me ajudando em alguma coisa.

      Na manhã seguinte, bem cedo, todos já estavam colocando suas coisas no porta-malas do ônibus. Em seguida, foram entrando no mesmo e procurando acentos. Me sentei no fundão, ao lado do Tom. A Débora “largou” seu namorado e se sentou na nossa frente, junto a Duda. Em poucos minutos a viajem de volta começou.

–--
(Contado pela Duda)

      Finalmente chegamos. Eu estava cansada, com sono, com fome, e com muita vontade de cair na cama e desabar. Assim que cheguei em casa, fui recebida pelo meu pai, que veio correndo para me abraçar. Até parece que acredito nisso.

           - Como foi a viajem? – pergunta ele, me soltando.
           - Foi bem legal. – respondi.
           - Duda, que bom que está de volta. – disse Carol, com um sorriso.
           - Não tem vergonha na cara não? – perguntei. – Deixa de ser falsa!
           - Filha, ela está sendo legal com você, e é assim que a responde?
           - E desde quando isso ai é legal comigo? Pai, você é casado com ela e deveria saber que é puro fingimento.
           - Você mal chega, e já vem querendo brigar? – diz Carol.
           - Fica na sua, que a conversa é entre meu pai e eu. – disse.
           - Duda! – ele me repreendeu.
           - Quer saber? Estou cansada demais pra ficar gastando o meu precioso tempo com você. – disse a ela. – Vou pro quarto, e só me acordem quando o jantar estiver pronto. E se o jantar for feito pela Carol, nem precisa me acordar.

      Peguei minhas coisas e subi pro quarto. Fui até o banheiro e tomei um banho, antes de cair na cama. Dormi a tarde praticamente inteira. Mas fui acordada pela Anna, que trazia uma bandeja com lanche.

           - Não precisava se preocupar. – disse a ela.
           - Sei que não gosta da comida da Carol, e hoje ela decidiu cozinhar.
           - Vaca.
           - Concordo, e por isso te trouxe esse lanche.
           - Obrigada.
           - Mas, por favor, não deixe que seu pai descubra.
           - Por quê?
           - Ele me despediria.
           - Fica tranqüila. Não irei contar absolutamente nada.
           - O seu pai não te contou nada?
           - Sobre o quê?
           - A sua mãe ligou inúmeras vezes pra cá, enquanto esteve fora.
           - E o que ela disse?
           - Perguntou sobre você. E se não me engano, também disse algo sobre vir aqui.
           - Sério? Quando?
           - Isso eu não sei.
           - Aquele infeliz não me disse nada. E ainda quer que eu não tenha raiva dele.
           - Bem, se eu fosse você, atenderia todos os telefonemas daqui. Acho que seu pai não quer que você vá embora.
           - Pode deixar. Vou dar um jeito de atender todos. Mas você também vai me ajudar, não é?
           - Conte comigo pro que for preciso. Agora é melhor eu ir, antes que sintam a minha falta lá na cozinha.
           - Mais uma vez, muito obrigada por tudo.

      Anna deu um sorriso, e fechou a porta atrás de si. Comi o lanche que havia me trago, com o maior prazer. E por falar nisso, ela cozinha muito bem. Só não estava acreditando que meu próprio pai teve coragem de esconder algo sobre os telefonemas da minha mãe. E o Bill ainda quer que eu continue a morar aqui. Só pode ser brincadeira mesmo.

Postado por: Grasiele

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