segunda-feira, 16 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 18 - Liebe?

Algum dia, de alguma forma. Vou fazer tudo certo, mas não agora. Eu sei que você está se perguntando quando, você é o único que sabe disso – Nickelback

Minha garganta ardeu e eu senti que não havia mais chão, pois minhas pernas começaram a tremer e eu poderia desmaiar naquele segundo.
– O. Que. É. Isso. – Tom falou pausadamente com a voz falha e a raiva que sentia estava visível, suas mãos tremiam segurando o notebook.
Eu deixei minha toalha cair no chão e dei o meu primeiro passo, negando com a cabeça e sussurrei algo como “Não é isso que está pensando”, mas é claro que era. Eu sou uma fã.
– NÃO SE APROXIME! – Ele gritou assim que eu dei o primeiro passo para perto dele.
– Tom, não! – Eu gritei de volta.
– Mas que droga é essa? – Ele perguntou sem esperar resposta e retomou a falar – Você… Você é uma fã?
Eu não sabia ao certo como responder isso sem que ele voltasse a gritar, mas ele não esperava por respostas.
– Você mentiu esse tempo todo?! – Ele disse – Esteve esse tempo todo mentindo, escondendo quem você é!
– Não é verdade… – Eu falei baixo sem realmente saber se eu estava mentido novamente ou não.
– Mas é claro que é! Por isso você sempre soube tanta coisa – Ele deixou meu notebook cair no chão e ele desmontou algumas peças, mas não havia quebrado e naquele momento, isso não importava nada, mas Tom importava muito – Por isso sabia do meu aniversário, a cidade onde eu nasci, não me deixava ver teu mp3, falava em português com Chelsea sem motivos, tem o mesmo estilo que o Bill, parecia uma tonta quando nos conheceu e ficava morrendo de ciúmes por qualquer coisa!
Nota mental: Tom avalia muito bem as pessoas.
– Boa, Schäfer – Comentou Tom com um ar de deboche – Acho que você já sabe o que eu penso de pessoas que tentam criar o que não são… Eu as desprezo.
As últimas palavras foram como facadas e eu poderia vomitar sangue. Desprezar. Boa Schäfer. Minha garganta se fechou, e não era mais uma reação alérgica. Era dor, e aquelas das piores. Tom Kaulitz me despreza. Meu estômago embrulhou e eu senti nojo de mim mesma, mas a pior sensação era de não conseguir raciocinar. Nada, eu não consigo pensar. Eu entrei em desespero mental.
Abaixei os olhos sem conseguir encarar as órbitas castanhas e perfeitas do Kaulitz mais velho e minhas pernas cederam, e eu caí no chão. Por um momento eu pensei que ele fosse me ajudar, mas ele se virou e foi até a porta e a abriu.
Nesse momento, eu já não ouvia mais sons. Minha mente rodava, mas não chegava a lugar algum. Senti braços frios me envolverem e um perfume feminino em volta, eu estava de olhos fechados e dedos frios encostaram-se ao meu rosto limpando… Lágrimas? É. Eu deveria estar chorando, não duvido nada.
Abri os olhos devagar e vi quem me abraçava no chão. Chelsea estava de olhos arregalados para Tom, que pela forma que movia a boca, gritava com alguém na porta… Gustav. Que raios Gustav estava fazendo ali? Eu forcei minha mente a funcionar e ouvir.
– NÃO TORNE A GRITAR COM ELA, TOM! – Gustav gritou – VOCÊ NÃO É NADA AQUI, ALÉM DO IRMÃO DO BILL! Você não tem poder sobre a minha prima.
– E o que você sabe sobre ela?
– Mais que você, provavelmente!
– Sabia que ela é uma fã? – Tom perguntou bem mais baixo e Gustav ficou calado.
Olhei para os rostos surpresos dos garotos na porta. Georg, Bill, Gustav, David. Tom bufava de raiva.
Eu me levantei correndo e entrei no banheiro com Chelsea tentando me acompanhar. Agachei-me próxima ao sanitário e vomitei seja lá o que fosse aquilo, enquanto Chel segurava meu cabelo. Eu senti uma ligeira tontura e bati a cabeça na pia quando me levantei, mas isso não me impediu de muito, eu já estou acostumada com tombos e batidas assim.
– Julia, você está bem? – Ela perguntou.
– Não, evidentemente – Eu respondi desconecta.
Enquanto isso ouvia a voz alta de Tom discutindo dentro do quarto com alguém que parecia ser… Georg? Não duvido nada, mas pareciam que todos discutiam agora. Céus! O que eu estava fazendo ali? Voltei a raciocinar.
Lavei minha boca e o rosto, voltei ao quarto e as lágrimas ainda escorriam.
– E o que você espera que eu faça? – Gustav disse – Não vou enviá-la por correio de volta para o Brasil! Ela não é um objeto, Tom!
– Eu não quero saber, Gustav! Eu me recuso a fazer qualquer coisa enquanto ela estiver aqui.
Meu queixo caiu e eu me curvei sentindo uma dor quase insuportável na minha barriga, o choro compulsivo começou. Solucei algumas vezes e isso chamou atenção de Tom e dos outros.
– K-Kaulitz… – Eu tentei falar, mas não deu certo.
– Eu não a quero aqui! – Disse Tom e depois se voltou a mim – Eu não quero te ver nunca mais – Ele gritou e saiu do quarto.
Senti-me um lixo quando recebi os olhares incrédulos de Bill, Georg, Gustav e David. Os minutos se passaram e eu continuava chorando compulsivamente ao lado de Chel, que me abraçava forte e seu corpo abafava meu choro. Os garotos saíram do quarto sem eu notar, mas quando me dei conta, eu estava colocando tudo que me pertencia dentro da minha mala e a fechei.
Chel trocou olhares comigo como se já tivesse entendido o que eu estava prestes a fazer, e querendo ou não, ela faria comigo. “Vou buscar minha mala”, ela disse e voltou em poucos minutos com a mala pronta e o celular nas mãos.
– E-eu preciso deixar uns bilhetes – Eu disse, procurando desesperada, um bloco de notas e o achei no criado mudo. Arranquei algumas folhas e comecei a escrever na primeira:
“Regra n° 5 – Não fuja. Desculpe-me, mas era minha última escolha, para: Gustav Schäfer”
Chel falava no celular com alguém e eu não prestei atenção na conversa em alemão que ela dizia rápido, mas ouvi meu nome algumas vezes e o desespero na voz. Anotei no segundo bilhete:
“Obrigada por não me deixar cair algumas vezes, para: Georg”
Chel desligou o celular e arrancou uma folha do bloco de notas, escrevendo algo também. Escrevi meus últimos dois bilhetes:
“Não se preocupe, você é um cara legal. Prazer em conhecê-lo, Jost. Para: David”
E o meu último bilhete, deixei que algumas lágrimas escorressem em cima do papel branco e escrevi algumas palavras que seriam ignoradas pelo Kaulitz mais velho, provavelmente.
– Jus – Chel me despertou do transe que eu entrei assim que escrevi a última palavra… Liebe – Henry está lá em baixo.
– Henry?
– Vamos, ele te explica no caminho.
Peguei minha mala e fechei a porta do quarto. Coloquei meu bilhete por baixo da porta fechada de Tom, fiz o mesmo com o bilhete do Gustav, David e Georg. Chelsea deixou um bilhete no quarto de Bill. Desci de elevador, eu deixei a chave na recepção e saí do hotel, achando Henry próximo a porta do hotel. Assim que me viu, me abraçou. Eu aceitei seu abraço sem nenhuma maldade e respirei fundo seu perfume casual de sol, calor e o sal da maresia do Rio de Janeiro.
– Desculpe-me – Eu sussurrei no seu ouvido.
– Tudo bem, eu não sabia… Que você estava com ele.
Henry segurou minha mão e a mão de Chelsea, atravessamos a rua e entramos no carro de Henry, que pisou fundo no acelerador em direção ao aeroporto mais próximo, quebrando oficialmente a regra número cinco, que já estava me levando aos nervos.

Ponto De Vista – Kaulitz

Sentei no sofá do meu quarto sem entender perfeitamente bem o que havia acontecido. Julia é uma fã, o que é muito estranho. Sendo Julia uma fã, seria também Chelsea? Não, ela havia me dito que nunca tinha se interessado realmente pela banda. Eu respirei fundo.
Vi Chelsea adentrar o quarto parecendo nervosa, eu me aproximei delicadamente da loira.
– Chel – Eu disse seu nome e ela sorriu para mim, segurei sua nuca e a beijei lentamente – Você parece nervosa – Eu disse depois que terminei o beijo com selinhos.
– Eu não sei o que vai acontecer agora – Ela disse – A Jus vai fazer alguma coisa sem pé nem cabeça, e eu vou fazer com ela.
Meu coração saltou.
– O que?
– Bill, entenda e não se ofenda. Tom sempre foi o gêmeo favorito da Jus, eu a conheço demais para saber antes de ela admitir para mim que amava o seu irmão mais do que o normal para um fã antes mesmo de conhecer ele pessoalmente. Ouvir o que ele acabou de dizer, para ela, é… Não existem palavras. Ela está sofrendo e escondendo isso perfeitamente bem.
Chelsea pegou seu celular e escreveu “Henry”, apertando na primeira e única opção que apareceu na lista de contatos dela. Eu estranhei, ela levou o celular ao ouvido e disse “Me ligue o mais rápido que puder”.
– Quem é Henry? – Eu perguntei.
Chelsea parecia estar lutando para não me responder, mas eu coloquei a mão em seu ombro e ela disse.
– Um ex-namorado meu, melhor amigo da Julia. Desculpe-me, Bill, mas eu preciso dele aqui, não por mim, mas por ela.
Eu aproximei o corpo delicado da menina com o meu e encostei minha testa á dela, sentindo seu perfume parecido com neve e algum toque de morango, daqueles artificiais que se usa em geléia. Beijei o canto de sua boca, passando a mão pela lateral do corpo fino de Chelsea e propositalmente, levantei um pouco seu vestido. Ela riu e se afastou.
Jogou algumas peças de pijama que estavam em cima da cama e colocou de volta na mala, a fechou rapidamente.
– Chelsea Sol Hölt – Eu falei mais alto e ela se virou – Mantenha Julia bem, por mim, Gus, Ge e principalmente por Tom. Eu te amo.
– Eu prometo – Chelsea sorriu -, e também te amo, Bill Kaulitz.
Chelsea fechou a porta e eu voltei a me jogar no sofá, pegando meu caderno no criado mudo ao lado e avaliando a tradução de An Deiner Seite que eu simplesmente não conseguia terminar de transformá-la em By Your Side. Ainda faltava um pedaço. E minha mente não trabalhava para que as palavras se juntassem na outra língua.
Alguns minutos depois, um pequeno papel branco surgiu por baixo da minha porta e eu me levantei para vê-lo.
“O bilhete do Tom vai ajudá-lo com a música. Onde ele está?” E mais embaixo tinha um endereço em Magdeburgo, provavelmente a casa de Chelsea. Eu não via interesse naquilo agora, mas as duas dicas do bilhete bem me serviam.
Coisas a fazer: Achar Tom e o bilhete dele, e depois completar By Your Side.
Fui ao banheiro arrumar a armação do cabelo e coloquei uns óculos escuros bem casuais e saí do quarto pegando o segundo elevador direto para o estacionamento. O elevador chegou bem rápido ao estacionamento e eu ouvi os passos do meu irmão gêmeo, o avistei próximo a porta que dava á rua e corri todo o estacionamento atrás dele.
– Tom! – Eu gritei, mas ele não quis escutar. Foi só me aproximar dele para sentir a eletricidade de raiva que ele emanava, era fácil sentir, pelo menos com ele – Tom?
Eu coloquei a mão em seu ombro e ele me respondeu com um gesto agressivo, fazendo-me tirar minha mão dali e eu rugi.
– Cara, escuta-me! – Eu gritei e ele se virou, eu vi um reflexo em baixo de seu olho como uma lágrima seca – O que há? Por favor, eu sou irmão.
Tom virou a cabeça para os lados como se procurasse alguma saída, mas não havia, não comigo. Eu estava ligado á ele. Ele não poderia fugir de mim. Quando voltou a me olhar nos olhos, notei algumas lágrimas tentando escapar, mas ele não permitia. Era forte. Nem tanto.
– Que droga, Bill! Ela mentiu para mim. Esse tempo todo. Ela era minha fã. – Ele citou as frases como se fosse uma poesia – Ela deve ter se aproveitado de mim…
– Tommy, do que você está falando?
– Eu não sei! Minha mente está rodando! – Ele resmungou – Ela inverteu os papéis.
– Cara, a Julia te amava. – Eu disse – A Chel me contou que Julia parecia te amar além de um fanatismo antes mesmo de te conhecer.
– Fãs não amam – Tom, que estava de cabeça baixa, logo a levantou de olhos arregalados – Mein Gott! Bill! Eu disse isso para ela!
– Tom, você machucou a garota – Eu disse lentamente avaliando a situação.
– Eu preciso falar com ela – Tom se virou para o lado contrário da rua e eu pensei que ele fosse correr de volta para o elevador, mas me lembrei que Chel e Julia não estavam mais dentro do hotel e Tom não iria gostar nada de saber disso. Eu o virei pelos ombros para a porta que dava á rua e ele entendeu que deveria seguir aquele caminho.
Saímos do estacionamento e andamos em direção á entrada principal do hotel, mas antes, eu vi Tom congelar. As luzes dos postes refletiam uma imagem que eu também não gostaria de ter visto.
Em frente à entrada do hotel, um poste refletia as costas impossíveis de não reconhecer de Julia. Ela abraçava um menino mais alto que usava uma camisa azul e um jeans claro, cabelos pretos e repicados. Não era um garoto comum, ele tinha alguma cor que não o deixava parecendo um alemão. Ele passava a mão no cabelo preto de Julia como um carinho e os dois pareciam conversar abraçados.
Depois que Julia o soltou, ela parecia ainda estar chorando. Eu tive pena de Julia. O garoto deu as mãos a Julia e Chelsea e eu senti uma pontada de ciúmes, imaginei que aquele fosse Henry e respirei fundo.
Henry levou as duas meninas até o outro lado da rua e os três entraram em um carro. O mesmo acelerou e o carro desapareceu virando a esquina.
Eu sabia que Tom estava furioso. Eu sentia, mas de qualquer forma, pela primeira vez eu não sabia como falar com ele antes que ele explodisse. Tom começou a correr e eu fui atrás dele sem gritar, sem chamar a atenção.
Ele não esperou o elevador abrir, subiu as escadas, mas eu peguei o elevador e fui até o nosso andar. Cheguei ao mesmo tempo em que ele abriu a porta do seu quarto como um furacão e a fechou. Eu hesitei em abrir e resolvi passar antes no quarto dos Gs. Bati na porta dos dois, os mesmos abriram ao mesmo tempo com o mesmo rosto, e o mesmo papel na mão.
– Gustav… – Eu arfei – Não pude impedi-la.
Georg bateu com a mão que segurava um bilhete na porta e mordeu o lábio inferior.
– Droga, eu gostava dela. – Disse Georg e eu arregalei os olhos.
– Que? – Gustav fitou Georg sem expressar emoção.
– O que isso vale agora que ela foi embora e diante de quem ela gosta, que é o Tom? – Georg bufou.
– Onde ele está? – Gustie perguntou e eu apontei para o quarto dele.
Nesse mesmo momento, Jost abriu a porta do quarto dele com mais um bilhete em suas mãos. Será que todos tinham bilhetes? Trocamos todos olhares e paramos na porta do meu irmão gêmeo. Jost abriu a porta lentamente, que logo terminou de abrir batendo contra a parede.
– Perdi meu guitarrista favorito – Jost murmurou.
Parado no meio do quarto, Tom tinha as mãos tremendo, segurando um mesmo papel idêntico ao que todos receberam, mas o dele parecia ter mais coisas escritas. Eu sabia que ele tinha notado nossa presença, só estava nos ignorando.
I hold your letter (Eu segurei sua carta) In my frozen hand (Nas minhas mãos frias) The last line was long (A ultima linha foi longa,) As long as it burns (Tão longa que até queimou) My look carries on (Meu olhar sobre ela)
Tom deu alguns passos para trás e se encostou na parede, e depois arrastou lentamente seu corpo até se sentar no chão, sem tirar os olhos do papel. Eu me aproximei e ouvi meu gêmeo deixar escapar um suspiro que vinha seguido por um choro compulsivo.
As lágrimas começaram a escorrer como cachoeiras no rosto idêntico ao meu e sua expressão começou a se contorcer em caretas dolorosas, como se estivesse sendo esfaqueado. Agachei-me ao seu lado e estendi a mão para o bilhete, que ele me permitiu segurar. Tom levou logo as duas mãos ao rosto tentando abafar os soluços altos.
With every word another feeling dies (Com cada palavra outro sentimento morria) I’m left here in the dark (Fui deixado aqui na escuridão) No memories of you (Sem memórias suas) I close my eyes (Eu fechei meus olhos) It’s killing me (Está me matando…)
Eu não via meu irmão assim há mais ou menos seis anos, quando a última garota quebrou o coração dele, e naquele dia eu pensei que ele nunca mais teria um. E depois de seis anos, aparece alguém como Julia, para fazer a mesma coisa com Tom. Eu poderia ter raiva dela, mas não tinha porque entendia seu sofrimento. Isso poderia ser cômico se não fosse tão dramático.
Eu peguei o papel com algumas manchas recentes de lágrimas, provavelmente as de Julia e li:
“ ‘Eu não queria te causar problemas, nem ficar por muito tempo. Eu vim para dizer que eu estou ao seu lado mesmo que só por um momento.’ Desculpe pelo ketchup, pela camisa que ficou com meu perfume, pela camisa que estragou com cloro e por molhar seus dreads. Tom, você acredita em amor?”
Eu sorri timidamente diante da delicadeza natural que a Julia tinha capacidade de colocar em cada coisa que ela fazia, até mesmo um bilhete de despedidas quase de madrugada. Dobrei a carta e coloquei no meu bolso já com um pedaço de By Your Side escrito em alemão naquela carta.
Tom chorava compulsivamente, eu tentei o abraçar o que não deu muito certo até ele aceitar o abraço. Tom cantou baixinho perto do meu ouvido:
We die when love is dead… It’s killing me. – Eu estranhei a música que combinava perfeitamente com aquele momento, mas era praticamente uma agressão – We lost the dream we never had…
– Shiu, Tom – Eu disse – Não canta isso. Não agora.
– Que porra, Bill! – Ele disse alto – Ela gostava de mim… – Soluçou mais uma vez.
Eu adoraria dizer que ela ainda gostava dele. Mas vendo a menina daquela forma no chão do quarto, não podia ter tanta certeza.
– Bill, me devolve a carta…
Eu lhe entreguei o pequeno pedaço de papel, Tom encostou o pedaço de papel no rosto de forma melancólica.
Eu acredito, eu acredito – Ele repetia e eu me afastei um pouco, assim me levantando – Eu acredito em amor, Jus. Eu amo você.
Eu vi todos os garotos arregalarem os olhos. Inclusive eu. Tom não ama, ou pelo menos não amava. Julia é uma menina de sorte por entrar na vida dele, sem ao menos fazer muito esforço, conquistou Tom de forma tão louca que o fez chegar a esse ponto. Logo Tom, que nunca acreditou em amor.
Mas os próximos passos de Tom não foram nada legais. Meu irmão dobrou a folha e colocou no bolso, limpando rapidamente o rosto e se levantando do chão. Ele pegou a mala arrumada dele e pegou as chaves do carro.
– Tom, aonde você vai? – Eu perguntei alto.
Ele não me respondeu. Saiu do quarto e eu o segui, ele desceu as escadas e eu desci atrás dele. Tom colocou a mala em seu carro e pisou no acelerador. Eu entrei no meu carro estacionado ao lado e fui atrás dele na mesma velocidade.
Eu senti como se estivesse dando voltas em Leipzig passando em volta da praça central de Leipzig várias vezes. As ruas estavam um pouco vazias por estar de noite e ele parou o carro em um bar e eu esperei no carro, me surpreendi quando ele voltou com uma garrafa de whisky, entrou no carro e tomou o caminho para casa de Simone e Gordon, parando em frente a casa deles e descendo do carro com sua mala.
Eu saí do carro e gritei atrás de Tom:
– Tom? O que você está fazendo?
– Não sei direito.
– O que você vai fazer? – Tentei novamente.
– Beber whisky, não está vendo?
Tom abriu a casa de Simone com sua chave e eu o segui pela casa. Ele passou pela cozinha e pegou alguns copos de vidro com um cinzero e uma caixa de cigarros, que eu não o via fumar faz tempo. Será que ele iria tacar fogo nele mesmo?
Ele entrou no quarto e eu tentei abrir a porta, mas ele já tinha a trancado. Bati na porta do quarto com força.
– Tom! TOM! Não vá fazer nada imprudente! Você está me ouvindo?
Meus gritos fizeram a porta do quarto do casal se abrir revelando Simone e Gordon com seus pijamas.
– O que está acontecendo aqui? – Simone perguntou – Tom está aí dentro?
Eu bufei.
– Bill, o que há? – Ela me fuzilou com os olhos castanhos iguais aos meus e eu deveria contar tudo do início agora.
– Vamos para a cozinha – Gordon disse colocando a mão no meu ombro – Lá vocês conversam.
(…)
Na cozinha, Gordon preparou um chá qualquer que eu mesmo me obriguei a tomar. Esquentou-me bastante e Simone iniciou a conversa:
– Bill, isso tem haver com Julia? – Ela perguntou, e eu, surpreso, acenei que sim.
– Mãe, tudo começou quando eu e Tom tínhamos 12 anos. Lembra quando ele chegou a casa puto dizendo que eu tinha roubado a namorada dele? – Ela concordou rindo – Bem, você já sabe dessa história. No final, a gente ficou bem, mas ele nunca mais namorou alguém, não foi? Ele parou de acreditar em amor. Passou todo esse tempo, a Jus chegou do Brasil, prima do Gus. Lembro-me de notar que Tom ficava encarando Julia com curiosidade. Depois de um dia assim, eu cheguei a casa depois de regravar uma canção e estava cada um trancado em um quarto. Perguntei para Tom o que havia acontecido e ele me disse…
Abri a porta do quarto sem antes bater. Tom estava deitado na cama com os dreadlocks soltos com a guitarra em cima da barriga sem tocar nada.
– E aí? – Eu disse.
– Droga, Bill! Eu beijei a Julia.
Eu arregalei os olhos. Poderia começar a discutir com o garoto pela falta de responsabilidade por Julia ser prima do Gustav, mas decidi me calar pois Gustav estava em casa.
– Tom! Como é? De língua?
– Não, foi só um selinho. Mas cara, como eu queria beijá-la.
– Você está louco?
– Nein, só que aquela menina me leva a loucura. Ela tem o rosto tão provocativo, e fica sempre tão calada… Ela não me deseja.
– Cara, isso vai causar uma desordem na banda – Eu previ, imaginando o escândalo que Gustav iria arranjar.
– Ah, dane-se. Para ficar com aquela garota, eu faria tudo.
Avaliei o rosto de Simone após contar o episódio, e por não demonstrar nenhuma emoção, eu continuei a história:
– Depois disso, Tom mudou. O jeito de ser, ele ficou mais rabugento. No estúdio não acertava nenhum nota até que Julia não estivesse no mesmo local. Ele ficava sempre nervoso. Naquele dia ela desmaiou.
– De que?
– Uma alergia á camarão, não muito sério. Tom ficou o dia todo do lado dela até eu o tirar de lá e mandá-lo dormir, ah é, ele não estava mais dormindo. Depois daquele dia, as brigas se intensificaram. Eles brigavam por qualquer coisa, era muito chato. Então começou a turnê, estava combinado de Jus dormir no quarto com Georg, mas ele levou uma menina para cama e Jus foi dormir com Tom, eles estavam bem, Chel me contou que rolou uma seção de amassos na piscina e depois Georg comentou que viram eles na mesma situação no elevador.
– Então Julia corresponde?
– Deixa eu chegar lá – Eu disse, respirei e continuei: - Teve aquela festa que você viu fotos, tentamos manter os dois separados, mas graças a mim e Chelsea, ele ficaram juntos. Não sei direito o que rolou e Tom também não se lembrava bem, mas Julia cuidou dela naquela noite, só que no dia seguinte, ele me disse que tinha alguma coisa haver com um joguinho de final de semana, mas eles ‘terminaram’ e ela beijou Georg. Fomos a uma entrevista e Gustav descobriu, brigando com os meninos depois. Então chegamos a Leipzig. Eu presenciei uma briga séria entre Tom e Julia, depois ela fez uma mudança de visual e viemos para cá. Não sei se você sabe, mas rolou outra seção de amassos no quarto do Tom.
– Ah, era óbvio. Eles chegaram de mãos dadas e Tom estava meio corado, Julia também estava mais ‘alegre’. – Simone sorriu – Mas o que aconteceu hoje?
– Não sei direito, Jus saiu de tarde com Chelsea, depois eu achei Chel sozinha no parque e fomos para casa de Andreas, encontrando depois Tom com Julia lá. Tomamos sorvete e depois que chegamos ao hotel, começou a briga. Parece que Julia é fã do Tokio Hotel e andava escondendo isso. Tom ficou puto, mas ele também errou dizendo que fãs não amam de verdade para a garota. Mas agora ela foi embora e deixou um bilhete. De qualquer forma, ele disse, depois que ela foi embora, que ama ela.
– E como Gustav está? – disse Simone.
– O que adianta? Ela foi embora – Comentou Gordon.
– Exatamente, agora que ela foi que ele percebeu isso. Gustav está bem, em geral. Estamos todos chocados demais com a notícia e Julia deve estar acabada. Daqui a pouco talvez eles cheguem. Eu preciso tirar Tom do quarto, pois amanhã temos um show em… Ah, não me lembro o nome, mas uma cidade próxima.
– Bem, esse vai ser o problema, você sabe como seu irmão é – Disse Gordon – Impulsivo, pessimista.
Eu respirei fundo em concordância. Logo a campainha tocou e Gordon foi atender. Os garotos chegaram e Simone fez uma cama na sala para que todos pudessem dormir ali, rondando Tom. Eu não posso prever o que vai acontecer com ele agora, mas vai ser difícil tirá-lo do quarto. Conversamos isso com Jost e ele disse que iria providenciar tudo para cancelar o show.
Bati na porta de Tom mais algumas vezes e nenhum barulho eu podia ouvir de dentro. Estava preocupado demais com ele, mas não podia fazer nada, não agora.
Peguei meu caderno onde estava fazendo um rabisco de By Your Side e tentei me lembrar dos versos na carta de Julia, e depois completei na folha: “I don’t want to cause you trouble, don’t want to stay too long, I just came here to say to you, I am by your side just for a little while.”
Encostei a cabeça na porta de Tom e fechei os olhos cansados com o dia cheio sentindo um pouco a falta de Chelsea. Lembrei do rosto fino da minha namorada. Namorada. Em pensar que nem tínhamos assumido para nós mesmo, em pensar que eu tomei coragem e disse na frente da minha mãe e aí tudo ficou um tanto perfeito na minha vida. Agora só falta concertar a dor do Tom.

Você está em algum lugar lá fora, fraco demais para chorar. Fugiu de todas as pessoas para tentar ser uma. Eu vejo você – Tokio Hotel

Postado por: Grasiele

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