segunda-feira, 16 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 14 - Little Decoy

Chegamos a Leipzig no dia seguinte. Todos estavam dormindo e eu, acordada olhando para o vidro. Eu tenho medo de viajar em ônibus quando tem muitas curvas na estrada. Ou seja: minhas costas acabadas e o cansaço ao máximo. Além das físicas como olheiras profundas, cabelo embaraçado e roupas amassadas.
– Vamos, garotos – Ouvi David batendo palmas do segundo andar do ônibus -, e garotas. Vamos levantar entrar no hotel e dormir mais.
Eu observei as cabeças saírem de baixo de suas cobertas, cada um mais tonto que o outro. Georg e seu cabelo super bagunçado foi o primeiro a sair da cama e descer as escadas. Gustav e Chelsea se levantaram sem problemas. Bill saiu da cama resmungando e tentando colocar a juba amassada de leão dentro de uma touca qualquer. Eu fiquei observando Tom, que ainda estava embaixo das cobertas sem dar sinal de vida.
– Julia, Tom! – David chamou novamente do andar de baixo.
– Já vou! – Eu e Tom resmungamos em uníssono, mas eu me levantei primeiro e deixei o ser muito preguiçoso deitado.
Estavam todos na porta do ônibus olhando pelo vidro para algumas fãs que dormiam na porta do hotel. Eu abri um pouco a boca chocada. Se bem que, eu era capaz de fazer isso, se eles estivessem no Brasil. Então fechei a boca.
– Vamos passar lentamente e tentar não acordar ninguém, e depois os homens do hotel pegam suas malas. – Disse David lentamente de forma que soou estúpido, mas foi o que fizemos.
Um atrás do outro, pisando como uma pena. Eu fui a última a passar, e antes de entrar no hotel, uma mão gelada segurou meu calcanhar, eu olhei para baixa sem gritar. A garota não-tão-adormecida me entregou uma garrafa com uma carta dentro, em seguida, piscou e fingiu estar dormindo novamente.
Eu entrei no hotel com a garrafa nas mãos. Puxei a rolha, que automaticamente, fez o papel sair de dentro. Estava escrito “Para Gustav” com uma letra delicada.
– Ei, Gustie – eu o chamei – Isso talvez seja seu. Mandaram te entregar.
Ele não fez perguntas, até porque não deu tempo. Jost entregou chaves dos quartos no penúltimo andar do hotel, tinham chaves até de sobra, mas eu tinha combinado de ficar com Georg, então não aceitei um quarto vago.
Andei até o Ge, manhosa. Fechei os olhos e passei os braços pelo seu pescoço e adormeci ali mesmo, depois que ele me pegou no colo. Eu só acordei – diga-se abri os olhos por segundos e fechei novamente – quando já estava na cama extremamente confortável e senti alguém tirando minhas botas. Depois me cobriram e eu esperei dormir cem anos, de tanto cansaço que eu tinha nas minhas costas.

Senti-me como se tivesse colocado a cabeça na cama e minutos depois alguém me chama.
– Jus - passando a mão no meu cabelo – Jus, acorda.
Era Georg. Abri os olhos devagar e vi a claridade do quarto. Devia ser por volta de meio-dia.
– Oi?
– Todos querem saber se você vem almoçar. Estamos te esperando, mas você não acorda. – Eu me senti mal por saber disso.
– Obrigada, Ge, mas não. Eu poderia dormir cem anos. Estou tão cansada. – Resmunguei.
– Tudo bem, qualquer coisa estamos lá embaixo.
De olhos fechados só pude ouvir o barulho de a porta bater. Um segundo depois minha barriga roncou profundamente. Eu me levantei contra vontade, calçando as botas e corri atrás de Georg, que ainda estava caminhando no mesmo corredor.
– Ué, cadê a bela adormecida que iria dormir cem anos? – Ele brincou.
– Foi acordada por um príncipe.
– E eu sou seu príncipe, Jus? – Ele passou a mão pelos cabelos se exibindo.
– Não, está mais para sapo!
Nós rimos um pouco e descemos para almoçar em uma mesa com todos juntos. Eu comi em silêncio, ainda cansada, até Gustav chamar minha atenção.
– Quem mandou-te me entregar aquela carta?
– Uma garota que agarrou meu tornozelo por aí. Por quê?
– Ela era assim? – Ele pegou do bolso a carta que continha uma foto, do Gustav e a mesma garota ao lado.
– Uhum – disse de boca cheia – Por quê?
– Acho que vou ligar para ela. – Ele sorriu de lado – Tem o celular aqui em baixo.
Todos na mesa deixaram escapar um “Hmmm” bem pervertido, e algumas risadas logo após. Eu estava me sentindo A Cupida. Afastei o pensamento da minha cabeça rindo baixo.
– Parece que alguém vai se dar bem hoje à noite – Georg murmurou.
– Alguém deixa de ser virgem – Tom falou mais alto e Gustav cuspiu a coca-cola.
– Gustav não é virgem, seu pornô – Bill respondeu pelo amigo.
– Falou outro virgem.
– Se bem que – Georg começou -, com a Chelsea nas redondezas...
Chelsea cortou Georg assim que o atingiu com um nuggets. Ele fez uma cara de nojo e tentou acertar ela com uma almôndega, mas infelizmente caiu em Tom. O dito cujo jogou geléia em Georg, mas caiu no meu prato. Eu fiz uma careta e todos na mesa riram. Espetei uma batata assada no garfo e me levantei da mesa, dando a volta até chegar a Tom, que já me esperava com uma cara de deboche. Com o garfo e a batata, eu enfiei em algum lugar do ninho de fungos que ele tinha na cabeça, que costumamos chamar de dreads.
– Se me dêem licença, terminei meu almoço. – Eu disse me retirando do refeitório e sendo levemente aplaudida pelos outros enquanto Tom fumegava de raiva com uma batata sendo queimada na sua cabeça.
Vaguei pelo hotel sem vontade de dormir. Tinha um mapa de todo o hotel na recepção. Uma assistente observou minha curiosidade e perguntou em inglês se eu era de outro país.
– Eu sou brasileira – respondi em inglês e ela pediu licença, voltando um minuto depois com um garoto alto, extremamente branco, cabelos muito escuros e bochechas coradas que usava pequenos alargadores. Eu curti seu estilo.
– Oi, sou Gabriel. – Ele falou em português e eu sorri para o garoto.
– Julia. – Respondi.
– Você quer alguma ajuda? Esse mapa não traz muita informação.
– Eu só queria achar algo interessante para fazer durante a tarde. Recomendaria-me alguma sala em especial?
– Olha... Temos sala de jogos, sala de música, uma pequena biblioteca, um estúdio de tatuagens e piercings, um pequeno salão de beleza, SPA, piscina aquecida, academia...
– Espera, música, biblioteca, tatuagens e piercing, tem SPA também? – Eu arregalei os olhos e ele sorriu todo envergonhado, fazendo suas bochechas ficarem mais vermelhas.
– Sim, sim. Quer que eu te mostre algumas salas? Só não posso entrar no SPA feminino.
Nós rimos um pouco e ele me pediu para acompanhá-lo. Entramos no elevador e descobri que todas as salas ficavam exatamente no último andar, bem em cima do andar do meu quarto e do Georg.

(...)

Depois de conhecer as salas com Gabriel, eu agradeci seus serviços e chamei Chel e Georg para virem comigo. Gustav estava ocupado demais ligando para a garota, Bill disse estar indo para o salão de beleza e Tom sumiu. Como se isso me importasse. Sim, importa.
Passamos primeiro no estúdio de tatuagens e piercings e o assistente de lá disse que eu só poderia fazer alguma coisa se tivesse a autorização de meus pais, tutores ou responsável maior de idade.
– Eu ainda arranjo isso com Gustav.
– Ou David – Chel disse.
Entramos na sala de música, vazia até então. Observei cautelosamente os instrumentos que eu não sabia tocar. Passei a mão nas teclas do piano fazendo algum barulho e os dois se viraram.
– Georg, sabe tocar piano? – Perguntei. Ele acenou afirmativamente – Pode tocar alguma música para mim?
– Claro. Qual? Alguma que eu conheça.
– Certo. Quais suas bandas favoritas? – Perguntei.
– Black Question Mark, Devilish e Tokio Hotel.
Eu mandei o dedo obsceno para ele, ao dizer que suas bandas favoritas são aquelas antigas que os gêmeos fundaram. Era bem sua cara de publicidade.
– Está bem. Então toca aí aquela do show, na na na na na-na-na – Eu fingi não saber o nome da música e murmurei a melodia, Georg fez uma careta.
– Jus, você não sabe fingir que não conhece a música.
Chel riu e eu fingi cara de espanto.
– Está certo. Don’t Jump é o nome dela.
Georg passou o dedo pelas teclas e então começou a tocar a melodia, uma das minhas favoritas. Mas isso ele não sabia.
Georg tocou a introdução pressionando o lábio inferior como se reprimisse a vontade de cantar. Então me perguntou:
– Sabe cantá-la? – Eu acenei positivamente com a cabeça, e comecei:
On top of the roof (Em cima do telhado)
The air is so cold and so calm (O ar é tão frio e tão calmo)
I say your name in silence (Eu digo o seu nome em silêncio)
You don't want to hear it right now (Você não quer ouvi-lo agora)
Georg sorriu para o piano, eu me sentei em um banco ao lado e passei a mão pelo cabelo envergonhada.
The eyes of the city (Os olhos da cidade)
Are counting the tears falling down (Estão contando as lágrimas que caem)
Each one a promise of everything (Cada lagrima é uma promessa de tudo)
You never found (Que você nunca saberá)
Hesitei antes de cantar o refrão e acabei perdendo a melodia. Georg me encarou parando de tocar por um segundo, e eu senti seu olhar me apoiando, me dando forças para continuar a cantar.
I scream into the night for you ( Eu grito durante a noite por você)
Don't make it true (Não torne isso real)
Don't jump (Não pule)
The lights will not guide you through (As luzes não vão te guiar)
They're deceiving you (Elas estão enganando você)
Don't jump (Não pule)
Continuei cantando enquanto sorria para Georg e às vezes para Chelsea que arriscava alguma letra tentando cantar.

O mais velho dos Kaulitz tinha acabado de refazer os dreads, saindo do salão de beleza, ouviu uma melodia conhecida vindo da sala de música e se aproximou. Reconheceu a melodia de Spring Nicht, mas ouviu alguém cantando em inglês. Pensou em não chegar perto caso fosse alguma fã histérica, mas reconheceu a voz. Ele viu Julia cantando ao lado de Georg no piano.
You open your eyes (Você abre seus olhos)
But you can't remember what for (Mas não consegue lembrar porque)
The snow falls quietly (A neve cai lentamente)
You just can't feel it no more (Você apenas não a sente mais)
Somewhere up there (Em algum lugar lá em cima)
You lost yourself in your pain (Você se perdeu na sua própria dor)
You dream of the end (Você sonha com o fim)
To start all over again (Para começar tudo de novo)
Observou por um tempo sua pequena criatura do pântano cantando uma de suas músicas, e bem, ela realmente cantava bem. Estranho como ela parecia conhecer toda a letra que ainda nem havia sido lançada em álbum algum e sem nenhum pedaço de papel nas mãos.
Just take my hand (Apenas pegue a minha mão)
I'll gave you the chance (Eu vou te dar uma chance)
Don't jump (Não pule)
Esperou a garota terminar de cantar, então percebeu um pequeno fantasma no canto da sala o observando na porta. Ele sorriu para Chelsea e se afastou da sala com um sorriso bobo no rosto.

Cantei as frases finais com um sorriso extremamente grande para Georg, que se levantou do piano e apertou minha bochecha como um ato carinhoso.
– Vamos na academia agora? – Georg perguntou.
– No máximo sala de jogos. Eu tenho ossos de vidro – Chelsea disse.
Eu sorri, mas queria realmente fazer algum piercing na sala de tatuagens.
– Gente, eu vou voltar ao quarto. Estou super sem vontade de competir ou até mesmo malhar – Eu ri sem forças e eles saíram juntos da sala de músicas.
Eu fui um pouco atrás fazendo uma trança embolada no meu cabelo. Saí do elevador tonta – eu sempre fico um pouco tonta no elevador – e trotei na direção do meu quarto quando esbarrei com algum ser.
– Desculp- Eu comecei a falar, mas vi Tom me fuzilar com o olhar – Olha por onde anda!
– A cega aqui é você, Schäfer.
– Eu uso lentes. – Eu rugi.
Eu tentei passar por Tom, mas ele me segurou pelos ombros e disse:
– Eu preciso falar com você.
– Está falando.
Ele bufou com visível raiva.
– Eu quero saber, o que aconteceu na noite da balada.
– Eu... Bem, você tirou minha chance de ficar com aquele cara, e depois eu tirei sua chance de ficar com uma puta, mas você estava visivelmente bêbado e não ligou. Então eu te tirei de lá.
Eu quero saber – ele disse mais alto -, se nós ficamos.
– Não! Não, Kaulitz! – Eu rugi mais uma vez.
– Por quê?
– Porque não é assim. Não funciona dessa forma. Eu não sei o que você pensa, mas eu não sou isso. Não sou um passatempo. E eu nunca vou ser algo assim, de ninguém. Muito menos de você. Fique longe de mim.
Eu tirei a força suas mãos dos meus ombros e me afastei. Após o ato, senti lágrimas nos olhos e o bolo começou a se formar na garganta.
– Isso que você quer? – Ele segurou meu rosto e o aproximou de seu rosto. Eu fechei os olhos com a proximidade e senti seu nariz encostar-se ao meu – Vai, me diz.
– É – Eu retomei a sanidade mental e me afastei uns dois metros -, quero que fique longe – menti.
Virei-me com algumas lágrimas escorrendo e tomei outro caminho até o quarto de Georg que dividia comigo.
Eu tranquei a porta e me senti extremamente cansada. Eu podia me afogar em lágrimas até dormir com soluços. O que você fez, ein, tonta? Que tipo de coisa eu tinha em mente? Afastar Tom de mim? Eu fui uma burra, mas não me arrependo de verdade. E se tivesse realmente que acontecer? E se eu tivesse que ficar longe dele?
Você não pode ser um passatempo. Um mero passatempo.
Achei em algum lugar na cama meu mp3. Coloquei os fones de ouvido e apertei play na primeira música que vi. Justo aquela música. As lágrimas teimaram em cair mais ainda. O som da guitarra não foi suficiente para me fazer acordar. Eu cantei junto:
– Close your eyes and make believe, this is where you want to be, forgetting all the memories, trying to forget love cause love's forgotten me. (Feche seus olhos e faça acreditar que aqui é onde você quer estar, esquecendo todas as memórias. Tentando esquecer o amor, porque o amor me esqueceu)
Eu senti que meus sentidos estavam começando a parar de funcionar. Abaixei um pouco a música e fechei os olhos. Cantei o refrão e adormeci.
– You've never been so used as I'm using you, abusing you. My little decoy (Você nunca foi tão usado como eu estou te usando, te abusando. Meu pequeno passatempo)

(...)


– Garotos, já está quase na hora. Vocês já estão arrumados? – David Jost passou pela recepção onde todos, menos Julia, estavam. Ele cruzou os braços quando viu todos desarrumados. – Esqueceram do Show?
Bill deu um pulo do sofá, alterado. Seu cabelo de leãozinho balançou e ele se sentiu tonto.
– Como eu pude esquecer? Tom levanta teu traseiro daí e vai se arrumar logo porque você é demorado. – Bill bateu palmas e Tom o obedeceu.
– Vou fazer o mesmo – Georg se levantou da poltrona e caminhou para o elevador.
Foram todos para seus quartos, faltavam apenas quarenta minutos para o show começar, e eles deviam estar lá em vinte, para não ocorrer atrasos.
Georg tentou abrir a porta do seu quarto, mas estava trancada. Ele estranhou, pois o combinado era deixá-la aberta para que tanto Julia quanto Georg, pudessem entrar, e ele não tinha o cartão. Estava com ela, evidentemente, dentro do quarto.
Ele bateu algumas vezes, mas não obteve resposta. Encostou o rosto na porta e chamou seu nome, mas ainda assim, não obteve resposta. Bateu um pouco mais forte, mas só ficou com a mão um pouco machucada.
– Julia! Julia, abra a porta! Eu preciso me arrumar. – Ele gritou seu nome: - JULIA!
Sem obter respostas, começou a ficar desesperado. A porta do quarto ao lado se abriu revelando Chelsea e Bill, já arrumado.
– O que há? – Perguntaram juntos.
– Julia está aí dentro, mas não abre a porta.
Chelsea tentou a mesma coisa. Nada. Bill batia na porta sem medir forças, isso despertou a atenção de Tom, Gustav e David. Todos chamavam o nome da garota dentro do quarto, mas ninguém respondia. O corredor parecia tumultuado com apenas a presença daquelas seis pessoas gritando e batendo na porta do quarto de Julia.
Gustav começou a chorar silenciosamente. Imaginou se sua prima tivesse se matado com a fronha do travesseiro ou qualquer coisa do tipo. Bill estava prestes a chorar também. Chel estava nervosa e Tom extremamente irritado, mas por incerteza. Georg também não estava bem. Ele estava preocupado e desesperado, pois já estavam todos atrasados por causa dele – conseqüentemente por causa de Julia. Jost não estava nada calmo. Passava por sua cabeça a idéia de deixar as duas meninas em qualquer ponto de ônibus de volta para Magdeburgo.

A música que começava a tocar em meu mp3 era muito lenta e eu acordei assustada com um barulho estrondoso do lado de fora. Ouvi muitas batidas na porta e gritos por meu nome. Eu pulei da cama e abri a porta com uma cena horrível.
Gustav e Chel estavam de joelhos aos pés da porta em lágrimas. Bill estava prestes a chorar, assim como Georg. David não expressava emoção, mas Tom estava a ponto de explodir, o que não durou nem um segundo.
– O QUE PENSA QUE ESTAVA FAZENDO? – Ele gritou e eu dei um passo para trás com um pouco de medo.
– E-eu estava...
– NÃO IMPORTA O QUE FAZIA OU DEIXAVA DE FAZER! IMPORTA QUE ESTEJAM TODOS ATRASADOS PARA O SHOW POR CULPA SUA!
Eu não pude impedir que lágrimas caíssem diante daquilo.
– Você é uma irresponsável sem limites que não está ajudando em nada! – Ele apontou o dedo não muito perto de mim.
– Calma, Tom! – Georg gritou de volta, visivelmente com raiva do amigo – Pega leve com a menina.
Tom se virou de repente e voltou ao quarto assustando todos, e eu continuei chorando. Georg me abraçou e sua camisa ficou manchada com poucas lágrimas, mas ele não pareceu ligar. Entrou no quarto correndo mexendo em sua mala.
Chel segurou minha mão. Eu notei que todos estavam arrumados, menos Georg e eu. Eu não estava ajudando em nada, pelo contrário, eu estava atrapalhando. Senti-me um lixo. Bill se virou de volta para seu quarto e Gustav passou a mão no meu cabelo.
– Não se preocupe, minha Jus – Ele disse suavemente – Tom explode de vez em quando. Ele está errado.
– Não está não.
– Está sim, porque quem deve brigar ou deixar de brigar contigo sou eu, não ele.
Eu quis contestar Gustav novamente, mas preferi me calar. Ele saiu do quarto e eu fechei a porta, me sentei na cama e observei Georg se arrumar.
– Não vai se arrumar também? – Ele tentou sorrir, mas era visível que estava chateado e com muita pressa.
– Não. – eu disse.
– Por quê?
– Sinceramente, não mereço nada mais agora, Ge. Nem sei se vou agüentar olhar para a cara dos outros depois disso. Imagina como David deve estar pensando de mim.
– David é um cara mais legal do que você pode ver, Jus – Georg disse. Ele já tinha terminado de se arrumar, agora perdia tempo de propósito – Ele não vai pensar mal de você. Ninguém vai. Vamos esquecer isso. Se você não for, teremos um motivo para lembrar.
Eu fiz uma careta depressiva.
– Eu vou ficar por aqui mesmo. – Georg beijou o topo da minha cabeça, mas antes de sair eu o chamei: - Faz só um favor para mim?
– O que?
– Autoriza meu piercing em alguma agenda como se fosse meu pai? – Eu fiz uma carinha doce que eu nunca tive.
Georg sorriu de lado, pegou uma folha na mesa de cabeceira e fez sua assinatura, falsificando seu nome para Klaus Wolfgang Schäfer. Piscou e saiu fechando a porta.
Eu esperei alguns minutos para ter certeza de que eles já tivessem saído. Mas que boba, para que iriam perder tempo? Eu cansei de esperar. Calcei um tênis seguro e vesti um casaco por cima. Saí correndo para o elevador e do elevador para o andar de cima. Eu estava prestes a fazer uma mudança no meu visual.
(...)
– Se houver algum tipo de infecção, volte aqui ou vá a algum médico – Eu acenei positivamente, sorrindo – Não se esqueça da limpeza semanal na jóia. Se começar a incomodar, use gelo.
Novamente, concordei com medo de falar. O homem riu e se despediu.
Eu corri de volta para o quarto olhando para o relógio. Georg chegaria em mais ou menos vinte minutos então eu tinha tempo de jantar e voltar ao quarto sem que todos chegassem. Fui ao refeitório e jantei em pouco tempo, voltando ao quarto logo em seguida.
Sentei-me na cama contando os segundos no relógio. A porta se abriu revelando um Georg muito suado com os cabelos presos em um rabo. Ele me encarou de olhos arregalados.
– Mein. Gott. – Ele pronunciou lentamente que chegou a parecer problemático – Gustav vai me dilacerar vivo.
Eu ri para descontrair e ele me acompanhou.
– O que você fez? – Ele falou mais alto.
– Mudei de visual, Ge. Eu fiquei muito tempo aprisionada naquela garotinha Julia.
– E agora você é quem? Uma gótica? Emo ou coisa do tipo?
– Agora sou só Jus. – Me levantei e beijei seu rosto – Obrigada pela autorização. O homem caiu direitinho.
– Agora eu sou Georg Schäfer.
Eu saí do quarto, mas não antes de Georg me perguntar aonde eu ia.
– Dar uma volta, ver se encontro Chelsea.
Caminhei pelo corredor e fui até a porta do quarto que ela dividia com Bill. Eu hesitei antes de bater.

Tom segurou a mão da mulher ao seu lado que ele mal sabia o nome, devia ser alguma coisa com A. Ally, Alice, Amanda, Anna... Ele tentou se lembrar enquanto direcionava seus passos de volta ao quarto de hotel. Passou pelo quarto do seu irmão e viu uma pequena menina na porta. Não pode ver seu rosto, mas a menina era linda. Cabelos pretos e levemente repicados usando uma franja que quase tapava seus olhos. A garota estava usando preto e tinha as unhas pintadas de preto. Se a menina ainda estivesse na porta daquele quarto quando ele terminasse a noite com a garota que deve começar com A, ele convidaria a pequena menina para entrar também.
Por um momento, imaginou se aquela fosse Julia, mas não podia ser. Julia tinha cabelos grandes e retos, não usava franja e nunca viu a garota com uma sequer unha pitada. Ignorou a garota na porta de Bill e entrou no quarto com a Agnes, Aisla, Aline, Anabel ou quem quer que ela fosse. Isso não importava muito quando seu objetivo era esquecer os lábios que ele tanto queria beijar.

Eu já tinha tomado coragem para bater na porta de Bill quando vi de relance a imagem de Tom com uma menina ao seu lado. Os dois caminhavam em um só ritmo e eu passei despercebida, invisível. Como antes.
Os dois entraram no quarto e eu praguejei em outras línguas. Danem-se os dois. Espero que Tom nunca mais olhe para a minha cara.
Uma voz irritante na minha mente retrucou Se você tivesse ido ao show, poderia evitar que isso acontecesse.
Eu desisti de bater na porta e voltei ao quarto, onde Georg já estava deitado na cama. Vesti meu pijama e me deitei ao seu lado.
– Se importa?
– Só se você não me deixar abraçá-la. – Ele disse.
Eu sorri e Georg me puxou para um abraço confortável. Fechei os olhos respirando o perfume que me segurava à impressão de um irmão mais velho ou um pai ao meu lado.
As coisas estão bem sim. Mas poderiam estar melhores. Foi meu último pensamente antes de perder os sentidos e adormecer.

Postado por: Grasiele

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