segunda-feira, 16 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 17 - Conte-me todas as suas mentiras

Posso te mostrar do que meus sonhos são feitos, já que eu estou sonhando com o seu rosto – Sleeping With Sirens

Naquela manhã eu acordei sentindo um pouco de calor e assim que pude recuperar todos os sentidos, senti que braços quentes me envolviam e eu podia sentir minha respiração abafada. Tentei me mover, mas eu estava presa, então abri os olhos vendo o corpo de Tom várias vezes maior que o meu, encostado á mim.
No mesmo instante, me senti bem e respirei fundo seu perfume aproveitando o calor que seus braços me permitiam sentir. Ele tinha a cabeça acima da minha, fazendo com que meu rosto ficasse rente ao seu pescoço.
Ao mesmo tempo em que me senti bem, senti que meu corpo se grudava a roupa que eu vestia e me apavorei ao meu dar conta de que: eu estava dormindo no quarto de Tom sem me lembrar de como fui dormir na noite passada e com o mesmo vestido preto que usei!
Movi-me bruscamente e Tom acordou, o que eu achei que não seria possível. Ele se espreguiçou e se afastou um pouco para me olhar direito.
– Guten tag! – Ele disse com a voz mais rouca do que o normal.
– Ja... Guten tag – Eu respondi hesitante e ele notou.
– O que foi? Por que esse rosto?
– Kaulitz... Como eu vim parar aqui?
Ele riu abafado, mas eu não vi graça.
– Você dormiu no carro – Ele disse como se fosse apenas isso e eu fiz uma cara de “E...?” então ele continuou – Eu te trouxe no colo e Georg permitiu que você dormisse aqui, e agradeça ele por tirar suas peças “extras” de roupas, porque eu não tive coragem de encostar em você com o intuito de tirar sua roupa, nem que fosse apenas um salto.
Dessa vez quem riu fui eu da forma de preocupação exagerada que o Kaulitz encenou.
– Vou tomar um banho – eu disse começando a me levantar da cama, mas assim que eu me sentei, fui puxada de volta batendo a minha cabeça na testa de Tom.
Nós rimos enquanto fazíamos barulhos de dor. Olhei em seus olhos assim que ele ficou quieto e ele sorriu, fechando os olhos e aproximando o rosto do meu não tão devagar. Eu até iria beijá-lo, mas tampei a boca e ele notou o movimento abrindo os olhos novamente.
– O que há?
– Preciso escovar os dentes – Ele riu, mas logo em seguida fez um biquinho – Tudo bem...
Tom se inclinou novamente com um sorriso lindo no rosto e selou seus lábios no meu por alguns segundos até eu empurrar levemente ele para longe. Levantei-me e fui em direção ao banheiro me sentindo estranha a cada passo.
Não hesitei em tirar a roupa e tomei um banho gelado, lavando também o cabelo. As gotas de água gelada que batiam no meu corpo me traziam uma leve sensação de conforto e se eu não estivesse tão alerta, poderia desmaiar e dormir ali mesmo até morrer congelada. Saí do boxe enrolada na toalha branca limpa e notei que tinha me esquecido da mala, ou pior, eu nem sabia onde ela estava!
Abri um pouco a porta e coloquei a cabeça para fora, Tom ainda estava deitado na cama.
– Kaulitz, sabe onde está minha mala, se Georg a trouxe?
– Nos pés da cama – ele respondeu – Ele trouxe ontem á noite.
– Pode pegar para mim? – Eu perguntei como se fosse óbvio, e de fato era ou ele esperava que eu saísse do banheiro de toalha?
– Nein – ele respondeu com um sorriso gigante.
Eu bufei sem paciência para discutir com o garoto e saí do banheiro escorrendo água e traçando um trajeto até a cama pelo carpete do quarto. Puxei minha mala de volta ao banheiro, mas fui surpreendida antes de chegar até lá.
O Kaulitz tirou minha mão que segurava a mala e com essa, me fez girar até ficar de frente para ele. Usou uma das mãos para tirar o cabelo molhado do meu pescoço e me segurou pela nuca para me beijar, e eu ainda não tinha escovado os dentes! Ele encostou seu corpo ao meu e eu senti que a toalha fosse cair, mas seu corpo a prendia. Eu vi o olhar do mais velho pousar sobre minha toalha branca e não queria saber o que ele estava pensando agora.
Com a mão livre, levou até a borda da toalha e me fez caminhar de costas enquanto me beijava até a parede, onde pressionou seu corpo contra o meu e eu gemi de dor entre o beijo sob a pressão que me machucava. Tom parou de me beijar no mesmo instante e se afastou uns dois metros ficando de costas para mim. Ele se apoiou no frigobar.
– Desculpa, desculpa – ele repetia baixinho e eu me perguntei se ele falava comigo ou se estava rezando, mas aí me lembrei que ele não acredita em religião – Desculpa se te machuquei.
Eu perdi a fala, porque nunca havia visto Tom pedir desculpas por imprensar alguém contra a parede. Eu também nunca tinha o visto fazer isso com alguém e não seria nada agradável.
– Tudo bem – eu disse desconecta.
Tom voltou a mim sem expressar emoção, mas depois tentou sorrir. Nada convincente. Eu coloquei a mão em seu ombro e fiquei na ponta dos pés para alcançar seus lábios e lhe dei um selinho.
– Minha vez de tomar banho – ele disse e logo em seguida entrou no banheiro fechando a porta.
Eu peguei minha mala e busquei alguma peça de roupa não tão simples – agora que minha mala habitava roupas no estilo Kaulitz mais novo, o Bill – para tomar o café da manhã e quem sabe passear por Leipzig, qualquer coisa menos ficar enfurnada dentro desse hotel já que iríamos ficar na cidade por mais um dia.
Buscando a roupa, encontrei meu celular e me lembrei que tinha me esquecido de mandar o sms para Henry. Peguei o celular e escrevi em uma mensagem de texto o endereço do hotel com mais a frase: “Vamos almoçar em algum lugar novo que não seja aqui, quem sabe Chelsea vem também – sim, ela está aqui comigo. Até mais, xoxo”
Coloquei um jeans claro, uma camiseta branca com finas listras escuras, casaco jeans da mesma com que a calça e um tênis all star, coisa que a última vez que eu usei foi no meu ensino fundamental. Ajeitei a pulseira de metal que eu sempre usava e penteei o cabelo, deixando-o solto por pouco tempo até desistir de sentir calor e fazer um coque frouxo sem precisar de elástico.
Tom saiu do banheiro já vestido, e depois que eu escovei os dentes, saímos do quarto para tomar café da manhã. O corredor estava vazio e enquanto eu andava distraída, me surpreendi quando ele pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu estranhei de início, mas aí notei que ele não demonstrou nada de errado e tentei relaxar, caminhando de mãos dadas com Tom Kaulitz.
Eu me perguntei se algum dia, antes de pensar em vir para a Alemanha, eu me peguei imaginando um momento assim, mas nunca passou pela minha cabeça que Tom pudesse ser tão... Tão assim, tão Bill. Não é que não combinasse, mas não era dele. Lembrei-me das palavras de Chelsea no dia anterior Você conheceu o Tom Kaulitz, guitarrista da banda Tokio Hotel. Você precisa aprender a conhecer o Tom Kaulitz de verdade. O que não tem motivos para marketing e que sente como qualquer humano.”
Eu sorri e Tom viu, abrindo um grande sorriso também.
– Por que está sorrindo? – Ele me perguntou.
– Não sei direito, e porque você está sorrindo? – Eu perguntei de volta.
– Não sei direito. – Ele repetiu com mais um dos seus sorrisos fofos.
Resolvemos descer pela escada porque o elevador estava demorando. Eu me encostava ao corrimão enquanto Tom me puxava de brincadeira fingindo que iria me deixar cair. Ele me puxou pela mão que ainda segurava e eu senti o tênis escorregar e deixei escapar um gritinho, mas ele me puxou e me abraçou rindo.
– Eu quase caí! Você é um chato – Eu disse encostada ao seu peito.
– E você é uma bobona que não confia em mim – ele retrucou me apertando – Eu não te machucaria.
Ele desceu os degraus enquanto me segurava e ás vezes me colocava no colo para descer mais rápido, mas desistia e me colocava no chão. Já estávamos chegando ao térreo depois de alguns minutos de palhaçada. Já nos últimos degraus, eu tentei puxá-lo, mas não consegui movê-lo nem um centímetro, no máximo balançou a cabeça. Ele riu e ao invés de me puxar de volta, levantou o braço que segurava a minha mão e me fez rodar até parar com a mão em seu peito.
Ele inclinou a cabeça e encaixou seus lábios nos meus, iniciando um beijo lento que eu fechei os olhos sem me mover para apenas aproveitar o jeito que ele mexia na minha boca.
Eu ouvi um pigarreio forçado e logo em seguida, uma voz grossa disse:
– Guten tag, garotos!
Eu empurrei Tom com a mão que estava em seu peito, mas tinha me esquecido que ainda estava em uma escada. Grande Julia, agora você quebra a cabeça, eu pensei com quase toda a certeza e fechei os olhos esperando a queda.
Mas não veio. Eu senti braços fortes passarem por baixo dos meus e minha cabeça bateu em alguém. Abri os olhos e vi o rosto mais velho de David Jost sorrindo. Ele me colocou no mesmo degrau que Tom de volta, quando o Kaulitz passou a mão pela minha cintura.
– Podem continuar o que estavam fazendo, eu só quis ser gentil! – David gargalhou e eu ri, muito vermelha.
David passou por nós rindo e subiu as escadas. Assim que ele sumiu de vista, o Kaulitz mais velho deixou escapar uma gargalhada alta e eu sorri.
– Será que ele vai contar para alguém? – Eu perguntei.
– Talvez sim, ou talvez não – Tom deu de ombros – Ele é o David Jost, a gente o suborna e tudo fica bem.
– Ah, claro – eu arranquei um fio de cabelo meu – Vende-se fio de cabelo de Julia Schäfer, a prima do Gustav por um milhão de euros! Já estou até vendo na internet.
Tom me apertou mais enquanto ria da minha piada super sem graça. Chegamos à recepção ainda de mãos dadas e enquanto eu passava pelo balcão senti flashes na minha direção e levei minha outra mão ao rosto automaticamente.
– Que lindo! – Ouvi uma voz conhecida e abri os olhos quando os flashes pararam – Se eu fosse um fotógrafo da Bild de plantão Julia já estaria nos jornais.
Chelsea segurava uma maquina fotográfica bem pequena nas mãos se segurando para não rir. Eu me soltei de Tom e fui até ela, arranquei a máquina de suas mãos.
– Sua maluca! Já pensou se alguém pega isso?
– Bom dia para você também, amizade – Ela riu – Bill achou a máquina na mala dele e disse que pertencia a Tom. Eu iria até entregá-la vazia, mas essas fotos ficaram lindas.
Eu passei as fotos e vi em todas elas como uma seqüência. A primeira, eu e Tom descendo as escadas de mãos dadas, a segunda tinha Jost na frente de Tom, mas dava para me ver de costas, a terceira, Tom me apertava em um abraço, e depois tinhas as fotos com flashes que eu levei a mão ao rosto, mas essa não era a parte importante da foto. Estavam todas incríveis, capturadas de uma forma perfeita e com um tom de cores que se combinavam.
– Lindas, não? – Chel sorriu.
– Sim.
– Acho que vou ser fotógrafa – Eu dei um passo para longe dela e ela riu – Não uma paparazzi! Vou ser fotógrafa de modelos, de entrevistas e essas coisas que dão mais dinheiro do que fotos tremidas que todo mundo duvida se é verdade ou mentira.
– Boa sorte então – Tom, que se aproximava, pegou a maquina para olhar as fotos e logo disse:
– Já que a máquina é minha, deixa que eu fico com isso – Tom colocou a máquina no bolso gigante da sua calça – Vamos tomar o café?
– Não sem mim! – Ouvi Bill gritar com sua voz afinada e eu ri acompanhada por Chelsea.
Bill tentava colocar uma touca por cima do cabelo preto liso sem a armação de leãozinho. Ele chegou com um casaco na mão que logo entregou para Chelsea e a segurou pela cintura, virando-a para ele. Ele beijou Chel bem na frente minha e de Tom. Mas o mais estranho foi a forma que ele o fez. A forma que a segurou e tocou delicadamente nela. Parecia Tom.
Nossa, se eu estivesse com minhas amigas que são apaixonadas pelo Bill aqui, rolaria um barraco.
– Sossega o fogo, Bill – Tom disse segurando-se para não rir – Olha só quem eu achei, Gus e Georg.
Tom acenou para o elevador e os Gs vinham caminhando lentamente de lá, Gustav falava ao telefone e eu não parei para prestar atenção e nem queria. Abracei Georg e depois Gustav – que desligou o telefone em seguida, e fomos todos para a sala que costumava ser servida o café da manhã.
Um garçom apareceu logo que Bill passou pela porta e disse já ter reservado uma mesa para todos eles, a pedido de David, que também deixou um bilhete dizendo que todos deveriam comer frutas, porque senão a mãe de cada um iria bater nele.
– Quem quer ver Jost apanhar? – Georg fez uma simples piada que nos fez rir, mas no final, ninguém desobedeceu, fomos todos em fila para o muro de frutas.
Eu peguei alguns morangos e coloquei uma maçã ao lado. Eles serviam caldas também, e eu coloquei chocolate por cima. Bill olhou nojento para meu prato, devido á sua alergia á maçãs e por não gostar de chocolate.
Bill pegou duas bananas, colocou o prato na mesa e disse:
– Olha o que eu sei fazer! – Ele fez malabarismo com as bananas e eu ri sem saber como reagir a uma coisa idiota daquelas – Viu, Tom? Sou melhor que você.
Tom, o maior impulsivo que eu já conheci, se jogou em Bill tentando pegar as bananas, mas o mais novo era mais alto e os dois ficaram brigando por conta de duas bananas.
– Bill! Dê as bananas para o pingüim e pega outras – Chel disse.
– Mas a graça é implicar com ele – Bill respondeu rindo.
– Kaulitz – Eu chamei Tom, mas os dois se viraram para mim e eu mostrei um morango para o mais velho.
Eu tinha em mente o que estava fazendo. Sabendo muito bem que o meu Kaulitz é um tarado do caramba, eu mordi metade do morango rente ao piercing e ele arqueou uma sobrancelha, mexendo em seu piercing com a língua. Ele soltou Bill e veio até a mim, segurou a mão que eu segurava o morango e se aproximou da minha boca molhada com o suco de morango.
– Quer me provocar, Schäfer? – Ele riu com a voz rouca e eu sorri.
– JULIA! – Eu vi Bill reclamar devolvendo as bananas sem mais utilidades para a travessa, e ouvi risadas dos outros garotos.
Eu fiz Tom me soltar sorrindo e terminei de comer o morango, levando meu prato de café da manhã para a mesa onde Chel já estava sentada. Sentei-me na ponta ao lado dela.
Vi Tom e Bill – empurrando um ao outro – terminarem de preparar seus pratos no mesmo momento. Os dois se viraram e viram a cadeira vazia na frente de Chel, mas ao meu lado. Eu sabia agora que os gêmeos dividiam o mesmo pensamento – de correr e se sentar na cadeira vaga.
Os Kaulitz vieram correndo em direção a cadeira, e assim que chegaram, eles se empurravam tentando se sentarem na cadeira. Há essa hora, todos na mesa riam, e os que não estavam na mesa, assistiam de longe no refeitório a briga dos gêmeos idênticos, mas nada parecidos.
– Cinco no Bill – Eu ouvi Gustav falando para o castanho ao seu lado.
– Dez no Tom – Georg riu colocando a mão no bolso.
E logo depois, Bill conseguiu empurrar Tom para longe e se sentou na cadeira, ganhando a pequena disputa. Gustav gargalhou para Georg que agora lhe passava dez euros.
Então eu usei minha arma secreta. Chamei o Kaulitz mais novo e mordi minha maçã com chocolate. Ele fez uma cara de nojo e trocou de lugar, permitindo que Tom se sentasse ao meu lado. Gustav fez um biquinho tendo que devolver o dinheiro com mais cinco euros para Georg, e eu deixei que o sorriso se alastrasse pelo meu rosto, defendendo o meu lado favorito da banda – que Gustav nunca saiba que meu G favorito é o Listing.

Depois de muitas gargalhadas na mesa que estava muito mais animada naquele dia com a mudança de humor de Tom – que antes estava um rabugento mal-humorado que quase não falava com ninguém. Todos notaram, é claro. Mas não precisaram perguntar o motivo.
– Alguém está muito animado hoje – Georg comentou.
– Aposto que sou eu – Disse Tom sorrindo.
– Com uma noite daquelas, duvido que não fique!
A mesa tremeu com as risadas, mas eu não tinha entendido muito bem a piada. Georg fez o favor de explicá-la.
– Aí a baixinha foi carregada como princesa até o quarto, e como o sapo não sabe fazer nada, o príncipe aqui precisou arrumar a menina para dormir, com todo o respeito, Gustav – Disse o castanho.
Então eu entendi a piada e me segurei para não rir enquanto fazia uma careta para Georg.
– Baixinha? Que... Georg! Até você? Garotos, eu nem sou tão pequena – Eu disse corada.
– Ela está certa – Gustav disse – Eu tenho fãs do tamanho dela.
– Viu? Meu primo concorda.
– Aquelas fãs de treze anos, lembra Bill?
E mais risos enchiam o humor da mesa.

Ficamos na sala de jogos conversando e às vezes disputando algumas partidas de jogos eletrônicos. David tinha nos procurado para avisar que o dia seria livre e que na manhã do dia seguinte, partiríamos para Bremen, alguma cidade que eu nunca ouvi falar, mas tudo bem.
Meu celular vibrou no meu bolso e eu o peguei, tinha acabado de receber uma mensagem de texto.
“Estou chegando em cinco minutos. A Chel está arrumada? Ela costumava ser a mais atrasada da turma kkk, beijos, H. Hörn”
Eu sorri e cutuquei Chel no braço.
– Ai! O que foi?
– Vamos sair? – Ela sorriu.
– Pra onde?
– Sei lá, olha isso aqui – eu mostrei as mensagens para Chelsea e ela levou a mão à boca – Vamos?
– Julia! É o Henry!
– E daí? Ele só quer voltar a ser meu amigo, e provavelmente, seu também.
Chelsea bufou, mas por mais que tentasse parecer brava, ela não conseguia. Sorriu e aceitou com um aceno de cabeça.
– Mas não se esqueça que você não pode...
– Já sei, Chel. Naquela época eu era uma desocupada, agora eu sei de quem eu realmente gosto.
– Acho bom.
Avisamos de forma rápida que iríamos passear pela cidade e mais tarde voltaríamos ao hotel.
– Eu também vou sair – Disse Gustav – Vou me encontrar com Agnes.
– Quem? – A banda e nós duas fizemos coro.
– Agnes Campbell, a garota da carta – Gustav explicou – Chamei-a para sair.
Eu bati palmas, mas sem delongas, me retirei da sala com Chel ao meu lado e desci as escadas até a recepção. Estava meio vazia, mas eu vi um menino muito alto, cabelos escuros e alargadores pequenos atravessando a recepção.
– Boa tarde, aqui está hospedada Julia Benjamin? – Eu ouvi-o dizer, e soltei um pequeno gritinho,
– HENRY! – Eu corri e o abracei.
Qualquer um que não saiba da nossa história acharia aquele abraço totalmente estranha, mas é que antes, Henry era meu melhor amigo. Tínhamos certa intimidade e era sempre assim. Eu não o via desde que saí do Brasil, mas ele não tinha mudado tanto, era só saudade mesmo. O garoto de olhos cinzas me fitou com um sorriso bobo no rosto.
– Como vai minha Ju? – Ele beijou meu rosto – O que é isso? Um piercing?
– Sim, o que achou?
– Lindo, como sempre e como tudo que você usa. – Seu olhar me atravessou e ele viu Chel, quem não via há anos desde que terminaram o namoro.
Não foi porque tinha acabado o amor, mas porque Chel iria voltar a viver na Alemanha e um namoro a distância não era boa coisa para nenhum dos dois. Eu só não esperava que eles reagissem de forma tão tensa.
– Qual é? Não vão se abraçar? – Eu empurrei Henry para cima de Chelsea e ela riu, quebrando o clima. Os dois se abraçaram, se cumprimentando.
– E agora? Vamos sair? – Henry perguntou tentando fazer cócegas em mim – Eu escolhi um parque em Leipzig que tem várias coisas para se fazer.
– Tudo bem, mas precisamos voltar para o jantar porque Bill disse algo sobre querer fazer um jantar com todos juntos. – Disse Chel.
– Bill? – Henry perguntou – Quem é Bill?
Eu olhei para trás, o hotel já começava a se distanciar.
– No parque eu te conto – eu sorri.
– Você é uma chata! – Henry apertou minhas bochechas – Nossa, quanto tempo eu não fazia isso.
– Hen, a curiosidade matou o gato – Rimos.
– O gato tinha sete vidas – Ele retrucou – Ele ainda tem mais seis e ele gastaria todas elas se fossem por você.
Eu fiquei vermelha e os dois notaram.
– Tinha até me esquecido de como é fazer você ficar vermelha – O garoto de olhos cinzas beijou minha bochecha vermelha e me pegou no colo – Agora me conta quem é Bill.
Eu respirei fundo e o fiz me colocar no chão.
– Lembra daquela banda que eu sempre fui meio fanática? – Eu perguntei sem esperar por respostas – Então, sabe que Gustav é baterista dela? Eu vim para cá e acabei ficando na casa deles...
– Eles também moram em hotel?
– Não, não! Acontece que entraram em turnê e me trouxeram junto com Chelsea. Bill é o vocalista que se apaixonou por ela.
– E Tom... – Chel começou, mas eu tapei sua boca antes que terminasse.
– E Tom o que? – Henry perguntou.
– É o irmão gêmeo do Bill – Eu respondi.
– Só isso? Qual nome deles mesmo?
– Tokio Hotel, é, só isso – Eu fuzilei Chelsea com o olhar e ela segurou o riso.
– Espera, aqueles meninos que você costumava gostar? O motivo de te chamarem de Creepy Bones? – Ele perguntou rindo.
– Nossa! Até você se lembra disso – Eu fiz uma careta e ele me puxou para um abraço de lado – Ai, me larga seu chato! – Nós rimos.
– Você realizou seu sonho? Foi em algum show deles? – Ele perguntou em aleatório, não parecia estar tão interessado na resposta.
– É, fui.
– E o rapper falso que você gostava? O conheceu?
– Ele é o Tom e ele não é nada falso, Hen – Eu disse com vontade de dizer que na verdade, Tom é bem real.
Chegamos ao parque e conversa vai, conversa vem. Falávamos demais, mas não dizíamos nada. Henry conversava normalmente, mas hesitante de alguma forma que não sabia como explicar. Como se ele temesse falar algo e sempre que os olhares de Chel e Henry se encontravam, ele era o primeiro a desviar. Eu estranhei. Até àquela hora.
– E aí, Ju... Namorando alguém?
Então eu saquei tudo, ou pelo menos parte de tudo. Henry só queria chegar aquele ponto, eu ri trocando olhares com Chelsea.
– Não, não – Eu praticamente menti. Quero dizer, não era nada sério com Tom e talvez nem tivesse futuro. Na verdade eu nem tinha parado para pensar nisso, e nem queria. Balancei a cabeça afastando o pensamento.
– Então que ótimo, porque eu também estou livre – eu estranhei, não queria nada com Henry, não mais – E você, Chel?
– Na verdade, estou sim, namorando, sabe Julia – Chel me encarou séria devido a minha resposta anterior – Com o Bill.
– Wow – Henry exclamou – Que sorte! E como é namorar uma estrela do rock?
– Nada demais, ele é só o Bill – Chelsea disse de forma carinhosa, mas incomodada com a conversa com o ex-namorado.
– Eu pensei até que você estaria envolvida com o irmão dele – Henry riu dizendo isso para mim e eu tentei rir, mas pareceu muito falso.
Chelsea parecia olhar através de mim, e eu me virei para procurar o que ela estava olhando – bem no fundo do parque, vimos uma multidão de garotas, a maioria gritando histericamente, correndo e formando um círculo desorganizado em volta de alguma coisa. Eu passei a mão na testa, já sabia o que era.
– Ah, não! – Eu falei baixo.
Chelsea se levantou na mesma hora e eu puxei seu braço.
– Chel, deve estar cheio de fotógrafos! – Eu alertei – Não vai.
– Mas e se elas o machucarem? Os seguranças não devem estar aqui – Chelsea disse um pouco manhosa.
– Devem estar sim, calma aí.
– Do que vocês estão falando? – Henry perguntou e eu apontei para a multidão que se formava bem longe no final do parque – São eles? – Eu afirmei e Henry bufou parecendo irritado.
– Julia, eu já volto – Chelsea disse, caminhando rapidamente em direção á multidão – Acho que vi uma amiga por ali...
– Aham, sei – eu bufei.
Logo que Chelsea desapareceu de vista eu me senti vulnerável perto de Henry. Não era uma coisa comum de se sentir, afinal, ele costumava ser meu melhor amigo! Como eu podia estar me sentindo tão sozinha perto dele? Logo soube da resposta.
– Jus... – Henry começou – Você deve estar se perguntando por que raios eu te liguei do nada querendo falar com você.
– Sim – eu ri –, eu estou.
– Acontece que, desde que a Chel veio para cá, quando nos deixou no Brasil... – Ele levou a mão aos fios de cabelo preto incrivelmente lindos e eu devo ter me perdido em seus olhos cinzas – Não sei como dizer isso. Vou direito ao ponto: Jus, ainda estou apaixonado por você.
Eu me surpreendi. Um pouco.
– Henry...
– Não, sério agora, Julia – Ele levou uma das mãos para minha cintura e eu tentei afastá-lo, mas ele resistiu como se eu não tivesse feito nada – A gente já tinha alguma coisa antes da Chelsea, eu sei disso.
– Sim, tínhamos, Henry!
– E agora ela não me altera mais! – Ele disse mais alto enquanto se aproximava – Eu posso ficar com você.
Eu senti aquela frase como uma ofensa! Senti-me um lixo, como a segunda opção, o que eu realmente era perto da beleza inacreditável da Chelsea, mas não ligava muito.
Mas eu não pude me mover demais. Henry estava tão próximo que eu sentia sua respiração quente, me alterava e era como se me prendesse ali. Eu não tinha forças para sair, eu queria estar ali. Eu o vi fechar os olhos e ouvi um grito muito agudo vindo de trás, provavelmente de alguma fã.
Fã. Uma fã do Tokio Hotel. Uma fã do Tom Kaulitz. E esse era o motivo pelo qual eu não queria beijar Henry. Porque eu amava demais o Kaulitz estúpido que não acreditava em amor. Dane-se ele, eu o amo.
Eu empurrei Henry com a mão em seu peito e ele abriu os olhos assustado. Levantei-me do banco que estávamos sentados e olhei para os lados. Vi o Kaulitz mais velho parado um pouco longe da multidão balançando uma chave de carro, e atrás dele, algumas garotas corriam tentando alcançá-lo, mas ele ainda estava longe demais delas.
Tom parecia chocado demais para expressar alguma emoção clara, e logo em seguida, eu o vi correr para longe do parque.
– TOM! – Eu gritei, e corri atrás dele deixando Henry para trás.
Eu não me importava o que o garoto pensava de mim agora, provavelmente que eu deixei de beijá-lo porque vi meu ídolo ali no parque, mas não estava realmente ligando para isso.
Corri mais que minhas pernas agüentavam para conseguir seguir o Kaulitz, que era maior e mais rápido do que eu. Ele virou a esquina e eu ainda ouvia gritos histéricos atrás de mim, foi só me virar para levar um choque. Nossa, quanta garota!
Eu virei a esquina e vi a cabeça do Kaulitz passando por entre os carros até chegar ao carro perto dele, um Cadillac Escalade preto que eu conhecia bem. Corri um pouco mais rápido e o alcancei.
– Kaulitz! – Disse em um tom que os dois podiam ouvir.
– Não quero, ouvir, Schäfer! – Ele disse mais alto do que eu.
– Por favor, presta atenção! – Eu gritei – Ele se chama Henry, tem dezoito anos e estuda na minha escola, lá no Brasil e...
– EU NÃO QUERO SABER QUEM É ELE! EU TE VI O BEIJANDO! – Tom bateu com o punho no carro.
– Não foi nada disso! Eu não o beijei! Eu não permiti!
– Schäfer, conta outra! Você bem que gostaria, não é? – Ele falou rápido e eu precisei de segundos para entender o alemão embolado que ele falava – Primeiro Georg, depois esse Hen-sei-lá e eu sou uma última opção. Como sempre fui para você! Esse é o motivo de você me ignorar tanto, você quer estar com todos!
Eu arregalei os olhos e não me permiti dar um tapa na cara daquele garoto.
– O QUE VOCÊ TEM? Você está maluco? Kaulitz você nunca... Nunca foi segunda opção. ACONTECEU, está bem? Com Georg foi... Confuso e agora Henry tentou me beijar, mas eu não permiti, sabe por quê?
– Eu não quero saber de nada, Schäfer – Disse ele, cheio de ódio nos olhos – Eu já tenho opinião formada sobre você. Agora eu tenho.
– E qual é? – Eu perguntei.
– Você só está testando todos para escolher o melhor, o prêmio final. O próximo é o Bill, não é?
Eu não me controlei e encurtei o nosso espaço, dando-lhe um tapa na cara. Ficou a marca dos meus dedos no mesmo segundo.
– Scheiße, Kaulitz! Cala a boca e me ouve agora – Ele tentou retrucar, mas eu fui mais rápida – Não venha me atrapalhar! Você acha que eu sou uma vadiazinha daquelas que você pega por aí, do tipo que sai beijando quem aparece? Eu NÃO sou, está bem? Uma vez eu gostei do Henry e nunca tive a chance de beijá-lo, mas eu não o beijei hoje e provavelmente nunca mais vou fazer isso, isso não importa nada para mim agora. Eu não quero saber do Henry.
– Você me bateu! – O Kaulitz disse quando eu abri uma brecha para respirar.
– Bati sim, e o que você vai fazer? Espancar-me? – Eu o desafiei, mas ele ficou sem reação – Eu tinha um sonho, e ele nunca iria se realizar, até pouco tempo atrás e eu me dei conta de que as coisas mais improváveis também podem acontecer com a mais improvável pessoa – Eu disse um pouco mais calma – E agora eu não quero mais saber de nada além desse meu sonho.
– Encontrou alguém melhor que Henry? – Tom perguntou, arqueando a sobrancelha e eu afirmei com a cabeça.
Ele abaixou a dele parecendo um pouco triste e eu me perguntei se ele não tinha entendido a indireta bem direta que eu lancei, e foi óbvio que não, ele definitivamente não entendia minhas diretas.
Então Tom levantou a cabeça com aquele olhar estranho. Ele mexeu no piercing com a língua – o que não havia necessidade no momento, mas a qualquer hora ele pode fazer isso para mim que eu deixo. O garoto colocou a mão na minha cintura e me empurrou de leve, que foi o suficiente para que eu fosse encostada no carro batendo as costas.
Tom encostou-se a mim, e parecia não ter mais medo de me machucar, fazendo com que uma de suas pernas se colocasse entre a minha. Ele segurou meu pescoço e fez um belo trabalho no mesmo lugar, como na noite anterior. Mordicava, beijava e alguns leves chupões me fizeram gemer baixinho.
– Encontrou alguém melhor do que eu? – Ele sussurrou rouco próximo ao meu ouvido.
Se eu pudesse aos menos respirar, eu o responderia antes que ele atacasse minha boca com ferocidade e sem sentimento, tornando o beijo muito automático que aos poucos se tornava mais calmo, mais emocionante e mais sentimental, um misto de ciúmes, provocação e felicidade. Muita contradição em uma pessoa só.
Eu puxei seus dreads sem pensar se iria ou não machucá-lo. Tentei fazer com que ele se afastasse de mim, tentei o empurrar e até mesmo chutá-lo, mas sua perna prendia a minha. Eu estava sem fuga em uma prisão perfeita.
Quando o senti morder meu lábio inferior próximo ao piercing, eu parei de tentar fugir e ele percebeu que eu havia cedido, tornando-se mais cuidadoso. A mão que antes estava no meu pescoço, agora acariciava com o dedão minha bochecha, e a mão que antes estava em minha cintura traçava um caminho pela lateral do meu corpo. Ele finalizou o beijo quente com alguns selinhos por cima do piercing e se afastou para poder olhar nos meus olhos, parecia triste.
Sua boca estava vermelha e eu achei aquilo lindo. Sorri, passando a mão em seus dreads loiros. Imaginei como seria me ver de fora e comecei a aturar minha altura por ela ter de obrigar Tom inclinar a cabeça para poder olhar nos meus olhos. O que estávamos fazendo? Eu realmente não sei. Eu via o rosto do meu ex-ídolo na minha frente e me lembrava de cada sentimento que eu sentia quando ouvia algum solo de guitarra e ás vezes seus backings vocais nas músicas. Mas o que ele estava pensando, eu nem imagino.
– Schäfer – ele disse relaxado – Não posso ficar aqui.
Eu ergui uma sobrancelha em dúvida.
– As fãs, lembra?
Ele sorriu de lado, pegou minha mão, abriu a porta do passageiro do seu Cadillac e eu entrei. Esse desejo de ser famoso não é para mim, desde que quando eu era menor, me imaginava nas câmeras ao lado do Tom, e eu definitivamente não combinava com ele. E ainda não combino, deu para ver que nossa relação é uma cama de gatos.
Tom ligou o carro e deu a partida apertando o pé no acelerador. De repente, eu fiquei preocupada com Chelsea e Henry. O que não era comum, porque eu não sou do tipo de pessoa que me preocupo com as outras.
– Kaulitz, e os outros? – Eu perguntei.
– Que outros? Bill e os garotos estão com James. Eles sabem que eu vim de carro.
– E Chelsea e... – Eu desisti de fazer a pergunta.
– Se ele encontrar com Bill, ótimo. Se não, ela é alemã não é? Ela volta sozinha.
Eu fiquei quieta e liguei o “dane-se mundo” para Chel e Henry. Respirei fundo e já estava melhor. Olhei para as ruas que estavam um pouco vazias e estranhei. Tom não parecia prestar atenção em nada enquanto dirigia, mas ao contrário do que parece, ele dirigia muito bem. Deixou apenas uma mão no volante e a outra ele segurou minha mão de forma carinhosa que nada combinava com ele.
Foi só eu pensar nisso que ele moveu a mão até minha coxa, que logo ficou quente por baixo do jeans com a temperatura humana que emanava a mão dele.
– Conheço tudo por aqui – Ele disse e eu me segurei para não rir. – Vamos tomar um sorvete?
– Mas, Kaulitz...
– Pode deixar, é uma sorveteria mais afastada do centro.
Depois de um tempo dirigindo com uma só mão, ele tirou a outra da minha perna distraidamente e voltou a dirigir com as duas. Notei que nos afastávamos do centro quando os prédios começavam a ser substituídos por pequenas casas. O Cadillac parou em frente a uma casa de dois andares amarela com um jardim decorado. Saímos do carro e eu pensei que ele fosse tocar a campainha ou coisa do tipo, mas ele apenas gritou:
– ANDREAS!
E da janela do segundo andar, um rapaz loiro apareceu acenando. Eu já tinha o visto em fotos. O melhor amigo dos Kaulitz, fora Gustav e Georg. Mas quando Andreas tinha se tornado tão esquelético?
A porta da frente e abriu revelando o Kaulitz mais novo, e logo depois, Chelsea, Gustav, uma menina com cabelos curtos e castanhos usando uma franja que eu acho que já a vi em algum lugar, Georg, Andreas e uma menina mais baixa, também esquelética com o rosto muito fino que fazia seu queixo parecer grande, mas fora isso, cabelos castanhos com mexas claras e olhos de um castanho claro. Tinha um sorriso bonito.
Eu devo ter ficado com o queixo lá em baixo, tipo, de onde saiu tanta gente? E que raios Chelsea estava fazendo lá? Onde está Henry?
– Finalmente você apareceu! – Andreas trocou um abraço com Tom e depois ficou me avaliando do alto, muito alto esse Andreas – Essa é a Julia?
Engraçado como os alemães inexperientes falam meu J parecido com um X deixando meu nome como “xulia”.
– Ja, a garota do Brasil – Tom respondeu com um sorriso sacana no rosto. Viu o apelido de novo?
– Prazer, Andreas – Andreas estendeu a mão e eu o cumprimentei respondendo o mesmo.
A menina de cabelos castanhos correu um pouco até se jogar nos braços de Tom. No início eu estranhei e controlei o impulso.
– Hallo Hil! – Tom disse para a menina. Que tipo de nome é “Hil”?
Depois daquele drama de reencontro, os meninos se apressaram e fazer as apresentações. Descobri que a menina de curtos cabelos castanhos se chama Agnes e é a menina que segurou meu tornozelo dois dias atrás e agora está saindo com Gustie – essa última parte eu deduzi. Hil é um apelido para Hilary, irmã de Andreas e muito, muito simpática. Eu e Chel trocamos um papo em português e ela me disse que Henry recebeu uma ligação da mãe e precisou ir para casa, mais tarde mandaria um sms.
Por mais incrível que parece, ficamos todos sentados no meio-fio daquela rua que quase não passava carro, muito menos fotógrafos.
– Qual seu pior acidente? – Andreas perguntou para Tom na brincadeira sem graça que todos estavam participando.
– Hm... Uma vez eu e Bill estávamos esquiando e eu fui subir a montanha do modo errado, veio uma menina e o esqui dela veio no meu supercílio. Eu levei pontos e tenho uma cicatriz – Tom apontou para um pequeno risco acima da sua testa. Eu imaginei a cena do gelo branco sendo tingido pelo vermelho sangue de Tom e estremeci.
– Julia – Georg me tirou do transe mental – Qual sua pior lembrança?
Eu estremeci novamente ao lembrar.
– Não é algo que eu tenha visto, é mais uma voz – Eu expliquei – Estava no telefone com uma amiga e ela me disse que estava fugindo de casa para realizar seus sonhos, e que eu deveria fazer isso também, porque foi a coisa mais incrível que ela já fez. – Eu parei de falar por alguns segundos.
– E...? – Chelsea me incentivou a continuar e eu fitei Gustav, que estava congelado.
– E aí eu ouvi uma buzina muito alta vindo do telefone que estava com muita interferência, e depois uma batida feia de carro, o telefone desligou e eu soube que tinha acontecido algo com ela...
Eu disse automaticamente como se nem fosse uma lembrança tão ruim. Lembrei-me da voz alta da minha amiga gritando do outro lado do telefone e logo depois, o estrondo muito alto.
– E o que aconteceu com ela? – Hilary perguntou interessada.
– Está meio viva e meio morta – Gustav respondeu com o mesmo tom automático, mas de uma forma muito mais assustadora.
– Como um zumbi? -Tom gargalhou.
– Em coma – Gustie respondeu por cima da palhaçada de Tom, que ficou chocado.
O silêncio foi tenso por um tempo, até que alguém teve a cara de pau de quebrar o silêncio e voltar ás perguntas.
– Hil, qual foi sua maior paixão? – Bill perguntou para Hilary.
E as perguntas e respostas seguintes eu não prestei atenção direito enquanto o rosto loiro com mexas rosas e delicado com olhos claros de Jamie Schäfer se transformava em um rosto pálido, sem vida, com cabelos sem cor e os olhos fechados.
Jamie Klaus Wolfgang Schäfer, irmã mais nova de Gustav, minha prima. Minha irmã mais velha, a garota que me fez viver. Quem me ensinou a cantar perfeitamente bem em alemão, quem me fez ouvir todas as músicas do álbum Schrei até me tornar fanática pela banda, quem me deu os melhores conselhos e esperanças. Que era apaixonada por Georg e fazia o máximo para chamar atenção dele, ia a todos os concertos na Alemanha escondida do irmão só para ver o Listing. A garota que fechou os olhos para vida cega de sonhos querendo se tornar modelo na França, e fugiu de casa para realizar o sonho. Fechou os olhos e bateu de frente com um caminhão, perdendo parte das funções realizadas pelo cérebro e hoje está deitada em uma cama de hospital qualquer, respirando por máquinas.
Minha heroína eterna. Que me fez acreditar que eu poderia estar com Tom algum dia.
Por causa dela, a regra número cinco da lista de regras patéticas do Gustav era “Não fuja”. E também fora ela quem me deu a pulseira de metal que quase rasgou a camiseta do Tom no hotel em Berlim.
Eu despertei do transe novamente quando recebi um peteleco no braço, me virei e bati com a cabeça no queixo de Tom, que caiu sentado do meu lado gemendo de dor, nós rimos.
– Que cabeçona, ein! – Ele brincou mexendo no meu cabelo.
– Você que é um tonto de ficar em um lugar não muito estratégico sabendo que eu tenho trauma de sustos.
Tom levou seus dedos até meu queixo e sussurrou:
– Se esqueceu do sorvete? Eu quero de baunilha.
– Então somos dois – Eu respondi, me levantando do meio-fio com Tom.
Ele envolveu seu braço na minha cintura e saímos caminhando na calçada para longe da casa de Andreas. Então eu fui perceber que ninguém mais estava ali. Todos já tinham ido para a sorveteria.
Chegamos na sorveteria e eu me sentei na mesa em que todos os outros estavam sentados já tomando seus sorvetes, Tom chegou na mesa com dois milk-shakes de baunilha, um para mim e outro para ele.
Como eu não sou nada boa em fazer nada, mesmo com um canudo eu conseguia sujar todo o meu rosto tomando milk-shake. Às vezes alguém contava uma piada e eu acabava rindo enquanto engolia. Tom ria na mesma hora sendo acompanhado pelos outros. Chegou uma hora que eu fiquei com raivinha e atirei o copo quase vazio na cabeça dele, que se desviou por pouco.
O celular de Bill tocou, era David Jost. Ele estava chamando todos para voltar ao hotel simplesmente por nenhum motivo. Na verdade ele respondeu “Porque eu sou a babá de vocês, e quero que voltem agora”.
Na frente da casa de Andreas novamente, todos se despediram do loiro esquelético e de Hilary.
– Foi bom te conhecer – Ela disse para mim com dois beijinhos na bochecha.
– Sim, igualmente – eu respondi desconecta.
Bill, Chel, Tom, Georg e eu fomos no Cadillac do Tom, enquanto Gustav e Agnes foram com James. Ele iria deixá-la em casa e eu nem quero saber o que mais.
Chegamos ao hotel e eu estava me sentindo exausta. Voltei com Tom para o quarto, ele se deitou na cama dizendo que depois iria tomar banho e eu liguei o notebook para checar e-mails. Sem nenhuma novidade e o Tom parecia dormindo, eu abaixei um pouco a tela do notebook e entrei no banheiro para tomar um banho.
Fiz minha higiene normalmente e coloquei meu pijama, já que estava escurecendo. Prendi o cabelo em um coque e saí do banheiro, vendo Tom segurando meu notebook com uma expressão de raiva no rosto.
Então eu me dei conta quando ele empurrou minha mala, que se abriu revelando a minha camisa do Tokio Hotel favorita jogada por cima das roupas desorganizadas.
Um grito fino escapou da minha garganta e o inferno tinha acabado de começar para mim.

Conte-me todas as mentiras, me faça acreditar nelas, não consigo mais respirar, e este silêncio me deixa surdo – Hilf Mir Fliegen.

Postado por: Grasiele

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