terça-feira, 20 de novembro de 2012

Angels Don't Cry - Capítulo 18 - Mostre o mundo ao seu protegido


Bill e eu nos sentamos em um dos bancos, perto da janela onde poderíamos ver toda Paris. Eu ainda não conseguia conter as lágrimas que caíam, meus olhos brilhavam cada vez que via algo no lugar que me lembrava minha casa, onde tinha minhas miniaturas. Eu sentia falta de minha mãe, de meu pai e do pequeno Joe. Sentia falta de Luleå, o lugar onde eu nasci, nunca gostei muito, por isso acabei fugindo para Estocolmo. Mas agora, eu realmente sentia vontade de voltar.

– Fique com o lenço – Bill disse estendendo para mim – Acho que você ainda vai chorar muito. Isso é bom, demonstra que tem emoções.

– Eu queria estar viva – eu disse sem conseguir segurar as palavras – Queria poder voltar para minha casa e ver minha família, queria contar tudo que está acontecendo para a Mischa. Queria acordar na minha cama em Estocolmo e descobrir que tudo isso é um sonho.

– Um sonho bom ou ruim?

– Os dois. É uma mistura dos meus sonhos mais queridos com uma realidade que machuca – eu disse amargamente – Mas tenho que agradecer por ser um anjo, não é mesmo? E não um espírito vivendo essa dor de não poder mais viver.

– Mas é o que você sente, não é mesmo?

– Sim, mas não tem mais volta – eu disse suspirando – Mas está tudo bem. Acho que tudo pode melhorar. Talvez eu não esteja fazendo tudo errado como eu pensava, pelo menos, eu espero.

– Você está – Bill disse pegando minhas mãos e segurando entre as suas – Eu que estou complicando as coisas, fazendo você ficar confusa. Hedvig, você estava certa quando disse que não daríamos certo e sei que falou isso mesmo quando pensava ao contrário. Vou encontrar a pessoa certa para mim e em troca salvarei sua alma, é tudo que eu mais quero.

Mais lágrimas desceram pelo meu rosto, eu sabia que o amava tanto, mas não podia levar isso para frente. Bill foi a pessoa que de repente mudou todo meu ponto de vista. Ele virou meu melhor amigo, um namorado, um amante e a pessoa mais importante que apareceu nesse pouco tempo. Quando eu olhava para ele, por um momento, eu podia jurar que tudo realmente iria ficar bem.

– Obrigada – eu disse, fazendo minha voz sair embargada – Eu... eu... não sei o que dizer! Só queria pedir desculpas, por ter te machucado daquela forma, ter ditos palavras frias.

– Você disse a verdade, mesmo que machuque, você foi clara. Eu devia ter compreendido isso no primeiro momento. Confio em você, Hedvig, mesmo te conhecendo por pouco tempo. Acho que te conhecer foi o melhor que me aconteceu há muito tempo.

Ele falava tudo aquilo sério, mas eu sentia cada emoção nas palavras dele. Tinha vontade de abraçá-lo e de dizer as mesmas palavras, mas me contentei em ficar quieta, apenas pensando. Não fazia ideia de como seria depois que eu fosse para o Céu, não sabia se lá era tão bom quanto as pessoas falavam – ou imaginavam –, mas se era para lá que todos vão, talvez eu devesse ir também.

Ficamos meia hora no barco, apenas apreciando a paisagem e rindo com as pessoas desesperadas em tirar fotos ou das brigas entre as crianças para ocupar o espaço da janela. Decidimos sair no meio da viagem para ver a Torre Eiffel, que cada vez mais se aproximava de nós. Com seus 318 metros imponentes 10.100 toneladas, ela fazia qualquer pessoa do mundo suspirar ou querer conhecê-la. Lembro muito bem da minha miniatura dela no quarto, não passava de dez centímetros, mas tinha um lugar de destaque no meio de tantas outras miniaturas.

– Ela foi construída por Gustave Eiffel para a Exposição Mundial de 1889 – eu disse me lembrando claramente do que eu havia lido na revista que viera junto com a miniatura – Você tem que conhecê-la, ela é incrível! Vamos subir no topo!

– No topo? – Bill exclamou olhando abismado para o topo, que parecia extremamente distante de onde estávamos – Quanto mesmo você disse que mede a torre?

– Não tenha medo – eu disse pegando a mão dele e sorrindo – Vamos subir o mais rápido possível! Da para ver Paris inteira lá de cima!

Corremos até a torre e ficamos bem embaixo dela, nos sentíamos como formigas prestes a ser pisada por um pé gigante. Na verdade, mais parecíamos crianças descobrindo um mundo novo e diferente do que estávamos acostumados a ver. Decidimos ir pelo elevador, apesar da fila, era melhor do que subir todos aqueles lances de escadas.

Quando finalmente conseguimos uma vaga no elevador – depois de Bill dar um pouco de gorjeta a um dos caras que cuidavam da fila, conseguimos passar na frente – começamos a nos sentir ansiosos. Principalmente, quanto mais subia e sentíamos que cada vez mais estávamos longe do chão. Depois de muito esperar de vermos que seríamos um dos únicos que se atreveram a ir até o topo, nós chegamos.

Saímos do elevador e nos deparamos com algo incrível, Paris escurecendo de um lado e do outro havia os últimos vestígios de um Sol sendo engolido pelo horizonte. Havia dezenas de pessoas ali em cima, com câmeras fotográficas tentando tirar foto da cidade e de tudo que eram capazes.

– Isso é incrível! – Bill disse se aproximando da grade e olhando para a cidade inteira que parecia ser feita de caixinhas de fósforos – A vista... o pôr-do-sol... como nunca pude vir aqui antes?

– É lindo, não é? Nós somos tão insignificantes perto dessas maravilhas! – eu disse me sentindo feliz, mesmo de estar sentindo um frio enorme – Você não veio aqui antes por que simplesmente achava que não valia a pena, por que estava preso em si mesmo o tempo todo, apenas levando a vida. E quer saber de uma coisa, o mundo é nosso, Bill!

Agarrei-me as grades e subi um pouco, então como uma louca varrida eu gritei que o mundo era nosso para toda Paris ouvir. Queria que ela chegasse até os céus e que todos os anjos que estivessem lá, ouvissem o que eu estava dizendo. Não importava se eu estava morta, se eu estava aqui, eu iria aproveitar esses poucos segundos que eu tinha.

– Não precisava gritar para todos ouvirem – Bill disse rindo e me ajudando a descer enquanto várias pessoas olhavam para mim.

Mas quando fui descer, tropecei e tive que me agarrar em Bill para não ir com tudo no chão. Ele passou os braços em volta de mim para me segurar e nossos rostos ficaram tão próximos que nossos lábios se encontraram por segundos. Pensei em me afastar, mas antes que pudesse fazer algo, eu o estava beijando. Senti uma felicidade enorme invadir o meu peito e de repente eu não sentia mais frio, só queria ele mais perto de mim como sempre quis.

Ele foi me soltando aos poucos até meus pés tocarem o chão, então envolvi meus braços em seu pescoço para que nosso beijo não se rompesse. Não éramos ninguém naquela noite, éramos apenas duas pessoas há mais de trezentos metros do chão, se beijando enquanto de um lado o Sol dizia adeus e Paris toda ficava iluminada.

A Torre Eiffel começou a acender suas luzes, mas meus olhos estavam fechados nesse momento para apreciar uma noite parisiense. Só percebia o quanto através das minhas pálpebras tudo adquiria um brilho diferente, talvez não fosse só as luzes, fosse algo de mim que se acendia. Talvez isso se chamasse amor. Talvez todas minhas tentativas de não se apaixonar estavam sendo em vão, mas eu ainda sentia que tinha que lutar contra isso. Mas depois. Depois eu realmente tento, mas agora não.

Nosso beijo se desfez e Bill sorriu para mim, senti que era um sorriso culpado, como se tentasse dizer: “Desculpe, mas não resisti”. Então lhe mandei outro sorriso dizendo: “Eu também”. O abracei com força, enterrando meu rosto em seu peito, ouvindo o coração dele bater. Ele estava vivo. Será que ele era capaz de ouvir o meu também? Ou meus batimentos cardíacos seriam falsos e sem vida?

Isso não importava. Não importava se eu estava morta, se eu não deveria estar fazendo esse tipo de coisa. Acho que nunca vivi tanto na minha morte quanto vivi na minha vida, talvez eu estivesse tão focada em passar na faculdade de Estocolmo, em ser uma pessoa popular, em ter vários amigos e ser convidada para várias festas que acabei me esquecendo de viver. Não me importo mais de ter morrido. Acho que as memórias mais bonitas que vou guardar, são de agora.

Postado por: Grasiele

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