sábado, 29 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 26 - Início de 2009


Sim, foi exatamente isso que aconteceu. Dean passou o Natal e Ano Novo, ao meu lado e de Bill, que por incrível que pareça começou a tratá-lo como se fosse realmente um grande amigo, depois de Tom e Andreas, para falar a verdade, eu quase fiquei com ciúmes, pois ele deu mais atenção a Dean que a mim.


Junto com Tom, ficavam horas a fio, os três, conversando sobre a gravação do novo cd.


Dean parecia que tinha outra visão em relação a Bill, o seu comportamento comigo, não mudou, sempre muito carinhoso e atencioso, o que me deixou intrigada foi à maneira como seus olhos me olhavam depois da cena da suíte.

Algo dentro deles havia desaparecido.


– O que houve naquela suíte? – Eu perguntei assim que ficamos sozinhos, na sala de estar da casa de Simone – Vocês dois estão me assustando agindo dessa forma.
Dean me olhou, mas nada respondeu, apenas sorriu.
–Dean? – eu o chamei – O que houve?
–Relaxa, Kate! – ele apenas disse, curvando seus lábios num sorriso tenso. - Não aconteceu nada demais – Dean deu de ombros – Apenas percebi algumas coisas.
O vi chacoalhar seu copo, balançando as pedras de gelo que havia dentro dele.
–Percebeu o que? – eu perguntei curiosa – Do que você esta falando?
Ele fixou os olhos em seu copo, eu respirei alto e me sentei ao seu lado no sofá tirando o copo de sua mão e colocando em cima da mesa de centro.
–Fale! – eu ordenei a ele, séria.
Dean me olhou também e vendo que não teria saída, eu não o deixaria em paz, começou a falar:
– Eu amo você Kate, não apenas como um simples amigo. – ele confessou sem rodeios – Acho que você já sabe disso. – ele disse vendo minha expressão de surpresa.
Eu segurei minha respiração pela confissão inesperada, na verdade eu já sabia dos sentimentos dele por mim, mas nunca imaginei que ele fosse se declarar dessa forma, tão explícita e direta.
–Bill também sabe disso. – ele continuou – só que preso dentro daquela suíte com ele percebi que eu não tenho muitas chances com você, não por enquanto.
–Ele te disse isso? – Eu perguntei franzindo minha testa
–Não! – Dean respondeu – ele não abriu a boca, na verdade nem precisou. – ele curvou seus lábios tentando achar graça - Você o ama e alimentar algo nesse momento além de uma amizade, será tolice minha.
O silêncio caiu sobre nós. Eu mordi meu lábio inferior e baixei meus olhos para o copo que estava em cima da mesa, segurei minhas mãos e depois de algum tempo virei-me e o encarei, abri os lábios para falar, mas o fechei imediatamente.
–Desculpe se peguei você de surpresa.
–Eu...
–Você não precisa dizer nada. – Dean me interrompeu - Isso é cruel, mas verdadeiro e eu não gostaria de atrapalhar o relacionamento de vocês.

O sorriso que ele me deu foi o mais lindo, eu poderia me apaixonar fácil por ele, se não fosse por Bill e tenho certeza que ele me faria feliz. Desviei meu olhar, pensativa e inevitavelmente a pergunta veio dentro de minha mente.


“ Será que mais do que sou com Bill?”





......





– Quem quer uma xícara com café? – eu perguntei abrindo a porta da grande sala de estúdio, onde Tom e Dean estavam mexendo na mesa de mixagem, Gustav estava sentado na bateria apenas com as baquetas nas mãos, brincando com elas, não as tocava. Georg e Bill conversavam dentro da sala de voz. E como era acústico, não me ouviram.

Desde a primeira vez que Bill colocou os pés no estúdio reformado, no fim de Janeiro de 2009, que aquele espaço era seu... lar!

O estúdio havia passado por uma grande reforma e ainda cheirava a tinta fresca, a casa era ampla, não enorme, mas muito bem decorada e muito aconchegante para recolher os garotos e sua equipe para a gravação do tão esperado cd.


–E você sabe fazer café? – Gustav perguntou sorrindo.


–Aproveita, por que é a única coisa decente que faço na cozinha. - eu devolvi a brincadeira.

–Pensei que quem fizesse o café fosse a cafeteira, e sozinha? – Tom não perdeu a oportunidade.

–Vão querer ou não? – eu perguntei olhando para Tom e Gustav colocando minhas mãos na cintura.



Depois de um uníssono de positivo. Peguei a cafeteira que estava na cozinha e a trouxe para dentro da sala de instrumento, coloquei o pó de café e a água nos lugares indicados e a deixei trabalhar, sozinha.


–Não sei vocês, mas estou morrendo de fome! – Gustav disse pegando uma pequena xícara e seguindo em direção da cafeteira.

–Gustav não acabamos de almoçar? - Tom perguntou ao baterista.

–Bill me obrigou a comer aqueles vegetais sem sabor, aquilo nem chegou perto de matar a minha fome.

–Tem uma lata com bolachas. – eu disse a Gustav - Natalie a deixou ontem, vou buscá-la para você.

Sai da sala e segui para a cozinha, abri a porta do grande armário e me agachei para pegar a lata decorada de bolachas açucaradas mini-contensas , quando a peguei e estava saindo da cozinha, meu celular tocou, deixando a lata na mesa, o atendi.

–Alô!

Esta viva? – a voz debochada perguntou do outro lado da linha.

–Oi, Tia!

Minha sobrinha desnaturada.

–Tia, não fale assim!

Tenho razão por isso falo com tanta convicção.

–Olha, sairei do estúdio mais cedo hoje, passarei na sua casa e levarei a torta alemã que adora, daquela sua Delicatessen preferida.

–Se pensa que isso pode me comprar.

Eu sorri e minha tia sorriu do outro lado da linha.

Tudo bem, por hora você me ganhou. – Minha tia disse – te espero para o jantar, não esqueça as minhas tortas.

Desliguei o meu celular, peguei a lata de bolachas que estava em cima da mesa, levando-a para a sala de instrumentos para Gustav.

–Trouxe as bolachas! - eu avisei assim que abri porta e entrei.

Todos na sala se viraram e me olharam, em silêncio, inclusive David que havia acabado de chegar com um rapaz, na verdade, um homem dos seus vinte cinco ou vinte sete anos, era alto, moreno, de pele clara e de olhos verdes cristalinos.

– Desculpe, David não vi que estava aqui. – eu me desculpei

O homem olhou para David e depois olhou para mim abrindo um enorme sorriso.

–Oi, Kate! – David me cumprimentou – Tudo bem!

– Oi! – o homem disse sem esperar que David nos apresentasse.

–Boa tarde - eu respondi.

Ele deu dois passos em minha direção e estendeu à mão, eu estendi a minha. Cumprimentando-o.

–Você é? – ele questionou.

–Kate!

–Sim, mas o que faz aqui no meio desse monte de homens?

–Sou... Eu sou...

–Essa é nossa nova assistente. – David deu um passo à frente e explicou - Achei melhor manter uma ajuda extra aqui dentro do estúdio.

–Pensei que optariam por homens – O homem disse olhando para David e sorrindo - Talvez para não tirar a atenção dos rapazes.

–Chega de homens, fora a Natalie precisamos de alguém para alegrar nossos dias enquanto estivermos enclausurados nesse estúdio. – David sorriu, fazendo-o sorrir também.

–Então, muito prazer Kate, meu nome é John, sou da Cherrytree Records!


Ele disse e se virou-se para David, e continuaram a conversar, sem se importar com a minha presença, entreguei a lata de bolacha que ainda estava em minhas mãos para Gustav e sai da sala de instrumento, fechando a porta com cuidado.

Fui para cozinha, puxei uma cadeira, peguei algumas revistas e comecei a folhear.



Depois de um tempo, ouvi um barulho vindo da sala de estar, depois ouvi vozes, logo depois o barulho da porta da frente bater, as vozes ficaram mais nítidas, era David e Bill.

–Gostei dele! – Bill disse entrando na cozinha puxando a cadeira e sentando ao meu lado.

– Martin não poderá estar sempre na Alemanha, então mandou John. – David disse para Bill.

–Na verdade prefiro John a Martin. – Bill respondeu – Nada contra Martin, mas John entendeu melhor as minhas idéias para esse cd.

–Tomara que Martin mande mais vezes John no lugar dele.


David balançou a cabeça, pegou uma xícara de café e saiu da cozinha nos deixando sozinhos.


– Tom vai ficar um pouco mais aqui para fazer alguns arranjos com David. – Bill disse pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando no dedo. – Estou cansado, poderíamos ir pro seu apartamento. – Ele colocou a mecha atrás da minha orelha – Preciso muito falar com você.

–Minha tia quer jantar comigo. – eu disse jogando um balde de água fria nele. – Essa conversa pode ser outro dia?

–Esse jantar não pode ser outro dia? – Bill perguntou.

–Eu não a vejo desde o Canadá.

–Eu também e não estou nem um pouco com saudade. – ele disse num tom cínico.

O comentário dele me fez sorrir e balançar a cabeça. Bill tinha um gênio, de tirar qualquer um do sério.

– Não fale assim. – eu disse o advertindo

– Você vem para o estúdio amanhã?

–Não sei! – eu disse me levantando com a xícara de café na mão.

–Não sabe?

–Bill, você entenderia se eu falasse que não posso ficar trancada aqui dentro desse estúdio enquanto você grava esse cd?

–Vai começar com esse papo? – Bill revirou os olhos.

–Eu nunca terminei com ele! – Eu disse olhando-o – eu quero trabalhar e ter uma vida.

–Por quê? – Bill perguntou, levantando.
–Por que eu acho que eu tenho que ter uma vida!
–Você tem uma vida, não fale bobagens! – Bill falou.
– Bill há exatamente um ano eu não tenho uma vida! –Eu disse a ele, calma – Quero fazer algo útil.
–Você faz! – ele retrucou, levantando da cadeira e vindo em minha direção.
–É, o que? - Eu perguntei, vendo que ele vinha em minha direção, eu segui na direção contrária a dele, tentando me afastar de seus braços. - Viver a vida de alguém, não acho que seja algo muito útil.
–Não é de alguém... - Bill disse parando de me seguir, estancando na cozinha e cruzando os braços – É a minha vida!
–Indiferente de quem seja Bill! – eu também parei de andar e respondi – Eu quero trabalhar, ter uma minha vida fora disso! - eu movi meus braços indicando aquela casa, o estúdio. - eu tenho um cérebro que deseja ser usado.
– Mas você nunca trabalhou, não tem experiência em nada.
–Não, não tenho! – eu dei de ombros – Vou começar do zero, não me importo.
–Kate essa vida, ao meu lado, esta te cansando? – ele disse a ela.
–Não comece com o drama Bill – eu disse apelando para todo o meu autocontrole - Eu só quero fazer algo de útil, nada mais. – eu disse mantendo-me ainda calma. – Ficar nessa cozinha lendo GQ, Vogue ou Marie Claire não vai me levar a lugar nenhum.
– Pensei que gostasse de ler. – Bill tentou ser engraçado, em hora errada.
–Meu Deus, você acaba com a paciência de qualquer santo! – eu disse, presa a um resto de paciência.
Bill descruzou os braços e percebeu que daquela vez eu estava decidida, e não seria com beijos, carinhos e afagos que ele ia reverter a minha opinião.
– Não estou fazendo drama, apenas se você trabalhar não nos veremos com tanta frequência.
–Estou ciente disso. – eu falei para ele. – Mas, mesmo assim mantenho minha opinião.
– E se eu falar com David e ele fizer valer o que disse dentro da sala de estúdio?
–Sobre o que?
– Ser a assistente dele. – ele explicou - Afinal precisamos mesmo de alguém, Gustav ia trazer um amigo de Franciska, mas não vejo mal algum em ser você.

–Não sei.

–Vou falar com David e propor a ele. Podíamos fazer uma experiência. – Bill ainda mantinha o semblante fechado. – seria uma grande experiência para você trabalhar com ele.

– Eu agradeceria se fizesse isso por mim. – eu falei pegando minha bolsa em cima da cadeira - Agora eu preciso mesmo ir. – eu disse dando a volta na mesa e me aproximando de Bill - E desfaz esse bico que ele não vai ajudar em nada, eu vou apenas trabalhar e não te deixar.

Eu enlacei meus braços em seu pescoço, colei meu corpo no dele, coloquei-me nas pontas dos pés e o beijei nos lábios, por alguns momentos ele não se moveu, quando aprofundei o beijo, colocando meus dedos em seu pescoço o massageando devagar, ele suspirou derrotado.

Seus braços me abraçaram pela cintura e me apertaram trazendo-me para perto de seu corpo, sua língua se envolveu na minha, e o beijo foi acontecendo, da forma que tinha que ser.


Delicioso, cheio de mãos e gemidos. Encostados na pia da pequena cozinha do estúdio.


–Bill... Pare... Tenho que ir!

–Não. – ele prendeu os dentes no lóbulo da minha orelha, lambendo-o.

–Tenho.

–Kate. – Bill me chamou baixo, numa voz quase irresistível.


–Não. – eu disse decidida, tirando suas mãos de dentro da minha blusa e me afastando. – Eu preciso mesmo ir – eu disse me arrumando – Minha tia esta me esperando.


Peguei minha bolsa e sem olhar para trás deixei a cozinha, encontrei Georg e Gustav sentados no sofá da sala assistindo televisão.


–Vai embora, Kate? - Gustav perguntou – Georg e eu estamos indo para casa.

–Quem vai dirigir? – Bill perguntou colocando a mão no meu ombro, arqueando as sobrancelhas de maneira cínica.

–Eu vou! – Georg informou, também sabendo onde Bill queria chegar.
–Então você pode ir. – Bill disse quase sem conseguir segurar o riso.

–O que esta insinuando Bill? – Gustav perguntou, sério.

–Não estou insinuando, estou afirmando se fosse com você, Kate não sobe num carro com você na direção nem que precisasse disso pra respirar.

Gustav não respondeu nada, até por que todos cairam na gargalhada, ele mesmo tinha noção do “bom” motorista que era sua carteira estava para ser suspensa, por tantos números de multas.


No caminho até a casa da minha tia, eles falaram sem parar das sensações de ler, ouvir e ver as primeiras letras, arranjos e dos primeiros acordes das novas músicas que aos poucos iam se formando. Era impossível ouvi-los falar de como imaginariam a nova turnê, em novos países e não sentir o medo, a dúvida e a empolgação em seus rostos ainda tão jovens e com uma responsabilidade imensa pela frente.






...



Depois de quinze minutos, me despedi de Georg, descendo em frente à doceria, abri a porta de vidro e entrei seguindo até o balcão e pedi duas tortas alemãs para viagem, como sempre fazia, pedi um café com chantilly e fui me sentar num canto isolado para esperar o atendente me entregar às tortas.


–Posso te pedir um favor? – A voz me fez erguer o olhar.

Era o homem, o da Cherrytree Records, o mesmo que estava com David no estúdio da banda.

–Oi...John! – eu disse tentando lembrar o seu nome, sem graça – Pode pedir o favor.

–O que devo pedir, fui até o balcão, mas tem inúmeros doces. – ele sorriu – Gostaria que me ajudasse a escolher.

– Gosta de chocolate?

– Muito.

Eu sorri para ele.

–Bem vindo ao clube dos chocólatras assumidos. - eu brinquei - Peça o mais simples, bolo de chocolate misto. – eu indiquei - é maravilhoso e tem chocolate preto belga na cobertura e branco no recheio.

– Bela dica – John foi até o balcão e pediu a minha sugestão. – Posso? - ele apontou a cadeira, já com o pequeno prato de bolo na mão.

–Claro!


–Estou adorando esse país. – ele disse levando uma garfada de bolo aos lábios.

–Eu também adoro.

–Seu inglês é perfeito. – John observou – Sempre morou na Alemanha?

–Sim. – Eu respondi – É que minha mãe era americana.

–Você trabalha muito tempo para David?

– Não!

–Você mora aqui perto? – John parou e me olhou sorrindo. - Desculpa, sentei aqui, estou te fazendo um monte de perguntas, nem estou deixando você beber o seu café. – ele disse sem jeito - é que estou encantado mesmo pela Alemanha, vim duas vezes, mas não sai do hotel, somente dessa vez consegui aproveitar e andar pelas ruas.

–Sem problema. – Eu sorri – A Alemanha é um país lindo.

–Você mora aqui perto? – John perguntou – Vi que o atendente te chamou pelo nome.

–Minha tia mora duas ruas daqui. – eu respondi levando a xícara de café aos lábios – Ela esta brava comigo então vou tentar persuadi-la com duas tortas alemãs.

– Tenho certeza que vai conseguir.

O atendente se aproximou e me entregou a sacola com as tortas já embrulhadas.


– Espero que tenha gostado do bolo. – eu levantei da cadeira.

–Venho para a Alemanha para comer chocolate Belga. – ele disse se levantando para se despedir. – Mas, a sua sugestão agradou. – John piscou sorrindo para mim - Nos veremos no estúdio?

– Talvez.

– Obrigado pela companhia e tomara que consiga persuadir a sua tia.

– Obrigada. Até.


Eu me despedi, abri a porta de vidro e andei até a ponta da calçada olhando para o farol, que estava fechado para os pedestres, então olhei para frente e esperei ser liberado para atravessar, depois de vinte segundos, foi liberado. Quando dei o primeiro passo para atravessar, tudo foi rápido demais, o grito com a o barulho do carro acelerando.


Meu corpo foi puxado pela cintura e tudo passou na minha mente como um tufão.


–Você esta bem? – ele perguntou

–Acho que sim. – eu disse olhando para o meu corpo para ver se estava inteiro.

–Acho que o carro perdeu o controle. – Uma voz disse ao meu lado.

–Sim. – Eu respondi pegando minha sacola do chão. Olhando para ver se havia sobrado algo inteiro.

–Não. – John soltou minha cintura. - eu tive a impressão que ele veio em sua direção, como alvo certo. –

– o que você quer dizer? - Eu perguntei ainda zonza e sentindo a garganta fechada como se alguém apertasse meu pescoço. – Que o carro queria me atropelar de propósito?

Postado por: Grasiele

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