sábado, 29 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 38 - Dove.


Poderia ter passado o dia seguinte dormindo, se não fosse à campainha do meu apartamento tocando incansavelmente. Levantei da cama tropeçando, assustada corri até a porta e olhei no olho mágico.

–Não pode ser! – meu coração apertou, sem demora, eu abri a porta, achando que aquilo era uma materialização de uma alucinação. – O...o que faz aqui?

Sem esperar um convite, a alucinação entrou no meu apartamento e ela mesma se encarregou de fechar a porta atrás de si.

Deixando-nos a sós...


–O que está fazendo aqui? — eu perguntei com voz transtornada.
– Estava dormindo? – ele me perguntou, ignorando minha pergunta.
– Sim. - eu disse ainda sem acreditar que ele estava ali, na minha frente. Passei a mão nos meus cabelos despenteados. – Vai me dizer o que esta fazendo aqui, ou vou pedir que se retire. – eu o ameacei com a voz firme.
–Soube do seu acidente, David me contou. – ele estava calmo.
– Estou viva, é só isso? – minha voz saiu baixa, olhando-o, estava de calça jeans preta e uma camiseta vermelha, com os cabelos com dreads soltos. Estava lindo. – Se for, tchau!
–Trouxe nosso café da manhã. – ele levantou a cesta que estava em sua mão.
–Nosso? – eu respondi, arqueando uma sobrancelha, sem desviar meus olhos dos dele.
– Não quer se arrumar antes de sentarmos?
Eu não me movi, ele se moveu até a mesa e colocou a cesta sobre ela, notando que eu ainda continuava parada, no mesmo lugar, ele sorriu e falou:

– Esta esperando ajuda para se trocar? - ele sorriu.


“Filho de uma... ele sabia como sorrir”

– Eu já volto. – eu disse séria, sem querer demonstrar que estava trêmula e nervosa com sua presença e com seu sorriso docemente diabólico.


Segui até o banheiro, tomei um banho rápido, coloquei uma blusa básica branca, com um shorts jeans confortável, penteei meu cabelo num rabo de cavalo, muito simples, passei um gloss e me olhei no espelho.
Por que ele estava em sua casa? Eu queria que ele me deixasse em paz, me deixasse seguir minha vida e que sumisse da sua vista uma vez por todas.
Sim, ela falaria isso para ele quando chegasse à sala. Colocaria para fora da sua casa, da sua vida. Para sempre.

Quando entrei na sala, a música instrumental tocava no ambiente, em volume baixo, a mesa estava posta e muito bem arrumada com vários tipos de pães, patês, frutas, um bolo de chocolate, um bule e uma pequena jarra, com suco de laranja. No centro, um vaso pequeno e estreito, com uma rosa amarela e laranja, como as que ele sempre me entregava nos hotéis quando ainda namorávamos.
Meus olhos saíram da mesa e correu para ele, que estava sentado, quando me viu, levantou-se e sorriu, de novo, daquela forma, fazendo meus ossos trincar e um frio percorrer meu corpo, por mais que eu tentasse conter esse tremor, ele insistia em me parecer idiota e fraca.

“Um ponto para você, Bill! Eu pediria para ele sair da minha vida e me deixar em paz... Sim, eu pediria, mas depois!”



–Desculpe a minha aparência, ontem não foi um dia fácil para mim. – eu expliquei, com um sorriso fraco.
Ele caminhou até onde eu estava, segurou minhas mãos, levou até os lábios e as beijou, quando sua boca quente tocou minha pele, meus pêlos da nuca criaram vida própria.
–Você é linda, sempre! - Bill acariciou minhas mãos, que estavam frias. - Fiquei preocupado quando David me contou, tentei ligar ontem à noite, mas ninguém atendia, então achei melhor vir pessoalmente e ver se precisava de ajuda.
–Obrigada pela preocupação. – eu disse, puxando minhas mãos, mas ele não me liberou, entrelaçou seus dedos nos meus e me guiou até a mesa, puxando a cadeira, para eu me acomodar, depois deu a volta e se sentou, sorrindo.

“Ele pelo menos podia fechar essa boca e parar de sorrir, droga!”

– O café esta do jeito que você gosta. – Bill pegou o pequeno bule e colocou um pouco do líquido fervendo, em minha xícara, o aroma logo invadiu minhas narinas, trazendo-me lembranças de bons momentos que tomávamos café juntos depois que fazíamos amor.
– Eu também sempre me lembro. – ele me encarou, como se estivesse lendo meus pensamentos.
Eu segurei a xícara e levei a boca, sorvendo um gole do líquido.
– Estou falando que todas as vezes que tomo café, lembro que depois que fazíamos amor, eu fazia para você, forte e muito doce.
– Nunca mais tomei café, acho que enjoei. – eu disse colocando a xícara de volta a mesa, sem olhá-lo. – Acho que na verdade me cansei de muitas coisas, evito-as no meu dia-a-dia.
– E você acha que dessa forma esquecerá tudo o que vivemos? – Bill encostou-se à cadeira e cruzou os braços, me encarando.

Completo silêncio.

–Bill, olha se já terminou, agradeço pelo café, mesmo, só que eu...
–Eu quero me desculpar. – ele me cortou, ajeitando o corpo na cadeira, jogando-o para frente, pegando minha mão que estava em cima da mesa.
–De novo? – eu zombei, depois até estranhei minha atitude, cínica. – Não acha que isso já não vale mais nada?

Minhas palavras acertaram Bill em cheio, pela dor em seus olhos e seu semblante triste, uma ponta de arrependimento tocou meu peito, mas o que tinha dito, tinha sido dito e não tinha mais volta. E na verdade, um pouco de sinceridade não o mataria.

–Sei que da última vez eu fui longe demais. – ele se curvou mais sobre a mesa, apertou minha mão e depois a soltou, abaixando, mexendo na cesta que havia trazido, pegou uma caixa vermelha e colocou sobre a mesa, empurrando em minha direção. – Tome!

– O que é isso? – Eu perguntei olhando a caixa, antes de pega-la.

Bill permaneceu quieto, apenas me olhando.

Peguei a caixa, a olhei e com cuidado, puxei um pedaço do papel embrulho, quando rasguei um pouco mais e vi o que era, eu parei, o olhei e me levantei da mesa.

– Eu disse para não fazer isso. – eu esbravejei.
– Mas, fiz! – ele continuou sentando.
–Eu já comprei outro.
–Reembolsarei, então.
–Isso não muda nada.
–Eu sei!
– Se sabe o que esta fazendo aqui, por que trouxe o celular, por que trouxe esse café... Por que esta aqui? Oh Deus, Por quê?
–Já disse eu quero me...
–Até você saber que Dean dormiu aqui, até outra crise sua de ciúmes. – eu disse a ele, com a voz elevada – Até começar a gritar comigo e começar a dizer um monte de absurdos. – minha paciência estava por um micro fio. - Eu já decorei toda a cena, é sempre a mesma coisa, eu não vou cair nessa sua desculpa, com voz doce e olhar sedutor.

Na última palavra eu já estava gritando, virando-me para parede, abaixei a cabeça, respirei fundo, toquei meu pescoço com a mão, massageando-o, meu corpo doía, eu estava tensa e já estava descontrolada. Só Bill tinha esse dom, ele era o único que me deixava tão fora de mim, tanto no bom sentido, quanto no mau.

–Vai embora, Bill! – eu disse, baixando o tom de voz. – e leve esse celular com você.
– Eu destrui o seu, devo isso a você.
–Não me deve nada. – eu continuava de costas para ele, contando até mil para não enfiar o celular em um lugar impróprio.
–Venha, sente-se termine o seu café. – ele disse, em um tom meloso.
Virei-me, andei até a mesa, abri o embrulho da caixa, tirei o celular e estendi minha mão em sua direção, ofereci o aparelho a ele.
–Tome. – eu o desafiei - Eu já disse, Dean dormiu todos os dias aqui em meu apartamento. – eu aproximei o aparelho dele. – Tenha uma crise e jogue na parede.
–Não vim aqui para falar de Dean. – ele me olhou - Sei que ele dormiu aqui, no quarto ao lado do seu.
–No quarto ao lado? – eu sorri sarcástica. – Tem certeza?
–Sim, eu tenho. – ele fingiu segurança em sua voz, levantou, pegou o celular na minha mão e colocando-o na mesa, com cuidado. – por que quer que eu pense que fez sexo com ele?

Eu corei, piscando várias vezes, desviando meu olhar, desconcertada.

– Você fez sexo com ele? - ele perguntou tocando meu queixo com o polegar, obrigando-me a levantar o rosto. – Você fez? – Ele repetiu a pergunta, dando um passo unindo seu corpo no meu.
–Não! – eu ergui meus olhos, encontrando os seus muito próximos e perigosos. - Não posso deixar Dean me tocar, como você me toca. – eu engoli em seco - Mas não fiz por você, seria muito injusto com alguém que eu amo tanto. Ele não merece ser usado dessa forma. – Bill traçou meu lábio inferior com seu polegar - Faço isso por ele. Não quero dar esperança, pelo menos por enquanto...
–Eu te amo, Kate! – de repente ele falou, meus olhos arregalaram e quase meu coração pulou nas mãos de Bill.
–N-não fale isso. – eu pedi gaguejando.
–Falo! - As mãos de Bill seguraram meu pescoço, sua testa se uniu com a minha e seu hálito quente acariciou meu rosto, como uma brisa leve. – Te amo e fico feliz em ouvir isso. – murmurou apertando suas mãos em meu pescoço.

“Não, massagem no pescoço, não! “


– Eu não. – eu falei sem olhar em sua direção. – Eu queria dar uma chance a ele. Gostaria de realmente ter dado uma chance a Dean e do fundo do meu coração, queria amá-lo como...
– ... Você me ama. - aquele sorriso cínico brincou em seus lábios.
– Amava. – eu o olhei, desafiando-o – Prefiro conjugar o verbo dessa maneira.
–Sei que não posso te pedir isso mas...
–Então, não peça. – eu o cortei, subi meus olhos encontrando os seus, nos olhamos por algum tempo, em silêncio. Seu olhar parou em meus lábios, e sua boca entreabriu, eu não pude evitar em olhá-la, tão bem desenhada, tão vermelha, tão convidativa e tão quente.
–Não preciso pedir, sei que não daria uma chance a Dean. E é por isso que eu amo tanto você. - Ele segurou o seu olhar no meu, alcançando fundo, profundamente minha alma, derretendo o gelo que a revestia. - Você será sempre minha, como eu serei sempre seu.

A ponta de seu nariz tocou suave no meu, seus olhos se fecharam, sua respiração ficou pesada e sua boca tocou a minha, de leve. Sua mão desceu em minhas costas, me puxou mais perto, aproximando seu corpo do meu, me aprisionando dentro de seus braços.

O beijo foi suave, lento e apaixonante. Seus dedos massagearam minha nuca e ele bebeu meu gemido para dentro de seu corpo, meus braços se enlaçaram em seu pescoço e sua língua entrou inteira dentro da minha boca, capturando a minha, juntas, dançaram unidas.

E seu piercing na língua, era demais para mim.

Eu me rendi, sem limitações, sem nenhuma pressa, sem nenhuma urgência. Sua língua sugava a minha, com calma, como se tivéssemos o dia inteiro, o tempo todo, só para nós dois.

–Kate...

Ele gemeu, quando abandonou meus lábios por alguns segundos, suas mãos deixaram minha nuca, e seguraram em minha cintura, Bill ainda estava controlado, seus movimentos estavam em câmera lenta, como se quisesse eternizar, nosso beijo, nosso abraço, aquele momento.
Seus dentes morderam meus lábios, sua língua contornou minha boca e seus dedos apertaram minha cintura, um frio delicioso percorreu minha espinha, morrendo em minha nuca.

Um gemido rouco foi ouvido. Meu, seu... De ambos.

– Você acha justo o que você está me fazendo? — ele perguntou quase inaudível enquanto beijava o lóbulo da minha orelha.
– Eu... Eu não te tenho feito nada. Exceto evitá-lo — murmurei com a respiração cortada - Não era isso que você queria?
–Você é perfeita. – ele olhou fundo dentro dos meus olhos, ignorando minha pergunta. – Linda demais.
– Não comece, por favor! – meu rosto pegou fogo, deitei em seu peito, escondendo-me de seu olhar dominador.
–Adoro o modo como você fica corada. - senti sua risada soprar em meus cabelos – por mais que lutamos contra, fazemos parte um do outro - seus lábios tocou minha testa – Não tenho olhos para mais ninguém, meu corpo não pertencerá a outra, minha mente não consegue pensar em mais ninguém e meu coração... Meu coração não consegue amar outro alguém, a não ser você.

“Caramba... Não sinto minhas pernas!”


–Somos muito diferentes, Bill! – eu choraminguei, ainda com minha cabeça encostada em seu peito. - Como o sol e a lua.

– E quem disse que existe uma diferença entre o sol e a lua? - ele se afastou e seus olhos fixaram nos meus, tentei desviar meu olhar, seu indicador tocou em meu queixo, me obrigando a permanecer em seu olhar. - Pode ser partes diferentes, mas que permanecem apenas incompletas se tocadas sozinhas. Juntos, sol e a lua se completam.

– Você me completa, Kate - sua voz mudou, ficou profunda e rouca.

Não respondi, não deu tempo, ele lambeu seus lábios, molhando-os, tomando os meus mais uma vez, retirando meu ar, tomando minhas forças, ainda muito devagar, tudo muito lento, como se quisesse dominar minha mente, amolecer o meu coração e enfraquecer minha rendição.

Seu beijo aos poucos foi se tornando duro, completo e delicioso e quando terminou, sua mão entrou em meus cabelos, forçou minha cabeça a deitar em seu peito, onde pude ouvir seu coração descompassado. Bill me abraçou forte. Fechei os olhos, sentindo seu cheiro inconfundível de DOVE, fazendo meus sentidos captar todas as lembranças de nossos momentos, em que me colocava dessa forma, reconfortando-me em seus braços, quando ainda estávamos juntos, um suspiro foi inevitável.
– O que foi? – ele perguntou, sem afrouxar um milésimo do abraço. – O que esta pensando?
– Em nós dois. Estava lembrando...
– Por favor, não diga nada. – ele beijou minha têmpora.
– Posso não dizer nada, mas é impossível evitar as recordações. Elas estão vivas dentro do meu peito. Principalmente, suas acusações injustas.
– Droga, como pude ser tão idiota, tão burro. - Ele parecia arrependido. Será?– Eu te magoei tanto.
– Magoou. – eu balancei minha cabeça em afirmativo - Magoou e muito e não posso esquecer facilmente. – levantei minha cabeça de seu peito e o olhei – Mesmo com seus beijos, abraços e palavras bonitas, não posso esquecer do que passei , jogar tudo para o ar e fingir de tudo o que disse e fez comigo.
Eu me afastei, com dificuldade, andei até a porta e toquei a maçaneta, em um aviso mudo, que eu queria que ele fosse embora.
–Esta certa. – ele disse ainda parado no meio da sala - Eu esperarei o tempo que for.

–Não sei quanto tempo vai levar. – eu respondi, dura. Não, eu não podia simplesmente esquecer todos os dias, minutos e segundos que eu sofri por seu julgamento, não podia e não ia. - Não será tão fácil da próxima vez, Bill.

–Não importa, amor! – ele sorriu, caminhou até a mesa, esticou seu braço e retirou a flor de dentro do pequeno vaso.

Bill andou até a porta, parou poucos centímetros longe do meu corpo e sussurrou:

– As coisas dificeis são sempre as melhores.

Então, levou a rosa ao seu rosto, beijando-a, estendeu seu outro braço, pegou minha mão, colocou a flor em minha palma, roçou seus lábios nos meus, abriu a porta e partiu.


Fiquei parada com a rosa na mão, como uma boboca, querendo desesperadamente gritar e pedir para ele voltar, me dar pelo menos mais um beijo ou mais um abraço. Queria sentir seu cheiro, seus lábios, seu calor... Eu o queria inteiro, só pra mim!

–Não, Kate! - Eu gritei, colocando meus pensamentos dentro do limite da razão – Você não vai a lugar algum, ainda mais com ele. – Por mais, que eu queria ter Bill ao meu lado, nunca deixaria ele saber, não até eu sentir que ele realmente merecia receber novamente todo meu amor.
Olhei para a rosa em minha mão, levei até o rosto e a cherei fechando os olhos, ela tinha o seu cheiro.

Dove.

–Kate? – a forte batida na porta e o susto me despertou do transe.
Apenas estiquei o braço e abri a porta.
–Ele já foi? – Sofia perguntou entrando em meu apartamento.
–Como sabe? – eu perguntei a ruiva.
Naquele momento eu me dei conta, que não havia perguntado a Bill, como ele tinha conseguido entrar em meu prédio e tocado a minha campainha sem ser anunciado pela portaria. A resposta estava na minha frente, Sofia.
– Bill sabia que iamos juntas, hoje de manhã no almoço beneficiente e...
–Onde você ficou esse tempo todo? – perguntei a ela.
–Ele me pagou um café naquela doceria famosa que sua tia gosta. – Sofia explicou com sorriso de cumplicidade nos lábios. – Como Klaus me conhece, disse que era seu aniversário, pedi para não ser anunciada, trouxe Bill até a sua porta e desci, dizendo que tinha esquecido as velinhas. – ela olhou a rosa em minha mão e sorriu feliz. – E o resto você já sabe.
– Traidora. – eu brinquei com ela, recebendo um abraço em troca.
– Estamos atrasadas para o almoço. – ela me lembrou.
–Venha, só vou colocar um vestido e podemos ir.

Puxei sua mão para o quarto, troquei de roupa rapidamente e coloquei uma sandália baixa, afinal o almoço beneficiente para as crianças de alguns orfanatos era em um clube da alta sociedade, do qual meus pais eram sócios antes de falecerem.

Fechei todas as janelas do meu apartamento, peguei minha bolsa, toquei as pétalas da rosa, que Bill havia me dado naquela manhã, pela última vez e saimos em direção ao elevador.
–Deixei meu carro na sua vaga de visitante. – Sofia avisou apertando o botão do subsolo, dentro do elevador.

O elevador chegou, ela foi a primeira a descer e andar até a vaga de visitante, que ficava ao lado da minha vaga, da qual ficava o meu carro, que estava na oficina, infinitos vinte dias.

–Kate... o que...

Sofia olhou para mim e depois virou o rosto, olhei para seu olhar assustado e quando virei para o lugar onde ela tinha seus olhos fixos, meus olhos também se arregalaram e meus lábios se abriram, pronto para gritar.

Postado por: Grasiele

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