sábado, 29 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 30 - A verdade.


– Há quanto tempo isso vem acontecendo?
– De esse grupo perseguir minha mãe, meus filhos e eu, alguns meses. – Simone parou de falar
– Simone... isso não é tudo?
–Não, tem a parte pior disso tudo.
–Que Deus me perdoe, mas tenho que perguntar – eu fechei os olhos e tomei coragem – E qual é a pior parte?

Um estrondo nos calou e nos fez correr até a ampla cozinha, quando chegamos, no chão ao lado do imenso fogão havia uma pedra junto dos pequenos cacos de vidros, olhamos juntas para o pequeno buraco na janela.
–Elas passaram dos limites. – Simone andou até a porta furiosa – Chega!
–Não! – eu segurei o braço de Simone – Elas são em cinco.
–Que estivessem em cem! – Simone me olhou com os olhos cegos de raiva. – Vou ter uma conversinha amigável com elas.
Ela virou a chave e antes de abrir a porta e sair disse em um tom maternal:
–Não saia por nada desse mundo!
–Mas...
–Não saia! – Ela ordenou ríspida e bateu a porta, saindo deixando-me sozinha.

O frio subiu pela minha espinha, meu corpo começou a tremer, eu nem conseguia raciocinar, tudo estava acontecendo rápido demais e estranho demais. Eu precisava sair e ajudar Simone, mas antes corri até a minha bolsa na sala peguei meu celular e apertei a rediscagem.
Kate onde esta eu lig...
–Bill venha para casa da sua mãe, não sei o que esta acontecendo, mas um grupo de garotas atirou uma pedra e...
Estou indo.– ele nem me deixou falar - E não saia, minha mãe sabe o que esta fazendo.
–Elas são em cinco.
Não saia para fora! - Bill gritou comigo, como nunca havia feito.

Andei até a cozinha e olhei pelo pequeno buraco, eu precisava sair e ajudá-la e quando vi a cena, não consegui acreditar.
Simone enfrentava as garotas, segurava uma pelo braço e aos berros a empurrava para fora do quintal. Nunca imaginei que ela pudesse fazer algo desse tipo.
Ela jamais levantava a voz, sempre contida e educada.
E lá estava ela, como uma guerreira defendendo a sua nação, com um dos dedos erguido no rosto de uma das garotas que calada ouvia o que Simone esbravejava. Todas as cinco garotas se afastaram apenas uma mais cheinha falava com a mãe dos gêmeos, mas de longe.
–Meu Deus o que esta acontecendo?

Simone mantinha a mão na cintura e não falava, apenas olhava as garotas se afastarem e dobrarem a esquina indo embora. Ela ainda ficou nessa posição por alguns segundos e em seguida virou-se e caminhou para a casa.
Ela abriu a porta, entrou e pegando um copo no armário foi até o filtro e o encheu de água, bebendo-o e só depois de um longo suspiro, ela se virou e me olhou, com o rosto ainda vermelho de raiva.

– Da próxima vez eu arranco o dente de uma.
– Simone, quem são essas garotas?
–São as pessoas que transformaram a vida dos meus filhos e da minha família num inferno.
– Vocês as conhecem?
– Não.
–E por que fazem isso?
–Por que são doentes e querem nos fazer ficar também. – Simone respondeu ainda com raiva.
– A polícia tem que saber disso.
– Ela sabe. – Simone revelou.
–Nunca havia visto fãs tão atrevidas.
– Não são fãs. – Simone e eu viramos a cabeça no mesmo instante. Bill estava na porta da cozinha, segurando uma enorme caixa de papelão vermelha. – Não são fãs da banda, um fã jamais faria isso.

Eu o olhei baixando meus olhos para a caixa que ele segurava. Ele percebeu meu olhar e simplesmente virou a caixa, deixando tudo o que tinha dentro cair no chão da cozinha.
–Kate tem muitas perguntas. – Simone disse a Bill.
– Esta tudo aqui. – Bill disse – Todas as respostas de suas perguntas.

A tensão na cozinha era quase palpável, olhei para Simone que desviou os olhos, pegando a pedra do chão com um pano embrulhando-a e depois nos deixando a sós.

– Não vai ler? – Bill perguntou.
Eu baixei meus olhos e vi vários envelopes de todos os tamanhos, de muitas cores esparramados pelos chão da cozinha. Eu só precisava dar três passos, agachar, abrir, ler e descobrir o que realmente estava acontecendo.
Mas, eu não o fiz.
Meus pés pareciam que estavam grudados no chão, por mais que meu cérebro dizia para andar, meu corpo não andava. Era como seu soubesse que depois de abrir uns daqueles envelopes minha vida mudaria... para pior.
Então, Bill percebendo o meu temor, deu os três passos, agachou, abriu um envelope e começou a ler em voz alta o que estava escrito, logo em seguida pegou outro, abriu e também leu, depois pegou outro e outro e vários outros.
– Deus... – eu fechei os olhos e coloquei as mãos em meus ouvidos. – Pára... Chega... Não posso ouvir mais nada!
Minha cabeça rodava. Minhas pernas, eu nem as sentia, minha boca estava seca e meu coração batia que parecia que ia saltar do meu peito... Aquilo era terrível demais.
Apoiei minha mão na parede e baixei minha cabeça. Por alguns instantes nada foi dito.
–Você devia ter-me contato antes. – eu fui a primeira a quebrar o silêncio.
–Sim, devia. - Ele fechou os olhos momentaneamente, como se pro­curasse as palavras para dizer a seguir. – Eu devia, mas não o fiz.
–Não preciso perguntar – eu levantei a cabeça e o olhei - Sou a única que não sabe disso.
Bill me olhou em silêncio. Fitando-me intensamente, contraindo um canto da boca.
– Achei que se você soubesse, me deixaria.
–Por que eu faria isso?
–Por medo de sofrer tudo o que ela promete em cada bilhete. – Bill admitiu.
– Há quanto tempo você recebe essas cartas?
–Quase dois anos.
– Dois anos. – Eu repeti incrédula. - Há dois anos... Então, a gente nunca assumiu o namoro por causa dessas cartas e não por causas das fãs?
– Se pudesse desde o primeiro dia eu te assumiria. – Bill revelou a verdade - Eu te amo desde o primeiro instante que coloquei os olhos em você.
–Mas não foi capaz de confiar em mim e no meu amor. – eu disse subindo o tom de voz.
–Eu apenas queria o seu bem. - acrescentou, na defensiva. – E tive receio que você ficasse com medo e me abandonasse.
“Talvez ele tivesse razão... “

Só cartas você recebe? – eu questionei
– Não, recebi um vaso de flores, sem bilhete – Bill respondeu - Fora ele, apenas cartas.

Eu olhei para os envelopes ainda fechados, sem ser lidos, caminhei até eles e me abaixei pegando um vermelho, depois que o abri e li, joguei-o longe, as palavras eram de arrepiar.
–Alguns não têm selo? – eu perguntei sem olhá-lo
–A maioria foi deixada na porta de hotéis. – Bill explicou – ela sempre sabe onde hospedado, não importa o país.
Subi meus olhos e vi seus olhos perturbados e ao mesmo tempo amedrontados. Sentia como se ele precisasse se proteger de uma chuva de balas, e não encontrasse nenhum lugar para se esconder.
Ele estava tão desorientado, anestesiado e perdido quanto eu.
Minha mente dizia com fir­meza e repetidamente que tudo aquilo era um sonho bobo qualquer e que em questão de segundos eu acordaria.
Eu precisava acordar.
O toque em meu braço, me fez perceber que eu não acordaria que tudo real. Um pesadelo.

– Deus, que loucura! – Eu disse andando pela cozinha, de um lado para outro. – Essas cartas, são essas garotas que estão escrevendo?
– Não sabemos. – Bill respondeu dando de ombros – Pode ser ou pode ser casos separados. A polícia já esta investigando, as cartas anônimas e as stalkers, que inclusive, a líder do grupo, foi a que Tom agrediu.
– Por que você acha que são casos separados? – eu perguntei tentando entender.
– As cartas, eu as recebo há quase dois anos e as stalkers nos perseguem apenas há três meses.
– Algo pode ter feito o ódio delas aumentarem... – eu parei de andar e suspirei quando tudo ficou nítido na minha mente - É claro, elas sabem sobre a gente por isso que saíram do anonimato das cartas e vieram atacar pedra na janela da casa da sua mãe e infernizar a sua família.
– Não sei... Pode ser que sim! – Bill respondeu passando a mão nos cabelos negros, nervoso.
– As cartas não surtiram efeito, então decidiram marcar território pessoalmente.
– Pessoalmente mesmo, todos os lados que olhamos, elas estão lá, nos vigiando.
–Por isso me afastou do estúdio? – perguntei vendo Bill apenas balançar a cabeça, confirmando.
– Isso é tão monstruoso. - minha cabeça rodou e tudo pareceu girar em minha volta e o bolo subiu na minha garganta.
– Elas são muito mais que isso. – Bill me olhou com o rosto pálido - Meus avós vão passar uns dias aqui por que elas não os deixam em paz.
– Isso tudo por causa do nosso namoro. - eu esbocei um sorriso frio
–Não diga isso. – Bill falou esticando o braço e tocando meu rosto.
–Não? - eu perguntei franzindo o cenho. – Não é por causa do nosso namoro? A vida da sua família virou de cabeça pra baixo por causa do nosso namoro.
Bill não disse mais nada, não precisava.
– Eu vou para casa. – eu disse afastando-me do seu toque.
–Por quê?
–Preciso pensar. - eu disse massageando minha têmpora, que latejava. – Estou confusa.
Bill tentou tocar meu braço e dessa vez desvencilhei-me de sua mão. Ele apertou os lábios, dando mostra de que, por fim, o medo dele tinha um fundamento. O nosso namoro sofreria mudanças depois que as cartas fossem jogadas na mesa.
– Posso te levar? – Bill pediu.
–Acho melhor não. – eu disse num tom de voz baixo - Poderíamos ser vistos e tudo pioraria para a sua família.
– Desculpa. – ele murmurou - não estou tentando minimizar o que fiz – Bill me olhou - eu devia ter contato.
– É tarde demais para arrependimentos. - eu respondi, extremamente magoada com toda aquela situação.
–Você vai se afastar. – Aquilo não tinha sido uma pergunta.
– Deixe um beijo para Simone. – Eu apenas disse, sem respondê-lo
Passei por ele, e seus dedos apertaram meu braço, nossos olhos se prenderam e nos olhamos por segundos, Bill trouxe seu rosto para perto do meu e roçou seus lábios nos meus.
–Eu te amo. – ele sussurrou por fim com os olhos marejados.
– Isso não vai fazer com que eu me sinta melhor. - eu respondi, sorrindo na tentativa de esconder minha vontade de gritar e me entregar as lágrimas.
–Eu sei! – ele apertou os olhos com força deixando as lágrimas rolaram pelo seu rosto.

Eu puxei meu braço, não podia ficar mais um segundo naquela casa, eu precisava ficar sozinha para pensar, para refletir sobre aquela onda gigantesca que estava devastando minha vida.
Deixei a cozinha correndo, seguindo para a garagem, destravando o carro, entrando e rapidamente dando a partida. Quando passei pela porta da sala, ainda aberta, virei meu rosto e o vi sentando na cozinha recolhendo os envelopes do chão e colocando-os na caixa.

Ele também virou o rosto, e nossos olhares se cruzaram e tudo que havia para ser dito, fora dito num último olhar.

Acelerei o máximo que pude, meus pneus cantaram ao fazer a curva da rua, segui para o meu apartamento, não sei como cheguei até a minha garagem, minha mente repassava aquela cena, Bill sentando recolhendo os envelopes, o seu rosto tomado pela tristeza.

Estacionei o carro na vaga e tirei o cinto, fechei meus olhos e deixei minha cabeça cair sobre o volante.
Eu estava angustiada, magoada e com medo por mim e por ele, que era tão vítima quanto eu naquela história.
Aquilo tudo era demais para mim, as cartas, as stalkers e a mentira de Bill. Tudo aquilo feito um coquetel indigesto, que estava entalado na minha garganta. Eu tinha a sensação de que alguém estava apertando meu pescoço, era difícil respirar e uma dor insuportável crescia den­tro de meu peito.
Não conseguia chorar, na verdade o choque era tão profundo que eu não conseguia formar uma opinião. Tudo ao meu redor estava em câmera lenta e tudo era um enorme borrão.
Mordi meu lábio inferior e tive vontade de gritar. Mas, não o fiz... Não tinha energia e força para tanto.

Minha testa continuava encostada no volante e tentava encaixar aquelas peças quando uma batida forte no vidro do carro me assustou, levantei a cabeça olhando para a pequena figura do lado de fora, abri a porta do carro e minha vizinha sorriu com ternura.
–Tudo bem? – ela perguntou preocupada.
–Sim. – eu tentei sorrir.
–Estava esperando o elevador quando te vi. – a garota me observava com atenção – esta tudo bem mesmo?
–Eu estou bem. - Eu saí do carro e sorri para ela, respondendo.
Andamos juntas até a porta do elevador social, ela apertou o botão e esperamos a chegada dele.
– Que demora. – ela disse apertando o botão uma segunda vez.
– Vou no elevador de serviço. – eu disse me virando sem paciência.
–Está quebrado. – a garota informou – Vamos ter que subir pelas escadas.
Era tudo o que eu precisava. Queria que aquele dia nunca tivesse começado ou existido.
Seguimos até a porta de emergência, e subimos juntas pelas escadas.
–Tem certeza que não quer conversar? – ela insistiu.
– Outro dia, pode ser? – eu respondi simpática no mesmo momento que minha chave do carro escapou da minha mão e caiu no chão.
Eu parei entre um degrau e outro, abaixei para pegá-la e nesse momento... Tudo apagou.

Postado por: Grasiele

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