sábado, 29 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 44 - A última carta de Annette.


Quem será essa hora da noite? – ele perguntou franzindo a testa.
–Não sei, ninguém foi anunciado no interfone.
–Será que exageramos nos gritos? – Bill disse sério.
–Será? – eu respondi medrosa – Fique aqui que eu já volto.

Sai do banheiro, a campainha tocava sem parar, como se a pessoa estivesse desesperada.

–Já estou indo! – eu gritei e apertei os passos, o barulho ecoava pelo apartamento inteiro. – Quem é? – eu gritei sem ter tempo de olhar pelo olho mágico.

– Abra a porta! – a voz pediu abafada do outro lado da porta, e então se identificou impacientemente:

É a Jill!

Eu estanquei com a mão na chave para abrir a porta. Congelei.
–U-um minuto. – eu gaguejei – Só um minuto.

O que eu faria? A garota que queria me matar estava na minha porta, eu precisava acertar as contas com ela, mas eu estava sozinha, com Bill, sendo que ela não podia ver ele ali... Eu estava sozinha.

Meu coração estava disparado e tentava pensar friamente diante do meu medo.
–Kate!
–Bill!! - eu fechei os olhos e coloquei a mão no coração, assustada. – Quer me matar?
–O que foi? - Ele sussurrou – Quem é na porta?
–Jill! – eu sussurrei.

A cor do rosto do Bill também sumiu, ele se calou e da mesma forma que eu, ficando sem saber o que fazer.

O som da campainha tocou alta nos assustando, nos olhamos e continuamos em pleno silêncio. Se a situação não fosse tão trágica, seria cômica.

–Vai lá para dentro, ligue para o David peça a ele que nos ajude que traga dois seguranças, eu vou tentar ganhar tempo.
–Não vou deixar você sozinha. – Bill fez uma careta, ainda sussurrando.

–Bill, vai! - eu o empurrei em direção ao quarto - liga para o David... Não há nada que podemos fazer, tenho que saber o que ela quer comigo, não podemos viver assim pra sempre.

Bill segurou meu rosto com as mãos, que estavam frias e tremulas e beijou meus lábios, com o celular em mãos, discando para David, seguiu para o meu quarto.


Respirei fundo, fechei mais meu robe e por fim abri a porta.


–Kate? – a voz rouca perguntou.
–S-sim. – eu a olhei e perguntei – Você não é a Jill?
–Sim, sou a Jill. – a figura baixa, com ar de sofrimento se apresentou. – Desculpe tocar a campainha dessa forma e a essa hora da noite. – ela sorriu sem jeito – Klaus disse que queria falar com o pai da Annette e fiquei desesperada para conversar com você, não podia esperar nem mais um dia, nem mais um minuto.
–Desculpa, mas não conheço nenhuma Annette. – eu a olhei franzinho a testa.


Quem era aquela louca? – eu pensei sentindo-me cada vez mais confusa.



– Você conheceu minha filha, a Jill! – a mulher falou – Por algum motivo ainda desconhecido por nós, Annette mentiu dizendo a todos deste prédio que o seu nome era Jill. – a mulher estendeu o braço, oferecendo a mão pequena. - Sou a mãe de Annette e o meu nome é Jill.

– Entendo... – Não, eu não entendia! Mas a cumprimentei - Eu disse a Klaus que queria falar com os pais de Ji... Annette.
–Eram amigas? – A mãe de Annette me perguntou.
–Éramos vizinhas, nos falamos algumas vezes, mas não éramos amigas.
–O que tem para nos contar está relacionado ao que Annette fez?
–Então, a senhora sabe o que ela fez comigo?
–Com você? – a pequena mulher me olhou confusa. - Não! Pensei que estivesse falando sobre... O que Annette fez a você?
– Eu queria muito falar com Annette. - eu apontei para dentro do meu apartamento pedindo para que ela entrasse. - Precisava muito vê-la.
–Ela não pode vê-la e nem falar com você.
–E por que não?
–Ela se matou um mês atrás.


Foi como um chute no meio do estômago. Um soco forte no rosto. Minhas vistas embaçaram, minhas pernas tremeram e meu coração bateu tão forte que fez meu corpo se convulsionar e tudo ficou escuro.

–Ela... – eu segurei na parede para não cair, meu ar não chegava aos pulmões – Ela se...
–Pensei que você soubesse, por isso que pediu para falar com o meu marido?
– Não...Não sabia. – devagar meu ar voltou ao meu corpo e em passos lentos sentei na cadeira próxima. E apontei o sofá para a senhora que me olhava com curiosidade – Sente-se, por favor.
– Você esta bem? - ela perguntou - Pensei que pudesse me ajudar a achar a causa, o que poderia ter levado ela a cometer esse ato tão violento contra si mesma.
–Como ela... fez?
–Enforcou-se no banheiro.
– Eu sinto muito... Mesmo. – Eu sentia mesmo. – Minhas condolências.
– Obrigada. - ela sorriu triste, porém agradecida - O pai dela e eu entramos em parafuso. Estamos chocados ainda e... – sua voz falhou a mulher baixou a cabeça e quando levantou seus olhos estavam tomados por lágrimas. – Quando Klaus disse que gostaria de falar com o meu marido, pensei que pudesse me ajudar e encontrar um pouco de paz.
–Não éramos tão chegadas.
–Por que disse que ela havia lhe feito algo?
–Ter ido embora sem dar adeus, sem falar ou me dar um abraço. – eu menti, não podia dizer a mãe que sofria a morte da filha, que essa havia tentado por várias vezes tirar a minha vida. – Mesmo não sendo íntimas, éramos vizinhas e sempre nos encontrávamos no elevador, ela era um encanto de garota.

Isso a faria se sentir melhor em relação à filha.”

–Sabe pelo menos quem é Bill? – ela perguntou trazendo meus pensamentos de volta para a sala do meu apartamento. – Você a viu com algum rapaz?
–Não. – eu apenas disse.
–Perguntei no enterro aos poucos colegas, mas ninguém sabia quem era Bill.
–Ela estava sempre sozinha quando a via. – eu respondi.
– Não sabemos nada sobre esse rapaz, ela pixou todo o apartamento com esse nome. Em todo lugar estava escrito esse nome.
–Não era um namorado alguém que ela era... Obcecada?
– Não sei... Sim, isso era uma obsessão. – as lágrimas agora rolavam em seu rosto – ela era fechada, vivia trancada em seu quarto, seu computador tinha várias senhas e no dia da sua morte ela quebrou-o inteiro. – os soluços agora eram incontroláveis - Ela não tinha amigas, chegou aos dezoito anos quis sair de casa por que brigava muito com o irmão e no dia que ela bateu nele a ponto de mandá-lo para o hospital decidimos deixá-la morar sozinha.

Fui até o toalete e peguei um lenço, entreguei a mãe de Annette, que enxugou as lágrimas e continuou seu desabafo comovente:
– Ela era violenta, sabemos que agimos errado ao fazer tudo o que nos pedia, mas não sabíamos mais o que fazer, tentamos psicólogos, psiquiatrias e nada adiantou. – o choro iniciou novamente - Algo estava errado, parecia que a vida dela se resumia a esse nome: Bill

–Você chegou a perguntar quem era...Bill?
–Sim! - a mãe enxugou os olhos e ao responder, sorriu - Ela disse que era um anjo.

Os pêlos do meu corpo se arrepiaram.

Bill não era apenas um simples ser humano para Annette.

Tudo fazia sentido, estava tudo muito nítido, aquela garota sofreu de um amor excessivo, que desenvolveu dentro da sua mente, que já não era tão equilibrada, um fanatismo que a levou a ter uma conduta irracional e agressiva que chegou ao seu limite extremo de tudo ou nada, amor ou ódio... Vida ou morte!

Um amor tão fanático, que perdeu sua racionalidade, perdeu sua personalidade, perdeu sua vida!


Eu senti pena de Annette.


–Eu queria ter ajudado-a. – eu apenas disse por fim.

– Mesmo com todos esses problemas ela era nossa filha caçula e não conseguimos, nós fracassamos e a perdemos. - Jill caiu no choro desesperado de uma mãe sofrida que amava a filha e queria ajudar de todas as formas, queria ser amiga, queria ajudar no problema que a enfrentava, o choro era de impotência e infelizmente, nada mais poderia ser feito.

–Vocês tentaram. – eu ajoelhei no chão e a abracei forte, senti os braços finos e pequenos me abraçar também e pobre mãe chorou por minutos sem parar. Chorou e chorou, não pude evitar, também chorei, por Jill e por Annette.

...


–Obrigado por ajudar. - Ela disse depois de um tempo, pegou o lenço e enxugou as lágrimas se recompondo.
–Não ajudei em nada. – eu disse segurando as mãos da mulher com carinho.

–Peço que se um dia souber alguma coisa sobre Annie, me procure. – Jill estendeu a mão e lhe entregou o cartão. – E mais uma vez obrigada.



A mulher se levantou, beijou minha testa com delicadeza e saiu do meu apartamento, fechei a porta e meu olhar fixou no olho mágico, minha mente não conseguia raciocinar, eu não conseguia digerir aquela informação.



–Kate? - Bill murmurou meu nome, sua voz estava baixa e era certo que sua indignação não era menor que a minha.

Eu virei devagar, não tinha forças, meus pés estavam cravados no chão e minhas pernas não se moviam, estavam fracas.
–Bill.
Ele estava com os olhos brilhantes, cheio de lágrimas, se aproximou, enlaçou seus braços em volta do meu corpo e me abraçou, eu o envolvi também e ficamos daquela forma, nem sei dizer ao certo por quanto tempo.

Tudo estava acabado, e não estávamos felizes por isso!

–Eu não consegui falar a verdade a ela. Como poderia falar que a filha dela tentou me matar por que era fanática por um vocalista de uma banda de rock.

–Nunca me senti tão culpado.
–A culpa não é sua.
–Se matou por minha causa. – ele disse atordoado.
–Não. - eu gritei ao ouvi-lo se culpar - Annette era desequilibrada e esse amor por você foi o que faltava para ela surtar, deixando sua vida de lado para nos perseguir, ela era uma garota doente.
–Mesmo assim, era uma fã que...
– Ela não era uma fã. – eu o cortei bruscamente - Ela se aproximou de você muitas vezes e nenhuma dela foi para fazer o bem, somente o mal. Teve chances de se aproximar e dizer a você o quanto ela gostava e admirava o seu trabalho, tirar uma foto, pegar um autógrafo ou uma recordação, como qualquer fã de verdade faria. – vi Bill baixar a cabeça, com um dedo, a ergui - E não foi isso que ela fez.

– Não, não foi. - ele respondeu.

– Não se culpe por nada. – eu acariciei seu rosto e beijei de leve seus lábios - Eu confesso que achei estranho ela não ter deixado um último recado.

Bill me olhou, levou a mão até o bolso, tirou a carteira e a abriu, tirando um pequeno envelope rosa.

–Eu não queria falar por telefone, queria te mostrar quando chegasse à Alemanha, só que tivemos a briga na casa de Gustav e depois viemos para cá.

– O que é isso?
–A última carta de Annette. – ele disse colocando o envelope em minha mão.

Eu abri o envelope impaciente e li em voz alta:


“ Fiz uma grande besteira. Mas, posso estar por aqui... Ainda!
Parecido com você... Um anjo ”



–Será que ela acreditava que dessa forma poderia ficar de olho em mim?
–Não sei. Talvez ela tenha pensando que fossem ficar juntos, como dois anjos. – meus pêlos da nuca se arrepiaram pela segunda vez naquela noite - Sabe, vamos rezar por ela. Já sofremos demais por causa de Jill ou Annette, seja lá como essa pobre garota se chamava. Agora, o que temos que fazer apenas é deixar que descanse em paz e tentar continuar com a nossa vida.
–Tenho muita pena e lamento profundamente por ela e pelos seus pais, mas você tem razão, nada mais pode ser feito. Acho que já sofremos e paramos nossas vidas por ela. – Bill sorriu fraco - Vamos seguir adiante?


Antes que eu pudesse responder, o celular tocou, era David, Bill quando ouviu sobre o suicídio da fã, ligou para o manager abortando os seguranças e pediu para não vir, que se precisasse ligaria.


– Você está bem? - Bill perguntou quando finalizou a ligação. - Precisa dormir um pouco.

– Hum... hum. - eu afirmei com a cabeça, estava cansada e meu corpo doía inteiro. - Durma comigo. – eu pedi, com voz rouca.

O sorriso dele foi doce e confortante.

– Eu não tinha intenção de ir para outro lugar. – ele me puxou para junto de seu corpo e depositou um beijo demorado em meus lábios.
– Venha! - eu o enlacei pela cintura e juntos seguimos para o meu quarto.

...

De manhã, com nossos corpos enroscados, Bill começou acariciar minhas costas, depois seus lábios beijaram meu pescoço e antes mesmo que pudesse perceber o que estava acontecendo, ele me penetrou, beijando a minha boca durante todo o ato.

Chegamos ao ponto máximo ao mesmo tempo, ele me olhou com a respiração descompassada, beijou a ponta do meu nariz e me envolvendo em seus braços, caímos no sono profundo mais uma vez.


...


Acordei com o cheiro do café, mesmo antes de abrir os olhos. Respirei fundo e quando me espreguiçava, Bill entrou no quarto carregando uma caneca fumegante.

Tinha tomado banho, vestia apenas uma calça jeans. Estava lindo, como sempre.

– Bom dia, amor - ele disse sorrindo - Dormiu bem?
– Muito bem. – eu devolvi o sorriso - e pretendo fazer esse dia ficar ainda melhor.
– É... e como fará isso? - Bill me entregou a xícara e sentou ao meu lado na cama.
–Quero passar o resto do dia com você... Na cama.
–Isso é um convite? – ele arqueou uma sobrancelha com malícia.
–Uma ordem. – eu coloquei a xícara na pequena mesa ao lado da cama e o enlacei pelo pescoço trazendo seu corpo de encontro ao meu e tomei seus lábios num beijo ardente e erótico, como nunca havia feito antes.

–Só ligue para David, avisando que não vai trabalhar hoje. – ele gemeu no meu ouvido.
–Não preciso, eu não trabalho mais para ele.
–Não trabalha... Por que não trabalha mais para David?


Ele se afastou e uniu as sobrancelhas em expressão de espanto.


“Droga! “ - eu me xinguei mentalmente.


Eu havia esquecido esse pequeno detalhe. Eu não tinha contado a Bill sobre minha demissão, e pior, não havia contado o motivo que me levou a fazer o pedido.

E agora? Falava a verdade ou... E agora?

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog