terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 5


Depois de um longo banho, enrolou-se na toalha e ao passar pelo espelho do banheiro parou. Viu seu rosto pálido, olheiras de dor e os cabelos bagunçados. Estava horrível. Devagar abriu a porta e ele não estava mais no quarto.

Pegou outra toalha e quando estava enxugando os cabelos, ouviu vozes.

Andou até a janela, afastou a cortina e quando viu o carro parado no seu quintal, seu coração acelerou, correu para o guarda-roupa, vestiu uma roupa qualquer e desceu as escadas quase tropeçando em seu desespero.

Quando chegou à sala, era tarde demais, tudo já estava perdido...



–Tom? – ela o chamou, olhando para sala vazia, o barulho dos pneus cantando assustou-a, e quando o carro se afastou alguém na cozinha bateu a porta do armário com raiva.
– Vi o carro da Mônica. – Laíssa disse quando entrou na cozinha e viu o marido encher uma vasilha com leite e depois despejar cereais dentro.
– Sim, falei que você estava no banho e ela não quis esperar. – Tom disse sentando-se com o semblante fechado.
–Você a mandou embora? – A esposa perguntou seca.
–Tive vontade. – ele mexeu os cereais dentro da tigela – Mas não, ela foi embora por que quis.
–Você disse algo?
– Não se preocupe, não magoei sua melhor amiga. – ele sorriu sem força e começou a comer.
– É única amiga que eu tenho. – ela disse ainda parada na soleira da porta. – A única que eu confio.

Confiar em Mônica? - Tom ergueu os olhos e quase sorriu, mas não disse nada, teve vontade de dizer tudo o que estava entalado em sua garganta, mas adiantaria? A esposa o ouviria? Teria sua vida normal novamente? Claro que não.


O restante do café da manhã foi horrível. Os gêmeos ainda estavam na casa da mãe de Laíssa, o casal mantinham-se calado, mesmo sentado frente a frente em volta da mesa da cozinha, não se olhavam.
–Sua mãe vem trazer os meninos? – Tom perguntou subindo seu olhar.
–Sim, deve estar chegando. – ela também o olhou.
–Laíssa... sobre ontem à noite, sinto muito.
–Ultimamente você esta repetindo essas palavras demais, Tom. – ela disse levantando colocando sua xícara na pia – esta perdendo a força, quando as dizem.
–Amanhã gostaria de levá-la para almoçar e depois poderíamos pegar os meninos juntos na escolinha.

Aquilo era inesperado.

–Dor na consciência? – Laíssa o atacou cínica. – Você só é um péssimo marido, mas é um excelente pai.
–Eu só queria almoçar com você e depois passar à tarde com a minha família, pode ser?
–Não vai atrapalhar seus negócios? Sua vida corrida de empresário bem sucedido?

Tom não respondeu os ataques, continuava sentado, controlado.

–Esta bem. – ela deu de ombros, como se não se importasse com o que ele fazia – Esteja aqui às onze e meia.

Entreolharam-se, então Laíssa deixou a cozinha, nem meia hora depois, a campainha tocou era sua mãe com Diego e Mateus. Os meninos primeiro beijando-a e depois correndo para dentro da casa, gritaram pelo pai, jogando-se nos braços de Tom, que brincou com os dois se jogando no chão.
–Quer entrar e tomar algo? – Laíssa perguntou para sua mãe, desviando os olhos da cena.
–Não, vocês precisam ficar a sós. – sua mãe lhe disse – No meio da semana venho para tomar café da tarde e ver os meninos. – vendo o olhar triste da filha, finalizou – Se precisar, sabe onde me encontrar.
–Obrigada, mãe - Laíssa abraçou a mãe e entrou apressada antes que caísse no choro.

Quando entrou na sala, Tom, Diego e Mateus estavam jogando vídeo game, sorrindo e brincando. Um excelente pai, um desgraçado como marido. - Com esse pensamento, lavou a louça do café, já era tarde, quando os gêmeos e Tom pararam com a bagunça na sala e ouviu a voz do marido na porta.

–Vou levar os meninos no Mc! - ele olhou para a cama onde a esposa estava deitada, com as pernas nuas – Vamos? - Os olhos de Tom ainda estavam parados no mesmo lugar. Até Laíssa jogar uma coberta fina sobre as pernas e responder que não, que estava com dor de cabeça.

Os olhares se encontraram, e foi a morena que desceu os olhos para a revista e o ignorou, ouviu os passos na escada e a bufada impaciente de Tom, teve vontade de sorrir, mas não o fez, aquilo não tinha graça nenhuma.


Depois de duas horas, os meninos acenderam a luz do quarto, gritando em cima da cama e acordando a mãe, com um saco de papel, com sanduíche, batata frita e um pequeno pacote de nuggets. Tom entrou por último com um copo de suco de uva em mãos, colocando na pequena mesa que havia no quarto.
–Obrigado, não precisava. – ela disse sem olhar para o marido.
–Ultimamente esta comendo muito pouco. – ele se sentou na cama, próximo a ela. - Mas está muito gostoso.
–Pensei que só a mamãe fosse gostoso? – Diego disse sorrindo para o pai.
– Gostoso? – Tom perguntou franzindo a testa.
– Um rapaz na rua disse que a mamãe era gostoso... Não, ele disse: gostosa! – Diego explicou ao pai.
–Diego! – Laíssa o repreendeu e o filho a olhou sem entender.
–O moço da lanchonete também disse que você era gostosa. - Mateus sorriu para a mãe com ingenuidade.
–Que ambiente esta frequentando com meus filhos? - Tom perguntou com raiva.

–Não sei o que eles estão dizendo? - Laíssa disse a Tom.
–Mãe, lembra aquele moço...
–Diego, vá escovar os dentes. – Laíssa disse brava repreendendo o filho. – Mateus, você também.
–Gostaria que maneirasse nas roupas quando estivesse com meus filhos.
–Estava de jeans e camiseta esse dia com os nossos filhos. – ela o olhou com desdém – da próxima vez coloco um casaco, um cachecol e uma touca.
–Essas suas calças jeans são agarradas demais. – ele olhou para as pernas da esposa e lambeu os lábios, como se pudesse sentisse o gosto de sua pele na boca.
–Sim, vou à loja amanhã comprar número 54 ao invés de 40! – Laíssa sorriu sarcasticamente – ou quem sabe posso colocar uma burca preta que me cubra dos pés a cabeça.
–Dá pra parar de ser cínica?
–Dá pra parar de ser...

–Mamãe, podemos deitar aqui com você e ver um desenho? – A chegada dos filhos finalizou a conversa, deixando Tom mais irritado.
–Claro! - ela sorriu abrindo os braços para receber os filhos - cada um deita em um travesseiro.
–Mas assim papai vai ficar sem travesseiro? – Mateus disse olhando para o pai.
–Não seja bobo, Mateus, ele gosta de deitar no colo da mamãe assim ela faz carinho nele, não é papai?

Tom olhou para Laíssa e sorrindo com malicia disse:

–Não se preocupem, deito no colo da mamãe - ele respondeu ao filho - Afinal, não tem lugar mais aconchegante e macio do que o colinho dela.

Laíssa estreitou os olhos, estava pronta para responder, mas em respeito aos filhos, se calou.

Depois que ela terminou seu almoço, as duas crianças deitaram cada um em um travesseiro e ela deitou no canto, Tom apagou as luzes, colocou o filme no aparelho de DVD e subiu na cama. Laíssa encolheu as pernas para que fosse impossível Tom deitar cabeça.

–Vai papai, deita logo que já vai começar. – Mateus apressou o pai.

Laíssa teve vontade de chutar o meio das pernas do marido, quando ele sorriu vitorioso e segurou suas pernas, esticando-as e deitando-se confortavelmente sobre elas.

Ela não conseguiu se concentrar no filme, com a respiração quente do marido nas pernas nuas, os três sorriam com o filme, e ela só queria sair dali e respirar com tranquilidade.

Tentou fechar os olhos para afastar as ondas de tensão, mas elas só pioraram, ao sentir as pontas dos dedos de Tom deslizar por suas pernas geladas, olhou para os filhos, Mateus dormia profundamente, Diego ainda assistia ao DVD, com os olhinhos quase fechados.

Ela pegou uma das mãos de Tom e a segurou no colchão, não foi suficiente, com a outra mão livre Tom segurou sua coxa com força e virou seu rosto em direção a sua parte intima.
–Pare! – ela disse quando sentiu a ponta da língua quente e úmida de Tom lamber sua coxa – Não faça isso!

Tom segurou as pernas da esposa, a mordeu devagar na coxa e depois a beijou.

Aquilo ligou o corpo de Laíssa e o quarto pareceu estar queimando em labaredas gigantescas.

Quando os dedos de Tom escorregaram para dentro do seu short curto, ela se levantou num pulo e voou para o banheiro, permanecendo ali até que seu corpo se acalmasse e esfriasse.

E mais tarde, quando voltou para o quarto, Tom não estava mais deitado na cama, nem os filhos, ela andou até a porta e viu Mateus na cama, e ouvia Diego e Tom conversarem baixo, na outra cama.

Voltou para cama correndo e deitou cobrindo a cabeça, não soube quanto tempo, mas pegou no sono profundo. Também não soube que horas era quando sentiu as mãos de Tom em seus seios.
Quando a ficha caiu, a morena saiu da cama esbravejando pegando um travesseiro e atirou nele com força.

–Eu já disse para não me tocar - ela gritou com ele - Vá dormir no quarto de hóspede.
–Não, vou! – ele respondeu no mesmo tom de voz olhando para os seios da esposa.
–Vai... Pare de olhar dessa forma para os meus seios! – ela ordenou cobrindo os seios – Não quero você na minha cama.
–Sua cama? – ele perguntou debochado.
–Se você não vai, vou eu! – Laíssa pegou outro travesseiro – mas na mesma cama que você, eu não durmo!


– Vou enlouquecer com tudo isso... Que droga! – Ele esbravejou e antes que ela saísse do quarto, ele respirou com raiva, xingando em todos os palavrões em alemão que conhecia, bateu a porta, e depois de segundos, ouviu a porta do quarto de hospede bater também.




Trêmula da cabeça aos pés passando as mãos pelos cabelos e alisou as roupas, esforçando-se para recuperar o fôlego. Quando conseguiu se acalmar, deitou na cama e rolou, rolou e rolou...



Não conseguiu dormir, ela nunca havia dormido sem Tom desde que haviam se casado. O calor do seu corpo másculo fazia falta, sua respiração em seu pescoço, quase gritou de ódio por ter colado o marido para fora, mas não podia recuar.


Então, colocou o travesseiro na cabeça, fechou os olhos e... Esperou a noite passar, sem conseguir dormir.




Na segunda de manhã não o viu sair, a diarista já havia chegado e dava o desjejum aos gêmeos, correndo e com a cabeça latejando, os ajudou a terminar o café da manhã e os levou para o colégio.
Antes de voltar para casa, passou no salão de beleza, fez as unhas e uma escova nos cabelos, chegou a casa correndo, gastou mais meia hora para se maquiar, passou um baton claro nos lábios, sombra nos olhos e terminou com um delineador.
Olhou-se no espelho, comprovou que estava bonita e o mais importante, se sentia muito bonita. Já colocava suas sandálias, quando o telefone tocou.
Atendeu e ouviu a voz de Tom do outro lado da linha:
– Laíssa, ainda bem que a encontrei em casa! – ele começou a dizer desesperado - sinto muito, mas surgiu um problema aqui na loja. Não vou conseguir sair para almoçar com você e nem buscar os meninos. - Ela apenas ouviu e não respondeu nada.
– Você está me ouvindo? – ele voltou a perguntar
–Sim.
– Sinto muito. Podemos ir um outro dia se quiser. – ele se desculpou e perguntou novamente - Você está aí?

– Tudo bem. - engoliu em seco a sua raiva.

E antes de Tom dizer mais alguma coisa, ela desligou.

Laíssa colocou o fone no gancho, suas mãos quase derrubaram o telefone. Só agora conseguia identificar a emoção que a deixava gelada e a fizera tremer. Era pura fúria, pura e cortante fúria, ela não podia lutar.

Laíssa tentou se acalmar, andando de um lado para outro na sala e parou quando viu sua imagem refletida no espelho. Toda produzida para Tom. Mais um vez, produzida e abandonada por reuniões, almoços de negócios e clientes.

O trabalho do Tom sempre vinha em primeiro lugar, foi sempre assim e nunca mudaria.

Isso nunca a incomodou, não até agora.


–Cansei, Tom! - ela disse para sua imagem no espelho - Cansei de migalhas.


Olhou para o telefone, depois sorriu para sua imagem refletida e sem pensar duas vezes, discou os números que apareceu nitido em sua mente.

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog