terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 2


O som da chave na porta. Laíssa olhou o relógio, onze horas. Então, caminhou até a porta para encontrá-lo. Tom estava de costas e ela percebeu que quando ouviu seus passos, ele demorou a virar e encará-la.


Ele não podia ficar parado, de costas, para a porta por muito tempo.


Tom se virou devagar e encarou-a profundamente.


Depois, desviou o olhar pela sala e viu o telefone quebrado no chão.
Seu olhar voltou para os olhos da esposa e sem coragem para sustentá-lo, desviou o olhar.


Sim, ele estava me traindo!



– Muito fiel a sua amiga. - Tom disse a Laíssa
–É uma pena que não posso dizer o mesmo do meu marido – Laíssa rebateu.
– O que pretende fazer? - ele perguntou a olhando, sem se mover um milímetro desde que havia chegado.
–Não sou eu que tem que responder essa pergunta.
–Aquela mulherzinha vulgar. – Tom estava puto de raiva - Se ela tivesse não se intrometido, você seria poupada disso.
–Agora a culpa é da Mônica?
Laíssa o olhou com sarcasmo, não se importando em deixar as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.
– Ela sempre quis acabar comigo, só não imaginei que fosse jogar tão sujo dessa forma. – ele mais uma vez acusou a melhor amiga da esposa.

Mesmo assim, ela continou calada.

–Vamos sentar e conversar. – Tom jogou a chave na mesinha e colocou a mala no canto da sala - Deixa eu explicar e tentar me desculpar.
Laíssa o olhava, parada e ainda sem dizer absolutamente nada.

–Pelo amor de Deus, diga alguma coisa Laíssa!

–Você é um filho de uma puta, eu quero o divórcio e quero você fora dessa casa.

Tom arregalou os olhos, ficou pálido e andou em direção a Laíssa, segurando com força em seus ombros.
– Laíssa... - ele disse com os olhos brilhantes de lágrimas — nunca pensei em...
–Cale a boca! – ela gritou se desvencilhando de suas mãos, o empurrando e se afastando.
Tom tentou se aproximar, mas foi impedido. Então, preferiu não deixá-la mais brava e manteve certa distância.
– Não pode pedir o divórcio. - ele disse angustiado. – Os meninos...
–Eu já pedi para você calar essa maldita boca. – ela pegou o pequeno vaso em cima da mesinha e atirou nele, se estraçalhando na parede, poucos centímetros de seu rosto.
– Você esta louca. - Tom não se intimidou e a puxou pelo braço apertando-a contra o corpo enquanto ela se debatia tentando escapar. - Temos que conversar. — ele a segurou mais forte - Sei que está muito magoada.
–Magoada? - ela parou de se debater e o olhou profundamente cheia de dor e decepção – meu marido anda transando com a recepcionista do seu contador , eu não estou magoada...não... Eu estou puta, com ódio de você... Eu estou com nojo de você.
–Eu não...
–Quantas vezes? - ela gritou descontrolada. - Quantas vezes você fez amor comigo depois de ter se deitado com ela?
– Eu jamais fiz isso! - ele respondeu a apertando em seus braços - Eu te amo, Laíssa - A gargalhada que ela deu o assustou. – Você é a única mulher que eu amo.
As palavras carinhosas foi a gota d’água, e com ódio, ela se soltou de seus braços e o atingiu no rosto com uma bofetada forte.
–Nunca mais diga isso, seu mentiroso desgraçado.

Tom a olhava surpreso com a mão no rosto.

Laíssa sem mais uma palavra, saiu da saia e subiu. Na porta do quarto parou por um momento ficando imóvel, quando ouviu passos no começo da escada, entrou em seu quarto, bateu a porta, trancando-a e escondendo o rosto no travesseiro, chorou até mergulhar num sono causado pelo sofrimento e dor.


Laíssa agradeceu o dia seguinte ser sábado. Desceu as escadas e seguiu para cozinha, Tom estava sentado, olhando fixamente para uma xícara de café.
Ele parecia um “caco”, como se tivesse dormido pouco. Provavelmente passara a noite pensando a fim de encontrar uma solução para a meleca que havia feito em seu casamento.
Ela nem o olhou.
Laíssa abriu a geladeira, pegou a caixa de leite, abriu-a e com uma caneca em mão, derrubou o líquido, ligando o fogo para fervê-lo.
Sentia o olhar de Tom em suas costas.
Quando Laíssa passou perto da mesa para pegar os pães, Tom a segurou pelo pulso.
–Por favor, Lala, olhe para mim.
–Não!
–Fale comigo. – Laíssa tentou se soltar, mas Tom a trouxe para o calor de seus braços e ela não conseguiu segurar o choro. Apertando o abraço, ele abaixou a cabeça e só conseguia dizer:
–Você pode me ouvir? – Tom forçou o abraço para que ela não saísse deles - Olha eu preciso conversar com você, pedir desculpas.
Desculpas? – Nada seria o suficiente, nunca seria como antes. O amor, a confiança, o respeito não existiam mais e desculpas não trariam sua felicidade de volta.
–Eu não quero ouvir nada. - ela disse seca. – E você só vai permanecer nessa casa, por causa dos meninos, mas não fale comigo, não olhe pra mim e principalmente, não me toque.
–Eu sei que te magoei muito, temos tudo a nosso favor se você der outra chance. – ele tentou beijá-la, ela se afastou - Não jogue nossa vida fora por causa de um erro idiota.
– Como você é cara de pau. – Laíssa sorriu triste - Quem jogou nossa vida fora foi você, seu imbecil.

Afastou-se bruscamente do marido que não a impediu.

Laíssa subiu as escadas correndo, abriu o guarda roupa, colocou uma calça jeans e uma camiseta branca, seguiu para o toalete para arrumar o cabelo quando ouviu seu celular tocar dentro da bolsa, o pegou e atendeu.
–Alô?
–Laíssa? - A voz suave soprou do outro da linha. – É Matt!

Ela se apressou em fechar a porta do banheiro.

–Matt... oi - ela entrou no box e correu a porta, fechando-o – Algum problema?
Não. – ele sorriu – Só estou ligando para dizer que... esta tudo bem com você?
–S-sim... Estou bem – ela disse com a voz baixa – por quê?
Sua voz não parece tão bem.
Era tudo o que Laíssa precisava naquele momento, um ombro amigo para chorar, desabafar e falar mal de Tom, xingá-lo de todos os nomes possíveis e impossíveis.

–Eu estou bem sim – ela preferiu responder sem expor seus problemas pessoais, mordeu o lábio inferior para não chorar – E o carro?
Esqueça o carro, estou realmente preocupado com você.
–Nem nos conhecemos, como pode se preocupar comigo? – ela fechou os olhos e se escondeu mais dentro do box.
Não muda nada.
–Esqueça. – eu suspirei.
Olha, eu moro em lugar calmo, tranquilo para sentar, relaxar, beber uma cerveja e desabafar, se quiser posso emprestar meu ombro e um lenço. Você bateu no meu carro, isso faz de nós, pelo menos colegas, venha e deixe eu te ajudar, quem sabe nos passamos de colegas para grandes amigos.

Laíssa apenas sorriu sem dizer nada.

Você esta ainda ai? – ele perguntou, vendo que ela ficara muda. - Venha e ganhe um amigo!
Não conseguiu responder, suas lágrimas impediam de dizer qualquer coisa.

No cartão que eu lhe dei ontem, tem meu endereço, tem meu rosto na internet, joga meu nome no Google– ele fez uma pausa sorrindo com a brincadeira - verá que não sou nenhum tarado sequestrador de mulheres lindas e casadas. – e finalizou o convite – sabe onde me encontrar.
E desligou.


Laíssa chorou por minutos seguidos, soluçou , esmurrou a parede, deixou-se se descabelar, depois enxugou as lágrimas, passou uma maquiagem leve, apenas para esconder o rosto pálido e inchado.

Depois destrancou a porta do banheiro e saiu de seu quarto colocando o celular na bolsa, foi ao quarto dos filhos deu um beijo em cada um, desceu as escadas, pegou a chave de seu carro e quando estava abrindo a porta. Ela ouviu:

–Quem era no celular?
–Mônica. – ela mentiu para Tom.
–O que essa mulher queria?
–Não atendi a ligação, chega de historinhas de traição por essa semana. – ela respondeu áspera.
–Aonde você vai? – ele perguntou olhando para a bolsa e depois para a chave do carro em sua mão.
–Dar uma volta. – ela disse sem olhá-lo – hoje você será a babá.
– Você vai aonde essa hora da manhã? – ele perguntou novamente levantando a voz.
–Não interessa. – ela o olhou por cima dos ombros e pode ver o medo estampado em seu rosto – Esta com medo do que? Que eu dê o troco?

Laíssa bateu a porta, correu até o carro, ligou e saiu da garagem fazendo barulho com os pneus, para não ouvir Tom chamando pelo seu nome.

Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog