terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 3


Laíssa teve de estacionar sua Eco Sport longe do local indicado e caminhar os últimos cem metros através de uma trilha pequena e cercada de grama. A casa ficava numa pequena colina de frente para o mar e ao se aproximar, ela pôde ouvir o barulho do mar.

Parou um minuto para admirar a vista. O lugar era maravilhoso. Os raios de sol faziam a água brilhar, e as nuvens brancas estavam espalhadas no céu azul. Aproximou-se de um portão e olhou para o interior da casa. Nesse exato momento, a voz apareceu atrás dela, assustando-a.

–Juro que vi a Eco Sport preta, não acreditei.

Laíssa ficou quieta, parada junto a porta, temendo que ele tivesse se arrependido do convite. Ele sorriu e tirou os óculos escuros, olhando intensamente para ela.
– Será que estou sonhando? Não me lembro de ter pegado muito sol na moleira. - Seus olhos a examinavam dos pés à cabeça.
– Está arrependido? – Laíssa perguntou sorrindo.
– Arrependido do convite? - ele perguntou também sorrindo - Jamais. Se você for um sonho, então não me acorde!
Entraram na casa, Matt lhe ofereceu uma garrafa de cerveja e então sentou a sua frente e a olhou fixamente quando perguntou:
– Você quer falar sobre o assunto?
– Assunto?
– Não finja para mim, Laíssa. Pode dizer que não é da minha conta, mas sei que não está bem. Não veio para cá para admirar o mar. Você estava fugindo... do seu marido.
–E..eu... Não vim aqui para falar dos meus problemas.
–Sou seu amigo, ou não sou?
– É isso o que você é? – Laíssa levantou os olhos e primeiro olhou para os olhos de Matt, baixou os olhos para as tatuagens em seu braço e depois seu olhar subiu para sua boca molhada de cerveja.
– É isso que você quer que eu seja? – ele perguntou sério e se aproximou pegando suas mãos por cima da mesa . – E o carro, o seu marido falou alguma coisa da batida?
– Não, ele nem sabe... isso é o que menos importa no momento.
– O que ele fez?
–Ele me fez ficar com vontade de gritar e de quebrar alguma coisa.
–O pescoço dele por exemplo. – Matt perguntou sorrindo, acariciando minhas mãos.
– Ele me magoou... Muito! – Laíssa abaixou os olhos com vergonha de seus sentimentos e das lágrimas que insistiam em rolar.
–Ele te magoou e então você veio me ver. Para dar o troco, é isso?
–Não... eu só queria... conversar – Ela disse confusa, puxando suas mãos e se levantando da cadeira. – Acho que foi um erro ter vindo aqui.
–Vamos dar uma volta. – Matt também se colocou em pé, segurou a mão de Laíssa e caminharam juntos para fora da casa, passearam por duas horas pela praia, quase vazia.
–Essa praia quase não tem ninguém. – ela perguntou limpando os pés cheios de areia.
–Sim, o caminho até aqui é muito dificil, muito rochoso e ninguém gosta de caminhar tanto para chegar até esse lugar.
–É lindo aqui.
–Não é mais que você.
–Isso foi muito clichê. – ela disse sorrindo sem graça.
–Pode ser, mais você continua sendo mais linda. – Matt se aproximou e tocou o rosto de Laíssa. – No momento que te vi pela primeira vez, tive a impressão que não tinha mais que dezoito anos.
–É o que todos dizem. - ela deu de ombros – ninguém acredita que tenho 23 anos e mãe de dois filhos de 4 anos.
–E casada. – Matt completou - Você é uma morena muito linda e quase estou me esquecendo que é casada.
–Então, antes que se esqueça, vou embora.
Matt desceu os olhos no decote do vestido de Laíssa, e como se tudo aquilo fosse demais para ele, andou até a janela, olhou para o horizonte e perguntou:
–Vai preparar o jantar para o marido por isso vai embora com pressa?
–Não, tenho dois filhos, que amo muito e que não tem nada a ver com toda essa confusão.

Os dois permaneceram calados, apenas com seus olhares presos, um ao outro.

– Obrigado por vir. – Matt disse quebrando o silêncio.
–Obrigado pela cerveja.
–Volte quando quiser. – Ele acompanhou Laíssa até o carro, onde se despediram.

...


Era quase três horas da tarde quando Laíssa estacionou o carro na garagem e abriu a porta de casa, chamando pelos gêmeos.
–Diego...Mateus! – não ouviu voz de criança, então voltou a chamar – Meninos, a mamãe chegou!
–E a mamãe chegou de onde? – A voz grave surgiu da cozinha.
–Cadê as crianças?
–Sua mãe veio pega-las, já que você sumiu. –Tom se aproximou – Tive que inventar uma mentira para sua mãe.
–Com certeza ela acreditou já que você é ótimo em contar mentiras.
Tom deu um murro na parede e andou dois passos, enfurecido e com a respiração alta, quase encostado seu corpo no da esposa. Estava fora dele.
–Onde você estava Laíssa? – ele gritou.
–Não é da sua conta. – ela devolveu no mesmo tom.
–Onde você estava? – Tom repetiu segurando os pulsos da esposa.
–Por aí. – ela o provocou.
–Por aí onde? - Tom chegou ao seu limite, segurou-a pelos braços e sacudiu-a violentamente.
– Não vou dizer. – Laíssa gritou o desafiando.
–Por que esta fazendo isso comigo? – Tom parecia machucado.
–Você sabe o motivo. – ela respondeu seca.
–Meu Deus, Laíssa onde você estava até essa hora?
–Quem sabe não estava por ai com outra pessoa. – aquilo foi o estopim para Tom.
– Você não fez sexo com outra pessoa. Pare de insinuar que fez.
– Por quê? - Laíssa sorriu para provocá-lo.
– Está me provocando.
– E se eu não estiver te provocando e sim dizendo a verdade? – ela disse sensual vendo o marido arregalar os olhos.
–Você não teria coragem. – ele disse baixo
– Tom, vê se não torra. – ela se desvencilhou de seus dedos - Vou dormir e...
–Não vai sair daqui enquanto não me dizer com quem você estava.
–Desista, Tom! - Laíssa deu as costas para ele, só não contava com a mão grande e forte segurando seu braço.
–Vamos para cima. – Tom a empurrou para a beira da escada.
– Por quê? – ela em um gesto brusco se livrou de sua mão.
– Só sei uma maneira de tirar a verdade de você - Tom passou o braço nos joelhos da esposa e a pegou no colo. Havia um brilho maldoso nos olhos dele.

Laíssa esperneava enquanto era carregada em direção ao quarto.

– Tom, assim não. - ela pediu ao marido chorosa – Pára... Tom... Me solta!

A morena nunca havia visto aquele brilho feroz nos olhos de Tom, nem aquela ira tão grande. Ele entrou com ela no quarto e a jogou-a com força na cama, bateu a porta e a trancou com a chave.
–Abra essa maldita porta. – Laíssa exigiu aos berros.
–Não, até me dizer onde esteve?
–Está surdo? – ela perguntou seguindo em direção a porta, Tom a segurou pelos ombros e a carregou até a cama novamente. – Tom, isso não vai adiantar.
–Isso é o que você pensa. - ele disse abrindo a porta do guarda roupa abrindo uma caixa escondida no fundo da gaveta, uma caixa mediana e preta. – Se não vai falar por bem...
–O que vai fazer? - Laíssa sabia exatamente o que ele guardava naquela caixa, seus olhos arregalaram com medo quando ele se virou. Sua respiração falhou e ela se encolheu na enorme cama. Seus olhos brilharam em lágrimas – Tom, nós não precisamos disso.

Mas infelizmente, era tarde demais...

Postado por: Grasiele

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