terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 20

 –Loucura ou não, será dessa forma. A partir de hoje e nada vai mudar isso.

– Quando é que você fez uma troca de cérebro com um jumento? - Laíssa arrumou a roupa e pegou sua bolsa e antes de sair da sala mancando, ela o ameaçou:

– Não vou sair dessa casa e encoste a mão novamente em mim e acabará sem poder andar durante um bom tempo.

E saiu batendo a porta com força.

Laíssa tinha acabado de chegar ao hospital para visitar o filho, seu tornozelo doía bem menos, depois da bela massagem que Tom havia feito. Deliciosa! Ele sempre foi muito bom nessa parte, sempre habilidoso com a língua. Fechou os olhos tentando afastar tais pensamentos e a língua quente, molhada e...

–Senhora, seu crachá! – a recepcionista estregou o crachá, sorrindo.

Ela voltou a terra, pegou o crachá do hospital e abriu a bolsa para guardá-lo, estava com o olhar preso dentro da bolsa quando Laíssa ouviu seu nome. Virou rapidamente e então, ele a segurou forte e a trouxe para juntos de seus braços, abraçando-a.

– Laíssa, vim correndo quando você me ligou. – Matt disse apertando-a mais em seus braços.

A morena observou a mãe pelo canto dos olhos, receosa. Miranda estava parada perto da porta observando-os. Laíssa sorriu sem graça e apresentou-a ao amigo.

–Mãe, este é um amigo, Matt. - ele estendeu a mão para Miranda. Ela apenas olhou a mão dele estendida e num tom seco comentou:

– Como vai, Matt? - ela apertou a mão e a soltou rapidamente, como se aquele toque tivesse incomodando - Nunca ouvi falar do senhor.

Ele olhou para Laíssa sem saber o que dizer, até onde poderia falar, até onde a mãe sabia da sua amizade com a filha, vendo a morena balançar a cabeça em negativo, entendeu a indireta e tentou ser gentil.

– Pois eu ouvi falar muito bem da senhora. – ele lhe deu o melhor sorriso querendo conquistar a senhora, como fez com a filha. - E sobre a operação e internação do seu neto. Sinto muito, já disse a Laíssa que estou à disposição para o que for necessário.

– É muita gentileza sua. – ela não se abalou com o sorriso e respondeu ríspida. - Mas meu genro, o marido da minha filha, já tomou todas às providencias e não precisaremos de nada.

– Sim, claro. - ele disse, entendendo a direta.

– Vou subir e ver como está Diego. – Miranda mediu-o de cima a abaixo e se virou para a filha. - Não demore a subir!

–Eu já vou, mãe. – ela disse vendo-a seguir sem dizer ao menos tchau para o amigo, não sabia o que dizer, nem o que fazer diante da falta de educação da mãe.


Matt esperou que Miranda pegasse o elevador para depois sorrir para Laíssa, colocou as mãos nos bolsos da calça jeans, abriu um imenso sorriso e falou:

– É impressão minha ou ela me adorou?

–Sinto muito. – Laíssa teve que sorrir da brincadeira. – Ela é fã incondicional de Tom, acha que ele é um bom pai, ótimo marido, excelente genro, um super herói!

– Tudo bem. – Matt deu uma piscada. – Não estou aqui por ela. Vim correndo quando me ligou, fiquei realmente preocupado com o seu filho.
–Desculpe, eu liguei por que quando acordei... Você já não estava mais lá.
– Eu que peço desculpas, saí correndo. Eu tinha esquecido que tinha uma reunião. Perdão por ter te deixado. – Ele deu um passo aproximando nossos corpos e falando próximo ao meu rosto, quase num sussurro. - Você não sabe como me odiei por tê-la deixado apenas com a minha camisa e sozinha na minha cama.
– Matt, nem sei como fui parar na sua cama e sem roupas intimas. – ela engoliu a seco diante daquele corpo grande perto do seu.

– Foi difícil trocá-la... Foi difícil pra cacete! – ele sorriu descaradamente. Sim, ele era excessivamente descarado! – Fui trabalhar com essa visão. Não imagina como foi passar a manhã sentindo seu cheiro e com a imagem do seu corpo nu em minha mente. – ele deu mais um passo e nossos corpos se esbarraram - Juro que quase pensei em ir ao banheiro e fazer uma bela homenagem a você.

Por que ele sempre falava essas coisas?

– É... - Ela deu um passo para trás, descolando os corpos. Sem graça. – Obrigado por ter vindo ao hospital! - Laíssa disse desviando o olhar, sentindo seu rosto pegar fogo.

–Vim para lhe ajudar. – ele disse mudando se assunto sentindo o desconforto dela.

– Diego esta ótimo, foi muito mais o susto.

– Ótimo! - Ele encarou Laíssa firme nos olhos. - Vou embora, tenho algumas reuniões agora na loja.

Ela o acompanhou até a porta do hospital que abriu automaticamente. Matt pegou o braço dela e apertou sua pele sem machucar, seus olhos eram suplicantes, atordoados e desesperados e a tensão entre eles chegava a ser palpável.

– Tivemos uma noite maravilhosa foi uma pena que passou mal, mas dormir na mesma cama, foi muito intenso e me senti realizado. - Ele disse fixando seus olhos nos lábios dela. - Gostaria de poder tomá-la nos braços aqui e agora... - Ela retraiu-se diante a esse comentário. Ele a segurou firme. - Não precisa fugir de mim, Laíssa. Não vou tocá-la. Não aqui. – ele a segurou pelo cotovelo e se afastou para um canto fora do hospital - Eu não planejei isso, você sabe. Mas não vou fingir que estou arrependido do que aconteceu. Só fico puto que tenha que ser dessa forma. Não quero te prejudicar, não quero que seu marido descubra da pior maneira que estamos nos vendo escondido.
– Tom já sabe.



– Você contou?

–Ele meio que adivinhou. – Ela deu de ombros - E eu tive que contar que somos amigos.

– Apenas amigos... Ainda. - suas sombracelhas subiram com ar de malícia. - Como foi que Tom encarou?

–Como esperava que encarasse? - Torceu seus lábios, lembrando-se da cena de ciúmes que Tom havia feito.

– O que vai acontecer daqui para frente? - Seus olhos estreitaram-se e seu rosto ficou sério. Não voltou a tocá-la, mas ainda assim, existia algo íntimo, quase possessivo, em sua pergunta. - Vamos voltar a nos ver, a nos falar... ou algo assim?
–Acho que algo assim! - Ela o olhou firmemente nos olhos, com um aperto no coração. - Está tudo muito confuso, tudo muito... Louco! - Falou agitando as mãos exageradamente num surto de nervosismo. - Éramos uma família feliz, um marido que me amava, uma casa harmoniosa e de um dia para outro, após um maldito telefonema... ACABOU! - Com a voz rouca e falha concluiu. - Minha vida que era maravilhosa, virou... Isso!

– Um telefonema? – ele perguntou sem entender.

–Matt, realmente eu preciso ir. – Ela não queria soar mal agradecida com o homem que a ajudou quando mais precisou - Não vi meu filho ainda depois da operação e não queria que Tom nos visse juntos. – ela ajeitou a bolsa no peito para dar um certa distante entre eles - Tudo foi difícil para nós e se ele te visse, se nos víssemos juntos minha situação complicaria e não quero isso, não agora.

–Sem problema, só peço que me dê notícias de Diego e principalmente suas. Estou no campo ainda e enquanto não me der o cartão vermelho, estou na jogada e estou nessa para ganhar.

Matt lhe abraçou com força e uma calorosa sensação de conforto espalhou-se por seu corpo. Aquela preocupação constante e genuína do amigo ainda estava no mesmo lugar. Aquele cheiro de mar continuava em sua pele, ela inalou e tentou segurar o maior tempo possível em sua corrente sanguínea. Gostava dele, adorava o jeito que ele a confortava e a fazia se sentir única no mundo. Era um ótimo amigo. Amigo.


– Obrigada, Matt. - Seus olhos estavam rasos d'água. - Sinto muito por lhe envolver em toda essa confusão. Você realmente seria alguém que eu me envolveria e me entregaria se não fosse...

–O seu marido! - ele revirou os olhos irritados, era sempre assim quando falava de Tom, sempre com essa raiva exacerbada.

–Eu te telefono, e depois devolvo a camisa e as havaianas.

–Fique com tudo o que é meu.

Não, ele não estava falando sobre a camisa e havaianas.


Então, ele se foi.

Laíssa entrou no hospital, cega pelas lágrimas. Subiu pelas escadas, fechou a porta e encostou-se ao batente, respirando fundo para conter a vontade de chorar. Chegou ao quarto do filho, Diego estava deitado, num sono profundo e com o rostinho bem mais coradinho e saudável.

Aproximou-se da cama, debruçou-se e chorou abraçada ao filho, que estava bem, porem ainda permanecia dormindo. Agradeceu por ser assim, dessa forma não poderia ver como a mãe estava descontrolada e confusa.

O choro veio mais violento.

Chorava não apenas pela operação.

Chorava por Tom, Matt, Mônica, Raquel e agora por seu filho.

Chorava por tantas pessoas e soltando um soluço dolorido, chorou por ela mesma.

–Esta fazendo uma grande burrada. – a voz veio da porta do toalete.

–Mãe, que susto! – ela levantou e limpou as lágrimas com as costas das mãos.

–Ouça meu conselho por que depois pode ser tarde demais.

–Ai, não mãe! - eu suplico por misericórdia. Tudo o que eu não precisava, naquela hora era de um sermão.

– Tom te adora, ele te venera, te ama e não é pouco. – Ela começou a falar ignorando meu rosto inchado e minhas súplicas. - E nenhuma fofoca vinda de uma mulher rejeitada e mal amada vai me fazer mudar de opinião. Tome sua linha, Laíssa Kaulitz! Não gostei nada em ver esse seu amigo vir aqui no hospital, todo audacioso. Sabe que é casada. O que veio cheirar aqui?

–Não sou mais casada! – Laíssa ergueu o olhar e disse a mãe.

–Perante a lei você é. – A mãe devolveu sem dó - Não criei filha minha sozinha para ela virar uma “Mônica“ da vida.

Laíssa baixou os olhos diante da bronca da mãe, ela nunca havia atacado Mônica tão bruscamente.

–Cuidado, Miranda! – a outra voz ecoou no quarto. – Fale mal de mim, mas não da sua melhor amiga.

Miranda sorriu amplamente, e praticamente se jogou nos braços do genro.

Realmente! – Laíssa revirou os olhos vendo aquela cena toda de amor entre sogra e genro. Miranda agradava mil vezes mais Tom do que a filha.


Tom andou até a cama, beijou o filho que dormia. Falou poucas palavras com a sogra, que saiu do quarto em busca da máquina de café. Foi então, que olhou para a esposa. Encarando-a.

–Que foi? – ela perguntou inquieta ao marido.

– Então, quer dizer que o seu amantezínho não conseguiu ficar longe de você hoje? - pela voz de sarcasmo, era nítido que ele havia escutado toda conversa entre mãe e filha.

Era só que me faltava! - Tom teria mais uma carta contra ela. E jogaria em sua cara toda vez que ela pisasse em seu calo. – Que merda!

–Está completamente enganado. Só veio perguntar se precisava de ajuda. – ela tentou parecer normal, segurou suas mãos para que parassem de tremer.

– Que gentil da parte dele! Então ele veio apenas para oferecer sua ajuda e mais uma vez o seu ombro amigo?

– Sim, foi isso mesmo. - Tinha noção que não soava convincente, mesmo porque esse não tinha sido o único nem o principal motivo da vinda de Matt. Mas não iria contar a Tom o que haviam conversado, pois isso só agravaria a situação entre eles.

–Você é uma grande mentirosa - ele disse, aproximando-se dela. – Ele veio aqui para pegar seu pedaço do osso.
–Osso? - Ela recuou um passo, furiosa. - Esta se referindo a mim, como um pedaço de osso?
–Entendeu o que eu quis dizer! Não se faça de boba.
– Sou boba sim, fui enganada por um corruptor de menores, filho da puta que tem a testa maior que o maldito caráter.
–Minha testa não a incomodava tanto.
–Pois é eu era uma babaca sonhadora e não via seus defeitos. – Ela sorriu cínica - Ainda bem que acordei a tempo.

– Esse despertar se deve ao ombro amigo do seu amante?

Ah... Bastardo! Jogava baixo... Sempre!

Laíssa baixou os braços, virou-lhe o rosto para que não notasse como a deixava fora de si. Ele pegou-lhe o queixo nas mãos com força e seus olhos queimaram os dela.

– Já disse para não encostar em mim ou vai assinar seus cheques com os dedos dos pés. - Ela o afastou bruscamente.

– Não quero saber dele perto dos meus filhos, entendeu? - ele contra-atacou cheio de fúria, falava baixo, mas a raiva era evidente em sua voz - Nunca mais o convide quando estiver na presença dos meus filhos.


– Mas que saco! Eu não o convidei e se tivesse convidado? Quem é você para...

– Tome cuidado - ele advertiu, com um brilho perigoso no olhar. - Veja lá o que vai dizer!

–Não me ameace Tom! - Ela levantou o queixo e esbravejou - Não esqueça que estamos separados e não temos nada mais um com o outro.

– Não? – ele riu - Engraçado há menos de duas horas eu estava no meio de suas coxas com a língua de fora te fazendo gozar feito uma cadelinha no cio.

–Não seja vulgar. – Laíssa pediu olhando para porta com medo que alguém o ouvisse.
–Posso pedir o mesmo favor a você, esposa querida! - Tom devolveu com aquele deboche que só ele sabia destilar.


Ela estava pronta para mandá-lo se ferrar, com todos os r possíveis e impossíveis. Mas olhou para o filho, o pequeno corpo deitado na cama, não podia seguir com aquela discussão diante dele, mesmo dormindo.

– Tom, por favor! Pare com isso! - ela bufou cobrindo os olhos doloridos com a mão trêmula. Aquilo realmente estava cansando. Deixando-a esgotada e frustrada. - Sei que está zangado, mas...

– Zangado? Meu amor, você tem um talento especial para não enxergar a gravidade das situações. - Ele encostou seu corpo no dela, ameaçando-a não com palavras, mas com o olhar frio e perigoso - Eu estou puto mesmo e a ponto de quebrar a cara desse filho de uma puta metidinho à surfista!

–Por favor! Não quero brigar na frente de Diego. – ela fechou os olhos e pediu, baixando o tom da sua voz - Não quero brigar, não gosto de brigas!

– Sério? – ele levantou uma sobrancelha – Por que sempre abre uma exceção para mim?

–Por que sempre me irrita e me tira do sério como ninguém mais faz. - ela passou a mão na têmpora tentando aliviar a forte dor de cabeça - Por Diego, não quero discutir mais.

–Comovente essa sua postura de ótima mãe zelosa.

–Vá à merda e... Ache o que quiser. – ela se afastou dele, puxou uma cadeira e sentou ao lado do filho. - Será que pode mesmo atirar a primeira pedra? Fica aí com essa atitude de macho, acusando a sua mulher de pecadora e infiel, adotando essa atitude de santo. – Quem começou a nos levar para o buraco foi a sua infidelidade quando passou a comer a secretária do seu contador.

Aquilo lhe machucou como uma adaga no peito. Tom levantou as mãos até a cabeça e passou na nuca, esticando depois os braços como que para aliviar os músculos de toda a tensão daquele dia. Depois, levantou a cabeça e olhou para ela:


–Incrível! Estamos casados há quase cinco anos e você não me conhece realmente, se jogou na cama de um imbecil para se vingar de uma fofoca estúpida e maldosa que sua amiguinha fez ao meu respeito. Francamente, Lala!

–Raquel esta grávida.
–Sim, e acha que esse bebê é meu? – Tom perguntou já crente da resposta.

Ele tentou olhá-la nos olhos, mas Laíssa tinha a cabeça baixa e segurava as mãos pequenas do filho.

– Acha que eu sou o pai do filho que Raquel carrega. – Isso não era uma pergunta - E baseado em que? Que atitude minha te levou a crer tamanha estupidez? O que já viu errado em minha atitude com seus próprios olhos, eu já esqueci meus filhos com Bill para beber com os amigos? Já passei a noite fora e quando voltei, estava sem cueca e parecendo um bife a milanesa, ou Raquel veio aqui no hospital oferecer seu ombro amigo? - Deu um longo suspiro, como vinha fazendo com frequência nos últimos tempos. Havia olheiras e uma expressão de cansaço em seu bonito rosto. - Não me lembro de ter feito nada, absolutamente nada dessas coisas e ainda assim acha que o filho que Raquel carrega é meu. – ele balançou a cabeça, incrédulo - Sabe quer ser tão adulta, madura e independente e acaba sempre agindo como uma criança boba, perdida e manipulada.

Tom foi até a cama, deu um beijo carinhoso na testa do filho virou as costas e antes de sair ouviu Laíssa perguntar:


– Aonde vai? – a pergunta saiu de seus lábios e ela se arrependeu amargamente.

–Se eu falar que vou trabalhar vai acreditar em mim? – ela penas o olhou e nada respondeu - Foi o que pensei! Preciso trabalhar dobrado, afinal, terei outra boca para sustentar. – ele a olhou sério e ao mesmo tempo triste. – Volto mais tarde para levá-los para nossa casa.

A porta se fechou, seu celular vibrou no mesmo instante Laíssa olhou para o visor antes de atender.

Problemas– Leia-se: “Mônica”
Postado por: Grasiele

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog