terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 24


Até o outro dia, na Segunda à tarde.

Tom terminava uma reunião com o gerente de sua loja do Rio de Janeiro, quando o telefone tocou.

– Tom, não consegui entender o que essa senhora dizia. – a secretária disse nervosa.

–Passe a ligação. - Um arrepio gelado percorreu sua coluna. Alarmado, atendeu. - Miranda, o que houve? Não entendo o que diz. Fale devagar!

–É Laíssa... Oh Deus... Tom... Venha rápido!

Tom deixou a loja sem ver nada e dirigiu feito louco para casa. Quando parou o carro na garagem Miranda já esperava no jardim, e veio ao seu encontro chorando e desesperada.

– Ela está lá dentro, trancada no escritório. – Miranda explicou aos prantos – ela não abre, não responde... Estou com medo que ela faça uma loucura.

–O que houve?

–Não sei, ela entrou no escritório bufando, chorando e xingando você. Pensei que vocês tivessem feito às pazes esse fim de semana.

–E fizemos. - ele respondeu pensativo, não entendo a atitude da esposa. – Mônica ligou para ela?

–Não que eu saiba. – a mãe respondeu franzindo o cenho tentando lembrar se a cobra havia ligado para a filha. –Não, Mônica não ligou.

–Vou entrar e amansar a onça!

–Tome cuidado. – Miranda pediu segurando o genro pelo braço - Vou pegar os meninos e dar um passeio para que possam falar sem interrupções, se precisar ligue para o meu celular.

Tom beijou a sogra na testa com carinho e entrou na casa, foi direto para o escritório e bateu na porta devagar, chamando por Laíssa.

–Vá embora! – ela gritou dentro do escritório.

–Abra essa porta! – ele gritou de volta batendo na porta com mais força.

–Me deixe em paz! – ela voltou a gritar.

Tom correu no quarto do casal abriu sua gaveta de documentos, pegou uma chave reserva e voltou correndo para sala, abrindo a porta do seu escritório.

Quando abriu a porta encontrou Laíssa sentada em sua cadeira, atrás da enorme mesa, com os cotovelos nela e os olhos cobertos pelas mãos, aos prantos. Aquela cena cortou o seu coração, o que havia acontecido para que ela estivesse daquele jeito. Aproximou-se com cuidado e a chamou com a voz baixa e carinhosa.

–Lala?

–Vá embora, Tom! - ela soluçou. – me deixe sozinha.

Nunca vira a esposa naquele estado, tão abatida que nem conseguia dizer qual era o problema. Colocou as mãos nos ombros delicado dela e acariciou-a, tentando imaginar o que poderia ter acontecido.

A imagem de Mônica passou por sua mente e sentiu ódio em pensar que a mulher que tanto amava poderia estar naquela situação por mais uma mentira da suposta melhor amiga.

Se fosse essa víbora, ele a mataria dessa vez.

– Laíssa - Tom abaixou e a abraçou, passou a mão pelo cabelo dela e beijando-a na testa com carinho - Por favor, fale comigo! Por que esta chorando? Por que esta dessa forma?

Ela baixou a cabeça, encostando a testa na mesa e chorou.

Sem saber mais o que fazer, Tom pegou-a no colo e a levou para o sofá, sentando-a em seu colo e tirando os cabelos de seu rosto molhado.

–Foi Mônica? –Tom perguntou beijando as lágrimas no rosto da esposa.

–Foi você! - ela soluçou de repente e tirou as mãos dele de seu rosto.

Mas o que? O que ele havia feito?

Tom tentou lembrar-se dos últimos dias, querendo descobrir o motivo de tanto desespero. Não conseguia pensar em nada. Tomara muito cuidado para não magoar a esposa. O final de semana foi maravilhoso.

–Você é um idiota... - ela o atacou - Como deixou isso acontecer.

– O que eu deixei acontecer? - Os soluços ficaram mais fortes e Tom tomou o controle da situação, segurou o seu queixo obrigando-a encarar. - Pare de chorar e vamos conversar.

Ele elevou o tom de voz, e ela aumentou o choro. Ele puxou o lenço do bolso e enxugou as lágrimas. Colocando as duas mãos no rosto de Laíssa forçando-a falar.

– Fale Lala! - ele disse baixando o tom de voz - vamos conversar, quero saber por que sou um idiota. – os olhos dela se ergueram e se olharam – se não falar, como posso te ajudar, meu amor?

Os lábios de Laíssa tremeram.

– Estou grávida. - ela o encarou e deu um tampa forte no ombro do marido - Estou grávida e a culpa é toda sua. Por que quando começamos você ficou responsável de se prevenir por que eu não podia tomar pílula ou injeção. – ela bateu em seu peito com força. - Você é um idiota e eu uma burra.

Ele não falou nada, ainda estava com os olhos arregalados olhando para a esposa.

– Eu, hoje de manhã enviei um monte de currículos, liguei para alguns velhos contatos para dizer que estava iniciando minha vida profissional novamente e... e agora... começar tudo de novo! – ela fungou triste – fui buscar os meninos na escola, vomitei na porta da escola, ali caiu minha ficha e resolvi fazer um teste de farmácia.

–Teste de farmácia pode errar.

–Um sim, mas não três! - ela se levantou e atacou uma almofada nele, com raiva. – você devia ter me lembrado da camisinha, depois dessa bomba da Mônica sobre a sua traição, nunca mais tive cabeça para pensar em prevenção, fazíamos sempre correndo ou brigando e... Vamos ter mais um filho e a culpa é toda sua, seu desgraçado.

Tom escondeu o rosto no pescoço dela, para esconder o imenso sorriso. Estava transbordando de alegria, pedia outro filho para Laíssa há um ano e ela relutava em atendê-lo.

– Sabe o que isso significa? Que você conseguiu o que queria me deixar enfornada nessa maldita casa pelo menos por mais dois anos. Você deve estar muito feliz com essa notícia. Não vou mais poder sair, não vou poder mais me tornar uma mulher independente, vou continuar socada dentro dessa casa... Esta feliz?

–Lógico que estou! - Tom dessa vez não disfarçou a risada. – estou imensamente feliz, não por que vai ficar enfornada ou socada dentro de casa e sim por que vamos ter mais um bebê e isso é maravilhoso.

–Vamos ter? - Laíssa fechou os olhos sorrindo fraco - quem vai ficar gorda e vomitar feito uma louca, como a garota do exorcista, será eu.

–E eu estarei aqui ao seu lado para te ajudar a colocar os sapatos, abotoar sua blusa, passar óleo em sua barriga imensa e te dar bolacha água e sal contra os enjôos. Vou ficar do seu lado, se precisar, vinte e quatro horas do dia, sete dias da semana, quero estar ao seu lado em todas as consultas em cada ultrassom.

–Preciso ir ao um laboratório. – ela sentou no sofá novamente ao lado de Tom. – Quero fazer o Beta HCG e ligar para o meu ginecologista e começar o pré-natal.

– Vá lavar esse rosto lindo que vou te levar para o laboratório e tente marcar a consulta amanhã, irei com você.

–E a loja?

–Pago muito bem ao meu gerente para tomar conta enquanto não estou. – ele sorriu beijando os lábios dela – minha prioridade agora é você e os nossos filhos. Nada é mais importante que a minha família.

Ficaram em silêncio, se olhando, pensativos. Ela deu um sorriso fraco, ele acariciou seu rosto, Laíssa encostou-se nele, que passou a acariciar o seu cabelo, depois desceu e colocou as mãos embaixo de sua camiseta e tocou sua barriga, onde beijou com amor.

–Agora, vá se trocar, faremos o exame e depois com ele em mãos, sentaremos e contaremos para a nossa família e depois sairemos para comprar uma casa bem maior que essa.

–Não dou conta nem dessa casa quanto ma...

–Shhiiiiiiuuu - ele a segurou pela nuca e a beijou na boca – dessa vez será do meu jeito, vamos contratar uma ajudante a mais para a casa e outra para quando o bebê nascer.

–Não quero um bando de mulher dentro da minha casa babando pelo meu marido! – prefiro cuidar da casa, das crianças e ainda pintar cercas, equilibrada em uma perna só, a ter mulheres aqui sonhando ou suspirando por você.

–Então foi por isso que nunca quis ajuda com os meninos? - ele sorriu divertido.

Laíssa baixou o olhar envergonhado.

– Toda vez que eu estava entrevistando uma babá e você aparecia os olhos delas brilhavam, o sorriso brotavam nos lábios e eu já sabia o que elas estavam pensando.

– Não acredito no que estou ouvindo. – ele gargalhou.

–Dessa vez só vou querer senhoras acima de cinquenta anos e que já são avós. - ela também sorriu.

–Pra mim, não faz diferença, eu só tenho olhos para uma morena linda com o corpo mais delicioso que eu já vi em toda minha vida.

–E que daqui três meses esse corpo estará roliço.

–Roliço, lindo, gostoso e o melhor disso tudo ainda será só meu. – Tom a trouxe para mais perto e a enlaçou por um instante carinhoso, prolongado, beijando repetidas vezes seus lábios, baixando o olhar, beijou cada nó dos dedos dela, segurando o último contra os lábios por longos torturantes momentos antes de murmurar:

– Quer ver isto ficar melhor?

– Como pensa em fazer isto? - ela perguntou, fechando os olhos de prazer - Com um beijo?

– Não apenas um beijo. - Ele se aproximou mais dela, abraçando-a trazendo-a para junto de seu corpo.

–Será que podemos?

–Sim, eu prometo que vou bem devagarzinho...

E ele fez bem devagar.

Fez com que aqueles minutos ela se sentisse muito melhor, mais tranqüila e amada. Tom a beijou dos pés a cabeça, parando demoradamente em seu ventre, passando a mão e olhando com veneração junto da promessa de que nunca iria deixá-la, ver o seu sorriso e sentir a força do prazer dela o arrebatou. O tempo parou de existir quando ela enlaçou seus braços e deitou sua cabeça em seu peito.

– Obrigado por mais esse presente. - Ela estremeceu ao ouvir as palavras que ele sussurrara, encostado em sua testa suada. – Você me faz feliz, me realiza e tudo o que eu fizer para mostrar o meu amor, para provar que você é minha, jamais será suficiente. Eu achei que antes eu a desejava tanto quanto era possível. Mas agora, sabendo que mais um filho está crescendo dentro de você não sei se consigo amá-la mais... Acho que é humanamente impossível.

Ele demorou alguns instantes para conseguir soltá-la, a preocupação substituindo a satisfação e a felicidade ao vê-la respirar agitadamente e com novas lágrimas nos olhos. Ele sentou-se, tomou-lhe o rosto entre as mãos e a fez olhar para ele.

–Você fez a minha vida valer à pena. Eu a amo em todos os sentidos... Eua amo com todo o meu corpo!

–Tom... - Grossas lágrimas caíram de seus olhos vermelhos e ela soluçou. – Te amo e estou feliz por esse filho... Estou feliz por nós... Muito feliz de verdade!

Tom sorriu com os olhos rasos d’água, ela se aproximou e afogou seus cabelos negros, depois em seus lábios, sentou em seu colo e o beijou com paixão e desespero, Laíssa se deixou chorar sendo amparada pelo marido. Lágrimas de felicidades, finalmente, substituíram as de tristeza, incertezas e de medo.

Ainda ficaram alguns minutos um nos braços do outros, depois tomaram banho e seguiram para o laboratório, já com o resultado em mãos, contaram para os filhos, para Miranda, Jörg e Bill, que felizes saíram para jantar num restaurante perto do parque do Ibirapuera, pediram champagne e quando as taças foram preenchidas e erguidas para o grande brinde, uma voz fez com que todos os rostos parassem e a olhassem para o lado:

– Ora... Ora... Estão brindando e não vão me convidar?

Postado por: Grasiele

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