terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reparação - Capítulo 27 - Final


Os gêmeos abandonaram Laíssa e correram para o pai. Bill correu para ajudar a segurar a árvore. Tom despencou no chão, sufocado pelos gêmeos que riam e gritavam em cima do pai. Laíssa sorriu ao ver a guerra no chão da sala. E foi então que enxergou que sua família estava de volta.

–Eu me rendo! - Tom gritou brincando. - Ajude-me, Lala! Socorro!

Com cuidado, para não cair em cima deles, ela pegou Mateus em um braço e, com o outro, puxou Diego. Ele levantou-se e beijou-a na boca e quando a morena gemeu de dor e se afastou colocando o dedo nos lábios, Tom segurou o seu queixo e franzindo a grossas sobrancelhas perguntou.

–Que diabo é isso em seu lábio, Laíssa?

– Quem machucou o seu lábio? -Tom perguntou novamente vendo a esposa baixar os olhos e colocar o dedo indicador no lábio machucado. – Não acredito que aquele... Aquele desgraçado fez isso?

–Ele perdeu o controle. – ela balbuciou.

–Vou matá-lo! - Tom se aproximou e segurou o rosto de Laíssa entre as mãos. - Foi aquele seu amiguinho da praia, não foi?

–Tom, sou eu agora que peço calma. – Laíssa segurou as mãos de Tom com as suas.
–Foi ele? – Tom questionou de novo.
–Sim, faz tempo que eu não o vejo e hoje ele apareceu no Ibirapuera.
–Nossos filhos estavam lá?

–Sim. – Laíssa viu Tom ficar vermelho e suas narinas aumentarem. - Esta tudo bem. Meu amor esta tudo bem! Mesmo! – Sabia que não estava nada bem. Que Matt poderia trazer mais problemas. Que ele poderia lhe atingir outra vez, viu isso em seus olhos naquela manhã no parque. - ele não vai mais nos incomodar. Vamos mudar daqui depois do ano novo, podemos nos livrar de tudo isso, deixar tudo isso em uma lixeira e seguir em frente, deixando tudo isso para trás.

–Olha o seu lábio. – Tom se aproximou e beijou o lábio machucado da mulher.
–Esqueça Tom... Por favor! - Tom ia matá-lo, estava cego e andava de um lado para o outro da sala. – vamos focar em nossa família, por favor. Vamos jantar, ver um filme com os nossos filhos. Vamos esquecer esses últimos meses... Por favor, vamos esquecer.

Ela tremia dos pés a cabeça. Passou a mão em sua barriga.

Tom olhou para o gesto, ficou com medo que ela tivesse alguma reação que fizesse mal ao bebê. Tudo agora girava em torno do bebê. Se fosse outros tempos, sairia dali e socaria Matt e depois acertaria as contas com Mônica.

Mas tinha que pensar no bebê.

– Venha se sentar. – Tom segurou sua mão e sentou no sofá, depois a colocou em seu colo. - Não quero você tão nervosa dessa forma.

–Prometa-me que não vai fazer nada. – Laíssa deitou a cabeça no peito de Tom. – Um dia... Um dia tudo será acertado.

Nesse momento o celular de Tom tocou se mexeu com dificuldade para tira-lo do bolso da calça jeans. Falou primeiro em português, depois em alemão, quando desligou, trouxe o rosto da esposa para perto e deu um beijo delicado na boca dela.

–Preciso sair agora, descanse, não pense em mais nada. – Tom a levantou com cuidado. – Tente não sair de casa.
–Não podemos viver acuados.
–Só hoje... Só por hoje, Laíssa. – Tom mudou seu semblante para preocupado.

Tom a beijou no topo da cabeça, virou pegando a chave do carro e deixou a casa.

Laíssa começou a empacotar algumas coisas, brincou com os filhos no jardim e depois assistiu um filme, estava inquieta, algo a incomodava, estava se sentindo prisioneira em sua própria casa. Seu coração apertou, ela precisava sair daquela casa e respirar ares diferentes.

Um barulho na porta a fez girar a cabeça.

–Ótimo! - ela disse levantando correndo para a porta, com um imenso sorriso no rosto. – Mãe, vamos dar uma volta?
–Minha cabeça esta me matando, filha! – Miranda lhe deu um beijo demorado na bochecha.
–Queria ver alguns vasos para a casa nova. – Laíssa disse a mãe triste.
–Vai! - a mãe sorriu para a filha – eu fico com os meninos, aproveito e faço o jantar.

Tente não sair de casa. – A ordem de Tom veio em sua cabeça. Ela pensou por alguns segundos. Não aguentaria ficar ali esperando e remoendo, tinha algumas coisas para resolver e para comprar da nova casa.

Por fim, decidiu sair.

Permaneceu na loja de decoração por duas horas, comprou alguns vasos, alguns enfeites de Natal e fez algumas encomendas. Estava do lado de fora colocando as compras no carro com a ajuda de um entregador, deu-lhe uma boa gorjeta e quando sentou no banco do motorista e deu a partida, algo na rua a fez parar e tirar os óculos escuros.

–Mas... O que essas duas estão aprontando?

A cena era a seguinte: Mônica encostada no seu carro e Raquel aos prantos, a víbora lhe dando um envelope, e pelo fato de ter jogado o envelope nela, Mônica parecia nervosa e muito alterada.
Raquel mantinha a cabeça baixa e a balançava de um lado para o outro. O desespero era nítido nas ações dela, que apertava as mãos de forma apreensiva.

Ela chorava muito.

Monica gritou algo e a pegou pelo braço direito, abriu a porta do seu carro e praticamente a jogou dentro do carro, com força. Batendo a porta do passageiro com brutalidade.

Laíssa passou da raiva para o desespero, e então finalmente para o desejo de destruição. Toda sua fúria concentrava-se naquele carro, ela tinha que segui-lo e tinha que saber o que estava acontecendo. Tinha certeza, que Mônica não agia de boa fé com Raquel.

Daquela vez não faria vistas grossas. Não iria ficar calada nos bastidores como uma gatinha espantada. Não ia deixar que Mônica fizesse mais uma de suas maldades, nem agiria como uma cega diante de outra armação da ex- amiga.

Tinha certeza que Raquel corria perigo e ela ia ajudá-la.

O carro de Mônica andou. Laíssa deu a partida e começou a seguir o carro, seus olhos estavam fixos e não piscavam, e quando Mônica parou na rodoviária, a porta do seu carro abriu. Mônica desceu e abriu a porta do passageiro praticamente arrancando Raquel de dentro dele, abriu o porta malas, tirou uma bagagem e jogou nos pés de Raquel.

Depois disse algo apontando o dedo para o rosto de Raquel, depois apontou para a barriga da pobre moça que ainda chorava. A ex- amiga virou as costas, entrou no carro e partiu.

Ela desajeitada pegou seu celular e com dificuldades ligou para o marido.

–Oi, Lala! - Tom disse numa voz baixa e doce.

–Tom você tem o número do celular da Raquel?

–Que? - Tom berrou do outro lado.

–Tom, ligue para a Raquel.

–Laíssa, não tenho o celular dessa mulher, nunca falei com ela fora do...

–Tom, ligue para a contabilidade e tente o celular dela... Ela precisa de ajuda. Ligue para o celular dela e ajude-a agora!

–Laíssa o que esta fazendo? - Tom gritou.

–Algo que eu devia ter feito há muito tempo.

Laíssa, não! - Tom gritou mais uma vez – Laíssa, onde você esta?

–Tom, vá ajudar Raquel. – ela gritou mais alto que ele e desligou.

Não percebeu mais a noite estava chegando e com ela a dificuldade em seguir o carro, tinha que se concentrar na perseguição e nos carros em volta. Colocou a mão na barriga, pensou por um segundo em desistir, mas quando o carro de Mônica deu sinal para virar para a esquerda, uma pontada forte e um medo imenso tomaram conta do seu corpo.

–Deus... Diga que ela não vai fazer isso.

E naquele momento tudo começou a fazer sentido.

O estômago da morena revirou-se violentamente quando Mônica, depois de algum tempo parou, estacionou o carro em frente a casa e desceu, acionando o alarme.

Esperou Mônica entrar no local e depois, sem fazer muito barulho, nem ligando o alarme, desceu do seu carro e a seguiu. Andou e entrou na casa.

A porta, porém, não estava fechada, e no momento em que entrou, sentiu o frio gélido em sua espinha. Ouvia as vozes no andar de cima. Em passos lentos subiu as escadas e chegou ao quarto, Laíssa pode ver o interior do quarto. De onde estava parada tudo o que podia ver era um dos pés da imensa cama de casal, mas se movesse um pouco para a esquerda ela poderia ver e ouvir melhor.

Uma voz grave, abafada e nervosa insinuava-se pela porta.

Ela caminhou silenciosamente para a esquerda, colocando-se em uma posição de onde podia ver as costas de um homem. Ele estava sentado em uma cadeira ao lado da cama, inclinado para a frente e com a cabeça entre as mãos. Sua linguagem corporal demonstrava que estava tão nervoso quanto Mônica. Ela não podia ver o rosto, apenas as costas largas e cabeça baixa. Parecia que chorava.

Inclinou a cabeça e pode ver o rosto de Mônica, que estava próxima ao homem e gesticulava e gritava bastante, com raiva.

Laíssa chegou o mais próximo possível, acomodando-se em um lugar onde não podia ser vista, mas de onde poderia ouvir cada palavra.

– Você é um idiota... Um tremendo idiota. - Mônica gritava. - Como você pode ser tão imbecil, e eu te procurei pensando que você fosse me ajudar e no fim, você só me atrapalhou, que ódio de você, seu inútil. – Mônica passou a andar de um lado para outro do quarto. – Fez tudo errado, cagou todo no nosso plano. Estávamos quase conseguindo, mas você fez a burrada de se apaixonar por Laíssa.

–Sim, me apaixonei. — Um soluço interrompeu suas palavras. – Eu a amo, a amo como nenhum homem jamais vai poder te amar.
–Não quero algum homem, você sabe disso. Eu quero Tom! – Mônica subiu mais o tom de voz, como se isso ainda fosse possível. – mas você estragou e agora o único homem que eu amo e sempre vou amar vai ficar com aquela desgraçada – Monica deu um tapa forte na nuca do homem – E você também perdeu, por que eles estão felizes e você esta fora da jogada... Seu babaca.

O homem não respondeu.

–E ainda não bastasse, tive que jogar sua namorada numa rodoviária e ameaçá-la.

–Deixe Raquel e esse bebê fora de seus planos, Mônica.

– Sim, agora eles estão fora dos nossos planos, graças a mim!

–Você a matou? – O homem perguntou.

–Claro que não, seu imbecil! Apenas a coloquei num ônibus e a mandei para a casa da mãe e mandei-a ficar lá até que o seu filho esteja no exército. – Mônica sorriu - O meu sobrinho.

– Fez bem, aquela mulher já estava me torrando o saco!

– Lógico que fiz bem, eu sempre faço tudo muito bem, diferente de você, irmãozinho bastardo, que sempre fez tudo errado, por isso que nosso pai nunca gostou de você, por que sempre foi um fracote, um zero a esquerda, uma bichinha da mamãe.

Laíssa tinha ouvido o bastante. Ela entrou no quarto a tempo de ver Mônica dar outro tapa na nuca dele. Surgiu na porta e parou ali, observando e esperando para que a culpa dos dois se manifestasse. Para que eles a vissem, ali parada ouvindo toda a trama.

–Agora, o que vamos fazer? – Mônica perguntou – Agora, somos cartas fora do baralho e a culpa é toda sua.

–Eu não desisti dela ainda, maninha! - o homem disse baixo, mas a frase foi à gota d'água para a paciência de Laíssa. – Laíssa vai ser minha.

–Oh, Deus! – A morena disse levando a mão a boca. – Vocês, os dois!

Os dois se viraram para ela ao mesmo tempo. Mônica e Matt.

–Irmãos? - Laíssa tentou dizer, engolindo o bolo que estava em sua garganta. –Vocês dois são irmãos?

– Laíssa! - Matt exclamou, levantando-se imediatamente.

– Ops... fomos pegos! - Mônica debochou, sem se mostrar espantada ou sem graça, ou com medo.

– Deus, o que vocês fizeram com a minha vida? – Laíssa entrou no quarto, esmurrando a porta. – Vocês... os dois... irmãos?

–Sim. – Mônica sorriu sarcástica e fria - Matt é meu irmão por parte de papai. Que desperdício não? - Mônica correu os olhos para o corpo bem feito do irmão.

–Tudo armação? - Laíssa olhou para Matt, que ainda se mantinha parado.

- Sim, foi tudo armado, tudo mesmo, desde o acidente que Matt bateu em seu carro... Tudo armado!

–Você era minha amiga! - A voz de Laíssa era dura e fria, mas por dentro seu coração fora reduzido a cinzas. – Confiei em você, ouvia os seus conselhos, era como minha irmã... entrou na minha casa e...

– Irmã? Irmã de cú é rola, minha amiguinha... Eu odeio você! - Monica gritou se aproximando – Odeio você, sua vida perfeita, sua beleza, o jeito que os homens olham para você, odeio seus filhos, odeio essa sua gravidez... Odeio tudo o que te rodeia. A única coisa que eu não odeio, é o seu marido. – ela cuspia toda a verdade. – Foi tão fácil te enganar, te fazer de idiota, foi tão fácil te manipular... tão pateticamente bobinha.

– Você é doente! - Laíssa falou dando um passo para trás - acho que você precisa se internar em uma boa clínica, onde poderá contar com a ajuda de uma terapia intensiva... de choque pesado!

–Você acha, é? – Monica riu debochada.

– Deixa ela ir embora, Mônica. – Matt falou fazendo Laíssa sair do transe e olhar com nojo para ele, afinal ele também fazia parte daquela sujeirada toda. - Já fizemos mal a ela.

–Cala a boca, Matt! - Mônica gritou com ele.

– João? – Laíssa olhou para Matt - Você é o pai do filho de Raquel, o João!

A risada de Mônica soou alta e diabólica pelo quarto.

–Raquel... tão boba e inocente como você. - Mônica tinha um brilho doentio nos olhos – Matt .... Ou João, como ele se apresentou para a pobrezinha, foi só ele sussurrar algumas palavras de amor e pronto, a sonsa monga se abriu inteira. Tão manipulável e burra, engravidar de um galinha pé rapado como Matt.

–Pé rapado? – Laissa olhou para Matt novamente, que baixou a cabeça. - E a sua loja?

– E a sua loja? - Mônica imitou Laíssa - A loja era minha, essa casa é minha... Matt não tem nada, é um ambicioso mercenário que levou 500 mil reais para fazer tudo o que fez com você e com a Raquel... fez até demais por que engravidar aquela mongolóide não estava nos nossos planos.

–Matt? - Laíssa o chamou com os olhos rasos dágua. – como pode?

O quarto ficou em silêncio.

–Sim! - Foi Matt que quebrou o silêncio, levantando a cabeça, encarou Laíssa. – Eu tinha que te seduzir e seduzir a Raquel. Monica me pagou para te envolver e forçar situações que você pensasse que Raquel fosse amante de Tom. – ele explicou. – eu tinha que tirar você do seu marido para Mônica ter livre acesso a ele.

–Só que esse imbecil engravidou a Raquel. – Foi a vez de Mônica falar.
–Ela disse que tomava pílula, merda! – Matt se defendeu.
–E você acreditou, seu burro... Asno de merda!

Mônica e Matt deram um passo à frente e se enfrentaram, Mônica apontou o dedo na cara dele e começou a falar um monte de coisas, xingamentos e ofensas, ele não ficava para trás e também dizia coisas horripilantes para ela.

Sabendo que não podia mais ficar ali, tinha que pedir ajuda para Tom e principalmente cuidar do bebê dentro de sua barriga, aproveitou que os dois discutiam, virou as costas devagar e em passos largos saiu do quarto.

–Onde você vai, minha amiga mais que amada? – Mônica disse pegando uma mecha grande do cabelo da morena.
–Me solta! – Laíssa gritou. – Me larga!
–Solta ela, Mônica. - Matt foi para cima da Mônica.
–Ela não pode embora, essa é a nossa chance de ouro, irmãozinho! – Mônica disse piscando para Matt.
–Chance de ouro? – Os olhos de Matt brilharam.

–Não esta vendo se ela perder esse bebê, será melhor para nós? - Mônica disse a Matt.
–Não... – Laíssa gritou desesperada. – Matt... não faça isso!
– Matt, ela não vai ser sua nunca. – Mônica abaixou a voz como se quisesse fazer uma lavagem cerebral no irmão. - Ela esta grávida do marido, e ela o ama.
– Por favor... Matt! - Laíssa gritou quando Mônica a empurrou para fora do quarto fazendo-a tropeçar e cair no chão.
– Você a mata, esconde o corpo e fim. – Mônica sorria para o irmão – Te dou mais 800 mil reais.

Matt olhava para Mônica, ela fazia uma lavagem cerebral nele. Matt já era outra pessoa, com olhos diabólicos e face transtornada.

–Pense Matt... São oitocentos mil reais! Ela, você não vai poder ter mesmo!

Matt não desviava os olhos de Mônica.

–Tudo bem... Dou mais dois milhões... Livre-se dela! – Mônica disse ao irmão.

– Mônica me deixe em paz! – Laíssa baixou a cabeça e chorou desesperadamente. Sentiu as mãos grandes de Matt lhe segurar pela cintura e a subir seu corpo no colo. - Não... não... me solte!

–Desculpe Laíssa, isso era para ser apenas um jogo, mas me apaixonei de verdade e Mônica esta certa. Não conseguirei te ver com mais ninguém.... pelo menos fico com o dinheiro.

–Não me faça mal, Matt! – Laíssa suplicou aos prantos.

– Em troca de? - Ele perguntou, confirmando seus piores medos. Mônica tinha o convencido. – Você vai ficar comigo?

Ela pensou em mentir para lhe salvar e salvar o seu bebê, mas Mônica foi mais rápida.

–Ela esta mentindo, Matt... ela esta mentindo para você! – A voz dela era suave no ouvido do irmão. – Ela vai te enganar e você vai ficar sem ela e sem um milhão e meio. Empurre-a pela escada, deixe-a quebrar o pescoço e perder o bebê... Depois você se livra do corpo. – os olhos de Mônica olharam para os da morena com uma frieza que ela jamais viu em um ser humano. – Mate-a agora!

Matt a segurou pelos braços diante da escada, ele ia a empurrar, Laíssa não tinha mais forças para lutar, seus olhos cravou nos deles e sua respiração falhou e quando sentiu que ele ia lhe empurrar, ouviu-se o barulho.

...


– Lala... Lala! – a voz a chamava de longe. – Laíssa...

Ela foi aos poucos despertando, vendo onde estava. Quando percebeu onde estava gemeu de medo. Estava ainda na casa de Matt. Naquele inferno, naquela cena medonha.

–Não se mexa! - a voz ordenou novamente. – Tem uma ambulância aqui fora e já estão vindo te atender.

–Ambulância? - ela se mexeu devagar, gemendo de dor e quando ela mexeu o pescoço, rolou o seu olhar, fechou os olhos com um grunhido que ficou preso em sua garganta.

Ela estava em cima do corpo de Matt, que respirava com dificuldade perto de seu ouvido, estava agonizando, sangrava pela boca e pelas narinas, aos poucos, ao longe podia ouvir os gritos de Mônica, histéricos.

Laíssa queria perguntar o que havia acontecido, mas sua garganta doía demais e sua cabeça mais ainda, a única coisa que conseguiu fazer foi colocar as duas mãos protegendo a sua barriga.

–Já vamos sair daqui, meu bem! - a voz suave disse, era de Tom.

Os paramédicos chegaram e com cuidado, a tiraram de cima de Matt, atenderam-na no chão mesmo, depois de imobilizada e dos primeiros socorros a deitaram no sofá, fora o nervoso e a pancada na cabeça, ela estava bem.

Já Matt não teve a mesma sorte. Saiu da sua própria casa, morto. Os policiais haviam dado um tiro certeiro em sua cabeça, antes dele ter jogado Laíssa escada abaixo. A mando da irmã, Mônica.

Mônica. Ainda se ouvia seus gritos, eles ficaram mais altos dentro do quarto, três guardas apareceram com ela, chutando, xingando e algemada na sala.

–Laíssa... – ela disse com os olhos e o rosto molhado de lágrimas – me perdoe. Por favor, não tive a intenção. Sei que passei dos limites... não os deixe me levar, minha amiga... perdão.... não deixe que me prendam... – ela chorava desesperada. – Minha amiga... em nome da nossa amizade de anos. Não me deixe levar... Não me deixe sozinha, Laíssa!

A morena ouviu cada palavra, se aproximou a olhando de cima a baixo, fechou o punho e deu um soco, dois e depois um terceiro no rosto de Mônica, que apenas revirou os olhos e caiu nos braços de um dos guardas. Desmaiada.

– Se o que quer é a absolvição, procure um padre... ou o capeta, minha querida amiga! – Laíssa olhou para o corpo desfalecido dela nos braços do policial. – leve esse lixo daqui, antes que eu vomite em cima dela. E por favor, me avise o dia do julgamento para eu poder aplaudir de pé quando ela for condenada por tudo o que ela fez de mal.

Mônica foi jogada na parte de trás da viatura da policia, como um nada, e levada para onde era o seu lugar: o inferno.


...


– Céus... Laíssa por que fez isso sozinha? – Tom beijou sua boca - eu estava muito preocupado. - O olhar dele encontrou o da esposa – eu tive tanto medo.

– Não estou com medo agora. - Ao notar como tinham chegado perto de um desastre, Laíssa sentiu os próprios olhos ficarem marejados pelas lágrimas. Mas ela lutou para não chorar. A última coisa que precisava naquele instante era sucumbir a um ataque de pânico.

Tinha que pensar em seu bebê dentro do seu ventre e em seus gêmeos.

– Meu Deus, você foi impressionante lá em cima com aqueles loucos. — Tom a abraçou forte e a trouxe para perto de seu corpo. –Vamos embora dessa casa, desse lugar... vamos para nossa casa.

–E Raquel... tão vitima quanto nós.
–Ela esta bem. –Tom disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha da esposa. – Ela foi para casa da mãe em Curitiba, pedi que me ligasse quando chegasse lá e que nos procurasse se precisasse de algo. - Tom deu um suspiro longo e continuou. - ela me disse que estava feliz, que amava o irmão de Mônica, mas eu também nunca imaginei que Matt e João fossem a mesma pessoa. Ela disse que apesar de tudo, ama e quer o bebê dele.

–Matt... por mais que eu tente não sinto pena dele, talvez mais tarde. Eu soube que ele estava do lado de Mônica quando ela pegou a rodovia Imigrantes, sabia que ela ia na casa dele... Maldito... Ele quase... Senti tanto medo!
–Não devia ter prosseguido, devia ter me ligado.
– Eu fiz essa cagada sozinha, tinha que terminá-la sozinha.

–Vamos esquecer isso, ok? – Tom disse acariciando seus cabelos negros.

– Tom...
–Oi...
–Tom... Eu... dor!

– Laíssa! – Tom gritou ao ver a esposa ficar branca como papel. – Lala, o que está sentindo? – perguntou muito preocupado. Ela esfregou a testa e tentou se manter em pé.

– Minha barriga… – gemeu ela com um fio de voz. Deu-se conta de que estava muito mal. Não era somente o susto daquela noite, havia algo mais. Assustou-se ao ver o quão zonza estava. Antes que ele pudesse reagir, suas pernas dobraram e caiu ao chão.

– Laíssa! – gritou Tom assustado enquanto ia para ela. Seu primeiro impulso foi abraçá-la, mas seu corpo estava mole e estava quase no chão. Gritou para a os médicos que estavam fora da casa . – Alguém me ajuda aqui na cozinha... Laíssa, abra os olhos... Não me deixe, meu amor – sussurrou com desespero beijando a testa da esposa – Por favor! - ele gritou mais uma vez - Aguenta mais um pouco. Eu te amo tanto… - Levantou sua mão e a beijou. Depois beijou a palma com desespero, não podia deixar de chorar. Nunca esteve tão assustado em toda sua vida. Ouviu algum tempo depois aos médicos na porta da cozinha.

Começaram a ocupar-se dela enquanto Tom os observava completamente imóvel e com o coração na boca. Apenas olhando para a mulher, mãe de seus filhos, sua esposa. A sua mulher , a que o fazia feliz e quem sem ela sua vida não valeria a pena.

E ainda tinha o seu bebê. Se ela perdesse esse bebê? Ela morreria da mesma forma.

Colocaram-na em uma maca e foram para fora da casa. Quando saíram para rua, subiu na ambulância com eles. No caminho ao hospital, tirou o telefone celular e o olhou. Não sabia a quem chamar, não queria preocupar Miranda, tentou depressa digitar o celular de Bill.

Depois que desligou, olhou para Laissa deitada desacordada na maca, e se deixou chorar, cobriu o rosto com as mãos, soluçou e se desesperou, segurando a mão desfalecida da esposa, depois colou seu rosto no dela e tentou acalmar-se. Não podia perder o controle, ele tinha que dar forças a esposa quando ela acordasse caso acontecesse algo com o seu filho.

–Oh Deus, não deixe nada acontecer a ela nem ao nosso bebê!

A chegada no hospital de Santos foi rápida, os médicos agiram rápidos e ela foi levada para a UTI do enorme hospital.

Tom escutou em silêncio enquanto os médicos diziam que o estado de Laíssa era muito grave. Andou em passos lentos até a porta do quarto. Deteve-se antes de entrar. Tinha medo de perder o controle novamente.

Nunca se sentiu tão impotente diante de uma situação.

Arrependia-se muito do que tinha ocorrido. Abriu devagar a porta e entrou.

O quarto estava na penumbra. Viu Laíssa deitada na cama e conectada a todo tipo de aparelhos. Aproximou-se devagar para não incomodá-la. Estava muito pálida. Tinha os olhos fechados e seu semblante era calmo. Viu que respirava com dificuldade e seu coração apertou. Aproximou uma cadeira e se sentou. Tomou a mão que tinha mais perto e a levou os lábios.

–Sinto tanto não ter chegado naquele inferno de casa antes, Lala – sussurrou com a voz entrecortada pela emoção – Não sabe o quanto o sinto… te amo tanto... não sei o que será da minha se eu chegar a te perder... nossos meninos... nossos gêmeos e ...esse bebê . – ele soluçou colocando a mão sobre sua barriga, desceu a cabeça e depois de tantos anos, rezou e ali mesmo, adormecendo sob a barriga da esposa.

...


–Tom... Tom... vá para casa, eu fico aqui.

Abriu os olhos ao ouvir essas palavras, gemeu quando tentou levantar a cabeça. Sentia muita dor no pescoço e nas costas. Demorou a acostumar-se à luz que entrava pela janela. Já era de manhã, o sol batia forte na janela. Olhou para sua esposa, continuava adormecida. Tinham elevado um pouco a cama e tinha uma nova bolsa de soro. Girou-se então enquanto esfregava o pescoço. Bill estava atrás dele e o olhava com preocupação.


–Vá para casa. – o irmão mais novo pediu ao mais velho.
–Não!
–Vá descansar! – Bill pediu novamente.
–Não, sem ela!
–Não sabemos quando ela ira acordar! - depois que ele disse isso, Bill sentiu o quanto aquela frase havia magoado o irmão. – desculpe! Só quero que vá para casa e descanse um pouco, estou aqui.
–Não! – ele repetiu fechando os olhos e passando os dedos pelo pescoço dolorido.
–Pare de ser teimoso. – Bill disse a ele.
–Impossível. – a voz fraca soou no quarto - impossível ele não ser teimoso, não conhece o seu irmão, Bill?

–Oh ... eu não acredito! - Tom correu até a cama e se debruçou. – Laíssa...
–Por que tem que ser tão teimoso? – ela gemeu e olhou para o marido.
–Por que eu te amo e por nada desse mundo sairia desse hospital sem você do meu lado. – ele se debruçou e tocou seus lábios nos delas. - Jamais deixaria nesse lugar triste a mulher que eu amo e o nosso bebezinho.
–Eu estou aqui... e ele também!
–Ela! – Tom disse a ela – Nossa menininha.
–Menina? Oh... – a voz sumiu, Laíssa sorriu para o marido com os olhos rasos d'água.
– Desculpe, fizeram o exame para ver se estava tudo bem e eles me falaram, a gente queria que fosse surpresa mas...
–Isso é maravilhoso... ela esta bem? – Laíssa perguntou emocionada ao marido.
–Muito bem. –Tom segurou suas mãos e Laíssa as apertou. – Com certeza será morena e tão linda como a mãe.
–Isso seria justo, já que os meninos são lindos como o pai.
–E com o tio mais novo! - uma voz veio de canto – por que eles são mais a minha cara que a do pai. – Bill sorriu para a cunhada.
–Sim, eles são parecidos com você, Bill! – Laíssa sorriu segurando a mão dele com carinho.
–Tomara que sejam mais espertos com as mulheres. – Tom brincou.
– Tomara que eles sejam gentis com elas. – Bill devolveu.

A enfermeira entrou no quarto, e ficou surpresa ao ver Laíssa acordada.

– Por que vocês não me chamaram quando ela acordou?

–Por que tinham que discutir como duas crianças primeiro. – Laíssa disse fazendo a enfermeira sorrir.

– Vão discutir lá fora a paciente precisa descansar. – A enfermeira ordenou.
–Ela vai ter alta ainda hoje? - Tom perguntou.
–Se continuarem tagarelando dentro do quarto, não. – a enfermeira andou até a porta e a abriu. – Preciso cuidar dela e dessa menininha linda, vamos saiam os dois!

Tom e Bill beijaram um cada lado do rosto de Laíssa e passaram rapidamente com medo da enfermeira alta, grande e forte que os esperavam na porta com as mãos na cintura.

Laíssa abriu os olhos, viu que Tom estava ao seu lado, inclinado sobre a cama e acariciando o rosto dela. Estava bonito, elegante e com sorriso de orelha a orelha.

Laíssa esfregou os olhos e perguntou:
– Que horas são, Tom?

Ele riu e disse:

– Hora de acordar e irmos para casa.

A morena, pegou-lhe o pulso para ver as horas e exclamou:

– Meu Deus! Por que não me acordaram?

– Porque estava tão linda dormindo, que não tive vontade de acordá-la.

Tom inclinou-se sobre ela e a beijou nos lábios.

– Levante-se já! Tome um banho pois temos muito o que fazer.

Laíssa seguiu até o banheiro, tirou a camisola do hospital e tomou um banho demorado e de cabeça. Ficou por um bom tempo deixando a água correr, tirar todas as coisas ruins e pesadas de seu corpo.

Depois, com calma se enxugou e se vestiu, quando saiu viu o marido, a mãe, Bill e seus dois filhos, que ao vê-la soltaram um grito e correram em seu encontro.

–Mamãe! – Diego gritou.

– E a Beatrice? - Mateus agarrou as pernas morenas da mãe.

–Beatrice? - Laíssa olhou para o filho com um amor imenso.

–Sim, a nossa irmãzinha - Mateus explicou sorrindo.

–Eles já escolheram o nome. – Tom disse fazendo Laíssa virar o rosto e depois o abaixar olhando para os dois filhos agarrados ao seu corpo, teve tanto medo de não vê-los mais, teve tanto medo de não poder segurar e abraçar os filhos.

Ela abaixou, abraçou os dois e depois beijou o rostinho de cada um com amor.

–Beatrice esta muito bem e feliz por ter dois irmãos tão cuidadosos como vocês.

–Ela disse isso? - Diego perguntou fazendo todos rirem no quarto.

–Sim, ela disse! - a morena falou para os filhos com o coração transbordando de felicidade. Agarrando os filhos e apertando em um abraço único.

– Vamos para casa. – Tom disse pegando a bolsa de Laíssa. - Temos uma ceia maravilhosa nos esperando feita pela minha linda sogra.

–Mãe. – Laíssa andou até Miranda e a abraçou - Como te agradecer por tudo?

–Não me agradeça por nada.

–Amo você! – ela abraçou a mãe forte.

– Minha filha, eu também te amo.

–Quem quer ir para a nossa nova casa? -Tom perguntou tendo os filhos levantando as mãozinhas e gritando.

–Nova casa? - Laíssa olhou para Tom. – O que você aprontou?

– Deixe comigo, querida. Não confia nos meus superpoderes? – disse Tom enquanto acariciava carinhosamente sua bochecha – Sei que não tenho direito de pedir isso, mas o vou fazer de todas as formas. Confie em mim. Deixa que cuide de você e da nossa família. - certo de que estava tomando a decisão adequada - Cometemos enganos, mas não nos demos por vencidos. E acredito que isso nos fez mais fortes. Sinto que tivemos que renunciar a nossa família por um tempo. Mas esse tempo acabou. Os últimos meses foram os piores de minha vida e não quero voltar a me sentir assim... Nunca mais!

Tom a abraçou com força. Não podia respirar, mas não se importou. Estavam juntos. Juntos por fim. Sem a dor nem a tristeza do passado. Nem de Matt, Mônica ou o passado. Sentiu que tinha tirado um grande peso de cima de suas costas. Fazia muito que não se sentia tão livre nem tão leve.

Estava feliz. Muito feliz.

A família toda deixou o quarto, passou pela recepção distribuindo beijos e agradecimentos a todos os enfermeiros e médicos que estavam ali presentes. Entraram no elevador falando, e planejando o futuro. Quando chegaram ao térreo se dividiram em dois grupos nos carros.

– Belo homem! – Uma enfermeira olhou pela janela olhando para Tom.
– Bela mulher! – Foi à vez de um enfermeiro se aproximar da janela e babar por Laíssa.

–Belo cunhado! – uma médica mordeu os lábios quando olhou para Bill.
–Belo carro! – outro disse.
–Belo casal! - outra voz completou.
–Bela família! - o povo do setor foi se amontoado na janela para ver a saída dos Kaulitz do hospital.

– E um belo chute no traseiro de cada um se não voltarem já ao trabalho! - gritou o chefe da enfermagem, que se aproximou do vidro e não pode deixar de sorrir em ver a família em um momento de pura alegria.

...

– Tom, não íamos nos mudar depois do ano novo? – Laíssa perguntou ao marido.
–Isso foi antes! – Tom respondeu olhando para a esposa – Coloque o cinto!
–Tom, eu...
Ele se inclinou e se aproximou da esposa, pegando o cinto e passando com cuidado sob sua barriga, prendendo-o.
–Precisamos virar a pagina, deixar tudo para trás, até aquela casa. – Tom explicou – comprei uma cama nova e ela esta esperando por nós!

– Esperando pra que, papai? - Diego perguntou no banco de trás.
–Quando for um pouco mais velho, eu explico, filho — Tom respondeu piscando para Laíssa.
–Quando eu for mais velha, explica para mim também? — Laíssa perguntou, zombeteira ao marido.
–Vou fazer melhor, meu amor – ele a mediu com os olhos cheio de desejo e amor - Assim que ficarmos sozinhos, eu mostro com todos os detalhes!
–Todos? - foi a vez dela piscar e sorrir para ele. -Não pode imaginar há quanto tempo espero por esse momento.
–Eu posso, sim... Aguente firme, então!

E ele disse pegando forte a mão da esposa acelerando o carro rumo a sua nova casa, a sua nova vida. Agora, completamente... Finalmente REPARADA!

Fim

Postado por: Grasiele | Fonte

Um comentário:

  1. Amei!!Nossa que emoção ao le-la! tão perfeita!!! nossa amei mesmo!! estou amando cada vez mais esse blog!! adoro suas historias parabens!!

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