terça-feira, 12 de julho de 2011

Nós Dois - Capítulo 53



 Fomos direto para o hospital ver minha mãe. Meu padrasto foi segurando minha mala o tempo todo, eu não estava nem ai se estava pesada ou não. Ele me levou para o quarto da minha mãe, ela já estava acordada, com uma faixa na cabeça. Quando a vi pensei logo que uma pancada na cabeça talvez não fizesse mau, se servisse para colocar alguma coisa boa la dentro.
Ela estendeu a mão ao me ver pedindo para que eu me aproximasse eu fui andando até a cama com um sorriso meio torto. Ela estava bem lúcida e podia falar muito bem. Depois de perguntar mil coisas e fazer o papel de boa mãe ela chegou ao ponto, aquele que eu temia, aquele que eu sabia que por enquanto seria somente uma pergunta, depois se tornaria em um pedido, depois em uma ordem.

Cristina: Ha minha filha, eu queria tanto que você ficasse mais tempo, eu fui tão injusta em te mandar tão de repente para a Alemanha, sem saber se era isso mesmo que você queria.
Mila: Haaaa não se importe com isso, eu estou muito bem la.
Cristina: Você foi tão boa em ter vindo me ver, ter pegado um avião e vir de tão longe.
Mila: Eu sei mãe.
Eu olhei para o meu padrasto perto do sofá do quarto, ele percebeu meu desconforto com a situação, eu queria sair correndo de la. Eu tentava me sentir culpada por não estar me preocupando com o estado dela, mas não conseguia, tudo que eu via era uma armadilha, tudo eu encarava como uma forma de me manter longe do Tom. Como se todos soubessem que ele era perigoso parar mim, mas eu não estava nem ai para isso.

Segundo o médico a única coisa que a impedia de sair do hospital era algumas fraturas, o pior já tinha passado, meu padrasto só havia me ligado depois de dois dias do acidente.
Ela sairia do hospital no final da semana. Oh Deus, uma semana, eu ainda teria que ficar um tempo com ela em casa.
Depois que ela voltou a dormir, meu padrasto meu levou para casa. Chegando la, a sala havia mudado pouca coisa. Fui direto para o meu antigo quarto, e quando eu entrei, não fiquei surpresa com o que havia restado, não havia quase nenhum móvel, alem da cama, o resto eram caixas, que espero que fosse com as minhas coisas.
Meu padrasto até foi bastante solicito, pegou lençóis para mim e me fez algo para comer.

Durante a semana, fomos algumas vezes até o hospital, eu evitava conversar com minha mãe, dizia que ela precisava descansar e que quando ela voltasse para casa nós conversaríamos melhor.
Na Sexta, quando fomos busca la, ela estava animada, falava de mim para o meu padrasto como se ele não me conhecesse ainda, acho que a pancada na cabeça só a deixou mais cinica, ou doida de vez.
A Enfermeira entrou no quarto e pediu para que nós esperássemos pelo lado de fora, ela iria trocar minha mãe, depois ela teria alta do hospital.
Meu telefone começou a tocar, eu quase pulei de felicidade ao ver que era Monica me ligando. Eu havia colocado meu chip que eu usava aqui, somente ela e minha tia tinham o numero.

- Oi oi oi, ta tudo bem?
Mila: Ta sim, to morrendo de saudades.
- Eu tambem amiga. Escuta, eu tenho que falar rápido porque se não minha mãe me mata.
Mila: Fala.
Eu sai de perto do meu padrasto indo para perto dos banheiros.
- O Tom. - Meu coração Deus pulos ao ouvir o nome dele. - Ele me procurou, na verdade me achou na rua igual daquela vez.
Mila: Huum, fala, fala.
- Ele queria saber de você, me perguntou quando foi que você viajou e porque você não falou nada. Ai eu disse que sua tia comprou a passagem para aquele dia e você teve de viajar. Ai ele perguntou porque você não avisou a ele, eu falei que não sabia porque. ele me encheu de perguntas, de o porque disso, o porque daquilo, e eu falando "não sei, não sei". Ele ficou achando que você não quis se despedir dele, que fez de propósito.
Mila: Ai Deus! Hum, fala mais.
- Ele perguntou quando você iria voltar, me pediu seu telefone.
Mila: Você não deu, não é?
- Não, claro que não. Eu disse que você ainda iria me ligar para me dar o telefone da sua casa ai.
Mila:Ai que bom.
- Porque você quer que ele pense que você não quer falar com ele?
Mila: Porque quero que ele sinta minha falta, e que saiba que nem sempre vai me ter por perto.
- Ha, tu ta conseguindo, ele tava nervoso, quase gritou comigo, quando eu disse que não sabia teu numero, ele é um grosso, sabia?
Mila: Sabia.
- Haha, engraçadinha.
Mila: Fala mais, o que mais ele falou?
- Foi isso, sei la ele parecia estar com medo de você ter fugido.
Mila: Ham, interessante.
- Ta, ta eu tenho que desligar, qualquer coisa mais eu te aviso.
Mila: Ta bom amiga, obrigada por ligar, um beijo.
- Beijo, tchau.

Eu voltei para perto do meu padrasto, logo a enfermeira saiu do quarto e nos deixou entrar. Minha mãe já estava em uma cadeira de rodas, com a perna engessada.
Em casa, meu padrasto a levou direto para o quarto, com cuidado ele a deitou, depois de cobri la, ela me puxou pela mão pedindo para que eu ficasse.
Eu me sentei na cama ao lado dela e fiquei esperando ela dizer alguma coisa.

Cristina: Você ainda esta chateada comigo, não é?
Mila: Porque? - Falei sem da muita importância.
Cristina: Porque eu te mandei para tão longe de casa.
Mila: E agora, você vai fazer o que? Me pedir para ficar?
Cristina: É o que eu deveria fazer, você é minha filha, deveria ficar perto de mim.
Mila: Não acho que deveria ficar perto de você não, agora eu entendo isso muito bem, e o que você fez foi o melhor pra mim, pela primeira vez você acertou.
Cristina: Você gostou de la então, quer ficar la em vez de ficar com a sua mãe.
Mila: Sim quero voltar o quanto antes pra la, você não pode pedir que eu fique.
Cristina:Posso sim, você é minha filha, e ainda nem te 18 anos.
Mila: La vem você com essa conversa. Você pela primeira vez na vida faz algo que preste pro mim e agora quer voltar atrás? De jeito nenhum.
Cristina: Depois de tanto tempo longe, é assim que você fala comigo? Não sentiu saudades pelo menos.
Mila: Sinto saudades de algumas coisas, de quando meu pai era vivo, disso eu sinto.
Cristina: Por isso, seu lugar é aqui comigo, onde seu pai vivia com a gente.
Mila: Meu pai não vive mais com a gente, meu lugar agora é na Alemanha, eu quero ficar la, já construi amizades la, me acostumei, é la que eu vou ficar.
Cristina: Você arrumou algum namorado por la.
Eu pensei em dizer não como sempre dizia para todo mundo, mas talvez somente dizendo que havia um namorado, ela poderia entender que nada poderia me afastar de la.
Mila: Sim, eu tenho um namorado la, não quero me afastar dele, nem ele de mim.
Cristina: Ok, eu devo ter feito algo de bom pra você, se você diz que sim, pelo menos disso eu posso me orgulhar não é? Se você esta feliz la.
Mila: Sim, muito.

Parecia que minha vontade estava prevalecendo, eu estava quase acreditando que ela estava realmente feliz por ter feito algo bom pra mim. Mas como eu previa, ela chegaria nessa conversa de me manter aqui cedo ou mais tarde, até os mesmos argumentos ela havia usado, só espero que não passasse disso.

Cristina: Você esta de férias agora não é?
Mila: Sim, estou.
Cristina: Que bom, pelo menos pode passar esse tempo aqui comigo.
Mila: Ham? Eu não tinha a intenção de ficar minhas férias inteiras aqui.
Cristina: Mila, eu não estou te pedindo para voltar a morar aqui, mas pelo menos suas férias você pode ficar, enquanto eu me recupero, pelo menos. Eu sou tão pouco importante assim pra você?

Eu não disse nada, mordi lábio de nervoso e comecei a tremer minha perna batendo meu pé no chão. Eu ainda tinha um mês inteiro de férias, eu não poderia passar todo esse tempo longe. Logo eu começava a pensar em dar meu telefone para ele, para ao menos ouvir sua voz no meu ouvido. Mas não, eu deveria aguentar firme. Talvez, mesmo sendo uma tortura, passar esse um mês longe fosse nescesario.

Só agora, depois de falar do Tom que eu me lembrava o que minha tia havia conversado comigo, sobre o aborto. Ela disse que eu teria de contar a minha mãe. Mas agora, aqui, de frente para ela, nem passava pela minha cabeça a ideia de contar a ela. Seria tudo que ela preciaria para não me deixar ir embora.
Só contaria depois que completasse 18 anos, e já estivesse de volta Alemanha.

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