sábado, 29 de outubro de 2011

E Se Fosse Verdade? - Capítulo 23 - Será que ela leu?


(Contado pelo Bill)

           - Posso me sentar aqui com você? – perguntei.
           - Como me encontrou? – pergunta ela, limpando as lágrimas.
           - Esqueceu que fui eu quem te mostrou esse lugar?

      Sentei-me ao seu lado.

           - Esse era o segredo que queria me contar, não é?
           - Sim. – respondi.
           - Se estava em dúvida, eu preferia ter escutado de você.
           - Me desculpe.
           - Porque não me contou? Deixou que eu fosse... humilhada na frente de todos!
           - Tentei te contar, mas... tive medo que não acreditasse em mim.
           - É meu amigo, Bill. Porque não acreditaria?
           - Discutimos algumas vezes, e eu não queria correr o risco de ficar longe de você novamente.
           - Minha vontade é de... sumir. – ela chorava. E eu a abracei.
           - Pensei que ficaria com raiva de mim.
           - Se eu sentir raiva de você, quem irá me ajudar e me acolher em seus braços?

      Ficamos abraçados por alguns instantes. Ela já havia parado de chorar, mas eu ainda tinha que ligar para sua mãe e avisar que tudo estava bem. Assim que desliguei o celular, voltei a minha atenção a Kate.

           - Temos que voltar pra casa. Você precisa tirar esse vestido e descansar um pouco. – disse a ela.
       
      Descemos da árvore e seguimos até o carro. O caminho inteiro ela permaneceu calada. Chegamos a sua casa, e a deixei na porta.

           - Fica aqui comigo? – perguntou ela. – Não me deixe sozinha.
           - Claro.

      Não sabia o que ela queria dizer com aquilo, mas respondi que sim. Entramos em sua casa, e sua mãe veio lhe receber com um abraço. Depois subimos pro quarto, e eu fiquei aguardando vendo algumas de suas fotos. Kate entrou pro banheiro para tomar um banho. Sua mochila escolar se encontrava em cima da escrivaninha, e estava aberta. Me aproximei, e notei algo diferente. Minutos depois a Kate aparece enrolada numa toalha branca.

           - O que está fazendo? – pergunta ela.
           - Onde encontrou esse caderno? – perguntei.
           - Não me lembro muito bem, mas acho que foi... na rua de sua casa.
           - Este caderno... é meu.

      Ela ficou calada. Será que ela leu? Pensei.

           - Então foi você que... que escreveu aquilo?

      Ah não, ela leu!

           - Foi. – respondi.
           - E eu posso saber pra quem? Quero dizer... se você não se importar.

      Ela abriu seu guarda-roupa e escolheu algumas peças. Novamente seguiu em direção ao banheiro para se trocar, mas deixou a porta um pouco aberta. Não me atrevi, e continuei parado onde estava.

           - Vai me dizer ou não? – ela insistiu. Estava parada em frente à porta do banheiro, já vestida.
        
      Eu não podia contar que escrevi aquilo pra ela. Ela continuava me olhando, tentando adivinhar.

           - Não... não foi pra ninguém. – respondi.

      Kate se deitou em sua cama, e me chamou para deitar ao seu lado. Me aproximei com um pouco de receio, mas logo já estava deitado ao seu lado. Sem saber o que dizer, ficávamos olhando pro teto.

           - Este foi o pior baile da minha vida. - ela finalmente quebrou o silêncio.
           - Outros virão, não se preocupe.

      Eu ainda estava com o smoking, precisava voltar pra casa e me trocar. Olhei no relógio, 22h15, tarde demais pra ficar na casa dela.

           - Eu tenho que ir, já é tarde. – disse me levantando.
           - Obrigada por tudo. – ela se levantou junto.
           - Não foi nada. Passo aqui amanhã pra irmos juntos pro colégio, ok?
           - Perfeito. Só não sei se terei coragem para encarar todo mundo.
           - Claro que terá! Estarei ao seu lado, e se alguém se atrever a falar qualquer coisa, não responderei pelos meus atos.

      Ela sorriu, pela primeira vez naquela noite após o ocorrido da festa. Agora sim eu poderia ir pra casa com a consciência tranqüila de que ela ficaria bem. Entrei no carro, e olhei na direção de sua janela, Kate estava lá me olhando, e como um “boa noite” acenou e novamente sorriu.

---
(Contado pela Kate)

      Acordei mais cedo que de costume para não me atrasar. No horário marcado, Bill chega. Peguei minha mochila, dei um beijo em minha mãe - que ainda não sabia nem um pedaço do que havia acontecido na noite passada -, e segui pro colégio.  Não foi nem preciso entramos no colégio, do portão mesmo, os olhares se voltaram todos para mim. Comecei a ficar nervosa, e não sabia se aquela seria uma boa idéia.

           - É melhor eu voltar pra casa. – disse tentando recuar.
           - O quê? – Bill me segurou.
           - Não conseguirei ficar aqui sendo seguida por tantos olhares.
           - Vai mesmo deixar que eles façam isso com você?

      Olhei novamente pra dentro do colégio.

           - Vou. – disse me desvencilhando dos braços dele.
           - Kate! – ele me segurou mais uma vez. – Quem deve se envergonhar é o Tom, e não você.

      Não havia jeito de recuar, e não consegui agüentar e segurei firme na mão do Bill. Por onde passávamos, as pessoas olhavam e cochichavam. Pelo visto, eu ainda continuava popular, mas da pior forma. No intervalo, fui até a cantina e comprei meu lanche. Segui em direção até uma mesa que tinha pelo menos cinco meninas, e todas se levantaram quando me sentei. De longe avistei a Amanda chegar, rodeada de pessoas paparicando-a.

           - Kate.

      Levantei minha cabeça, era o Tom.

           - O que você quer? – perguntei.
           - Eu quero falar com você. – disse ele.
           - Não temos nada do que conversar!
           - Por favor...
           - Não ouviu a garota? – disse Bill. – Ela não quer falar com você, Tom. Não insista.
           - Não se meta Bill! – disse Tom.
           - Cale a boca e saia daqui Tom! – disse.
    
      Ele se calou, se levantou e saiu. Deu mais uma olhada para trás, e seguiu seu caminho.

           - Você está bem? – pergunta Bill.
           - Fora os olhares dos outros, estou bem sim. – respondi. – Eu não estou me sentindo muito bem, então irei pra casa.
           - Irei com você.
           - Nem pensar em matar aula! Já está fazendo muito por mim, Bill. Não quero que se prejudique aqui no colégio. 
           - Tem certeza?
           - Absoluta. Não precisa se preocupar tanto.

      Me levantei e lhe dei um beijo no rosto. Ele sorriu e acariciou meus cabelos. Depois fui embora. Cheguei em casa e encontrei um bilhete da minha mãe.

           “Kate, consegui uma parceria na grife e tive que fazer uma viajem de urgência. Ligo assim que chegar a França. Ficará bem sem mim durante três dias, não é? Espero que sim. Qualquer coisa é só me ligar ou chamar a Manoela. Beijos, te amo.”

           - Nem pensar que irei chamar aquela catarrenta da Manoela! Ficarei ótima sozinha.

      Já havia me trocado, e ouço a campainha tocar. Fui atender, era o Bill todo sujo de lama.

           - O que aconteceu com sua roupa. – perguntei.
           - Não vi um buraco, tropecei e cai na lama. – respondeu ele.
           - Esqueceu-se que a desastrada aqui sou eu? – ele riu. – Entre e vá direto pro banheiro, levarei uma toalha pra você.
           - Mas não tenho roupas.
           - Não se preocupa com isso não. No quarto da minha mãe deve ter alguma roupa do meu pai que sirva em você.

      A única roupa que coube nele foram as calças de moletom do meu pai. A blusa ficou muito folgada, e mais parecia um vestido. Peguei suas roupas e coloquei na máquina de lavar. Disse a ele que poderia fazer um lanche, enquanto eu levaria o lixo pra fora, e veria se tinha alguma carta no correio. Após ter feito isso, já estava voltando pra dentro de casa, quando vi uma carta do Tom.

           - O que esse idiota está querendo agora? – me perguntei.

      Entrei em casa, e me sentei ao lado do Bill.

           - O que é isso? – pergunta Bill.
           - Uma carta do Tom. – disse mostrando o envelope.
           - E o que é?
           - Sei lá, mas iremos descobrir agora.

           “Só mais um instante, é tudo que eu preciso, como um soldado ferido precisando de tratamento. É hora de ser honesto. E desta vez estou implorando, por favor, me deixe explicar. Eu não pretendia fazer isso. Sei que não sou uma pessoa perfeita, e há muitas coisas que eu gostaria de não ter feito. Todos os dias a minha alma passa longe de passar bem. Precisa haver uma forma de eu me reconciliar com você, de algum modo. Eu lutaria por você, ninguém mais, só por você. Eu menti, é verdade, mas daria minha vida para tê-la novamente. Eu fui um cego encurralado, mas agora estou vendo. Kate, você tocou o meu coração. Mudou meus sentimentos de tal maneira que não consigo explicar. Eu finalmente sei o que significa deixar alguém entrar. Simplesmente veja o lado que ninguém viu ou verá em mim. Dizem que o amor é cego, e soube disso quando meu coração ficou cego, completamente cego por você. Dizem também que é algo complicado, mas é algo que eu apenas caí. Você com certeza é a melhor, e sim! Eu me arrependo de ter deixado-a partir, mas agora a lição está aprendida. Então quero que saiba que eu encontrei uma razão pra mim, pra mudar quem eu costumava ser. Uma razão para começar tudo de novo. E a razão é você! Sinto muito ter te machucado. É algo com que tenho de viver diariamente, e com toda a dor que te causei. Não importa o que estiver em meu caminho. Enquanto houver vida em mim lutarei por você. E lembre-se: estarei sempre com você, mesmo que me odeie.”

      Terminei de ler, e o Bill estava calado. Parecia não saber o que dizer, assim como eu também não sabia.

           - Uau. – disse Bill. – Foi bem... sincero.
           - Você acha? – perguntei.
           - Um-hum.
           - É engraçado por que... ele já havia me dito algo assim há algum tempo.
           - O que ele disse?
           -“Estarei sempre com você, mesmo que me odeie”.
           - Ou seja, ele já previa que isso aconteceria.
           - Provavelmente.
           - Tem certeza que não quer conversar com ele?
           - Tenho. E além do mais, aposto que é só mais uma mentira.

      Me levantei do sofá, e subi as escadas. Fui pro quarto e guardei a carta dentro do meu diário. Sabia que isso poderia ser errado, mas de alguma forma eu pressentia que deveria guardá-la. Como a minha mãe viajou, o Bill achou melhor que eu fosse dormir em sua casa. Não sei se seria uma boa idéia, mas eu confiava nele e talvez pudesse ser uma boa opção para eu me distrair e esquecer tudo que passei.

Postado por: Alessandra

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog