sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Maybe Tomorrow - Capítulo 1 - Ai, que saco! Acampamento!


Era manhã, muito cedo para o recesso de páscoa. A páscoa é uma data que supostamente deveríamos passar com a família como todos aqui na Alemanha passam, menos para mim. Por algum motivo, minha mãe arrumou uma bosta de acampamento para eu ir; não estava muito afim, mesmo lá estando meus dois melhores amigos: Bill e Nathalie. Bill tinha um irmão gêmeo meio rebelde que eu não conhecia e vivia fora. Eu sempre ia à casa de Bill mas Tom, seu irmão, nunca estava lá. Com muito esforço Simone, a mãe dos dois, convenceu Tom a ir ao acampamento. Eu havia o visto em fotos e ele realmente era lindo, mas nada comparado a quando o vê de perto e se perde naqueles perfeitos olhos castanhos-avelã. Cheguei ao local marcado e estavam lá Bill e Nathalie juntos, mas não vi Tom.

– Bill, você não me disse que seu irmão viria? Quero conhecê-lo; se é seu gêmeo, deve ser tão legal quanto você.
– Na verdade ele nem é tão legal mas coitado, é divertido. Nós não somos muito unidos, ele anda com um povo que eu não gosto, e o resto você e Nathy já sabem. – Eu então o vi se aproximando; não sei porque, mas minhas bochechas coraram e ficaram quentes, parecia que eu ia explodir. Seu olhar era intenso e profundo, eu me senti tão pequena e indefesa ao lado dele, e mesmo antes de abrir a boca, eu me derreti por ele. Tudo o que Bill havia falado dele, que ele era arrogante, chato e safado não foi o suficiente para não me deixar com vontade de tocar em seus lábios. Meu Deus, era impressionante como uma pessoa podia ser tão perfeita.

– Oi, eu sou Tom!
– Er... Oi, eu sou a Julia!
– Sim, então você é a famosa Julia? Minha mãe fala muito bem de você, deveria se orgulhar de ser tão querida! Ela sempre fala que você é uma pessoa muito doce, calma e meiga.
– Ah que isso! Ela exagera, sou um pouco chata pra falar a verdade! – Nessa hora eu estava quase tendo um AVC, ele tinha uma voz grossa e sedutora. Não parecia um cara tão galinha como o Bill falava ou talvez, sei lá, ele não se sentiu atraído por mim. Não me acho uma pessoa linda, mas não posso dizer que sou feia, minha aparência nunca me incomodou realmente. Sou morena, cabelos castanho-claros e lisos repicados batendo na altura do sutiã. Olhos também castanhos, lábios grossos e dizem que tenho um belo olhar - não acredito neles, mas todos dizem que consigo seduzir com meu olhar - e tenho um corpo bem comum, não sou gorda nem magra, apesar de poder perder um pouco de peso, e tenho seios grandes demais também, até queria tirar um pouco.
Eram três horas de viagem até o acampamento. Nathalie e Bill foram juntos em um banco, porque os dois eram amigos coloridos até demais, então foram juntos "conversando" e eu tive que me sentar com Tom. Não me importei muito, afinal ter aquele pedaço de mau caminho ao meu lado por três horas não seria nada mal e na verdade não foi. Descobri que Tom era um cara muito legal, fomos conversando, contando piadas, comendo, enfim: fazendo coisas que para mim eram divertidas e acho que ele também estava se divertindo, pois parecia que a gente se conhecia há anos.

Chegamos no acampamento e na verdade era tudo bem lindo; o verde do local me fez ficar deslumbrada, porque eu sempre gostei muito de natureza. Já Bill e Tom estavam com um pouco de raiva pois ambos odiavam natureza e verde. Bill tinha alergia e ficava reclamando de mosquito, Tom também reclamava mas não tanto, ele é machista demais para reclamar deste tipo de coisa; ele acha que vai deixar de ser homem se for sensível demais. Os monitores do acampamento separaram a parte feminina e a masculina: eu dividia uma barraca com Nathalie, Bill e Tom dividiram a barraca deles. Depois disso, fomos para um grande salão onde seriam divididas quatro equipes de gincana, pois teríamos gincanas e oficinas - parecia uma colônia de férias infantil, mas até que parecia que ia ser legal. Seriam quatro equipes e as pessoas seriam sorteadas; lá dentro você só podia andar com as pessoas da sua equipe e só poderia rever os amigos na hora das refeições e na hora da piscina. Esse fato me deixou completamente puta, mas fazer o quê, eu já tava lá mesmo. Quando dividiram, Nathalie ficou na equipe verde, Bill na azul e eu e o Tom na vermelha. Na verdade eu estava mesmo torcendo mais para que Tom ficasse na minha equipe do que Bill ou Nathalie, e Deus ouviu minhas preces.

Dividimos as equipes e dentro da equipe tínhamos duplas de gincana. Eu e Tom ficamos juntos e assim foi pelo resto do dia. À noite, o acampamento se transformava. Um grupo de garotos vinham chamando quem queria ir pra uma festa improvisada mas regada a muito sexo, bebida e cigarro.

– Quê? Festa? Vamos, Nathalie? – Falei com Nathalie.
– O Bill vai ficar reclamando!
– Aff, mas o Bill é chato às vezes hein! – eu disse
– Não fale mal do meu amigo!
– Amigo, sei...
– Ah nem vem não, e você, acha que eu ao percebi o clima rolando com o gêmeo de trancinhas? Haaa, eu percebo tudo!
– Até parece, ele só é legal e ponto!

Fomos para a festa, Bill acabou se animando e fomos todos, mas não sei porquê, Tom não ficou com a gente lá.

– Estranho Bill, por onde anda o Tom?
– Ah Julia, não acredito que tá apaixonada por aquilo!
Aquilo é seu irmão gêmeo! Não o trate assim!
– Eu não entendo o porquê de não serem amigos!
– Ah, também não sei... Acho que foi pelos gostos mesmo. Quando éramos pequenos éramos muito unidos, melhores amigos. Um dia tivemos uma briga feia por uma garota que ele estava namorando e eu meio que roubei dele; ele ficou puto e parou de andar comigo, com o Georg e Gustav, e começou a andar com umas pessoas estranhas. Acho que temos até hoje esse ressentimento... Eu realmente amo meu irmão e sofro muito com isso, afinal somos gêmeos, somos quase uma pessoa só... É tão estranho, quando ele está mal, eu automaticamente fico mal, não preciso perguntar; nosso olhar e coração já diz tudo, conseguimos nos comunicar assim. Eu realmente não queria, mas ele escolheu o caminho errado, não eu. Até musicalmente nós éramos perfeitos juntos, chegava a ser engraçado. Ele toca guitarra como ninguém e eu cantava. Gordon sempre nos incentiva a ficar juntos, minha mãe sofre, já até desistiu e eu também. – Bill disse, limpando algumas lágrimas que queriam cair.
– Ah meu bem, não fique assim, eu tô aqui pra qualquer coisa e você sabe o quanto eu te amo. Aliás amo você, a Nathalie e a Louise, que mesmo vendo uma vez ao ano, é minha melhor amiga; é uma pena que mora em Bingen. Minha prima é um amor... Aliás vocês não a conhecem ainda, né?
– A famosa Louise; acho que a conheço melhor que a mim mesmo, de tanto que você fala dela! – Bill disse.
– Vocês não tem noção de quanto ela é engraçada e legal, contagia qualquer um com o bom-humor e além de tudo é linda. A única que puxou os olhos do vovô, nós da família sempre dizemos que ela é uma cretina sortuda, a beleza da família se concentrou toda nela, ela é modelo!
– Nossa me apresenta! – Bill disse com uma cara safada.
– Vou apresentar você a minha mão na sua cara, idiota! – Nathalie disse revoltada.
– Calma Nathalie, você que tem que ter cuidado, não o Bill!
– Por que? – Bill perguntou
– Porque ela gosta de meninas e vive com suas ficantes, mas nunca consegue namorar!
– Puta merda, que desperdício! – Bill disse dando um tapa na própria testa.
– Ué, cada um tem suas escolhas, se ela gosta de meninas, não podemos fazer nada, certo?
– Tá, nem falo mais nada. Que horror! – Bill reclamou.

Enquanto conversávamos, eu bebia um refrigerante e fumava meu cigarro, enquanto Bill estava tomando coca com vodka e fumando também, e Nathalie reclamava com a gente por causa do cheiro do cigarro. Ela sabia ser chata, mas eu não fumava sempre, normalmente fumava quando estava com Louise; ela fumava igual uma chaminé, e Bill também, mas eu não gostava dos cigarros dele. Bill apagou seu cigarro, deu mais um gole em sua vodka com coca e puxou Nathalie para um canto. Os dois sabiam ser inconvenientes quando queriam, era impressionante. Eu, para não ficar sozinha, fui andar um pouco pelo local e avistei uma pedra isolada, que parecia ter uma vista perfeita do céu por ser mais alta. Eu tive que entrar no mato para sentar-me na pedra, mas não era muito distante, talvez uns dois minutos de onde o pessoal estava aglomerado. Ao adentrar no matagal peguei a trilha e um minuto depois, comecei a ouvir barulhos suspeitos. "Ah meu deus, quem estaria fazendo sexo no mato?" – pensei. Com toda minha curiosidade, fui seguindo o barulho, só pra ver quem era. Atrás de uma árvore vi nada mais que Tom pelado naquele frio, com uma garota loira muito bonita que estava na nossa equipe. Não sei o porquê, mas meu estômago embrulhou com a cena e tentei sair o mais silenciosamente possível, mas claro que eu como sou extremamente desastrada, tropecei em uma pedra e fui com tudo no chão, chamando atenção dos dois que estavam no ato.

– Ai meu deus, me desculpa, não quis atrapalhar, eu estava indo para a pedra e vi vocês por aqui, não foi culpa minha, eu juro, que horror, acabei de atrapalhar o sexo de vocês, finjam que ninguém esteve aqui e continuem...
– Olha só por favor, não conte nada ao meu namorado, eu faço qualquer coisa! – a menina com voz de gralha suplicou.
– Calma, não sou fofoqueira, não vi nada, mas acho melhor, é... Vocês se controlarem aí nos gemidos, porque dá pra ouvir um pouco longe sabe. É só uma dica.
– É melhor irmos então, Lana. – Tom falou com a menina.
– Ah não Tom, só mais um pouquinho!
– Então, tchauzinho e bom sexo pra vocês! – disse rindo.

Subi para a pedra e me sentei lá. Tentei só sentir o vento gelado em meu rosto e não pensar em nada, mas só vinha a imagem de Tom em minha cabeça. Pensei nele e logo senti lágrimas quentes no meu rosto gelado. Aquela cena do sexo havia me machucado de alguma forma. Eu não conseguia enxergar Tom da forma que todos enxergavam, do jeito que Bill, Georg e Gustav tinham me falado. Apesar de tudo, eu o via como alguém que tinha um coração. 'Será que eu estou apaixonada? Mas nunca acreditei em amor à primeira vista! Não é possível, estou na TPM, nunca chorei por cara algum!'– pensei. Ainda estava chorando quando senti alguém se sentando ao meu lado.

Postado por: Grasiele

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