sábado, 24 de novembro de 2012
Taxi - Capítulo 6 - Voo 4567
Eu conheço uma menina
Que põe cor dentro do meu mundo
Mas é como um labirinto
Onde todas as paredes mudam continuamente
Eu fiz tudo que eu posso
Para seguir as etapas com meu coração em minhas mãos
Agora eu estou começando ver
Talvez não tenha nada a ver comigo
Fiquei a noite inteira pensando se aquilo valia a pena, de um lado eu ainda tinha esperanças de que Marianne surgisse de algum lugar, mas de outro eu tinha certeza que isso não ia acontecer.
Fiz minha matrícula para ver se eu acordava logo e saia daquele sufoco. Empacotei minhas coisas e tive minha última festa no meu apartamento com Georg, Tom e Gustav.
– Prometo que é a última vez que ligo. Depois disso vou apagar seu número dos contatos e vou te deixar em paz. – respirei forte – Ganhei uma bolsa de estudos. Vou me mudar amanhã... Eu só não queria ir embora sem saber do porque que ainda não estamos juntos. Eu não queria dizer isso, mas eu ainda te amo, e acho que vou estar sempre aqui... Infelizmente.
Bati o telefone no gancho e me acabei de chorar como uma adolescente em crise.
No dia seguinte Sr. Sean me parabenizou e me chamou de “feijón” pela última vez. Comprei uma trufa de morango no Phill’s e fui para casa. Terminei de arrumar as malas e olhei pela janela com a esperança de vê-la descendo a rua, mas nada. Era inútil isso, Marianne mal sabia o que acontecia comigo. Ela pouco ligava para mim.
Peguei um táxi e fui ao aeroporto. Assim que larguei as malas na esteira, a chamada para o voo foi feita. Tom, Georg e Gustav haviam dito que não iriam aparecer no dia.
Tom disse que não queria chorar a terceira vez na sua vida.
Gustav não pode porque sua irmã estava doente.
Georg inventou alguma desculpa ridícula pra não se passar por um cara com sentimentos.
Mas eu os agradeci, mentalmente, mas agradeci. Não queria dar adeus a ninguém. Minha cota de lágrimas já deveria ter se encerrado há muito tempo...
– Objetos ali, por favor. – falou a segurança da primeira entrada apontando para mesa.
Tirei o que estava em meu bolso. Mas assim que ia os depositar onde a segurança havia pedido, meu celular começa a vibrar.
Olhei para os lados, aflito, mas ninguém estava se importando.
– Alô? – atendo com presa.
– Bill. – sussurrou.
– Quem é? – engoli em seco.
– O que você está fazendo? – sua voz estava embargada.
– Não! O que você está fazendo? – me encostei na parede, agitado. – Porque está me ligando?
– Eu escutei todas as suas mensagens na secretária. Eu não quero que você me deixe em paz.
– É tarde demais agora, eu estou prestes a embarcar... – lamentei, encostando minha cabeça na parede.
– Eu sei disso. –soluçou – Eu estou muito feliz por você, Bill. Mas estou triste por nós.
– Por nós? – minha voz estava fraca, eu esperei por muito tempo aquele momento – Você me fez acreditar que não existia nós, Marianne.
– Mas existe, eu fui uma idiota... – soluçou outra vez.
– Como é? – alterei a voz, olhando pros lados em seguida. – Você ficou comigo aquela noite e sumiu! Você me usou, e isso soa tão ridículo como o que aconteceu aquele dia!
– Eu sei, me desculpe, me desculpe!
Respirei fundo.
– Porque você voltou com ele? Porque me ignorou como se eu não fosse ninguém?
Houve um silêncio.
– Marianne...
– Eu fiquei com medo. Achava que ainda o amava, mas então eu vi você lá e...
– Eu passei um ano inteiro apaixonado por você. E você me retribui assim? Você acha que eu não fiquei com medo? Você sabe o que é sofrer durante um ano inteiro por alguém que não está nem ai pra você?
– Bill, me desculpe!
– Não, você não sabe o que é! – me desencosto da parede e começo a andar – Todos os dias eu me olhava e me perguntava se ia demorar mais pra tirar você logo da cabeça. Se eu ia conseguir alguém pra te substituir!
– Você conseguiu me tirar da cabeça? – perguntou com a voz mais forte – Você conseguiu outra melhor do que eu?
Bufei.
– Não seja ridícula, você sabe que não.
– Eu também não consegui ninguém melhor do que você, Bill.
– Voo 4567, para Londres. Embarque no portão 8. – nos interrompeu a chamada para o voo.
– Eu sinto muito... – pigarreei tentando esconder a voz embargada – É tarde demais pra eu saber disso.
Desliguei o telefone e coloquei no bolso. Eu deveria seguir em frente.
Olhei para a segurança, e assenti convicto. Larguei meus pertences na caixa e ergui meus braços para a revista.
– Bill. – escutei alguém me chamar e me virei – Não é tarde. Fica!
Lá estava ela, me olhando com os olhos vermelhos.
No primeiro instante fiquei parado com a segurança nos olhando atenta, mas logo eu dei alguns passos em sua direção.
– O que você faz aqui? – abaixei os braços devagar.
– Eu não quero te perder outra vez. – passou a mão pelos cabelos, nervosa – Eu sei que eu errei, que errei quando disse que te amava e depois te deixei sem dar explicações. – mais algumas lágrimas rolaram – Mas eu estava com medo de magoar alguém igual a você. Você sempre me dizia que eu era incrível. E eu não sabia se eu estava confundindo ou não...
– E você achou melhor sair daquele jeito?
– Para você sentir ódio de mim!
– Você conseguiu. – falei pasmo.
– Você me odeia? – pergunta em um fio de voz e eu continuei calado – Você me odeia, não é? E é tudo culpa minha... Eu tive tanto medo de te enganar, achar que te amava e depois não ser verdade. Se você me odeia eu te entendo.
– Eu não te odeio... – cruzei os braços a contragosto – Eu deixei todas aquelas mensagens, iria te odiar se deixasse aquilo?
Ela nega com a cabeça.
– Pois então... – dei de ombros.
– Me perdoa, Bill? – diminuiu a distância entre nós.
Minha cabeça cai.
– Última chamada para o voo 4567.
– É o meu avião. – murmurei e a olhei.
– Bill? – sua respiração ficou pesada – Você, você vai? Eu posso fazer valer a pena... Se, se você quiser o céu, eu te dou ele! – encostou seu rosto no meu.
– Eu não quero o céu. Eu só queria o seu coração. – me afasto – Eu sinto muito, Mary.
Virei de costas e parti para o portão 8. Marianne permaneceu lá, com o brilho ofuscado pelas lágrimas no seu rosto, mas bela como sempre.
Bela como a solução de todos os meus problemas.
Postado por: Grasiele
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