sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 2 - You Are My Life


Ela era a mulher que eu amava. Com quem eu escolhera passar os meus dias. Nós éramos felizes e tínhamos planos para o futuro. Eu já havia feito a proposta, e ela já havia me respondido, feliz, com as três letras, que juntas formavam a única palavra que eu aceitaria escutar: sim!
Nunca pensei que eu chegaria a esse ponto. Mas eu a amava como também nunca pensei amar alguém.
O que havia acontecido para eu esquecer tudo aquilo...
Ela finalmente desviou os olhos das estrelas para dirigi-los a mim. Annie parecia forçar um sorriso - que mesmo forçado ainda era infantil e inocente.
Levantei-me do sofá, atravessei a sala em passos lentos e cautelosos até ela.
Na mão direita, como se fizesse parte do dedo anelar, o anel de noivado repousava. Ele era fino e delicado, no centro uma pequena esmeralda – tão verde quanto os olhos da usuária do anel - era sustentada pela armadura de ouro branco, minúsculas pedras de diamante brilhavam circulando a pedra verde, dando a ela o maior destaque.
– Bill, eu preciso... – Annie começou a falar quando eu já estava na frente dela.
Levantei minha mãe para tocar-lhe o rosto, mas foi como tentar tocar o ar. Minha mão a atravessou, como nos filmes.
Dei um passo para trás, assustado. Annie abaixou a cabeça e deu um suspiro, longo e deprimido.
– Você não pode me tocar, Bill... – ela falou, sua voz era quase um sussurro, me esforcei para poder ouvi-la – Eu estou morta.
Senti minhas pupilas dilatarem quando a ultima palavra tocou meus ouvidos. Morta... Isso só poderia ser um sonho. Eu ainda devia estar dormindo.
– Co... – respirei para que o que eu dissesse fizesse algum sentido – Você está de brincadeira, não é mesmo?
– Infelizmente, não! – ela foi clara e sua voz agora parecia ter aumentado o volume e a convicção.
– Você não brincaria com uma coisa dessas. – conclui. Além de que, minha mão havia mesmo a atravessado como se ela não estivesse ali, como se ela fosse apenas um holograma de computador.
– Não, eu não sou tão idiota assim. – ela se mostrou falsamente ofendida.
– Mas como? – perguntei, ainda sem acreditar estar conversando com uma pessoa morta.
– Eu acho que a pergunta não é “como” e sim “por que”. – Annie me encarou com sarcasmo.
– Por que... – comecei a perguntar feito um idiota, mas ela me interrompeu de imediato.
– Tem um motivo pra eu estar aqui, Bill. – ela começou se aproximando mais de mim – Eu preciso que você me faça um favor.
– Favor. – repeti a palavra sem entender o rumo que a conversa estava tomando – Que tipo de favor?
– Preciso que você faça com que meu assassino tome consciência do que ele me fez. – ela falou rápido, me chocando.
– Que? Mas qual é o objetivo disso? – perguntei me sentando no sofá, pousando a cabeça em minhas mãos, a sentindo doer com tanta informação armazenada numa única noite.
– Eu não quero julgá-lo, nem ao menos condená-lo. Só quero que ele saiba. – ela se sentou do meu lado – Quero deixar o resto com ele próprio. Acho que não existe nada que puna melhor um homem do que ele mesmo.
Ela tinha razão. A culpa de um ser humano pode ser uma das piores punições do universo. Pelo menos em minha opinião isso contava.
– Você sabe quem a matou? – indaguei levantando a cabeça para encará-la.
– Sei. – quando ela confirmou seu rosto pareceu ficar rígido, perdendo toda a tristeza, mas logo sua expressão se relaxou, e ela continuou – Já está tarde. Você precisa dormir. Amanhã continuamos essa conversa.
– Mas... – tentei protestar, mas ela estava certa. Minhas pálpebras pesavam, tentadas a serem fechadas. E minha cabeça latejava, pedindo por descanso.
– Está bem. – concordei.
Levantei-me do sofá num pulo e fui pro meu quarto, sendo seguido por Annie.
Troquei de roupa mesmo com ela ali, parecia uma coisa normal, mesmo eu tendo me lembrado a pouco tempo de tê-la amado uma vida toda.
Meti-me de baixo do edredom na cama e Annie se sentou na beirada da mesma.
– Bill. – ela me chamou aos sussurros quando eu já tinha fechado os olhos.
– Sim? – murmurei forçando meus olhos a se abrirem.
– Você não pode me tocar. – ela falou sorrindo e continuou num tom mais debochado – Mas eu posso tocar você.
Annie se abaixou e tocou meu rosto com os lábios avermelhados. O beijo foi como uma brisa fina de inverno, mas me fez cair num sono tranqüilo e profundo. Embora parecesse impossível dormir com o turbilhão de pensamentos que rodeavam minha cabeça naquele mesmo instante. Eu não sabia como eu poderia ter esquecido algo assim. Como ela havia morrido e se eu havia sentido dor na época de sua morte. O que acontecerá para tudo ser apagado, como uma borracha apaga um texto mal feito e torto de um autor.

Postado por: Grasiele

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