sábado, 24 de novembro de 2012

Taxi - Capítulo 5 - Camisa xadrez


Eu deveria ter falado
Eu deveria ter orgulhosamente reinvidicado
Que minha cabeça está culpada
Por todos erros do meu coração

E tudo está caindo enquanto você vai embora
E está tudo em mim, quando você se vai

Acordei no dia seguinte com uma porta se batendo. Pulei da cama assustado, e Marianne não estava mais ao meu lado. Coloquei uma calça correndo e passei pela sala o mais rápido que pude. Fui no corredor e o elevador já estava chegando ao térreo. Eu não teria como alcançá-la. Marianne havia desistido de mim, havia percebido que havia feito uma grande burrada.
Passei a mão pelo rosto e voltei para dentro do apartamento. Ao que tudo indicava, minha vida medíocre reinava outra vez.
– O que aconteceu? – virei abruptamente para a porta da cozinha, afoito.
O que ela está fazendo aqui?, foi a primeira coisa que me perguntei.
– Mary? – olhei para a porta e depois para ela – Não foi você que saiu...? Quem...?
– Georg. – ela sorriu com certa timidez - Ele foi o último a ir embora e o primeiro a se atrasar para o trabalho.
Minha cabeça se ergueu.
– Droga, o trabalho! Que horas são? – virei para os lados tentando procurar algum relógio – Já devo estar atrasado. Sr. Sean vai me...
– Eu liguei para ele. – me interrompeu e só então percebi o que ela usava minha camisa xadrez que tanto gostava. – Disse que você teve uma viagem de última hora... Assunto familiar.
Eu a olhei com certa admiração. Aquilo não podia ser real, ela era incrível.
– Obrigado. – sorri sem jeito. Parecia que o garoto do primeiro dia havia voltado.
Ela continuou parada na porta da cozinha, enquanto tremia a perna rapidamente. Marianne esperava que eu falasse algo. Eu esperava que Marianne falasse algo.
– Olha... – nós dois falamos juntos. – Pode falar... – pedi.
– Eu queria te contar uma coisa, que eu acabei não falando para você ontem... – torcia a barra de minha camisa – Só não quero que fique bravo comigo, tudo bem?
– Bravo? – cruzei os braços um tanto intrigado – Porque ficaria?
Mary me olhou por alguns segundos e depois desviou o olhar para o chão outra vez.
– Lembra quando disse que havia trocado de restaurante porque Alex havia enjoado da comida? – perguntou, mas continuou sem esperar minha resposta – Então, eu estava mentindo.
Franzi a testa.
– Mentindo? Como mentindo?
– Eu e Alex terminamos há cinco meses. – pigarreou – Mas não foi por causa das traições.
Sentei no braço do sofá, queria saber de mais.
– Eu sabia o quanto Alex me traía, mas eu nunca tinha dito nada porque eu realmente achava que o amava. – tirou a mecha de cabelo que caiu em seu rosto – Quando eu te conheci, eu só pensei que seríamos grandes amigos. – respirou fundo e continuou a fitar o chão - Mas ao longo do tempo, eu fui vendo que não era bem assim... Você falava de todas aquelas garotas e eu tinha que me concentrar para não esbanjar nenhum sentimento. Porque além deu não saber o que eu sentia, eu não sabia o que você sentia! – ela andava de um lado para o outro, batia uma colher na palma da mão – Mas depois de um tempo eu vi que aquele ciúme, que sentia quando imaginava você com outras, era real!
Meus olhos cresceram e eu podia jurar que meu coração também.
Eu te amo. – falou sem me olhar – Mas então teve a história de Alex. Eu tinha medo que quando terminasse com ele, você soubesse.
– E por quê? Não seria melhor se eu soubesse?
– Não do jeito que eu pensava. – encostou-se ao vão da porta – Eu falava de Alex para ver se você sentia ciúmes, mas você nunca sentia. Você me abraçava e dizia que tudo ia ficar bem. Aquilo me matava. Mas eu não conseguia mais ficar com Alex, sabendo de tudo e amando você.
– Eu passei cinco meses inventando histórias pra tentar tirar você da cabeça porque eu achava que você nunca ia largar Alex. E agora você me fala isso?
– Você me amava? – seu tom de voz foi leve.
– Eu amo! – a olhei por algum tempo e depois desviei o olhar.
– Eu sei que eu fiz besteira, Bill. Mas você também errou quando não me disse que ele me traía.
– Como você sabe que eu sabia? – perguntei aflito.
– Vi algumas vezes você almoçando no Marcy’s e vendo Alex e a atendente da sorveteria juntos. Porque nunca me contou? Ia facilitar as coisas.
– Mas você já sabia... – engulo em seco – E eu sempre detestei ver você chorar por causa daquele cara! Não queria ver você chorar mais ainda.
– Ou não queria que eu não fosse mais a papelaria te ver? – falou em um tom agressivo e eu me calei – Você achou que eu estava indo até lá por causa de Alex, mas você errou. Errou feio, Bill. Eu só ia lá por causa de você!
– Por causa de mim? – minha voz saiu em um fio ridículo.
– Você era o único que eu conseguia conversar sem me lembrar das coisas que Alex fazia. – dá de ombros – Você foi a solução de todos os meus problemas.
– Porque você não terminou com Alex antes?
– Eu tinha medo. Não sabia se eu o amava ou amava você. Não queria enganar ninguém...
– Mas você enganou, Mary. – andei até sua frente.
O silêncio estava cada vez pior. Eu me sentia estranho quanto a tudo.
Marianne tinha a cabeça baixa enquanto eu a fitava. Ela soltou uma risada abafada e me olhou. Seus olhos estavam brilhando pelas futuras lágrimas.
– A gente nunca vai dar certo, não é? – franzi a testa pedindo uma explicação – Olha só, mal começamos e já estamos discutindo, Bill.
– Mas é assim... – murmurei – Os casais discutem e depois fazem as pazes. – segurei em seus braços.
– Não antes de começarem algo. – passou a mão pela bochecha e se livrou das minhas mãos – Eu preciso ir trabalhar.
Sem dizer mais nada, ela me contornou e se fechou em meu quarto.
Sentei no sofá. Eu não sabia o que estava acontecendo e nem o que eu estava pensando. Não demorou muito e Marianne apareceu agitada na sala. Ela se abaixou e me dei um beijo no rosto.
– Não vamos forçar algo que não vai dar certo. – a olhei, Mary tinha os olhos marejados.
– Fica. – segurei em sua mão. Eu estava improvisando, como todas às vezes. – Quem disse que não vai dar certo, Mary? - me ergui e encostei minha testa na sua. - Nós queremos que dê certo...
– Eu preciso ir. – ela se afastou e me olhou como se dissesse adeus – Até.
– Mary... – a chamei quando ela já havia saído.
Demorei duas semanas para procurá-la. E quando eu a encontrei tive a pior decepção da minha vida. Eu estava indo até o Marcy’s quando eu a vi abraçando Alex, meu coração apertou e, por um instante, achei que não poderia ser verdade, mas logo ela me fitou e virou o rosto.
Marianne voltou a ser a garota do táxi amarelo, voltou a ser de Alex, mas, daquela vez, não a que eu queria. Pelo menos, não naquele instante em que o maço de cigarros batia na calçada e a via com aquele cara totalmente ridículo.
Voltei para a casa e destruí a camisa xadrez que ela vestiu quando ficou junto comigo. Doei as roupas de cama e depois eu bebi. Bebi até não poder mais e dormi deitado no meio da sala de estar.
Dramático como sempre.
Não a vi mais depois daquilo. Mas eu ainda tinha uma esperança suicida dentro de mim, uma esperança inútil de que ela só estava fazendo aquilo para me provocar. Liguei para sua casa durante um mês inteiro e sempre caía na caixa postal.
– Qual é o seu problema? Hãn? Quer dividir Alex com mais quantas garotas? Mais o mundo? – gritei na primeira ligação – Não, quer saber? Vocês dois se merecem! Você é uma pilantra!
– Mary? Eu não queria ter dito aquilo... Eu só não entendo o que aconteceu aquele dia... Porque você não me ligou depois? Porque não conversou comigo?
– Atenda! Eu sinto a sua falta.
– Não estou entendo porque você está me evitando, eu não estou entendendo nada depois do que aconteceu aquele dia.
– Já se passou dois meses e nada de você retornar. Acho que é hora de eu parar de insistir em algo que você não quer, não é?
Me sentia um estúpido, mas eu queria a namorada do Alex pra mim. Marianne era incrível, e eu sempre me perguntava onde eu poderia arranjar uma mulher igual a ela. E nunca tinha respostas.
Eu ia ao Marcy’s e ficava olhando todos os táxis amarelos e nada dela. Ficava na banca de revistas e ao invés de folhear alguma coisa, eu procurava por ela ao redor. Eu voltava do trabalho e ficava de plantão ao lado do telefone sempre imaginando uma nova mensagem para a sua secretária eletrônica.
Minhas notas na faculdade foram às alturas, eu me afundava em livros pra tentar entender o que estava acontecendo nas matérias, já que eu não fazia ideia do que estava acontecendo com a minha própria vida. Entender alguma coisa era uma saída do sufoco da dúvida.
Depois de um tempo eu comecei a ter raiva de tudo. Marianne estava pouco ligando e eu sofria cada vez mais. Mais e mais. Sofri desde o início e a única coisa que ela fez foi ter me dado esperanças falsas.
Esperanças imbecis.
Faltava uma semana para o curso terminar quando eu recebi uma bolsa de estudos na Inglaterra para uma pós-graduação. Eu havia feito uma prova só por fazer e eu realmente me surpreendi quando fiquei sabendo da aprovação. Tinha dois dias para fazer a matrícula, caso contrário eu perdia a bolsa.

Postado por: Grasiele

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