sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 5 - In The Closet


Acordei com o sol batendo, quente, no meu rosto. Malditas janelas. Como alguém consegue viver sem cortinas?
Por fim, me levantei devagar, do mesmo jeito que eu havia acordado nos últimos dois dias. Aliás, tudo naquele apartamento estava igual, dando a impressão de que os dias não passavam, como se o tempo tivesse parado em algum momento incerto.
Comecei a rir abobalhadamente, prestando atenção em meus pensamentos, que, ultimamente, não estavam muito “normais”.
Fui pro banheiro e coloquei a cabeça pra dentro do chuveiro, deixando que a água quente me despertasse.
Tive que me lembrar de Annie, e de que ela não fazia parte de um sonho. Tudo o que eu havia vivido até agora era real. Embora às vezes parecesse que não.
Uma realidade ilusionista. Talvez toda realidade seja ilusionista afinal.

Sai do banho, me vesti e fui pra sala de estar do apartamento minúsculo e velho.
Sentei-me no sofá, foi quando vi que a luz vermelha da secretária eletrônica estava desligada.
Olhei para o mostrador do relógio ao lado do telefone. Ele indicava 11hrs e 50min. Perguntei-me se Annie havia escutado a mensagem, mas exclui logo essa alternativa. Afinal, ela havia ido embora e eu fiquei na sala a noite toda.
Talvez eu tivesse imaginado a luz vermelha antes. Era só imaginação...

Fui até a cozinha e abri a geladeira, só por curiosidade. Dei um passo pra trás de susto quando vi, solitária no fundo da geladeira, a caixa de leite vencido.
O que aquilo significava? Que brincadeira de mau-gosto era essa? Eu tinha certeza de ter acabado com aquele leite e ter feito compras no super mercado perto dali no outro dia. Ou talvez não...
Minha cabeça começou a latejar, de repente, sem motivo aparente.
Sem querer, bati a porta da geladeira com muita força, fazendo o calendário pendurado nela balançar e cair. Endireitei-me e peguei o papel caído no chão.
Um coração em vermelho, marcando um dia de domingo, chamou minha atenção, fazendo com que meus olhos caíssem alarmados, no tal dia do mês.
– Dezesseis de agosto... – sussurrei, paralisado.
Minhas mãos foram levadas intencionalmente à minha boca, que se abriu num grito contido de surpresa.
Minha cabeça começou a girar e eu pensei que iria desmaiar quando ouvi um pipi agudo, vindo da secretária eletrônica.
Arrastei-me até a sala. Minhas pernas pareciam sem resistência alguma, prontas para desabarem a qualquer momento.
Cai no sofá enquanto ouvia a seguinte mensagem:
“Oi. Você ligou pra mim, mas teve o azar de não me encontrar. Quem sabe você tenha a sorte de me deixar uma mensagem e eu escutá-la em breve! Ou não...”
Era a voz de Annie. Franzi a testa em linhas de pura dúvida.
Parecia que a cada segundo algo mudava o curso de uma história absurda, de roteiro cada vez mais duvidoso e confuso.
Meus olhos se arregalaram a ouvir a voz conhecida após o sinal da secretária eletrônica:
“Oi Bill! Oi Annie! Eu não encontrei o Bill no apartamento dele e logo contatei que ele estivesse ai com você, Annie. Só liguei pra avisar que minha viagem à França está sendo um verdadeiro sonho! Não se preocupem em me atender. Não precisam parar de fazer nada que vocês estejam fazendo...”
E após risadas descontroladas, Tom se despediu e desligou o telefone.
Eu sentia lágrimas começarem a serem formadas em meus olhos, sem motivo algum, como se tivessem vontade própria.
– Bill? - Annie apareceu e se sentou do meu lado tocando em meus ombros, preocupada.
Foi quando me dei conta de um fator favorável a Tom naquele instante. Levantei-me num pulo do sofá, as lágrimas em contraste com um sorriso amarelo.
– Annie, Tom não matou você! – afirmei, certo do que dizia – Ele estava viajando. Não tinha como ele...
Interrompi a mim mesmo. Como eu podia afirmar algo assim se nem ao menos sabia...
– Você foi assassinada em que dia, Annie? – perguntei com cautela.
Annie levantou o olhar frio para dirigi-los a mim.
– Dezesseis. – a voz dela suou sombria e estranha – Dezesseis de agosto.
O ar pareceu começar a faltar. Isso só podia ser um engano. O tempo não podia parar como se isso fosse normal.
– Tom não te matou... – voltei a afirmar, mas para convencer a mim mesmo do que a ela.
– Eu sei. – Annie se levantou, a voz fria como a expressão estampada no rosto rígido.
– Sabe? – indaguei, a voz falhando, deixei meu corpo cair no sofá, antes que eu desmaiasse.
Um angustiante silêncio se seguiu, me torturando. Meus olhos paralisados em cima de Annie. Os dela dirigidos para fora da janela.
O silêncio só foi quebrado quando Annie voltou a me olhar, sem nenhum sentimento nítido no rosto, e então, sua voz firme como aço - muito diferente da voz de sinos que eu estava acostumado - fez-se ouvir.
– Tom não me matou Bill. – ela deu um passo em minha direção – Você fez isso.
Senti minhas pálpebras se dilatarem. O que ela estava afirmando. Eu...
– Você é meu assassino Bill. – ela concluiu por fim, voltando o olhar irracional para a janela.
O ar já me faltava completamente. Minha cabeça parecia se dilacerar em segundos. Minha visão começava a se apagar. Meus ouvidos não captavam mais nenhum som.
E, então, meus olhos se fecharam completamente, me dando as imagens das lembranças, até então, esquecidas e perdidas pela minha própria vontade. Como se elas tivessem sido trancadas por mim mesmo dentro de um armário velho e esquecido no canto da sala, e agora eu fosse forçado a abrir esse armário e me deparar com seu conteúdo.

Postado por: Grasiele

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