sábado, 24 de novembro de 2012

Smooth Criminal - Capítulo 3 - Man In The Mirror

O sol que nascia vermelho no horizonte, tocou minhas pálpebras fazendo-as se abrirem de vagar. Levantei-me sem presa, me sentando na cama e olhando através do vidro da janela. Era tudo tão estranho ali. Nada parecia ser como eu desejaria que fosse. Por que eu não teria comprado cortinas para as janelas de meu próprio apartamento? Sem contar que nada parecia ser realmente meu.
Fiquei de pé com relutância, e fui até a janela. Observei a rua vazia. Parecia tão fácil invadir aquele prédio velho. Não fazia sentido eu morar ali. Afinal, eu tinha condições financeiras para assegurar meu conforto e segurança.
Balancei a cabeça sem entender o rumo dos meus próprios pensamentos. Qual era o objetivo da minha mente afinal?
Talvez meu inconsciente estivesse pregando peças em meu consciente para que eu acabasse preso a uma camisa de força no fim.
Depois do sonho com a tal ruiva, Annie, que eu tivera naquela noite, eu não duvidaria dessa teoria.
Peguei uma toalha e fui direto pro banho. Talvez a água quente lavasse todas as minhas duvidas e angustias.
Eu sentia a água quente cair, relaxando meus músculos, quando vi, pelo box, uma silhueta feminina entrar no banheiro. Abri a porta do box, assustado, e encontrei os olhos verdes me encarando. Suspirei, talvez aliviado, e recebi um sorriso infantil de volta.
– Então, não foi um sonho. – constatei voltando ao banho.
– Por que haveria de ser um sonho? – ela perguntou, com tom de falsa indignação.
– Não sei. – admiti.
– Eu te garanto que não foi, e nem é um sonho. – Annie assegurou com a voz um tanto abatida.
Nos segundos que se seguiram o único som que podia ser ouvido era o da água caindo do chuveiro.
Uma pergunta um tanto idiota, me veio em mente, e eu não pude me conter em não fazê-la.
– Annie, como é estar morto? – indaguei com cautela, enquanto fechava o chuveiro e me secava com a toalha.
Ela não mostrou surpresa pela pergunto e a respondeu sem mudar o tom de voz abatido.
– Por que eu te responderia, se um dia você poderá responder por si próprio?
Abri o box para encará-la, ela levantou a cabeça e me olhou com uma das sobrancelhas arqueada, num ato de indagação.
Sorri, admitindo que ela estava certa. Um dia todos terão essa resposta.
De repente me lembrei que eu deveria ir trabalhar. Bati a mão na testa com a lembrança mal vinda.
– Tenho que trabalhar hoje... – gemi começando a me trocar.
– Não tem não. – ela me olhou, estranhando-me e seguiu até a porta, abrindo-a – Hoje é domingo. – dizendo isso ela saiu do banheiro, fechando a porta em seguida.
Domingo? Algo me dizia que havia algo errado quanto a isso. Mas meu corpo cansado, agradecia pelo feriado, fazendo meu cérebro parar de questionar sobre o assunto.
Vesti-me e fui encontrar com Annie na sala de estar. Senti um frio estranho, sem motivo algum, afinal, era verão, e fazia sol lá fora.
Esfreguei uma mão na outra, tentando espantar o frio e acabar com os arrepios que me percorreram a espinha.
Annie estava sentada no sofá. Ela segurava minha carteira, observando na mesma uma antiga foto, minha e de meu irmão gêmeo. Sentei-me do lado dela e fiquei olhando a foto também.
Na foto, eu e Tom andávamos a cavalo numa fazenda onde nossa mãe havia nos levado a passeio. Lembro-me de ter odiado a “excursão” à vida rural. Não fui mesmo feito para viver ao ar livre.
Annie parecia uma estatua, imóvel. Seu rosto estava abaixado, impedindo que eu pudesse ver sua expressão.
– Está tudo bem? – perguntei, preocupado.
Ela me devolveu a carteira, sem levantar os olhos.
– Annie, está tudo bem? – insisti.
Ela pousou o rosto sobre as duas mãos. Sua respiração começou a ficar descontrolada, como se ela estivesse entrando em pânico.
Pensei em abraçá-la, mas seria um ato inútil.
Por alguns segundos ficamos ali, imóveis e em silêncio. Eu apenas escutava a respiração acelerada, sem me mover, sabendo que qualquer ato meu seria em vão.
Aos poucos, a respiração dela se normalizou. Então ela levantou a cabeça. Seus olhos estavam fechados.
Annie respirou fundo e abriu os olhos devagar, como se recobrasse a consciência.
– Bill, - ela murmurou, a voz fria e firme – eu encontrei meu assassino.
– Mesmo? Quem? – perguntei espantado.
Annie respirou fundo novamente e me respondeu sem se alongar na pronuncia de cada palavra.
– Tom, seu irmão, ele é meu assassino.
O ar pareceu me faltar quando a resposta chegou a meus ouvidos. O chão de meus pés pareceu se dissolver, se preparando para me engolir vivo.
Recuperei o ar e a olhei indignado com a acusação.
– Você deve ter se enganado. Tom, não seria... – tentei argumentar, mas ela me interrompeu.
– Não seria capaz disso Bill? – ela me olhou, o olhar frio e cruel – Por quê? Por que ele é seu irmão? Por ter o mesmo sangue que você?
Abri a boca para respondê-la arrogantemente, mas Annie continuou antes de mim.
– Ou será por que ele é tudo que você não é? O seu contrário. Sua imagem refletida no espelho. – Annie me fitou furiosa e, num lampejo, sumiu em seguida.
Deixei meu corpo cair no sofá. Aquela acusação era muito grave. Eu não podia acreditar. Na verdade, eu não queria.
Minha cabeça começou a latejar sem piedade. Pontadas de dor intercaladas com angustia e incapacitação me percorriam o corpo inteiro.
Eu sabia que não seria capaz de prosseguir daquele ponto em diante. Não poderia acusar meu irmão de assassinato se eu mesmo me recusava a culpá-lo por tal crime.
Na frente do sofá, na mesa de telefone, a luz vermelha da secretária eletrônica piscava sem parar, indicando mensagem nova. Tive vontade de escutar a tal mensagem, mas algo me disse que aquele não era o momento para recados eletrônicos.

Postado por: Grasiele

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