sábado, 24 de novembro de 2012

Angels Don't Cry - Capítulo 32 - Perdoar é um dom


Os dias foram se passando rapidamente, logo o tempo foi ficando mais frio e tudo parecia ser férias, mesmo estando ainda em Novembro. Mischa dormia no quarto de hóspedes, perto do meu e no mesmo dia ela havia decorado ele bem do jeito dela. Na prateleira ela havia colocado todos os seus DVDs e já instalara seu mini DVD na televisão para poder assistir todos eles. Sem contar os pôsteres de todos os galãs principais dos filmes que estampavam a parede.

O meu quarto estava do jeito que eu deixara, logo na porta havia um pôster do Crashdïet. Dentro dele havia um papel de parede de flocos de neve azuis, e várias fotos e cartazes de Paris mostrando seus pontos turísticos principais. Em uma das prateleiras podia-se ver a Torre Eiffel, Notre Dame, Museu do Louvre, entre outros tudo em miniatura. Também havia minhas fotografias de quando eu era pequena, vários quadros que eu pintara e meus antigos patins de gelo.

Eu realmente estava me divertindo, até aceitei um dia assistir filmes com Mischa, minha mãe também se aventurou nessa e só vi as duas chorando rios enquanto eu ria. Também tive que ajudar papai com as ovelhas, colocando elas para pastar e depois colocando elas novamente no celeiro, além de ter que vestir aquelas sem lã com um casaquinho para não morrerem de frio. Já com Joe, Mischa e eu nos aventuramos em ajudá-lo a juntar folhas e depois pular nelas.

Também fui visitar Alexander, a esposa dele não passava de uma moça um pouco mais velha que eu, meio bobinha com seu cabelo feito em uma trança comprida e loira. Foi meio constrangedor se quer saber, afinal lá estava ela com a barriga já proeminente enquanto percebia que meu primo me soltava alguns comentários como: “Nossa Hedvig como você cresceu! Como está linda!”. É claro que dei um chega para lá daqueles quando ninguém estava prestando atenção e ele parou então de me encher.

Depois disso, conforme o tempo foi esfriando, percebi que já estava na época de caçar, então fui ajudar papai com isso. Mischa também foi comigo, louca para ver como era e também para cuidar de Joe. Peguei minha espingarda que eu chamava de Thor e fui dar uma olhada para ver se ela não tinha enferrujado, mas estava em ótimas condições. Nós nos aventuramos na floresta que ficava perto de nossa residência, Freya ia à frente farejando tudo para ver se encontrava algo.

– Nós parecemos a Chapeuzinho Vermelho – Mischa disse andando de mãos dadas com Joe, saltitante como se realmente tentasse entrar na pele da personagem.

– É, só falta o lobo – eu disse calmamente, ouvindo Freya.

Então ela latiu, olhando fixamente para um lugar onde eu podia ver uma pelagem avermelhada que se confundia com a coloração de algumas folhas quase da mesma cor. Era uma raposa! Respirei fundo, cada segundo era precioso, olhei para a raposa e então atirei. A bala passou pela árvore e pelas folhagens e atingiu em cheio nela, a fazendo soltar um ganido.

– Você atirou nela! – Mischa gritou colocando a mão na boca de susto – Oh, Meu Deus! Como pode fazer isso?

– Mischa, você pensou que eu iria convidá-la para ser o prato principal essa noite? – eu disse sarcasticamente – Não, claro. Temos que matá-la antes, limpá-la, ou acha que tudo que você come, surgiu do nada bonitinho.

– Não, mas... mas... – ela disse engolindo seco – Como você consegue? Sabendo que ela está viva e que vai tirar algo dela? Como consegue matar a sangue frio?

– Eu não sei – eu disse indo até onde Freya estava e dando uma analisada na raposa morta e ensanguentada – Acho que faço muitas coisas a sangue frio...

Como explodir seu namorado, a amante e você mesma. Eu senti meu estômago se revirar um pouco quando vi a raposa morta, por um momento realmente desejei que ela me perdoasse pelo ocorrido. Toquei na pelagem dela tristemente, me sentindo horrível por ter retirado a vida dela, então ela começou a se mexer, ela ainda estava viva! Percebi que o ferimento que eu causara não era tão grave, a bala havia passado de raspão, pelo visto perdi a prática.

Ela me olhava tristemente, com olhos suplicantes, como se implorasse que eu não a matasse. Deixei a espingarda de lado e peguei na minha mochila um kit de primeiros socorros que sempre trazíamos desde a vez que meu pai sem querer atingiu uma bala no próprio braço. Cuidadosamente comecei a limpar o ferimento dela, tentando estancar o sangue.

– O que você está fazendo? – meu pai perguntou vindo até a mim.

– Ela não morreu, estou tentando salvá-la – eu disse esperando que ele entendesse – Não consigo matá-la, não posso. Sinto que é algo errado, apesar de eu passar praticamente minha vida inteira fazendo isso.

– Você quer que eu faço? – ele perguntou, segurando a espingarda.

– Não, eu realmente quero deixá-la viver. Acho que morrer é uma realidade que eu quero que fique longe por um tempo – eu disse pensativa enquanto terminava o curativo e a deixava ir embora – Acho que caçar não é mais para mim, sinto muito.

– Tudo bem, isso não é coisa para moças, talvez eu acabe ensinando certas coisas que não se deviam para você. Acho que é por isso que você intimida qualquer homem – meu pai disse me ajudando a levantar – Então vamos voltar para casa, outro dia eu volto a caçar com Joe, ele que precisa realmente aprender.

– Vou ficar feliz em passar Thor para ele, é uma boa espingarda – eu disse sorrindo enquanto o seguia, de volta para casa.



– Papai! O que está fazendo aqui? – Mischa exclamou quando chegamos em casa e encontramos um homem sentado em uma das poltronas, vestindo-se elegantemente com ternos Armani.

– Seu pai veio aqui para ver como está, Mischa – minha mãe disse educadamente enquanto servia chá para ele.

– Mas não era para ele vir – ela disse zangada – Eu fugi, não era para ele me descobrir tão rápido!

– Se quer saber, eu achei você através dos seus cartões de créditos – ele disse com uma voz ríspida e calma – Mischa, usá-lo para comprar uma passagem para Luleå, ainda mais quando soube na faculdade que a última vez que tinham a visto foi na companhia de Hedvig Nondenberg, foi a coisa mais fácil para achá-la. Bastou eu perguntar para o primeiro que apareceu onde era a casa dos Nondenberg, que eu te achei.

– Então o que quer? Levar-me de volta para casa? – ela disse cruzando os braços, nunca a vi desse jeito, Mischa estava realmente brava – Pois saiba que não vou voltar, não vou estudar mais naquela faculdade, não vou voltar para nossa casa para viver com aqueles malditos empregados. Quero ficar aqui. E quer saber de outra coisa? Não vou ser uma executiva, por que não quero ser igual a você.

O silêncio tomou o local, todos estavam tensos com a briga, principalmente quem não era da família Sjodin, nos sentíamos no meio de uma batalha entre tigres prontos para se devorarem. Lá estava o sangue de Mischa mostrando que na verdade ela podia ser tão cruel quanto seu pai era.

– E o que planeja fazer da vida? – ele perguntou sem abaixar a cabeça um minuto se quer – Acha que seu cartão de crédito vai ficar cheio para sempre?

– Vou ser atriz – ela disse o cortando – O que eu sempre quis ser. E era no que minha mãe apoiava, foi ela que me colocou nas aulas de teatro, foi ela que estava na minha primeira apresentação, foi com ela que assisti a meu primeiro filme no cinema. E você? Onde estava? Estava ocupado demais, igual no dia que ela morreu. Você não estava no dia, você não estava lá para evitar, só chegou horas depois, quando ela já tinha partido para sempre.

– Mischa, você não entende. Tudo que tem agora e que teve foi graças aos meus anos de luta, queria que você tivesse tudo. Arrependo-me de não estar aquele dia com vocês, arrependo profundamente por ter perdido sua mãe.

– Claro que se arrepende, logo depois achou outra mulher, me mandou para aquela maldita faculdade sem ao menos se importar com que eu realmente queria. E nas férias simplesmente me mandava para outro país sem que eu visse o seu rosto. Agora que o estou vendo você de verdade, por que às vezes eu me perguntava como era o rosto do meu pai. E olha ao redor, olhe Hedvig, olhe a família dela! Toda unida, com uma mãe viva e com um pai que prefere perder todo o dinheiro a ficar um dia sem ver a filha.

De repente vi que a defesa de ferro dele havia se rompido, lágrimas escorriam pelo seu rosto, ela o havia ferido com as palavras que ela sempre ansiou dizer. Mas a postura imponente de Mischa também pareceu sumir quando ela viu aquela cena, ela não queria o pai daquela maneira, ela queria apenas o que uma filha sempre quis. Então ele se levantou e foi até ela, a abraçando como nunca a abraçou, apenas queria que um gesto ajeitasse as coisas. Talvez o amor seja isso, não precisa de palavras para exprimir o que se sente, um olhar, um abraço, já basta.

Postado por: Grasiele

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